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Contrato estimatorio.

Partes: consignante: entrega o bem / consignante: vende o


bem / adquirente: compra o bem.
Nao existe relacao entre o adquirente e o consignante. O
prazo pode ser acordado entre as partes (o consignante nao
pode pegar seu bem antes do prazo, porem as partes
podem definir o contrario em contrato). No caso de omissao
no contrato, o consignante pode reaver o seu bem
mediante notificação.
Classificação: tipico (pois tem previsao legal), bilateral (pois
as duas partes tem obrigação),
1. Da prática negocial rumo à consagração legislativa
Uma das novidades do Código Civil de 2002 é a tipificação do contrato estimatório (1),
denominação recebida principalmente do direito italiano. No Brasil, a prática negocial o
construiu sob a designação imprópria de "venda em consignação". É imprópria porque não
é espécie do gênero compra e venda nem cláusula especial deste contrato.
Os artigos 534 a 537 reproduzem, em grande medida, os artigos 1.556 a 1.558 do Código
Civil da Itália, transplantando para o direito brasileiro as controvérsias que ainda hoje
continuam desafiando a doutrina daquele país. O art. 534 copia quase literalmente o art.
1.556 do Código italiano, dedicado à noção desse peculiar contrato. A casuística dos
tribunais brasileiros poderia ter sido melhor considerada pelo legislador, ainda que se
aproveitasse a valiosa experiência estrangeira.
O Código Civil de 1916 dele não cogitou, mas deve-se lembrar a tentativa histórica de
elevá-lo à tipicidade legal devida a Teixeira de Freitas, no século XIX. No "Esboço" (2),
Teixeira de Freitas destinou os arts. 2.105 a 2.108, tendo optado pela denominação "venda
com cláusula estimatória", como espécie de cláusula especial da compra e venda. Eram
efeitos da cláusula estimatória, muito próximos dos que adotou o Código Civil de 2002: a)
o consignante não poderia exigir a restituição antes do encerramento do prazo e os riscos
correriam contra ele; b) o consignatário teria direito a todos os frutos, e às acessões; c) o
domínio da coisa passaria para quem a recebeu, terminado o prazo, no caso de ter pago o
preço ajustado; d) terminado o prazo, o consignante poderia exigir a restituição da coisa,
se não tivesse sido alienada, além da indenização pelas deteriorações na coisa.
No contrato estimatório, o proprietário ou possuidor, denominado consignante, faz entrega
da posse da coisa a outra pessoa, denominado consignatário, cedendo-lhe o poder de
disposição, dentro do prazo determinado e aceito por ambos, obrigando-se o segundo a
pagar ao primeiro o preço por este estimado ou restituir a coisa. Há o intuito de alienar a
coisa, que um tem, e a livre disponibilidade, que tem o outro. O consignatário tem a posse
própria que se separou do proprietário ou consignante.

2. Teria sido previsto pelos antigos romanos?


Controverte a doutrina acerca da existência do contrato estimatório entre os romanos.
Para alguns a ação estimatória, referida nos textos do Digesto, abrangia mais situações
que o conteúdo atual do contrato estimatório. Para Nicolò Visalli (3), o contrato estimatório
não era ignorado pelo direito romano, sendo fontes significativas no Digesto: D.19, 3, 1 pr.
(Ulpiano); D. 19, 3, 2 (Paulo); D. 19, 5, 13 pr. (Ulpiano). Apesar da escassa precisão
desses fragmentos, entende o autor referido que "o contrato estimatório no direito romano
era concebido como uma convenção, com a qual alguém entregava uma coisa estimada a
um intermediário (circitor) e este se incumbia de pagar o preço fixado, se conseguisse
vendê-la, ou restituí-la (incorrupta) ao proprietário". Nesse sentido, a figura hodierna do
contrato estimatório seria oriunda do direito romano.

3. Características e aplicações
O contrato denomina-se estimatório tendo em vista a ênfase que se atribui à estimação do
valor da coisa feita pelo consignante (preço de estima) e à confiança que deposita no
consignatário. A autorização para venda não é essencial para a noção desse contrato, pois
o consignatário pode optar por adquirir a coisa para si ou simplesmente restituí-la. Não há
qualquer conseqüência jurídica pela não venda, seja por falta de empenho do
consignatário seja por não conseguir interessado em adquirir a coisa.
As partes do contrato são o consignante e o consignatário. No direito italiano esses termos
não são utilizados, preferindo a doutrina manter os termos genéricos tradens, no sentido
amplo de quem promove a tradição da coisa, e accipiens, no sentido de quem recebe a
coisa. O consignante é o proprietário da coisa, que possa dispor dela e transferir o poder
de disposição ao consignatário. Pode ser apenas o possuidor que não seja proprietário,
transferindo apenas o poder de disposição da posse. No direito brasileiro o apenas
possuidor não está impedido de transferir a posse, em virtude dos efeitos jurídicos que
emergem dessa situação de fato, ainda que não seja titular de direito real.
Nem sempre o consignante é empresa ou empresário. Pode ser um particular, a exemplo
do proprietário de veículo que o entrega em consignação à loja de revenda de automóveis
usados.
O contrato é útil para ambas as partes. O consignante não necessita de incumbir-se
diretamente da venda da coisa, ou porque não exerça atividade comercial, ou porque não
disponha de rede de negócios necessária para fazer chegar a coisa ou a mercadoria aos
destinatários, ou porque não queira promover essa atividade. Por seu turno, o
consignatário não necessitará investir recursos financeiros para promover sua atividade,
ou para obter o proveito que espera com a diferença para mais do preço estimado, com a
vantagem de poder devolver a coisa ao consignante se não conseguir encontrar
interessado em adquiri-la, sem custo adicional.
Sem embargo de ser mais apropriado para as relações mercantis, o contrato estimatório
pode ser concluído entre particulares, uma vez que o Código Civil não o restringiu às
hipóteses em que um dos figurantes seja uma empresa comercial. A natural vocação
comercial do contrato estimatório não exclui sua configuração quando celebrado fora do
mercado, entre sujeitos que não se enquadram como comerciantes. É a situação, por
exemplo, de quem entrega uma jóia a outro sujeito, para que consiga vendê-la a terceiro
que queira pagar, ao menos, o preço estipulado.
A atualidade do contrato estimatório é ressaltada por Tânia da Silva Pereira (4), nos
negócios de obras de arte e de jóias e pedras preciosas: "Um pintor de quadros
normalmente não costuma comercializar suas obras diretamente. Esta atividade em geral
é exercida pelas galerias de arte que têm meios de melhor acesso ao público comprador.
Estas galerias, em princípio, não dispõem de capital de giro que lhes permita adquirir todo
um acervo de um pintor para vendê-lo. Daí a eficiência desta forma de contrato que, em
linha geral, se caracteriza pela entrega de coisas móveis a outra pessoa com autorização
de alienar, mas com a ob rigação de restituí-las ao consignante, ou então pagar-lhe o
preço estipulado dentro de um certo prazo. (...) Da mesma forma, o comércio de jóias e
pedras preciosas utiliza-se desta modalidade contratual, o que permite chegar ao público
objetos de alto valor sem precisar o vendedor desembolsar grandes quantias para adquiri-
los para venda".

4. As controvérsias sobre sua natureza e o alcance das normas do Código Civil de


2002
No direito italiano, abriu-se longa discussão doutrinária desde o advento do Código Civil de
1942, acerca da natureza do contrato estimatório, uma vez que o contrato basta por si só
para transferir a propriedade, quando se trata de compra e venda, cuja importância termina
por obscurecer a autonomia dos demais contratos a ela próximos. "O problema se põe
porque o tradens resulta privado, em favor do accipens, seja do poder de disposição sobre
a coisa seja da posse dela: isso em forma irrevogável, porque, tendo em vista a previsão
do art. 1.558 do Código Civil, aquele que entregou a coisa não a pode dispor até que seja
restituída" (5). Parte da doutrina entendia que o contrato estimatório operava verdadeira
transferência da propriedade para o consignatário (6). Essa corrente, na própria Itália,
terminou vencida, porque transformou o consignante de proprietário em credor, ainda que
privilegiado quando em concurso com outros credores, e deixando sem resposta os efeitos
da restituição da coisa.
A redação adotada nos quatro artigos do Código Civil brasileiro, em vez de aplainar as
dificuldades, no sentido de melhor aplicação das normas, exaspera a controvérsia, porque
constitui regulamentação incompleta de todos os multiformes aspectos desse contrato,
revitalizado no mundo atual, como aqueles relativos à tutela das partes e dos terceiros
adquirentes.
A relação entre o consignante e o consignatário não é equivalente a de vendedor e
comprador (7). O primeiro não se obriga a transmitir ao segundo a coisa nem este se obriga
a pagar àquele o preço. O consignante transfere o poder de dispor, que não poderá
exercer enquanto perdurar o prazo, mas permanece proprietário da coisa. Tampouco se
confunde com a relação de mandante e mandatário, pois o consignatário não é
representante do consignante, exercendo direito próprio. Todavia, sustentava Antônio
Chaves que "é com o mandato que mais se assemelha essa espécie; é um mandato para
vender. A operação de venda é sempre em vantagem do mandante e só eventualmente do
mandatário. Daquele o é sempre porque, pela venda, ele recebe necessariamente o
preço" (8). Alguns enxergam estreitas relações do estimatório com os contratos de depósito
e comissão.
A questão do enquadramento do contrato estimatório com outros tipos afins de contratos
perdeu a importância, tendo em vista que o legislador optou por discipliná-lo de modo
autônomo e em sua singularidade. É contrato típico que não se confunde com qualquer
outro, não podendo o intérprete buscar em outras categorias seu enquadramento
sistemático, o que prejudica a correta aplicação. O esforço que se há de fazer é a
construção da natureza jurídica do instituto, a partir dos pressupostos que foram definidos
na lei, ou seja, analisando-o por dentro e a partir da tipicidade social que o conformou, sem
necessidade de relações com os demais contratos. O instituto é novo, como inserção
legal, mas antigo na prática social.
O contrato estimatório é contrato tipico, bilateral, oneroso e, principalmente, real. É
oneroso porque o sacrifício patrimonial sentido por uma das partes tem como
correspectivo uma vantagem correspondente. É real porque apenas se perfaz quando há
tradição, quando a coisa é entregue ao consignatário. Diferentemente da compra e venda,
que é contrato meramente consensual, não basta para sua existência que o consignante
se obrigue a transferir a coisa ao consignatário; é necessário que transfira a posse sobre a
coisa e o poder de disposição ou disponibilidade. Por se tratar apenas de coisas móveis, o
consignatário, para alcançar a finalidade do contrato, depende da posse física sobre a
coisa para poder transferi-la ao terceiro adquirente, fazendo uso do poder de disposição. O
consignatário não promete a transferência da coisa; transfere-a, vinculando o consignante
à tradição que operou. O legislador eliminou toda a dúvida, porque, no sentido de garantir
o terceiro adquirente de boa-fé, pôs a entrega da coisa entre os elementos existenciais do
contrato, dando lugar a uma situação que transforma o consignatário em titular do poder
de disposição sobre a coisa, cuja propriedade permanece sob a titularidade do
consignante.
Diferentemente, entende Pontes de Miranda (9)que o contrato estimatório é consensual,
concluindo-se antes de ser feita a tradição, se esta não foi simultânea. Todavia, em outra
passagem do mesmo volume de sua obra (10), alude à transferência da posse, deixando
entrever sua essencialidade para a natureza desse contrato: "Quem transfere a posse do
bem quer aliená-la e receber a contraprestação, fixada, pelo menos, no momento da
entrega". Sem embargo da relatividade da interpretação literal, ressalte-se que o art. 534
do Código Civil de 2002, repetindo o paradigma italiano, estabelece que para a conclusão
do contrato "o consignante entrega bens móveis ao consignatário". Não está previsto que
se obriga a entregar, o que poderia ensejar a natureza meramente consensual. Destarte,
ao contrário de Pontes de Miranda, afirmamos que o contrato apenas se perfaz com a
entrega efetiva da coisa; enquanto não chegarem os livros, por exemplo, o livreiro não está
obrigado, nem contra ele corre o prazo determinado (11).
A entrega da coisa, no contrato estimatório, não produz os efeitos amplos da tradição, ou
seja, da transferência da propriedade para o consignatário. Ainda que o contrato seja real,
não produz efeitos reais. Do mesmo modo como se dá com outros contratos reais, no
direito brasileiro, a exemplo do depósito, do mútuo, do comodato. Nesses contratos, a
tradição configura elemento essencial para suas existências. No contrato estimatório, a
tradição é essencial para que o poder de disposição que foi transferido ao consignatário
possa ser exercido. Pago o preço dentro do prazo ou quando este se encerrar sem
pagamento, a transferência da propriedade operar-se-á, no primeiro caso para o
adquirente, no segundo caso para o consignatário.
O art. 534 do Código Civil de 2002 alude à autorização do consignatário para vender os
bens móveis do consignante. Essas expressões não constam da redação do art. 1.556 do
Código Civil italiano, que lhe serviu de fonte e são inteiramente dispensáveis. Autorização
pode ser confundida com outorga de poderes, que se dá no mandato ou na representação.
Mas, não há outorga de qualquer poder nem representação no contrato estimatório. O
consignatário atua perante terceiros como se fosse o real proprietário das coisas, porque
exerce em nome próprio e não como representante do consignante o poder de disposição
que lhe foi regularmente transferido. O exercício do poder de disposição legitima-o a
transferir a coisa ao adquirente, incluindo a titularidade de domínio que cessa para o
consignante, independentemente de sua vontade.
Quando o consignante transfere o poder de disposição sobre a coisa retém a propriedade.
A não transferência da propriedade ao consignatário é o traço característico do contrato
estimatório. Contudo, a retenção da propriedade (que em muito se assemelha à situação
de nua-propriedade) não autoriza o consignante a exigir a restituição. Por outro lado, o
exercício do poder de dispor pelo consignatário importa automaticamente a perda da
propriedade, que é transferida ao adquirente a quem o consignatário entregou a coisa,
desde que tenha observado o valor estimado. Neste último sentido, Penalva dos Santos
(12)
: "do que se deduz que o chamado consignatário pode usá-la, fruí-la, sem, contudo,
tornar-se titular do domínio, o qual permanecerá nas mãos do ‘tradens’, até a venda coisa
a terceiro, ou se, transcorrido o prazo estabelecido no contrato, o ‘accipiens’ não a
devolver, deverá este pagar ao ‘tradens’ o seu valor estimado, passando o domínio da
coisa para o ‘accipiens’".

5. As coisas que podem ser objeto das prestações do contrato estimatório


Apenas as coisas móveis podem ser objeto de contrato estimatório. Coisas móveis que
estejam no comércio, isto é, que possam ser alienadas. Neste ponto, a relação com a
compra e venda torna-se inevitável, porquanto tudo que possa ser objeto de venda pode
ser suscetível de contrato estimatório.
As coisas imóveis estão excluídas porque não permitem a tradição real. A traditio
fictaconstitui obstáculo à circulação da coisa do consignante para o consignatário e deste
para o adquirente, em virtude da exigência do registro público. Não apenas as coisas
imóveis mas todos os móveis que, por força de lei ou por convenção das partes, estejam
vinculados a registro. O registro imobiliário transfere a propriedade, o que desnaturaria o
contrato estimatório. Como diz Caio Mário da Silva Pereira (13), não somente pelo
formalismo exigido para a transmissão imobiliária, mas também porque a venda a terceiros
não se opera no contrato estimatório em nome do consignante, mas no do consignatário,
como se sua própria fosse.
O consignatário recebe a coisa, diretamente ou mediante representante, quando a tem sob
seu poder físico ou contato material (corpus), entendidos como possibilidade de dispor da
coisa em modo físico, sem mais depender do consignante. A entrega da coisa ao
transportador não é suficiente para consumar a tradição, salvo se foi indicado ou escolhido
pelo consignatário. Não se considera perfeito o contrato enquanto o transportador não
entregar fisicamente a coisa ao consignatário.
A coisa pode ser específica, singular, ou genérica. Não há impedimento que se trate de
bem fungível. A restituição, se for o caso, dar-se-á por coisa de iguais gêneros, qualidades
e quantidades. A praxe contratual demonstra a utilização com grande freqüência de bens
genéricos, a exemplo de gêneros alimentícios, de tecidos ou de exemplares de livros.
Os bens imateriais (por exemplo, os direitos de autor) não podem ser objeto de contrato
estimatório. No direito brasileiro, os contratos de alienação desses bens são definidos
taxativamente, seja para cessão, concessão de uso ou licenciamento. Esses bens são
insuscetíveis de tradição física, porque destituídos de corpos físicos.

6. Obrigações do consignante e do consignatário


O consignante tem o dever de garantir ao consignatário a livre disponibilidade das coisas
entregues em consignação. Deve abster-se de qualquer ato que dificulte o exercício desse
direito. Em virtude de manter a titularidade de domínio, que não é transferida ao
consignatário em razão do contrato estimatório, responde o consignante pelos vícios da
coisa e pelos riscos de evicção perante o adquirente da coisa.
O consignante não pode interferir na atividade desenvolvida pelo consignatário. Não é
admissível que faça exigências ao consignatário quanto aos procedimentos que deva
adotar, como divulgações publicitárias ou o modo de divulgar a coisa nos locais de venda.
Todavia, em virtude da real aplicação do princípio da autonomia privada, podem as partes
livremente estabelecer permissão para intervenções do consignante. Se o contrato for de
adesão serão nulas as cláusulas que importem renúncia antecipada do direito de livre
exercício da atividade do consignatário (art. 424 do Código Civil).
O negócio ajustado entre o consignatário e o terceiro adquirente é res inter allios em face
do consignante. As condições que aqueles ajustarem para a alienação da coisa
consignada não podem ser recusadas ou modificadas pelo consignante.
O consignatário contrai dívida e obrigação alternativas. Dentro do prazo determinado,
deverá ou pagar o preço ou restituir a coisa. O preço ou ele o entrega após ter vendido a
coisa, ou o paga do próprio bolso, para ficar com ela. Deve o consignatário pagar ao
consignante o preço estimado, imediatamente após recebê-lo do adquirente, ou nas
condições estipuladas no contrato. Deve, ainda, restituir a coisa dentro do prazo
determinado, se não quiser ou não puder vendê-la. Se ultrapassar o prazo determinado,
estará obrigado a pagar o preço estimado, tendo ou não vendido a coisa, ficando impedido
de restituí-la. Nascerá ao consignante a pretensão à prestação do preço.
A faculdade concedida ao consignatário para pagar a coisa ou restituí-la é irretratável.
Uma vez escolhida qual das duas irá prestar não poderá alterá-la ou arrepender-se.
Pontes de Miranda (14)entende que é questão de interpretação do contrato estimatório
saber-se se o consignatário já está obrigado a pagar o preço ao consignante, quando
vende a coisa ao adquirente, ou se só se obriga ao tempo em que expira o prazo. Na
dúvida, afirma que a segunda solução é mais adequada. Na prática negocial os
consignatários costumam vender a prazo (exemplo de venda de jóias) e precisam contar
com o decorrer do tempo para terem fundos para o pagamento do preço.
Se o consignatário restituir a coisa com defeito ou danos pagará ao consignante a
correspondente indenização.

7. Duração do contrato
O contrato estimatório é sempre a termo, de duração determinada. O consignatário exerce
os poderes de disposição ou de posse até um momento, para que cumpra sua obrigação
alternativa.
O prazo para que o consignatário possa dispor da coisa (vender a terceiro ou comprar
para si) deve ser estabelecido, o que significa dizer determinado pelas partes.
Excepcionalmente, se as partes não estipularam prazo, devem ser observados os usos do
tráfico e a finalidade do contrato. Não pode ser admitido prazo que não dê ensejo ao
consignatário de vender as coisas que o consignante lhe entregou. Pode o consignante
interpelar judicialmente o consignatário para que realize a venda ou pague no prazo que o
juiz fixar.
Sustentou-se que a prévia determinação do prazo integraria os elementos existenciais do
contrato estimatório, porque não poderia o consignatário manter indefinidamente o poder
de dispor. Há situações, todavia, nas quais os prazos vão sendo estabelecidos, às vezes
tacitamente ou pelos usos, como na hipótese de bens fornecidos e repostos regularmente
(por exemplo, livros remetidos ao livreiro retalhista), que dependem de maior ou menor
atração de clientes. O que é inadmissível é a ausência de qualquer prazo, ainda que varie
de um a outro bem entregue ao consignatário. Transcorrido prazo razoável ou decorrente
dos usos, cabe ao consignante promover a interpelação judicial do consignatário.
Encerrado o prazo sem pagamento do preço ou restituição da coisa consignada, o domínio
transfere-se ao consignatário, que ficará obrigado a pagar o preço estimado. O não
pagamento do preço, após o transcurso do prazo, resolve-se pelas regras gerais do
inadimplemento, inclusive quanto às conseqüências pela mora (juros moratórios, multa
contratual, perdas e danos, custos judiciais).
Não se considera inadimplente o consignatário se, dentro do prazo, se recusa a vendê-la
por não encontrar interessado na compra ou por não encontrar quem pague valor superior
ao preço estimado, correspondente ao seu lucro. O que não pode é dificultar, impedir ou
embaraçar a venda. Nesta última hipótese, vencido o prazo, ainda que o domínio da coisa
lhe seja transferido, cabe ao consignante a pretensão a indenização por perdas e danos,
além da cobrança do preço estimado.

8. Opção de restituir a coisa consignada


No momento em que o consignatário recebe a coisa é devedor do preço ou da restituição.
Se, dentro do prazo, não paga o preço tem de restituir. A coisa continua na propriedade do
consignante dentro do prazo determinado, mas como prefere o preço à restituição, exigi-lo-
á ao cabo do prazo.
A restituição da coisa consignada é opção livre do consignatário, sponte sua. Não tem o
consignante pretensão contra aquele para restituição. Se o preço estimado demonstrou
estar acima do praticado no mercado, ou se a coisa não despertou interesse nos possíveis
destinatários, ou por qualquer razão inclusive de índole subjetiva do consignatário, este
poderá restituir a coisa ao consignante. A restituição é direito subjetivo do consignatário,
não podendo o consignante impedi-la ou limitá-la, pois violaria a natureza do negócio.
Impõe-se que o faça dentro do prazo determinado para a venda a terceiros.Se o prazo for
ultrapassado não estará obrigado o consignante a receber a coisa em restituição. Poderá
exigir o pagamento do preço diretamente do consignatário, em cuja titularidade se
consolidará o domínio, independentemente de sua vontade. Nesta hipótese, a transmissão
da propriedade opera-se para ele, que deve o preço.
O consignatário não poderá cobrar do consignante as despesas que efetuou para divulgar
ou manter a coisa, salvo a indenização das benfeitorias necessárias, em virtude de
frustração de venda, quando ou para restituir a coisa. São riscos inerentes a esse negócio
peculiar. São também do consignatário os riscos da especulação, quando não se
estabeleceu limite máximo de preço para a venda.
Os frutos da coisa (naturais ou civis) são do consignatário, que tem a posse própria. Se
optar pela restituição da coisa, restituirá a posse e tudo que dela derivar, inclusive os
frutos.
A restituição apenas opera seus efeitos liberatórios, para o consignatário, quando, dentro
do prazo: a) foi efetuada a entrega em sentido físico ao consignante, ou a seu
representante, no endereço estipulado no contrato; b) a coisa tenha sido entregue em sua
integralidade. Recupera o consignante não apenas o poder de disposição mas a posse
própria da coisa.

9. Impossibilidade da restituição da coisa consignada


O Código Civil estabelece o dever de pagar o preço da coisa consignada se a restituição
se tornar impossível, ainda que por fato não imputável ao consignatário. Alberto Trabucchi
encontra na obrigação alternativa do consignatário, de pagar a coisa mas com a faculdade
de restituí-la, a justificativa para que assuma o risco inclusive da perda sem culpa sua.
"Assim se explica que o risco do possível perecimento ou deterioração da coisa seja
suportado pelo que recebe a coisa, o qual poderá aproveitar-se da faculdade de restituir a
coisa recebida, tão somente quando esta se encontrar incólume em seu poder" (15).
O consignatário suporta o risco da perda da coisa; somente poderá valer-se da faculdade
alternativa se a coisa existir na íntegra. Nessa circunstância desaparece seu direito de
escolha, que apenas seria possível se o direito admitisse que ela pudesse ser feita antes
da perda por declaração do devedor.
A impossibilidade por causa não imputável ao consignatário pode ser temporária, cabendo
distingui-la. Se a impossibilidade temporária não ultrapassar o prazo ajustado, permitindo
ao consignatário exercer a faculdade de restituição, não afetará o exercício da escolha da
obrigação alternativa. Se a impossibilidade ultrapassar o prazo, sem que nada possa fazer
o consignatário para impedi-la, estará obrigado a pagar o preço.
Se a restituição da coisa se tornou impossível por fato imputável exclusivamente ao
consignante (por exemplo, se fez contrato estimatório a respeito de bem que estava com
vício ou defeito, que causou a deterioração da coisa) o preço não é devido.

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