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Radiação Térmica: Aspectos Clássicos e Quânticos

Jovanio Silva dos Santos Júnior


Fundação Universidade Federal de Rondônia, Núcleo de Ciência e Tecnologia, Departamento de Engenharia e Física - DENFI
Curso de Bacharelado em Engenharia Elétrica - 5o Período - Matrícula: 200711760 - Disciplina de Fenômenos de Transporte.

Resumo—Este artigo visa a comentar sobre o fenômeno da de energia direta é a apenas possível entre superfícies que se
transferência de calor por radiação térmica, além de definir “veêm” mutuamente.
os conceitos de radiação térmica, irradiação, absortividade, Quando se calcula a taxa de transferência de calor de uma
refletividade, transmissividade e emissividade, as propriedades
do corpo negro, do corpo cinzento e do corpo real. Temas como superfície envolvida por ar, é necessário que se considere tanto
radiosidade e radição solar também pertencem ao foco deste convecção como radiação. Contudo, se a região que envolve
artigo. as superfícies estiver no vácuo, então apenas transferência de
Além de todos esses tópicos será apresentada uma breve calor por radiação vai ocorrer. A radiação será o modo do-
noção sobre Física Quântica e Mecânica Quântica, para que se minante de transferência de calor quando existir um gradiente
possa compreender perfeitamente a natureza da propagação da
radiação e como ela interage com a matéria. elevado de temperatura entre a vizinhaça e a superfície. Se
Index Terms—Radiação térmica, irradiação, absortividade, a diferença de temperatura for pequena, a convecção será
refletividade, transmissividade, emissividade, corpo negro, corpo o mecanismo principal de transferência de calor. No caso
cinzento, corpo real, radiosidade, dualidade onda-partícula, de existir um gradiente de temperatura moderado entre a
equação de Scrhöedinger, efeito Compton, produção e aniquilação vizinhaça e a superfície, tanto radiação quanto convecção
de pares, efeito fotoelétrico, fótons de breamsstrahlung, ângulo de
Bragg.
devem ser consideradas.

II. O NDAS E LETROMAGNÉTICAS


I. I NTRODUÇÃO
A Fig. 1 mostra os vetores campo elétrico e campo mag-
Estudo da transferência de calor é de extrema importân-
O cia na atualidade. Dele depende a compreensão de como
funcionam alguns dos dispositivos usados para a melhoria da
nético de uma onda eletromagnética. Os campos elétrico e
magnético são perpendiculares um ao outro e perpendiculares
à direção da propagação da onda. As ondas eletromagnéticas
qualidade de vida (como a garrafa térmica), além de trazer são, portanto, ondas transversais. Os campos elétrico e mag-
à luz os mecanismos de alguns fenômenos naturais (como a nético estão em fase, e em cada ponto do espaço e em cada
transferência de calor do Sol para a Terra e a inversão térmica, instante de tempo seus módulos estão relacionados por,
onde a convecção natural é dificultada pela inversão do gra-
diente de temperatura em função da altitude necessária para a
livre dispersão dos solutos do ar que formam a poluição). E = cB, (1)
Existem três maneiras de ocorrer transferência de calor. A
primeira ocorre a nível molecular, em que a energia cinética √
em que, c = 1/ µ0 0 é a velocidade da onda (as constantes
das moléculas da matéria é transferida de molécula a molécula.
µ0 e 0 representam a permeabilidade e a permissividade do
Este fenômeno é denominado condução. A segunda maneira
vácuo, respectivamente). A direção de propagação de uma
está associada ao movimento de um fluido, sendo denominada
onda eletromagnética é a direção do produto vetorial entre
convecção. A terceira e última forma, objetivo deste artigo,
o campo elétrico e o campo magnético.
se dá por meio de ondas eletromagnéticas, e é denominada
radiação.
Diversos fatores devem ser considerados quando se está
calculando a taxa de transferência de energia, já que a ra-
diação térmica é um fenômeno ondulatório. A distribuição de
energia que deixa uma superfície na forma de radiação térmica
depende do comprimento de onda. A distribuição espectral da
radiação vai depender da temperatura absoluta da superfície e
Figura 1. Os vetores campo elétrico e magnético em uma onda eletromag-
do acabamento superficial. Quando a radiação térmica atinge nética. Os campos estão em fase, perpendiculares um ao outro e perpendicu-
uma dada superfície, a quantidade de energia absorvida vai lares à direção de propagação da onda.
depender da distribuição espectral da radiação incidente, bem
como do acabamento da superfície.
A característica ondulatória da transferência de energia re- III. I NTENSIDADE DE R ADIAÇÃO
quer que se considere a orientação geométrica das superfícies A radiação que deixa uma superfície pode se propagar em
envolvidas no processo de transferência de calor. Transferência todas as direções possíveis (Fig. 7), freqüentemente está-se
interessado em conhecer a sua distribuição direcional. Tam- da qual a radiação passa, corresponde a um ângulo sólido
bém, a radiação que incide sobre uma superfície pode vir de diferencial dω quando vista de um ponto sobre dA1 . Como
diferentes direções e a maneira pela qual a superfície responde mostrado na Fig. 3, a área dAn é um retângulo de dimen-
a essa radiação depende da direção. Tais efeitos direcionais sões rdθ x rsen(θ)dφ; desta forma, dAn = r2 sen(θ)dθdφ.
podem ser de principal importância na determinação da taxa Conseqüentemente, tem-se,
de transferência de calor radiante líquida e podem ser tratados
com a introdução do conceito de intensidade de radiação.
dω = senθdθdφ. (3)
A. Definições Matemáticas
Devido à sua natureza, o tratamento matemático da trans-
ferência de calor por radiação envolve o uso extensivo do
sistema de coordenadas esféricas. A partir da Fig. 2(a), pode
ser relembrado que o ângulo plano diferencial dα é definido
por uma região entre os raios de um círculo e é medido como
a razão entre o comprimento de arco dl sobre o círculo e o
raio r do círculo. Analogamente, a partir da Fig. 2(b), o ângulo
sólido diferencial dω é definido por uma região entre os raios
de uma esfera e é medido como a razão entre a área dAn sobre
a esfera e o quadrado do raio da esfera. Conseqüentemente,
tem-se,

dAn
dω = . (2) Figura 3. O ângulo sólido, correspondente a dAn , em um ponto sobre dA1
r2
no sitema de coordenadas esféricas.

Quando vista a partir de um ponto sobre um elemento de


área superficial opaco dA1 , a radiação pode ser emitida em
qualquer direção definida por um hemisfério hipotético sobre a
superfície. O ângulo sólido associado ao hemisfério completo
pode ser obtido pela integração da Eq. 3 entre os limites φ = 0
até φ = 2π e θ = 0 até θ = π/2. Dessa forma,

Z Z 2π Z π/2 Z π/2
dω = senθdθdφ = 2π senθdθ = 2πsr,
h 0 0 0
(4)

em que, h se refere à integração no hemisfério. Devemos notar


que a unidade do ângulo sólido é o esterorradiano (sr), análogo
aos radianos para ângulos planos.
IV. R ADIAÇÃO T ÉRMICA
Vamos considerar um sólido que está inicialmente a uma
temperatura T , mais alta do que a de sua vizinhança Tviz ,
mas em torno do qual há vácuo, como mostrado na Fig. 4. A
presença do vácuo exclui a perda de energia da superfície do
sólido por condução ou convecção. Entretanto, pela intuição
já se pode imaginar que o sólido irá se resfriar e entrar em
equilíbrio térmico com a sua vizinhança. Esse resfriamento é
Figura 2. Definições matemáticas. (a) Ângulo plano. (b) Ângulo sólido. (c) associado a uma redução na energia interna armazenada pelo
Emissão da radiação a partir de uma área diferencial dA1 para um ângulo sólido e é uma conseqüência direta da emissão da radiação
sólido dω subentendido por dAn em um ponto sobre dA1 . (d) O sistema de
coordenadas esféricas.
térmica da superfície. Por sua vez, a superfície interceptará
e absorverá a radiação oriunda da vizinhança. Entretanto, se
Consideremos a emissão em uma direção particular a partir Ts > Tviz a taxa de transferência de calor por radiação líquida
de um elemento com área superficial dA1 , como mostrado na ,qrad,liq , está saindo da superfície e a superfície resfriará até
Fig. 2(c). A direção pode ser especificada em termos dos ângu- que Ts atinja Tviz .
los de zênite e azimutal, θ e φ, respectivamente, de um sistema Todos os tipos de matéria emitem radiação. Para gases e
de coordenadas esféricas (Fig. 2(d)). A área dAn , através sólidos semitransparentes, tais como vidros e cristais de sais a
Figura 4. Resfriamento por radiação de um sólido aquecido.

temperaturas elevadas, a emissão é um fenômeno volumétrico,


conforme ilustrado na Fig. 5. Isto é, a radiação proveniente
de um volume finito de matéria é o efeito integrado da
emissão local através do volume. Contudo, nesse artigo, focou-
se situações para as quais a radiação é um fenômeno de
superfície. Na maioria dos sólidos e líquidos, a radiação
emitida das moléculas internas é fortemente absorvida pelas
moléculas adjacentes. Assim sendo, a radiação que é emitida
de um sólido ou um líquido se origina das moléculas que se
encontram a uma distância na superior a 1 µm da superfície
exposta. É por esta razão que a emissão de um sólido ou um
líquido no interior de um gás adjacente ou do vácuo é vista
como um fenômeno de superfície.
A radiação térmica pode ser associada com a taxa na qual
a energia é emitida pelo meio como um resultado de sua
temperatura finita. O mecanismo da emissão da radiação é
relacionado à energia liberada como resultado das oscilações
ou transições de vários elétrons que constituem o meio. Essas
oscilações são, por sua vez, mantidas pela energia interna Figura 5. O Processo de emissão: (a) Como um fenômeno volumétrico. (b)
e, portanto, pela temperatura, do meio. Logo, a emissão de Como um fenômeno de superfície.
radiação térmica foi associada com as condições termicamente
excitadas no interior da matéria.
Toda matéria que esteja a uma temperatura absoluta finita pois, por enquanto, a radiação terá uma abordagem ondu-
vai emitir radiação, devido à sua atividade atômica e molecu- latória. Eles estão relacionados por,
lar. A radiação é emitida na forma de ondas eletromagnéticas
e, para a matéria em estado de equilíbrio, ela está associada c
λ= , (5)
com a energia interna da matéria. A temperatura absoluta é v
sempre utilizada nos cálculos de radiação.
A teoria da radiação térmica pode ser estudada tanto do em que, c é a velocidade da luz no meio material. A velocidade
ponto de vista ondulatório quanto do ponto de vista quântico. da luz no vácuo vale c0 = 2, 998.108 m/s. O índice de refração
Do ponto de vista ondulatório, a radiação propaga-se por meio de um meio material é a razão entre a velocidade da luz no
de ondas eletromagnéticas. Do ponto de vista quântico, a vácuo e a velocidade da luz no meio, dada por,
radiação consegue se propagar como um conjunto de partículas
denominadas fótons ou quanta. A partir de agora, estas duas c0
formas de estudo serão abordadas detalhadamente. η= . (6)
c
V. R ADIAÇÃO T ÉRMICA : T RATAMENTO C LÁSSICO A distribuição espectral da radiação eletromagnética está
Em referência à radiação emitida por um corpo, os termos apresentada na Fig. 6. Os tipos de radiação estão classificados
freqüência, v, e comprimento de onda, λ, serão utilizados, de acordo com os seus comprimentos de onda. O pequeno
comprimento de onda dos raios gama, raios-X e radiação
ultravioleta (UV) são principalmente de interesse para os
físicos de alta energia e engenheiros nucleares, enquanto as
microondas de comprimento de onda elevado e as ondas de
rádio dizem respeito aos engenheiros eletricistas. As unidades
de comprimento de onda usuais são o micro ou micrômetro,
µm, 10−6 m, e o ângstron, Å, 10−10 m. A região de luz visível
do espectro se localiza entre 0,4 e 0,7 µm, e a região espectral
entre 0,1 e 100 µm é chamada de radiação térmica.

Figura 7. Radiações emitidas por uma superfície. (a) Distribuição espectral.


(b) Distribuição direcional.

espectral da radiação de uma superfície de um corpo irra-


diante ideal, chamado de corpo negro, foi obtida por Max
Plank. O poder emissivo monocromático, Eλ,n é a taxa de
energia monocromática emitida por um irradiador ideal para
uma superfície hemisférica envolvente e é uma função do
comprimento de onda e da temperatura da superfície irradiante.
A taxa de energia é,

C1
Eλ,n = , (7)
λ5 eC2 /λT − 1

que possui como unidade W/m2 µm e onde C1 = 3, 742.108


W µm4 /m2 e C2 = 1, 439.104 µmK.
A Eq. 7 é válida para uma superfície no vácuo e deve ser
modificada se o índice de refração difere significativamente da
unidade. A distribuição espectral monocromática de energia
para a superfície de um corpo irradiante ideal é mostrada na
Fig. 8 para sete valores diferentes de temperatura. O com-
Figura 6. O espectro eletromagnético
primento de onda em que a emissão monocromática máxima
ocorre, λmax , diminui na medida que a temperatura do corpo
A radiação térmica emitida por uma superfície engloba uma
irradiante ideal aumenta. A relação entre λmax e a temperatura
faixa de comprimentos de onda. Conforme mostrado na Fig.
é dada pela lei do deslocamento de Wien, dada por,
7(a), a intensidade da radiação varia como o comprimento
de onda, e o termo espectral é utilizado para que se possa
referir à natureza dessa dependência. A radiação emitida λmax T = 2, 90.103 , (8)
consiste em uma distribuição contínua e não-uniforme de
componentes monocromáticos (comprimento de onda único).
que tem como unidade µmK.
Tanto a intensidade da radiação em qualquer comprimento de
A taxa total de energia emitida por um corpo irradi-
onda quanto a distribuição espectral variam com a natureza e
ante ideal, ou corpo negro, para uma superfície hemisférica
a temperatura da superfície emissora.
que o envolve, é obtida pela integração do poder emissivo
A natureza espectral da radiação térmica é uma das carac-
monocromático sobre toda a faixa de comprimentos de onda.
terísticas que complicam a sua descrição. A segunda carac-
Portanto,
terística é relativa à sua direcionalidade. Conforme mostrado
na Fig. 7(b), uma superfície pode emitir preferencialmente em Z ∞
certas direções, criando uma distribuição direcional da radi- En = Eλ,n dλ.
ação emitida. Para que se possa quantificar apropriadamente 0
a transferência de calor por radiação, deve-se estar apto a O valor desta integral é dado pela Eq. 9, conhecida como
tratar dos efeitos espectrais e direcionais, que serão abordados lei de Stefan-Boltzmann, dada por,
posteriormente.
A radiação térmica emitida por um material pode ser se-
parada nos seus componentes monocromáticos. A distribuição En = σT 4 , (9)
A fração da radiação emitida pelas superfícies de um corpo
em que σ é a constante de Stefan-Boltzmann, σ = 5, 670.10−8 irradiante ideal no intervalo de comprimento de onda λ1 − λ2
W/m2 K 4 . pode ser obtida por meio da Tab. I e por,
A Eq.9 pode ser demonstrada se considerarmos a expressão
de Plank para a radiação do corpo negro (Eq. 10).
F[λ1 −λ2 ] = F[0−λ2 ] − F[0−λ1 ] (13)
2
2πhc dλ VI. R ADIAÇÃO T ÉRMICA : T RATAMENTO Q UÂNTICO
IBB (λ, T )dλ = , (10)
λ5 ebc/λ
−1
Como dito anteriormente, sabe-se que a forma pela qual a
radiação se propaga é por meio de fótons, também conhecidos
em que:
como quanta. A partir de agora serão mostrados os aspectos
• IBB - potência emitida por unidade de área em um
corpusculares da radiação, e como tais aspectos levaram à
intervalo de comprimento de onda dλ em torno de λ;
teoria quântica, com os resultados obtidos por De Broglie.
• b = 1/kb T , onde kb é a constante de Boltzmann, que
vale 1, 3806503.10−23 m2 Kg/s2 K; A. Fótons: Propriedades Corpusculares da Radiação
−34
• h é a constante de Planck, que vale 6, 626068.10
2 Basicamente, três processos (o efeito fotoelétrico, o efeito
m kg/s.
Compton e a produção de pares) envolvem o espalhamento
Portanto, em vista disso podemos verificar que a lei de
ou absorção de radiação pela matéria. Dois processos (o de
Stefan-Boltzmann e a lei do deslocamento de Wien são
bremsstrahlung, que denota a radiação emitida por uma carga
conseqüências imediatas da lei de Planck para a radiação de
elétrica em desaceleração, e a aniquilação de pares) envolvem
corpo negro e da aproximação de Wien.
a produção da radiação. Em cada caso, iremos obter evidências
Freqüentemente deseja-se conhecer a energia irradiante de
experiamentais de que a radiação se comporta como uma
uma superfície em um certo intervalo de comprimento de onda.
partícula em sua interação com a matéria, diferentemente do
O poder emissivo de um corpo negro a uma certa temperatura
comportamento ondulatório que apresenta quando se propaga.
T no intervalo 0 − λ1 pode ser determinado por,
1) O Efeito Fotoelétrico: Foi em 1886 e 1887 que Heinrich
Z λ1
Hertz realizou as experiências que pela primeira vez con-
C1 firmaram a existência de ondas eletromagnéticas e a teoria
E0−λ1 ,n = dλ (11)
0 λ5 eC2 /λT − 1 de Maxwell sobre a propagação da luz. É um desses fatos
paradoxais e fascinantes na história da ciência que Hertz tenha
notado, no decorrer de suas experiências, o efeito que Einstein
mais tarde usou para contradizer outros aspectos da teoria
eletromagnética clássica. Hertz descobriu que uma descarga
elétrica entre dois eletrodos ocorre mais facilmente quando se
faz incidir sobre um deles luz ultravioletra. Lenard, seguindo
alguns experimentos de Hallwachs, mostrou, logo em seguida,
que a luz ultravioletra facilita a descarga ao fazer com que
elétrons sejam emitidos da superfície do catodo. A emissão de
elétrons de uma superfície, devida a incidência de luz sobre
essa superfície, é chamada de efeito fotoelétrico.
A Fig. 9 mostra um aparelho usado para estudar o efeito
fotoelétrico. Um invólucro de vidro encerra o aparelho em um
ambiente no qual se faz vácuo. Luz monocromática, incidente
através de uma janela de quartzo, cai sobre a placa de metal A
Figura 8. Distribuição espectral da radiação de um corpo negro. e libera elétrons, chamados fotoelétrons. Os elétrons podem ser
Uma expressão mais conveniente é obtida escrevendo a detectados sob a forma de uma corrente se forem atraídos para
radiação emitida em um intervalo de comprimento de onda o coletor metálico B através de uma diferença de potencial V
como a fração do poder emissivo total de uma superfície de estabelecida entre A e B. O amperímetro G mede essa corrente
um corpo irradiante ideal a mesma temperatura. A fração da fotoelétrica.
radiação no intervalo de comprimento de onda de 0 − λ1 é A curva a na Fig. 10 é um gráfico da corrente fotoelétrica,
obtida pela divisão da Eq. 11 pela Eq. 9, dada por, em um aparelho como o da Fig. 9, em função da diferença
de potencial V . Se V é muito grande, a corrente fotoelétrica
Z λ1 T atinge um certo valor limite (ou de saturação) no qual todos
E0−λ1 ,n C1 os fotoelétrons emitidos por A são coletados por B.
F[0−λ1 ] = = d(λT ) (12)
En 0 σλ T eC2 /λT
−1 5 5
Se o sinal de V é invertido, a corrente fotoelétrica não
Os valores de F[0−λ1 ] como função de λT , são mostrados cai imediatamente a zero, o que sugere que os elétrons são
na Tab. I, que pode ser encontrada como anexo a este artigo. emitidos de A com alguma energia cinética. Alguns alcançarão
freqüência da luz incidente. Devemos notar que há um limiar
de freqüência ou freqüência de corte v0 (também chamado li-
miar fotoelétrico), abaixo do qual o efeito fotoelétrico deixa de
ocorrer. Devido ao fato do efeito fotoelétrico ser basicamente
um fenômeno de superfície para a luz na região visível, é
necessário nas experiências evitar-se filmes de óxidos, gorduras
e outros contaminantes de superfícies.

Figura 9. Aparelho usado para estudar o efeito fotoelétrico. A magnitude da


tensão V pode ser variada continuamente, e seu sinal pode ser trocado pela
chave inversora.

Figura 11. Um gráfico das medidas realizadas por Millikan do potencial


limite no sódio em várias freqüências. O limiar de freqüências v0 é 4, 39.1014
Hz.

Há três aspectos principais do efeito fotoelétrico que não


podem ser explicados em termos da teoria ondulatória clássica
da luz:
• A teoria ondulatória requer que a amplitude do campo
elétrico oscilante E da onda luminosa cresça se a in-
tensidade da luz for aumentada. Já que a força aplicada
ao elétron é e.E, isto sugere que a enegia cinética dos
fotoelétrons deveria também crescer ao se aumentar a
intensidade do feixe luminoso. Entretanto, a Fig. 10
Figura 10. Gráficos da corrente i em função da tensão V , de dados obtidos mostra que Kmax , que é igual a e.V0 , independe da
com o aparelho da Fig. 9. A diferença de potencial aplicada V é dita positiva intensidade da luz. Isto foi testado para variações de
quando o coletor B na Fig. 9 está a um potencial maior que a superfície intensidade da ordem de 107 .
fotoelétrica A. Na curva b a intensidade da luz incidente foi reduzida à metade
• De acordo com a teoria ondulatória, o efeitro fotoelétrico
daquela da curva a. O potencial limite V0 é independente da intensidade da
luz, mas as correntes de saturação Ia e Ib são diretamente proporcionais a deveria ocorrer para qualquer freqüência da luz, desde
ela. que esta fosse intensa o bastante para dar a energia
necessária à ejeção dos elétrons. Entretanto, a Fig. 11
mostra que existe, para cada superfície, um limiar de
o coletor B apesar do campo elétrico opor-se ao seu movi-
freqüências v0 característico. Para freqüências menores
mento. Entretanto, se essa diferença de potencial torna-se
que v0 o efeito fotoelétrico não ocorre, qualquer que seja
suficientemente grande. um valor V0 , chamado potencial limite
a intensidade da iluminação.
ou de corte é atingido, e a corrente fotoelétrica cai a zero. Essa
• Se a energia adquirida por um fotoelétron é absorvida
diferença de potencial V0 , multiplicada pela carga do elétron,
da onda incidente sobre a placa metálica, a “área de
mede a energia cinética Kmax do mais rápido fotoelétron
alvo efetiva” para um elétron no metal é limitada, e
emitido, dada por,
provavelmente não é muito maior que a de um círculo
de raio aproximadamente igual ao raio atômico. Na
Kmax = eV0 (14) teoria clássica, a energia luminosa está uniformemente
distribuída sobre a frente da onda. Portanto, se a luz
Experimentalmente nota-se que a quantidade Kmax é inde- é suficientemente fraca, deveria haver um intervalo de
pendente da intensidade da luz incidente, como é mostrado na tempo mensurável, que é de aproximadamente 2 minutos,
curva b da Fig. 10, na qual a intensidade da luz foi reduzida entre o instante em que a luz começa a incidir sobre a
à metade do valor usado para obter a curva a. superfície e o instante da ejeção do fotoelétron. Durante
A Fig. 11 mostra o potencial V0 para o sódio em função da esse intervalo, o elétron deveria estar absorvendo ener-
gia do feixe, até que tivesse acumulado bastante para
escapar. No entanto, nenhum retardamento detectável
foi jamais medido. Essa dissonância é particularmente
marcante quando a substância fotoelétrica for um gás;
nestas circunstâncias, mecanismos de absorção coletiva
podem ser ignorados e a energia do fotoelétron emitido
foi certamente extraídado de um feixe luminoso por um
único átomo ou molécula.

B. O Efeito Compton
O chamado efeito Compton é a experiência que forneceu
a evidência mais direta da natureza corpuscular da radiação.
Compon descobriu que a radiação de um dado comprimento
de onda (na região de raios-X), enviada através de uma folha
Figura 12. O esquema da experiência de Compton. Raios-X monocromáticos
de metal, era espalhada de modo inconsistente com a teoria de comprimento de onda λ incidem sobre um alvo de grafite. A distribuição
clássica da radiação. De acordo com a teoria clássica, o da intensidade em função do comprimento de onda é medida para os raios-X
mecanismo do efeito é a re-radiação da luz por elétrons postos espalhados em qualquer ângulo theta. Os comprimentos de onda espalhados
são medidos observando-se a reflexão de Bragg em um cristal. Suas intensi-
em oscilações forçadas pela radiação incidente e isso leva dades são medidas por um detector, como uma câmera de ionização.
à previsão da intensidade observada em um ângulo θ, que
varia com (1 + cos2 θ), e não depende do comprimento de
onda da radiação incidente. Compton descobriu que a radiação
espalhada através de um certo ângulo consiste, na realidade,
de duas componentes: uma cujo comprimento de onda é
igual ao da radiação incidente, e outra, com comprimento de
onda deslocado em relação ao comprimento de onda incidente
de uma quantidade que depende do ângulo, como mostrado
na Fig. 12. Compton foi capaz de explicar a componente
“modificada”, tratando a radiação incidente como um feixe de
fótons de energia hv, cada fóton espalhado elasticamente por
um único elétron. Em uma colisão elástica, tanto o momento
como a energia devem-se conservar e, primeiramente, devemos
atribuir um momento ao fóton. Por analogia com a cinemática
relativística de partículas, pode-se argumentar a Eq. 15.
O experimento de Compton consiste, basicamente, em fazer
com que um feixe de raios-X de comprimento de onda λ incida
Figura 13. O espectro da radiação espalhada por carbono, mostrando a linha
sobre um alvo de grafite, como mostrado na Fig. 16 e dada inalterada em 0,7078 Åà esquerda, e a linha deslocada em 0,7314 Åà direita.
por, A primeira é o comprimento de onda da radiação primária.

hv
p= . (15)
c
O argumento é que, da relação relativística entre energia e E = pc, (18)
momento

a qual fornece a Eq. 15, quando substituimos E = 1/hv.


E = [(m0 c2 )2 + (pc)2 ]1/2 , (16)
Pode-se também derivar a Eq. 16, considerando-se a energia
e o momento de uma onda eletromagnética, mas o argumento
em que m0 é a massa de repouso da partícula, decorre que a de analogia é mais simples.
velocidade correspondente a esse momento é dada por: Vamos considerar, agora, um fóton de momento inicial p,
incidindo sobre um elétron em repouso. Após a colisão, o
0
momento do fóton é p e o elétron recua com momento
dE pc2 pc2
v= = = 2
, (17) P , como mostra a Fig. 14. A conservação de momento nos
dp E (m0 c + p2 c2 )1/2
4
fornece
Para um fóton, isto é sempre igual a c e, portanto, a massa
de repouso do fóton tem que ser nula. Logo, a Eq. 17 pode 0

ser escrita como, p=p +P (19)


Figura 14. Cinemática do efeito Compton.

da qual decorre

0 0 0
P 2 = (p − p )2 = p2 − 2pp + (p )2 (20)
A conservação da energia nos fornece a Eq. 21.

0
hv + mc2 = hv + (m2 c4 + P 2 c2 )1/2 (21)

em que m é a massa de repouso do elétron. Portanto, temos

0
m2 c4 + P 2 c2 = (hv − hv + mc2 )2 =
0 0
(hv − hv )2 + 2mc2 (hv − hv ) + m2 c4 (22)
Por outro lado, a Eq. 20 pode ser reescrita sob a forma

 2 0
!2 0
2 hv hv hv hv
P = + −2 cosθ (23)
c c c c
Figura 15. Os resultados experimentais de Compton. A linha sólida vertical
à esquerda corresponde ao comprimento de onda λ, e a que está à direita ao
0
ou seja: comprimento de onda λ . Os resultados são mostrados para quatro ângulos de
espalhamento θ diferentes. Devemos observar que o deslocamento Compton
0
∆ = λ − λ para θ = 90◦ , está de acordo com a previsão teórica h/m0 c =
0 0
P 2 c2 = (hv − hv )2 + 2(hv)(hv )(1 − cosθ) (24) 0, 0243 Å.

em que θ é o ângulo de espalhamento do fóton. Assim, temos átomo é vários milhares de vezes maior do que a massa de um
a Eq. 25. elétron. A quantidade h/mc tem dimensão de comprimento,
sendo chamada de comprimento de onda de Compton do
0 0 elétron, e seu valor é
hvv (1 − cosθ) = mc2 (v − v ) (25)
h ∼
ou, equivalentemente, a Eq. 26. = 2, 4.10−10 cm (27)
mc
A Fig. 15 mostra os resultados da experiência na qual se
0h mediu a intensidade dos raios-X espalhados como função de
λ −λ= (1 − cosθ) (26)
mc seu comprimento de onda, para vários ângulos de espalha-
As medidas da componente modificada concordam muito mento.
bem com a previsão acima. A linha inalterada é presumivel- Também foram efetuadas medidas de recuo do elétron e
mente devida ao espalhamento pelo átomo como um todo; estas estão de acordo com a teoria. Além disso, por meio
se substituirmos m pela massa do átomo, o deslocamento do de experiências de coincidência com boa resolução temporal,
comprimento de onda será muito pequeno, já que a massa do determinou-se que o fóton emergente e o elétron em recuo
aparecem simultaneamente. Está fora de dúvida a justeza da
interpretação da colisão como sendo do tipo “bola de bilhar”,
ou seja, do comportamento corpuscular do fóton.

C. A Natureza Dual da Radiação Eletromagnética


Em seu artigo “Uma Teoria Quântica para o Espalhamento
de Raios-X por Elementos Leves”, Compton escreveu: “A
presente teoria depende essencialmente da suposição de que
cada elétron que participa do processo espalha um quantum
completo (fóton). Isto envolve também a hipótese de que os
quanta de radiação vêm de direções definidas e são espalhados
em direções definidas. O apoio experimental da teoria indica
de forma bastante convincente que um quantum de radiação
Figura 16. Um tubo de raios-X. Elétrons são emitidos termicamente do
carrega consigo tanto momento quanto energia”. catodo aquecido C e acelerados em direção ao anodo (alvo) A pela diferença
A necessidade da hipótese do fóton, ou partícula locali- de potencial V . Raios-X são emitidos do alvo quando elétrons são freados ao
zada, para interpretar processos que envolvem a interação atingi-lo.
da radiação com a matéria é clara, mas ao mesmo tempo é
necessária uma teoria ondulatória da radiação para explicar
os fenômenos de interferência e difração. A idéia de que do espectro contínuo de raios-X dependa do potencial V e
a radiação não é um fenômeno puramente ondulatório nem um pouco do material do alvo, o valor de λmin depende
meramente um feixe de partículas deve, portanto, ser levada a apenas de V sendo o mesmo para todos os materiais. A
sério. O que quer que seja a radiação, ela se comporta como teoria eletromagnética clássica não pode explicar esse fato, não
uma onda em certas circunstâncias e como uma partícula em havendo nehuma razão pela qual ondas com comprimento de
outras. Sem dúvida, essa situação é colocada em evidência no onda menor que um certo valor crítico não devam ser emitidas
trabalho experimental de Compton, onde (a) um espectrômetro pelo alvo.
de cristal é usado para medir o comprimento de onda dos raios-
X, sendo as medidas analisadas por meio da teoria ondulatória
da difração e (b) o espalhamento afeta o comprimento de onda
de uma forma que só pode ser compreendida tratando-se os
raios-X como partículas. É nas próprias expressões E = hv
e p = h/λ que as características ondulatórias (v e λ) se
combinam com as características de partículas (E e p).

D. Fótons e a Produção de Raios-X


Os raios-X, assim chamados por seu descobridor Roentgen
porque sua natureza era então desconhecida, são radiações
eletromagnéticas com comprimento de onda menor que apro-
ximadamente 1,0 Å. Eles apresentam propriedades típicas de
ondas como polarização, interferência e difração, da mesma
forma que a luz e todas as outras radiações eletromagnéticas.
Os raios-X são produzidos no alvo de um tubo de raios-X,
mostrado na Fig. 16, quando um feixe de elétrons de alta
energia, acelerados por uma diferença de potencial de alguns
milhares de volts, é freado ao atingir o alvo. Segundo a física
Figura 17. O espectro contínuo de raios-X que é emitido de um alvo
clássica, a desaceleração dos elétrons, freados pelo material de tungstênio, para quatro diferentes valores de eV , a energia dos elétrons
do alvo, causa a emissão de um espectro contínuo de radiação incidentes.
eletromagnética.
A Fig. 17 mostra, para quatro valores diferentes da energia Uma explicação surge imediatamente, entretanto, se enca-
dos elétrons incidentes, como a energia dos raios-X emiti- rarmos os raios-X como fótons. A Fig. 18 mostra o processo
dos por um alvo de tungstênio se distribui em função do elementar que, segundo esse ponto de vista, é responsável pelo
comprimento de onda. (Além do espectro contínuo de raios- espectro contínuo da Fig. 17. Um elétron de enegia cinética
X, também são emitidas linhas de raios-X características do inicial K é desacelerado pela interação com um núcleo pesado
material do alvo.) A característica mais notável dessas curvas do alvo, e a energia que ele perde aparece na forma de
é que, para uma dada energia dos elétrons, há um mínimo bem radiação como um fóton de raios-X. O elétron interage com
definido λmin para os comprimentos de onda; por exemplo, o núcleo carregado por meio do campo coulombiano, trans-
para elétrons de 40 keV, λmin é 0,311 Å. Embora a forma ferindo momento para o núcleo. A desaceleração resultante
causa a emissão do fóton. A massa do núcleo é tão grande que elétrons rápidos colidem com a matéria, como os raios
que a energia que ele adquire durante a colisão pode ser cósmicos, nos anéis de radiação de Van Allen que envolvem a
0
completamente desprezada. Se K é a energia cinética do Terra, ou na frenagem de elétrons emergentes de aceleradores
elétron após a colisão, então a energia do fóton é dada pela ou núcleos radioativos. O processo de bremsstrahlung pode ser
Eq. 28, considerado como um efeito fotoelétrico às avessas: no efeito
fotoelétrico, um fóton é absorvido, sua energia e momento
0 indo para um elétron e um núcleo; no processo de bremss-
hv = K − K , (28)
trahlung, um fóton é criado, sua energia e momento vindo
de uma colisão entre um elétron e um núcleo. Lida-se com a
e o comprimento de onda do fóton é dado pela Eq. 29. criação de fótons no processo de bremsstrahlung, em vez se
sua absorção ou espalhamento pela matéria.
hc 0
=K −K (29)
λ E. Produção e Aniquilação de Pares
Além dos efeitos fotoelétrico e Compton há um outro
processo no qual fótons perdem energia na interação com a
matéria, que é o processo de produção de pares. A produção
de pares é também um ótimo exemplo da conversão de
energia radiante em massa de repouso e energia cinética. Neste
processo, ilustrado esquematicamente na Fig. 19, um fóton
de alta energia perde toda a sua energia hv em uma colisão
com um núcleo, criando um par de elétron-pósitron, com uma
certa energia cinética. Um pósitron é uma partícula que tem
Figura 18. O processo de bremsstrahlung responsável pela produção do
todas as propriedades de um elétron, exceto o sinal de sua
espectro contínuo de raios-X. carga (e o de seu momento magnético) que é oposto ao do
elétron; o pósitron é um elétron positivamente carregado. Na
Os elétrons no feixe incidente podem perder diferentes produção de pares a energia de recuo absorvida pelo núcleo é
quantidades de energia nessas colisões, e em geral um elétron desprezível por causa de sua grande massa, e assim a equação
chegará ao repouso apenas depois de várias colisões. Os da conservação da energia total relativística no processo é
raios-X assim produzidos pelos elétrons constituem o espectro simplesmente dada por,
contínuo da Fig. 17, e há fótons com comprimentos de onda
que vão desde λmin até λ → ∞, correspondentes às diferentes
perdas em cada colisão. O fóton de menor comprimento de hv = E− + E+ = (m0 c2 + K− ) + (m0 c2 + K+ ) =
onda seria emitido quando um elétron perdesse toda toda a
K− + K+ + 2m0 c2 . (32)
sua energia cinética em um processo de colisão; neste caso,
0
K = 0, de forma que K = hc/λmin . Como K é igual a eV , a
Nesta expressão, E− e E+ são energias relativísticas totais,
energia adquirida pelo elétron ao ser acelerado pela diferença
e K− e K+ são as energias cinéticas do elétron e do pósitron,
de potencial V aplicada ao tudo de raios-X, temos a Eq. 30,
respectivamente. As duas partículas têm a mesma energia de
repouso, m0 c2 . O pósitron é produzido com uma energia
hc
eV = , (30) cinética um pouco maior que a do elétron porque a interação
λmin coulombiana do par com o núcleo positivamente carregado
causa uma aceleração no pósitron e uma desaceleração no
ou, a Eq. 31, equivalente. elétron.

hc
λmin = . (31)
eV
Portanto o limite mínimo dos comprimentos de onda re-
presenta a conversão completa da energia dos elétrons em
radiação X. A Eq. 30 mostra claramente que se h → 0, então
λmin → 0, que é a previsão da teoria clássica. Isto mostra
que a própria existência de um comprimento de onda mínimo
é um fenômeno quântico.
A radiação X contínua da Fig. 17 é freqüentemente chamada
bremsstrahlung, do alemão brems (=frenagem, isto é, desace-
leração) + strahlung (=radiação). O processo de bremsstrah-
lung ocorre não apenas em tubos de raios-X, mas sempre Figura 19. O processo de produção de pares.
Ao se analisar este processo, ignora-se os detalhes da
interação, considerando apenas a situação antes e depois da in-
teração. Os princípios que me orientaram foram a conservação E = hv, (33)
da energia total relativística, a conservação do momento e a
conservação da carga. Destas leis da conservação, não é difícil e o momento p é relacionado com o comprimento de onda λ
mostrar que um fóton não pode simplesmente desaparecer no da onda associada, por,
espaço vazio, criando um par. A presença do núcleo pesado
(que pode absorver momento sem alterar apreciavelmente o
balanço de energia) é necessária para permitir que tanto a h
p= , (34)
energia quanto o momento sejam conservados no processo. λ
A carga é automaticamente conservada, pois o fóton não tem Aqui conceitos relativos a partículas, energia E e momento
carga e o par criado tem carga total nula. Da Eq. 32, vemos p, estão ligados por meio da constante de Planck h aos
que a energia mínima necessária para que um fóton crie um conceitos relativos a ondas, freqüência v e comprimento de
par é 2m0 c2 , ou 1,02 MeV, que equivale a um comprimento onda λ. A Eq. 34, na forma a seguir, é chamada relação de
de onda de 0,012 Å. Se o comprimento de onda for menor que De Broglie,
isto, correspondendo a uma energia maior que o limite, o fóton
produz o par com uma certa energia cinética, além da energia h
de repouso. O fenômeno de produção de pares é um fenômeno λ= . (35)
p
de altas energias, devendo os fótons estar na região dos raios-X
de grande energia ou na região dos raios-γ. Resultados obtidos Ela prevê o comprimento de onda de De Broglie λ de uma
experimentalmente demonstraram que a absorção de fótons em onda de matéria associada ao movimento de uma partícula
interação com a matéria ocorre principalmente pelo processo material que tem um momento p.
fotoelétrico a baixas energias, pelo efeito Compton a energias A natureza ondulatória da propagação da luz não é revelada
intermediárias e pela produção de pares a altas energias. por experiências em ótica geométrica, porque as dimensões
Pares elétron-pósitron são produzidos na natureza por fó- importantes dos equipamentos utilizados são muito grandes se
tons de raios cósmicos e em laboratórios por fótons de comparadas ao comprimento de onda da luz. Se a representa
bremsstrahlung obtidos em aceleradores de partículas. Outros uma dimensão característica de um equipamento ótico (por
pares de partículas, tais como próton e antipróton, podem ser exemplo, a abertura de uma lente, espelho ou fenda) e λ é
produzidos se o fóton tiver energia suficiente. Pelo fato do o comprimento de onda da luz que atravessa o equipamento,
elétron e do pósitron terem a menor massa de repouso das estamos no limite da ótica geométrica quando λ/a → 0. Deve-
partículas conhecidas, a energia mínima para sua produção se observar que a ótica geométrica envolve a propagação de
é a menor. A experiência confirma a teoria quântica para o raios, o que é análogo à trajetoria das partículas clássicas.
processo de formação de pares. Não há qualquer explicação No entanto, quando a dimensão característica a de um
satisfatória para esse fenômeno na física clássica. equipamento ótico torna-se comparável ou menor do que o
comprimento de onda λ da luz que o atravessa, entramos
VII. O P OSTULADO DE D E B ROGLIE : P ROPRIEDADES
no domínio da ótica física. Nesse caso, quando λ/a ≥ 1,
O NDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS
o ângulo de difração θ = λ/a é suficientemente grande
A. Ondas de Matéria para que efeitos de difração sejam facilmente observados, e
Maurice De Broglie foi um físico experimental francês que, a natureza ondulatória da propagação da luz se evidencia.
desde o princípio, apoiou o ponto de vista de Compton em Para observar aspectos ondulatórios no movimento da matéria,
relação à natureza corpuscular da radiação. portanto, precisa-se de sistemas com aberturas ou obstáculos
A hipótese de De Broglie era de que o comportamento de dimensões convenientemente pequenas. Os sistemas mais
dual, isto é, onda-partícula, da radiação também se aplicava à apropriados para este fim aos quais os experimentadores
matéria. Assim como um fóton tem associada a ele uma onda tinham acesso na época de De Broglie utilizavam o espaça-
luminosa que governa seu movimento, também uma partícula mento entre planos adjacentes de átomos em um sólido, onde
material (por exemplo, um elétron) tem associada a ela uma a = 1Å. (Atualmente tem-se acesso a sistemas que envolvem
onda de matéria que governa seu movimento. Como o universo dimensões nucleares de aproximadamente 10−4 Å.)
é inteiramente composto por matéria e radiação, a sugestão Foi Elsasser quem mostrou, em 1926, que a natureza
de De Broglie é essencialmente uma afirmação a respeito ondulatória da matéria poderia ser testada da mesma forma
de uma grande simetria na natureza. De fato, ele propôs que a natureza ondulatória dos raios-X havia sido, ou seja,
que os aspectos ondulatórios da matéria fossem relacionados fazendo-se com que um feixe de elétrons de energia apropriada
com seus aspectos corpusculares exatamente da mesma forma incidisse sobre um sólido cristalino. Os átomos do cristal
quantitativa com que esses aspectos são relacionados para a agem como um arranjo tridimensional de centros de difração
radiação. De acordo com De Broglie, tanto para a matéria para a onda eletrônica, espalhando fortemente os elétrons em
quanto para a radiação a energia total E está relacionada à certas direções características, exatamente como na difração
freqüência v da onda associada ao seu movimento, dada por, de raios-X. Esta idéia foi confirmada por experiências feitas
por Davisson e Gerner nos Estados Unidos e por Thomson na
Escócia.
A Fig. 20 mostra esquematicamente o equipamento de
Davisson e Gerner. Elétrons emitidos por um filamento aque-
cido são acelerados através de uma diferença de potencial V
e emergem do “canhão de elétrons” G com energia cinética
eV . O feixe incide segundo a normal sobre um monocristal
de níquel em C. O detector D é colocado num ângulo
particular θ e para vários valores do potencial acelerador V
são feitas leituras da intensidade do feixe espalhado. A Fig. Figura 21. À esquerda: a corrente do coletor no detector D da Fig. 20 em
função da energia cinética dos elétrons incidentes, mostrando um máximo de
21, por exemplo, mostra que um feixe de elétrons fortemente difração. A Fig. 20 mostra uma série de medidas para as quais θ = 50◦ . Se
espalhado é detectado em θ = 50◦ para V = 54 volts. A um valor apreciavelmente menor ou maior for usado, o máximo de difração
existência desse pico demonstra qualitativamente a validade desaparece. À direita: a corrente como função do ângulo no detector para o
valor fixado da energia cinética dos elétrons de 54 eV.
do postulado de De Broglie, porque ele só pode ser explicado
como uma interferência construtiva de ondas espalhadas
pelo arranjo periódico dos átomos nos planos do cristal. Para as condições da Fig. 22, pode-se mostrar que o
O fenômeno é exatamente análogo à conhecida “reflexão de espaçamento interplanar efetivo d, obtido por espalhamento de
Bragg” que ocorre no espalhamento de raios-X pelos planos raios-X sobre o mesmo cristal, é de 0,91 Å. Como θ = 50◦ ,
atômicos de um cristal. Não pode ser entendido com base no segue-se que ϕ = 90◦ − 50◦ /2 = 65◦ . O comprimento de
movimento clássico de partículas, mas apenas com base no onda calculado a partir da Eq. 36, supondo n = 1, é:
movimento ondulatório. Partículas clássicas não podem exibir
interferência, mas podem exibir ondas. A interferência que
ocorre neste caso não é entre ondas associadas a elétrons λ = 2dsenϕ = 2.0, 91.sen65◦ = 1, 65,
distintos. Trata-se de interferência entre partes diferentes da
onda associada a um único elétron que foi espalhada por
várias regiões do cristal. Isto pode ser demonstrado usando- que tem como unidade Å.
se um feixe de elétrons com uma intensidade tão baixa que O comprimento de onda de De Broglie para elétrons de 54
os elétrons atravessam o aparelho um a um; verifica-se que a eV, calculado a partir da Eq. 35 é,
figura do espalhamento dos elétrons permanece a mesma.
λ = h/p = 6, 6.10−34 /4, 0.10−24 = 1, 65,

que também tem como unidade o Å.


A largura do pico observado na Fig. 21 também é facilmente
explicável, uma vez que elétrons de baixa energia não podem
penetrar profundamente no interior do cristal, de modo que
apenas um pequeno número de planos atômicos contribui
para a onda difratada. Portanto, o máximo da difração não é
pronunciado. Todos os resultados experimentais concordavam
muito bem, tanto qualitativa quanto quantitativamente, com as
previsões de De Broglie, e forneciam indícios convincentes de
que as partículas materiais se movem de acordo com as leis
do movimento ondulatório.
Não apenas elétrons, mas todos os objetos materiais, car-
regados ou não, apresentam características ondulatórias em seu
movimento, quando estão sob as condições da ótica física.
Figura 20. O equipamento de Davisson e Germer. Elétrons do filamento
F são acelerados por uma dirença de potencial variável V . Depois do B. A Dualidade Onda-Partícula
espalhamento pelo cristal C eles são coletados pelo detector D.
Na física clássica, a energia é transportada ou por ondas
ou por partículas. Os físicos clássicos observaram ondas de
A Fig. 22 mostra a origem de uma reflexão de Bragg, água transportando energia sobre a superfície da água, ou
obedecendo à relação de Bragg, deduzida a partir da figura, balas transferindo energia do revólver para o alvo. A partir
como mostra a Eq. 36, dessas experiências, eles construíram um modelo ondulatório
para certos fenômenos macroscópicos e um modelo corpus-
cular para outros, e de forma bem natural estenderam esses
nλ = 2dsenϕ. (36) modelos para regiões virtualmente menos acessíveis. Assim,
do elétron e o rastro de ionização que ele deixa na matéria
(uma seqüência de colisões localizadas) sugerem um modelo
corpuscular, mas a difração de elétrons sugere um modelo
ondulatório. Os físicos sabem agora que são compelidos a usar
ambos os modelos para o mesmo ente. É muito importante
notar, no entanto, que em qualquer medida feita apenas se
aplica um modelo - os dois modelos não são usados sob as
mesmas circunstâncias. Quando o ente é detectado por algum
tipo de interação, ele atua como uma partícula no sentido que
é localizado; quando está se movendo, age como uma onda,
no sentido que se observam fenômenos de interferência, e,
obviamente, uma onda tem extensão, e não é localizada.
Niels Bohr resumiu a situação em seu princípio da com-
plementaridade. Os modelos corpuscular e ondulatório são
complementares; se uma medida prova o caráter ondulatório
da radiação ou da matéria, então é impossível provar o caráter
corpuscular na mesma medida, e vice-versa. A escolha de
que modelo usar é determinada pela natureza da medida.
Além disso, nossa compreensão da radiação ou da matéria
está incompleta a menos que levemos em consideração tanto
as medidas que revelem os aspectos ondulatórios quanto as
que revelem os aspectos corpusculares. Portanto, radiação
e matéria não são apenas ondas ou apenas partículas. Um
modelo mais geral e, para a mentalidade clássica, mais
complicado, é necessário para descrever seu comportamento,
embora em situações extremas possa ser aplicado um modelo
ondulatório simples, ou um modelo corpuscular simples.
A ligação entre os modelos corpuscular e ondulatório é
feita por meio de uma interpretação probabilística da duali-
Figura 22. No alto: O feixe difratado em θ = 50◦ e V = 54 volts surge dade onda-partícula. No caso da radiação, foi Einstein quem
do espalhamento ondulatório pela família de planos mostrados, separados por unificou as teorias ondulatória e corpuscular; a seguir, Max
uma distância d = 0, 91Å. O ângulo de Bragg é ϕ = 65◦ . Para simplificar, a
refração da onda espalhada quando ela deixa o cristal não é indicada. Embaixo: Born aplicou um argumento semelhante para unificar as teorias
Derivação da relação de Bragg, mostrando apenas dois planos atômicos e dois ondulatória e corpuscular da matéria.
raios dos feixes incidente e espalhado. Se um número inteiro de comprimentos No modelo ondulatório, a intensidade da radiação, I, é
de onda nλ se ajusta exatamente na distância 2l entre as frentes de onda
incidente e espalhada medidas sobre o raio inferior, então a contribuição dos proporcional a ¯2 , onde ¯2 é o valor médio, sobre um período,
dois raios para a frente de onda espalhada estará em fase, e um máximo de do quadrado do campo elétrico da onda. (I é o valor médio do
difração será obtido para o ângulo ϕ. Como l/d = cos(90◦ − ϕ) = senϕ, chamado vetor de Poynting, e foi utilizado o símbolo  em vez
tem-se que 2l = 2dsenϕ, e, então, pode-se obter a relação de Bragg, nλ =
2dsenϕ. O máximo de difração de “primeira ordem” (n=1) é normalmente de E para o campo elétrico para evitar confusões com a ener-
mais intenso. gia total E.) No modelo do fóton, ou corpuscular, a intensidade
da radiação é escrita I = N hv, onde N é o número médio
de fótons por unidade de tempo que cruzam uma unidade de
eles explicaram a propagação do som em termos de um modelo área perpendicular à direção de propagação. Foi Einstein quem
ondulatório e pressões de gases em termos de um modelo sugeriu que ¯2 , que na teoria eletromagnética é proporcional à
corpuscular (teoria cinética). O fato de terem obtido sucesso energia radiante contida em uma unidade de volume, poderia
os condicionou a esperar que todos os entes fossem partículas ser interpretado como uma medida do número de fótons por
ou ondas. Continuaram sendo bem sucedidos até o início do unidade de volume.
século XX com as aplicações da teoria ondulatória de Maxwell Devo lembrar que Einstein introduziu uma granulosidade
à radiação e a descoberta de partículas elementares de matéria, para a radiação, abandonando a interpretação contínua de
tais como o nêutron e o pósitron. Maxwell. Isto leva a uma interpretação estatística da inten-
Os físicos clássicos estavam, portanto, bastante desprepara- sidade. Nessa interpretação, uma fonte pontual de radiação
dos para achar que para entender a radiação precisassem emite fótons ao acaso em todas as direções. O número médio
recorrer a um modelo corpuscular em algumas situações, como de fótons que cruza uma unidade de área vai diminuir com o
no efeito Compton, e a um modelo ondulatório em outras, aumento da distância da fonte à área. Isto se deve ao fato de
como na difração de raios-X. Talvez mais notável seja o fato que os fótons se espalham sobre uma esfera de área tanto maior
de que essa mesma dualidade onda-partícula se aplica tanto à quanto mais longe eles estiverem da fonte. Como a área de
matéria quanto à radiação. A razão entre a carga e a massa uma esfera é proporcional ao quadrado de seu raio, obtem-se,
em média, uma lei de inverso do quadrado para a intensidade, dado instante, mas em vez disso foi especificado, por meio
assim como no modelo ondulatório. No modelo ondulatório, de ¯2 , a probabilidade de encontrar um fóton em uma certa
imagina-se que ondas esféricas se espalham a partir da fonte, região num dado instante. Na interpretação de Born também
e que a intensidade cai de forma inversamente proporcional não foi especificada a localização exata de uma partícula em
ao quadrado da distância à fonte. Aqui, essas ondas, cuja um certo instante, mas, em vez disso, foi especificada, por
intensidade pode ser medida por ¯2 , podem ser vistas como meio de Ψ2 , a probabilidade de encontrar uma partícula em
ondas condutoras de fótons; as ondas em si mesmas não têm um dado ponto em um certo instante. Assim como estamos
energia - há apenas fótons - mas são uma grandeza cuja habituados a somar funções de onda (1 + 2 = ) para duas
intensidade mede o número médio de fótons por unidade de ondas eletromagnéticas superpostas cuja intensidade resultante
volume. é dada por 2 , também vamos somar funções de onda para
De forma análoga à interpretação de Einstein da radiação, duas ondas de matéria superpostas (Ψ1 + Ψ2 = Ψ) cuja
Max Born propôs uma unificação semelhante para a dualidade intensidade resultante é dada por Ψ2 . Isto é, um princípio
onda-partícula da matéria. Ela surgiu muitos anos depois de da superposição se aplica tanto à matéria quanto à radiação.
Schröedinger ter desenvolvido sua generalização do postulado Isto está de acordo com o fato experimental notável de que a
de De Broglie, a chamada mecância quântica. matéria exibe propriedades de interferência e difração, um fato
Para que isso fosse feito, deve-se associar mais do que que não pode ser entendido com base nas idéias da mecânica
apenas comprimento de onda e freqüência às ondas de matéria. clássica. Devido ao fato de que ondas podem se superpor tanto
Isto é feito introduzindo uma função que representa a onda de construtivamente (em fase) quanto destrutivamente (fora de
De Broglie, chamada função de onda Ψ. Para partículas que fase), duas ondas podem se combinar ou para darem uma onda
se movem na direção x com um valor preciso do momento resultante de grande intensidade ou para se cancelarem, mas
e da energia, por exemplo, a função de onda pode se escrita duas partículas clássicas de matéria não podem se combinar
como uma função senoidal simples de amplitude A, de forma a se cancelarem.
x  VIII. A E QUAÇÃO DE O NDA DE S CHRÖEDINGER
Ψ(x, t) = Asen2π − vt . (37) Uma generalização não muito difícil de se entender da
λ
Isto é o análogo de, equação de onda de uma partícula livre ao caso de movimento
de uma partícula de massa m no campo de força representado
x  por uma função de energia potencial V (x, y, z, t), o qual
(x, t) = Asen2π − vt , (38) depende da posição r e possivelmente também do tempo t,
λ
é dada por,
para o campo elétrico de uma onda eletromagnética senoidal
de comprimento de onda λ, e freqüência v, se movendo no ∂Ψ(r, t) h2 2
ih =− ∇ Ψr, t + V (x, y, z, t)Ψ(r, t), (39)
sentido positivo do eixo x. A grandeza Ψ̄2 vai, para as ondas ∂t 2m
de matéria, desempenhar um papel análogo ao desempenhado
Schröedinger conseguiu a Eq. 39 propondo que Ψ = eiS/h ,
por ¯2 para as ondas de radiação. Essa grandeza, a média do
o que implica em,
quadrado da função de uma onda para ondas de matéria, é
uma medida da probabilidade de se encontrar uma partícula
em uma unidade de volume em um dado ponto e instante de ∂S [∇S]2 ih 2
+ − ∇ S + V (x, y, z, t) = 0 (40)
tempo. Assim como  é uma função de espaço e do tempo, ∂t 2m 2m
também o é Ψ; e, assim como  satisfaz à equação de onda, A Eq. 40 parece a Equação de Hamilton-Jacobi da mecânica
também a satisfaz Ψ (à equação de Schröedinger). A grandeza na presença de forças, completada por um termo de mecânica
 é uma onda (de radiação) associada a um fóton, e Ψ é uma quântica proporcional a h. A existência do fator i nessa
onda (de matéria) associada a uma partícula material. equação é de crucial importância e geralmente requer que a
Segundo Born: “De acordo com essa interpretação, toda a função S seja complexa.
evolução dos eventos é determinada pelas leis da probabili- Irei adotar a Eq. 39 como sendo a equação fundamental da
dade; a um estado no espaço corresponde uma probabilidade mecânica quântica não relativística para partículas sem spin
definida, que é dada pela onda de De Broglie associada e chamá-la de equação de onda ou equação de Schröedinger
ao estado. Um processo mecânico é portanto acompanhado com dependância temporal.
por um processo ondulatório, a onda “condutora”, descrita A equação de Schröedinger exprime que a energia total
pela equação de Schröedinger, cujo significado é o de dar a de uma partícula, em termos de operadores atuando sobre a
probabilidade de um curso definido do processo mecânico. Se, função de onda, é a soma da energia cinética com a energia
por exemplo, a amplitude da onda condutora for zero em um potencial. Ela pode ser escrita como,
certo ponto do espaço, isto significa que a probabilidade de
encontrarmos o elétron nesse ponto é praticamente nula”.
(Top + Vop )Ψ = Eop Ψ (41)
Assim como na interpretação de Einstein da radiação, não
foi especificada a localização exata de um fóton em um Definindo o operador da energia por,

Eop = ih , (42)
∂t
e

1 h2 h2 2
Top = p~op p~op = − ∇∇ = − ∇ . (43)
2m 2m 2m
Aplicando as Eqs. 42 e 43 na Eq. 41 obetem-se,

h2 2 ∂Ψ(~r, t)
− ∇ Ψ(~r, t) + Vop Ψ(~r, t) = ih , (44)
2m ∂t
Figura 23. Uma cavidade com um orifício apresenta comportamento próximo
ao de um corpo negro. A radiação que entra na cavidade tem pouca chace
em que o operador Vop representa o potencial de interação de sair antes de ser completamente absorvida. A radiação emitida através do
a que a partícula está sujeita numa dada situação física, orfício (não está representada na figura) é característica da temperatura das
paredes da cavidade.
variando, evidentemente, de um problema para outro. Se o
movimento da partícula está restrito à coordenada x, a equação
de Schröedinger se reduz à, A emissão de um corpo negro é difusa, portanto a inten-
sidade espectral Iλ,cn da radiação que deixa a cavidade é
h2 ∂ 2 Ψ ∂Ψ independente da direção. Além disso, uma vez que o campo
− + V Ψ = ih . (45) radiante no interior da cavidade, que é o efeito cumulativo da
2m ∂x2 ∂t
emissão e da reflexão a partir da superfície da cavidade, deve
IX. P ROPRIEDADES BÁSICAS DA R ADIAÇÃO possuir a mesma forma da radiação que emerge da abertura,
Neste tópico serão apresentadas as propriedades básicas da tem-se também que existe um campo de radiação de corpo
radiação, bem como o tratamento matemático para cada uma. negro no interior da cavidade. Conseqüentemente, qualquer
superfície pequena no interior da cavidade experimenta uma
A. Corpo Negro irradiação Gλ = Eλ,cn (λ, T ). Essa superfície é irradiada
Um corpo negro é um corpo ideal cuja superfície é um de maneira intensa, independentemente da sua orientação.
absorvedor ideal de radiação incidente independentemente Radiação de corpo negro existe no interior da cavidade
do comprimento de onda ou da direção da radiação. Desde independente do fato da superfície da cavidade ser altamente
que não existe nenhuma superfície com tal característica, reflexiva ou absorvedora.
o conceito de corpo negro é uma idealização. Entretanto, 1) A Distribuição de Planck: A intensidade espectral de
este conceito é útili porque é o padrão de comparação das um corpo negro é bem conhecida, tendo sido determinada
propriedades de radiação das superfícies reais. primeiramente por Plank. Dada por,
Pode se mostrar que um corpo negro é também um emis-
sor perfeito de radiação em todas as direções e em todos 2hc20
os comprimentos de onda. Para uma dada temperatura, ne- Iλ,cn (λ, T ) = , (46)
λ (e 0 /λkT )
5 hc −1
nhuma superfície pode emitir mais energia radiativa, total ou
monocromática, do que um corpo negro. As características de em que, h = 6, 626.10−34 J.s e k = 1, 381.10−23 J/K
radiação de um corpo negro serão identificadas pelo uso do são as constantes de Planck e Boltzmann, respectivamente,
índice n. c0 = 2, 998.108 m/s é a velocidade da luz no vácuo, e T é
A distribuição espectral da radiação de corpo negro é a temperatura absoluta do corpo negro (K). Como o corpo
especificada pela quantidade RT (v), denomida de radiância negro é um emissor difuso, o seu poder emissivo espectral é
espectral, que é definida de forma que RT (v)dv seja igual dado pela Eq. 7.
à energia emitida por unidade de tempo em radiação de 2) Lei do Deslocamento de Wien: Na Fig. 24 pode ser
freqüência compreendida no intervalo v a v + dv por unidade visto que a distribuição espectral do corpo negro possui um
de área de uma superfície à temperatura absoluta T . máximo e que o comprimento de onda correspondente a esse
A melhor aproximação prática de um corpo negro ideal máximo λmax depende da temperatura. A natureza dessa
corresponde a um pequeno orifício em uma cavidade, tal como dependência pode ser obtida derivando-se a Eq. 7 em relação
o buraco da fechadura de uma porta de armário, apresentado a λ e igualando o resultado a zero. Ao fazer isso, obtem-se,
na Fig. 23. A radiação incidente no orifício tem pouca chance
de ser refletida para fora do orifício antes de ser absorvida
λmax T = C3 , (47)
pelas paredes da cavidade. Assim, a radiação emitida através
do orifício é característica da temperatura das paredes da
cavidade. em que, a terceira constante da radiação é C3 = 2898 µm.K.
A Eq. 47 é conhecida por lei do deslocamento de Wien,
e o lugar geométrico dos pontos descritos por essa lei está Z ∞

representado na forma de uma linha tracejada na Fig. 24. De G= Gλ dλ. (48)


0
acordo com esse resultado, o poder emissivo espectral máximo
é deslocado para o comprimentos de onda menores com o A radiação incidente pode ter sua origem na emissão e re-
aumento da temperatura. Esse poder emissivo encontra-se no flexão que ocorrem em outras superfícies e terá distribuiçõees
meio da região do vísivel no espectro (λ ≈ 0, 5µm) para a espectral e direcional determinadas pela intensidade espectral
radiação solar, uma vez que o Sol emite aproximadamente Iλ,i (λ, θ, φ). Essa grandeza é definida como a taxa na qual
como um corpo negro a 5800 K. Para um corpo negro a energia radiante de comprimento de onda λ incide a partir
1000 K, o pico da emissão ocorre em 2,90 µm, com parte da direção (θ, φ), por unidade de área da superfície receptora
da radiação emitida sendo visível como luz vermelha. Com o normal a essa direção, por unidade de ângulo sólido no entorno
aumento da temperatura, os menores comprimentos de onda dessa direção e por unidade de intervalo de comprimento de
se tornam mais expressivos, até que finalmente tem-se uma onda dλ no entorno de λ.
emissão significativa ao longo de todo o espectro visível. Por A intensidade da radiação incidente pode ser relacionada
exemplo, uma lâmpada com filamento de tungstênio, operando com a irradiação, que engloba a radiação incidente a partir
a 2900 K (λmax = 1µm), emite luz branca, embora a maior de todas as direções. A radiação espectral Gλ (W/(m2 .µm)
parte da sua emissão permaneça na região do infravermelho. é definida como a taxa na qual a radiação de comprimento de
onda λ incide sobre uma superfície, por unidade de área da
superfície e por unidade de intervalo de comprimento de onda
dλ no entorno de λ. Conseqüentemente,

Z 2π Z π/2
Gλ = Iλ,i (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφ, (49)
0 0

em que sen(θ)dθdφ é o ângulo sólido unitário. O fator cos(θ)


aparece porque Gλ é um fluxo baseado na área superficial real,
enquanto Iλ,i é definido em termos da área projetada. Se a
irradiação total G(W/m2 ) representa a taxa na qual radiação
incide por unidade de área a partir de todas as direções e em
todos os comprimentos de onda, temos,
Z ∞
G= Gλ (λ)dλ, (50)
0

ou,

Z ∞ Z 2π Z π/2
G= Iλ,i (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφdλ. (51)
0 0 0
Se a radiação incidente for difusa, Iλ,i é independente de θ
e φ, e tem-se que

Figura 24. Poder emissivo espectral de corpos negros.


Gλ (λ) = πIλ,i (λ), (52)

e
B. Irradiação

A taxa na qual a radiação atinge uma superfície é chamada G = πIi . (53)


de irradiação. As características direcionais da radiação são
importantes. A irradiação por unidade de área é identificada C. Absortividade, Refletividade e Transmissividade
por G, em watt por metro quadrado. O índice λ será utilizado Quando radiação incide numa superfície real, parte dessa
para denotar a taxa monocromática de energia de irradiação radiação é absorvida, parte é refletida e a parcela restante
que atinge a superfície. A radiação total incidente na superfície é transmitida através do corpo, como mostrado na Fig. 25.
é obtida pela integração em toda a faixa de comprimento de A soma dessas quantidades deve ser igual à radiação total
onda, de acordo com, incidente na superfície.
Dessa forma, αλ depende da distribuição direcional da
radiação incidente, bem como do seu comprimento de onda e
da natureza da superfície absorvedora. Deve-se notar que, se a
radiação inicidente estiver distribuída de forma difusa e αλ,θ
for independente de φ, a Eq. 57 se reduz à,

Z π/2
αλ (λ) = 2 αλ,θ (λ, θ)cosθsenθdθ. (58)
0
A absortividade hemisférica total, α, representa uma média
integrada em relação à direção e ao comprimento de onda. Ela
é definida como a fração da irradiação que é aborvida por uma
Figura 25. Radiação incidente em uma superfície. superfície, dada por,

Gabs
1) Absortividade: Define-se absortividade como a fração α≡ . (59)
G
da radiação total incidente que é absorvida pela superfície. Das Eqs. 50 e 56, tem-se,
Para um corpo real, a absortividade, α, varia, em geral, com
o comprimento de onda, e por isso define-se a absortividade R∞
monocromática, αλ . A absortividade é expressa em termos da αλ (λ)G(λ)dλ
α = 0R ∞ . (60)
absortividade monocromática por, 0
Gλ (λ)dλ
Conseqüentemente, α depende da distribuição espectral da

radiação incidente, assim como da sua distribuição direcional e
Z
1
α= αλ Gλ dλ. (54) da natureza da superfície absorvedora. Deve-se notar, também,
G 0
que embora α seja aproximadamente independente da tem-
A determinação da propriedade absortividade é complicada peratura superficial, o mesmo não pode ser dito a respeito da
pelo fato de que, como a emissão, ela pode ser caracteri- emissividade hesmisférica total, . Na Eq. 90 fica evidente que
zada tanto por uma dependência direcional como por uma essa propriedade apresenta uma forte dependência em relação
dependência espectral. A absortividade direcional espectral, à temperatura.
αλ,θ (λ, θ, φ), de uma superfície é definida matematicamente Como α depende da distribuição espectral da irradiação,
por, seu valor para uma superfície exposta à radiação solar pode
diferir apreciavelmente do seu valor para a mesma superfície
Iλ,i,abs (λ, θ, φ) quando exposta a uma radiação com maiores comprimentos de
αλ,θ (λ, θ, φ) = . (55)
Iλ,i (λ, θ, φ) onda originada em uma fonte a uma temperatura mais baixa.
Como a distribuição espectral da radiação solar é praticamente
Nessa expressão, despreza-se qualquer dependência da ab- proporcional à da emissão de uma corpo negro a 5800 K, tem-
sortividade em relação à temperatura superficial. Tal dependên- se pela Eq. 60 que a absortividade total para a radiação solar
cia é pequena para a maioria das propriedades radiantes αs pode ser aproximada por,
espectrais.
Está implícito no resultado anterior que as superfícies po- R∞
dem exibir uma absorção seletiva em relação ao comprimento α (α)Eλ,b (λ, 5800K)dλ
0 R λ
α= ∞ . (61)
de onda e à direção da radiação incidente. Para a maio- 0
Eλ,b (λ, 5800K)dλ
ria dos cálculos de engenharia, no entanto, trabalha-se com As integrais que aparecem nessa equação podem ser cal-
propriedades superficiais que representam médias direcionais. culadas utilizando-se a função de radiação de corpo negro ,
Conseqüentemente, define-se uma absortividade hemisférica F(0→∞) , da Tab. I, que pode ser encontrada no Apêndice.
espectral αλ (λ) por, 2) Refletividade: A refletividade é definida como a fração
da radiação total incidente que é refletida pela superfície.
Gλ,abs (λ) Contudo, sua definição específica pode assumir diversas for-
αλ (λ) ≡ . (56) mas diferentes, uma vez que essa propriedade é inerentemente
Gλ (λ)
bidirecional. Ou seja, além de depender da direção da radiação
Das Eqs. 49 e 55 tem-se, incidente, ela também depende da direção da radiação re-
fletida. Evitarei essa complicação trabalhando exclusivamente
R 2π R π/2 com uma refletividade que representa uma média integrada
0 0
αλ,θ (λ, θ, φ)Iλ,i (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφ
αλ (λ) = R 2π R π/2 . no hemisfério associado à radiação refletida e, portanto, não
0 0
Iλ,i (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφ fornecendo informação a respeito da distribuição direcional
(57) dessa radiação. Como a absortividade, a refletividade, ρ, é
uma função do comprimento de onda de forma que ρλ é
utilizado para representar a refletividade monocromática de
uma superfície, dada por,
Z ∞
1
ρ= ρλ Gλ dλ. (62)
G 0
A refletividade direcional espectral, ρλ,θ (λ, θ, φ), de uma
superfície é definida como a fração da intensidade espectral
incidente na direção θ e φ que é refletida pela superfície. Dessa
forma, temos,

Iλ,i,ref (λ, θ, φ)
ρλ,θ (λ, θ, φ) ≡ . (63)
Iλ,i (λ, θ, φ)
A refletividade hemisférica espectral φλ (λ) é, então,
definida como a fração da irradiação espectral que é refletida
pela superfície. Conseqüentemente,
Figura 26. Reflexão especular e difusa.
Gλ,ref (λ)
ρλ (λ) ≡ , (64)
Gλ (λ)
Apesar de o tratamento da resposta de um material semi-
que pode ser escrita por, transparente à radiação incidente ser um problema complicado,
R 2π R π/2 resultados razoáveis podem ser obtidos com freqüência por
ρλ,θ (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφ
ρλ (λ) = R02π R0π/2 . (65) meio do uso de transmissividades hemisféricas definidas por,
0 0
Iλ,i (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφ
A refletividade hemisférica total ρ é, então, definida como, Gλ,tr (λ)
τλ = , (69)
Gλ (λ)
Grel
ρ≡ . (66) e
G

e, neste caso, tem-se, Gtr


τ= . (70)
G
R∞
p (λ)Gλ (λ)dλ
0 R λ
A transmissividade total τ está relacionada com o compo-
ρ= ∞ . (67) nente espectral τλ através da expressão,
0
Gλ (λ)dλ
Há dois tipos de reflexão de ondas eletromagnéticas, que são R∞ R∞
a especular e a difusa, como mostrado na Fig. 26. Reflexão 0
Gλ,tr (λ)dλ τλ (λ)Gλ (λ)dλ
τ = R∞ = 0 R∞ . (71)
especular está presente quando o ângulo de incidência é igual 0
Gλ (λ)dλ 0
Gλ (λ)dλ
ao ângulo de reflexão. Radiação difusa está presente quando Para a maioria das superfícies sólidas a transmissividade
a reflexão é uniformemente distribuída em todas as direções. é igual a zero, já que os corpos são normalmente opacos à
Um corpo real não exibe nem reflexão especular nem reflexão radiação incidente. A soma da absortividade, refletividade e
difusa pura. Uma superfície altamente polida vai produzir transmissividade vale 1,
uma reflexão especular enquanto que uma superfície áspera ou
rugosa tem uma característica difusa. A hipótese de reflexão
difusa é razoável para a maioria das aplicações de engenharia. α + ρ + τ = 1. (72)
3) Transmissividade: A transmissividade é definida como Para corpos opacos,
sendo a fração da radiação total incidente que é transmitida
através de um corpo, e que nesse artigo vai ser representada
pela letra grega τ . Também depende do comprimento de onda, τ = 0.
assim como a absortividade e a refletividade. A transmissivi- Portanto, temos
dade monocromática é designada por τλ e a transmissividade
total é dada por,
α + ρ = 1. (73)
Z ∞
1 Na Fig. 27 estão representadas as distribuições espectrais
τ= τλ Gλ dλ. (68)
G 0 da refletividade e da absortividade normais de superfícies
opacas selecionadas. Um material como o vidro ou a água, D. Emissividade
que é semitransparente em pequenos comprimentos de onda, A quantidade total de energia irradiada pela superfície de
torna-se opaco em maiores comprimentos de onda. Esse com- um corpo negro é dada pela Eq. 9 e a radiação monocromática
portamento é mostrado na Fig. 28, que representa a trans- emitida pela superfície é dada pela Eq. 7. Um corpo real
missividade espectral de diversos materiais semitransparentes emite menos radiação do que um corpo negro. A razão entre
comuns. Deve-se notar que a transmissividade do vidro é a energia real emitida por um corpo qualquer para a radiação
afetada pelo seu teor de ferro e que a transmissividade de emitida por um corpo negro à mesma temperatura é chamada
plásticos, tais como o Tedlar, é maior do que aquela do vidro de emissividade, . A emissividade monocromática recebe o
na região IV. Esses fatores possuem um peso importante na símbolo de λ e a emissividade total é obtida pela integração
seleção de materiais para placas de cobertura em aplicações daquela grandeza sobre todo o espectro de comprimento de
que envolvem coletores solares, no projeto e seleção de janelas onda, dada por,
para conservação de energia e na especificação de materiais
para a fabricação de componentes óticos em sistemas de Z ∞
1
imagem infravermelhos. = λ Eλ,n dλ. (74)
En 0
A distribuição espectral da radiação, como já mencionado,
está associada com a temperatura do corpo irradiante. As
características de radiação de uma superfície, absortividade e
transmissibilidade, são fortemente dependentes da distribuição
espectral da radiação. Se a radiação incidente na superfície que
está a T1 se origina de uma outra superfície que também está
a mesma temperatura, então a distribuição espectral da energia
será idêntica e a absortividade das superfícies será igual. Esta
situação está ilustrada esquematicamente na Fig. 29.

Figura 27. Dependência espectral da absortividade αλ,n e da refletividade


ρλ,n normais espectrais de materiais opacos selecionados.
Figura 29. Equivalência entre a emissividade e a absortividade.

1) Intensidade de Radiação e Sua Relação com a Emissão:


Retornando à Fig. 2(c), agora está-se interessado na taxa na
qual a emissão a partir de dA1 passa através de dAn . Essa
grandeza pode ser expressa em termos da intensidade espectral
Iλ,e da radiação emitida. Define-se formalmente Iλ,e como a
a taxa na qual energia radiante é emitida no comprimento de
onda λ na direção (θ, φ), por unidade de área da superfície
emissora normal a essa direção, por unidade de ângulo sólido
no entorno dessa direção e por unidade de intervalo de
comprimento de onda dλ no entorno de λ. Devemos observar
que a área utilizada para definir a intensidade é o componente
de dA1 perpendicular à direção da radiação. Na Fig. 30,
podemos ver que essa área projetada é igual a dA1 cos(θ).
De fato, esta é a forma como dA1 iria ser vista por um
observador situado sobre dAn . A intensidade espectral, que
possui unidades de W/(m2 .sr.µm), é dada por,
Figura 28. Dependência espectral de transmissividades espectrais τλ de
materiais semitransparentes selecionados. dq
Iλ,θ,φ ≡ , (75)
dA1 cosθdωdλ
em que (dq/dλ) ≡ dqλ é a taxa na qual radiação de
comprimento de onda λ deixa dA1 e passa através de dAn .
Rearranjando a Eq. 75, tem-se,

dqλ = Iλ,e (λ, θ, φ)dA1 cosθdω, (76)

em que dqλ tem unidades W/µm. Essa importante expressão


nos permite calcular a taxa na qual a radiação emitida por
uma superfície se propaga para a região do espação definida
pelo ângulo sólido dω no entorno da direção (θ, φ). Entretanto,
para calcular essa taxa, a intensidade espectral Iλ,e da radiação
emitida deve ser conhecida. Expressando a Eq. 76 por unidade
de área da superfície emissora e substituindo a Eq. 3, o fluxo
de radiação espectral associado à dA1 é dado por,

00
dqλ = Iλ,e (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφ. (77)
Figura 31. Emissão a partir de um elemento de área diferencial dA1 para
um hemisfério hipotético centrado em um ponto sobre dA1 .

cos(θ) que aparece no integrando é uma conseqüência dessa


diferença.
O poder emissivo hemisférico total, E(W/m2 ), é a taxa
na qual a radiação é emitida por unidade de área em todos
os comprimentos de onda possíveis e em todas as direções
possíveis. Conseqüentemente, temos,
Z ∞
E= Eλ (λ)dλ, (79)
0

ou,

Z ∞ Z 2π Z π/2
Figura 30. A projeção de dA1 normal à direção da radiação.
E= Iλ,e (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφdλ. (80)
0 0 0
Se as distribuições espectral e direcional de Iλ,e forem Como o termo “poder emissivo” implica em emissão em
conhecidas, ou seja, se Iλ,e (λ, θ, φ) é conhecida, o fluxo todas as direções, o adjetivo “hemisférico” é redundante e
térmico associado à emissão em qualquer ângulo sólido finito é freqüentemente omitido. Fala-se, então, de poder emissivo
ou ao longo de qualquer intervalo de comprimentos de onda espectral Eλ ou de poder emissivo total E.
finito pode ser determinado pela integração da Eq. 77. Por Embora a distribuição direcional da emissão de uma su-
exemplo, define-se o poder emissivo hemisférico espectral perfície varie de acordo com a natureza da superfície, existe
Eλ (W/(m2 .µm)) como a taxa na qual radiação de compri- uma caso especial que fornece uma aproximação razoável
mento de onda λ é emitida em todas as direções a partir de para muitas superfícies. Fala-se de emissor difuso como uma
uma superfície por unidade de intervalo de comprimentos de superfície para a qual a intensidade da radiação emitida é
onda dλ no entorno de λ e por unidade de área superficial. independente da direção, ou seja, Iλ,e (λ, θ, φ) = Iλ,e (λ). Re-
Assim, Eλ é o fluxo térmico espectral associado à emissão tirando Iλ,e do integrando da Eq. 78 e efetuando a integração,
para um hemisfério hipotético sobre dA1 , dado por, chega-se a,

Z 2π Z π/2
00
Eλ (λ) = qλ (λ) = Iλ,e (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφ. Eλ (λ) = πIλ,e (λ). (81)
0 0
(78) De maneira análoga, a partir da Eq. 80, temos,

Devemos notar que Eλ é um fluxo baseado na área superfi-


cial real, enquanto Iλ,e é baseada na área projetada. O termo E = πIe (82)
em que Ie é a intensidade total da radiação emitida. Deve-se Iλ,e (λ, θ, φ, T )
notar que a constante que aparece nas expressões anteriores é λ,θ (λ, θ, φ, T ) ≡ . (83)
Iλ,cn (λ, T )
π e não 2π, e tem a unidade de esterorradiano.
2) Emissão de Superfícies Reais: Tendo desenvolvido a Deve-se notar como os índices subscritos λ e θ designam
noção de um corpo negro para descrever o comportamento de o interesse em relação à emissividade em um comprimento
uma superfície ideal, pode-se agora analisar o comportamento de onda e em uma direção específicos. Ao contrário, os
de superfícies reais. Deve-se lembrar de que o corpo negro é termos que aparecem entre parênteses designam a dependência
um emissor ideal no sentido de que nenhuma superfície pode funcional em relação ao comprimento de onda, à direção
emitir mais radiação do que um um corpo negro à mesma e/ou à temperatura. A ausência de variáveis direcionais nos
temperatura. É, portanto, conveniente escolher um corpo negro parênteses do denominador da Eq. 83 implica que a intensi-
como referência ao se descrever a emissão de uma superfície dade é independente da direção, o que é, naturalmente, uma
real. característica da emissão de um corpo negro. De maneira
É importante reconhecer que, em geral, a radiação espectral semelhante, uma emissividade direcional total θ , que repre-
emitida por uma superfície real difere da distribuição de senta uma média espectral de λ,θ , pode ser definida como,
Planck (Fig. 32(a)). Além disso, a distribuição direcional (Fig.
32(b)) pode ser diferente da difusa. Dessa forma, a emissivi- Ie (θ, φ, T )
dade pode assumir diferentes valores de acordo com o fato de θ (θ, φ, T ) ≡ . (84)
Icn (T )
se estar interessado na emissão em um dado comprimento de
onda ou em uma dada direção, ou então em médias integradas Na maioria dos cálculos em engenharia, trabalha-se com
ao longo de comprimentos de onda e direções. propriedades superficiais que representam médias direcionais.
Uma emissividade hemisférica espectral é dada por,

Eλ (λ, T )
λ (λ, T ) ≡ . (85)
Eλ,cn (λ, T )
Ela pode ser relacionada com a emissividade direcional λ,θ
pela substituição da expressão para o poder emissivo espectral,
Eq. 78, obtendo-se,

R 2π R π/2
0 0
Iλ,e (λ, θ, φ, T )cosθsenθdθdφ
λ (λ, T ) = R 2π R π/2 . (86)
0 0
Iλ,cn (λ, T )cosθsenθdθdφ
Ao contrário do que acontece na Eq. 78, agora a dependên-
cia em relação à temperatura é reconhecida. Pela Eq. 83 e
como Iλ,cn é independente de θ e φ, tem-se,

R 2π R π/2
0 0
λ,θ (λ, θ, φ, T )cosθsenθdθdφ
λ (λ, T ) = R 2π R π/2 . (87)
0 0
cosθsenθdθdφ
Considerando λ,θ independente de φ, o que é uma hipótese
razoável para a maioria das superfícies, e calculando o deno-
minador, obtém-se,

Z π/2
λ (λ, T ) = 2 λ,θ (λ, θ, T )cosθsenθdθ. (88)
0
Figura 32. Comparação de emissões de um corpo negro e de uma superfície
real. (a) Distribuição espectral. (b) Distribuição direcional. A emissividade hemisférica total, que representa uma média
em todas as direções e comprimentos de onda possíveis, é dada
Define-se a emissividade direcional espectral por,
λ,θ (λ, θ, φ, T ) de uma superfície a uma temperatura T
como a razão entre a intensidade da radiação emitida no E(T )
comprimento de onda λ e na direção θ e φ, e a emissividade (T ) ≡ . (89)
Ecn (T )
da radição emitida por um corpo negro nos mesmos valores
de T e λ. Portanto, temos Substituindo as Eqs. (79) e (85), tem-se,
espera que a emissividade espectral λ seja independente
R∞ do comprimento de onda. Algumas distribuições espectrais
0
λ (λ, T )Eλ,b (λ, T )dλ
(T ) = . (90) representativas de λ são mostradas na Fig. 34. A forma em
Eb (T )
que λ varia com λ depende de se o sólido é um condutor
Se as emissividades de uma superfície forem conhecidas, ou não-condutor, assim como da natureza do revestimento da
torna-se uma questão simples calcular as características da superfície.
sua emissão. Por exemplo, se λ (λ, T ) for conhecido, ele
pode ser usado para determinar o poder emissivo espectral da
superfície em quaisquer comprimento de onda e temperatura.
De maneira semelhante, se (T ) for conhecido, ele pode ser
usado para calcular o poder emissivo total da superfície em
qualquer temperatura.
A emissividade direcional de um emissor difuso é uma
constante, independente da direção. Entretanto, embora essa
condição seja freqüentemente uma aproximação razoável, to-
das as superfícies exibem algum desvio do comportamento
difuso. Variações representativas do valor de θ em função de
θ são mostradas esquematicamente na Fig. 33 para materiais
condutores e materiais não-condutores. Para condutores, θ é
Figura 34. Dependência espectral da emissividade normal espectral λ,n de
aproximadamente constante na faixa de θ ≤ 40◦ , acima da materiais selecionados.
qual ela aumenta com o aumento de θ, mas finalmente decai
para zero. Ao contrário, para materiais não-condutores, θ é Valores representativos da emissividade normal total n são
aproximadamente constante para θ ≤ 70◦ , além do que ela apresentados nas Figs. 35 e 36. Várias generalizações podem
diminui rapidamente com o aumento de θ. Uma implicação ser feitas.
dessas variações é que, embora existam direções preferenciais
para a emissão, a emissividade hemisférica  não irá diferir
acentuadamente do valor da emissividade normal à superfície
n , que corresponde a θ = 0. Na realidade , a razão raramente
se situa fora do intervalo 1, 0 ≤ (/n ) ≤ 1, 3 para materiais
condutores e do intervalo 0, 95 ≤ (/n ) ≤ 1, 0 para materiais
não-condutores. Dessa forma, com uma aproximação razoável,
tem-se

 ≈ n . (91)

Figura 35. Dependência com a temperatura da emissividade normal total n


de materiais selecionados.

• A emissividade de superfícies metálicas é geralmente


pequena, atingindo valores da ordem de 0,02 para su-
perfícies altamente polidas de ouro e de prata.
• A presença de camadas de óxidos pode aumentar signi-
ficativamente a emissividade de superfícies metálicas.
• A emissividade de materiais não-condutores é compara-
tivamente maior, sendo em geral superior a 0,6.
• A emissividade de condutores aumenta com o aumento
da temperatura; entretanto, dependendo do material, a
emissividade de não-condutores pode tanto aumentar
Figura 33. Distribuição direcional representativa da emissividade direcional
total. como diminuir com o aumento da temperatura. Deve-
se notar que as variações de n com T apresentadas
Deve-se notar que, embora as considerações anteriores na Fig. 35 são consistentes com as distribuições espec-
tenham sido feitas para a emissividade total, elas também se trais de λ,n mostradas na Fig. 34. Essas tendências
aplicam às componentes espectrais. seguem a Eq. 90. Embora a distribuição espectral de
Como a distribuição espectral da emissão de superfícies λ,n seja aproximadamente independente da temperatura,
reais se afasta da distribuição de Planck (Fig. 32), não se há proporcionalmente uma maior emissão em menores
Figura 37. Troca radiante em uma cavidade isotérmica.

Figura 36. Valores representativos da emissividade normal total n .


E1 Ts
= Ecn (Ts ).
α1
comprimentos de onda com o aumento da temperatura.
Dessa forma, se para um material em particular λ,n Como esse resultado deve ser aplicável a cada um dos
aumenta com a diminuição do comprimento de onda, n corpos confinados, obtemos,
irá aumentar com o aumento da temperatura para esse
material. E1 Ts E2 Ts
= = ... = Ecn Ts . (93)
Deve ser reconhecido que a emissividade depende forte- α1 α2
mente da natureza da superfície, que pode ser influenciada pelo
Essa relação é conhecida como lei de Kirchhoff. Uma con-
método de fabricação, seu ciclo térmico e reações químicas
seqüência importante é que, como α ≤ 1, E(Ts ) ≤ Ecn (Ts ).
com o ambiente.
Dessa forma, nenhuma superfície real pode ter um poder
E. Lei de Kirchhoff emissivo superior àquele de uma superfície negra à mesma
Vamos considerar um grande recinto isotérmico com tem- temperatura e o conceito do corpo negro como um emissor
peratura superficial Ts no interior do qual estão confinados ideal está confirmado.
vários corpos pequenos, como mostrado na Fig. 37. Como A partir da definição da emissividade hemisférica total, Eq.
esses corpos são pequenos quando comparados ao recinto, a 89, uma forma alternativa da lei de Kirchhoff
sua influência é desprezível no campo de radiação, que é dev-
ido ao efeito cumulativo da emissão e da reflexão na superfície 1 2
= = ...1. (94)
do recinto. Deve-se lembrar que, independentemente de suas α1 α2
propriedades radiantes, tal superfície forma uma cavidade que
Assim, para qualquer superfície no interior do recinto, tem-
se comporta como um corpo negro. Em conseqüência, inde-
se,
pendentemente da sua orientação, a irradiação experimentada
por qualquer corpo no interior da cavidade é difusa e igual à
emissão de um corpo negro a Ts . Portanto, temos,  = α, (95)

G = Ecn (Ts ). (92) ou seja, a emissividade hemisférica total da superfície é igual


Sob condições de regime estacionário, deve existir equi- à sua absortividade hemisférica total.
líbrio térmico entre os corpos e o recinto. Dessa forma, A dedução anterior pode ser repetida em condições espec-
T1 = T2 = ... = Ts e a taxa líquida de transferência de trais. Para qualquer superfície no interior do recinto, tem-se,
energia para cada superfície deve ser igual a zero. Aplicando como mostrado na Eq. 96, que
um balanço de energia em uma superfície de controle ao redor
do corpo 1, tem-se,
λ = αλ . (96)

α1 GA1 − E1 (Ts )A1 = 0, Condições associadas ao uso da Eq. 96 são menos restri-
tivas do que aquelas associadas à Eq. 95. Uma forma da
lei de Kirchhoff para a qual não há restrições envolve as
ou, da Eq. 92, propriedades direcionais espectrais:
•A superfície é cinza (αλ e λ são independentes de λ)
λ,θ = αλ,θ . (97) Devemos notar que a primeira condição corresponde à prin-
cipal hipótese necessária para a dedução da lei de Kirchhoff.
Essa igualdade é sempre aplicável, porque λ,θ e αλ,θ são Como a absortividade total de uma superfície depende
propriedades inerentes da superfície. Isto é, respectivamente, da distribuição espectral da irradiação, não se pode afirmar
elas são independentes das distribuições espectral e direcional inequivocadamente que α = . Por exemplo, uma superfície
das radiações emitida e incidente. particular pode ser altamente absorvedora da radiação em
F. Corpo Cinzento uma região espectral e virtualmente não-absorvedora em outra
região, como mostra a Fig. 38(a). Conseqüentemente, para
Um corpo cuja emissividade e absortividade da sua super- os dois possíveis campos de irradiação, Gλ,1 (λ) e Gλ,2 (λ)
fície são independentes do comprimento de onda e da direção mostrados na Fig. 38(b), os valores de α irão diferir drastica-
é chamado de corpo cinzento, ou seja, mente. Em contraste, o valor de  é independente da irradiação.
Assim, não há qualquer base para se estabelecer que α seja
 = λ = cte, sempre igual a .
Para admitir comportamento de superfície cinza e portanto
a validade da Eq. 95, não é necessário que αλ e λ sejam
e independentes de λ em todo o espectro. Falando pragmati-
camente, uma superficie cinza pode ser definida como sendo
α = αλ = cte. uma superfície para a qual αλ e λ são independentes de λ
nas regiões espectrais da irradiação e da emissão superficial.
Aceitando o fato de que a emissividade direcional espectral Da Eq. 100, mostra-se facilmente que o comportamento de su-
e absotividade direcional espectral são iguais sob quaisquer perfície cinza pode ser admitido para as condições da Fig. 39.
condições, começarei considerando as condições associadas ao Isto é, a irradiação e a emissão superficial estão concentradas
uso da Eq. 96. De acordo com as definições das propriedades em uma região na qual as propriedades espectrais da superfície
hemisféricas espectrais, está-se na realidade perguntando sob são aproximadamente constantes. Conseqüentemente,
quais condições, se é que de fato existe alguma, a seguinte
igualdade será válida, R λ2
λ1
Eλ,cn (λ, T )dλ
R 2π R π/2  = λ,o = λ,o ,
λ,θ cosθsenθdθdφ ? Ecn (T )
0
λ = R 2π0R π/2 = (98)
0 0
cosθsenθdθdφ e
R 2π R π/2
0 0
αλ,θ Iλ,i cosθsenθdθdφ
R 2π R π/2 (99) R λ4
o 0
Iλ,i cosθsenθdθdφ λ3
Gλ dλ
α = αλ,o ,
Como eλ,θ = αλ,θ , tem-se por inspeção que a Eq. 96 pode G
ser aplicada se uma das seguintes condições for satisfeita:
• A irradiação é difusa (Iλ,i é independente de θ e φ); cujo caso α =  = λ,o . Entretanto, se a irradiação se
• A superfície é difusa (λ,θ e αλ,θ são independentes de encontrasse em uma região espectral que correspondesse a
θ e φ) λ < λ1 ou λ > λ4 , o comportamento de superfície cinza
A primeira condição é uma aproximação razoável para não poderia ser admitido.
muitos cálculos em engenharia; a segunda condição é razoável
para muitas superfícies, particularmente de materiais que não
conduzem eletricidade.
Admitindo a existência de uma irradiação difusa ou de
uma superfície difusa, agora vou considerar quais condições
adicionais devem ser satisfeitas para que a Eq. 95 seja válida.
Das Eqs. 90 e 60, a igualdade se aplica caso,
R∞ R∞
0
λ Eλ,cn (λ, T )dλ ? 0
αλ Gλ (λ)dλ
= = = α. (100)
Ecn (T ) G
Figura 38. Distribuição espectral. (a) da absortividade espectral de uma
Como λ = αλ , tem-se que, por inspeção, a Eq. 95 pode superfície e (b) da irradiação espectral em uma superfície.
ser utilizada se uma das seguintes condições for satisfeita:
• A irradiação corresponde à emissão de um corpo negro Uma superfície para a qual αλ,θ e λ,θ são independentes de
com temperatura superficial T , em cujo caso Gλ (λ) = θ e λ é conhecida por superfície cinza difusa (difusa devido à
Eλ,cn (λ, T ) e G = Ecn (T ); independência direcional e cinza devido à independência em
Figura 39. Um conjunto de condições nas quais o comportamento de Figura 40. Dependência espectral da emissividade e absortividade. Condu-
superfície cinza pode ser suposto. tores elétricos.

relação ao comprimento de onda). Ela é uma superfície na


qual as Eqs. 95 e 96 são satisfeitas. Admite-se tais condições
superficiais em muitas considerações subseqüentes. Contudo,
embora a hipótese de superfície cinza seja razoável para
muitas aplicações, alguma cautela deve ser tomada ao utilizá-
la, particularmente se as regiões espectrais da irradiação e da
emissão forem significativamente afastadas.

G. Corpo Real
As propriedades de radiação da superfície de um corpo
real são diferentes daquelas dos corpos negro e cinzento.
A emissividade monocromática das várias superfícies reais é
apresentada nas Figs. 40 e 41. A radiação emitida por um
corpo real não é inteiramente difusa. Portanto, a emissividade
do corpo depende do ângulo de observação. A variação
direcional da emissividade para vários materiais é mostrada
nas Figs.42 e 43.
Tendo em vista que cálculos de engenharia são o interesse Figura 41. Dependência espectral da emissividade e absortividade. Metais.
principal deste artigo, é importante que se reconheça quando
as características de radiação das superfícies de um corpo real
podem ser aproximadas pelas de um corpo cinzento. Para
se decidir se tais aproximações são possíveis, a distribuição
espectral da radiação emitida pelo corpo e a radiação incidente
no corpo devem ser consideradas. Referindo-se às Figs.40
e 41, se a maior parcela da radiação incidente que atinge
o alumínio de superfície anodizada se localizar na faixa de
comprimento de onda de 8 a 10 µm, então o comporta-
mento desta superfície pode ser considerado como sendo o
de um corpo negro com absortividade de 0,93. Nenhum erro
significativo seria introduzido, uma vez que a absortividade
é aproximadamente constante nessa faixa de comprimento
de onda. Se, contudo, a radiação incidente na superfície for
extendida para a faixa de 2 a 10 µm, então a aproximação do Figura 42. Emissividade direcional total. Isolante elétrico.
corpo cinzento pode ainda ser utilizada, mas com prejuízo
Figura 44. Balanço de energia para um corpo cinzento.

Figura 43. Emissividade direcional total. Metais.


Z ∞
J= Jλ (λ)dλ, (103)
de exatidão. A absortividade média da superfície é obtida 0
utilizando-se a Eq. 54.
A característica direcional da radiação das superfícies dos ou, pela Eq. 104,
corpos reais está ilustrada nas Figs. 42 e 43, como já
mencionado. Para considerar essa variação, emissividades Z ∞ Z 2π Z π/2

monocromática direcional e total são utilizadas. J= Iλ,e+r (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφdλ. (104)


0 0 0
Os valores tabulados da emissividade para a superfície de
um corpo real são geralmente aqueles normais à superfície do Se a superfície for tanto um refletor difuso quanto um
corpo, θ = 0◦ . As emissividades são distinguidas pelo índice emissor difuso, Iλ,e+r é independente de θ e φ, e tem-se,
n, λ−n e n . Para isolantes elétricos, a variação de λ−n e
n é menos do que + − 3%. Para condutores, a variação pode Jlambda (λ) = πIλ,e+r , (105)
ser maior, às vezes atingindo +− 15%. Valores da emissividade
total normal para várias substâncias podem ser encontradas na
Tab. II, que pode ser encontrada no Apêndice. e

H. Radiosidade
J = πIe+r . (106)
A quantidade de radiação térmica que deixa um corpo é
chamada de radiosidade. Ela é a soma da radiação incidente Mais uma vez, deve-se notar que o fluxo radiante, nesse caso
que é refletida e a radiação que é emitida pelo corpo. A radiosi- a radiosidade, está baseado na área superficial real, enquanto
dade de corpos cinzentos está esquematicamente mostrada na a intensidade está baseada na área projetada.
Fig. 44. Radiosidade, denotada por J, pode ser expressa em
termos da emissividade e da refletividade da superfície dada I. Radiação Solar
por, O Sol, localizado a cerca de 1, 5.106 Km da Terra, é a fonte
de energia da qual depende toda a vida terrestre. A energia
é transmitida pelas ondas eletromagnéticas que atravessam o
J = En + ρG (101)
espaço até encontrarem o planeta. Quando esses raios solares
A radiosidade é a taxa de energia transferida por unidade atingem a atmosfera, são absorvidos e espalhados pela poeira e
de área em W/m2 . gases atmosféricos. Uma porção da radiação espalhada atinge
Como a radiosidade leva em consideração a radiação que a superfície terrestre e a restante é refletida de volta para o
deixa a superfície em todas as direções, está relacionada com espaço. A radiação solar que é irradiada, ou que atinge, a
a intensidade associada à emissão e à reflexão, Iλ,e+r (λ, θ, φ), supefície do planeta é, portanto, composta tanto de radiação
por, direta como de radiação difusa. Até 90% da radiação que
atinge a superfície em um dia claro é formada por radiação
Z 2π Z π/2 direta, enquanto que praticamente toda a radiação que chega ao
Jλ (λ) = Iλ,e+r (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφ. (102) nível do solo num dia nublado é composta por radiação difusa.
0 0 A quantia real de energia solar que chega à superfície da Terra
Assim, a radiosidade total J(W/m2 ) associada ao espectro depende do ângulo no qual a radiação atinge a superfície, da
completo por, composição da atmosfera e das condições atmosféricas locais.
Como já comentado, o Sol emite aproximadamente como para superfícies irradiadas pelo Sol, uma vez que a emissão
um corpo negro a 5800 K. Na medida em que a radiação encontra-se geralmente na região espectral além dos 4 µm
atravessa o espaço, o fluxo radiante diminui, pois ele atrav- e é improvável que as propriedades espectrais da superfície
essa áreas esféricas cada vez maiores. No limite externo da permaneçam constantes ao longo de uma faixa espectral tão
atmosfera terrestre, o fluxo da energia solar diminui por um ampla.
fator de (rs /rd )2 , em que rs é o raio do Sol e rd é a distância À medida que a radiação solar atravessa a atmosfera ter-
entre o Sol e a Terra. A constante solar, Sc , é definida como restre, sua magnitude e suas distribuições espectral e direcional
o fluxo de energia solar que incide sobre uma superfície experimentam uma mudança significativa. A mudança se deve
com orientação normal aos raios solares no limite externo da à absorção e ao espalhamento da radiação pelos constituintes
atmosfera terrestre, quando a Terra encontra-se à sua distância da atmosfera. O efeito da absorção pelos gases atmosféricos
média do Sol, como mostrado na Fig. 45. Ela tem um valor de O3 (ozônio), H2 O, O2 e CO2 está ilustrado na curva inferior
Sc = 1353 W/m2 . Para uma superfície horizontal (ou seja, da Fig. 48. A absorção pelo ozônio é mais forte na região UV,
paralela à superfície terrestre), a radiação solar comporta-se proporcionando uma atenuação considerável em comprimentos
como um feixe de raios praticamente paralelos que formam de onda abaixo de 0, 3 µm. Na região visível há alguma
um ângulo θ, o ângulo de zênite, em relação à normal a absorção pelo O3 e o O2 , enquanto nas regiões do IV próximo
superfície. A irradiação solar extraterrestre, GS,e , definida e distante à absorção é dominada pelo vapor d’água. Ao longo
para uma superfície horizontal, depende da latitude geográfica, de todo o espectro solar, há também absorção contínua de
assim como da hora do dia e do dia do ano. Ela pode ser radição pela poeira e pelos aerossóis presentes na atmosfera.
determinada por, O espalhamento na atmosfera proporciona um redireciona-
mento dos raios solares e ocorre de duas formas (Fig. 46).
O espalhamento de Rayleigh (ou molecular) provocado por
GS.e = Sc f cosθ. (107) moléculas muito pequenas de gases ocorre quando a razão
entre o diâmetro efetivo das moléculas e o comprimento de
onda da radiação, πD/λ, é muito menor do que a unidade
e proporciona um espalhamento praticamente uniforme da
radiação em todas as direções. Assim, cerca de metade da
radiação que sofre esse processo é redirecionada para o espaço,
enquanto a porção restante colide com a superfície da Terra.
Em qualquer ponto sobre essa superfície, a radiação espalhada
incide a partir de todas as direções. Por outro lado, o espalha-
mento de Mie, provocado pela poeira e partículas maiores de
aerossóis, ocorre quando πD/λ é aproximadamente unitária e
está concentrada em direções próximas às dos raios incidentes.
Assim, praticamente toda essa radiação atinge a superfície da
Terra em direções que estão próximas às dos raios solares.

Figura 45. Natureza direcional da radiação solar fora da atmosfera terrestre.

A grandeza f é um pequeno fator de correção para levar


em consideração a excentricidade da órbita da Terra ao redor
do Sol (0, 97 ≤ f ≤ 1, 03).
A distribuição espectral da radiação solar é significativa-
mente diferente daquela associada à emissão das superfícies
envolvidas nos problemas de engenharia. Como ilustrado na
Fig. 48, a distribuição extraterrestre se aproxima daquela de
um corpo negro a 5800 K. A radiação está concentrada na
região de pequenos comprimentos de onda (0, 2 ≤ λ ≤ 0, 3
µm) do espectro térmico, com o pico de emissão ocorrendo Figura 46. Espalhamento da radiação solar na atmosfera terrestre.
em aproximadamente 0, 5 µm. É justamente essa concentração
na região de pequenos comprimentos de onda que impede, O efeito cumulativo dos processos de espalhamento sobre
com freqüência, a hipótese de comportamento de corpo cinza a distribuição direcional da radiação solar que atinge a su-
perfície da Terra está ilustrado na Fig. 47(a). Aquela porção ser tão baixa quanto 230 K em um dia frio e claro de noite
da radiação que atravessou a atmosfera sem ser espalhada de inverno ou tão alta quanto 280 K em um dia de verão. A
(ou absorvida) está na direção do ângulo de zênite e é irradiação da atmosfera terrestre é dada por,
conhecida por radiação direta. A radiação espalhada incide
a partir de todas as direções, embora sua intensidade seja 4
Gceu = σTceu . (109)
maior nas direções próximas à da radiação direta. Entretanto,
como a intensidade da radiação é freqüentemente considerada
independente da direção (Fig. 47(b)), a radiação é dita difusa.
A contribuição difusa pode variar de aproximadamente 10%
da radiação solar total em um dia claro até perto de 100% em
um dia completamente encoberto.

Figura 47. Distribuição direcional da radiação solar na superfície da Terra.


(a) Distribuição real. (b) Aproximação difusa.
Figura 48. Distribuição espectral da radiação solar.
Formas de radiação ambiental com grandes comprimentos
de onda incluem a emissão da superfície terrestre, assim X. T RANSFERÊNCIA DE C ALOR P OR R ADIAÇÃO ENTRE
como a emissão de certos constituintes da atmosfera. O poder D UAS S UPERFÍCIES PARALELAS I NFINITAS
emissivo associado à superfíce terrestre pode ser calculado da As características da radiação emitida, absorvida, refletida
forma convencional por, ou transmitida por uma superfície já foram apresentadas. Elas
agora serão utilizadas para determinar a taxa líquida do calor
E = σT 4 , (108) transferido por radiação entre duas superfícies que estão a
diferentes temperaturas. Para simplificar os cálculos, os dois
corpos serão assumidos paralelos e infinitos, de forma que toda
em que  e T são a emissividade e a temperatura absoluta a radiação que deixa um corpo vai atingir o outro.
da superfície, respectivamente. As emissividades estão, em Vamos considerar as duas superfícies ilustradas na Fig. 49,
geral, próximas à unidade. A da água, por exemplo, é de as quais estão a T1 e T2 . Desde que ambas as superfícies
aproximadamente 0,97. Como as temperaturas tipicamente estão a temperaturas acima do zero absoluto, cada uma delas
encontram-se de 250 a 320 K, a emissão está concentrada vai emitir radiação. A energia total que deixa a superfície 1 é
na região espectral de aproximadamente 4 até 40 µm, com sua radiosidade vezes sua área superficial, J1 A1 , e a que deixa
pico ocorrendo em aproximadamente 10 µm. a superfície 2 é J2 A2 . A taxa líquida do calor transferido entre
A emissão atmosférica é em grande parte oriunda das as duas superfícies é dada,
moléculas de CO2 e H2 O, e está concentrada nas regiões
espectrais entre 5 e 8 µm, e acima de 13 µm. Embora a dQ J1 − J2
distribuição espectral da emissão atmosférica não corresponda = J1 A1 − J2 A2 = , (110)
dt 1/A
à de um corpo negro, sua contribuição para a irradiação da
superfície terrestre pode ser emitida utilizando-se a Eq. 9. uma vez que A1 = A2 .
A radiação solar evidentemente só tem efeito durante as Se as superfícies forem corpos negros, então 1 = 2 = 1 e
horas do dia, enquanto que a radiação da atmosfera está α1 = α2 = 1. A refletividade e a transmissividade valem zero
sempre presente. O cálculo da taxa de transferência de calor e as radiosidades para os corpos 1 e 2 são,
da atmosfera terrestre para a superfície terrestre é realizado
considerando que o céu se comporta como um corpo negro a
uma temperatura efetiva celeste Tceu . Essa temperatura pode J1 = σT14 ,
Da Fig. 49, é óbvio que se ambas as superfícies forem
corpos cinzentos opacos, a taxa de perda de calor perdido
pelo corpo 1 será igual a que é ganha pelo corpo 2. Isto pode
ser escrito matematicamente,

dQ En1 − J1 En2 − J2
= =− . (115)
dt [(1 − 1 )/1 A] [(1 − 2 )/2 A]
A Eq. 115 contém duas incógnitas, J1 e J2 . Estas radiosi-
dades podem ser determinadas resolvendo as Eqs. 109 e 115
simultaneamente.
Nesse ponto é importante chamar a atenção para a analogia
entre transferência de calor e corrente elétrica. As Eqs. 109 e
112 podem ser representadas por resitências elétricas equiva-
lentes e diferenças de potencial, como mostrado na Fig. 50. A
transferência de calor por radiação entre os corpos 1 e 2 na
Fig. 49 pode ser obtida pela solução do circuito formado pela
combinação das resistências mostradas na Fig. 50. O circuito
equivalente de radiação para a transferência de calor entre duas
Figura 49. Duas superfícies paralelas infinitas. superfícies cinzentas paralelas e infinitas está representado na
Fig. 51.

J2 = σT24 .
A taxa líquida de calor transferida por unidade de área é
dada por,

dQ/dt
= σ(T14 − T24 ), (111)
A
Quando a superfície é um corpo cinzento opaco, com
transmissividade igual a zero, a radiosidade é dada por,

J = En + ρG = En + (1 + )G. (112)


Essa equação pode ser reescrita para obtermos a expressão
para a irradiação, dada por

J − En
G= . (113) Figura 50. Resistências equivalentes para o circuito de radiação.
1−
A taxa líquida de calor transferido de uma superfície de
um corpo cinzento opaco pode ser expressa como a diferença
da radiosidade, ou seja, a radiação que deixa a superfície, e a
irradiação, ou seja, a radiação que chega, pode ser representada
por,

dQ En − J
= . (114)
dt [(1 − )/A]

se J for maior do que En , dQ/dt terá um sinal negativo, o


que indica que a taxa líquida de calor é transferida para a Figura 51. Circuito de radiação para duas superfícies paralelas infinitas.
superfície em questão.
R EFERÊNCIAS
[1] SCHMIDT, Frank W; HENDERSON, Robert E; WOLGEMUTH, Carl H.
Introdução às Ciências Térmicas: Termodinâmica, Mecânica dos Fluidos
e Transferência de Calor. Editora Edgard Blücher LTDA. Segunda Edição.
2004. São Paulo-SP.
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de Calor e de Massa. Livros Técnicos e Científicos. Quinta Edição. 2003.
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[3] MERZBACHER, Eugen. Quantum Mechanics. John Wiley & Sons, INC.
Terceira Edição. 1998. Danvers, Massachussetts.
[4] INCROPERA, Frank P; DeWITT, David P. Fundamentos de Transferência
de Calor e de Massa. Livros Técnicos e Científicos. Sexta Edição. 2007.
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Décima Primeira Edição. 1979. Rio de Janeiro-RJ.
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Primeira Edição. 2004. São Paulo-SP.
[7] GASIOROWICZ, Stephen. Física Quântica. Editora Guanabara Dois S.A.
Primeira Edição. 1979. Rio de Janeiro-RJ.
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Livros Técnicos e Científicos. Quinta Edição. Volume 1. 2006. Rio de
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Livros Técnicos e Científicos. Quinta Edição. Volume 3. 2006. Rio de
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Edition. Editora Pearson Addison Wesley. Volume 1. 1963. California
Institute of Technology.
[11] SAKURAI, J.J. Modern Quantum Mechanics. Editora Addison Wesley
Longman. Revised Edition. 1994. Illinois, Chicago.

A PÊNDICE

λT (µm.K) F[0−λ] λT (µm.K) F[0−λ]


200 0,000000 6200 0,754140
400 0,000000 6400 0,769234
600 0,000000 6600 0,783199
800 0,000016 6800 0,796129
1000 0,000321 7000 0,808109
1200 0,002134 7200 0,819217
1400 0,007790 7400 0,829527
1600 0,019718 7600 0,839102
1800 0,039341 7800 0,848005
2000 0,066728 8000 0,856288
2200 0,100888 8500 0,874608
2400 0,140256 9000 0,890029
2600 0,183120 9500 0,903085
2800 0,227897 10000 0,914199
2898 0,250108 10500 0,923710
3000 0,273232 11000 0,931890
3200 0,318102 11500 0,939959
3400 0,361735 12000 0,945098
3600 0,403607 13000 0,955139
3800 0,443382 14000 0,962898
4000 0,480877 15000 0,969981
4200 0,516014 16000 0,973814
4400 0,548796 18000 0,980860
4600 0,579280 20000 0,985602
4800 0,607559 25000 0,992215
5000 0,633747 30000 0,995340
5200 0,658970 40000 0,997967
5400 0,680360 50000 0,998953
5600 0,701046 75000 0,999713
5800 0,720158 100000 0,999905
6000 0,737818

Tabela I
F UNÇÕES DE CORPO NEGRO
Substância Metais (Temp. da Superfície, K) Emissividade normal, n
Alumínio
Altamente polido 480-870 0,038-0,06
Altamente oxidado 370-810 0,20-0,33
Latão
Altamente polido 530-640 0,028-0,031
Oxidado 480-810 0,60
Cromo
Polido 310-1370 0,08-0,40
Cobre
Altamente polido 310 0,02
Enegrecido 310 0,78
Ouro
Polido 400 0,018
Ferro
Altamente polido 310-530 0,05-0,07
Ferro doce, polido 310-530 0,28
Ferro fundido, recém usinado 310 0,44
Ferro em chapa, enferrujado 293 0,61
Ferro fundido, rugoso e altamente oxidado 310-510 0,95
Platina
Polida 500-900 0,054-0,104
Prata
Polida 310-810 0,01-0,03
Aço inoxidável
Tipo 310, liso 1090 0,39
Tipo 316, polido 480-1310 0,24-0,31
Estanho
Polido 310 0,05
Tungstênio
Filamento 3590 0,39
Não-metais
Asbetos
Em folha 310 0,93
Em placa 310 0,96
Tijolo
Refratário branco 1370 0,29
Vermelho, rugoso 310 0,93
Fuligem
Fina 310 0,95
Concreto
Rugoso 310 0,94
Gelo
Liso 273 0,966
Mármore
Branco 310 0,95
Tinta
Óleo, todas as cores 373 0,92-0,96
A base de chumbo, vermelha 370 0,93
Gesso 310 0,91
Borracha
Dura 293 0,92
Neve 270 0,82
Água
Profunda 273-373 0,96
Madeira
Carvalho 295 0,90
Faia 340 0,94
Tabela II
E MISSIVIDADE TOTAL NORMAL

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