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Bem, pessoal. Deixa pra lá o discurso de movimento das massas de 1950. O Ideos pediu que
escrevesse qualquer coisa pra colocar nos agradecimentos do livro, já que eu estava coordenando e
talz...
Meu primeiro impulso foi mandar uma folha do Word escrita "QUALQUER COISA" em
letra 72. Mas sabendo que o Ideos era muito capaz de colocar isso no livro, e como deu muito trabalho
o bichim, resolvi tentar fazer algo decente.
Eu e esse livro meio que nos encontramos. Estava eu querendo entrar nesse negócio de
tradução, tinha achado a página no multiply. Mandei um recado e todo mundo me esnobou legal. Na
segunda tentativa (não, eu não tenho vergonha na cara XD), o Folha disse: "Vá pra comu do orkut, vá
ver que tem coisa pra fazer lá". Lá, achei um tópico legal: "Revelation of the Dark Mother", posto e o
que aconteceu? Nada. Aí fiquei maluca: "Puta merda, quando acho um projeto, ninguém responde".
Postei perguntando como é que era, se já era ou se já tinha ido... e descobri que o projeto tava
moribundo. Foi quando o Ideos perguntou se eu não queria coordenar. Eu disse "Claro!" Mas por
dentro tava: "Maluuuuucaaaa!!! olha onde tu vai amarrar teu bode!". Estava certa. Meu bode ficou
amarrado no sol, o coitado.
No entanto, contudo, todavia, não obstante, depois de muita pestana queimada ele está aqui.
Traduzido. Mas preciso dizer que nunca teria saído sem o pessoal da comu: desde o primo Ideos (que é
malkav - eu sou filha da cacofonia, e considero mentor) que diagramou e traduziu um ciclo e revisou
outro... até o Adrian que não deixou o tópico cair... toda vida postava alguma coisa periodicamente,
algum comentário, ou outra coisa engraçada que fazia que eu não me sentisse tão na merda (já que
todo mundo sumia quando ia cobrar). Muito obrigada também (Ark)Mahasian que era um poço de
paciência e presteza quando eu chegava e pedia "ei, revisa meio livro pra mim até o fim da semana?",
mesmo estando ocupado com o livro Tremere. Valeu Gothmate por guardar seus arquivos (a intro foi
a única parte recuperada da primeira tentativa de tradução). Valeu Renata pelo terceiro ciclo.
Valeu também o pessoal que não conseguiu/pôde ajudar pelo motivo que seja...
Então... tá bom de discurso de miss universo! Vão ler o livro que tá muito massa!
Sangue
Lilith Caim
Introdução 29
Membros Lua
Sol Lúcifer
Serpente Coruja
30 Revelações da Mãe Sombria
Dragão Humano
Gato
Aliado Mágica
Introdução 31
Local Nos Encontremos
Sagrado Aqui
Perigo
Fodida
Por um raio que veio do céu
Mãe, poderia eu
Sim
Bom
Me comportarei
Como se estivesse
Voando
Sobre uma semente amarga
Minha boca é um tambor
Meu ventre uma multidão de moscas
- Patrícia de la Forge,
“Outside the Garden”
O Livro da Serpente 35
A primeira vez que provei a luz da lua
Senti seu brilho em meu ventre
E sua selvagem ternura
Jurei nesse dia que caminharia de
noite.
A primeira vez que provei o amor de um
deus
Senti o cortante alçar de canção e
fogo
Jurei nesse dia que acariciaria a
carne.
A primeira vez que provei o sal do mar
Senti meu sangue transformar-se
em água
Enquanto o céu caía sobre mim
Jurei nesse dia que descenderia e
retornaria com maravilhas.
A primeira vez que provei o amor de um
jovem
Gritei com a alegria de uma nova
vida
E chorei pelo que havia perdido
E ganhado
Jurei nesse dia nutrir a vida
Como antes abraçara a morte.
Juro por três vezes três vezes três
Que estes sete momentos serão
meus
E que nada que transpire,
Nem deus, nem homem e nem
besta, os quitará
O juro por mim mesma.
E pela minha imortalidade.
36 Revelações da Mãe Sombria
O Fragmento do Gênesis
Notas da Editora
Este, a origem de todo o Ciclo de Lilith, é o que falta nas escrituras
tradicionais. Mesmo que supostamente descreva os Primeiros Dias, o
Gênesis judaico-cristão não faz referência a Lilith em momento algum. A
vemos mencionada nos Midrashim rabínicos dos judeus e em alguns textos
hebreus obscuros (e não tão obscuros). Mas a primeira mulher esta ausente
de versões consolidadas tanto da Bíblia cristã como o da Tanakh judaica.
Tal como vimos neste “Gênesis perdido” podemos ver o porque.
Apesar do seu nome, este mal chamado “Fragmentos do Gênesis” não
pode ser considerado parte dos livros canônicos cristãos e judaicos. Mesmo
que a versão mais antiga do mesmo esta escrita em hebreu, o uso informal, e
inclusive às vezes burlesco, do nome de Jeová (tradicionalmente escrito
como YHVH, “O Senhor”, seguido por “bendito seja Ele”) esta tão distante
do paradigma judeu que o Fragmento deve ser considerado, como muitos, o
trabalho de algum israelense profundamente herético.
Não há nada fora do habitual a respeito disso: o Gênesis, o Êxodo e
outros dos primeiros livros declaram a existência de uma miríade de seitas
pagãs ou heréticas entre os filhos de Abraão; um autor com um, digamos,
ponto de vista pouco convencional do Todo Poderoso não é muito difícil de
imaginar; Ainda sim, muitos textos heréticos foram purificados junto de
seus autores.
O Fragmento do Gênesis chegou de algum modo ao grupo de textos
que se perderam durante o cerco de Roma a cidade de Jerusalém (64 d.C.),
salvando-se da destruição. Dada a natureza blasfema do Fragmento, duvido
que jamais fora considerado parte do Pentatéuco, ou os cinco livros de
Moisés. É mais provável que fora conservado como parte de algum ritual ou
encantamento de proteção (para “conhecer o seu inimigo”, com dito antes)
ou como matérial de estudo de algum intrépido erudito. Seja como for, o
Fragmento foi preservado das chamas de Roma, mas foi deixado de lado
quando confeccionaram a Torá a partir dos textos conservados, e de novo
mais a frente, quando o Concílio de Nicéia estabeleceu os livros da Bíblia
cristã. Tratando de ser fiel ao texto original, comparei este Fragmento com
dois similares, um em grego e outro preservado na tradição oral dos ritos
Bahari. Tive acesso a uma versão pictográfica Ba'hara, mas devido a que tais
documentos são usados mnemotecnicamente, e não são palavras literais,
dificilmente poderiam ser uma versão Bahari definitiva.
O Livro da Serpente 37
Em parte para conservar o ambiente intrínseco ao texto, e em parte
para capturar o ritmo original do hebreu, usei a versão israelense como base
de minha tradução. Uma série de notas de rodapé mostra as minhas próprias
observações.
Seria fútil tentar começar dizendo qual destas três versões é a
“definitiva”. Cada uma delas tem a sua própria autoridade. A tradição
Ba'hara parece adotar o papel do Evangelho segundo Lilith; as fontes gregas
servem de “ponte” entre os rolos antigos e a tradução atual, e inclui algumas
ambigüidades panteísticas; o documento herético israelense é mais
adequado ao nosso conceito das Escrituras. Surpreendentemente, todas elas
se confirmam de um modo quase perturbador.
Apesar de que o Fragmento conter numerosos elementos cabalísticos,
estes se encontram difusos e desorganizados. Seria de autoria de uma
mulher? Se for, isso justificaria as correspondências incompletas e o uso
improvisado do hebreu em algumas passagens. A erudição feminina estava
de certo ponto mal vista, e muitas vezes proibida, especialmente quando dita
erudição incluía as Escrituras. Inclusive jovens homens eram (e, todavia
são) mantidos afastados das mais sagradas escrituras. Eu creio que a
verdadeira origem do Fragmento prove da “sabedoria feminina”, a tradição
oral transmitida de geração a geração, de mãe para filha, e que raramente se
punha por escrito. Este é sem duvida alguma minha afirmação.
Ainda levando em conta a sua origem e usa importância para a
doutrina Baharim o fragmento é mais a historia dos Primeiros Dias do que
uma relação das aventuras de Lilith. Lilith não é sequer a protagonista
principal: esta distinção corresponde a Jeová, o deus com problemas,
orgulhoso e definitivamente trágico cujos erros esmiúçam o equilíbrio da
Criação Imortal. Do mesmo modo, seus atos rompem a situação estática de
então, criando a primeira criatura com vontade própria: Lilith. E quando ela
tomou parte neste drama universal, O Que Era passa a ser O Que Será. Seu
desafio (primeiro Jeová, depois os elementos, Lúcifer e depois os outros
deuses) agita o pequeno mundo feliz que havia encoberto profundas
injustiças. Ela trai consigo amor, alegria, rebeldia e finalmente desastre, mas
emerge como a verdadeira arquiteta do nosso mundo, para o bem e para o
mal. Quando parte para o Mar Eterno para estabelecer seu próprio jardim, a
vemos transformada em igual de Jeová: a mulher que o obrigou a ver a ilusão
sob a qual estava se escondendo.
Não deveria surpreender, pois, que os Bahari a consideram a
Verdadeira Deusa do nosso mundo.
38 Revelações da Mãe Sombria
O Fragmento do Gênesis
I: A Criação
Uma vez que Lilith foi levada para longe de Adão, Jeová a inquiriu:
“Como soubestes o Nome Oculto Daquele que te criou?” Sua voz era
ensurdecedora. A luz crepitou no céu. Os ventos esvoaçavam os cabelos de
Lilith e cobriram sua pele de gelo.
Tinha medo, mas não o disse em voz alta. Ao invés disso, O disse, ao
trovão, relâmpago e vento. E seu medo foi como a sabedoria e o consolo
contra a tormenta.
Lilith disse: “Eu fiz o que Tu me pediste. Cultivei os frutos do Jardim, e
as bestas do bosque. Quando prosperaram, me nutri deles. Quando caíram,
os recostei para repousarem. Os frutos que eu comi são os que caíram por
Tuas próprias mãos. Os aceitei como um dom de amor de Tua abundância,
para que pudesse unir-me a Ti nos Céus”.
Após dizer isso, fez crescer suas próprias flores; flores que não foram
criadas pelas mãos de Jeová, nem cultivadas pelas mãos de Lilith. Eram
novas, e ela as criou a partir do Firmamento dos Céus, e as ofereceu a Ele.
E no final a tormenta cessou. E Jeová permaneceu calmo.
Ele a levou aos Céus, e a tomou como esposa. Durante sete dias e sete
noites, ela se sentou sobre Seu colo e Ele dentro dela 11.
E sua copula foi como a tormenta; e ambos ficaram satisfeitos. E o
amor cresceu entre Jeová e Lilith, com os frutos da Árvore da Vida.
Mas Ele não suportava compartilhar Seu poder e conhecimento com
Lilith. Lilith disse: “Agora somos como deveríamos ser, iguais sobre todos os
demais”. Ao ouvir isso, Jeová enciumou-se, como fizera Sua criação, Adão.
E assim ocorreu que Jeová expulsou Lilith de Sua vista, com antes já
expulsara a Dama 12 que viera antes dela. Após sete dias e sete noites, Lilith
foi exilada dos Céus. Sobre o pó que havia entre os Jardins foi exilada. Então
Jeová proclamou: “Vagarás por entre as terras sem criar para sempre”.
Após dizer isso, desapareceu, deixando Lilith só.
Então Lilith rumou ao deserto e vagou durante sete vezes sete dias e
noites.
E os dias eram cálidos e selvagens, como as chamas; e a escura pele de
Lilith enrijeceu, e se secou e rachou como o lodo; e sua língua inchou; e seus
ossos marcavam a sua pele, e seus pés se queimaram como se tivessem
provado brasas ardentes. Mas ainda sim não se arrependeu; nem buscou
perdão do Senhor, nem negou que era com Ele.
O fruto que havia comido se alojou em seu ventre, e dele se
alimentou.
Mas seu coração e seu ventre estavam dilacerados por Aquele a havia
traído; e Sua semente cresceu em seu ventre até que ficou inchada e pesada.
Quando estava sedenta, Lilith bebeu de seu próprio sangue, e este a
alimentou .
Os dias se tornaram um tormento, e assim aprendeu a enterrar-se na
terra e aguardar a caída da noite. Sob o solo, Lilith aprendeu a enviar seus
sentidos ao longe15 e assim descobriu os rios e Jardins dos outros Seres
Luminosos. E quando o sol havia se posto, emergiu da terra e seguiu até o
Mar Eterno. E Lilith caminhou por rochas e areia; e cruzou montanhas e
tremeu com ventos frios, e foi fustigada pelo pó; e caiu muitas vezes, mas não
se deteve, e se levantava outra vez. Pois a dor era como sabedoria para ela.
Longe das terras de Jeová, encontrou a grande extensão que era o Mar
Eterno16. quando o alcançou, Lilith se atirou nas águas, e nadou até as
profundezas; e se transformou em uma de suas próprias criaturas; e se deitou
com elas, como Adão fizera com as bestas do jardim; e os caçou, como fizera
no Jardim, até que estivesse saciada.
Quando viu os grandes jardins no fundo do Mar, Lilith se
surpreendeu.
Para sua surpresa, viu que as plantas floresciam e que as bestas do Mar
se reproduziram; e assim se transformou na Mãe do Mar17.
Debaixo do Mar Eterno, Lilith aprendeu a ser como Jeová e a dominar
seus poderes. Expulsou de seu interior Sua semente e a plantou entre os
filhos de seu ventre e entre a semente das criaturas do Mar.
Quando saiu do Mar, sua escura pele havia tornado-se âmbar, e seus
cabelos havia se tornado negros como o alcatrão.
O Livro da Serpente 45
Seus olhos eram como a superfície do Mar e dançavam como a lua
sobre suas águas18.
Mas não pode criar um Jardim como o de Jeová, então ela rangeu os
dentes de ciúmes. Pois ainda que pudesse realizar muitas maravilhas e dar
vida a muitas bestas estranhas, Lilith não estava satisfeita.
E assim foi como deixou o Mar Eterno e retornou ao deserto.
Ela almejava o fruto do Jardim de Jeová; pois era o mais saboroso que
jamais havia provado19.
O Livro da Serpente 47
V: Os Jardins dos Elohim
Lilith vagou durante sete vezes sete anos; e então foi quando
encontrou os jardins de [Bes]; e os vinhedos de [Dionísio]; e os campos de
[Baal], e todas as maravilhas que estes continham. Essas maravilhas a
mostraram aos seus proprietários, pois se surpreenderam ao ver alguém tão
graciosa e bonita como aquela Que Saiu do Mar Eterno.
E houve grandes celebrações nos jardins de [Bel[; e nos vinhedos de
[Dionísio]; e nos campos de [Baal]; e todos os Seres Luminosos
proclamaram: “Lilith não tem igual, pois é Luminosa como a luz do Ser
Ancestral mas foi criada com a Verdadeira Terra de nossos jardins”.
Mas as celebrações e as libações eram como prazeres vazios. Lilith
ansiava pelo fruto do grande Jardim de Jeová; os frutos das Árvores da Vida e
do Conhecimento. Não havia outros que se assemelhariam, por mais ricos
que fossem. E assim partiu destes jardins, agradecendo os seus anfitriões e
presenteando-os com preciosos frutos ²².
Lilith escolheu uma terra rica e fértil, com três rios delimitando suas
fronteiras. E cobriu esta terra com seu manto de Noite; se suas vestimentas,
colhendo um punhado de estrelas; e espalhou estas estrelas sobre a terra. E
essas sementes celestiais geraram maravilhosas plantas e árvores frutíferas e
todo tipo de vegetação.
Mas esta vegetação não era como a do Éden de Jeová; pois cresciam
somente sob o amparo da lua de Lilith. E Lilith caminhou muitas vezes por
seu Jardim; e alimentou as plantas com seu próprio sangue; e floresceram e
deram grandes frutos.
Em seu ventre, Lilith conservava as sementes da Árvore da Vida e do
Conhecimento. E a estas também alimentou com a água de seu corpo e o
sangue de sua vida; mas elas não cresceram.
E Lilith foi ao ar com lamentos de frustração e tristeza; pois ansiava
pelos frutos destas Árvores; e o amor de Jeová, aquele que a expulsou.
Então Lilith escureceu; e a sua raiva subiu com a areia em um vento
forte; e purificou o local onde não cresceram as sementes das Árvores; onde
as sementes jaziam na terra; e amaldiçoou Jeová por seu orgulho. Então
amaldiçoou a si mesma por sua dor, e pelo amor que sentia por Aquele Que
A Traiu.
E seu primeiro jardim foi arrasado em sua fúria, até que deixou de
existir.
Então Lilith deixou seu Jardim da Noite e partiu ao Éden.
O Livro da Serpente 51
VIII: A Criação de Eva, e a Queda.
O Livro da Serpente 55
Eva havia chegado quando
Lilith encontrava-se junto a Árvore
do Conhecimento. A terceira mulher
chegou e se sentou embaixo da
Árvore.
E Lilith viu que era um ser
inferior, e se apiedou dela. Em sua
compaixão, dirigiu-se a Eva: “Toma o
fruto e come dele para que teus olhos
possam se abrir”.
E Eva fez o que ela havia lhe
dito; e tomou o fruto; e comeu dele.
E assim os olhos de Eva se
abriram como se fossem cegados por
uma explosão de fogo; e caiu como se
a tivessem golpeado; e chorou pelas
coisas que agora podia entender.
E Lilith envolveu Eva para
consolá-la; e Eva abraçou a Serpente
como a um amante; e conheceram
uma a outra sob a sombra da Árvore
do Conhecimento34.
E os sons das lágrimas
conduziram Adão a este lugar. E a
coruja o viu, e advertiu Lilith de sua
chegada. E assim a Serpente deixou a
mulher com seu homem; e ele se
surpreendeu quando a encontrou
sorrindo, mas cheia de lagrimas; e ele
a perguntou: “Porque choras, minha
esposa?”.
O Livro da Serpente 57
IX: A Ira do Senhor do Jardim e suas Sete Maldições
O Livro da Serpente 63
O Livro da Serpente: Notas
1. Este começo esta ausente na versão hebréia, mas aparece tanto na edição grega
como na Ba'hara.
2. Isso concorda com a explicação cabalística da Criação, segundo a qual a
Divindade contempla a Si e rompe o Nada com um clarão de luz.
3. Entre parênteses está anotado os nomes modernos destas deidades, servos e filhos;
os nomes mais antigos, e mais esotéricos, que aparecem no texto original seriam
ininteligíveis para o leitor mediano. Visto que as fontes originais da tradução estão perdidas
no tempo, tomei a liberdade de interpretar certas entidades segundo os símbolos que elas
representam. Eu usei o nome “Jeová” para referir-me ao deus dos hebreus, o qual o autor sem
duvida se refere; O manuscrito grego simplesmente diz Theos Kanova, uma distinção
pouco clara se levarmos em consideração o panteísmo dos gregos (mas possivelmente
originada a partir de uma perífrase para referir-se a “Jeová”). Jeová em si não é mais que uma
corrupção de YHVH ou “Yahweh”, mas YHVH implica a entidade superior que se
manifesta mediante os distintos ELOHIM (os quais muitas vezes chamamos de anjos). Mas
ainda assim, o texto hebreu mescla ELOHIM com YHVH, isso é, “Os Deuses” com “O
Senhor Deus”. Confusão? Erro de tradução? Ou um comentário áspero de algum israelita
sobre a religião de seu povo? Tais sentimentos não eram desconhecidos em épocas
passadas... Para distinguir as palavras e ações de Jeová do resto dos personagens foi mantido
a tradição cristã de por em maiúsculo os pronomes que se referem a Ele. (Nota de Tradução:
“Jeová” é “Yahweh” com as vogais de “Adonai”. Este vocábulo é o que os judeus usavam
para referirem a Deus de forma indireta, inclusive nas Escrituras).
4. “ELOHIM” no texto hebreu, implicando as distintas manifestações de YHVH.
5. Esta passagem aparece somente na versão hebraica, e parece referir-se ao “mundo
das conchas”, a origem dos espíritos maléficos e as criaturas invejosas que rodeiam e tentam
as criações dos ELOHIM.
6. Na cabala, os quatro elementos simbolizam a presença dos quatro Mundos
Superiores no nosso. A terra proporciona uma Base para as outras manifestações; o fogo é
luz, ou o Mundo da emanação Divina; o ar simboliza os princípios espirituais e cósmicos da
Criação; a água transforma-se no fluxo sempre mutante da Formação, criando, nutrindo e
destruindo em sua passagem. Em cada jardim, então, os Mundos Superiores se manifestam
no mundo mortal, criando a ordem a partir do caos.
7. Os símbolos para a “Verdadeira Terra” remetem aos usados para o Tiferet, o centro
do Yezirah Sefirot, ou o Mundo Primordial descrito na teoria cabalística. Falei “remetem”,
entretanto; os personagens não são copias exatas de nenhum personagem hebreu ou
descrição enoquiana, e devem ser considerados na luz de sua tradução grega: “Verdadeira
Terra” como oposto de “Terra Inferior”, como, por exemplo, o pó.
8. Em hebreu, “Adão” corresponde a Adam Kadmon, o estado superior da
humanidade e a primeira das quatro manifestações de Deus; “Ish” é simplesmente
“homem”. “Lili”, entretanto, refere-se muitas vezes a demônios, mas podemos assumir que
esta correspondência provém de mitos posteriores; “Lilitu” tem origens obscuras, mas este
termo vem das invocações dos Bahari e das “memórias” de Lilith.
64 Revelações da Mãe Sombria
9. Ao contrario de Adão, Eva e seus filhos, que, de acordo com o que diz no Gênesis,
“se envergonharam” quando descobriram a nudez. “Nudez” pode descrever em parte os
casos um estado “aberto”, quando uma pessoa permanece sem cobrir-se, e em parte
preparado para o que possa proceder. A roupa é um escudo; talvez Adão e sua família
temessem este estado, enquanto Lilith não o temesse.
10. O que nos mostra, talvez, a imagem de Diana a Caçadora, e implica a Disciplina
vampírica Animalismo. Muitas fontes sustentam que Lilith, e não Jeová, criou estes três
animais; ver a canção “Coruja, Cobra e Serpente” no Livro III.
11. Uma postura tântrica desta que os budistas tibetanos chamam de “Yab-Yum”, ou
“Pai-Mãe”.
12. Muitos eruditos religiosos postulam que Jeová teve uma Matriarca antes de
tomar Lilith como consorte. Existem referencias a tais relações nos Midrashim, ainda que
sejam escassas e pouco claras. Estranhamente, esta referencia aparece intacta na versão
judaica do Fragmento. Pessoalmente, me pergunto se trata de uma referência a Bruxa do
Livro de Nod.
13. Os eruditos Bahari chamam esta busca de Viagem a Transformação, que é
quando um místico ou peregrino deixa a sua casa (ou é expulso dela), supera obstáculos e
finalmente chega a um Declínio (muitas vezes a terra ou a água, ambos os símbolos do
subconsciente), se ergue, e conhece um mestre (normalmente do sexo oposto). Diz-se que
esta busca purifica o iniciado, queimando o seu eu interior e preparando-o para os estranhos
novos talentos e visões que logo descobrirá.
14. Uma alusão ao vampirismo? Ou simplesmente pragmatismo, devido à carência
de água? Os Bahari afirmam que este sangue era a origem de seu poder e imortalidade, o
condutor para o sumo do Fruto da Vida.
15. Os primeiros exemplos dos talentos vampíricos de fusão com a terra e
clarividência? Ou se trata de símbolos da crescente consciência que a mulher/deusa Lilith
tinha começado a adquirir?
16. Novamente, estamos frente a uma metáfora do subconsciente, especialmente do
subconsciente feminino. A qual oceano o mito se refere? Quem sabe. Visto que o Éden esta
localizado tradicionalmente na crescente fértil (e a travessia do Mar Vermelho em outras
fontes hebraicas), este “Mar Eterno” é provavelmente o Mediterrâneo. Não obstante, se a
teoria de Pangéia de um continente único for correta, este “Mar” poderia ter sido realmente
imenso.
17. De acordo com o mito comum, Lilith manteve relações sexuais com os monstros
do mar e gerou uma raça de demônios. Este fragmento nos da uma perspectiva um tanto
diferente, supostamente, e explica sua posterior conexão com o elemento da Água.
18. O âmbar é associado muitas vezes às lagrimas (especialmente as da deusa Freya e
Afrodite), e o sol ao ouro. Os últimos dois são normalmente símbolos masculinos, mas
também estão relacionados com a transformação. Na alquimia, o ouro é o Maximo estado
material, e o âmbar muitas vezes corresponde ao ouro fundido ou a luz do sol. O negro está
relacionado com a noite, supostamente, e talvez com o azeviche, que protege o portador do
veneno. O simbolismo da água é obvio; nota-se que a passagem cita “lua”, e não “sol”.
19. O fruto da Vida e o Conhecimento, o amor de Jeová? Pessoalmente eu diria
ambos.
O Livro da Serpente 65
20. Em muitos lugares é utilizado “Seres Luminosos” de acordo com as versões gregas
e Ba'ham; aqui, porém, prefiro usar as palavras ELOHIM, denotando a divindade dos
outros “hóspedes”.
21. Uma importante distinção: os outros ELOHIM, incluindo Jeová, são criaturas
de puro Espírito; Lilith seria a primeira a encarnar este Espírito e a matéria em um só corpo,
o que seria uma coisa maravilhosa, inclusive entre os deuses.
22. O fruto das plantas (que podiam criar a vontade), ou o de seu ventre? O mito
hebreu sugere este último, e esta crônica deixa bem claro o apetite carnal de Lilith.
23. Em todas as copias, as personificações de Lúcifer são idênticas as usadas no
sentido tradicional, o de Lúcifer como Portador da Luz (Nota de Tradução: “Lúcifer”
significa, etimologicamente, “Portador da Luz”), amado de Deus, do qual se rebelou, caiu
sobre a terra e passou a ser o Satã (“Adversário”).
24. O elo narrativo hebreu aqui passa para o presente. Talvez o escritor tenha algo
mais que um conhecimento acadêmico de Lúcifer...
25. Em outras palavras, seu violador, Adão. Esta Lilith é mais clemente do que sua
lenda poderia sugerir.
26. Devemos nos perguntar sobre esta referência a roupas, e sobre as intenções de
Lúcifer. O fragmento diz que “não se sentia envergonhada” de estar nua. Ou estava, aos
olhos de Lúcifer? Os outros ELOHIM usam roupas, ou Lúcifer esta querendo proteger sua
amada dos olhos dos demais... e os seus próprios? Esta tentando evitar que seja
demasiadamente “aberta”, ou esta lhe dando um manto como os que os outros ELOHIM
vestem? Visto que esta é a única referencia que temos das roupas divinas, prefiro pensar que
é um manto iniciático e uma metáfora da Noite que Lúcifer generosamente entrega a sua
amada. De um ponto de vista literal, devemos questionar o domínio destes “Seres
Luminosos”: se Lúcifer tem os poderes da Noite e do Dia, o que cedem os outros ELOHIM a
ele? Há outros deuses e deusas da Noite e do Dia e, se for assim, o que pensam da
generosidade de Lúcifer? E como pôde dar a Noite com tanta facilidade? Visto que estamos
falando de mitologia, acredito que é melhor se interpretarmos este fragmento de um ponto
de vista metafórico: o de um governante dando a metade de seus domínios à mulher que lhe
roubou o coração; e de um coração egoísta entregando seus mistérios; e o de uma recém
nascida deusa tomando posse de seus domínios.
27. As “criaturas do mundo das conchas” mencionadas na primeira parte. Talvez
Adão já tivesse se familiarizado com elas.
28. Sem um Nome, esta segunda fêmea não seria reconhecida, nem existiria aos
olhos dos povos antigos. Ao recusar dar-lhe um Nome, Adão a nega a existência, e seu
direito a uma alma.
29. Segundo todos os patrões, Adão passa a ser um pouco mais que um bastardo aqui.
“Ishah” é “mulher”; “Eva”, segundo a maioria das teorias, deriva de “chavvah”, que por sua
vez sai de “chai”, “vida”. O nome familiar, Eva, significa então “Mãe de Todos os Vivos”.
Claramente, ela não é uma mãe nem a mãe neste ponto, mas como a maioria de nós
estamos acostumados a “Adão e Eva” eu usei os nomes habituais. Algumas Bahari preferem
diluir a referencia ao “ser inferior”, vendo-o como um reforço do estereotipo de “mulher
inferior”.
O Livro da Serpente 67
A “corrupção” destas Árvores por criações inferiores arruinou esse plano e instaurou
a mortalidade. Lilith se transforma então na destruidora deste mundo e em inimiga jurada
de Jeová, seu criador; e, opostamente, uma parte necessária na ordem cósmica que Jeová
tinha tentado manipular. Nota para os Membros: A Imortalidade é uma mentira. Todas as
coisas (incluindo nós mesmos) perecerão. Eis aqui as vangloriosas promessas de nossos
anciões!
37. De fato, esta lista continua durante uma dezena de linhas. A versão hebraica
nomeia vários anjos e demônios maiores; a grega enumera (não deveria nos surpreender)
uma serie de deidades mesopotâmicas e helênicas; a versão Ba'hara lista alguns dos nomes
que aqui invoquei, além de duas ou três dezenas a mais, nenhum dos quais são inteligíveis
para o leitor moderno (inclusive a mim).
38. A primeira vez que vemos Adão fazer um ato nobre. Talvez o fruto tenha feito
algum bem. Simbolicamente, poderíamos interpretar isto como a luta do homem contra os
elementos e a divindade. Eva era muito audaz, mesmo que não fosse brilhante. Em um nível
simbólico, podemos ver isso como a intervenção do amor como a salvação da carne do
ataque das “bestas” da luxuria e da fúria.
39. Cosmicamente, o equilíbrio foi restabelecido e os Quatro Mundos se
restauraram e receberam uma nova forma. “EHYEH ASHER EHYEH” (“SOU O QUE
SOU”) culmina o Keter, ou a Coroa, da Árvore Cabalística, e representa a vontade divina.
Em um sentido bíblico, a afirmação de Jeová é toda a definição que Ele precisa: isto é o que
faz com que o mundo comece a existir, e a partir dali cria-se o equilíbrio.
40. ... e dando lugar as distintas tribos, nações e criaturas encontradas em diferentes
partes do mundo.
41. Coisa que explica o carinho que Jeová sente pelos nômades, e a resistência de
Seus seguidores e suas constantes exigências de supremacia.
O Livro da Serpente 68
Pinturas Rupestres, Roda de Istar, Turquia; datada de aproximadamente 15.000 a.C.
Segundo Ciclo:
O Livro
da Coruja
Eu perdi minha fé
em silêncio
- Patricia de la Forge, "Grin”
O Livro da Coruja 71
I: A Primeira Paz
O Livro da Coruja 73
Pois não há frutas tão doces
Quanto aquelas que queimam.
Ahi hay Lilitu
Minha dor fez de mim uma montanha.
Queimou-me até que virasse cinzas.
E das cinzas eu ascendi.
Ahi hay Lilitu
Minha dor fez de mim uma montanha,
Mas como um verme eu me escondi na areia
E andei durante a noite,
Pois os dias eram claros demais para agüentá-los
Sem gritar profanações ao Único Acima²
Que me jogou à disformidade.
Nas terras devastadas, eu tomei forma.
Ahi hay Lilitu
Eu me encontrei nas terras devastadas,
Onde minha visão se expandiu,
E minha mente se estendeu,
E minha carne se tornou água,
E meus ossos se tornaram pedra,
E meus pés aceleraram seus passos,
E minha sombra se tornou débil e se escondeu do Sol³
Até que a noite fresca viesse
Quando minhas dores sumiriam
Deixando-me mais sábia com suas lições.
Minha excruciação me fez livre.
O Livro da Coruja 77
V: Lilith e Lúcifer
O Livro da Coruja 87
VIII: A violação de D'hainu
O Livro da Coruja 89
E nós estávamos todos apaixonados.
Num dia negro como cinzas, o assassino voltou
Quando Lúcifer carregou o céu com tempestades.20
A mão de Caim carregava as pedras do ódio e a lâmina da vingança.
Suas crianças seguiram numa nuvem de gafanhotos após ele.
Como chacais, eles caíram sobre as crianças de D'hainu.
Como lobos, eles se alimentaram da carne.
Como besouros, eles levaram embora os frutos do jardim
E queimaram D'hainu até que só restassem brasas.
Di halla Lilitu21
D'hainu não existe mais.
O Livro da Coruja 91
Somente Nosferatu e Toreador devem ser poupados
Pois eles cobriram as faces
Dos mortos.
Com pena, eles molharam os lábios das crianças e
Deram estímulo à mãe dos mortos.
Todos os outros devem ser consumidos pelo fogo
E entortados como árvores na tempestade
E quebrados como argila
E atropelados como estrume
E levados pelas águas como pó!
Ahi hay Lilitu
Como pó eles devem ser varridos!
E ele fez.
E nós fizemos.
Meu amor me deixou
Sob asas da meia noite.
Nossa ligação está quebrada
E tudo é cinzas agora.
Ahi hay Lilitu
Tudo é cinzas agora.
O Livro da Coruja 93
A Cerimônia de Caim
Notas da Editora
Meus companheiros (citados na seção de "notas" anteriormente neste
livro) executaram essa cerimônia comigo sob a lua cheia há alguns anos.
O velho me deu sua transcrição, a qual eu tentei manter intacta. De
toda a minha pesquisa, este é o único ritual Bahari escrito com o qual cruzei.
A Cerimônia envolveu meus amigos, um de seus úteis serviçais, e treze
prisioneiros, cada um drogado, hipnotizado e conduzido telepaticamente
através de seus próprios pés por um vampiro cujo nome eu nunca ouvi. Os
prisioneiros representavam as crias de Caim e interpretaram seu papel com
gosto; não obstante, eles pareciam perturbados quando as crianças "mortas"
de Lilith - interpretadas pelos Bahari vampíricos - retornaram à vida, os
rasgaram, esquartejaram e consagraram a cerimônia com seus fluidos vitais.
Como o costume manda, a Cerimônia de Caim que eu participei foi
realizada sem vestimentas em pleno inverno, num jardim sagrado de rosas,
videiras, hera e pedras. Algumas das plantas que eu vi eram mistérios para
mim, mas eu ainda não era uma botânica naquela época. Um vento frio
lançou os participantes (inclusive a mim) em um entorpecimento dentro do
qual a Cerimônia foi realizada. Eu acredito que o vento congelante
supostamente representa o terror espiritual do genocídio de Caim, a sombra
de Lilith e Lúcifer, e a aridez que seguiu a separação. O frio despedaçante
ajudou a enfatizar a lição de dor, também; até o que há de não-morto entre
nós sentiu isso arder. Os efeitos daquele frio nos participantes mortais
podem apenas ser imaginados.
O Livro da Coruja 95
Através de encantos que eu posso dizer apenas de modo vago, os
ensangüentados celebrantes invocam, logo após, fantasmas e espíritos,
verdadeiramente:
Sacerdotisa: Nachash el marhim arik no kofelo. Shelack no komair
neshia aparm! Bahari latwaa - Bahari latwaa. Baruk hamaat, baruk hamaat!
Artri Lilhitu!
Sacerdote: Lammanas! Lammanas! Kol fetu hattabus! Nachash no
goash aral to ari. Yin soquaa ahni anaka. Lakhil alhil kataab. Yin soquaa ali.
Artri Lilhitu!
Em meio a um grande clamor e um clima
hostil, os espíritos se manifestam. Enquanto a
Cerimônia acontece, esses fantasmas assistem
com uma sombria decisão, então entram na
celebração depois de um sinal de
consentimento.
Agora que tudo está preparado, o ritual
pode começar de verdade. A sacerdotisa
invoca as Crianças. Na clareira aproximam-
se os seis do Sangue Bahari (os assim
chamados, Lhaka), cada um deles belos,
reluzentes e inocentes à luz da lua. Depois
os prisioneiros são trazidos - treze ao todo,
cada um representando um clã dos
Cainitas e trajando máscaras estilizadas as
quais envolviam os respectivos os papéis
designados dele ou dela. Esses infelizes
geralmente são abandonados, os vampiros
prisioneiros ou os outros inimigos dos do
Sangue. Admitidos e controlados por um
mestre invisível, esses substitutos
encaminham-se para a arena e
permanecem à distância, aguardando
suas próximas instruções.
Há uma breve troca de diálogo que flui naturalmente :
Uma voz sem rosto, aparentemente uma manifestação simbólica de
Caim, diz: Quem são vocês que permanecem aqui no Jardim de Lilith?
As Crianças respondem: Nós somos as Crianças de Lilith, as quais
provaram do sangue do seu coração e comeram as frutas sagradas.
Caim: Vejam as Crianças daquela que nos privou o alimento!
Crianças: Você mente! Ela passou fome, você não!
Caim: Vejam as Crianças daquela que nos negou!
Crianças: Você mente! Ela recusou, e você nada!
Caim: Vejam as crianças daquela que nos amaldiçoou!
Crianças: Você mente! A maldição é culpa sua!
Caim: Venham a mim, minhas crias! Destruamos este jardim e
corrompamos a descendência da Mãe Sombria!
Nesse momento, onze dos prisioneiros entraram em um violento
frenesi se lançam sobre as belas Crianças à frente deles. Os outros dois,
representando Toreador e Nosferatu, dão as costas para a violência e não
tomam parte. O massacre que se sucedeu é poético e horrível ao mesmo
tempo. Comandados pelo do mestre invisível, os substitutos dos Cainitas
saltaram sobres as presas como cães rasgando as partes macias, usando para
isso dentes e unhas. As sarças do jardim geralmente são utilizadas, assim
como as várias pedras e galhos deixados por lá para esse fim. Os fantasmas na
borda do círculo assistiam famintos enquanto o sangue espirrava. A força
deles aumentava a do ventríloquo que os controlava, os substitutos rasgam
membro por membro das Crianças, saciando-se com o sangue e as
entranhas, suspendendo as tochas de fogo e incendiando os arbustos ao
redor.
Enquanto isso, Toreador e Nosferatu vão solenemente ao círculo três
vezes, mergulham seus dedos na piscina, então molham os lábios mortos das
Crianças como para lhes dar um gole final.
Depois disso, os dois tiram os corpos dos inocentes ocultos de detrás de
suas máscaras e jogam-nos diante da face dos matadores. Feito isso, os
assassinos - pois foi isso o que os outros substitutos se tornaram - levam os
corpos despedaçados em direção às chamas.
O Livro da Coruja 97
Nesse momento, a sacerdotisa
ergue a mão. Todo o movimento
cessa. O sacerdote também ergue sua
mão. Juntos eles entoam o seguinte
canto:
Sacerdotisa: O sangue de
minhas Crianças, em dor, clama por
mim na dor! O sangue de minhas Crianças
clama por mim, na morte! O sangue de
minhas Crianças clama por mim, pela
vingança! Desapareça Geração de Caim!
Eu declaro sua condenação!
Sacerdote: Repugnante
Geração de Caim! Montes de fezes e
poeira! Vocês se atrevem a se
levantar contra as minhas belas
crianças? Vocês se atrevem a violar
o meu Jardim de Renovação? Vocês
se atrevem a ferir o coração de minha
amada? Então banqueteiem-se com
minha ira, e banqueteiem-se bem!
Como você possuiu o coração delas,
então eu devo possuir o seu!
Sacerdotisa: Levantem-se
minhas Crianças! Deixem seu sangue
vivo fluir nesses espinhos e espinheiros!
Deixem seu sangue despertar essas
videiras sufocadas! Levantem-se
minhas crianças e vinguem-se!
Dispersem a carne deles até os
confins da Terra.
O Livro da Coruja 99
Sacerdotisa: Caim, Filho de Eva e cria
de Adão, o Profanador, tu hás de colher sete
vezes as ervas amargas da minha vingança!
Sacerdote: Caim, Filho de Eva e cria do
Primeiro Homem, tu há de queimar na
satisfação do Sol!
Ambos: Para sempre estaremos contra tu e os
teus! Tuas Crianças hão de se levantar umas contra as
outras, e hão de fazer contigo muito pior do que fizeste
conosco. Para sempre serás privado do fruto dos
jardins, e tu terás de vagar pela terra em
desgraça. Esta é a Maldição da Mãe.
Todos respondem: Assim foi dito!
Assim está feito! Bahari leitee Lilitu! Bahari
leitee Lilitu! Bahari leitee Lilitu! Assim está
feito!
A sacerdotisa rompe o círculo e dispensa
os espíritos da seguinte maneira:
Sacerdotisa: Sigam adiante com o vento
para atormentar as crianças de Caim. Eu os
liberto de sua convocação, desejo-lhes boa caça
e adeus. Eu os agradeço. Vão em paz. Artri
Lilhitu. Artri Lilhitu.
O sacerdote toca a face da sacerdotisa,
então se volta, afasta-se dela, passa pelo fogo
novamente e desaparece nas sombras. As
Crianças saem do círculo e recuam para as
árvores. Os espíritos desaparecem. As
fogueiras são apagadas e clareira escurece.
A sacerdotisa cai de joelhos, verte
lágrimas, recolhe as cinzas das máscaras, e
então as espalha por entre os arbustos.
Quando essa tarefa está acabada, ela anda lentamente até a piscina, ajoelha-
se na borda e submerge nela.
Quando ela afunda sob o gelo, a Cerimônia está terminada. Todos os
grupos partem.
100 Revelações da Mãe Sombria
O Lamento por Lúcifer
Nota da Editora
Eu ouvi este canto assombrado executado por uma sacerdotisa Bahari
do grupo mortal. Eu não tenho idéia de quão antigo é, nem qual possa ser
sua fonte. Ela disse as palavras como a oração de uma amante, acariciando
cada sílaba com gélida paixão. Sem querer perder uma palavra, eu fechei
meus olhos e deixei o canto gravar figuras em minha mente. Quando a
oração acabou e o círculo foi rompido, eu poupei meus anfitriões dos
ultrajes das investigações Tzimisce, e então enterrei seus corpos no jardim
que eles consideravam tão sagrados. Por apoio, eu contei com minhas
lágrimas. O jardim, eu agüei com sua vitae. Pareceu-me sacrilégio fazer de
outro jeito.
Notas da Editora
O seguinte trecho é tirado das anotações de um mísero escriba
anônimo, a serviço de Igreja Inglesa. Os caçadores locais aparentemente
pegaram uma Lamia Ba´ham. Mesmo ignorantes sobre a natureza de sua
prisioneira, esses senhores aprenderam rapidamente (através de três guardas
desmembrados) que essa “Bruxa” em particular deveria ser contida em
poderosas correntes. Uma vez feito isso, três padres, um torturador, vários
guardas e nosso escriba começaram interrogar a poderosa convidada.
Notas da Editora
Enquanto vários animais são tidos como sagrados para a Mãe Sombria,
a coruja, o gato e a serpente são geralmente considerados como suas bestas
“símbolo”.
Um conto medieval (muito longo e sem nexo para ser contado aqui)
conta como Lilith e Adão (antes de sua épica separação) brincavam de criar
no Jardim do Éden. Adão, sendo o moldador, poderia transformar lama em
muros, árvores em lanças e gravetos em jaulas. Lilith, sendo fértil, poderia
criar coisas vivas a partir de sua urina, sangue e suspiro. As três primeiras
coisas que ela criou foram ditas como a coruja (que voou sobre o muro de
Adão), o gato (que capturou o veado que escapou das lanças de Adão.) e a
serpente (que escorregou pelas barras da jaula de Adão). A combinação de
inveja e medo dessas criações provavelmente contribuiu para as desavenças
conjugais que os separaram para sempre.
Quando Lilith deixou o Jardim, dizem que Adão violentou cada besta
que existia no Jardim, menos a coruja, o gato e a serpente; esses o
perseguiram até ele clamar por socorro para seu deus. Quando Jeová
amaldiçoou Lilith, a maldição também caiu sobres seus animais. Por meio de
sabedoria superior eles seguiram Lilith e Lúcifer até o segundo jardim e
espalharam-se por lá. Quando aquele casal jurou vingança contra a
humanidade e Caim, os companheiros de Lilith, dizem, foram os primeiros
agentes de sua vontade.
Esta música inglesa, outra composição medieval, foi cantada por uma
moça em tolas roupas. Ela diz ser uma “recriacionista” (uma apelação que eu
posso chamar absurda) cuja paixão foi queimada em uma idealizada terra do
nunca, baseada em surreais escritos de autores de fantasia. Mesmo assim, ela
tinha uma grande aptidão para pesquisas essa música é aparentemente
autentica, e de mais de 600 anos. Eu a ofereço como um exemplo da
influência da Mãe Sombria no mundo mortal.
No espírito de suas musicas e de seus interesses por coisas medievais,
dei a minha musa uma amostra das leis antigas: uma viagem no rio James,
amarrada a um saco com uma coruja, um gato e uma serpente. De acordo
com os jornais, ela sobreviveu. Espero que ela tenha aprendido alguma coisa.
O Livro do Dragão 117
Vinde a mim
Vinde a mim
Vinde a mim
Vinde a mim
E conceda-me venenos
Oh!
* NT. No texto original, “O say diddle-dally” é uma frase a qual não existe tradução para
o português, portanto, optamos por adaptar a frase da melhor maneira possível.
O Livro do Dragão 119
As Marés Crescentes
Notas da Editora
Escutei pela primeira vez essa perturbadora profecia como parte da
mesclada indústria de dança “Time for Breakfast”, de Shaken Baby
Syndrome. Prendeu minha atenção das primeiras linhas até o final.
Nenhum mortal, pensei, poderia saber tanto sobre coisas obscuras. Como
sabemos, nossa grandiosa Mascara é muito eficiente para deixar que tal
informação vazasse para o público em geral. Enquanto eu escutava, não
podia evitar ficar perturbada. Quando a música acabou, fui pegar o DJ que
havia tocado a música.
A voz fria e desapaixonada que havia pronunciado acabou sendo de
Patrícia de La Forge. Quando eu a perguntei da fonte de profecia, ela
admitiu ser muito mais antiga que ela. Com ajuda do velho, eu achei a
versão latina das Marés Crescentes que é anterior à conquista de Bretanha.
Assim começou minha busca pelas origens e natureza dos cultos modernos
de Lilith.
Parece-me apropriado acabar esse Ciclo com as mesmas palavras que
começaram a minha jornada. Como qualquer um com grande
conhecimento sabe, muito dos sinais descritos a seguir tornaram-se reais
últimos anos. Até mesmo os mortais sabem que sinais de um fim próximo
têm mais a ver com antigas proclamações do que com calendários tolos e
números preocupantes. Enquanto as palavras de Caim dizem que o mundo
se acabará com fogo, a versão de Lilith assegura que o fogo será extinto pela
água. Talvez a colisão dos dois transforme essa terra condenada em uma
pilha de “novos mundos de conchas”. Quando os olhos do Ser Ancestral
fecharem-se novamente, o esquecimento cairá novamente e o silêncio
reinará. Talvez, após um tempo, outra terra surgirá e outro ciclo começará.
Eu estou apenas feliz por ter a oportunidade de voltar a descansar.
Creio que à noite que virá será muito desagradável.
Durmam bem, Filhos de Caim. Algumas velhas dívidas estão sobre a
mesa, e seus créditos expiraram.
Tique Taque, certamente.
As destruirá!
No último dia
As águas surgirão!
Notas Finais
1: Esta parece ser uma referencia ao “mundo das conchas” descrito nos escrito
cabalísticos uma estanha correspondência, dada a diferença entra a cosmologia Hebraica
e Suméria. (Veja os fragmentos de Gênesis).
2: Note as repetições do três , recorrente a essa invocação. Em muitas filosofias
místicas, o três é o numero fortalecedor, o numero da unidade. E também corresponde a
água, o elemento mais associado a Lilith e a mulher em geral.
3: Muitos textos antigos mencionam Lilith como a coruja. Veja o texto “Coruja,
Gato e Serpente.”
4: Tal e como eu interpretei, esse verso dizia “... e a lâmina da espada do homem.” A
versão suméria, entretanto, oferece uma dupla metáfora a fabulosa vagina dentata, e a
armadilha da castração utilizados por anciões para castrar fazendeiros, escravos e
criminosos.
5: Uma referência a Jeová? Ou ao Ancião mencionado nos fragmentos de Gênesis?
6: Na versão suméria, o criptograma Ba´hara da Grande Serpente é claramente
visível. Eu uso a tradução “Dragão” para enfatizar a diferença entre uma mera cobra e a
encarnação de Lilith.
7: Nós podemos pegar essa misteriosa referencia em três modos: como uma
lembrança dos banquetes de Lilith com seu próprio sangue no deserto; como referência ao
vampirismo; ou como um plano para tomar o sangue de Caim. Lembra-se da Bruxa no ciclo
de Nod deLaurent? Poderia ter sido Lilith tomando outra forma, escravizando Caim
mesmo fingindo ser mais fraca que ele? A idéia é inconcebível.
8: A versão moderna usa “inferno”, mas a versão cuneiforme suméria sugere
“mundos quebrados” mais que infernos na versão tradicional. Afinal de contas, nessa
época, havia poucos mortos. Seria necessário um inferno? Seriam outros submundos ou
fragmentos deste? Creio que esta última teoria é a mais certa.
9: Normalmente considerado como símbolo do infinito, a areia representa os
inconstantes aspectos da terra (a fundação e o ventre) que podem ser barrados, ou que não
pode suportar grande peso ou força, como um castelo de areia derrubado pela maré.
10: Interpreto isso como um chamado os novos vampiros que escolherão Lilith a
Caim, mas também pode ser interpretado como uma invocação à “mancha negra do
assassinato” que convenceu Lilith a ajudar Caim (veja O Jardim da Meia Noite). A mãe
obscura pode estar invocando não só os filhos do Amaldiçoado, mas seus talentos para
matar também.
11: Uma imagem incerta. Os leões são tipicamente associados com a realeza e
ocasionalmente com Jesus Cristo; a veracidade e a natureza indomável, entretanto eles
também são considerados bestas de fúria e encarnações dos desejos de Satã. Essa
(combinada com o referencial de “portador do sol”) fala da Lamia como filha de Lilith e
não de Adão.
Podemos presumir que, de uma vez por todas, a vítima torturada se vingou de seus
torturadores mesmo que por um breve período.