Professional Documents
Culture Documents
de Zbigniew Herbert
Traduo: Rogrio Bettoni
1
o mais belo
o objeto que no existe
ele no serve para carregar gua
nem para preservar as cinzas de um heri
no foi acalentado por Antgona
nem nele um rato se afogou
de orifcio, nenhum resqucio
pois completamente aberto
visto
de todos os lados,
quase no
antevisto
os feixes de todas as suas linhas
confluem num jato de luz
nem
cegueira
nem
morte
podem roubar o objeto que no existe
2
marque o lugar onde ficava
o objeto
que no existe
com um quadrado negro
ele ser
um mero rquiem pela bela ausncia
vigoroso lamento
aprisionado
num quadriltero
3
agora
todo o espao
dilata-se como um oceano
um furaco fustiga
o veleiro negro
a asa de uma nevasca
circunda o quadrado negro
e a ilha submerge
sob a disseminao salina
4
o que se tem agora
espao vazio
mais belo que o objeto
mais belo que o lugar que ele deixa
o antemundo
um paraso branco
de possibilidades
l voc pode entrar
gritar
vertical-horizontal
relmpagos perpendiculares
golpeiam o horizonte nu
podemos parar aqui
de todo modo voc j criou o mundo
5
oriente-se
pelo olho interior
no se renda
a murmrios sussurros estalidos
o mundo no criado
impresso nos portes da paisagem
anjos ofertam
chumaos rosados das nuvens
por toda parte rvores implantam
filamentos verdes desalinhados
reis celebram a prpura
e comandam trompetistas
auricolores
at a baleia pede um retrato
oriente-se pelo olho interior
nada aceite alm
6
extraia
da sombra do objeto
que no existe
do espao polar
das inflexveis quimeras do olho interno
uma cadeira
bela e intil
como uma catedral no deserto
ponha sobre a cadeira
uma toalha de mesa amarrotada
adicione ideia de ordem
a ideia de aventura
que seja uma confisso de f
diante do vertical em combate com o horizontal
que seja
mais silenciosa que anjos
mais orgulhosa que reis
mais verdadeira que uma baleia
que tenha a face das ltimas coisas
pedimos que a cadeira desvele
as dimenses do olho interno
a ris da necessidade
a pupila da morte