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Anarquismo no Brasil

Talvez uma das primeiras experiências anarquistas do mundo, antes mesmo de ter sido
criado o termo, tenha ocorrido nas margens da Baía de Babitonga, perto da cidade histórica
de São Francisco do Sul. Em 1842 o Dr. Benoit Jules Mure, inspirado na teorias de Fourier,
instala o Falanstério do Saí ou Colônia Industrial do Saí, reunindo os colonos vindos de
França no Rio de Janeiro em 1841. Houve dissidências e um grupo dissidente, à frente do
qual estava Michel Derrion, constituiu outra colônia a algumas léguas do Saí, num lugar
chamado Palmital: a Colônia do Palmital.

Mure conseguiu apoio do Coronel Oliveira Camacho e do presidente da Província de Santa


Catarina, Antero Ferreira de Brito. Este apoio foi-lhe fundamental para posteriormente
conseguir a ajuda financeira do Governo Imperial do Brasil para seu projeto.

O anarquismo no Brasil ganhou força com a grande imigração de trabalhadores europeus


entre fins do século XIX e início do século XX. Em 1889 Giovani Rossi tentou fundar em
Palmeira, no interior do Paraná, uma comunidade baseada no trabalho, na vida e na
negação do reconhecimento civil e religioso do matrimônio, (o que não significa,
necessariamente, "amor livre"), denominada Colônia Cecília. A experiência teve curta
duração.

No início do século XX, o anarquismo e o anarcossindicalismo eram tendências


majoritárias entre o operariado, culminando com as grandes greves operárias de 1917, em
São Paulo, e 1918-1919, no Rio de Janeiro. Durante o mesmo período, escolas modernas
foram abertas em várias cidades brasileiras, muitas delas a partir da iniciativa de
agremiações operárias de inclinação anarquista.

Alguns acreditam que a decadência do movimento anarquista se deveu ao fortalecimento


das correntes do socialismo autoritário, ou estatal, i.e., marxista-leninista, com a criação do
Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1922 participada inclusivamente, por ex-
integrantes do movimento anarquista que, influenciados pelo sucesso da revolução Russa,
decidem fundar um partido segundo os moldes do partido bolchevique russo.

Porém, esta posição, sustentada por muitos historiadores, vem sendo contestada desde a
década de 1970 por Edgar Rodrigues (anarquista português naturalizado no Brasil,
pesquisador autodidata da história do movimento anarquista no Brasil e em Portugal), e
pelos recentes estudos de Alexandre Samis que indicam que a influência anarquista no
movimento operário cresceu mais durante este período do que no já fundado (PCB) e só a
repressão do governo de Artur Bernardes, viria diminuir a influência das idéias anarquistas
no seio do movimento grevista. Artur Bernardes foi responsável por campos de
concentração e centros de tortura, nos quais morreram inúmeros libertários, sendo que o
pior de tais campos foi o de Clevelândia, localizado no Oiapoque. Edgar Rodrigues
apresenta em várias de suas obras as investidas de membros do PCB que, procurando
transformar os sindicatos livres em sindicatos partidãrios e conquistar devotos às idéias
leninistas, polemizavam em sindicatos e jornais, chegando a realizar atentados contra
anarquistas que se destacavam no movimento operário brasileiro, durante a década de 1920.

Provavelmente devido aos problemas de comunicação resultantes da tecnologia da época,


os anarquistas só terão compreendido a revolução russa de forma mais clara, a partir das
notícias de célebres anarquistas, como a estadunidense Emma Goldman, que denunciara as
atrocidades cometidas na Rússia em nome da ditadura do proletariado. Seria a partir deste
momento histórico que se definiria a posição tática do anarquismo perante os socialistas
autoritários no Brasil, separando a confusão ideológica que reinava em torno da revolução
russa, identificada pelos anarquistas inicialmente como uma revolução libertária. Esta ideia
seria depois desmistificada pelos anarquistas, que acreditam no socialismo sem ditadura,
defendendo a liberdade e a abolição do Estado.

Para Rômulo Angélico, foi durante o governo de Getúlio Vargas que o anarcossindicalismo
recebeu seu golpe de morte, devido ao surgimento dos sindicatos controlados pelo Estado e
as novas perseguições estatáis. Até a primeira metade da década de 1930, no entanto, o
anarquismo permaneceu a idelogia mais influente entre os operários brasileiros.

Durante o Regime Militar (1964-1985), as principais expressões anarquistas no Brasil


foram o Centro de Estudos Professor José Oiticica, no Rio de Janeiro, o Centro de Cultura
Social de São Paulo e o Jornal O Protesto no Rio Grande do Sul. Todos foram fechados no
final da década de 1960, mas seus militantes continuaram se encontrando clandestinamente,
publicando livros e se correspondendo com libertários de outros países. na década de 1970
surge na Bahia o jornal O Inimigo do Rei, impulsionando a formação de novos grupos
anarquistas, atráves das editorias autogestionárias, em várias partes do Brasil. No Rio
Grande do Sul, nos anos oitenta, cria-se na cidade de Caxias do Sul, o Centro de Estudos
em Pesquisa Social- CEPS, voltado para o trabalho social. No ano de 1986, na cidade de
Florianópolis, é realizada a Primeira Jornada Libertaria com o lançamento das bases para a
reorganização da Confederação Operária Brasileira - COB/AIT e a organização dos
anarquistas.

O anarquismo, mesmo com a repressão, renasce, em meio aos estudantes, intelectuais e


trabalhadores.

você pode ver na internet um livro de Edgard Leuenroth "Anarquismo roteiro da libertação
social" publicado na década de 60 pela editora mundo livre feita pelo CEPJO.

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