CYAN MAGENTA AMARELO PRETO
Vida
Saúde&Ciência
A23
JORNAL DO BRASIL
PRÊMIO I Minas Gerais recebeu a primeira edição latina da competição organizada pelo Google
Carioca vence desafio do Google
Juliana Anselmo da Rocha
I BELO HORIZONTE. Cinqüenta
jovens programadores reunidos
essa semana na capital mineira
disputaram R$ 75 mil numa es-
pécie de vestibular do Google. O
carioca Fábio Dias Moreira foi o
primeiro colocado no Code Jam
Latin America, o prêmio de R$ 6
mil e a visita ao Googleplex, se-
de da empresa nos EUA.
A competição desafia jo-
vens profissionais e estudan-
tes a resolverem problemas de
computação sob a pressão do
relógio. Os competidores tem
uma hora para solucionar três
questões de grau crescente de
dificuldade. É a primeira vez
que acontece na América Lati-
na. Outras edições foram reali-
zadas na Índia, EUA e Irlanda.
– Desta vez, a tarefa mais
fácil me tomou 15 minutos –
conta o argentino Pablo Hei-
ber, veterano em competições
de programação. – Não conse-
Além do fato I RAQUEL STIVELMAN, ESCRITORA
Brincar de Deus
é muito perigoso
À medida que a ciência
avança e este avanço tem si-
do muito acelerado ultima-
mente, surgem novas ques-
tões éticas a serem enfren-
tadas e solucionadas e que
geram discussões bastante
complicadas e polêmicas.
Quantas implicações éticas
já surgiram com a questão
das células-tronco? São des-
cobertas científicas recen-
tes que criam implicações
novas a serem resolvidas e
naturais legislações especí-
ficas a respeito. A despeito
de quaisquer polêmicas, a
ciência segue seu curso e
desconfio que já existam
muitos cientistas através do
mundo que estejam reali-
zando pesquisas para clonar
o próprio homem. Brincar
de ser Deus é muito perigo-
so. Esta rebuscada enge-
nharia genética que nas suas
muitas tentativas alcança
êxitos e fracassos, a mim me
amedronta um pouco.
Mas voltando a problemas
mais imediatos, os estudiosos
americanos se vêem agora às
voltas com inúmeros questio-
namentos: o que é certo, o que
é errado com o destino que se
possa dar às amostras de san-
gue e de outros materiais que
as pessoas fazem nos seus
exames de rotina. Quem é o
SÁBADO
3 DE MARÇO DE 2007
saude@jb.com.br
gui resolver a mais difícil. Ape-
nas dois competidores o fize-
ram e um deles terminou dan-
do uma resposta errada.
Heiber, 22 anos, era o único
concorrente que já havia parti-
cipado das edições de 2005 e
2006 do Code Jam.
– Gostei da experiência,
embora o ritmo das provas seja
muito cansativo – completa.
Além de estimular novos
“prodígios” a investir na exce-
lência em programação, o Code
Jam funciona como um proces-
so de seleção para o Google.
– Temos orientação para con-
tratar quantas mentes brilhan-
tes encontrarmos – revela Ber-
thier Íbero Neto, responsável
pelo Centro de Pesquisa do Go-
ogle em Belo Horizonte, onde
aconteceram as últimas provas.
Débora Theodoro, 25 anos,
única mulher entre os finalistas,
conta que gostaria muito de co-
nhecer o Googleplex, a sede da
empresa no Vale do Silício. Esse
verdadeiro proprietário do
material desprezado uma vez
que a quantidade necessária já
foi utilizada? São simples-
mente jogados fora estes teci-
dos ou empregados para ou-
tros fins? E que fins seriam
esses? Que espécie de lucros
estariam sendo visados e que
tipos de investimentos esta-
riam sendo feitos? São per-
guntas e mais perguntas que
surgem e que são amplamen-
te discutidas, defendidas e
atacadas no cenário científico
americano de hoje.
Há um acontecimento cu-
rioso divulgado recente-
mente na imprensa america-
na. Um determinado cida-
dão, Ted Slavin, que faleceu
há 21 anos atrás, foi o pri-
meiro homem na história a
manter controle completo
sobre quaisquer quantida-
des de sangue ou outros ti-
pos de tecidos retirados do
seu corpo. Slavin seria o úni-
co a determinar quem faria
uso do seu material para
pesquisas científicas e
quem poderia se aproveitar
economicamente deste fato.
É preciso se dar conta de
que, de forma geral, tanto as
amostras de sangue quanto
as de outros tecidos retira-
dos do corpo humano têm
uma vida futura. Os mate-
Opinião do leitor I PUBLICIDADE DE REMÉDIOS
A
s campanhas publicitárias de tratamentos médicos são
perigosas. No caso do “intestino preguiçoso”, devemos
destacar dois pontos importantes. Caso seu intestino
tenha sempre funcionado bem e apenas recentemente esteja
moroso, procure um médico pois pode ser grave. Existem vá-
rias causas para a constipação intestinal.
Geraldo Siffert Jr.
Rio de Janeiro
riais retirados para simples
exames de rotina e mate-
riais extraídos de outras
partes do corpo humano nas
mais diversas cirurgias nem
sempre vão para o lixo hos-
pitalar. Os médicos, os hos-
pitais e os laboratórios deles
se apossam e os mantêm
bem conservados.
Alguns médicos têm con-
sentimento formal por parte
dos pacientes que preen-
chem um formulário a prio-
ri, fazendo declarações do ti-
po “Eu concedo permissão
ao meu médico para dispor
dos meus tecidos ou para
usá-los em pesquisa”. Ou-
REPRODUÇÃO
tros médicos não possuem
esta autorização.
É preciso reconhecer que
inúmeras importantes des-
cobertas científicas que vi-
sam à cura e ao tratamento
de diversas doenças têm si-
do feitas com a utilização de
um rico e vasto acervo de
material humano estocado.
Os cientistas estão tirando
bom proveito dos fragmen-
tos dos corpos humanos que
foram voluntariamente reti-
rados. Contudo, admite um
recente estudo sobre este
assunto, nós temos um sen-
timento de propriedade
muito arraigado no que se
TAB SAÚDE 23
Observatório mais
antigo das Américas
A análise das Treze Torres re-
velou que as estruturas do litoral
peruano foram o mais antigo ob-
servatório astronômico das
Américas, construído há 2.300
anos, na época em que Alexan-
dre Magno conquistou a Ásia.
era o principal motivo para parti-
cipar do Code Jam.
– Nunca imaginei que fosse
chegar tão longe. Pela pressão
do tempo, o Code Jam se torna
mais difícil do que outras com-
petições de programação – diz.
Entre os concorrentes que
enfrentou estava o namorado
Vinícius dos Santos, 22 anos.
– Se um de nós ganhasse e
fosse aos EUA, tentaria levar
o outro – explica.
Jeannie Williams, da equipe
de recrutamento da empresa,
acredita que “mesmo para os
que não são contratados, a ex-
periência é interessante, pois
fazem amigos e se divertem”.
O Code Jam Latin America
teve 5.311 inscritos. Só do Brasil
vieram 2.199 inscrições. Mais
que o dobro do segundo país
com mais inscrições: a Argenti-
na, que teve 737 interessados.
I Leia e opine no JB Online.
www.jb.com.br/24 horas
refere aos nossos corpos. O
problema se complica quan-
do surge o conhecimento de
que alguém possa estar en-
riquecendo com o uso des-
tes fragmentos.
Atualmente, sob o ponto
de vista legal, a lei ainda não
está clara quanto ao direito
do homem de possuir ou
exercer controle sobre os
seus tecidos. É óbvio que
enquanto fazem parte do
nosso corpo eles são total-
mente nossos. Uma vez re-
tirados, segundo as mais va-
riadas circunstâncias, o pro-
blema se torna obscuro,
denso.
Atualmente não existe
uniformidade alguma e ne-
nhum modelo ou orientação
quanto ao procedimento que
se refere a consentir a pes-
quisa de tecidos. Além dos
Estados Unidos serem um
país eminentemente capita-
lista, é o mercado que dire-
ciona suas prioridades. Se-
gundo o cientista americano
Blumberg, que criou a vaci-
na contra a hepatite B, a co-
mercialização é benéfica,
pois de que outra forma se
poderia obter as drogas que
curam e os testes de diag-
nóstico necessários? Mas
ele admite que existe uma
desvantagem, qual seja, a
sua interferência na ciência
mudando sua índole, seu fei-
tio. Muitos pesquisadores
se transformaram em em-
presários. Antes, os valores
éticos eram diferentes.