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RETORICAS Chaim Perelman Tau [MARIA ERMANTINA GAL VAD G. PEREIRA Martins Fontes S30 Fouts 1999 Apresentagdo, de Mickel Meyer. vu A LINGUAGEM: PRAGMATICA E DIALOGICA, Capitulo 1 —Dialétia edilogo, 3 Capitulo tf -O argumento pragmitied u Capitulo It Ter um sentido edarum sentido. 2B Capitulo IV ~O métoda dalético eo pape do inter 4106101090. a LOGICA OU RETORICA? Capitulo 1 Logica retrica so 3 Capitalo 11 —Logica,linguagem e comunicagao. 3 Capitulo I —Asmnogies a argumentaao, 105 FILOSOFIA E ARGUMENTACAO, FILOSOFIA DA ARGUMENTACAO Capitulo 1 —Filosofiasprimeiasefilosofiaregressiva 131 Capitulo I~ Evidénciaeprova CCapiala Ill Juizos de valor, jusiicagaoe argumen tagio. Capitulo IV —Retéricas filosofia Capitulo V—Classicismo e romantisme na argumen: ‘acto, Capitulo VI- Filosofia e argumentagao. ‘Capitulo Vil - Uma teoia filoséfica da argumentagao Capitulo VIIL- Ato e pessoa na argumentagso Capitulo IX Liberdade e raciinio. Capitulo X— A busca do racional. Capitulo XI~Da prova em filsofia, Capitulo XIL—Resposta a uma pesquisa sobre a metai- Capitulo XII -O real comum eo real flséfico, (QUARTA PARTE ‘TEORIA DO CONHECIMENTO Capitulo 1~ Sociologia do conhesimento efilosoa do ‘conheciment Capitulo Os fmbitos socais da argumentasao. ‘Capitulo I Pesquisas imerdiseiplinares sobre a argu- mentago. Capitulo IV Analogiae metiforaem cigncia,possiae Filosofia Capitulo VO papel da decisto na teria do conheci- mento Capitulo VI-Opinidese verdad. Capitulo: VI Da temporlidade como caractristica da angumentago, Notas: 153, 167 7 187 199 207 219 249 2s 265 2s 29 293 303 333 a3 ur 359 369 395 Apresentagao Perelman tinha o hibite de publicarregularmente suas conferéncis ¢ seus artigos em volumes onde se misturavam suas diferentes dreas predicts, ais como, entre outras 0 direi- toe. historia, Assim & que foram publicads sucessivamente Bhétorigue et philosophie (1952), Justice et raison (1963) € Le champ de Vargumentation (1970). Embora tal apresentagio ‘ermita seguir a evolugdo do pensamento, seu incoaveniente € 1 pera de sistematizagio, Logo, pareceu-nos itil hoje, eto- ‘mar todas essascoletineaseagrupar seus texts fundamentals por grandes ems. Este volume das Obras do Perlman di respeito & rt «a, a0 modo como ele ava, sua relagdo coma liguagem, com 4 dpa © com conhecimento em geral. Mas, também, 30 lugar que ccupa na histéria da flosofia, um lugar continua mente negado e que Perelman empenhou-se, ao longo de toda a ‘a vida, em restaurar, sem esquecer de explicaro que motiva- ‘0s filésos, desde Plato, a ata aretérica come disiplina secundiria ou perigosa Michel Meyer PRIEIRA PARTE A linguagem: pragmitica e dialégica Dialética e diélogo* Nos paises de lingua francesa e ingles, e até depois da Segunda Guerra Mundial, a nogo de daléties era considerada ‘com desconfiang, No Focabulirio tenico e eritio da floso- ‘ia (verbete “Dialética, edgdo de 1947), depois de precisar- The os dversossentids, A. Lalande conclu com a observagio “Esta palavrarecebeu acepgbes lo diversas que apenas pode ser uiimente utiliza indicando-se com preciso em que sen- tido €entendida.Cabe desconfar, mesmo sob essa reserva, das assocagdes improprias que se correo risco de provocar” Por ocasifo das pastas organizadas por F.Gonseth de- icadas, em abil de 1948, dia de diaéca, 0 saudoso log ‘co holand&s F, Beth, depois de haver apreseniado um novel relatrio sobre a5 relages da dialética com lies, terminow ‘ua exposigdo com ua concTusio que pleiteava contra a rein- trodugio da palavra “daltica” na terminologia da filosofia sientitiea A dialsca de Plato ramifcu se, logo em sa orier, mn tes doutinas epradn, ds quis omen uma desevolveu'se de uma forma reine continua, de modo qe stslment ap asa liga consti ama eostroto slid cua imparinia ato pensamena cen ja a podria sesevameate posta fm divda, A ae de dsc ea mealsia, em comtaparia, rosa de forma manifesta a5 eformidaes da vehiceepre= Pulido in Hormel and Dil, Tings JCB Mee torso gp 778 4 RETORICAS ‘em estar conden ncorporar-se na gic. Em conseqhé a, paree-ne ioporuno tet reiodurir 0 temo “Sal a” ba terminologia da filosofa cine, tanto mas ue a ‘emo fo no palvreao de certs ecole isis, acado 1 pretemesparicularmenteamicions, neapaze de real ‘arn campo do pesament centico ‘A attude de Beth & conforme com a da mairia dos logi- «08 contempordneos que foram levades, aa escira de Kant ¢ {dos matemiticos que tanto contribuiram para a renovagao da Jogica moderna, a reduzi-la a logica forma, sendo todas as consideragdes no formais encerradas na prcologia ou aa epistemologia, Mas, ainda que se reconhega a legitimidade do estudo dos aspectos no formals do reciocinio, seri mesmo preciso fazer da daltica uma formula vazia ¢ pretensios, om resposta tudo, que se mete em toda parte em que hi nogaclo, cotredizdo, incompatibilidade,oposig,interasio, adapagio, condcionamento ou mesmo mdanca? & em todos ‘esses sentidos,e em alguns outros também, que essa palavra foi uilizada nas Atas do Congresso de Nice, deicado i dalé- tic Pode-se justificar,a rigor, uios analgicos da nogio de Aialética, mas eontnto que se comece por indcar 0 sentido Primitivo do termo, do qual 0 outosdervariam de modo mais ‘9u menos dreto. Ora, a esse respite, no ha diva alguma: 0 sentido origina, aque de que todos os outros dependem,refe- reese arte do didlogo, 0 fato 6 atstadondo 86 pela etimolo- a, mas também por textos expliitos de Plato. Assim € que tle define odialéico como quem sabe interogare responder (Cratlo, 3902), quem & capaz de provar as tesesformuladas pelo interlocutor ede refutar as objegdes que se oper is suas So espiitoertco que di provas de seu dominio ao questionar (08 outos © a0 fornecerrespostassaisfaéras as suas pergun- tas E nese sentido que Zento, Séerates eo Parménies posto «emcena por Plato so dialticos, endo exerce sua dalética partindo de uma tese do adver- trio © mostrando que ela incompativel com outas tses ALINOUAGEM: PRAGMATICAFDIALOGICA 5 jgualmenteaccitas pelo adversiio. orgando-o a reconecer essa incompatibilidade, Zeno obriga 0 interlocutor a fazet enunciando a tee que menospreza. Assim tam- bbém, Sderates, em sua busca de definiges satsftria,etica as tentativas de deinigo dese interlocutor, mostrando que as AefinigBes propostas io incompativeis com afimagBes,erem- {28 ou tess que parecem mais seguras. ara Plaido, 0 metafsico, a diléica€ apenas um métedo para tanscendet as hipSteses, para chegar ao absoluto, mas essas teses no hipottcas devem ser grants por uma iti {lo evidene, A dialtica sozinha no pode fundamentélas €, {quando a evidéncia thes fornece umm findamentosuficent, a Aialéticatorma-se supérfua: critica mas no constutva, ‘Como assinalov o professor Joseph Moreau, objeto pré- prio da diléica platénica & a discussto sobre os valores. Um Passagem do Eutffon To-d) é muito explcita a ese respeito serk ques tvésemas ua diversi, ¢ eprops de numerao, sobre 0 pono e saber qu, de dias somas de css, €a mas fone, nossa diverpécia a esse reset ns tr via inimigs eno efureceia um contra 0 oats? Ot nto, serk que, ecorrendo a um eieulo, ado porams rapidamene, Sobre as guestes dese gEacro fim a divergéaci? Sim, cm ‘oda cetera ~ Mas, ds mesma forma a erpeito domo edo menor, © tvéssones una dvergéaca, recorendo 3 medi to cesariamos bem depress deer uma opin diferente?“ E ato. E recorendo a pesagem, no chepariamos a um acor- Ao, se no estou enganado, quanto a0 mais pesado ¢ 20 mais eve? ~ Comets, como nega? Ora, sobre o qu oss divergécia vera porunto exis, em que caso slarosicapaes de conseguir chepe tun 3C0F opaque, a verdad, senaeros umconta ooo ini. dee blr? Talveenio cotedas de ito cos; ms ove ‘dome dita xamion seo presente bts de dverpicia lo soo que justo co qur€ijusto, ele fe, eme mas no 4 pops de nasa dvergéncias sobre iso © por eats de oss incapocidade de, nese casos, chegr aun acolo gus nos ‘ornamos nmlgos uns dos otros guano noo tramos, nt ‘uquinioeve,natoaldade, oresto dos homens? 6 Rerontcas Quando existe um cfitéio, 0 céleulo ov a experiéncia, para dirimir as contendas, as discusdes Sio supfluas ea di Tética no esti em seu lugar. Ao contri, ela ¢ indispensivel ra auséncia de tl ert, quando nio est ndo pode pr fim 9 desacordo mediante ténicas acct ‘0s raciocniosdialéticos, no Parménides de Plato, con- ‘luemy, opondo-as a teses de senso comum, ela rejegio tanto dds hipoteses examinadas quanto de sua negasio: fornecem ‘assim um modelo pare a dialtca transcendental de Kant © para o raciocnio por absundo por ela auterizado. Com efit, Se ates ea anttese podem ser afirmadas simultaneamente,€ de forma contraditiri, tal contadigdo revela a exstincia de ‘uma proposic fs, que fi pressuposta deforma pouco ex ‘A originalidade da dilética transcendental em Kant € que ‘lo Slo interlocuores diferentes que defendem um atese © 0 ‘outro a ants se Tosse ese 0 caso, estas seriam apenas a ex- preisio de opinides que, com uma critica previa, Kant exci ‘do campo da filosofs. Para ele, a tee ea antitese sio ambos necessrits, expresso de uma fazio que ultrapasa os limites do conbecimento legit: essa luo natural razo obriga- ros a um exame ertico das premissas implictas em que cosas tem sie fendmenos se encontram confundidos. A eliminagao ‘essa confso, gragas ao crieismo, permite a Kant presen- ti-lo como wma sintese que nfo di ganho de causa a dogm: tismo nem ao cepticismo, duas conseqléncias anttéticas da ‘onfuso entre cosas em sie fendmenos. Observes a esse respeito, que a sintese apresentada no resulta de um movi- mento dialtico,automitico ¢impessoal, mas de um rasgo ge- nial de Kant, que o deixava muito ongulhos. Para Arstteles, ialéico & um adjtvo aplicivel aos raciociios. O raciocinio dilético nio &, como 0 raviocinio ‘nalitico, um rciocinio necessro que irs Sua vaidade de sua ‘onformidade fs leis da lgiea formal Neste timo, ous pre rissa sho verdadeias,e esse caso a coreso do raciocinio tarante a verdade da conclusio, ov sto ipotéicas,e eno a ‘cancusio também &hipotétiea, a nfo ser que o raciacinio che- AUINGUAGEM: PRAGMATICAE DILBGICA 1 ‘gue a uma conclusioinexata, 0 gue permits, se oracioenio for correto,concluie pela inexatdio de pelo menos uma das remisas. raciocinio diléico tem um cariter dstntvo quando ‘no & formalmentevaldo, mas somente verossimil ou raco nal, al como o racioenio pelo exemplo, Mas eno, para consi-

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