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FIDELINO DE FIGUEIREDO
Estudos de Litteratura —
Artigos varios
eVaGga
QUARTA SERIE
(1921-1922) oN 6)
Faw
491224
5.5. 49
” PORTVGALIA
Livraria Epitora
Rua do Carmo
LISBOAComo a arte pela arte, a critica pela
critica, indifferente a quaesquer propo-
sitos de formacao moral ou de influxo
social, é esteril e affigura-se-nos até
uma occupacao ligeira e impropria da sa
varonilidade espiritual.
O espirito de especialidade, em que
se filia e que a deve nortear, nao a
pode divorciar de preoccupagdes de
tealismo. Nao basta que seja severa-
mente scientifica quanto ao methodo e,
em medida varia consoante a capaci-
dade do espirito que a exerce, que vise
a alguma coisa crear, explicacdo, no-
gdo de valor ou corrente esthetica; ha
que pér-se ao servico duma causa ele-
vada, engrandecendo e espiritualisando
0 proprio criterio de especialismo.
No podemos esquecer a magica
attraccio que outr’ora sébre nds exef-
ceu esta palavra— especialismo—, e
como o nosso programma-de vida foi
entado tornarmo-nos «especialistas».
Discipulos de uma pleiade de especialis-tas, que dia a dia esconjurava 0 ency-
clopedismo e o amor das syntheses e
das idéas geraes, ambicionamos tomar
para nosso feudo espiritual um pequeno
departamento da realidade, percorré-lo
em todos os sentidos, conhecer-lhe to-
dos os escaninhos, com a_ soberania
segura e tranquilla com que um lavrador
conhece a sua fazenda, nesga a nesga,
arvore a arvore.
Mas ao sahir da escola, quando ces-
sou a diaria exhortagfo e as nossas
tendencias livremente fallaram, nao
mais limitamos as nossas curiosidades
a um s6 objecto e chegdmos a formular
a opiniao de que o homem de estudo
deve ser productivamente especialista,
mas receptivamente encyclopedico.
Sobretudo nos haviam impressionado
certos especialistas, com que privdra-
mos e que nos faziam lembrar metho-
dos mecanicos, compassos que por si
trabalhassem automaticamente, sem ne-
nhuma relacionac&o. Ouviramos ho-