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ASSOCIAÇÃO DOS DIPLOMADOS DA ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

X CICLO DE ESTUDOS DE POLÍTICA E ESTRATÉGIA

ANÁLISE DA EXCLUSÃO EDUCACIONAL NO ENSINO FUNDAMENTAL NO

MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA – MG

GRUPO DE TRABALHO N° 4

Autores:

Antônio Carlos Saheb Campos


Monografia exigida ao final do
Antônio Jair Amarante Garcia Curso de Estudos de Política e
Estratégia da Associação dos
Cristiano Teodoro Rezende Diplomados da Escola Superior
de Guerra, Representação em
Denilson Felipe Borges Uberlândia sobre o tema: “A
educação e o município”.
Jaudet Zeki Rassi Junior

Patrícia A. Sousa Ferolla S. Mello

Vanessa Fabiane Machado Gomes

Orientador

Cel. Jayme Pinto Jorge Filho

Uberlândia – MG

2004
Agradecimentos

Ao Cel. Jayme Pinto Jorge Filho, nosso orientador, pela paciência e carinho com que nos

supervisionou no desenvolvimento deste trabalho.

Aos membros da ADESG, que pacientemente nos auxiliaram na elaboração e revisão deste

texto e providenciaram material e apoio moral.

À Superintendência de Ensino e todos que nos forneceram informações, pela boa vontade.

-2-
Educação é a transmissão da civilização.

Ariel e Will Durant

-3-
Resumo

Desde os anos 90 a reforma educacional vem sendo implantada obedecendo a vetores comuns

às demais políticas sociais públicas, como descentralização da gestão e do financiamento. A

legislação nacional determina que a oferta gratuita do ensino público seja compartilhada entre

as três esferas de governo, atribuindo aos municípios a responsabilidade pelo Ensino

Fundamental e Médio.

Pelos dados do Censo Demográfico de 2000, existe no Brasil quase um milhão e meio de

crianças de 7 a 14 anos sem matrícula e/ou evadidas das escolas. Essa legião de crianças

excluídas das salas-de-aula representaria 5,5% dos brasileiros nessa faixa etária. A taxas de

evasão escolar variam de região para região conforme perfil da população e recursos

destinados e empregados na educação básica. Conhecer, portanto, o número de crianças que

estão evadidas do ensino fundamental em nossa região fornece subsídios para mudanças desse

cenário. A universalização da educação básica, com indicadores precisos de qualidade, é uma

condição fundamental para o desenvolvimento de processo de democratização na sociedade.

4
Índice

Índice de Figuras e Quadros .......................................................................................................7

Índice de Tabelas .......................................................................................................................9

Siglas e Abreviaturas ...............................................................................................................10

Introdução ................................................................................................................................12

Perspectivas históricas ....................................................................................................13

Municipalização do ensino .............................................................................................15

Desigualdade social ........................................................................................................17

Caracterização do sistema educacional brasileiro ..........................................................18

Dispositivos legais ................................................................................................18

Financiamento .......................................................................................................20

Objetivos ..................................................................................................................................22

Hipótese ...................................................................................................................................23

Metodologia .............................................................................................................................24

Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) .......................................25

Resultados ................................................................................................................................26

5
Indicadores de exclusão da escola ..................................................................................35

Da qualidade do ensino, segundo dados SAEB ..............................................................41

Discussão .................................................................................................................................47

Análise política ...............................................................................................................48

Do dever do estado ................................................................................................48

Os problemas de financiamento ............................................................................49

A qualidade do ensino ...........................................................................................50

Propostas .........................................................................................................................51

Qualidade do ensino ..............................................................................................51

Exclusão escolar ....................................................................................................52

Exemplos de programas de inclusão escolar ..................................................................53

Programa Toda Criança na Escola ........................................................................53

Programa de Aceleração de Aprendizagem ..........................................................54

Conclusão .................................................................................................................................55

Referências ...............................................................................................................................57

Anexos

6
Índice de Figuras e Quadros

Figura 1: Número de crianças e adolescentes que não frequentavam a escola, segundo a idade

...................................................................................................................................................37

Figura 2: Frequencia à escola entre as pessoas de 4 a 17 anos, segundo a idade ....................38

Figura 3: Mapa da exclusão escolar no Brasil ........................................................................40

Figura 4: Exclusão escolar na Região Sudeste ........................................................................40

Figura 5: Percentual de estudantes nos estágios de construção de competências ...................41

Figura 6: Construção de competências e desenvolvimento de habilidades de leitura de textos

de gêneros variados em cada um dos estágios (resumo) ..........................................................42

Figura 7: Percentual de estudantes nos estágios de construção de competências. Matemática

...................................................................................................................................................42

Figura 8: Legenda: Construção de competências e desenvolvimento de habilidades na

resolução de problemas em cada um dos estágios (resumo). Matemática ...............................43

Figura 9: 8a série do Ensino Fundamental – Língua Portuguesa e Matemática ......................43

Figura 10: Construção de competências e desenvolvimento de habilidades de leitura de textos

de gêneros variados em cada um dos estágios (resumo). Língua Portuguesa ..........................44

Figura 11: Construção de competências e desenvolvimento de habilidades na resolução de

problemas em cada um dos estágios (resumo). Matemática ....................................................45

7
Figura 12: Percentual de estudantes nos estágios de construção de competências. Matemática

...................................................................................................................................................45

Figura 13: Percentual de estudantes nos estágios de construção de competências. Língua

Portuguesa ................................................................................................................................46

Quadro 1: Ensino Fundamental: matrícula efetiva por tipo e nível de ensino, segundo a

superintendência e rede de ensino de Uberlândia, MG no ano de 2002 ..................................27

Quadro 2: Ensino Fundamental: número de estabelecimentos de ensino, matrícula efetiva por

nível/modalidade de ensino segundo Superintendência, Município e Dependência

Administrativa. Uberlândia - Minas Gerais, 2002 ...................................................................28

8
Índice de Tabelas

Tabela 1. Gastos públicos com educação. Comparação em termos percentuais do PIB .........26

Tabela 2. Ensino Fundamental: número de estabelecimentos por nível de ensino, segundo a

superintendência e rede de ensino de Uberlândia (MG), 2002 ................................................30

Tabela 3. Educação Fundamental: matrícula efetiva em março e incremento anual, por rede

de ensino, segundo o ano. Total do Estado – 1993/02 .............................................................31

Tabela 4. Alunos afastados por abandono segundo a série do Ensino Fundamental no

município de Uberlândia, MG, nos anos de 2000, 2001 e 2002 ..............................................32

Tabela 5. Alunos afastados por abandono segundo a série do Ensino Fundamental no

município de Uberlândia – MG, nos anos de 2000, 2001 e 2002 ............................................32

Tabela 6. Brasil, percentual da população estudantil, por estágio de proficiência em língua

portuguesa e matemática na 4ª série do ensino fundamental ...................................................33

Tabela 7. Brasil, percentual da população estudantil, por estágio de proficiência em língua

portuguesa e matemática na 8ª série do ensino fundamental ...................................................33

Tabela 8. Dados do censo escolar sobre o município de Uberlândia, MG desde 1997 ...........35

Tabela 9. Quantitativo de crianças fora da escola da população de 7 a 14 anos - Brasil,

Regiões e Unidades Federais ...................................................................................................39

9
Siglas e Abreviaturas

ADESG Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra

Art. Artigo

CONED Congresso Nacional de Educação

ESG Escola Superior de Guerra

FUNDEF Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e

Valorização do Magistério

GT4 Grupo de Trabalho n. 4

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC Ministério da Educação

MG Minas Gerais

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PNE Plano Nacional de Educação

PNED Plano Nacional de Educação Física e Desportos

PIB Produto Interno Bruto

10
SAEB Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Básico

SEE Sistema Integrado de Informações Educacionais

UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

11
Introdução

O presente estudo foi realizado pelo Grupo de Trabalho 4 (GT4) como trabalho final do X

Curso de Estudos de Política e Estratégia, promovido pela Associação dos Diplomados da

Escola Superior de Guerra (ADESG), representação de Uberlândia. O Curso propõe o estudo

de problemas brasileiros e a ação dos seus estagiários, localmente, visando o desenvolvimento

nacional e o Bem Comum.

De acordo com os fundamentos da Escola Superior de Guerra (ESG), a identificação de

necessidades da Nação está entre seus objetivos e os caracterizados como objectivos

fundamentais são, entre outros, os voltados para identidade e desenvolvimento nacionais.

Estes são interesses e aspirações que subsistem por longo tempo como a democracia, o

progresso e a paz social. Relacionam-se ao desenvolvimento integral da nação, fazendo do

Brasil uma sociedade mais justa e mais humana.

Para a ESG, o objetivo fundamental da política brasileira é “Vitalizar o potencial humano e

geográfico do País a fim de construir uma das nações mais prósperas e respeitadas do

mundo”. No entender da ESG, a educação constitui uma das áreas estratégicas de ação no

Brasil.

É nessa ótica que este trabalho se propõe a analisar o ensino fundamental de Uberlândia. A

educação de qualidade visa que os indivíduos atinjam suas potencialidades, melhorando a

qualidade de vida e desenvolvendo o país. Analisando inicialmente o panorama brasileiro do

12
Ensino Fundamental, seus principais indicadores, regulamentações e problemas, são lançadas

bases para análises mais minuciosas em nossa microrregião. O conhecimento das disposições

que regulamentam o ensino, cria sustentáculos para críticas oportunas ao sistema educacional

vigente.

Perspectivas históricas

A luta da sociedade brasileira pela universalização do acesso à escola remonta a décadas. A

educação como direito de todos foi assegurada na Constituição Federal como direito subjetivo

de tal forma, no art. 205:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e

incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da

pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Oliveira (citado em Prieto, 2002, p. 2), relata que:

( ... ) a própria declaração desse direito (à educação), pelo menos no que diz respeito à

gratuidade, constava já na Constituição Imperial. O que se aperfeiçoou, para além de

uma maior precisão jurídica − evidenciada pela redação −, foram os mecanismos

capazes de garantir, em termos práticos, os direitos anteriormente enunciados, estes sim,

verdadeiramente inovadores.

13
Ao analisarmos dados estatísticos dos últimos 20 anos temos que a ampliação do acesso à

escola, política implementada nesse período, levou a quedas das taxas de exclusão escolar

(Abicail, 2002).

O Censo de 1980 revelou que, naquele ano, o contingente de crianças e adolescente de 7 a 14

anos que não freqüentavam escola (excluídos da escola) beirava os 7,6 milhões, representando

33% do total nessa faixa de idade. O Censo de 1991 revelou que entre 1980 e 1991 houve

uma diminuição sensível no número absoluto dos não-freqüentes no grupo de 7 a 14 anos, que

baixou de quase 7,6 milhões em 1980 para cerca de 5,7 milhões em 1991 (Ribeiro, 2000).

É mister reconhecer os ganhos realizados na década de 1980 em termos de escolarização,

particularmente na faixa de 7 a 14 anos. Por outro lado, os mesmos números que atestam o

progresso realizado, também denunciam tudo o que, em 1991, ainda estava por se conquistar.

No período 1991/96, os níveis de exclusão permanecem relativamente elevados nos extremos

do grupo de 7 a 14 anos: 10,8% aos 7 anos e 16,9% aos 14 anos (Beltrão & Alves, 2004).

Apesar de todos os avanços verificados nos 16 anos decorridos desde o Censo de 1980 até a

Contagem 1996, no grupo de 7 a 14 anos as taxas de exclusão da escola iniciavam com 10,8%

aos 7 anos, atingindo o ponto mínimo de 6,6% aos 10 anos, subindo novamente a partir daí

até atingir a taxa de 16,9% aos 14 anos; taxas ainda muito altas. Mesmo reconhecidos todos

os avanços no período, a exclusão da escola continuou representando um problema no Brasil.

14
Segundo dados levantados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

(INEP/MEC), a taxa esperada de conclusão do ensino fundamental é de 59%. Isso significa

que se não houver uma mudança no atual cenário, cerca de 41% dos estudantes brasileiros

continuarão sem concluir sequer o nível obrigatório de escolaridade (INEP/MEC, 2001). De

acordo com os dados do Censo Demográfico de 2000, existe no Brasil quase um milhão e

meio de crianças de 7 a 14 anos sem matrícula e/ou evadidas das escolas (INEP, 2003). Essa

legião de crianças excluídas das salas-de-aula representaria 5,5% dos brasileiros nessa faixa

etária (IBGE, 2003).

Uma alegoria que bem expressa a apreensão dos profissionais da educação básica brasileira é

a máxima de Boaventura de Souza Santos (citado em Abicalil, 2002, p.257):

Professores e alunos terão de ser exímios nas pedagogias das ausências, ou seja, na

imaginação da experiência passada e presente se outras opções tivessem sido tomadas.

Só a imaginação das consequências do que nunca existiu poderá devolver o espanto e a

indignação perante as consequencias do que existe.

Municipalização do Ensino

Desde os anos noventa, uma reforma educacional vem sendo implantada obedecendo a

vetores comuns às demais políticas sociais públicas, como a saúde e previdência social.

Interessa aqui a diretriz de descentralização da gestão e do financiamento da educação em

direção aos governos subnacionais. Nos dias atuais, a maior parte das vagas da primeira etapa
15
do Ensino Fundamental é oferecida pelo poder público municipal (64,58%), resultado do

acelerado processo de municipalização ocorrido no País (Ramos, 2001).

Desde 1995, com a ênfase política de descentralização, a função do governo federal no ensino

fundamental passou a ser redistributiva e supletiva. Pelos dados oficiais, esta visa a

equalização de oportunidades educacionais e um padrão mínimo de qualidade do ensino,

mediante assistência técnica e financeira aos estados e municípios. Entretanto, com o

crescente déficit dos governos e suas consequentes políticas de controle, os programas sociais

passaram gradualmente a serem direcionados a governos estaduais e municipais (Di Pierro,

Joia & Ribeiro, 2001).

O engajamento dos município na atividade educacional está correlacionado a uma série de

dispositivos da Constituição de 1988, que assegurou aos cidadãos o direito ao ensino

fundamental público e gratuito, responsabilizou o poder público por ofertá-la, vinculou

parcela da receita de impostos a despesas com educação e promoveu uma descentralização

dos tributos em favor da esfera municipal, que ampliou sua capacidade de investimento (Di

Pierro, Joia & Ribeiro, 2001).

Por exemplo, em Minas Gerais, segundo dados da Secretaria Regional de Ensino, desde 1998,

houve redução de 11% das matrículas no ensino fundamental, não totalmente compensada

pelo aumento de 23% no ensino médio e de 19% na pré-escola. Entre as medidas e fatores que

mudaram o perfil da educação pública de Minas, destacam-se: a municipalização do ensino

fundamental e a alteração do perfil demográfico da população (Secretaria de Estado de

Educação de Minas Gerais, 2004).

16
Desigualdade social

Uma das principais mazelas da sociedade brasileira é a desigualdade social, que se manifesta

de forma perversa no sistema educacional. Essa desigualdade afeta diferentemente as regiões

brasileiras conforme demonstram indicadores socio-econômicos. Na conformação do PIB

(Produto Interno Bruto) nacional, por exemplo, o Sudeste contribui com 58, 25% e o Norte

com 4, 45% (Ramos, 2001). As taxas de evasão escolar variam de região para região

conforme o perfil da população e recursos destinados e empregados na educação básica.

As conhecidas desigualdades nacionais interferem diretamente nos números apresentados pelo

INEP/MEC. Crianças no trabalho infantil, pobreza absoluta, falta de perspectiva de futuro e

desestruturação familiar são algumas das causas do abandono e da não-matrícula. Segundo

dados do governo federal, o Brasil investe o equivalente a 5,2% do PIB em educação

(INEP/MEC, 2001). É uma proporção razoável, mas insuficiente diante do atraso de décadas

que o país acumulou por descaso com a educação de massa.

17
Caracterização do Sistema Educacional brasileiro

Dispositivos legais.

Uma análise un passeant sobre as disposições constitucionais serve de referência para

tratamento das bases sobre as quais se fundamentam as políticas públicas de responsabilidade

do Estado (Abicalil, 2002). Os fundamentos da organização do Estado federado estão

claramente dispostos no art. 1º da Constituição Federal e seus objetivos, no art. 3º. O art.º 6

dispõe: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a

previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na

forma desta Constituição”.

O sistema educacional brasileiro está organizado em dois grandes níveis: a Educação Básica e

o Ensino Superior. A Educação Básica é subdividida em Educação Infantil (creches e pré-

escola), Ensino fundamental (com oito anos de duração) e Ensino Médio de, no mínimo, 3

anos. Em 2002, cerca de 56 milhões de brasileiros participavam desse sistema e a grande

maioria – 53 milhões – encontrava-se em processos de escolarização básica, 88% dos quais o

fizeram em instituições públicas de ensino (IBGE, 2001).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional1 (LDB) define como finalidade da

Educação Básica “desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação indispensável para o

exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos

18
posteriores”. Esta lei desencadeou um amplo processo de municipalização do ensino

fundamental e de estadualização do ensino médio e faz parte do esforço do governo federal

em ampliar no ensino brasileiro medidas que garantam o cumprimento do compromisso

firmado na Conferência Internacional de Educação para Todos, realizada em Jonteim –

Tailândia em 1990. A carta de compromisso, resultado dessa Conferência, estabelece um

prazo para execução dos planos decenais patrocinados pelo Banco Mundial, Unicef e Unesco,

em associação a governos de países como a China, Índia, Paquistão e Brasil, dentre outros,

tendo como metas: erradicação do analfabetismo, universalização do ensino básico, redução

da repetência e evasão escolar (Afonso, P).

A reforma da educação em curso é parte de um projeto maior para adequar o ensino brasileiro

às exigências da economia mundial globalizada. Dessa forma, também propõe dividir as

responsabilidades do Estado em relação à educação com a sociedade civil, municipalizando e

privatizando a educação e manter o controle ideológico da escola, por meio de sistemas

nacionais de avaliação.

Quanto à legislação, o artigo 208 da Constituição Federal tornou direito público subjetivo do

cidadão e obrigação do Estado oferecer educação fundamental. O Artigo 211 da referida carta

distribuiu responsabilidades e estabeleceu o regime de colaboração entre as três esferas de

governo:

Art. 211. A União, os Estados, O Distrito Federal e os Municípios organizarão em

regime de colaboração seus sistemas de ensino.

1
BRASIL. Lei n.º. 9394, de 20 de dezembro de 1996. 19
§1º A União organizará o sistema federal de ensino e os Territórios, financiará as

instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função

redistributiva e supletiva, de forma a garantir a equalização de oportunidades

educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e

financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.

§2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação

infantil.(...)

§4º Na organização de seus sistemas de ensino, os Estados e os Municípios definirão

formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório.

A legislação nacional determina que a oferta gratuita do ensino público seja compartilhada

entre as três esferas de governo, atribuindo aos municípios a responsabilidade pelo Ensino

Fundamental e Médio. A organização do sistema educativo foi detalhada na Lei 9394 de

Diretrizes e Bases da Educação (1996) e as metas plurianuais fixadas na Lei 10172 do Plano

Nacional de Educação.

Financiamento.

Em 1996 foi aprovada a Emenda Constitucional n.º 14 que criou o Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF).

20
Constituiu-se na principal iniciativa do governo para tornar viável a estratégia de dar

prioridade à expansão do acesso ao ensino fundamental. A divisão da receita entre o estado e

seus municípios passou a ser proporcional ao número de alunos matriculados nas escolas de

cada rede de ensino. Dos 25% que a Constituição obriga os estados a investir em educação,

60%, o equivalente a 15% de toda a arrecadação fiscal, devem se destinar, exclusivamente, ao

ensino fundamental (Brasil, 2000).

O Fundo definiu também um gasto mínimo por aluno/ano. Estados mais pobres, que não

alcançam esse mínimo, recebem uma complementação de recursos do governo federal. A

nova sistemática estimulou os governos locais a matricular todas as crianças na escola.

O Fundef foi o mecanismo da reforma educacional que operacionalizou as diretrizes federais

de descentralização do financiamento e da gestão do ensino básico em favor dos estados e

municípios, e de sua focalização no ensino fundamental de crianças e adolescentes (Di Pierro,

2001).

21
Objetivos

Este trabalho pretendeu analisar a exclusão escolar no Ensino Fundamental em Uberlândia,

Minas Gerais (MG) e discutir quanto a políticas públicas e estratégias de governo para

diminuir a exclusão escolar. Antes de apresentar considerações acerca das políticas públicas é

necessário registrar, a título de constatação, evidências da exclusão. Conhecer o número de

crianças que estão evadidas do ensino fundamental fornece subsídios para mudanças desse

cenário.

Como o Brasil é um país de dimensões continentais e o perfil da população muda em cada

região, o problema que aqui se insere é:

Qual é a taxa da exclusão escolar em Uberlândia- MG? Ela condiz com os números

fornecidos pelo INEP/MEC?

22
Hipótese

Para o desenvolvimento deste estudo, partiu-se do pressuposto, de acordo com dados da

literatura, que a taxa de exclusão escolar em Uberlândia encontra-se entre 4,16% e 5,5%

(respectivamente as do estado de Minas Gerais e a taxa brasileira).

Ainda de acordo com a literatura, acreditou-se que as políticas públicas municipais e as

estratégias de governo não são satisfatórias para arrebanhar estas crianças excluídas da escola.

23
Metodologia

Para desenvolvimento do estudo tem-se que por excluídos da escola entendem-se todos

aqueles que, devendo freqüentar a escola, não o fazem, independentemente de já a haverem

freqüentado no passado ou não (Ferraro, 2000). Dessa forma, busca-se aprofundar o aspecto

relacionado com a questão da exclusão da escola ou, dito de forma positiva, com a questão da

universalização do acesso à escola

Obviamente, não há maneira de se avaliar, com base nas estatísticas disponibilizadas pelos

órgãos oficiais, o peso da categoria excepcionais no conjunto da não-freqüência. Por

excepcionais entende-se crianças e adolescentes em idade escolar que não frequetam as

instituições de ensino por patologias ou incapacidades para o mesmo.

Este foi um estudo descritivo transversal, realizado através da análise de dados fornecidos

pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) coletados através do Sistema de Avaliação do

Ensino Básico (SAEB/MEC), além dos fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação,

pela Superintendência Regional de Ensino e pelos diversos censos do IBGE. Procedeu-se à

análise e revisão bibliográfica para sugestões de políticas públicas no intuito de diminuir a

exclusão educacional no Ensino Fundamental no Município de Uberlândia, MG. Os

indicadores utilizados foram o PIB, dados demográficos e índices escolares, principalmente.

24
Para a análise política, foi dada ênfase às políticas de âmbito e implementação local.

Analisou-se a Lei Orgânica Municipal, o PNED/2001 (Plano Nacional de Educação Física e

Desportos), o projeto do Plano Municipal entre outros documentos legais. Uma política de

inclusão escolar especificamente analisada, embora implementado nacionalmente foi o

programa “Toda Criança na Escola”. Este programa constitui-se numa ampla mobilização dos

governos federal, estaduais e municipais e da comunidade para matricular as crianças que

ainda estavam fora das salas de aula. Em 1992, 18,2% das crianças entre 7 e 14 anos não

estavam na escola. Após sua implementação houve queda para os números mostrados

anteriormente (5,5%) (Davies, 2002).

Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB)

O INEP realiza, a cada dois anos, uma avaliação da qualidade da educação básica, mediante a

aplicação de provas a uma amostra de estudantes de quarta e oitava séries do ensino

fundamental e de terceira série do ensino médio. O SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da

Educação Básica) fornece dados sobre o desempenho dos estudantes de todas as regiões e

unidades da Federação, das redes pública e privada e das áreas urbanas e rurais. Desta forma,

este sistema teve grande valor para esta análise pois os dados foram cruzados com os

indicadores e políticas acima descritos para avaliação da qualidade do sistema educacional

público em Uberlândia. Para esta análise ser completa, apenas dados quantitativos não são

suficientes e o SAEB fornece análise qualitativa do ensino fornecido às crianças brasileiras.

25
Resultados

A tabela abaixo mostra a distribuição dos recursos públicos pelos diferentes níveis de ensino,

como percentagem do PIB.

Tabela 1

Gastos públicos com educação. Comparação em termos percentuais do PIB

Ensino Ensino Ensino Outros Total

Fundamental Superior
Médio

Média dos 1,6 1,3 1,0 1,0 4,7

diversos

países

Brasil 1,3 0,2 0,5 0,6 2,5

Diferença -0,3 -1,1 -0,5 -0,4 -2,2

Fonte: UNESCO – Statistical Yearbook, 1992-1994.

IBGE – Anuário Estatístico, 1993.

(Citado no PNE do II CONED).

26
Nome SRE* Rede 1ª à 4ª série 5ª à 8ª série Total

Estadual 23685 39183 62868

Federal 302 331 633


Uberlândia
Municipal 35496 21731 57227

Particular 5767 4719 10486

Estadual 662866 ##### ######

Federal 1001 1977 2978


Minas Gerais
Municipal 104844 115183 220027

Particular 104844 115183 220027

Quadro 1: Ensino Fundamental: matrícula efetiva por tipo e nível de ensino, segundo a

superintendência e rede de ensino de Uberlândia, MG no ano de 2002.

Fonte: SSE/APC/CPRO.

Dados do Censo Escolar de 2002.

* SRE: Secretaria Regional de Educação.

27
Especificação Dependência N.º de Ensino Fundamental

Administrativa estabelecimentos
1ª à 4ª série 5ª à 8ª série Total

Total 18109 #### #### ####

Estadual 3925 640903 #### ####

Minas Gerais Federal 29 1007 1845 2852

Municipal 10354 #### 453788 ####

Particular 3801 108836 119496 228332

Total 375 64404 64568 128972

Estadual 102 22872 37198 60070


Uberlândia –
Federal 3 304 310 614
SRE *
Municipal 144 35054 21958 57012

Particular 126 6174 5102 11276

Total 217 45456 45665 91121

Estadual 66 15592 24243 39835

Uberlândia Federal 3 304 310 614

Municipal 60 24756 17361 42117

Privada 88 4804 3751 8555

28
Quadro 2: Ensino Fundamental: número de estabelecimentos de ensino, matrícula efetiva por

nível/modalidade de ensino segundo Superintendência, Município e Dependência

Administrativa. Uberlândia - Minas Gerais, 2002.

Fonte: SSE/AS/SPL/DPRO.

* SRE: Secretaria Regional de Educação.

29
Tabela 2

Ensino Fundamental: número de estabelecimentos por nível de ensino, segundo a

superintendência e rede de ensino de Uberlândia (MG), 2002

Nome SRE* Rede 1ª à 4ª série 5ª à 8ª série Total

Estadual 69 80 95

Federal 1 1 1
Uberlândia
Municipal 101 51 102

Particular 80 33 83

Estadual 2639 2684 3612

Federal 3 5 5

Minas Gerais Municipal 8467 1381 8562

Particular 1113 701 1202

TOTAL 12222 4771 13381

Fonte: SSE/APC/CPRO

Dados do Censo Escolar de 2002

Nota: a coluna total não é o somatório das demais colunas; pois um estabelecimento pode

ministrar uma ou mais modalidades de ensino.

* SRE: Secretaria Regional de Educação.

30
Observa-se na tabela abaixo a privatização progressiva do ensino e a queda no número de

matrículas na rede pública.

Tabela 3

Educação Fundamental: matrícula efetiva em março e incremento anual, por rede de ensino,

segundo o ano. Total do Estado – 1993/02

Rede de Ensino

Ano Federal Estadual Municipal Particular Total


efetivada
Matrícula

anual%
Incremento

efetivada
Matrícula

anual%
Incremento

efetivada
Matrícula

anual%
Incremento

efetivada
Matrícula

anual%
Incremento

efetivada
Matrícula

anual%
Incremento
1993 2907 ### 2465090 ### 723115 ### 191924 ### 3383036 ###

1994 2200 -24,32 2470809 0,23 795439 10,00 195504 1,87 3463952 2,39

1995 2013 -8,50 2503090 1,31 805662 1,29 207692 6,23 3518457 1,57

1996 2655 31,89 2550290 1,89 842912 4,62 210922 1,56 3606779 2,51

1997 2705 1,88 2558189 0,31 910650 8,04 200863 -4,77 3672407 1,82

1998 2251 -16,78 2161575 -15,50 1495983 64,28 197744 -1,55 3857553 5,04

1999 3108 38,07 2062693 -4,57 1505666 0,65 201780 2,04 3773247 -2,19

2000 3138 0,97 1916245 -7,10 1507484 0,12 203657 0,93 3630524 -3,78

2001 3086 -1,66 1822179 -4,91 1492667 -0,98 213405 4,79 3531337 -2,73

2002 2978 -3,50 1810226 -0,66 1487744 -0,33 220027 3,10 3520975 -0,29

Fonte: SEE – MG/AS/SPL/DPRO

31
Tabela 4

Alunos afastados por abandono segundo a série do Ensino Fundamental no município de

Uberlândia, MG, nos anos de 2000, 2001 e 2002

Série
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª
Ano
Rede estadual

2000 228 98 112 152 486 572 787 1301

2001 198 89 78 86 162 344 321 424

2002 206 90 85 119 269 350 430 729

Fonte: Censo Escolar Final de Ano

Tabela 5

Alunos afastados por abandono segundo a série do Ensino Fundamental no município de

Uberlândia,MG, nos anos de 2000, 2001 e 2002

Série
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª
Ano
Rede municipal

2000 598 264 318 348 504 600 415 354

2001 446 299 261 312 514 514 437 451

2002 487 299 313 349 682 693 635 614

Fonte: Censo Escolar Final de Ano

32
Minas Gerais, com 4.921.999 estudantes, possui a segunda maior rede de educação básica do

país. A maior parte desses alunos encontra-se matriculada no ensino fundamental (70%) e no

ensino médio (19%). Investir em educação em Minas significa dar atenção a quase 1/3 da

população mineira.

A rede pública possui 4.457.869 alunos (90,57%), dos quais 58% encontram-se na rede

estadual e 41% nas redes municipais. Dos 2.595.481 estudantes da rede estadual, 67% estão

matriculados no ensino fundamental.

Tabela 6

Brasil, percentual da população estudantil, por estágio de proficiência em língua portuguesa e

matemática na 4ª série do ensino fundamental

Língua portuguesa

Muito crítico Crítico Intermediário Adequado Avançado

22,21 36,76 36,18 4,42 0,43

Matemática

12,53 39,79 40,89 6,78 0,01

Fonte: MEC/INEP, 2001

33
Tabela 7

Brasil, percentual da população estudantil, por estágio de proficiência em língua portuguesa e

matemática na 8ª série do ensino fundamental

Língua portuguesa

Muito crítico Crítico Intermediário Adequado Avançado

4,86 20,08 64,77 10,22 0,06

Matemática

6,65 51,71 38,85 2,65 0,14

Fonte: MEC/INEP, 2001

34
Tabela 8

Dados do censo escolar sobre o município de Uberlândia, MG desde 1997

1997 1998 1999 2000

Aprovação 85,9 88,7 89,5 86,8

Reprovação 14,1 11,3 10,5 13,2

Evasão 12,1 9,5 7,2 9,1

Fonte: CENSO ESCOLAR

Documento Oficial da Secretaria de Estado da Educação - Minas Gerais

Sistema Integrado de Informações Educacionais - SEE/MEC

Indicadores de exclusão da escola

Nas análises da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2001 (PNAD/2001),

realizada anualmente pelo IBGE,

“A situação educacional continuou apresentando expressivas melhorias no País. O

crescimento da escolarização vem reduzindo o analfabetismo e elevando o nível de

instrução da população, diminuindo disparidades regionais.”

Segundo dados desta Pesquisa, em 2001 a sociedade brasileira tinha uma dívida social com

cerca de 15 milhões de cidadãos, com 10 anos ou mais, caracterizados como analfabetos e

35
ainda, “de 1996 para 2001, o percentual de crianças de 7 a 14 anos de idade fora da escola

decresceu de 8,7% para 3,5%” (PNAD, 2001; Pietro, 2000).

Quanto à taxa de escolarização líquida, o Censo Escolar/2002 revelou que contamos com

35.233.996 alunos no ensino fundamental, enquanto que no ensino médio chegaram somente

8.783.737, revelando ao poder público que é preciso assumir como prioridade a ampliação do

potencial de atendimento neste nível de ensino.

36
Figura 1: Número de crianças e adolescentes que não frequentavam a escola, segundo a

idade.

37
Figura 2: Frequencia à escola entre as pessoas de 4 a 17 anos, segundo a idade.

38
Tabela 9

Quantitativo de crianças fora da escola da população de 7 a 14 anos - Brasil, Regiões e

Unidades Federais

% de % de crianças

crianças fora fora em

N crianças fora da % crianças fora da em relação à relação à


UF População
escola escola população população de

brasileira de 7 a 14 anos

7 a 14 anos das regiões

Brasil 27.188.217 1.495.643 5,50 100,00


Norte 2.506.985 279.765 11,16 18,71 100,00
RO 256.018 24.043 9,39 1,61 8,59
AC 110.812 17.762 16,03 1,19 6,35
AM 552.339 92.836 16,81 6,21 33,18
RR 63.745 3.726 5,85 0,25 1,33
PA 1.210.757 119.974 9,91 8,02 42,88
AP 94.269 6.209 6,59 0,42 2,22
TO 219.045 15.215 6,95 1,02 5,44
Nordeste 8.615.463 614.861 7,14 41,11 100,00
MA 1.146.864 96.505 8,41 6,45 15,70
PI 531.276 33.759 6,35 2,26 5,49
CE 1.350.950 77.129 5,71 5,16 12,54
RN 480.752 25.323 5,27 1,69 4,12
PB 601.890 37.100 6,16 2,48 6,03
PE 1.349.463 107.116 7,94 7,16 17,42
AL 521.715 57.029 10,93 3,81 9,28
SE 316.432 21.320 6,74 1,43 3,47
BA 2.316.121 159.580 6,89 10,67 25,95
Sudeste 10.443.510 385.948 3,70 25,80 100,00
MG 2.789.444 116.050 4,16 7,76 30,07
ES 487.757 27.145 5,57 1,81 7,03
RJ 1.904.154 74.023 3,89 4,95 19,18
SP 5.262.155 168.730 3,21 11,28 43,72
Sul 3.757.069 131.881 3,51 8,82 100,00
PR 1.486.431 64.606 4,35 4,32 48,99
SC 830.455 28.215 3,40 1,89 21,39
RS 1.440.183 39.060 2,71 2,61 29,62
Centro-oeste 1.865.190 83.188 4,46 5,56 100,00
MS 345.163 16.607 4,81 1,11 19,96
MT 432.081 28.006 6,48 1,87 33,67
GO 784.768 31.353 4,00 2,10 37,69
DF 303.178 7.222 2,38 0,48 8,68

39
Norte:
Crianças (7 a 14):
2.506.985
Fora: 279.765
Percentual:
11,16% Nordeste:
Crianças (7 a 14):
8.615.463
Fora: 614.861
Percentual: 7,14%
Centro-Oeste:
Crianças (7 a 14):
1.865.190
Fora: 83.188
Percentual: 4,46% Sudeste:
Crianças (7 a 14):
10.433.510
Fora: 385.948
Percentual: 3,70%

Sul:
Crianças (7 a 14):
3.757.069
Fora: 131.881
Percentual: 3,51%
Figura 3: Mapa da exclusão escolar no Brasil.

Fonte: IBGE/2000, citado em INEP: Mapa do Analfabetismo no Brasil. Brasília, 2003, pag.6.

Especificamente na Região Sudeste os dados são os seguintes:

Espírito Santo:
Minas Gerais: Crianças (7 a 14):
Crianças (7 a 14): 487.757
2.789.444 Fora: 27.145
Fora: 116.050 Per: 5,57%
Per: 4,16%

São Paulo:
Crianças (7 a
14): 5.262.155
Fora: 168.730 Rio de Janeiro:
Per: 3,21% Crianças (7 a 14):
1.904.154
Fora: 74.023
Per: 3,89%

Figura 4: Exclusão escolar na Região Sudeste

Fonte: IBGE/2000, citado em INEP: Mapa do Analfabetismo no Brasil. Brasília, 2003, pag.6.

40
De acordo com o INEP/MEC, o Brasil tem 27.188.217 crianças entre 7 a 14 anos. Destas,

1.495.643 estão fora da escola (5,5%).

As escolas do setor público atendem 45,8 milhões de alunos na educação básica – infantil,

fundamental e média. Esse número eqüivale a 87,8% do total de estudantes.

O Estado de Minas Gerais perdeu a posição histórica de primeiro colocado no País, passando

à quarta colocação pelos dados do SAEB/2001. Essa piora relativa se fez acompanhar de algo

mais preocupante: o desempenho dos estudantes mineiros, na última avaliação, piorou em

relação à sua própria performance de quatro anos atrás. Examinando o setor público, verifica-

se que o sistema municipal tem desempenho mais baixo que o sistema estadual e as escolas da

capital têm, em média, resultados melhores que as do interior (SRE).

Da qualidade do ensino, segundo dados SAEB

Figura 5: Percentual de estudantes nos estágios de construção de competências.

41
Em 2001, 59% dos estudantes da 4ª série do ensino fundamental estavam nos níveis crítico e

muito crítico. Em 2003 este percentual caiu muito pouco para 55%.

Figura 6: Construção de competências e desenvolvimento de habilidades de leitura de textos

de gêneros variados em cada um dos estágios (resumo).

42
Figura 7: Percentual de estudantes nos estágios de construção de competências. Matemática.

Figura 8: Legenda: Construção de competências e desenvolvimento de habilidades na

resolução de problemas em cada um dos estágios (resumo). Matemática.

Figura 9: 8a série do Ensino Fundamental – Língua Portuguesa e Matemática.

43
Figura 10: Construção de competências e desenvolvimento de habilidades de leitura de textos

de gêneros variados em cada um dos estágios (resumo). Língua Portuguesa.

44
Figura 11: Construção de competências e desenvolvimento de habilidades na resolução de

problemas em cada um dos estágios (resumo). Matemática.

Figura 12: Percentual de estudantes nos estágios de construção de competências. Matemática.

45
Figura 13: Percentual de estudantes nos estágios de construção de competências. Língua

Portuguesa.

46
Discussão

O subfinanciamento da educação no Brasil é crônico. Embora o FUNDEF tenha sido criado

para garantir o valor mínimo por estudante, este foi fixado arbritariamente em R$ 415,00.

Esse valor equivale apenas a 1/3 do custo de um estudante na cidade de Uberlândia, como

demonstrado na Tabela 1 e anexos.

Os dados para avaliação do ensino, além de restritos, são meramente quantitativos. É preciso

investir na constituição de informações que verifiquem, principalmente, como está se

procedendo a aprendizagem desses alunos, pois:

“( ... ) dados quantitativos, quando isolados de outros indicadores de qualidade, poucos

subsídios oferecem para o aprofundamento do debate sobre a oferta de condições

adequadas de ensino. O importante é averiguar se, aos alunos ( ... ) está garantido o

acesso ( ... ) a condições para que se apropriem do conhecimento construído pela

humanidade” (Prieto, 2002) .

Além da importância que assume a obtenção desses dados para a elaboração do planejamento

do atendimento e avaliação das ações implantadas, eles também são essenciais para que se

possa caracterizar a política proposta e a implementada no Brasil.

Os sistemas de ensino devem construir instrumentos que possam identificar e caracterizar

com clareza e precisão sua população escolar, bem como aquela que ainda não teve acesso à
47
escola, de tal forma que essas informações possam evidenciar suas reais necessidades

educacionais, permitindo elaborar planejamento educacional capaz de atendê-las.

Também responsável pela exclusão escolar, são as condições sócio-econômicas de uma

parcela significativa da população que obriga crianças ao trabalho infantil. Segundo dados do

PNAD/2001, das 16 milhões de crianças de 5 a 9 anos, 296.705 ainda trabalhavam; entre 10 e

14 anos, 1,9 milhões trabalhando.

Os dados mostraram que, por maiores que tenham sidos os avanços, o não-acesso à escola,

continua a representar um problema no Brasil do século XXI.

Análise política

Para iniciar a análise política, convém conceituar alguns termos. Política é a arte de organizar

e governar um Estado e de dirigir suas ações internas e externas em busca do Bem Comum.

Estratégia é a arte de preparar e aplicar o poder para conquistar e preservar objetivos

superando obstáculos de toda ordem (Escola Superior de Guerra, 2004).

Do dever do Estado.

Os artigos sob o Título II da LDB mencionam os princípios e fins da educação nacional,

seguindo-se pelo direito à educação e dever de educar no Título III. Embora o dever da

família preceda, na ordem da escrita, ao do Estado (art. 2º), em momento algum se pode
48
suprimir qualquer das partes na afirmação do direito à educação escolar vinculada ao mundo

do trabalho e à prática social (§ 2º do art. 1º).

A Constituição Federal estabelece que o ensino público deve ser gratuito em todos os níveis.

Entretanto a privatização da educação fundamental vem ocorrendo por mecanismo indireto,

conforme dados da Tabela 3. As escolas privadas vem se expandindo e a omissão do Estado

em alguns níveis do sistema educativo (línguas e informática, por exemplo) deixa abertos

espaços que são rapidamente preenchidos pela iniciativa privada (Di Pierro, 2001). A opção

de uma parcela significativa da população pela rede particular de ensino, geralmente aquela

com condição de pagar, representa outra face da política educacional e compõe o quadro de

segregação social.

Nada mais atual e forte do que firmar posição no sentido de que à educação pública cabe:

a) A promoção da igualdade nas condições de acesso e permanência

b) A promoção da Qualidade Social

c) A avaliação voltada para o projeto político-pedagógico centrado na construção de uma


nação soberana e emancipadora (Abicalil, 2002)

Os problemas de financiamento.

A redução de recursos para a educação tem sido dramática, conforme relata o próprio

Tribunal de Contas da União. Entre 1996 e 1999, houve uma queda de R$ 1,4 bilhão no

49
orçamento federal. Os gastos federais seguem a tendência de decrescimento: R$ 6,1 bilhões

em 1995, R$ 5,6 bilhões em 1996; R$ 5,3 bilhões em 1997, R$ 4,8 bilhões em 1998 e R$ 5,5

bilhões em 1999 (Abicalil, 2002). Há que considerar que o patamar brasileiro de investimento

público em educação é muito baixo. Em torno de 4% do PIB. As vinculações constitucionais

de recursos resultantes de impostos de 18% para a União e de 25% para estados e municípios

raramente se cumprem e o controle social é ineficaz (Abicalil, 2002).

A qualidade do ensino.

Como o subfinanciamento é crônico e as políticas educacionais não asseguram que a escola

pública proporcione um ensino de qualidade, a educação deixa de cumprir a função de

democratização de oportunidades e acaba reproduzindo as desigualdades preexistentes (Di

Pierro, 2001). Essa diferença também se reflete no desempenho escolar.

Os dados de qualidade, também, são sumamente importantes para a educação nacional.

Segundo o SAEB, hoje, 59% das crianças matriculadas na 4ª série do ensino fundamental não

são leitores competentes. Um percentual muito próximo, 52%, apresenta profundas

dificuldades na utilização da linguagem matemática na resolução de problemas.

50
Propostas

Qualidade do ensino.

O que deve reger o planejamento de políticas públicas de educação “é o compromisso de

viabilização de uma educação de qualidade, como direito da população, que impõe aos

sistemas escolares a organização de uma diversidade de recursos educacionais.” (Sousa e

Prieto, 2002).

A gestão democrática do sistema educacional, envolvendo os diversos setores sociais, com

regras estáveis para composição das instâncias de decisão, de avaliação e de planejamento

proporciona maior fiscalização pela sociedade. Somente a avaliação rigorosa e o investimento

pesado por parte do governo garante a qualidade e eficácia do processo de educação (Abicalil,

2002).

A direcionalização das políticas públicas para o âmbito subnacional possibilita maior

participação social. Mas para que o processo seja eficaz, o Estado não pode negar seu papel

regulador no sistema. Também faz-se necessário estreitar a articulação do nível local, regional

e nacional, fortalecendo o caráter público do sistema.

A gestão democrática das escolas, com participação e decisão colegiada dos diversos

segmentos escolares em conselhos eleitos por seus pares com função deliberativa e de

51
controle social (Abicalil, 2002), leva a envolvimento dos diversos atores deste segmento, em

busca da qualidade do ensino.

Exclusão escolar.

Para Aranha (2001), a inclusão escolar “prevê intervenções decisivas e incisivas, em ambos

os lados da equação (...)” (Grifo nosso).

Para que a inclusão social e escolar seja construída, Aranha (2001) “adota como objetivo

primordial de curto prazo, a intervenção junto às diferentes instâncias que contextualizam a

vida desse sujeito na comunidade”.

O planejamento de ações para atender às necessidades educacionais da população deve partir

do levantamento de dados sobre a estrutura e as condições de funcionamento da rede escolar:

o número, o tamanho e a localização das escolas públicas, seus contornos e conhecer suas

condições físicas; o número e a composição das turmas. É preciso mapear os recursos

educacionais existentes na localidade, identificando e caracterizando a natureza de seu

atendimento e procedendo a avaliação dos mesmos.

Segundo Prieto, 2002, “Tal conjunto de informações deve ser base para a organização de

propostas de intervenção, que devem prever formação continuada para todos os profissionais

ligados direta ou indiretamente a atividades de ensino, que garantam a construção de

conhecimentos sobre características do desenvolvimento e aprendizagem de alunos”.

52
O aprimoramento das políticas públicas no campo social depende de que elas sejam

submetidas a acompanhamento e avaliação sistemáticas, caso contrário, a atuação poderá ficar

restrita ao terreno de suposições que sujeitam as políticas à fragilidade e descontinuidade ou

ao assistencialismo. É preciso responder as seguintes questões: as ações dos sistemas de

ensino se configuram como uma política de atendimento ou uma mera prestação de serviços?

O atendimento proposto tem garantido a aprendizagem dos alunos?

Caminhos a ser trilhados:

a) Áreas geográficas mais carentes devem sofrer intervenção diferenciada

b) O processo de avaliação das políticas e ações educacionais no âmbito da Secretaria e das

escolas deve ser institucionalizado

Exemplos de programas de inclusão escolar

Programa Toda Criança na Escola.

Uma mobilização dos governos federal, estaduais e municipais e da comunidade para

matricular as crianças que ainda estavam fora das salas de aula. Em 1992, 18,2% das crianças

entre 7 e 14 anos não estavam na escola. Em 1999, apenas 4% não estavam matriculadas, o

que deixa o Brasil muito próximo da universalização do acesso ao ensino fundamental.

53
Programa de Aceleração da Aprendizagem

O Ministério da Educação criou o Programa de Aceleração da Aprendizagem para impedir a

evasão escolar secundária às altas taxas de repetência. Ele permite ao aluno avançar mais

rapidamente nos estudos até alcançar a série compatível com a sua idade. Cerca de 1,2 milhão

de alunos já freqüentaram essas classes especiais, em todos os estados brasileiros, de um total

de sete milhões de estudantes fora da faixa etária, matriculados nas escolas de educação

básica. A taxa de promoção, que mede o número de alunos que passou de série, aumentou de

64,5%, em 1995, para 72,7%, em 1997. No mesmo período, a repetência caiu de 30,2% para

23,4% dos alunos e a taxa de abandono da escola baixou de 5,3% para 3,9%.

54
Conclusão

O esforço público por um sistema de educação eficaz deve ser um mecanismo de pressão

continuada, de prática administrativa que ponha em curso uma transgressão salutar e

necessária à lógica de redução do Estado, do direito mínimo. Ao apostar numa outra educação

possível, a ação necessária recomenda o anúncio de alternativas socialmente válidas e

politicamente sólidas. O que se espera conquistar é uma educação de qualidade, que garanta a

permanência de todos na escola com a apropriação/produção de conhecimento, que possibilite

sua participação na sociedade.

A ampla divulgação das estatísticas educacionais exerce papel essencial para a necessária

transformação da educação brasileira. Nada deve ser escondido ou camuflado. Se há crianças

fora de sala de aula, a sociedade brasileira precisa saber. Um milhão e quinhentas mil crianças

estão com seu futuro comprometido. Um contingente maior ainda sofre com a falta de

qualidade do aprendizado em áreas de conhecimento fundamentais.

Não há justificativa plausível para, em um País com o desenvolvimento econômico como o do

Brasil, ainda haver graves e centrais problemas educacionais. Ao serem olhados os dados dos

Estados mais ricos da Federação, os números são ainda mais injustificáveis. Por fim, é preciso

enfatizar que os problemas educacionais são problemas de todos, da Nação, dos Estados, dos

municípios e da sociedade. Portanto, os esforços para se ter todas as crianças na escola e

aprendendo devem ser partilhados. Se houver sucesso, esse será de todos, se houver fracasso,

todos são responsáveis. A universalização da educação básica, com indicadores precisos de


55
qualidade, é uma condição fundamental para o desenvolvimento de processo de

democratização na sociedade.

56
Referências

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