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Cristianismo
Friedrich Engels
11 de Maio de 1882
As fontes mais confiáveis não nos dão certeza sobre quando esta
pedra fundamental foi introduzida nas doutrinas estóico-filônicas. Mas
uma coisa é certa: não foi introduzida por filósofos, nem discípulos de
Filon ou estóicos. As religiões são fundadas por pessoas que
experimentam uma necessidade própria de religião e têm uma
percepção das necessidades religiosas das massas. Como regra, este
não é o caso dos filósofos clássicos. Por outro lado, nós observamos
que em tempos de decadência geral, agora, por exemplo, a filosofia e
o dogmatismo religioso geralmente aparecem em sua forma vulgar e
superficial. Enquanto a filosofia grega clássica em suas últimas
formas — particularmente na escola Epicurista — leva ao
materialismo ateístico, a Filosofia grega vulgar leva à doutrina de um
Deus único e da imortalidade da alma humana. O Judaísmo também,
racionalmente vulgarizado em mistura e intercurso com estrangeiros
e meio-judeus, acaba negligenciando a cerimónia e transforma o
antigo deus judeu exclusivamente nacional, Jahveh, no único Deus
verdadeiro, o criador de céu e Terra, e adota a idéia da imortalidade
da alma, que era estranha ao Judaísmo inicial. Deste modo, a filosofia
vulgar monoteísta entrou em contacto com a religião vulgar, a qual
presenteou com o já elaborado Deus único. Assim, o caminho foi
preparado pela elaboração entre os judeus das também vulgarizadas
noções filônicas, e não dos próprios trabalhos de Filon, das quais o
Cristianismo procede, como está provada pelo quase total descuido
com que foi composta a maior parte do Novo Testamento,
particularmente a interpretação alegórica e filosófica das narrações
do Velho Testamento. Este é um aspecto ao qual Bauer não dedicou
atenção suficiente.