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DIREITO PENAL -

PARTE GERAL I

cundários das normas que definem os “Crimes contra o Patrimônio”, isto é, pela extensão da lesão produzida.
Introdução comina sanções àqueles que atentam contra a propriedade alheia. A insignificância da ofensa afasta a tipicidade. Mas essa in­
É, pois, o Direito Penal, um conjunto complementar e sancionador signi­ficância só pode ser valorada por meio da consideração
de normas jurídicas. glo­bal da ordem jurídica, como afirma Zaffaroni.
1. Noções fundamentais: o fato social é sempre o ponto de
partida na formação da noção do Direito. O Direito surge das 5. Conteúdo do Direito Penal: o conteúdo do Direito Penal abarca 5. Fragmentariedade: significa que o Direito Penal não deve,
necessidades fundamentais das sociedades humanas, que o estudo do crime, da pena e do delinquente, que são os seus por conta desse caráter fragmentário, sancionar todas as
são reguladas por ele como condição essencial à sua própria elementos fundamentais, precedidos de uma parte introdutiva. Na condutas lesivas aos bens jurídicos, mas tão somente aquelas
sobrevivência. É no Direito que encontramos a segurança parte introdutória são estudadas a propedêu­tica jurídico-penal e a condutas mais graves e mais perigosas praticadas contra bens
das condições inerentes à vida humana, determinada pelas norma penal. É tratada da sua aplicação no tempo e no espaço, mais relevantes.
nor­mas que formam a ordem jurídica. O fato social que se como também da sua exegese. Acres­centam-se partes referentes
mos­tra contrário à norma de direito forja o ilícito jurídico, cuja à ação penal, punibilidade e medidas de segurança. 6. Culpabilidade: não há pena sem culpabilidade, decorren-
forma mais séria é o ilícito penal, que atenta contra os bens do daí três consequências materiais: não há responsabilidade
mais importantes da vida social. Contra a prática desses fatos objetiva pelo simples resultado; a responsabilidade penal é pelo
o Estado estabelece sanções, procurando tornar invioláveis Princípios do fato e não pelo autor; a culpabilidade é a medida da pena.
os bens que protege. As idéias modernas sobre a natureza Direito Penal
do crime e as suas causas e a exigência prática de uma luta 7. Humanidade: o poder punitivo estatal não pode aplicar
eficaz contra a criminalidade foram desenvolvendo, ao lado da 1. Legalidade ou da reserva legal: constitui uma efetiva limitação sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que
velha reação punitiva, uma série de medidas que se dirigem ao poder punitivo estatal. Embora seja hoje um princípio fundamental lesionem a constituição físico-psíquica dos condena­dos.
não a punir o criminoso, mas a promover a sua recuperação do Direito Penal, seu reconhecimento constituiu um longo processo,
social ou a segregá-lo do meio nos casos de desajustamento com avanços e recuos, não passando, muitas vezes, de simples 8. Irretroatividade da lei penal: durante o período compreen­
irredutível. São as chamadas medidas de segurança, com o “fachada formal” de determinados Estados Feuerbach, no início dido entre a entrada em vigor de uma lei e a cessação de sua
objetivo de prevenir ou reprimir a ocorrência de fatos lesivos do século XIX, consagrou o princípio da reserva legal por meio da vigência todos os atos então praticados são por ela regulados.
aos bens jurídicos dos cidadãos. A mais severa das sanções fórmula latina nullum crimen, nulla poena sine lege. O princípio da Não serão alcançados, portanto, os fatos ocorridos antes ou
é a pena, estabelecida para o caso de inobservância de um reserva legal é um imperativo que não admite desvios nem exceções depois do mencionado período: não retroage tampouco tem
imperativo. Dentre as providências de repressão ou preven­ção e representa uma conquista da consciência jurídica que obedece a ultratividade. É o princípio “tempus regit actum”. Contudo, vige
encontramos as medidas de segurança. exigências de justiça. somente em relação à lei mais severa. Admite-se, no direito
Em termos bem esquemáticos, pode-se dizer que, pelo princípio intertemporal, a aplicação do princípio da retroatividade da lei
2. Função de tutela jurídica: já dizia Carrara que a função da legalidade, a elaboração de normas incriminadoras é função mais favorável - art. 5º, inc. XL, da CF, pois, segundo esse
específica do Direito Penal é a tutela jurídica. Visa o Direito exclusiva da lei, isto é, nenhum fato pode ser considerado crimi- princípio, a lei nova que for mais favorável ao réu sempre
Penal a proteger os bens jurídicos. Bem é tudo aquilo que pode noso e nenhuma pena criminal pode ser aplicada sem que antes retroage.
satisfazer as necessidades humanas. Todo valor re­conhecido da ocorrência desse fato exista uma lei definindo-o como crime Link Acadêmico 1
pelo Direito torna-se um bem jurídico. O Direito Pe­nal visa e cominando-lhe a sanção correspondente. A lei deve definir com
proteger os bens jurídicos mais importantes, intervindo somente precisão e de forma cristalina a conduta proibida.
nos casos de lesão a bens jurídicos re­putados fundamentais A Constituição brasileira de 1988, ao proteger os direitos e garan-
Lei Penal e Fontes
para a vida em sociedade, impondo sanções aos sujeitos que tias fundamentais, em seu art. 5º, inc. XXXIX, determina que “não da Norma Penal
praticam delitos. haverá crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal”. 1. Fonte é o lugar de onde o direito provém.
3. Definição: direito Penal é o conjunto de normas jurídicas que
regulam o exercício do poder punitivo do Estado, ligando o deli- 2. Intervenção mínima: o princípio da intervenção mínima, também 2. Classificação das Fontes
to, como pressuposto, à pena, como consequência jurí­dica. conhecido como “ultima ratio”, orienta e limita o poder incriminador 2.1. De produção, material ou substancial: refere-se ao
do Estado, preconizando que a criminalização de uma conduta só órgão incumbido de sua elaboração. Compete à União (CF,
4. Características do Direito Penal: o Direito Penal regula as se legitima se constituir meio necessário para a proteção de deter- art. 22, I).
relações do indivíduo com a sociedade. Por isso, não per­tence minado bem jurídico. Se outras formas de sanção ou outros meios
ao Direito Privado, mas, sim, ao Público. de controle social revelarem-se suficientes para a tutela desse bem, 2.2. Formal, de cognição: refere-se ao modo pelo qual o
O Direito Penal regula relações jurídicas em que de um lado a sua criminalização é inadequada e não recomendável. Se para o Direito Penal se exterioriza. Subdivide-se em: imediata: a
surge o Estado com o jus puniendi, o que lhe confere o caráter restabelecimento da ordem jurídica violada forem suficientes medidas lei, composta de preceito primário (descrição da conduta) e
de Direito Público. Mesmo nos casos em que a ação penal se civis ou administrativas, são estas que devem ser empregadas e não secundário (sanção); mediata: costume, princípios gerais do
movimenta por iniciativa da parte ofendida (crimes de ação as de natureza penal. direito, jurisprudência e doutrina, LICC, art. 4º.
privada), não se outorga o jus puniendi ao particular. Este
exerce apenas o jus persequendi in juditio, não gozando do 3. Adequação social: segundo Welzel, o Direito Penal somen-te 3. Classificação da lei penal
direito de punir o sujeito ativo do crime. tipifica condutas que tenham uma certa relevância social; caso a) leis incriminadoras: são as que descrevem crimes e
Segundo Magalhães Noronha, o Direito Penal é ciência cultu- contrário, não poderiam ser deli­tos. Deduz-se, consequentemente, cominam penas.
ral porque pertence à classe das ciências do “dever ser”, e que há condutas que, por sua “adequação social”, não podem ser b) leis não incriminadoras: não descrevem crimes, nem
não à do “ser”. É ciência normativa porque tem a finalidade consideradas criminosas. Em outros termos, segundo esta teoria, cominam penas.
de estudar a norma. O objeto da Ciência do Direito Penal é as condutas “socialmente adequadas” não podem constituir delitos c) leis não incriminadoras permissivas: tornam lícitas
o conjunto de preceitos legais que se refere à conduta dos e, por isso, não se revestem de tipicidade. determina­das condutas tipificadas em leis incriminadoras.
cidadãos, bem como às consequências jurídicas advindas do Exemplo: legítima defesa.
não-cumprimento de suas determinações. É também ciência 4. Insignificância: o princípio da insignificância foi cunhado pela d) leis não incriminadoras finais, complementares ou expli-
valorativa. O direito não empresta às normas o mesmo valor; primeira vez por Claus Roxin em 1964, que voltou a repeti-lo em cativas: esclarecem o conteúdo de outras normas e delimitam
esse, porém, varia, de conformidade com o fato que lhe dá sua obra Política Criminal y Sistema dei Derecho Penal, partindo do o âmbito de sua aplicação. Exemplo: arts. 12, 22 e todos os
conteúdo. Nesse sentido, o Direito valoriza suas normas, que velho adágio latino minima non curat praetor. demais da Parte Geral do CP, à exceção dos que tratam das
são dispostas em escala hierárquica. Incumbe ao Direito Pe- A tipicidade penal exige uma ofensa de alguma gravidade aos bens causas de exclusão da ilicitude.
nal, em regra, tutelar os valores mais elevados ou preciosos, jurídicos protegidos, pois nem sempre qualquer ofensa a esses bens
ou, querendo, ele atua somente onde há transgressão de ou interesses é suficiente para configurar o injusto típico. Segundo 4. Características das normas penais
valores mais importantes ou fundamentais para a sociedade. esse princípio, que Klaus Tiedemann chamou de princípio da baga- a) exclusividade: só elas definem crimes e cominam penas;
E, ainda, ciência finalista, porque atua em defesa da socie- tela, é imperativa uma efetiva proporcionalidade entre a gravidade b) anterioridade: as que descrevem crimes somente têm inci-
dade na proteção de bens jurídicos fundamentais, como a da conduta que se pretende punir e a drasticidade da intervenção dência se já estavam em vigor na data do seu cometimento;
vida humana, a integridade corporal dos cidadãos, a honra, estatal. Amiúde, condutas que se amoldam a determinado tipo penal, c) imperatividade: impõem-se coativamente a todos, sendo
o patrimônio etc. A consciência social eleva esses interesses, sob o ponto de vista formal, não apresentam nenhuma relevância obrigatória sua observância;
tendo em vista o seu valor, à categoria de bens jurídicos que material. Nessas circunstâncias, pode-se afastar liminarmente a d) generalidade: têm eficácia erga omnes, dirigindo-se a todos,
necessitam de proteção do Direito Penal para a sobrevivência tipicidade penal porque em verdade o bem jurídico não chegou inclusive inimputáveis;
da ordem jurídica. O Direito Penal é, por fim, sancionador, a ser lesado. e) impessoalidade: dirigem-se impessoal e indistintamente a
pois, por meio da cominação da sanção, protege outra norma A irrelevância ou insignificância de determinada conduta deve ser todos. Não se concebe a elaboração de uma norma para punir
jurídica de natureza extrapenal. Assim, o Direito Civil regula o aferida não apenas em relação à importância do bem juridicamente especificamente uma pessoa.
direito de propriedade, ao passo que o CP, nos preceitos se- atingido, mas especialmente em relação ao grau de sua intensidade,

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5. Normas penais em branco (cegas ou abertas): são nor- 2. Leis temporárias: a vigência vem previamente fixada pelo 3. O conceito no finalismo: a teoria final da ação tem o mérito
mas nas quais o preceito secundário (cominação da pena) legislador. de eliminar a injustificável separação dos aspectos objetivos e
está completo, permanecendo indeterminado o seu conteúdo. subjetivos da ação e do próprio injusto, transformando, assim,
Trata­-se, portanto, de uma norma cuja descrição da conduta 3. Leis excepcionais: são as que vigem durante situações de o injusto naturalístico em injusto pessoal.
está incompleta, necessitando de complementação por outra emergência. A contribuição mais marcante do finalismo foi a retirada de
disposição legal ou regulamentar. Link Acadêmico 2 to­dos os elementos subjetivos que integravam a culpabili­dade,
nascendo, assim, uma concepção puramente norma­tiva.
6. Fontes formais mediatas O finalismo deslocou o dolo e a culpa para o injusto, retirando-
6.1. Costume: consiste no complexo de regras não escritas,
Lei Penal os de sua tradicional localização — a culpabilidade, levando,
considera­das juridicamente obrigatórias e seguidas de modo no Espaço dessa forma, a finalidade para o centro do injusto. Concentrou
reiterado e uniforme pela coletividade. Os costumes são na culpabilidade somente aquelas circunstâncias que condi-
obedecidos com tamanha frequência que acabam se tornan- 1. Princípios adotados pelo Código Penal: adotou-se, como re­gra, cionam a reprovabilidade da conduta contrária ao Direito, e o
do praticamente regras imperativas, ante a sincera convicção o princípio da territorialidade temperada; como exce­ção, foram ado- objeto da reprovação situa-se no injusto.
social da necessidade de sua observância. Diferente é o hábito, tados os seguintes princípios: real ou de pro­teção, art. 7º, I, e par. 3º
onde inexiste a convicção da obrigatoriedade jurídica do ato. do CP; universal ou cosmopolita, art. 7º, II, “a” do CP; nacionalidade 4. Conceito de crime: dos quatro sistemas de conceituação do
Há três espécies de costume: ativa, art. 7º, II, “b” do CP; nacionalidade passiva, art. 7º, par. 3º do crime - formal, material, formal e material, e formal, material e
a) “contra legem”: inaplicabilidade da norma jurídica em face CP; e representação, art. 7º, II, “c” do CP. sintomático, dois predominam: o formal e o material. O pri­meiro
do desuso, da inobservância constante e uniforme da lei. apreende o elemento dogmático da conduta qualificada como
b) “secundum legem”: traça regras sobre a aplicação da 2. Lugar do crime: o CP, no que concerne ao lugar do crime, adotou crime por uma norma penal. O segundo vai além, lançando
lei penal. a teoria da ubiquidade: reputa-se lugar do crime tanto onde houve a olhar às profundezas das quais o legislador extrai os elementos
c) “praeter legem”: preenche lacunas e especifica o conteú- conduta, quanto o local onde se deu o resultado (art. 6º, CP). que dão conteúdo e razão de ser ao esquema legal.
do da norma. Sob o aspecto formal, bipartido, crime é um fato típico e anti­
O costume não cria delitos, tampouco comina penas (princípio 3. Extraterritorialidade: as situações de aplicação extraterri­torial jurídico. A culpabilidade constitui pressuposto da pena (Capez,
da reserva legal). O costume contra legem não revoga a lei, da lei penal brasileira estão previstas no art. 7º do CP e constituem Damásio). Sustentam esses que a culpabilidade não pode ser
em face do que dispõe o art. 2º, § 1º, da Lei de Introdução ao exceções ao princípio geral da territorialidade, este no art. 5º do CP. um elemento externo de valoração exercido sobre o autor do
Código Civil (Dec.-Lei 4.657/42), segundo o qual uma lei só As hipóteses são as seguintes: crime e, ao mesmo tempo, estar dentro dele. Não existe crime
pode ser revogada por outra lei. O sistema jurídico brasileiro 3.1. Extraterritorialidade incondicionada: aplica-se a lei brasileira culpado, mas autor de crime culpado.
não admite que possa uma lei perecer pelo desuso, porquanto, sem qualquer condicionante (art. 7º, I, CP) na hipóteses de crimes Nosso Código Penal diz:
assentado no princípio da supremacia da lei escrita (fonte praticados fora do território nacional, ainda que o agente tenha sido Quando o fato é atípico, não existe crime (art. 1º do CP).
principal do direito), sua obrigatoriedade só termina com sua julgado no estrangeiro (art. 7º, I, CP), com fundamento nos princípios Quando a ilicitude é excluída, não existe crime (art. 23 do
revogação por outra lei. Noutros termos, significa que não pode da defesa e da universalidade. CP) – “não há crime”.
ter existência jurídica o costume contra legem. Os casos de extraterritorialidade incondicional referem-se a crimes: Quando a culpabilidade é excluída, o Código diz “é isento de
6.2. Princípios gerais do direito: tratam-se de princípios contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; contra o pena” (art. 26 do CP).
que se fundam em premissas éticas extraídas de material patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado,
legislativo. Território, Município, empresa pública, sociedade de economia Fato
6.3. A analogia não é fonte formal mediata do Direito Penal, mista, autarquia ou fundação instituída pelo poder público; contra a
mas método pelo qual se aplica a fonte formal imediata, isto administração pública, por quem está a seu serviço; de genocídio,
Típico
é, a lei do caso semelhante. De acordo com o art. 4º da LICC, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.
na lacuna do ordenamento jurídico, aplica-se em primeiro 3.2. Extraterritorialidade condicionada: aplica-se a lei brasileira 1. Elementos: conduta (ação ou omissão); resultado; nexo
lugar outra lei (a do caso análogo), por meio da atividade quando satisfeitos certos requisitos, art. 7º, II e parágrafos 2º e 3º, causal (crimes materiais) e tipicidade.
conhecida como analogia; na sua ausência, recorrem-se então CP, com base nos princípios da universidade, da personalidade, da
às fontes formais mediatas, que são o costume e os princípios bandeira e da defesa. 2. Elementos da conduta: vontade, finalidade, exteriorização
gerais do direito. e consciência.
Lei Penal
3. Formas de conduta
Interpretação em Relação às Pessoas 3.1. Ação: para o finalismo, é todo comportamento humano,
da Lei Penal positivo ou negativo, consciente e voluntário, dirigido a uma
As imunidades diplomáticas e parlamentares não estão vinculadas finalidade, tendo os seguintes momentos: representação men-
1. Formas de procedimento interpretativo: equidade, dou­ à pessoa-autora de infração penal, mas às funções eventualmente tal do resultado querido; escolha dos meios para alcançar o
trina e jurisprudência. por ela exercidas, não violando, assim, o preceito constitucional da resultado; aceitação dos resultados concomitantes, também
igualdade de todos perante a lei. chamados de efeitos colaterais; realização do projeto, ou seja,
2. Conceito: é a atividade que consiste em extrair da norma A imunidade parlamentar, por não constituir um direito do par- emprego dos meios escolhidos em busca dos resultados tidos
penal seu exato alcance e real significado. A interpretação deve lamentar, mas do próprio Parlamento, é irrenunciável, de cunho como necessários ou prováveis.
buscar a vontade da lei, desconsiderando a de quem a fez. A personalíssimo, podendo ser de duas espécies: 3.2. Omissão: comportamento negativo, abstenção de
lei terminada independe de seu passado, importando apenas 1. Imunidade material ou absoluta: refere-se à inviolabilidade movimento.
o que está contido em seus preceitos. dos parlamentares no exercício do mandato, por suas palavras e
votos - arts. 53, caput; 27, par. 1º; e 29, VIII, da CF. 4. Relevância da omissão: os crimes podem ser:
3. Espécies de interpretação quanto ao resultado 2. Imunidade formal, relativa ou processual: refere-se à prisão, ao 4.1. Comissivos: quando a ação proibida é positiva, ou seja,
a) declarativa: há perfeita correspondência entre a palavra processo, a prerrogativas de foro – arts. 53, par. 4º; e 102, I, b, do CF. quando a norma pretende que o sujeito se abstenha de agir de
da lei e a sua vontade. Ao processo e julgamento – art. 53, pará­grafos 1º e 3º, do CF. forma lesiva a bens jurídicos: “não furte” (art. 155 do CP).
b) restritiva: quando a letra escrita da lei foi além da sua 4.2. Omissivos: quando a norma impõe um dever jurídico de
vontade (a lei disse mais do que queria, e, por isso, a interpre- agir, ou seja, quando a norma ordena que o sujeito impeça um
tação vai restringir o seu significado). Contagem determinado risco ou resultado lesivo ao bem jurídico: socorra
c) extensiva: a letra escrita da lei ficou aquém da sua vontade de Prazo a criança extraviada (art. 135 do CP).
(a lei disse menos do que queria, e, por isso, a interpretação Quanto aos crimes omissivos, eles podem ser classificados
vai ampliar o seu significado). O art. 10 do CP determina que o dia do começo inclui-se no cômputo em:
do prazo. Qualquer que seja a fração do primeiro dia, dia do começo, 4.2.1. Omissivos próprios: crimes referidos por tipos da parte
4. O princípio “in dubio pro reo”: para alguns, só se aplica é computada como um dia inteiro. especial de forma direta (a omissão é narrada expressamente
no campo da apreciação das provas; para outros, esgotada a no tipo), nos quais há simplesmente o dever jurídico de agir.
atividade interpretativa sem que se tenha conseguido extrair São crimes de mera conduta, pois não contêm previsão de
o significado da norma, esta deverá ser interpretada de modo Teoria Geral resultado naturalístico a ser evitado. No instante em que o su-
mais favorável ao acusado. do Delito jeito não age como o legislador espera e a norma determina,
já está consumado o delito (omissão de socorro).
Aplicação 1. O conceito clássico de delito: fundamentava-se num conceito 4.2.2. Omissivos impróprios: também chamados de omissi­
de ação eminentemente naturalístico, que vinculava a conduta ao vos espúrios, impuros ou comissivos por omissão. Aqueles nos
da Lei Penal resultado através do nexo de causalidade e man­tinha em partes quais a omissão não é narrada de forma direta. São crimes,
absolutamente distintas o aspecto obje­tivo, representado pela em princípio, comissivos. Exs.: homicídio e lesão cor­poral,
1. Lei penal no tempo: o CP adotou a teoria da atividade, tipicidade e antijuridicidade, e o aspecto subjetivo, representado nos quais há previsão da produção de resultado natu­ralístico.
considerando-se praticado o crime no momento da ação ou pela culpabilidade. Percebe-se que, em tais casos, o sujeito não tem sim­plesmente
omissão, ainda que seja outro o momento do resultado (art. o dever jurídico de agir, mas, sim, o dever jurí­dico de agir para
4º, CP). É o princípio “tempus regit actum”. 2. O conceito neoclássico de delito: conceito de ação, com impedir um resultado.
1.1. Hipóteses de conflito de leis penais no tempo: o Código concepção puramente naturalística. O tipo, até então pura­mente Podemos dizer que tem o dever de agir para impedir o resultado
Penal procura resolver as situações de conflitos temporais que descritivo de um processo exterior, passou a ser um instituto pleno o sujeito que assume a posição de “garante” (art. 13, § 2º, CP:
a lei penal apresenta no seu art 2º: a) “abolitio criminis”: a de sentido, convertendo-se em tipo de injus­to, contendo, muitas tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância); de
lei nova deixa de considerar crime fato anteriormente tipi­ficado vezes, elementos normativos, e, outras ve­zes, elementos subjetivos. outra forma, assumiu a obrigação de impedir o resultado ou,
como ilícito penal; b) “novatio legis” incriminadora: con­sidera A antijuridicidade deixou de ser concebida apenas como a simples com seu comportamento anterior, criou o risco da produção
crime fato anteriormente não incriminado. É irretroativa, e lógica contradição da conduta com a norma jurídica, num puro do resultado.
consoante rezam os arts. 5º, inc. XXXIX, da CF, e 1º, do CP; conceito formal, começando-se a trabalhar um conceito material de
c) “novatio legis in pejus”: a lei posterior que de qualquer antijuri­dicidade, representado pela danosidade social. 5. Objeto jurídico do crime: é o bem jurídico protegido pela
modo agravar a situação do sujeito não retroagirá (art. 5º, inc. A culpabilidade também foi objeto de transformações nesta fase norma penal. A vida, o patrimônio, por exemplo.
XL, da CF); d) “novatio legis in mellius”: lei nova, mesmo teleológica, recebendo de Frank a “repro­vabilidade”, pela formação
sem descriminalizar, dá tratamento mais favorável ao sujeito da vontade contrária ao dever. 6. Objeto material do crime: é a pessoa ou a coisa sobre a
(parágrafo único do art. 2º do CP). qual recai a conduta.

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conduta infungível): só pode ser cometido pelo sujeito em pessoa, ocasião da prática de outro. Ex.: subtração de jóias da vítima
7. Corpo de delito: é o conjunto de todos os elementos como o delito de falso testemunho (art. 342). estuprada. O furto é praticado por ocasião do cometimento do
sensíveis do fato criminoso, como instrumentos, objetos, a 11.4. Crime de dano: exige uma efetiva lesão ao bem jurídico estupro, não havendo entre eles relação de meio e fim.
própria pessoa etc. protegido para a sua consumação (art. 121, CP). Link Acadêmico 3
11.5. Crime de perigo: para a consumação, basta a possi­bilidade
8. Do Resultado do dano, ou seja, a exposição do bem a perigo de dano (art. 132 do
8.1. Resultado jurídico: é a afronta à norma penal. CP). Subdivide-se em:
Da Tipicidade
8.2. Resultado naturalístico: é a alteração do mundo físico, 11.6. Crime material: só se consuma com a produção do resultado
diversa da própria conduta, mas causada por ela. Os crimes, naturalístico, como a morte, para o homicídio; a subtração, para o Tipicidade penal é a perfeita adequação entre o fato concreto
quanto ao resultado, podem ser classificados em: furto; a destruição, no caso do dano. e o tipo incriminador (modelo abstrato). Adotamos atualmente
8.2.1. Materiais: o tipo traz a descrição do resultado e o exige 11.7. Crime formal: o tipo não exige a produção do resultado para a a teoria de um tipo penal complexo, com parte objetiva e sub-
para a consumação; consumação do crime, embora seja possível a sua ocorrência. Assim, jetiva. O juízo de tipicidade comporta, assim, análise objetiva
8.2.2. Formais: o tipo traz a descrição do resultado, mas não o resultado naturalístico, embora possível, é irrelevante para que a e subjetiva. Subjetiva quando se refere ao aspecto interno do
o exige para a consumação. O resultado naturalístico, embora infração penal seja consumada. sujeito (previsão do resultado, consciência da conduta, vontade,
possível, é irrelevante para a consumação do crime. Como não 11.8. Crime de mera conduta: o resultado naturalístico não é apenas objetivos etc.). Objetiva quando externo ao sujeito, perceptível
há coincidência entre o que o tipo exige para a consumação irrelevante, mas impossível. É o caso do crime de desobediência ou diretamente pelo observador (o movimento corpóreo, o lugar
(conduta) e o que o agente quer (resultado), também são de violação de domicílio, em que não existe absolutamente nenhum da conduta, o resultado naturalístico etc.).
chamados de tipos incongruentes; poderíamos ainda dizer resultado que provoque modificação no mundo concreto. A tipicidade penal pode ser dolosa, quando presente no tipo
que no caso dos crimes formais não há perfeita sintonia entre 11.9. Crime comissivo: é o praticado por meio de ação. Homicídio, o elemento subjetivo do tipo dolo. Pode também ser culposa,
a tipicidade objetiva e a subjetiva; por exemplo. quando necessário tão somente o elemento normativo culpa.
8.2.3. Mera conduta: o tipo sequer traz descrição de resultado. 11.10. Crime omissivo: é o praticado por meio de uma omissão Sem dolo ou culpa, não há crime, conforme o já estudado prin-
Exs.: arts. 158 e 330, CP. (abstenção de comportamento). Exemplo: art. 135 do CP (dei-xar cípio da culpabilidade, que rege o Direito Penal brasileiro.
de prestar assistência). A adequação típica pode ser: imediata, nos casos em que o fato
9. Nexo de Causalidade: é o liame entre a conduta e o resul­ 11.11. Crime omissivo próprio: não existe o dever jurídico de concreto se adapta diretamente à hipótese típica, ou seja, o tipo
tado, necessário (mas não suficiente) para que se possa atri­buir agir; o omitente não responde pelo resultado, mas ape­nas por sua espelha a conduta realizada no mundo exterior; e mediata ou
a responsabilidade pelo resultado ao agente. conduta omissiva (arts. 135 e 269, do CP). Dentro dessa modalidade indireta, nos casos em que o fato não encontra correspondente
É adotada no Brasil a teoria da equivalência dos antecedentes, de delito omissivo tem-se o crime de conduta mista, em que o tipo direto na narrativa típica. Exemplo: não há um tipo que narre
considerando causa tudo aquilo que contribui para a geração legal descreve uma fase inicial ativa e uma fase final omissiva - por “tentar matar alguém”. A adequação típica apenas ocorrerá
do resultado. Para descobrir se um evento é ou não causa de exemplo, apropriação de coisa achada, art. 169, parágrafo único, II de forma mediata, ou seja, será preciso recorrer a uma norma
determinado resultado, basta excluí-lo hipoteticamente da ca- do CP. Trata-se de crime omissivo próprio porque só se consuma de ampliação da adequação típica da tentativa para que o
deia causal e verificar se, idealmente, o resultado persistiria nas no mo­mento em que o agente deixa de restituir a coisa. A fase homicídio na forma tentada seja considerado típico. O mesmo
mesmas circunstâncias. Se o resultado persiste, não é causa, inicial da ação, isto é, de apossamento da coisa, não é sequer ato acontece com o concurso de agentes.
pois sem ele o mesmo resultado foi gerado. Se o resultado deixa executório do crime.
de ocorrer, é causa (critério da eliminação hipotética). 11.12. Crime omissivo impróprio ou espúrio ou comissivo por 1. O tipo penal: o vocábulo tipo é utilizado com o sentido de
O Brasil não adota tal teoria de forma absoluta, havendo uma omissão: o omitente tinha o dever jurídico de evitar o resultado e, modelo. O tipo penal incriminador seria o modelo de conduta
exceção: a causa superveniente relativamente indepen- portanto, por este responderá, cf. art. 13, § 2º, do CP. É o caso da proibida, em princípio. Ao invés de descrever a própria proibição
dente rompe o nexo causal, ou melhor, entende-se que na mãe que descumpre o dever legal de ama­mentar o filho, fazendo da conduta (“não matar, sob pena de ...“), o sistema de modelos
superveniência de causa relativamente independente não há com que ele morra de inanição, ou do salva-vidas que, na posição (tipos) traz a descrição da conduta proibida no preceito primário,
nexo entre a conduta e o resultado. Assim, quando incide a de garantidor, deixa, por negligência, o banhista morrer afogado: e no secundário, a sanção.
exceção, uma conduta que pelo critério da eliminação hipo- ambos res­pon­dem por homicídio culposo, e não por simples Nos tipos penais podem ser discriminadas: a) elementares:
tética seria considerada causa deixa de ser assim considerada omissão de socorro. são os dados essenciais da figura típica, sem os quais ocorre
para fins penais. 11.13. Crime doloso: quando o agente quer ou assume o risco de atipicidade absoluta ou relativa. Há atipicidade absoluta quan-
As causas podem ser: produzir o resultado (art. 18, I, CP). do, com a eliminação hipotética do dado, a conduta deixa de
9.1. Dependentes: são aquelas que se encontram na linha 11.14. Crime culposo: quando o agente dá causa ao resul­tado por ser relevante penal (retire hipoteticamente o termo “outrem” do
de desdobramento previsível e esperada da conduta. É o que imprudência, negligência ou imperícia (art. 18, II, CP). crime de lesão corporal e o fato deixa de ter relevância penal,
costuma acontecer. 11.15. Crime instantâneo: consuma-se em um dado instante, sem pois a autolesão não é, em princípio, punível). Consideramos
9.2. Independentes: são aquelas que não se encontram na continuidade no tempo, como, por exemplo, o homicídio. que houve atipicidade relativa quando a exclusão hipotética
linha de desdobramento previsível e esperada da conduta. 11.16. Crime permanente: o momento consumativo se protrai no do dado resulta na alteração da classificação típica, ou seja,
Divididas em: tempo, e o bem jurídico é continuamente agredido. A sua caracterís- o fato passa a ser capitulado em outro tipo (elimine a violência
9.2.1. Relativamente independentes: quando precisam da as- tica reside no fato de a cessação da situação ilícita depender apenas ou grave ameaça do roubo e o fato passa a constituir furto);
sociação da conduta para que venham a gerar o resultado. da vontade do agente. Exemplo: sequestro - art. 148 do CP. b) circunstâncias: são todos os dados acessórios da figura
9.2.2. Absolutamente independentes: quando não precisam 11.17. Crime complexo: resulta da fusão de dois ou mais tipos típica que orbitam as elementares e têm como função influir na
da associação da conduta para que venham a gerar o resulta- penais (latrocínio = roubo + homicídio; estupro qualificado pelo dosagem da pena. São objetivas quando se referem a aspectos
do. Geram o resultado ainda que isoladas. resultado morte = estupro + homicídio; extorsão mediante sequestro = externos ao sujeito e subjetivas quando tratam do agente.
Se houver causa absolutamente independente, não há nexo extorsão + sequestro etc.). Não constituem crime complexo os delitos
causal entre a conduta e o resultado, pois, ainda que a conduta formados por um crime acrescido de elementos que isoladamente 2. Tipicidade conglobante: fórmula corretiva da tipicidade
venha a ser eliminada, o resultado permaneceria (aplicação do são penalmente indiferentes, por exemplo, o delito de denunciação formal desenvolvida por Eugenio Raúl Zaffaroni, para que se
critério da eliminação hipotética). caluniosa, CP, art. 339, que é formado pelo crime de calúnia e por alcance a verdadeira tipicidade penal. Assim, a tipicidade penal
Cada uma das categorias enumeradas ainda pode ser classi- outros elementos que não constituem crimes. seria a soma da tipicidade formal com a tipicidade conglobante.
ficada quanto ao momento em que atua, como: preexistente 11.18. Crime monoofensivo e pluriofensivo: monoofensivo é o Se o juízo de tipicidade implica proibição a priori da conduta,
(quando anterior à conduta), concomitante (quando coincide que atinge apenas um bem jurídico. O homicídio, por exemplo, no não podem ser consideradas sequer proibidas aquelas con-
no tempo com a conduta) e superveniente (quando posterior qual se tutela tão somente a vida; pluriofensivo é o que ofende dutas que não são apenas toleradas (descriminantes), mas,
à conduta). mais de um bem jurídico, como o latrocínio, que lesa a vida e o sim, fomentadas ou determinadas pelo ordenamento, sendo,
patrimônio. assim, importante considerar o que a norma queria atingir, o
10. Imputação objetiva: surgiu para conter os excessos 11.19. Crime unissubsistente: é o que se perfaz com um úni­co ato, que ela quer proibir. Por outro lado, se as excludentes de anti-
da teoria da conditio sine qua non, evitando-se, com isso, como a injúria verbal. Não admite a tentativa. juridicidade permitem excepcionalmente o que é em princípio
o chamado regressus ad infinitus. O nexo causal não pode 11.20. Crime plurissubsistente: é aquele que exige mais de um ato proibido, não teria sentido, excepcionalmente, permitir o que em
ser estabelecido, exclusivamente, de acordo com a relação para sua realização, como no caso do estelionato - art. 171, CP. tese não era proibido, ou seja, torna-se desnecessário apelar
de causa e efeito. 11.21. Crime de ação múltipla ou conteúdo variado: é aquele em para as descriminantes quando a questão deve ser resolvida
Assim, além do elo naturalístico de causa e efeito, são neces- que o tipo penal descreve várias modalidades de realização do crime no âmbito da tipicidade.
sários os seguintes requisitos: (tráfico de drogas, art. 33 da Lei 11.343/06; instigação, induzimento Assim, as práticas esportivas e as intervenções cirúrgicas não
10.1. Criação de um risco proibido e relevante. Ex.: uma mulher ou auxilio ao suicídio, art. 122 do CP). seriam sequer fatos típicos a serem desconsiderados pelas
leva o marido para passear, esperando que ele venha a sofrer 11.22. Crime habitual: é o composto pela reiteração de atos que descriminantes do exercício regular de direito, tampouco
um acidente e morrer, o que acaba acontecendo. Passear é revelam um estilo de vida do agente, p. ex.: rufianismo (art. 230, CP); a invasão sob mandado do oficial de justiça poderia ser
um risco normal, irrelevante; exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica (art. 282, considerada típica, mas não injusta pelo estrito cumprimento
10.2. Que o resultado esteja na mesma linha de desdobramento CP). Só se consuma com a habituali­dade na conduta. Enquanto no do dever legal.
causal da conduta, ou seja, dentro do seu âmbito de risco. crime habitual cada ato isolado constitui fato atípico, pois a tipicidade Tais condutas deveriam ser compreendidas como penalmente
Ex.: um traficante vende droga para alguém, que, por impru- depende da reiteração de um número de atos, no crime continuado atípicas, pois o ordenamento desde logo não as proíbe. Estão
dência, morre por overdose. A morte não pode ser, de forma cada ato isolado, por si só, já constitui crime. fora do âmbito de alcance da tipicidade conglobante, ainda,
causal, imputada ao vendedor, por se tratar de uma ação de 11.23. Crimes conexos: pode ocorrer de o agente praticar vários as lesões insignificantes. Acrescentamos aqui, também, as
risco próprio, fora do âmbito normal de perigo provocado pela crimes sem que entre eles haja qualquer ligação. Ao contrário, pode criações de risco permitido.
ação do traficante; haver entre eles um liame, uma ligação, um nexo entre os delitos.
10.3. Que o agente atue fora do sentido de proteção da Nesse caso, fala-se em crimes conexos. Assim, o sujeito pode 3. Tipicidade dolosa: costuma-se designar dolo como
norma. cometer uma infração para ocultar outra. Então, temos delitos inde- intenção, vontade. Há duas importantes teorias acerca dos
pendentes, pois estão ligados por um liame subjetivo. A conexão pode elementos constitutivos do dolo: a) teoria normativa do
11. Classificação dos delitos ser: a) teleológica: um crime é praticado para assegurar a execução dolo: dolo é consciência, vontade e consciência da ilicitude;
11.1. Crime comum: pode ser cometido por qualquer pessoa. de outro. Ex.: o sujeito mata o marido para estuprar a esposa. Há dois b) teoria psicológica do dolo: dolo é consciência e vontade
A lei não exige nenhum requisito especial. Exemplo: homicídio, crimes: homicídio e estupro. O primeiro ­é denominado crime-meio; o de estar concretizando/concretizar os elementos do tipo.
furto etc. segundo, crime-fim; b) consequencial: (ou causal) quando um crime Aliás, a consciência é o dado essencial, mormente para que
11.2. Crime próprio: só pode ser cometido por determinada é cometido para assegurar a ocultação, a impunida­de ou vantagem se compreenda, logo mais, o erro de tipo.
pessoa ou categoria de pessoas, como o infanticídio, no qual de outro. Ex.: o sujeito, após furtar, incendeia a casa para fazer
só a mãe pode ser autora (art. 123, CP). desaparecer qualquer vestígio. O incêndio é cometido para assegurar Do Crime
11.3. Crime de mão própria (de atuação pessoal ou de a ocultação do furto; c) ocasional: quando um crime é cometido por Doloso

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Dolo é o elemento psicológico da conduta. Conduta é um dos inaptidão técnica em profissão ou ati­vidade. Consiste na incapaci-
elementos do fato típico. Logo, o dolo é um dos elementos dade, na falta de conheci­mento ou habilidade para o exercício de Crime
do fato típico. determinado mister. Consumado
Os tipos que definem os crimes culposos são, em geral, abertos;
1. Conceito de dolo: é a vontade e a consciência de realizar neles, portanto, não se descreve em que consiste o comportamento
os elementos constantes do tipo legal. Mais amplamente é culposo. O tipo limita-se a dizer: “se o crime é culposo, a pena será Restará consumado o crime quando o tipo estiver inteiramente
a vontade manifestada pela pessoa humana de realizar a de...”, não descrevendo como seria a conduta culposa. realizado, ou seja, quando o fato concreto se subsumir ao tipo
conduta. A culpa, portanto, não está descrita, nem especificada, mas ape- abstrato descrito na lei penal. Preenchidos todos os elemen-
nas prevista genericamente no tipo. Isso acontece porque seria tos do tipo objetivo pelo fato natural, opera a consumação.
2. Elementos do dolo: consciência (conhecimento do fato impossível o legislador elencar todas as maneiras de se praticar Segundo o art. 14, inciso I do CP, diz-se o crime consumado
que constitui a ação típica) e vontade (elemento volitivo de conduta culposa. “quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição
realizar esse fato). Aníbal Bruno inclui dentre os componentes legal”. Consumam-se, assim, o homicídio e o infanticídio com
do conceito de dolo a consciência da ilicitude do comporta- 2. Elementos a morte da vítima (arts. 121 e 123, respectivamente, ambos
mento do agente. a) conduta (sempre voluntária); do CP); a lesão corporal, com a ofensa à integridade corporal
3. Teorias adotadas pelo Código Penal: da análise do b) resultado involuntário; ou à saúde (art. 129, CP).
disposto no art. 18, I, do Código Penal, conclui-se que foram c) nexo causal;
adotadas as teorias da vontade e do assentimento. Dolo é d) tipicidade; Crime
a vontade de realizar o resultado ou a aceitação dos riscos e) previsibilidade objetiva. É a possibilidade de qualquer pessoa
de produzi-lo. A teoria da representação, que confunde culpa dota­da de prudência mediana prever o resultado. Anota Mirabete:
Tentado
consciente (ou com previsão) com dolo, não foi adotada. “a rigor, porém, quase todos os fatos naturais podem ser previstos
3.1. Abrangência: a consciência do autor deve se referir a pelo homem, inclusive de uma pessoa poder atirar-se sob as rodas As fases do crime costumam ser classificadas em quatro:
todos os componentes do tipo, prevendo ele os dados essen­ do automóvel que está dirigindo. Não se pode confundir o dever de cogitação, atos preparatórios, execução e consumação.
ciais dos elementos típicos futuros, em especial o resultado e prever, fundado na diligência ordinária de um homem qualquer, com Dentre as várias teorias acerca do início da execução, ado-
o processo causal. A vontade consiste em resolver executar o poder de previsão”; tamos a conexão de duas: inicia-se a execução no momento
a ação típica, estendendo-se a todos os elementos objetivos f) ausência de previsão (cuidado: na culpa consciente inexiste da primeira ação idônea e inequívoca a atingir o bem jurídico.
conhecidos pelo autor que servem de base à sua decisão esse elemento); A ação será idônea quando provocar risco relevante para o
de praticá-la. Ressalte-se que o dolo abrange também os g) quebra do dever de cuidado objetivo, manifestada por meio da bem, o que normalmente ocorre com o início da realização do
meios empregados e as consequências secundárias de sua imprudência, imperícia ou negligência. verbo típico (sub­trair, matar, constranger). Será inequívoca
atu­ação. quando for possível perceber que se dirige a realizar a con-
3. Espécies duta descrita na norma.
4. Espécies de dolo 3.1. Culpa inconsciente: é a culpa sem previsão, em que o agente Existe o crime tentado quando, iniciada a execução, o sujeito
4.1. Dolo natural: é o dolo concebido como um elemento pu- não prevê o que era previsível. não atinge a consumação por circunstâncias alheias à sua
ramente psicológico, desprovido de qualquer juízo de valor. 3.2. Culpa consciente ou com previsão: é aquela em que o vontade, art. 14, II, do CP.
Trata-se de um simples querer, independentemente de o objeto agente prevê o resultado, embora não o aceite. Há no agente a
da vontade ser lícito ou ilícito, certo ou errado. Compõe-se representação da possibilidade do resultado, mas ele a afasta, de Desistência Voluntária e
apenas de consciência e vontade, sem a necessidade de pronto, por entender que o evitará e que sua habilidade impedirá o
haver também a consciência de que o fato praticado é ilícito, evento lesivo previsto. Arrependimento Eficaz
injusto ou errado. Dessa forma, qualquer vontade é conside- 3.3. Culpa imprópria, também conhecida como culpa por
rada dolo, tanto a de beber água, andar, estudar, quanto a de extensão, por equiparação ou por assimilação: é aquela em Se o sujeito inicia o processo executório, mas desiste de
praticar um crime. que o agente, por erro de tipo inescusável, supõe estar diante de prosseguir, evitando a consumação, não há que se falar em
4.2. Dolo direto ou determinado: é a vontade de realizar a uma causa de justificação que lhe permita praticar, licitamente, um tentativa, pois não foi preenchido o requisito circunstâncias
conduta e produzir o resultado (teoria da vontade). Ocorre fato típico. Há uma errônea apreciação da realidade fática, fazendo alheias à sua vontade (o que evitou o resultado foi a própria
quando o agente quer diretamente o resultado. o autor supor que está acobertado por uma causa de exclusão da vontade do agente). Nesse caso, também não há se falar em
4.3. Dolo indireto ou indeterminado: o agente não quer ilicitude. Entretanto, como esse erro poderia ter sido evitado pelo punição pelo crime consumado, pois este não foi alcançado,
diretamente o resultado, mas aceita a possibilidade de produzi- emprego de diligência mediana, subsiste o comportamento culposo. art. 15 do CP. A medida é não punir, pela ausência de previsão
lo (dolo eventual), ou não se importa em produzir este ou Exemplo: “A” está em sua casa quando seu irmão entra pela porta legal, além dos limites já alcançados.
aquele resultado (dolo alternativo). Comporta duas formas: a) dos fundos. Pensando tratar-se de um assalto, “A” efetua disparos O mesmo raciocínio se aplica ao arrependimento eficaz, com a
alternativo: quando o agente deseja qualquer um dos eventos de arma de fogo contra o infortunado parente, certo de que está diferença de que, nesta figura, o sujeito já esgotou o processo
possíveis. Por exemplo: pessoa com raiva joga bomba caseira praticando uma ação perfeitamente lícita, amparada pela legítima executório, apenas não tendo ainda atingido a consumação.
entre pessoas, querendo matá-las ou feri-las. Ele quer produzir defesa. A ação, em si, é dolosa, mas o agente incorre em erro de tipo Toma, então, providências para evitar a referida consumação,
um resultado e não ‘o’ resultado; b) dolo eventual: o sujeito essencial (pensa estar presentes elementares do tipo permissivo da com sucesso.
prevê o resultado e, embora não o queira propriamente atingi-lo, legítima defesa), o que exclui o dolo de sua conduta, subsistindo a A voluntariedade do sujeito é compreendida pelo fato de ele
pouco se importa com a sua ocorrência (‘eu não quero, mas, culpa, em face da evitabilidade do erro. figurar como dono da situação, tendo a liberdade em optar
se acontecer, para mim tudo bem, não é por causa deste risco 3.4. Culpa mediata ou indireta: ocorre quando o agente produz entre continuar ou não a sua conduta.
que vou parar de praticar minha conduta — não quero, mas indiretamente um resultado a título de culpa. Famosa a distinção “quero, mas não posso (tentativa); posso,
também não me importo com a sua ocorrência’). É o caso do mas não quero (desistência voluntária)”, atribuída a Frank.
motorista que conduz veículo em velocidade incompatível com 4. Graus de culpa: grave, leve e levíssima. Nos dois casos, apesar da desistência ou do arrependimento
o local e realizando manobras arriscadas. para evitar a consumação, se esta ocorre, o sujeito responde
Nélson Hungria lembra a fórmula de Frank para explicar o 5. Compensação de culpas: não existe no Direito Penal. Desse normalmente pelo crime consumado.
dolo eventual: “Seja como for, dê no que der, em qualquer modo, a imprudência do pedestre que cruza a via pública em local
caso não deixo de agir”. inadequado não afasta a do motorista que, trafegando na contra- Arrependimento
São também casos de dolo eventual: praticar roleta-russa, mão, vem a atropelá-lo. A culpa recíproca apenas produz efeitos
acionando por vezes o revólver carregado com um só cartucho quanto à fixação da pena, pois o art. 59 faz alusão ao “comportamento
Posterior
e apontando-o sucessivamente contra outras pessoas, para da vítima” como uma das circunstâncias a serem consideradas. A
testar sua sorte, e participar de inaceitável disputa automobilísti- culpa exclusiva da vítima, contudo, exclui a do agente (ora, se ela foi Art. 16, CP: “Nos crimes cometidos sem violência ou grave
ca realizada em via pública (“racha”), ocasionando morte. exclusiva de um, é porque não houve culpa alguma do outro; logo, se ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até
4.4. Dolo de dano: vontade de produzir uma lesão efetiva a não há culpa do agente, não se pode falar em compensação). o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário
um bem jurídico (CP, arts. 121, 155 etc.). do agente, a pena será reduzida de um a dois terços”.
4.5. Dolo de perigo: mera vontade de expor o bem a um perigo 6. Concorrência de culpas: ocorre quando dois ou mais agen­tes, Não há nenhuma relação estrutural com o arrependimento
de lesão (CP, arts. 132, 133 etc.). em atuação independente uma da outra, causam resultado lesivo eficaz. Tratamos aqui de uma causa de diminuição de pena para
4.6. Dolo genérico: vontade de realizar a conduta sem um fim por imprudência, negligência ou imperícia. Todos respondem pelos os crimes praticados sem violência ou grave ameaça dolosa
especial, ou seja, a mera vontade de praticar o núcleo da ação eventos lesivos. à pessoa, nos quais o prejuízo é reparado até o momento do
típica (o verbo do tipo), sem qualquer finalidade específica. recebimento da denúncia ou queixa. Para ter eficácia, deve
4.7. Dolo específico: vontade de realizar a conduta visando 7. Excepcionalidade do crime culposo: um cri­me só pode ser ser pessoal, voluntário e completo.
a um fim especial previsto no tipo. Nos tipos anormais, que punido como culposo quando houver expressa previsão legal (CP, É possível tanto nos crimes dolosos como nos culposos e,
são aqueles que contêm elementos subjetivos (finalidade es- art. 18, parágrafo único). No silêncio da lei, o crime só é punido na sua ocorrência, é uma causa obrigatória de diminuição da
pecial do agente), o dolo, ou seja, a consciência e a vontade a como doloso. pena de um a dois terços.
respeito dos elementos objetivos, não basta, pois o tipo exige,
além da vontade de praticar a conduta, uma finalidade especial
Crime Erro
do agente. Nos tipos penais vemos as frases “a fim de”, “com
o fim de”, “para” etc. Preterdoloso Jurídico-Penal
Erro de tipo: é o que incide sobre as elementares ou circuns­
Do Crime É aquele em que a ação causa um resultado mais grave que o
tâncias da figura típica, sobre os pressupostos de fato de uma
pretendido pelo agente. É um crime misto, cuja conduta é dolosa
Culposo e culposa. Dolosa por dirigir-se a um fim típico; culposa, por causar causa de justificação ou dados secundários da norma penal
outro resultado que não era objeto do crime fundamental, pela in­criminadora.
1. Culpa: é o elemento normativo da conduta. É a quebra inobservância do cuidado objetivo. O agente quer um minus e a sua 1. Erro essencial sobre elementar de tipo incriminador: é
do dever de cuidado objetivo decorrente da imprudência, da conduta produz um majus, de forma que se conjugam a ação dolosa o que faz o sujeito supor a ausência de elemento ou circuns-
negligência ou da imperícia. Imprudência: ação des­cuidada. (antecedente) e a culpa no resultado (conse­quente). tância da figura típica incriminadora ou a presença de requisi-
Implica sempre um comportamento positivo; negli­gência: Consoante reza o art. 19 do Código Penal, o agente somente tos da norma permissiva.
é a inação, inércia e passividade. Decorre de ina­tividade responderá pelo crime qualificado pelo resultado quando atuar ao Pode ser escusável (inevitável) ou inescusável (evitável). Se
material (corpórea) ou subjetiva (psíquica). Re­duz-se a um menos com culpa em sentido estrito com relação ao evento acrescido escusável, significa que não foi quebrado qualquer dever geral
comportamento negativo; imperícia: é a de­monstração de ao tipo fundamental. de cuidado na conduta do sujeito, ou seja, não é possível a
Link Acadêmico 4

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Espécies Conseqüências criminalidade, causas excludentes da antijuridicidade, causas
Inescusável Exclui só o dolo justificativas, causas excludentes da ilicitude, eximen­tes ou
Sobre elementares descriminantes). São normas permissivas, também cha­madas
Essencial Escusável Exclui o dolo e a culpa
Sobre circunstâncias Exclui a circunstância tipos permissivos, que excluem a antijuridicidade por permitirem
Erro Sobre o objeto material do crime a prática de um fato típico.
de tipo (error in persona e error in objeto) A lei penal brasileira dispõe que “não há crime” quando o agente
Sobre o modo de execução do crime Não traz qualquer conseqüência jurídica e pratica o fato em estado de necessidade, em legítima defesa,
Acidental em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular
(aberratio criminis e aberratio ictus) o sujeito responde pelo fato normalmente
Sobre o nexo causal de direito (art. 23 do CP). Além das normas permissivas da
(aberratio causae ou dolo geral) Parte Geral, existem algumas na Parte Especial, como, por
Exclui a culpabilidade exemplo, a possibilidade de o médico praticar aborto se não
Erro de Inevitável (ou escusável). hou­ver outro meio de salvar a vida da gestante ou se a gravi­dez
Não exclui a culpabilidade,
Proibição Evitável (ou inescusável) mas reduz a pena (1/6 a 1/3) resultar de estupro (art. 128, I e II, do CP); a ofensa irrogada em
juízo na discussão da causa, pela parte ou por seu procura­dor;
a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou cien­tífica
punição a título de culpa. e ofende outro, de espécie diversa. e o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em
Afastados o dolo e a culpa, não há tipicidade (princípio da Se o sujeito quer produzir um resultado criminoso, mas vem a pro- apreciação ou informação que preste no cumprimento de de­ver
culpabilidade). duzir outro, pela redação do art. 74 do CP, é possível que responda de oficio (art. 142, I, II e III, do CP) etc.
Se o erro for inescusável, significa que o agente rompeu com apenas pelo resultado produzido, na forma culposa, se previsível
o cuidado devido, e a tomada das cautelas exigíveis ordina- (resta excluída a punição pela tentativa do crime querido).
riamente teria evitado o resultado. A quebra de dever geral de Se os resultados forem múltiplos, o sujeito responderá por todos Estado de Necessidade -
cuidado é a essência do tipo culposo, o que significa que em em concurso formal.
tal hipótese será possível a incriminação do agente na forma 4.5. Erro quanto ao nexo causal (aberratio causae): quando há art. 24, CP
culposa, se prevista. divergência entre os meios e modos que o sujeito queria aperfeiçoar 1. Conceito: “Considera-se em estado de necessidade quem
É o clássico exemplo do caçador que, pensando tratar-se de para alcançar o resultado e aqueles que realmente provocaram a pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por
um urso, desfere um tiro que vem a atingir e matar seu amigo lesão. sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio
de caça, que carregava uma pele de urso. O caçador tem a Quando a alteração do curso causal é importante, mas o re-sultado ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável
equivocada percepção acerca da elementar matar alguém, pois é causado pelo sujeito em um “segundo ato”, chama-mos de erro exigir-se.” Segundo o art. 23, I, do CP, não há, nessa hipótese,
pensa que mata algo. Se a consciência é elemento do dolo, sucessivo, tratado na matéria “dolo geral”. É o caso de alguém crime; há uma causa excludente da antijuridicidade.
não há, no caso, dolo, daí a conclusão: o erro sobre elementar que é alvejado por um tiro, cai na água e morre afogado, e não em
de tipo incriminador sempre exclui o dolo. decorrência dos ferimentos. 2. Requisitos: a) ameaça a direito próprio ou alheio; b) exis-
2. Erro sobre circunstância (art. 20, CP): pode também recair Erro determinado por terceiro - art. 20, § 2º, CP: o erro po­de ser tência de um perigo atual e inevitável; c) inexigibilidade do
sobre uma circunstância qualificadora ou agravante genérica, espontâneo ou provocado por terceiro. No caso de erro determinado sacrifício do bem ameaçado; d) uma situação não provocada
que é o dado acessório da figura típica que orbita o tipo penal por terceiro, aquele que determina o agente em erro responderá voluntariamente pelo agente; e) inexistência do dever legal
e tem como função influir na dosagem da pena. Pode recair pelo resultado atingido. Se a provocação se deu a título de dolo, de enfrentar o perigo; f) conhecimento da situação de fato
sobre os pressupostos de fato de uma excluden­te da ilicitude, responderá na forma do­losa; se a título de culpa, na forma culposa. justificante.
como, por exemplo, a legítima defesa putativa, em que o sujeito, Se o erro é ine­vitável, o provocado por nada responderá, pois o
diante das circunstâncias de fato, supõe a existência de uma erro ine­vitável afasta o dolo e a culpa. Se o erro for evitável, po­derá 3. Excesso: excedendo-se o agente na conduta de preservar
agressão injusta. responder por crime culposo, se houver previsão. Se o provocado o bem jurídico, responderá por ilícito penal se atuou dolosa
percebe a realidade da situação, deixa de ha­ver erro provocado. ou culposamente.
3. Erro sobre descriminante: também chamado de erro sobre Link Acadêmico 5
pressuposto fático de causa excludente de antijuridi­cidade, 4. Exclusão do estado de necessidade: certas pessoas, por
descriminante putativa por erro de tipo ou, enfim, erro de tipo estarem encarregadas de funções que, normalmente, as co­
permissivo. Crime Impossível locam em perigo, não podem eximir-se da responsabilidade
Exemplo clássico de erro de tipo permissivo inevitável: João, pela conduta típica que praticarem numa dessas situações.
exímio atirador, jura de morte José, acusando-o de traição. Prevê o § 1º do art. 24 do CP: “Não pode alegar estado de
José compra uma arma para se defender e, tarde da noite, Apesar de buscar determinado resultado, o sujeito não é punido ne­ces­sidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo”.
depara-se com João em rua isolada. João coloca a mão na quando o meio escolhido ou o objeto material selecionado não Dever legal é aquele previsto em uma norma jurídica (lei, de­
cintura rapidamente, mas não antes de José, assustado, dispara permite concluir que houve lesão ou risco de lesão ao bem jurídico creto, regulamento etc.), o que inclui a obrigação funcional do
com a certeza de que se defende. Errando sobre a presença protegido pela norma penal. É chamado de quase-crime ou tentativa policial, do soldado, do bombeiro, do médico sanitarista, do
dos elementos do tipo permissivo, fica excluído o dolo. Consi- inidônea. capitão de navio ou aeronave etc. Responderão eles pelo cri­me
derando que não era exigida a cautela de aguardar a provável praticado para salvar direito próprio, embora presentes os re-
agressão para reagir, concluindo que o erro é inevitável, resta 1. Inidoneidade absoluta do meio: quando o meio escolhido não quisitos do estado de necessidade já assinalados, se esti­verem
excluída também a culpa. tiver qualquer possibilidade razoável de lesar o bem jurídico. É o caso enfrentando o perigo em decorrência de disposição legal.
Conforme a teoria limitada da culpabilidade, que, para a dou­ do agente que quer matar terceiro com o poder da mente. Por mais
trina brasileira, é a corrente seguida pela legislação pátria, o que se concentre, faça força e acredite em seu poder, não poderá ser
erro sobre tipo permissivo tem a mesma consequên­cia do erro punido por homicídio tentado, simplesmente porque não há qualquer
sobre elementar de tipo incriminador, ou seja: sempre exclui o chance de atingir o resultado. Como a vida do terceiro não correu Legítima Defesa
dolo. Se inevitável, exclui também a punição por crime culposo; nenhum risco, não há relevância penal no fato.
se evitável, permite a punição por crime culposo, se houver 1. Conceito: causa de exclusão da ilicitude que consiste em
previsão nesse sentido. Observação: quan­do o crime é punido a 2. Impropriedade absoluta do objeto: quando o objeto material não repelir injusta agressão, atual ou iminente, a direito próprio ou
título de culpa em razão de erro de tipo permissivo inescusável, reveste o bem jurídico protegido pela norma penal. Ex.: sujeito quer alheio, usando moderadamente os meios necessários. Não há,
classifica-se tal modalidade de culpa como im­própria. matar o vizinho; ao entrar em sua casa, este já está morto. Sem tal aqui, uma situação de perigo pondo em conflito dois ou mais
consciência, desfere vários tiros no corpo. Notem: o objeto material bens, na qual um deles deverá ser sacrificado. Ao contrário,
4. Erro de tipo acidental: o erro acidental pode ser dividido (corpo) não reveste o bem jurídico protegido pela norma (vida). Daí ocorre um efetivo ataque ilícito contra o agente ou terceiro,
em: a) erro sobre o objeto; b) erro sobre a pessoa; c) erro na a inviabilidade da punição, uma vez que o bem jurídico sequer foi legitimando a repulsa.
exe­cução (aberratio ictus); d) erro sobre o resultado (aberratio colocado em risco.
delicti); e e) erro sobre o nexo causal (aberratio causae). 2. Requisitos: a) agressão injusta; b) atual ou iminente; c)
4.1. Erro sobre o objeto (error in re): o agente se equivoca 3. Por obra do agente provocador, também chamado de delito a direito próprio ou de terceiro (no caso, teremos: legítima
quanto ao objeto material do crime, que é a própria coisa. de ensaio: quando o agente estatal estimula o mecanismo causal defesa própria: defesa de direito próprio; legítima defesa de terceiro:
Exemplo: sujeito furta CD do Led Zepellin em vez do CD do do fato, após ter tomado as providências que tornem impossível a defesa de direito alheio); d) repulsa com meios necessários; e)
Queen, ou vice-versa. Consequência: nenhuma. Não há qual- consumação. Se forem tomadas providências para que o bem não uso moderado de tais meios; f) conhecimento da situação
quer repercussão típica. Assim, o sujeito responde da mesma seja sequer colocado em risco, não há como se falar em crime. É o justificante.
forma pelo crime praticado. flagrante preparado ou provocado.
4.2. Erro sobre a pessoa (error in persona) – art. 20, § 3º, A Súmula 145 do Supremo Tribunal Federal assinala que: “Não há 3. Legítima defesa sucessiva: é a repulsa contra o ex-
CP: Sujeito atinge pessoa diversa da pretendida, confun- crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível cesso.
dindo-a com a vítima. Responderá como se tivesse acertado a sua consumação”.
quem queria. 4. Legítima defesa putativa: é a errônea suposição da existên-
4.3. Erro na execução (aberratio ictus) – art. 73, CP: por cia da legítima defesa por erro de tipo ou de proibição. Só existe
falha na execução (falha de mira, equívoco na seleção dos Antijuridicidade na imaginação do agente, pois o fato é objetivamente ilícito.
meios), o sujeito vem a acertar pessoa diversa da que queria.
É a aberração no ataque ou o desvio do golpe. Não exclui 1. Conceito: é a contradição entre uma conduta e o ordena- 5. Legítima defesa subjetiva: é o excesso derivado de erro
a tipicidade do fato. A consequência varia de acordo com o mento jurídico. O fato típico, até prova em contrário, é um fato que, de tipo escusável, que exclui o dolo e a culpa.
número de lesões produzidas: se há resultados múltiplos, ajustando-se ao tipo penal, é antijurídico. Existem, entretanto, na lei
responde pelos resultados produzidos em concurso formal. penal ou no ordenamento jurídico em geral, causas que excluem a 6. Legítima defesa e tentativa: é perfeitamente possível,
Pela regra do art. 70 do CP, remetida pelo art. 73, 2ª parte do antijuridicidade do fato típico. Por essa razão, diz-se que a tipicidade pois, se é aplicável aos crimes consumados, incompatibilidade
CP, se forem desígnios autônomos, aplicar-se-á a regra do é o indício da antijuridicidade, que será excluída se houver uma causa alguma haveria com os tentados.
cúmulo material do art. 69 do CP. que elimine sua ilicitude. É um juízo de desvalor que recai sobre a
4.4. Erro quanto ao resultado – resultado diverso do pretendi- conduta típica. É a contradição do fato, eventualmente adequado 7. Excesso: doloso ou consciente: ocorre quando o agente,
do (aberratio criminis) – art. 74, CP: significa desvio do crime. ao modelo legal, com a ordem jurídica, constituindo uma lesão a ao se defender de uma injusta agressão, emprega meio que
Na aberratio ictus – erro de execução -, está presente a figura um interesse protegido. sabe ser desnecessário ou, mesmo tendo consciência de sua
persona in personan: quer atingir uma pessoa e ofende outra, desproporcionalidade, atua com imoderação. Ex.: após o pri-
ou ambas. Na aberratio criminis, há erro na execução do tipo 2. Exclusão da antijuridicidade: o Direito prevê causas que meiro tiro, que fere e imobiliza o agressor, prossegue na reação
persona in rem ou a re in personan: quer atingir um bem jurídico excluem a antijuridicidade do fato típico (causas excludentes da até a sua morte. Em tal hipótese, resta caracterizado o excesso

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doloso em virtude de o agente consciente e deliberadamente muro, pontas de lança, grades etc., que representam uma resistência dispositivos legais distintos. Exs.: aborto (a gestante estará
valer-se da situação vantajosa de defesa em que se encontra normal, natural, prevenindo uma violação ao direito protegido. incursa no art. 124 do CP e o terceiro, no art. 126 do CP);
para, desnecessariamente, infligir ao agressor uma lesão mais As defesas mecânicas predispostas, por sua vez, encontrar-se-iam corrupção (o corrupto pratica corrupção passiva e o corruptor,
grave do que a exigida e possível, impelido por motivos alheios ocultas, ignoradas pelo suposto agressor, como, por exemplo, armas corrupção ativa).
à legítima defesa. automáticas predispostas ou qualquer tipo de armadilha pronta para
7.1. Consequência: constatado o excesso doloso, o agente disparar no momento da agressão. 3. Autor: aquele que realiza a conduta nuclear (conceito restrito
res­ponde pelo resultado dolosamente. As offendiculas, segundo Aníbal Bruno, incluem-se na excludente do de autor). Partícipe: quem concorre para a conduta do autor,
exercício regular de direito. Para Assis Toledo, seguindo a orientação auxiliando-o material ou moralmente (mediante induzimento
8. Hipóteses de cabimento: a) legítima defesa contra agres- de Hungria e Magalhães Noronha, as offendiculas localizam-se ou instigação). Para a teoria do domínio do fato, autor é
são injusta de inimputável; b) legítima defesa contra agressão melhor no instituto da legítima defesa, onde a potencialidade lesiva quem tem o controle final do fato (poder de decisão quanto
acobertada por qualquer outra causa de exclusão da culpa- de certos recursos, cães ou engenhos será tolerada quando atingir ao cometimento do crime), ainda que não pratique a conduta
bilidade; c) legítima defesa real contra legítima defesa putativa; o agressor e censu-rada quando o atingido for inocente. nuclear. Aplica-se, sobretudo, aos casos de autoria mediata,
d) legítima defesa putativa contra legítima defesa putativa; e) A decisão de instalar os ofendículos constitui exercício regular de considerando autor a pessoa que se utiliza de terceiro como
legítima defesa real contra legítima defesa subjetiva; f) legítima direito, isto é, exercício do direito de se autoproteger. No entanto, mero instrumento de sua vontade.
defesa putativa contra legítima defesa real; g) legítima defesa quando reage ao ataque esperado, inegavelmente estará constituída
real contra legítima defesa culposa. a legítima defesa preordenada. 4. Participação de menor importância: aquele que prestar
Link Acadêmico 6 colaboração de pouca relevância causal no resultado terá a
9. Hipóteses de não-cabimento da legítima defesa: a) legí- pena reduzida de um sexto a um terço (art. 29, § 1º, do CP).
tima defesa real contra legítima defesa real; b) legítima defesa
real contra estado de necessidade real; c) legítima defesa real Culpabilidade 5. Participação dolosamente distinta: se um dos concorren-
contra exercício regular de direito; d) legítima defesa real contra tes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á imposta
estrito cumprimento do dever legal. É que, em nenhuma dessas 1. Conceito: é o juízo de censurabilidade e reprovação exercido essa pena, aumentada até metade, se o resultado era previsível
hipóteses, havia agressão injusta. sobre alguém que praticou um crime. A possibilidade de se considerar (art. 29, § 2.°, do CP).
alguém culpado pela prática de ação infracional.
Estrito Cumprimento Comunicabilidade e Inco-
2. Elementos
de Dever Legal 2.1. Imputabilidade: capacidade de entender o caráter ilícito do fato municabilidade de Elemen-
e de ter controle sobre sua vontade. Dois momentos, portanto: de tares e Circunstâncias
Quem pratica uma ação em cumprimento de um dever imposto intelecção e de vontade.
por lei não comete crime. Ocorrem situações em que a lei 2.2. Potencial consciência da ilicitude: trata-se do conhecimento
im­põe determinada conduta, que, embora típica, não será ilí­ de que o fato é proibido. Tem consciência da ilicitude quem pratica 1. As circunstâncias subjetivas ou de caráter pessoal jamais
cita, ainda que cause lesão a um bem juridicamente tutelado. o fato sabendo que faz coisa errada (proibida). Não se confunde se comunicam. Exemplo: reincidência.
Nessas circunstâncias, isto é, no estrito cumprimento de com o desconhecimento da lei, que corresponde à noção do que
dever legal, não constituem crime a ação do carcereiro que diz o texto legal. 2. As circunstâncias objetivas comunicam-se, desde que o
encarcera o criminoso, do policial que prende o infrator em 2.3. Exigibilidade de conduta diversa: a imposição de pena requer co-autor ou partícipe delas tenha conhecimento.
flagrante delito etc. que o agente tenha tido condições de atuar de modo diverso. Isso
Reforçando a licitude de comportamentos semelhantes, o Có- não ocorre quando ele é obrigado a praticar o fato sob coação moral 3. As elementares, objetivas ou subjetivas, se comu-
digo de Processo Penal estabelece que, se houver resistência, irresistível ou obediência hierárquica, i.e., em cumprimento de ordem nicam, desde que o co-autor ou partícipe delas tenha
poderão os executores usar dos meios necessários para se de autoridade superior não manifestamente ilegal. conhecimento.
defenderem ou para vencerem a resistência (art. 292 do CPP). Link Acadêmico 7
No entanto, dois requisitos devem ser estritamente observados 3. Excludentes de imputabilidade
para configurar a excludente: a) doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado: gera aplicação de medida de segurança (absol­vição
1. Estrito cumprimento: somente os atos rigorosamente ne- imprópria). Exige-se que o sujeito, ao tempo do fato e por influência
cessários justificam o comportamento permitido; da doença mental ou do desenvolvimento men­tal incompleto/retar-
dado, tenha suprimida a capacidade de entender o caráter ilícito da
2. De dever legal: é indispensável que o dever seja legal, isto conduta ou de se controlar. Se tais capacidades forem reduzidas, o
é, decorra de lei, não o caracterizando obrigações de na­tureza agente será considerado semi-imputável; b) menoridade: aplica-se
social, moral ou religiosa. A coleção Guia Acadêmico é o ponto de partida dos es-
o ECA (Lei 8.069/90). A idade deve ser aferida ao tempo da conduta
A nor­ma da qual emana o dever tem de ser jurídica, e de cará- e não do re­sultado; c) embriaguez completa e involuntária, em tudos das disciplinas dos cursos de graduação, devendo
ter geral: lei, decreto, regulamento etc. Se a norma tiver caráter caso for­tuito ou força maior: o agente será absolvido (absolvição ser complementada com o material disponível nos Links
particular, de cunho administrativo, poderá configurar a obediência pró­pria). Será preciso supressão das capacidades de enten­di­mento e e com a leitura de livros didáticos.
hierárquica, art. 22, 2ª parte, do CP, mas não o dever legal. autodeterminação. Se houver redução dessas capa­cidades, o agente
Esta norma permissiva não autoriza, contudo, os agentes do será considerado semi-imputável. Quando a embriaguez for voluntá- Processo de conhecimento – 2ª edição - 2009
Esta­do a matar ou ferir pessoas apenas porque são marginais ria, o agente responderá pelo crime, desde que o resultado produzido
ou estão delinquindo ou estão sendo legitimamente perse- seja considerado previsível (teoria da “actio libera in causae”). Coordenador:
guidas. A própria resistência do eventual infrator não autoriza
Carlos Eduardo Brocanella Witter, Professor universitário
essa excepcional violência oficial. 4. Critérios de aferição da imputabilidade
Se a resistência — ilegítima — constituir-se de violência ou e de cursos preparatórios há mais de 10 anos, Especia-
a) sistema biológico: interessa saber se o agente é portador
grave ameaça ao exercício legal da atividade de autoridades de alguma doença mental ou se tem o desenvolvimento mental lista em Direito Educacional; Mestre em Educação e Se-
públicas, configurada estará uma situação de legítima defesa, incompleto, caso em que será considerado inimputável, inde- miótica Jurídica; Membro da Associação Brasileira para
permitindo a reação dessas autoridades, desde que empre- pendentemente de qualquer verificação concreta de essa anomalia o Progresso da Ciência; Palestrante; Advogado e Autor
guem moderadamente os meios necessários para impedir ter retirado a capacidade de entendimento ou autodeterminação; b) de obras jurídicas.
ou repelir a agressão. Mas, repita-se, a atividade tem de ser sistema psicológico: não se verifica com a existência de doença
legal e a resistência com violência tem de ser injusta, além da mental, mas apenas se, no momento da infração, ele tinha ou não Autor:
necessidade da presença dos demais requisitos da legítima condições de entender o caráter ilícito do fato e de ter controle sobre Antônio Carlos Lorenzetti, Promotor de Justiça e Profes-
defesa. Será uma excludente dentro de outra. sua vontade; c) sistema biopsicológico: é uma combinação dos sor de Direito Penal
dois sistemas anteriores, exigindo que a causa geradora (doença
Exercício Regular mental ou desenvolvimento mental incompleto) esteja prevista em lei
A coleção Guia Acadêmico é uma publicação da Memes
e que atue efetivamente no momento do crime, retirando do agente a
de Direito condição de entender o caráter ilícito do fato e de ter controle sobre Tecnologia Educacional Ltda. São Paulo-SP.
sua vontade, tornando-o inimputável. Esse foi o sistema adotado Endereço eletrônico: www.memesjuridico.com.br
O exercício de um direito, desde que regular, não pode ser, ao pelo Código Penal no art. 26, “caput”. Todos os direitos reservados. É terminantemente proibida
mesmo tempo, proibido pelo Direito. Regular será o exercício Os requisitos da inimputabilidade, segundo o sistema biopsicológico, a reprodução total ou parcial desta publicação, por qual-
que se contiver nos limites objetivos e subjetivos, formais e são causal (doença mental ou desenvolvimento mental incompleto), quer meio ou processo, sem a expressa autorização do
materiais impostos pelos próprios fins do Direito. cronológico (atuação ao tempo do crime) e consequencial (perda autor e da editora. A violação dos direitos autorais carac-
Fora desses limites, haverá o abuso de direito e estará, portan­ total da capacidade de entender e desejar o crime), havendo inim- teriza crime, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.
to, excluída essa causa de justificação. O exercício regular de um putabilidade se somente os três elementos estiverem presentes,
direito jamais poderá ser antijurídico. Deve-se ter pre­sen­te, no com exceção do sistema biológico, quando o agente tem menos
entanto, que a ninguém é permitido fazer justiça pe­las próprias de 18 anos de idade.
mãos, salvo quando a lei o permite, art. 345 do CP.
Constituem exercício regular de direito as intervenções
cirúrgicas e médicas, a violência esportiva, quando o esporte Concurso de Pessoas
é exercido dentro dos limites da disciplina que o regulamenta,
a defesa da posse pelo desforço imediato.
1. Requisitos: a) pluralidade de agentes; b) relevância causal da
1. Ofendículos: são as defesas predispostas, que, em regra, conduta; c) vínculo subjetivo ou concurso de propósitos; d) unidade
constituem dispositivos ou instrumentos cujo objetivo é impedir de infração.
ou dificultar a ofensa ao bem jurídico protegido (patrimônio,
domicílio ou qualquer outro bem jurídico). 2. Regra: todo aquele que concorre para o crime incide nas penas
Há, no entanto, autores que distinguem os ofendículos da de- a ele cominadas, na medida de sua culpabilidade (art. 29, caput,
fesa mecânica predisposta. Os ofendículos seriam perce­bidos do CP) - teoria monista ou unitária. Há casos de adoção da teoria
com facilidade pelo agressor, como fragmentos de vidro sobre o pluralista, em que cada um dos concorrentes é enquadrado em

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