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COMO FAZER GALÁXIAS

23-09-2007

MARCELO GLEISER,
é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover
(EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo".

+ Marcelo Gleiser

Como fazer galáxias

“A força de atração gravitacional é sempre superior”

No último século, nossa visão cósmica passou por uma profunda


transformação. O cosmo cresceu assustadoramente, virou uma
entidade dinâmica, sempre em expansão, povoado por uma
variedade imensa de objetos.

Parece até brincadeira, mas até a década de 1920 se acreditava


que a Via Láctea fosse a única galáxia no cosmo. Claro,
astrônomos viam outras "nebulosas", mas a maioria pensava que
elas faziam parte da nossa galáxia. Alguns, porém, afirmavam que
essas nebulosas eram outros "universos-ilhas", galáxias como a
nossa. Não havia consenso.

Apenas em 1924, o astrônomo americano Edwin Hubble, munido de


um telescópio de 100 polegadas (o diâmetro do espelho coletor de
luz), pôs fiz ao debate: Hubble provou que os universos-ilhas
estavam fora da nossa galáxia, sendo, portanto, galáxias também.
O cosmo era muito maior do que se imaginava, com um número de
galáxias imenso, chegando a centenas de bilhões. Por sua vez,
cada galáxia tem uma enormidade de estrelas, de alguns milhões a
centenas de bilhões. Bilhões de ilhas com bilhões de "árvores"
iluminadas.

Essa fantástica visão era apenas o começo. Em 1929, Hubble fez


outra descoberta fundamental, talvez uma das mais importantes na
história da ciência: o Universo está em expansão!

As galáxias estão, na maioria, se afastando umas das outras. Ora,


se isso é verdade, a conclusão natural é que, no passado, elas
estiveram mais próximas. Num passado muito distante, estariam
amontoadas. Este seria o momento "inicial", o Big Bang. Mas o
assunto hoje são as galáxias. Como surgiram? A idéia de que o
Universo está em expansão vai contra a noção de que galáxias são
um aglomerado de matéria. Será que não deveriam se dispersar
pelo espaço devido à expansão? O que as mantém coesas?

Para entendermos isso, uma pequena digressão. A coesão das


coisas é devida a forças atrativas. No caso das galáxias, a força em
atuação é a gravidade, sempre atrativa. Se as galáxias não se
dispersam, é porque a atração gravitacional de sua matéria é
superior aos efeitos da expansão. Mas que matéria é essa? Outra
descoberta surpreendente: a matéria que vemos -que compõe as
estrelas e as nebulosas- é apenas uma pequena fração da matéria
total que existe numa galáxia.

A maior parte da matéria nas galáxias é invisível. Não só invisível,


mas não tem nada a ver com a matéria comum, feita de prótons,
nêutrons e elétrons.

Ela é a chamada matéria escura, que não emite luz, interagindo


com a matéria comum apenas por meio de sua atração
gravitacional. Não podemos vê-la diretamente, mas sabemos que
existe pelo modo como a matéria que brilha se move em sua
presença.

Portanto, para galáxias existirem, precisamos de matéria comum e


de matéria escura. Mas está faltando algo de muito importante,
especialmente se queremos entender como as galáxias nasceram
durante a infância do Universo. Para que matéria se condense, é
necessária uma semente, um amontoado inicial de matéria que
atraia mais matéria. Que sementes são essas? Segundo as teorias
atuais, essas sementes foram criadas durante os primeiros
instantes de existência do cosmo, cerca de 14 bilhões de anos
atrás. Elas são os restos mortais de um tipo de matéria exótica que
já não existe -fósseis do Big Bang.

Sabemos que essa idéia deve estar correta porque prevê outros
efeitos que foram observados recentemente.

Dentre eles, que o Universo tem uma geometria plana. Matéria


comum, matéria escura, sementes primordiais de energia. O céu é
cheio de surpresas, a maioria delas invisíveis aos olhos.
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth
College, em Hanover (EUA) e autor do livro "A Harmonia do
Mundo".

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2309200702.htm

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