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www.revistasamizdat.com
14
março
2009
ano II
ficina
Oscar Wilde
um gênio da escrita e
da polêmica
SAMIZDAT 14
março de 2009
www.revistasamizdat.com
Sumário
Por que Samizdat? 6
Henry Alfred Bugalho
COMUNICADO
SAMIZDAT Especial - Humor 8
ENTREVISTA
Marcelo Duarte 10
MICROCONTOS
Henry Alfred Bugalho 14
Marcia Szajnbok 14
Joaquim Bispo 14
Volmar Camargo Junior 15
RECOMENDAÇÕES DE LEITURA
A Insuportável Competência dum Escritor 16
Henry Alfred Bugalho
CONTOS
O Malandro e a Princesa 28
Carlos Alberto Barros
O Copo Esmaltado 30
Volmar Camargo Junior
Sem Abrigo 33
Joaquim Bispo
A Biblioteca de Livros Esquecidos 36
Henry Alfred Bugalho
Sentir 38
Guilherme Rodrigues
A Filha da Capa 40
Zulmar Lopes
O Grande Salão 42
Pedro Faria
Fissuras Íntimas 46
Léo Borges
Crônicas Íntimas I: Bolhas 50
Marcia Szajnbok
O Sacana 52
Giselle Natsu Sato
Temporada de Caça 54
Maristela Deves
Autor Convidado
Menina de Família 56
Mariana Valle
Poemas 58
Renato Wegner de Souza
TRADUÇÃO
O Milionário Modelo 60
Oscar Wilde
O Discípulo 65
Oscar Wilde
Aforismos 66
Oscar Wilde
A Página dos Contos 70
Julio Cortázar
TEORIA LITERÁRIA
Os Livros Mais Vendidos: Esperança e
Hegemonia 74
Henry Alfred Bugalho
O Conto e a Crônica 80
Volmar Camargo Junior
Três, oito e o que não se mede em números:
sobre o Poetrix e o Indriso 82
Volmar Camargo Junior
CRÔNICA
O Ano Bissexto 84
Joaquim Bispo
Livin’ in America: O Futuro já chegou 86
Henry Alfred Bugalho
POESIA
Laboratório Poético: Soneto 88
Volmar Camargo Junior
Brancura 90
Caio Rudá de Oliveira
Aguiar ConDor 91
Dênis Moura
SEÇÃO DO LEITOR
Agora o leitor da SAMIZDAT também pode colaborar com a elaboração da revista.
Envie-nos suas sugestões, críticas e comentários.
Você também pode propor ou enviar textos para as seguintes seções da revista: Rese-
nha Literária, Teoria Literária, Autores em Língua Portuguesa, Tradução e Autor Convi-
dado.
Escreva-nos para:
revistasamizdat@hotmail.com
Por que Samizdat?
“Eu mesmo crio, edito, censuro, publico,
distribuo e posso ser preso por causa disto”
Vladimir Bukovsky
6
6
E por que Samizdat? revistas, jornais - onde ele des tiragens que substitua
possa divulgar seu trabalho. o prazer de ouvir o respal-
O único aspecto que conta é do de leitores sinceros, que
A indústria cultural - e o
o prazer que a obra causa no não estão atrás de grandes
mercado literário faz parte
leitor. autores populares, que não
dela - também realiza um
perseguem ansiosos os 10
processo de exclusão, base- Enquanto que este é um mais vendidos.
ado no que se julga não ter trabalho difícil, por outro
valor mercadológico. Inex- lado, concede ao criador uma Os autores que compõem
plicavelmente, estabeleceu-se liberdade e uma autonomia este projeto não fazem parte
que contos, poemas, autores total: ele é dono de sua pala- de nenhum movimento
desconhecidos não podem vra, é o responsável pelo que literário organizado, não
ser comercializados, que não diz, o culpado por seus erros, são modernistas, pós-
vale a pena investir neles, é quem recebe os louros por modernistas, vanguardistas
pois os gastos seriam maio- seus acertos. ou q ualquer outra definição
res do que o lucro. que vise rotular e definir a
E, com a internet, os au- orientação dum grupo. São
A indústria deseja o pro- tores possuem acesso direto apenas escritores interessados
duto pronto e com consumi- e imediato a seus leitores. A em trocar experiências e
dores. Não basta qualidade, repercussão do que escreve sofisticarem suas escritas. A
não basta competência; se (quando há) surge em ques- qualidade deles não é uma
houver quem compre, mes- tão de minutos. orientação de estilo, mas sim
mo o lixo possui prioridades
a heterogeneidade.
na hora de ser absorvido A serem obrigados a
pelo mercado. burlar a indústria cultural, Enfim, “Samizdat” porque a
os autores conquistaram algo internet é um meio de auto-
E a autopublicação, como que jamais conseguiriam de publicação, mas “Samizdat”
em qualquer regime exclu- outro modo, o contato qua- porque também é um modo
dente, torna-se a via para se pessoal com os leitores, de contornar um processo
produtores culturais atingi- od iálogo capaz de tornar a de exclusão e de atingir o
rem o público. obra melhor, a rede de conta- objetivo fundamental da
tos que, se não é tão influen- escrita: ser lido por alguém.
Este é um processo soli-
te quanto a da grande mídia,
tário e gradativo. O autor
faz do leitor um colaborador,
precisa conquistar leitor a
um co-autor da obra que lê.
leitor. Não há grandes apa-
Não há sucesso, não há gran-
ratos midiáticos - como TV,
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Comunicado
SAMIZDAT Especial
Humor
8 SAMIZDAT março de 2009
8
O lugar onde
http://www.flickr.com/photos/ooocha/2630360492/sizes/l/
b - Teoria Literária ou que entrem em contato
do Humor; até o final de abril, atra-
vés do e-mail
c - Autor convidado
(prosa ou poesia); revistasamizdat@hotmail.com
3 - Serão seleciona-
dos, ao todo, entre 3 e Abraços a todos,
http://www.flickr.com/photos/billselak/1043526089/sizes/l/
4 - Não há limites
de palavras, mas como
se trata duma publica-
ção voltada para o meio
digital, solicita-se que ficina
não sejam enviados tex-
www.oficinaeditora.org
9
Entrevista
Marcelo Duarte
Marcelo Duarte nasceu em
São Paulo no dia 31 de Outubro de
1964.
É formado em Jornalismo pela
Escola de Comunicações e Artes
da Universidade de São Paulo em
1985.
Carreira jornalística:R evista
PLACAR, Revista PLAYBOY,
Revista VEJA SÃO PAULO,
Revista PLACAR, foi o criador da
revista AÇÃO GAMES e cola-
borou em diversas revistas, como
Próxima Viagem, Sexy e Set,
desenvolveu projetos de jogos para
a Grow: Tira-Teima, Trailer, Zôo
Lógico da Mônica, O Guia dos
Curiosos, Capricho 1 e 2, Corin-
thians - História e Glória, Master
Junior, Perfil 3,
Carreira empresarial: Em
setembro de 1999, Marcelo Duarte
criou a Panda Books, especializada
em livros de referência. A Panda
tem uma série de livros editados.
No início de 2002, a Panda Books
criou um novo selo de livros mo- Duarte assina a página “Curioci- SAMIZDAT – Como
tivacionais, a Editora Original. O dade” no Jornal da Tarde, de São funciona a pesquisa
catálogo de ambas está disponível Paulo.
para um livro como
no site www.pandabooks.com.br. Na TV, Marcelo Duarte apre- “O Guia dos Curiosos”?
Um mundo de curiosidades: senta o programa “Loucos por Tais informações po-
Marcelo Duarte apresenta o pro- Futebol” na ESPN Brasil ao lado dem ser encontradas
grama “Você é Curioso?” todos de Paulo Vinícius Coelho, Celso apenas em livros, ou
os sábados, das 10h às 11h30 na Unzelte e Roberto Porto. Ele é você teve de recorrer
Rádio Bandeirantes, de São Paulo veiculado sábado sim, sábado não. a outras fontes, como
(AM 840 e FM 90,9). De segunda Reprises: segunda, 20h. internet, fontes orais,
a sexta, ele comanda o “Fanáticos Marcelo Duarte apresenta tam- jornais, etc? E qual será
por Futebol”, transmitido das 22h bém o “TV Curioso” no portal IG o próximo “Guia”?
às 22h30. Os programas podem (www.megaplayer.com.br).
ser ouvidos também pela internet MARCELO – Quando
(www.radiobandeirantes.com.br). currículo de Marcelo Duarte lancei o primeiro “O
retirado do site: http://guiadoscu- Guia dos Curiosos”, em
Também aos sábados, Marcelo riosos.ig.com.br 1995, ninguém sonhava
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Há uma frase sobre a “cultura inútil”. Como eu contrário, a produção
Panda Books que diz: disse, a graça é misturar cultural deixará de exis-
“Nosso grande desafio é a diversão com o conhe- tir.
lançar livros que con- cimento. Assim, as pesso-
tribuam para a forma- as vão aprendendo sem
ção de seres humanos perceber. Por estar nos dois lados
mais felizes e conscien- da relação escritor-
tes”. O livro da Bruna editor, você poderia nos
Surfistinha não foi Baseado em sua expe- dizer qual é o erro mais
antes uma concessão ao riência como jornalista comum cometido pelos
mercado? e editor, você consegui- aspirantes a escritores
ria traçar um perfil do na tentativa de se inse-
MARCELO – “O Doce leitor brasileiro? Quais rirem no mercado?
Veneno do Escorpião”, da temas o atraem? O que
Bruna Surfistinha, deve MARCELO – Confiar
ele procura quando ad- demais na opinião – nem
ser o nosso livro que quire um livro?
mais se encaixa nessa sempre imparcial – do
definição. Quem não leu MARCELO – Se eu sou- pai, da mãe e dos amigos.
pensa que é um livro besse isso, jamais contaria
sobre sexo. Não é. O que numa entrevista. Lançaria
os livros e ficaria rico. Ficamos muito agrade-
está ali é a história de cidos por sua participa-
uma menina, que estuda- Infelizmente, não existe
uma fórmula. Dizem que ção, Marcelo, e te dese-
va num colégio classe A jamos muito sucesso!
e acabou se prostituindo auto-ajuda vende mais.
durante 3 anos por causa Mas nem todos os livros
de uma série de fato- de auto-ajuda vendem
res que atingem muitos bem.
adolescentes hoje em dia. Coordenação da entrevista:
É um livro que os pais Em tempos onde se Carlos Alberto Barros
deveriam incentivar os encontra praticamente
filhos adolescentes a ler. tudo sobre praticamen-
Tanto que outras editoras te tudo na internet, Perguntas feitas por:
lançaram outros livros continua grande a pro-
com “confissões de ga- Henry Alfred Bugalho
cura por seus guias? E
rotas de programa”, na as novas tecnologias de Joaquim Bispo
cola da Bruna Surfistinha, edição, como os livros
e não tiveram o mesmo Maristela Deves
digitais ou a impressão
sucesso. sob demanda, represen- Volmar Camargo Junior
tam, atualmente, algu-
Como você classificaria ma ameaça ao mercado
as informações de seus editorial?
guias, sobretudo as que MARCELO – A tecnolo-
servem exclusivamente gia vai mudar o formato
para sanar curiosidades dos livros, sim. Mas os
do leitor? Podem ser autores continuarão exis-
chamadas de cultura tindo. Não vejo ameaça.
geral, arte, ou o quê? Acho até que haverá um
MARCELO – Cultura aumento de demanda. O
geral, sim. Mas algumas que vai mudar é o con-
podem ser enquadra- trole sobre os direitos
das simplesmente como autorais na internet. Do
ficina
www.samizdat-pt.blogspot.com
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www.oficinaeditora.org
Microcontos
Máscaras
Henry Alfred Bugalho
De dia, era uma carola, ajoelhada na primeira fila da
igreja; à noite, dominatrix num bordel do Centro.
Cena Paulistana
Marcia Szajnbok
1. Na esquina mal iluminada, dois meninos se atrapa-
lham, derrubando ao chão os malabares improvisados.
Fingindo que não é com eles, os motoristas olham fixo
para a luz vermelha. Não se sabe ao certo se é por medo,
por avareza ou culpa. Sentada no degrau de um edifício,
a mulher emagrecida e cinzenta olha para o vazio. Junto
ao meio fio, um garotinho menor transforma em carro de
corrida uma caixa de fósforos vazia. Na redoma da fanta-
sia, a infância segue, alheia aos absurdos.
toda. A semana
http://www.flickr.com/photos/artsilva/2496570890/
Joaquim Bispo
Sintonia
já comeu, põe a casca no lixo, põe.
http://www.flickr.com/photos/sotto1/1600066214/
- Que casca? Só sobrou esse caroço mo-
lengo...
Volmar Camargo Junior
Humildade
Só consigo ouvir a Rádio Gaúcha desse jeito.
- Mas eu já não te disse que ela tem que
ficar em cima do contador de luz? Depois tu
Volmar Camargo Junior reclama que a gente não economiza...
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Recomendações de Leitura
A Insuportável
Competência dum Escritor
Henry Alfred Bugalho
http://g.zebra.lt/SCANPIX/AFP/Milan_Kundera_afp.jpg
A Insustentável Leveva
do Ser
A primeira vez que ouvi Leveza do Ser” na internet. É disto que trata o livro
falar sobre “A Insustentável Neste capítulo, o narrador de Milan Kundera, da vida
Leveza do Ser” foi da boca analisa o conceito de eter- de cinco personagens - To-
de minha mãe, que havia no retorno proposta por mas, Tereza, Sabine, Franz e
ido ao cinema e voltou Nietzsche, e o relacionado à do cachorro Karenin - e das
dizendo: vida humana. Para o nar- escolhas feitas por eles.
rador, este retorno é um
- Nossa, que filme chato! ideal irrealizável, pois nossa A estrutrura do roman-
vida é em linha reta, não há ce lembra a dos romances
E esta foi a impres- retornos, não há como vol- polifônicos de Dostoiesvsky;
são que ficou gravada em tar atrás e testar diferentes somos conduzidos, através
minha mente por anos, até possibilidades: toda escolha dos capítulos, pelas óticas
que, por acaso, li a tradução que fazemos é única; para de cada um deles, tentando
do primeiro capítulo do a vida, não há ensaios, é compreender suas decisões
romance “A Insustentável sempre realização. e seus arrependimentos.
Tomas é um mulherengo
incorrigível e que, mesmo
após se apaixonar por Te-
reza, não consegue abando-
nar suas aventuras sexuais;
Tereza, por outro lado, com-
preende que, para conti-
nuar ao lado do homem
que ama, terá de aceitar o
comportamento dele, mas
sem desistir de torná-lo
totalmente seu.
“A Insustentável Leveza
do Ser” é uma obra perme-
ada de reflexões filosóficas,
de conjeturas políticas com
fortes críticas ao comunis- O Mundo Bizarro
mo, e até de meditações
de Chuck
sobre o ofício da escrita.
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no qual eles poderão, quem maios passaram a acontecer.
sabe, escrever suas obras- Realmente, "Guts" é um
primas. conto bastante impressionan-
No entanto, o retiro se te e é uma grande abertura
mostra ser uma armadilha para o livro, mas, aos pou-
doentia. Encerrados num te- cos, o impacto dos contos
atro abandonado, à prova de diminui e vamos nos acos-
fuga, estes escritores acabam tumando com vísceras, com
se sabotando uns aos ou- bizarrices, com nojeiras, com
tros numa terrível luta pela comportamentos anômalos,
sobrevivência e, mais do que com o submundo, a ponto de
isto, tendo em vista a fama nos cansarmos da repetição,
para aqueles que restarem no dum estilo que se torna tão
final. previsível que não surpreen-
Assombro
Neste intervalo de três de mais.
Autor: Chuck Palahniuk
meses, os personagens con- Enquanto Chuck Palah- Editora: Rocco
tam suas histórias uns aos niuk acaba reproduzindo
outros, tal qual uma versão uma estrutura clássica -
bizarra de Sherazade ou de como dissemos, de Boccaccio
"Decamerão". rentemente, todo o empenho
ou dos narradores árabes -,
do autor foi em prol de
O primeiro conto da ele peca por um detalhe cru-
reproduzir o efeito de "Guts",
obra, "Guts" (que poderia ser cial. Em "Decamerão" e em
sem sucesso.
traduzido como vísceras, ou "As mil e uma noites", as his-
entranhas), é sem dúvida o tórias são narradas em ter- Por outro lado, "Assom-
motor do livro. Há toda uma ceira pessoa, ou são narradas bro" é uma crítica brutal à
mitologia em torno deste por um único personagem, sociedade norte-americana,
conto, que narra a história por isto, a homogeneidade puritana e consumista. Palah-
dum adolescente que gosta estilística é aceitável, até es- niuk encontra sua inspiração
de se masturbar no fundo perada. Mas em "Assombro", em histórias reais, mas que
da piscina de casa, enquanto cada conto é narrado por um são escondidas para preser-
o dreno da piscina succiona personagem diferente, então, varem a estabilidade social.
seu cu. O conto foi escrito o estilo semelhante, se não A busca do autor é pelo
alguns anos antes do livro idêntico, acaba atrapalhando louco escondido no porão,
"Assombro", e se tornou fa- e suscitando a pergunta: "por pelo pai que molesta a filha,
moso por causa das leituras que pessoas tão diferentes pelos medos que ninguém
públicas dele realizadas por escrevem, ou contam suas tem coragem de assumir.
Chuck Palahniuk. histórias, de maneiras tão Apesar do estilo por vezes
parecidas?" cansativo, vale a pena ler um
Muitos ouvintes desmaia-
vam durante a leitura do Faltou um esforço do ou dois contos de Chuck,
conto, por causa do forte autor em encontrar vozes e rir e chorar com a nossa
conteúdo e do desfecho gro- individuais para seus per- condição humana.
tesco. Multidões se reuniam sonagens, em tentar contar
para ouvirem a leitura do as histórias deles do modo
conto, e mais e mais des- como eles contariam. Apa-
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Autor em Língua Portuguesa
Mário de Andrade
Será o Benedito!
http://www.flickr.com/photos/blackheritage/2145735890/sizes/o/in/set-72157602299163015/
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lose que...” maço de papéis velhos. ca. Desistiu da cidade e
Eram cartões postais eu parti. Uns quinze dias
— O que é isso?...
usados, recortes de jor- depois, na obrigatória
— É uma doença, nais, tudo fotografias de carta de resposta à mi-
Benedito, uma doença São Paulo e do Rio, que nha obrigatória carta de
horrível, que vai comen- ele colecionava. Pela su- agradecimentos, o dono
do o peito da gente por jeira e amassado em que da fazenda me conta-
dentro, a gente não pode estavam, era fácil perce- va que Benedito tinha
mais respirar e morre ber que aquelas imagens morrido de um coice de
em três tempos. eram a única Bíblia, a burro bravo que o pega-
exclusiva cartilha do ra pela nuca. Não pude
— Será o Benedito... negrinho. Então ele me me conter: “Mas será o
E ele recuava um pou- pediu que o levasse Benedito!...”. E é o remor-
co, talvez imaginando comigo para a enorme so comovido que me faz
que eu fosse a própria cidade. Lembrei-lhe os celebrá-lo aqui.
tuberculose que o ia ma- pais, não se amolou;
tar. Mas logo se esquecia lembrei-lhe as brincadei-
da tuberculose, só alguns ras livres da roça, não São Paulo, 2ª. quinze-
minutos de mutismo se amolou; lembrei-lhe a na de outubro de 1939.
e melancolia, e voltava tuberculose, ficou muito (n°145)
a perguntar coisas so- sério. Ele que reparasse,
bre os arranha-céus, os era forte mas magrinho
“chauffeurs” (queria ser e a tuberculose se metia Texto extraído do livro
“chauffeur”...), os canto- principalmente com os “Será o Benedito!”, Editora
res de rádio (queria ser meninos magrinhos. Ele da PUC-SP, Editora Giorda-
cantor de rádio...), e o precisava ficar no campo, no Ltda. e Agência Estado
presidente da Repúbli- que assim a tuberculose Ltda.- São Paulo, 1992,
ca (não sei se queria ser não o mataria. Benedito pág. 66, uma colaboração
presidente da República). pensou, pensou. Murmu- de João Antônio Bührer
Em troca disso, Benedito rou muito baixinho: e seus “Arquivos Impagá-
me mostrava os dentes — Morrer não quero, veis”.
do seu riso extasiado, não sinhô... Eu fico.
uns dentes escandalosos,
grandes e perfeitos, onde E seus olhos enevoados Fonte: Releituras
as violentas nuvens de numa profunda melan-
setembro se refletiam, colia se estenderam pelo
numa brancura sem par. plano aberto dos pastos,
foram dizer um adeus à
Nas vésperas de mi- cidade invisível, lá longe,
nha partida, Benedito com seus “chauffeurs”,
veio numa corrida e me seus cantores de rádio, e
pôs nas mãos um chu- o presidente da Repúbli-
Inocentes
sor universitário e ensaísta, con- Pesquisas Folclóricas, tentando
siderado unanimidade nacional e criar um estudo e uma descoberta
reconhecido por críticos como o das raízes culturais do Brasil. Isso
mais importante intelectual brasi- também ocorreu com seu romance
mais famoso, Macunaíma, consi- www.covildosinocentes.blogspot.com
leiro do século XX. Notável polí-
mata, Mário de Andrade liderou o derada uma das obras capitais da
movimento modernista no Brasil narrativa brasileira no século XX.
e produziu um grande impacto na A importância de Mário de An-
renovação literária e artística do drade continua sendo ativamente
país, participando ativamente da expressa nos dias atuais, e ainda
Semana de Arte Moderna de 22, se fala sobre sua obra seja para
além de se envolver (de 1934 a 37) estudo ou para a investigação do
com a cultura nacional trabalhan- Brasil: o filósofo Leandro Konder
do como diretor do Departamento considera que talvez essa atuali-
Municipal de Cultura de São dade seja resultado do destaque
Paulo. que Mário tinha sobre os outros
Mário nasceu em São Paulo e nomes do modernismo, "pela
construiu praticamente toda a sua amplitude de sua cultura, pela
vida na metrópole. Na cidade, vastidão dos seus conhecimentos
estudou e também lecionou por [...] [porque] tinha uma visão pa-
muitos anos, desde cedo demons- norâmica abrangente [e] dispunha
trando sua paixão pela cidade. de um quadro de referências muito
Durante seu tempo de vida, Mário mais rico do que todos os outros."
criou vínculos fortes com outros
nomes do país, se corresponden- Fonte: Wikipedia
do freqüentemente com grandes do
artistas brasileiros, dentre quais w
gr nl
se destacam Manuel Bandeira,
át
oa
Carlos Drummond de Andra- is d
23
Autor em Língua Portuguesa
Qorpo Santo
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tempo do seu magistério, em- ências, compondo uma obra bem se pode dizer - que é
pregou-se sempre no estudo de mais de 400 páginas em um desses raros talentos que
da História Universal; da Ge- quarto, a que denomina E... só se admiram de séculos em
ografia; da Filosofia, da Retó- ou E... de. .. E aí acrescentam séculos!
rica - e de todas as outras ci- que tomou o titulo de Dr.
ências e artes que o podiam C... s.... - por não poder usar O REI - Poderíamos obter
ilustrar. Estudou também um o nome de que usava - Q... um retrato desse ente a meu
pouco de Francês, e do Inglês; L..., ou J... J... de Q. .. L..., ao ver tão grande ou maior que
não tendo podido estudar interpretar diversos tópicos o próprio Jesus Cristo!?
também - Latim, conquan- do Novo Testamento de N. s.
to a isso desse começo, por Jesus Cristo, que até aos pró- MINISTRO - Eu não possuo
causa de uma enfermidade prios Padres ou sacerdotes algum; mas pode se enco-
que em seus princípios o pareciam contraditórios! mendar ao nosso Cônsul na
assaltou. Lia constantemente cidade de Porto Alegre, capi-
as melhores produções dos O REI - Estou espantado de tal da Província de São Pedro
Poetas mais célebres de todos tão importante revelação! do Sul, em que tem habitado,
os tempos; dos Oradores e creio que ainda vive.
mais profundos; dos Filósofos MINISTRO - Ainda não é
mais sábios e dos Retóricos tudo, Senhor: Esse homem era O REI - Pois serás já quem
mais brilhantes ou distintos durante esse tempo de jejum, fará essa encomenda!
pela escolha de suas belezas, estudo, e oração - alimen-
de suas figuras oratórias! Foi tado pelos Reis do Universo, MINISTRO - Aqui mesmo na
esta a sua vida até a idade de com exceção dos de palha! presença de V . M. o farei.
trinta anos. A sua cabeça era como um (Chega-se a uma mesa, pega
centro, donde saíam pensa- em uma pena e papel, e
O REI - E nessa idade o que mentos, que voavam às dos escreve:)
aconteceu? Pelo que dizes Reis de que se alimentava,
reconheço que não é um e destes recebia outros. Era “Sr. Cônsul de...
homem vulgar. como o coração do mundo,
espalhando sangue por todas De ordem de Nosso Monar-
MINISTRO - Nessa idade, in- as suas veias, e assim alimen- ca, tenho a determinar a V.
formam-me... isto é, deixou o tando-o e fortificando-o, e Sa. que no primeiro correio
exercício do Magistério para refluindo quando necessário envie a esta Corte um retra-
começar a produzir de todos a seu centro! Assim como to do Dr. Q... S..., do maior
os modos; e a profetizar! acontece a respeito do cora- tamanho, e mais perfeito que
ção humano, e do corpo em houver.
O REI - Então também foi ou que se acha. Assim é que tem
é profeta!? podido levar a todo o mundo Sendo indiferente o preço.
habitado sem auxílio de tipo
MINISTRO - Sim, Senhor. - tudo quanto há querido! O Primeiro Ministro
Tudo quanto disse que havia
acontecer, tem acontecido; e O REI - Cada vez fico mais DOUTOR SÁ E BRITO”
se espera que acontecerá! espantado com o que ouço
de teus lábios! Corte de..., maio 9 de 1866.
O REI - Como se chama esse
homem!? MINISTRO - É verdade (Fechou, depois de haver
quanto vos refiro! Não vos lido em voz alta; chama um
MINISTRO - Ainda não vos minto! E ainda não é tudo: criado; e manda por no cor-
disse, Senhor, - que esse ho- esse homem tem composto, reio - para seguir com toda a
mem viveu em um retiro por e continua a compor, nume- brevidade, recomendando.)
espaço de um ano ou mais, rosas obras: Tragédias; Co-
onde produziu numerosos médias; poesias sobre todo e
trabalhos sobre todas as ci- qualquer assunto; finalmente,
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Contos
O Malandro e
a Princesa Carlos Alberto Barros
http://www.flickr.com/photos/julianasantos/2201245665/sizes/l/
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Contos
O copo esmaltado
Volmar Camargo Junior
v.camargo.junior@gmail.com
http://www.flickr.com/photos/visualdensity/316305712/sizes/l/
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portinhola do fogão. Até Na manhã seguinte, o
aquele momento, eu achei velho apareceu em casa
aquilo tudo muito, muito com o fogão a gás. Dei-
engraçado: era a primeira tou o machado na cadei-
vez que tinha visto a mãe ra de vime, pôs o pelego
cochilando. Havia na co- do lado de fora da porta,
zinha um cheiro de café para onde se mudou uns
fervido, e quando cheguei dias depois uma gata
mais perto dela, pé-por- que nos adotou, e de-
pé, vi que o conteúdo mos o nome de Baia. No
do copo estava fervendo. copo esmaltado o velho
Como a mãe sempre plantou uma muda de
teve uns sentidos felinos, comigo-ninguém-pode.
assim que uma das tábu- Daquele dia em diante,
as do soalho rangeu, num o café ficou proibido em
rompante, assustou-se e casa. E até o dia em que a
deu um pulo da cadeira. mãe morreu, e isso levou
Com o solavanco, o copo uns bons trinta anos, os
de café fervente saltou da dois – juntos – iam para
chapa do fogão por cima a cama no mesmo horá-
das pernas da mãe. Eu rio, e acordavam – jun-
só lembro de eu pedindo tos – antes do sol nascer
desculpas, e a mãe gritan- para tomar chimarrão.
do como eu nunca tinha A velha se foi e fiquei
ouvido, e o pai vindo eu. Não tem mais fogão
pelo corredor fazendo a lenha – e isso nem
tanto barulho que fiquei caberia aqui em casa.
ainda mais assustado. De- Acordo todo dia cedinho
pois, eu lembro de muito pra tomar mate com o
pouca coisa além das velho. Mas, uma vez ou
cintadas que o pai desfe- outra, não livre de algum
ria em mim, e de a mãe, sentimento de culpa, uma
chorando e mandando sensação de que estou fa-
que ele parasse. zendo algo errado, tiro de
Não foi nada de muito seu esconderijo o copo
grave com as pernas dela. esmaltado, que salvei de
Levantaram umas bolhas ser vaso de planta assim
vermelhas, mas a minha que o pai esqueceu-se
avó recomendou lavar dele. E o café, além do
com sálvia e vinagre para gosto de ferro, mesmo
que não arrebentassem. depois de tanto tempo,
As cintadas que eu levei parece que guardou um
passaram, e no outro dia pouquinho do gosto de
nem lembrava mais delas. terra.
Estava mais preocupado
que a mãe fosse ficar
doente, ou morrer.
Sem abrigo
Joaquim Bispo
http://www.flickr.com/photos/vaitu/3075851092/sizes/l/
do psicanalista a Lisboa. Parti de Cas-
telo Branco às quatro da tarde e às seis
já estava a chegar ao Aeroporto mas, a
partir daí, o trânsito estava complicado.
Perto das sete, a hora da consulta, tele-
fonei do Campo Grande ao Dr. a pedir
desculpa pelo atraso. Às sete e vinte, já
desvairado, encostei o carro como pude,
a meio da 5 de Outubro, e apressei o
passo para o consultório, que é junto
ao Saldanha.
A consulta foi pouco produtiva. Não
consegui soltar-me e verbalizar todas
as queixas que tenho da vida desde que
a Noémia me deixou. Quando ia para
pagar, dei-me conta que tinha deixado a
carteira no compartimento da porta do
carro, onde a meti ao pagar a portagem.
Fiquei a dever a consulta.
Voltei ao carro mas não o encontrei.
No café em frente, confirmaram-me
que tinha sido rebocado. Na pressa,
tinha-o posto num espaço reservado a
deficientes.
De repente, vi-me numa situação
33
muito desconfortável: só em caixas de cartão. Um sobre os joelhos, com o
tinha um porta-moedas indivíduo de barba hir- rosto apoiado nas mãos
com 4 euros e 40, eram suta veio pedir-me «uma abertas, enquanto o frio
nove da noite, estava a ajuda». Apeteceu-me se espalhava por todo o
duzentos quilómetros de dizer-lhe «hoje não pode corpo. Apesar de estar
casa e não tinha onde ser», mas acabei por lhe cheio de sono, só con-
dormir. Enquanto pensa- dar vinte e cinco cên- seguia adormecer por
va o que havia de fazer, timos. Deambulei pela curtos períodos, devido
comi uma sandes de Baixa a ver as ilumina- ao frio e à posição. Ape-
queijo com uma imperial ções de Natal. Era minha tecia esticar-me. A meio
e um café. Fiquei com 1 intenção continuar a da noite, reclinei-me de
euro e 70. andar até que amanhe- lado nos degraus, mas
Lembrei-me dum ami- cesse mas, ao contrário as arestas magoavam.
go da tropa, o Marques, do que esperava, comecei Fui mudando amiúde de
que, quando me encontra, a sentir-me cansado. Subi posição. Tiritava. Os pés
insiste para o ir visitar a Almirante Reis e toquei estavam gelados. Ansiava
a Campo de Ourique. em três pensões. Uma pela manhã.
Liguei-lhe, mas, assim estava cheia e as outras De repente, meio estre-
que começou a chamar, duas não me aceitaram munhado, ouvi ruídos de
acabou-se a bateria do sem identificação ou sem passos a descer as esca-
telemóvel. Numa lista te- pagar adiantado. das. Em poucos segundos,
lefónica, por exclusão de Pela primeira vez, não estava confrontado com
partes, encontrei a mo- tinha onde dormir. Para um cão grande a ladrar
rada. Meti-me no Metro piorar as coisas, começou furiosamente e a fazer
até ao Rato e depois fui a chuviscar. Estive um avanços para me morder.
a pé. Quando dei com a bocado debaixo do toldo O que me valeu foi o
rua Tomás da Anuncia- duma montra de mó- dono e a trela com que o
ção, eram já quase onze veis. Depois, encostado segurava. Envergonhado,
da noite. Toquei, toquei à às paredes, meti por uma saí.
campainha, mas ninguém transversal da Morais Tinha parado de cho-
respondeu. Se calhar Soares e entrei na porta ver. Subi a rua até ao alto
tinham saído de fim-de- dum prédio que estava da Penha de França. O
semana. encostada. casario acinzentado co-
Voltei para trás, meio Fiquei parado na pe- meçava a ganhar cor. Do
acabrunhado. Sem sa- numbra, atento a todos os lado de Xabregas, o céu
ber para onde ir, segui a ruídos. Do alto das esca- tingia-se de fortes tons
linha do eléctrico por S. das ouvia-se, de vez em de vermelho. Em breve, a
Bento até ao Chiado. Já quando, um ruído inde- enorme bola solar fez a
não cirandava pela cida- finido. Cheirava a mofo. sua entrada triunfal. Há
de desde os tempos de Sentei-me nos degraus de quanto tempo não via
tropa, há uns vinte e tal madeira e aos poucos a um nascer de sol! Fiquei
anos. Aqui e ali, vi pes- fadiga invadiu-me. Estive um bocado a saborear
soas a dormir enroladas ali muito tempo de per- essa extraordinária visão
em cobertores e metidas nas encolhidas, dobrado e a sentir o corpo a delei-
http://www.flickr.com/photos/browserd/909272034/sizes/l/
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Contos
A Biblioteca
de Livros Esquecidos
Henry Alfred Bugalho
henrybugalho@gmail.com
a boa Literatura
é fabricada
ficina
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Contos
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falava automaticamente cer. E a cultura brasileira é
embriagado de sono. fantástica!
Fiquei na sala. Era a pri- Puxa, nunca tinha visto
meira vez que vinha na ninguém sintetizar tão bem
casa dele. Um ambiente o que é a arte e reconhecer
peculiar e muito interes- com tanta vivacidade o que
sante: poucos móveis, uma é nosso. A cultura brasileira
pequena e antiga televisão é fantástica!
que nem devia funcionar, e Caminhamos em silêncio
no canto uma estante, não pelo parque. Andamos pelo
muito grande, com bastan- gramado. Inalamos o aro-
tes livros. Tinha os grandes ma fresquinho da natureza.
filósofos alemães Nietzsche, Demo-nos as mãos e sentí-
Schoppenhauer, Marx. Uma amos um no outro. Um só
porção de escritores brasi- ser. Nos Beijamos.
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Contos
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— Gerusa, você viu esta — E quem pagou por — E desde quando você
pouca vergonha? isto? entende marketing, mu-
lher?
— Benza Deus! Olha — O padrinho dela. Um
como nossa filhinha ficou senhor que ajuda ela na — Desde que vejo pro-
bonita na revista! carreira. Ele é o empresá- grama de fofocas na TV.
rio. Ela precisava depilar a... a
— Bonita? Ela está pela- perseguida para as fotos.
dona da Silva! Meu Deus, — Nunca mais boto Então eu sugeri que ela
que vergonha! A gente cria minha cara na rua... fizesse um “R” lá para, se
uma filha com tanto cari- perguntassem, ela dissesse
nho para ela acabar assim, — Relaxe, Adalberto.
São só umas fotinhas. Hoje que era uma homenagem
como veio ao mundo em ao namorado.
uma revista de tarados? os tempos são outros.
Eu virei motivo de cha- — Sou do tempo em que — E quem é este otário
cota lá no ponto de táxi, uma costa nua já provoca- que está namorando esta
todos os colegas me apon- va um escândalo. Não isto aprendiz de Messalina?
taram. Apontavam para aqui. A gente quase con-
esta revista, para mim e — Bonito este nome,
segue ver o interior da... Adalberto. Nossa filha
diziam: “Olhem como a eu vou sair Gerusa! Vou
filha do Adalberto é gosto- podia usar como nome
comprar todas as revista artístico. Não tem na-
sa”. Tinham a safadeza no da cidade! Não quero meu
timbre da voz. morado, seu bocó. Fica o
nome emporcalhado por mistério de quem seria o
— Deixa de besteira, uma safadeza destas! “R”. Tem muito jogador de
homem. Nossa filha agora — Vai comprar todas as futebol que começa com a
é famosa. revistas do Rio de Janeiro? letra “R”.
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Contos
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O Furão saiu de seu Vitor batia como ondas Parte 4 – O Urso. O
transe, aparentemente em seu estômago, sua voz riacho.
alarmado. rouca pela sede.
- Temos que ir, temos O Furão parou, ofegan- O Urso surgiu à frente
que ir – disse ele, a voz do. deles, rugindo um som
ligeiramente mais aguda. - É um bom lugar. Sim, que Vitor nunca havia
- Ok. Mas era você acho que essa é uma boa escutado na vida. Ele de-
quem estava nos fazendo descrição. É um bom veria ter uns três metros
perder tempo olhando lugar, e quanto mais e meio de altura, e era
para aquela folha. rápido você se apressar, negro. Seus dentes pare-
O Furão, que já tinha mais cedo chegaremos lá. ciam lâminas. O Furão o
recomeçado a andar, Além do mais, não esta- encarou com uma ex-
parou. mos seguros. pressão séria.
- Não era apenas uma E continuaram pela - Você não deveria
folha, era uma Folha que Trilha. estar aqui.
Fala, e ela nos disse para “Não estamos seguros”. A isso, o Urso respon-
nos apressarmos. Aquilo havia ficado na deu rugindo mais alto e
Espantado, Vitor disse mente de Vitor. Uma fra- mais próximo do Furão,
ao Furão que não ouvira se pequena, porém sufi- fazendo os pêlos desse
nada. ciente para dar-lhe forças último se arrepiar.
para se apressar. - Vamos, garoto, vamos
- Mas é claro que não
ouviu, estava tentando Suando, Vitor pergun- embora.
não ouvir. Existem muitas tou ao Furão o que ele E caminhou, passando
Folhas que Falam pelos quis dizer com “não esta- ao lado do Urso, e paran-
bosques, mas por algum mos seguros”. do às suas costas.
motivo as pessoas não - Espero que não te- Vitor estava congela-
querem ouvi-las. Acho nhamos que descobrir do. Olhou para o Urso, e
que é por que as pessoas – respondeu o Furão, sem tremeu.
em geral são burras. parar nem se virar para
trás. - Eu... eu não posso. -,
Vitor o olhou, sem en- gaguejou ele.
tender muito. - O que isso quer... -,
começou Vitor, quando - Sim garoto, você
E com isso, continua- pode. Venha até mim, de-
ram. um barulho tão alto que
parecia vir de todas as vagar. E não encoste nele,
direções o fez parar. por tudo que você consi-
Parte 3 – Mais um pou- dera sagrado, não encoste
- Bem, mas que droga nele!
co sobre o Grande Sa- -, disse o Furão, fazendo
lão. O alerta do Furão. um movimento cômico Cansado, com medo e
com as patas dianteiras. faminto, Vitor fechou os
olhos e pôs-se a andar.
- Como é esse Grande O barulho ecoou no- Lágrimas caíam de seus
Salão? vamente e pela primeira olhos quando ele passou
Tinham andado mais vez desde que acordara, pelo Urso, e nos anos que
uns vinte minutos depois Vitor ficou verdadeira- se seguiram, brotaram do
de terem encontrado a mente apavorado. lugar onde elas caíram
Folha que Fala. A fome de duas Árvores, que espa-
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Contos
Fissuras íntimas
Léo Borges
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o nada e o tudo sejam Balancei a cabeça po- surfistas sangrarem suas
tão semelhantes, como o sitivamente com um ondas.
sempre e o nunca e suas semblante opaco. Coisa
extremidades incoerentes. covarde e traiçoeira essa Por certo um banho ali
benfeitoria! Sem aquele finalizaria todas as dores,
De fato, Verônica agiu buraco feito por algum entretanto o que me resta-
com a incoerência que mestre visionário eu esta- va era invejar a ave caça-
é pertinente a nós, seres ria fadado a sentir apenas dora flechando o horizon-
racionais. Atitude avulsa a claridade disforme do te. Aqueles seres tinham
que para ela foi necessária sol e os ruídos dos carros, não só uma visão pano-
e para mim o bastante; tão afoitos quanto indife- râmica do paraíso como
premissa nefasta, mas não rentes. Será que os condô- sabiam usufruí-lo com
menos lógica que meu minos não entendiam que grande sagacidade. Agi-
flerte com a praia e seus mofo e infiltração eram, lidade e beleza presentes
atributos singulares. Se na verdade, prejuízos também em Helena que,
essa incoerência era uni- menores que a clausura e de súbito, surgiu fagueira
versal, o sofrimento resul- a solidão? A vida é isso, por trás de um quiosque.
tante era só meu, legítimo! mera inversão de valores, Num diálogo frugal sua
e eu reclamando que meu voz doce acabou contando
Passando pela porta- egoísmo estava sendo uma novidade inesperada,
ria, cumprimentei o seu violado. a revelação do segredo
Belarmino, que comentou que se tornaria nosso có-
sobre o dia límpido. Por Mas, nem a violência digo de união.
pouco não sugeriu um urbana inibia a opulên-
mergulho, sem levar em cia da Siqueira Campos, - E não é que o novo
conta minha perna direita que pulsava sua voca- síndico disse que eu vou
fartamente envolta por ção cosmopolita, típica ter que ressarcir a clara-
material imobilizador. de Princesinha do Mar, bóia lá do nosso andar?
com um sem número Aquela que quebrei no
- Acho que vou entrar de pessoas desfilando a maior descuido com meu
na água mesmo. O mar elegância que o bairro guarda-sol...
pra mim é um apoio exige. A perna tentou
melhor que essa muleta – doer quando atravessei a A confissão gerou risos
rimos enquanto eu fazia Avenida Atlântica, mas a incontidos e evidenciou
graça com o objeto. eloqüência do cenário já desejos claros como a
suprimia qualquer sen- manhã naquela praia.
- Léo, sabe aquela cla- Praia em que fui procurar
sação lúgubre. Aliviado,
rabóia quebrada lá do seu acalanto, mas que foi onde
pude vislumbrar de perto
andar? Pois é, vai ser con- encontrei recomeço.
o mosaico multicor sobre
sertada semana que vem.
a areia disputando a cena
O novo síndico chegou
com o gigante anil que
querendo mostrar serviço,
servia como pátio para os
não é uma boa notícia?
Crônicas Íntimas I:
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Contos
O sacana
tar a explicação para suas - Onde anda buscando ‘’chopinhos’’: tem mulata,
composições: estas inspirações? Nem a morena, lourinha... Pegou a
- Tem que colocar moral minha avó fala assim! idéia?
na coisa, senão deslancha - A nomenclatura correta - Quer chamar as femini-
para o pornô baixo-nível. soa pedante: ‘’ ele introdu- nas de mulatinha, moreni-
Nada entre familiares, me- ziu o pênis rijo na vagina nha e por aí vai...
nores, estupros, violência úmida....” Olhei para a cara do
e algumas taras nojentas.
- Mais dois na pressão!!! Agenor e fiquei imaginan-
Meus contos primam pelo
Criatura, escreva “buceta”. do: “O homem pelado e de
bom gosto.
Não é o que todo mundo meias pretas, a barriguinha
- Tudo bem. Mas criatu- diz por aí? de cerveja bem redondinha
ra, e se a revista pede um e a carinha de pidão. A
- É vulgar, não assino
conto ‘’sado’’ leve? mulher, uma puta daquelas!
conto com este termo.
- Não faço. Eu não estou Estilo cais do porto. Age-
- Agenor, meu velho.
aqui para incitar maluco. nor, todo tímido pedindo:
O que escolher está bom.
- Mas voltando para os “- Vai filha, abre a lourinha
Abro mão das minhas bu-
nomes, o que está te aborre- pro papai.’’... Não sei se ele
cetinhas.
cendo? intuiu ou teve algum surto
- E ainda tem o mascu- inspirador.
Ele ficou meio desconfia- lino.
do. Achou que era sacana- Quando consegui parar
- Sinceramente: “aríete de rir, estava sozinho na
gem e amarrou a cara.
em riste”, monumento ereto, mesa e o malandro nem ra-
Acertou em cheio! Sou membro túrgido... chou a conta. A única coisa
um descarado nato. Nas-
- Vai começar a impli- que tenho certeza: Perdi o
ci assim: Safado, sacana e
car? Era um conto para contrato!
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Contos
Temporada de caça
Maristela Scheuer Deves
todo o tempo livre à cata do Adão descobriu que Tendo visto o que o co-
dos “produtos”. Se al- Carlinhos, outro colega da lega fizera, outros o delata-
guém destruía um ninho terceira série, havia “pesca- ram. Foi a gota d’água, e o
de vespas, lá estavam os do” umas aranhas atrás de professor decidiu encerrar
pequenos, contando os 100 uma mata da propriedade sua guerra aos insetos e
insetos para montar mais do seu pai. animais peçonhentos. Até
um pacotinho e levar ao – Se foi no terreno do porque, provavelmente,
professor, que pagava por meu pai, as aranhas são boa parte do seu salário
eles e enterrava no quintal minhas – defendia Adão, devia estar sendo compro-
da escola. mostrando os punhos. metida com a aquisição
– Já ganhei 10 cruzeiros dos “troféus”...
– Eu é que as peguei,
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Autor Convidado
Menina de família
Mariana Valle
a boa Literatura
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é fabricada
ficina
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Autor Convidado
Renato Wegner de Souza nasceu em Ah, mas quando olhei em seus olhos
Curitiba-PR, morou em várias cidades Pensei que poderia conquistar sua alma.
do sul do Brasil e atualmente reside em
Enganei-me!
Pelotas-RS. Para ele não existe nada além
da poesia. Seus versos são carregados de Porque a alma
otimismo mascarado e sua criação é um Não estava nela.
processo picaresco.
Conteúdo
http://oficinaeditora.org/2008/11/29/audiobook-da-oficina/
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Tradução
http://pds73.cafe.daum.net/image/4/cafe/2008/06/09/21/23/484d20a1bde6e
Oscar Wilde
tradução: Henry Alfred Bugalho
O Milionário Modelo
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dada natureza generosa, e com ele! fique quieto.
lhe concedeu entrée per- — Pobre coitado! — Depois de algum tem-
manente a seu estúdio. disse Hughie — que apa- po, um servo entrou e
rência miserável ele tem! disse a Trevor que o
2 Mas, acredito que, para emoldurador queria falar
vocês pintores, o rosto é com ele.
Quando Hughie en- a fortuna dele?
trou, encontrou Trevor — Não fuja, Hughie —
dando os toques finais — Com certeza — res- ele disse, enquanto saía —
num maravilhoso retrato pondeu Trevor — você voltarei num instante.
em tamanho real dum não quer que o mendigo O velho mendigo
mendigo. O próprio men- pareça estar feliz, quer? aproveitou da ausência
digo estava de pé numa — Quanto um modelo de Trevor para descansar
plataforma elevada num ganha para posar? — per- um pouco num banco
canto do ateliê. Ele era guntou Hughie, assim que de madeira que estava
um velho homem enru- ele se viu confortavel- atrás dele. Ele parecia tão
gado, o rosto como um mente sentado num divã. desgastado e miserável
pergaminho envelhecido — Um xelim por hora. que Hughie não conse-
e com uma expressão guiu evitar de sentir pena
de causar pena. Sobre — E quanto você ganha dele, e procurou em seus
seus ombros pendia um pela pintura, Alan? bolsos para ver quanto
grosseiro casaco marrom, — Oh, por esta, ganho dinheiro tinha. Tudo que
todo rasgado e em fran- dois mil! conseguiu encontrar foi
galhos; as espessas botas — Libras? um soberano e alguns
dele estavam remendadas trocados.
— Guinéus. Pintores,
e mal-costuradas, e ele — Pobre coitado — ele
poetas e médicos sempre
se apoiava com uma das pensou consigo — ele
ganham guinéus.
mãos num bastão rugo- quer isto mais do que
so, enquanto que, com a — Bem, penso que o
eu, mas isto representa
outra, ele segurava seu modelo deveria ganhar
ficar sem coche por duas
castigado chapéu para as um percentual — excla-
semanas — e ele atraves-
esmolas. mou Hughie, rindo —
sou o ateliê e deslizou o
eles trabalham tão duro
— Que modelo fantás- soberano para a mão do
quanto você.
tico! — sussurrou Hughie, mendigo.
enquanto cumprimentava — Absurdo, absurdo!
seu amigo. Pois, veja a dificuldade de
aplicar a tinta e ficar o 3
— Um modelo fantás-
dia inteiro diante do ca- O velho homem se
tico? — gritou Trevor, o
valete. É muito fácil para exaltou e um fugidio sor-
mais alto que pôde — eu
você falar, Hughie, mas riso se delineou em seus
deveria pensar assim!
eu lhe asseguro que há lábios enrugados.
Mendigos como ele não
momentos em que a arte — Obrigado, senhor —
se encontram todos os
quase alcança a dignida- ele disse — obrigado.
dias. Un trouvaille, mort
de do trabalho manual.
cher, um Velasquez vivo! Então Trevor chegou e
Mas você não deve taga-
Minha nossa! Que água- Hughie se foi, um pou-
relar; estou muito ocu-
forte Rembrandt faria co ruborizado por causa
pado. Fume um cigarro e
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— Meu caro rapaz, meses, e terá uma baita na sala e disse, com um
você nunca mais o verá história para contar de- ligeiro sotaque francês:
novamente. Son affaire pois do jantar. — Tenho a honra de
c’est l’argent des autres.’ — Sou um coitado sem me endereçar ao Mon-
— Acho que você deve- sorte — resmungou Hu- sieur Erskine?
ria ter me contado, Alan ghie — a melhor coisa Hughie aquiesceu.
— disse Hughie, entriste- que posso fazer é ir para
cido — e me impedido de a cama; e, meu caro Alan, — Venho da parte do
fazer este papel de tolo. você não deve contar isto Barão Hausberg — ele
para ninguém. Não ou- prosseguiu — o Barão...
— Bem, para começar,
Hughie — disse Trevor — sarei em dar as caras no — Eu imploro, senhor,
nunca passou pela minha Row. que você leve a ele as
cabeça que você sairia — Absurdo! Isto repre- minhas mais sinceras
distribuindo esmolas des- senta o mais alto crédito desculpas — gaguejou
te modo descuidado. Eu em seu espírito filan- Hughie.
posso entender se você trópico, Hughie. E não — O Barão — disse o
beijasse um belo modelo, fuja. Fume outro cigarro velho cavalheiro, com um
mas dar um soberano e você pode falar sobre sorriso — incumbiu-me
para um feio — por Deus, Laura quanto quiser. de trazer-lhe esta carta —
não! Aliás, o fato é que Contudo, Hughie não e estendeu um envelope
eu não estava recebendo ficaria, mas caminhou selado.
ninguém em casa hoje; e para casa, sentindo-se Por fora, estava escrito:
quando você chegou, eu muito infeliz e deixando “Um presente de casa-
não sabia se Hausberg Alan Trevor em meio a mento para Hugh Erskine
gostaria que o nome dele uma crise de riso. e Laura Merton, de um
fosse mencionado. Você velho mendigo” e dentro
sabe, ele não estava para- havia um cheque de dez
mentado de acordo. 5 mil libras.
— Ele deve achar que Na manhã seguinte, Quando eles se casa-
sou um desajeitado — enquanto ele tomava ram, Alan Trevor foi o
disse Hughie. café-da-manhã, o servo padrinho e o Barão fez
— De modo algum. trouxe-lhe um cartão, no um discurso no café-da-
Ele estava com um óti- qual estava escrito: Mon- manhã do casamento.
mo humor depois que sieur Gustave Naudin, de
la part de M. le Baron — Modelos milionários
você partiu; ficou rindo — comentou Alan — são
sozinho e esfregando as Hausberg.
bastante raros; mas, por
velhas mãos enrugadas. — Suponho que ele Deus, milionários mode-
Eu não conseguia des- tenha vindo para receber los ainda mais raros!
cobrir o porquê de ele minhas desculpas — dis-
estar tão interessado em se Hughie para si; e ele
saber tudo sobre você; disse ao servo para trazer fonte: http://www.eastof-
mas agora eu entendo. o visitante para cima. theweb.com/short-stories/
Ele investirá seu soberano Um velho cavalheiro UBooks/ModMil.shtml
para você, Hughie, e lhe com pincenê de ouro e
pagará juros a cada seis cabelo grisalho entrou
O Discípulo
Oscar Wilde
tradução: Henry Alfred Bugalho
fonte: http://www.oscarwildecollection.com/
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Aforismos Oscar Wilde
tradução: Henry Alfred Bugalho
fonte: http://www.brainyquote.com/quotes/authors/o/oscar_wilde.html
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68 SAMIZDAT março de 2009
68
Oscar Wilde (Oscar Fingal Lloyd, rico conselheiro da rainha. escreveu “The Ballad of Reading
O’Flahertie Wills Wilde) nasceu Eles tiveram dois filhos, Cyril Gaol”, relevando sua preocupa-
em Dublin em 16 de outubro de (1885) e Vyvyan (1886). Para sus- ção com as condições subumanas
1854, filho de Sir William Wilde tentar sua família, Oscar aceitou da prisão. Ele passou o resto da
e Jane Wilde. A mãe de Oscar, o emprego de editor da revista vida vagando pela Europa, ficando
Lady Jane Francesca Wilde (1820- Woman’s World, onde ele traba- com amigos e vivendo em hotéis
1896), foi uma poetisa e jorna- lhou de 1887 a 1889. Em 1888, baratos. Ele morreu de meningite
lista bem-sucedida. Ela escreveu ele publicou “O Príncipe Feliz e cerebral em 30 de novembro de
versos patrióticos à Irlanda sob o outras histórias”, contos de fadas 1900, sem um tostão, num hotel
pseudônimo “Speranza”. O pai de escritos para seus dois filhos. barato em Paris.
Oscar, Sir William Wilde (1815- Seu primeiro e único romance,
1879), foi um importante cirurgião “O Retrato de Dorian Gray”, foi
de ouvidos e olhos, um renomado publicado em 1891 e foi recebido fonte: http://www.wilde-online.
filantropista e dotado escritor que negativamente. Isto se deveu muito info/oscar-wilde-biography.htm
escreveu livros sobre arqueologia ao tom homo-erótico do roman-
e folclore. Oscar tinha um irmão ce, que causou comoção entre
mais velho, Willie, e uma irmã os críticos vitorianos. Em 1891,
mais nova, Isola Francesca, que Wilde se envolveu com Lord Alfred
morreu precocemente aos 10 anos. Douglas, apelidado “Bosie”, que
se tornou tanto o amor de sua vida
Oscar Wilde estudou na Portora quanto a causa de sua decadência.
Royal School, Enniskillen, Con- O casamento de Wilde acabou em
dado de Fermanagh (1864-71), 1893.
Trinity College, Dublin (1871-
74) e Magdalen College, Oxford O maior talento de Wilde era para
(1874-78). Em Oxford, ele se a dramaturgia, sua primeira peça,
envolveu no movimento estético e “O Leque de Lady Windermere”,
se tornou um defensor de “a Arte estreou em fevereiro de 1892. Ele
pela Arte” (L’art pour l’art). Em produziu uma série de comédias
Magdalen, ele ganhou, em 1878, o extremamente populares, incluin-
Prêmio Newdigate por seu poema do “Uma Mulher sem Importân-
Ravenna. cia” (1893), “Um Marido Ideal”
(1895), e “A Importância de ser
Depois que se graduou, ele se severo” (1895). Estas peças foram
mudou para Chelsea, em Londres muito aclamadas e estabeleceram
(1879), para estabelecer uma car- Oscar como um dramaturgo.
reira literária. Em 1881, ele pu-
blicou sua primeira coletânea de Em abril de 1895, Oscar proces-
poesia – “Poemas”, que recebeu sou o pai de Bosie por difamação
críticas contraditórias. Ele traba- quando o Marquês de Queensber-
lhou como crítico de arte (1881), ry o acusou de homossexualidade.
palestrou nos Estados Unidos e O caso de Oscar foi mal-sucedido
Canadá (1882), e viveu em Paris e ele próprio acabou preso e con-
(1883). Ele também palestrou na denado por comportamento inde-
Inglaterra e Irlanda (1883-1884). cente. Foi condenado a dois anos
Desde meados de 1880, ele con- de trabalho forçado pelo crime de
tribuiu regularmente para a Pall sodomia. Durante este tempo na
Mall Gazette e a Dramatic View. prisão, ele escreveu De Profundis,
um monólogo dramático e auto-
Em 29 de maio de 1884, Oscar se biográfico, que foi endereçado a
casou com Constance Lloyd (fa- Bosie.
lecida em 1898), filha de Horace
Ao ser libertado em 1897, ele
69
Tradução
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72 SAMIZDAT março de 2009
72
Julio Cortázar múltiplas formulações. É assim
que sua narrativa constitui um
(Bruxelas, 1914 - Paris, 1984)
questionamento permanente da
Escritor argentino. Nascido em
razão e dos esquemas convencio-
Bruxelas, filho de pais argen-
nais de pensamento.
tinos, aos quatro anos, Julio
Cortázar se mudou com eles O instinto, o azar, o gozo dos
para a Argentina, para morar na sentidos, o humor e o jogo
província andina de Mendoza. terminam por se identificar com
a escrita, que é, por sua vez, a
Depois de completar seus estu-
formulação do existir no mundo.
dos primários, cursou magistério
As rupturas de ordem cronoló-
e letras e durante cinco anos foi
gica e especial tiram o leitor de
professor rural. Posteriormen-
seu ponto de vista convencional,
te, foi para Buenos Aires e, em
propondo-lhe diferentes possibi-
1951, viajou a Paris com uma
lidades de participação, de modo
bolsa. Ao término dela, seu tra-
que o ato de leitura é convocado
balho como tradutor da Unesco
a completar o universo narrati-
o permitiu permanecer definiti-
vo.
vamente na capital francesa.
Tais propostas alcançaram suas
Nesta época, Julio Cortázar já
mais perfeitas expressões nos ro-
havia publicado em Buenos Aires
mances, especialmente em “Jogo
o livro de poemas “Presencia” cerimônia de posse como pre-
da Amarelinha”, considerada
com o pseudônimo de Julio sidente de Salvador Allende e,
uma das obras fundamentais da
Denis, o poema dramático “Los mais tarde, foi a Nicarágua para
literatura em castelhano, e em
reyes” e a primeira de suas nar- apoiar o movimento sandinis-
seus contos, entre eles “Casa
rativas breves, “Bestiário”, nas ta. Como personagem público,
tomada” e “A baba do diabo”,
quais admite a profunda influên- interveio com firmeza em defesa
ambos adaptados ao cinema, e
cia de Jorge Luis Borges. dos direitos humanos e foi um
“O perseguidor”, cujo protago-
A literatura de Cortázar parte nista evoca a figura do saxofo- dos promotores e membros mais
do questionamento essencial, nista negro Charlie Parker. ativos do Tribunal Russell.
aproximando-se de reflexões Como parte deste compromisso,
Rapidamente, Julio Cortázar se
existencialistas, em obras de escreveu inúmeros artigos e li-
converteu numa das principais
marcado caráter experimental, vros, entre eles “Dossiê Chile: O
figuras do chamado “boom” da
que o tornam um dos maio- livro negro”, sobre os excessos
literatura hispano-americana e
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Teoria Literária
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Era atrás desta indeco- surpreende — o que sur- milhões de exemplares
rosa listagem do Google preende é a incerteza en- vendidos, então ela se
que eu estava quando aca- tre o maior e menor valor torna ainda mais confusa,
bei caindo, acidentalmente, — se considerarmos que com textos de Paulo Coe-
numa outra listagem, da apenas na China vivem lho, Salinger, Saint-Exupéry,
enciclopédia virtual Wi- mais de um bilhão de pes- Haggard, Dan Brown, entre
kipédia, que apresentava soas e que este livro cer- outros autores que muitos
os livros mais vendidos da tamente é leitura obriga- de nós, brasileiros, jamais
História (2). Quer dizer, tória no país, além de que
não era apenas o que os também se tornou uma Estima-se que a Bíblia tenha
internautas mais busca- das referências clássicas vendido até 6,5 bilhões de exem-
vam, mas sim os livros do comunismo, ao lado de plares, pondo-a em primeiro lugar
que mais haviam vendido dos livros mais vendidos
Marx, Engels, Rosa Luxem-
em todos os tempos do burgo, Trotsky e Lênin, ou
mercado editorial! seja, um livro que deve
Por dias me deparei, ter passado pelas mãos de
assombrado, diante desta praticamente todo mundo
catalogação de livros. que vive num país comu-
nista ou se interessa pelo
Os dois primeiros colo- assunto.
cados, muito à frente dos
demais livros, eram óbvios. No entanto, o restante
da lista me intrigou, pois
A Bíblia, segundo esta nela havia livros quase to-
Enchendo Linguística:
O conto e a crônica
Volmar Camargo Junior
v.camargo.junior@gmail.com
já se conhece do autor
(por exemplo, uma crô-
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Teoria Literária
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Crônica
O ano bissexto
Joaquim Bispo
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Crônica
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Livin’ in America
O futuro já chegou!
Henry Alfred Bugalho Sempre adorei cinema. apesar de nunca entender
esta divisão, já que ame-
Eu era do tipo que ricano é estrangeiro para
assistia de tudo e o tem- nós brasileiros...
po todo. Sabia os nomes
dos atores, diretores e Por isto, uma das pri-
roteiristas, quem eram meiras coisas que fizemos
os indicados ao Oscar assim que chegamos a
do ano e quem havia Nova York foi procurar
ganhado nas principais uma locadora de filmes,
categorias nos anos ante- pois além de ser mais ba-
riores. Já escrevi críticas rato do que ir ao cinema,
de cinema (e fui muito era uma maneira para
xingado por causa de- ficar antenado no que
las). Gostava de cinema estava acontecendo.
americano e estrangeiro,
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Poesia
Laboratório Poético:
Soneto Volmar Camargo Junior
v.camargo.junior@gmail.com
Origem
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Marasmo
Um bom andar
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Poesia
Brancura
Caio Rudá de Oliveira
sem vontade,
seu povo
ao capricho do vento
que esculpe com talento
feições
e canções
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ao crepúsculo,
partiu o navio ao horizonte
e com ele o pirata
Aguiar ConDor
Dênis Moura
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Olhos infindáveis de fraterno e não incestuoso amor.
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O lugar onde
a boa Literatura
é fabricada
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ficina
92 SAMIZDAT março de 2009 www.samizdat-pt.blogspot.com 92
92
www.oficinaeditora.org
IZ
E SA OS
M
BR
SO
E O S AU TO R E S D A
SOBR
SA M I Z D AT
SOBRE OS AUT
ORES DA
Edição, diagramação e capa
SAMIZDAT Henry Alfred Bugalho
Formado em Filosofia pela UFP
R, com ênfase
em Estética. Especialista em Lite
SOBRE OS AUTORES DA Autor de quatro romances e de
ratura e História.
SAMIZDAT
duas coletâneas
de contos. Editor da Revista SAM
IZDAT e um dos
fundadores da Oficina Editora.
Autor do livro best-
selling “Guia Nova York para Mã
os-de-Vaca”. Mora,
atualmente, em Nova York, com
sua esposa Denise
e Bia, sua cachorrinha.
henrybugalho@gmail.com
Revisão www.maosdevaca.com
Joaquim Bispo
Ex-técnico de televisão,
xadrezista e pintor amador,
licenciado recente em His-
tória da Arte, experimenta
agora o prazer da escrita,
ista
Coordenação de entrev
em Lisboa.
s
erto Barro senhis-
Carlos Alb e n o r d e stinos, de
, filho d ,
Paulistano co formado
p r e , a r t i sta plásti n a l c o mo
em rofissi o
ta desde s u a v i d a p
ras-
Começou s deixou seu
escritor. n t ã o , j á
urais,
, desde e ntros Cult
educador e o l a s e C e
agógi-
G’s, Esc icos e ped
tro por ON o s a r t í s t
ência
trabalh forte influ
através de q u e t ê m za
riências te, organi
cos – expe r i t o s . Atualmen e s tuda
e s c crianç a s ,
sobre seus o p a r a
ilustr a ç ã escreve
oficinas de H i s t ó r i a da Arte e
aduação em
pós-grwww.revistaamizdat.com internet. 93
a r a p u b l i cações na
p
il.com
ador@hotma
carloseduc pot.com
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t t p : / / d e s nome.blogs
h
Colaboração
v.camargo.junior@gmail.com
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/vcj
Marcia Szajnbok
Médica formada pela Faculdade
de
Medicina da Universidade de São
Paulo,
trabalha como psiquiatra e psi
canalista.
Apaixonada por literatura e líng
uas es-
trangeiras, lê sempre que pode
e brinca
de escrever de vez em quando.
Paulista-
na convicta, vive desde sempre
em São
Paulo.
marciasz@hotmail.com
Caio Rudá
hoje mora
Bahiano do interior,
icologia na
na capital. Estuda Ps
da Bahia e es-
Universidade Federal
r o ser huma-
pera um dia entende
o acontece, vai
no. Enquanto isso nã
codificando
escrevendo a vida, de
cia. Não tem
o enigma da existên
io, reconhe-
livro publicado, prêm
as décadas de
cimento e sequer du
olo, um poten-
vida. Mas como cons
mãe.
cial asseverado pela
gisellenatsusato@gmail.com
Guilherme Rodrigues
Estudante de Letras na
Universidade do Sagrado
Coração, em Bauru, onde
sempre morou. Nutre
grande paixão por Línguas,
Literatura e Lingüística,
áreas em que se dedica
cada vez mais.
Pedro Faria
Léo Borges nasceu em Estuda Matemática na Univer-
setembro de 1974, é carioca, sidade Estadual do Rio de Janeiro,
servidor público e amante da músico amador e escritor quando
literatura. Formado em Co- dá na telha. Nascido e criado no
municação Social pela FA- Rio.
CHA - Faculdades Integradas
Hélio Alonso, participou da
punksterbass@hotmail.com
antologia de crônicas “Retra-
http://civilizadoselvagem.blogspot.com/
tos Urbanos” em 2008 pela
Editora Andross.
Zulmar Lopes
Zulmar Lopes é carioca. Forma
do em jorna-
lismo pela Universidade Gama
Filho, trabalha
como assessor de imprensa. Alm
a provinciana e
coração suburbano, encontra-s
e provisoriamen-
te exilado na cosmopolita Copac
abana, bairro
fonte de inspiração de personage
ns e situações
que compõem seus contos. Esc
reve para fugir
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do marasmo.
Também nesta edição,
textos de
Joaquim Bispo