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CAPITULO 6 Fisica aplicada ao estetoscépio “Em 1816, fui procurado por uma jovem mulher apresen- tando sintomas gerais de doenca cardiaca. A idade e 0 sexo da paciente nfo me permitiram utilizar aquele tipo de exa- me que acabei de descrever (nota: aplicacio direta do ou- vido a0 t6rax). Recordei um fenémeno actistico bem co- mhecido: a saber, se voc8 coloca seu ouvido contra uma ex- tremidade de um cilindro rigido, a arranhadura de um al- finete na outra extremidade é mais distintamente audivel Ocorreu-me que esta propriedade fisica poderia ser itil no caso com 0 qual trabalhava naquele momento. Pegando 1uma folha de papel, enrolei-a, transformando-a num cilin- dro, ¢ uma das extremidades coloquei sobre a regio pre~ cordial, enquanto posicionava o meu ouvido na outra ex- ‘tremidade. Fiquei tao surpreso quanto satisfeito por ser ca- ‘paz de ouvir o batimento do coragio com muito mais cla- reza e distingao do que jamais havia conseguido com a apli- «cagio direta do ouvido”. cerca intact Dr. René Leennec (1781-1825) Histéria. A histéria ocorreu no Hospital Necker, em Pati, 0 este tosc6pio [do grego stéthos(peito) skopéo (olhar) + sufixo ia] tran= formou a técnica da ausculta clinica. Logo depois de ter usado Gilindro de papel, Lzennec construiu um estetosespio em madeira «que tinha a forma cilindrica, comprimento de 35cm e diametro de 3,5cm (Fig. 6.1). Quando, aos 45 anos, morreu de tuberculose, oD Lennec deixou para a Medicina um trabalho extenso no qual cor relacionava os sinais auscultatGrios com os resultados obtidos necropsias, estabelecendo definitivamente a ligagio entre sons < patologias tais como o edema pulmonar a pneumonia, a tubercul> se, a bronquite, a bronquiectasia, oenfisema pulmonar, 0 pneu trax, a estenose mitral e outras. x2 61 ~ Fotografia de wm don ete tospios usados por Lance (De Ti ante Conover 1991, 2) 132 apresen- lee osexo rode exa- za do ou- > bem co- de um al- eaudivel. ser it no Pegando sum cilin- sido pre- outra ex: dor ser ca mais cla- om aapli- be (1781-1826) aris, eo este- ‘fx jo] trans- fe ter usado 0 bem madeira e diametro de zxculose, o Dr > no qual cor )s obtidos nas entre sons € yatuberculo- 2 0 pneumo- 1] Figura 62 ~ Tipos de esetospo mo- souuricularesrigides. (De Bishop, Pir “ikian & Conover 1991.5) lk ‘Figura 6.3 Tipos de estetscspios biow- alares com fabs lexis (Modkea ode Glaser 1944p. 1486) Fisica aplicada ao esttoscépio 133 Comparada com os seus trabalhos relatives & ausculta pulmonar, a contribuigao do Dr. Laennec para os sons cardacos foi, no entanto, ‘menor. 350 se deveu a um erro que cometera, pois pensava ele que a segunda bulha cardiaca era produzida pela contragao atrial. To- davia, em animais de experimentagio, os pesquisadores estabele- ceram a correta relagio entre os sons do coragao e a atividacle desse Orgio, Assim, ao final do século XIX, jd estavam descritos quase todos os sons cardiacos que sao conhecidos hoje. estetoscépio foi definitivamente incorporado a pratica médica Nao se pode conceber tm exame clinico consciencioso que dispen- sea ausculta cuidadosa do paciente. Por ser um método néo-inva sivo, portal, indolor, barato e répido, a ausculta com estetoscépio € indispensdvel. Todavia, de nada vale o melhor dos instrumentos se 0 examinador nao for treinado corretamente para ouvir e distin- guir os sons normais e os anormais que as fontes sonoras do corpo shumano geram, Para que esse treinamento possa ser levado avante necessério conhecer os conceitos eas leis da Fisica que se aplicam 08 sons e ao estetosespio, bem como os mecanismos biofisieos da audigio. Desde que foi inventado, o estetoscbpio sofreu varias modificaces. ‘Aprimeira delas foi feta por Pierre Adolphe Piorry que teve a idéia de dividir o aparelho em duas partes para facilitar o transporte Depois, foram surgindo varios formatos (Fig. 62). Em 1828, Dr Nicholas Comyns (Edinburgh, Inglaterra) desenvolveu um estetos- ‘6pio monoauricular que era parcialmente flexivel. Varias tentati- vvas de aperfeicoar 0 aparelho foram feitas, mas algumas resulta- ram na construcao de aparelhos pouco praticos e, por isso, nao che- garam a ser comercializadas. Em 1851, o Dr George Philip Camman introduzit 0 uso de tubos de latex, flexibilizando o aparetho e rompendo com a geometria cléssica proposta por Leennec e por seus seguidores. O seu instru- ‘mento eta para uso biauricular e muito se assemelhava aos estetos- ‘Spios modernos. Esses instrumentos no foram aceitos rapidamen- te, pois acreditava-se que alteravam as qualidades dos sons. Estetoscépios compostos. Antigamente, os estetosedpios compos- tos ou maltiplos tiveram muito uso no ensino da ausculta. Eles eram construidos de modo a permitir que varias pessoas pudessem ou- vir simultaneamente o mesmo som. Também, estetosc6pios duplos, como 0 de Nicolai Fig. 6.34), foram usados para a comparacio de sons produzidos por areas distintas. Entre eles, muito se usou 0 simbalofone (Fig, 6.3B), cuja caracteristica principal era permitir a0 examinador utilizar a capacidade de lateralizagao e a de compa- ragaio de sons. Gragas a elas pode-se determinar a posigdo espacial de uma fonte sonora. ‘Williams, em 1829, parece ter sido o primeiro a desenvolver e usar o estetoscépio adaptavel aos dois ouvidos. O instrumento tinha 0 mesmo aspecto do estetoscépio usado hoje. Desde a sua concep- sfo ele js possuia aestrutura dos estetosc6pios modernos: era com- posto por duas pecas auriculares, um tubo flexivel longo e um re- ceptor que, encostado no paciente, captava os sons. Em 1901, Bow- Jes construiu um receptor constituido por uma cémara rasa (ress02- dor) ocluida por uma membrana rigida. Ele ficou conhecido como 134 Pantett-Bioacstica Figura 64-Fsictospiobiauicularom ‘uma pega ceptors contituida por doe tiposdereeptones (De Hewlet-Packard 25M Company, Tikian & Conover 1991, p10) receptor de diafragma e & usado nos estetoscspios modernos. Em 1925, Sprague combinou os modelos ce campanula e de diafragme de modo que estivessem sempre conectados ao instrumento na hora do exame. Por sua vez, Cossio, em Buenos Aires, desenvolveu um receptor com diafragma rigido no qual a freqiiéncia de ressonancia dda membrana podia ser alterada para permitir uma melhor andlise dos sons. ‘Também jé foram usados estetoscépios duplos para a comparacao dos sons. © primeiro desses aparelhos foi desenhado por Muralt, em 1910. Ele consistia de dois receptores, cada um ligado a um tubo de borracha de mesmo tamanho e diémetro. A outra extremi- dade dos tubos servia para conectar 0 aparelho aos ouvidos. Poste- sriormente, Froschels introduziu o estetoscdpio diferencial, consti- tuido por um par de receptores conectados a dois tuibos de borra- ccha de forma a que cada ouvido recebesse, simultaneamente, o= sons captados pelos receptores iso e contralateral. Caracteristica acistica e partes do estetoscspio flexfvel. O funcio- rnamento do estetoscdpio & explicado pela fisica dos tubos actisti- ‘cos, Sua principal caracteristica ¢ evitar a atenuacao da onda sono xa por espalhamento. No fim do sécuilo XIX, surgiu 0 estetoscbpio de tubos flexiveis com ‘mola para ajustar as pecas aos ouvidos do exeminador (Fig. 64) \Nesses aparelhos, destacam-se quatro partes: 1. pegas auriculares (A) 2. tubos de conexio (C) 3. mola (M) 4. receptores sonoros (R) As pesas auriculares servem para ajustar 0 aparelho ao orificio do conduto auditivo externo. Tém a forma de olivas e devem ocuir completamente 0 conduto,a fim de que sejam reduzidas as interfe- réncias sonoras externas. Os tubos de conexao sio constituidos por tubos flexiveis e metal= cos. A parte metalic, que se encaixa 20 orificio do conduto auditi- ‘vo extero por meio de olivas, possui movimentos para permil ‘um melhor ajuste do aparelho a0 ouvido. As extremidades aurice lates si0, normalmente, recurvadas,e, porisso, as olivas ficam nun plano diferente daquele dos tubos metélicos. Quando se usa o est toscipio, as olivas devem ser posicionadas de tal forma que fiquer pata frente em relagao ao plano do aparetho. Essa exigéncia deco Te do fato de que o conduto auditivo extemo tem uma orientak espacial que se dirige de trds para frente e com inclinacio ligei ‘mente ascendente. Constitui-se erro grave aplicar 0 estetoscdpio. ouvido, quando as olivas estfo voltadas para tras. Isto porque, ‘sa posigio, a parede lateral do conduto auditivo externo ‘ocluir a abertura do aparelho e nenhum som sera escutado. ‘A mola € feita em aco e a sua fungio é permitir 0 bom ajuste das [pegas olivares ao meato auditivo. Essa mola nao pode ser demasia- do forte nem fraca, pois, em ambos 0s casos, prejudicam a audicao. Quando ¢ muito forte, prejudica a ausculta por promover obstru- cio da extremidade auricular do estetoscépio que é comprimida ernos. Em ‘diafragma tonahora rolveu um ressonancia hor andlise comparagio_ por Muralt, jgado a um. fra extremi- ‘dos. Poste- ps de borra- ecamente, 05 €1.O funcio- bos actisti- ‘onda sono- Jexiveis com ‘or (Fig. 64). 10 orificio do devem ocluir fas as interfe- para permitir fades auricu- ‘as ficam num seusaoeste- saque fiquem sgéncia decor nna orientacio nagio ligeira- setosebpio a0 ® poraue, nes- temo poder cutado. ‘om ajuste das ser demasia- ‘ama audicio. mover obstru- comprimida Xx on Figura 65 ~ Raceptores de um estetos- apie modern. (De Hewlett Packard © SM Company, Tilkian de Conover, 199, p10) Figura 6~Enfermeira usando um este: scmasplorgido para cuvironbalimentos ‘Sdiacosfetais. (Devos, MLE in HIS 2 & Conover 1991.6) Fisica aplicada ao estetoscdpio 135, contra a parede anterior do conduto auditivo, Quando fraca, leva & perda de energia sonora para fora do sistema e também permite {que sons externos indesejaveis perturbem a qualidade da ausculta ‘Varios fatores podem alterar a geometria da regido de acesso a0 canal auditivo e, assim, favorecer a obstruggo. Entre eles: * articulagao temporomandibular sob grande esforgo ‘ falhas dentérias + mastigacao Os receptores pertencem a dois tipos (Fig. 6.5): + campanula (C) += diafragma (D) Audicio mono e biauricular. O ouvido dos animais tem duas fun- Bes naturals: a Tateralizacdo e a comparagio de sons. A lateraliza- Glo é uma fungio muito desenvolvida nos animais, sobretudo na- queles que sio cagados, pois representa um importante mecanismo de defesa. Gracas a essa funcS0, 0 animal pode reconhecer a posi- fo da fonte sonora, Esta discriminacao espacial 6 conseguida pela analise da fase e da intensidade das ondas sonoras que chegam a0s ouvidos. Iss0, no entanto, somente & possivel quando a auclicio 6 biauricular we O estetoscépio monoauricular de uso corrente em obstetricia é um tubo rigido e oco, geralmente feito de metal ou madeira. que termi- na em forma de sino na extremidade que se encosta na paciente (Fig, 66). A outra extremidade é plana e nela se poe 0 ouvido. Ele difere em vérios aspectos do estetoscépio biauricular O monoauiri- ‘cular transmite a informacio sonora 20 ouvido por uma combina- ‘20 de sons que se propagam tanto pelo ar do seu interior, quanto pelos que percorrem a estrutura rigida das suas paredes. Assim, os sons so transmitidos ao conduto auditivo externo e, também, aos ‘05508 dlo erdnio. Dessa forma, eles si0 escutados nio somente por- que fazem vibrar 0 ar do ouvido externo, mas, também, porque se Propagam pelos oss0s. Tal no ocorre com o estetoscépio biauricu- lar. Estes transportam os sons até o ouvido apenas utilizando a via aérea. O estetoscdpio biauricular dotado de tubos flexiveis de mes- ‘mo comprimento e diametro projeta a posigao espacial da fonte sonora no plano sagital Bs Pane I Bioscistica Caracterfsticas acisticas dos receptores. Muitos foram os que aj= daram a desenvolver o estetoscdpio. Entre eles devem ser citados Barss, Eade, Fitzgerald, Johnston, Kleine e Rappaport. Barss, Eade ¢ Fitzgerald observaram que instrumentos com pequeno volume de ar e dotados de grande érea receptora so os que dao melhores resultados actsticos. Johnston e Kleine, por sua vez, concluiram que, entre 05 receptores de campéinula, a geometria mais eficent= ocortia quando a camara era rasa, mas nao inferior a4 * Imm de rofundidade. Johnston e Kleine também encontraram que os receptores de dia- fragma do tipo Bowles atuam como fltros passaalta isto é, atenuam a transmissio dos sons graves. Essa atenuacio é mais intensa quanto ‘maior for a rigidez-da membrana usada. Os tubos conduttores nao devem ser extensiveis ou longos, ou possuir luz. de pequeno dis- ‘metro, porque assim provocam grande amortecimento das ondas Rappaport e Sprague observaram que, quando uma eampanula é aplicada contra a pele do paciente, a pele atua como um diafragma © 0s tecidos a ela subjacentes, como meios de amortecimento da onda sonora. feito diafragma, Qualquer membrana possui uma freqiiéncia i- ima de vibracio, conhecida como freqiigncia de ressondncia. Nesse freqiigncia, a impedancia é minima, e, por isso, as vibragdes sio ‘mais intensas. A freqiiéncia de ressondncia de uma membrana se desloca para valores mais altos sempre que a membrana € estirada ‘ou para valores mais baixos quando deixa de ser tensionada. A isso se chama de efeito diafragma. Comportamento dos diafragmas e das campanulas. Estas sto al- ‘gumas regras que governam o mecanismo de ago dos diafragmas ‘e,comoa pele funciona como uma membrana quando se usam eam ppanutlas, elas sao validas também para esses receptores: + Quanto mais esticada estiver a membrana, maior serd a sua freqiiéncia de ressoniincia, Assim, membranas muito tensas atenuam os sons graves e sio, na verdade, filtros passa-alts ‘+ Quanto maior for 0 diametro do diafragma, menor sera a sua freqiéncia natural. Nessa situaglo, a membrana facilita a aus culta dos sons graves + Quando, por pressio, se altera a freqiiéncia de ressoniinci= do diafragma, ha uma perda de sensibilidade desse receptor ppara todas as freqiéncia. ‘+ Os diafragmas apresentam ressonéincia nas freqiiéncias que so miltiplas da sua freqiiéncia fundamental. + Na fregiincia de ressondncia do diafragma, os efeitos prove cados pela inércia e pela elasticdade sao contrabalangados = ‘© movimento da membrana esté em fase com a forga motriz. ‘Ao se usar o receptor de campainula aplicado sobre a pele, deve-se Jevar em conta que ele esté sujeito ao efeito diafragma. Isso permi- tird que se entenda que, quanto maior for a pressio com que se aplica a campanula sobre o t6rax do paciente, menor sera a intens- dade com que se escutam as buthas cardiacas e mais agudos se ‘tormam esses sons. que aju- ox citados rss, Eade volume ‘methores yncluiram, ‘seficiente = Imm de! ses de dia- & ateruam sa quanto uutores no queno di as ondas mpanula € diafragma cimento da: aiiéncia 6ti- incia. Nessa bragGes so ‘embrana se 12 Gestirada) ‘nada. A isso] Estas slo al- $s diafragmas pr serd a sus ‘muito tensas ts passa-alta tor serda sua facilita aus Fisica aplicada a0 estetonedpio 137 ‘Quanto menor for a campanula, mais alta serda sua freqiiéneia de ressonfinca. Isto se deve a dois fatores: + A campénula funciona como um tubo aciistico fechado. As- sim, afreqincia fundamental Gobtica quando se produz uma ‘onda sonora cujo n6 estd na extremidade fechada e 0 ventre, na extremidade aberta, Pode-se demonstrar que o compri- mento de onda dessa onda € igual a 4 vezes 0 comprimento do tubo. Ainda deve ser considerado que o volume da cam- ppAnula é importante na qualidade dos harménicos produzi- dos. Desta sorte, campanulas de volumes diferentes, mas que tém a mesma profundidade, possuem a mesma freqiiéncia de ressonancia, porém timbres diferentes. ‘+ Acclevada freqiigncia de ressonancia das campanulas peque- nas ¢ facilitada porque geralmente se produz uma grande pressio ao aplicé-la contra a pele do paciente. A rea peque- na facilita o desenvolvimento de grandes pressées, pois € 52- bido que, quanto menor for a drea sobre a qual se apfica uma forga, maior serd a pressdo desenvolvida. A pressao aumen- tada provoca tensio sobre o diafragma, elevando a sua fre- agiiéncia de ressondncia. A caracteristca de a pressio modificar a freqiiéncia natural do re- ceptor tem uma aplicacao itil na ausculta, Variando-se a pressdo esses receptores sobre 0 térax dos pacientes, pode-se criar um fil- {ro actistico variavel capaz. de reforcar diferentes freqiiéncias sono- ras. Para exemplificar a importancia desse fato, suponha-se que a primeira e a segunda bulhas cardiacas tenham sido substituidas [por sopros. Suponha-se que exista un sopro sistélico de alta inten- Sidade e grave, e um sopro diastético de baixa intensidade e agu- do, Por causa da intensidade do ruldo sist6lico, o murmiirio dias- {6lico € mascarado ¢ torna-se de dificil percepeao. Quando se apli- ca cestetoscdpio com grande pressao sobre o trax, a freqiiéncia de ressonancia da membrana (pele ou diafragma) se eleva, atenuando (05 componentes graves do primeiro e do segundo sons cardiacos Esse feito & mais pronunciado sobre o primeiro som do que sobre co segundo. Com isso, consegue-se atenuar 6 sopro sistdlico e ouvir melhor 0 murmiirio diastélico de alta freqiiéncia, Uma outra consideragéo importante, em relagao as campanulas, diz respeito as alteragdes da qualidade sonora em decorrencia das dimensbes e formas intemnas desses receptores. Eles devem possuir volume mfnimo para permitir que 0s sons sejam percebidos com maxima intensidade. Também é importante considerar que 3 for- ‘ma das campnulas deve ser tal que, ao lado de manter um volume interno minimo, nao permita que o seu interior seja preenchido pelos tecidos dos pacientes obesos, evitando-se, assim, 2 rediugSo do dis metro da extremidade aberta e, conseqiientemente, a diminsigao da eficiéncia do receptor. O receptor de diafragma O receptor de diafragma tipo Bowles, comumente empregado na ausculta, é especialmente tiil para detectar sons de baixa intensi- dade e de alta freqiéncia, tais como os murmtirios diastdlicos da insuficiéncia aértica e os sons aguclos dos bronquiolos. O prinefpio 138. Pantell- Bioacistica 60 100200500 1000 Frain es) Figura 67 —tnensidde de ss rans tides por distro de grande (B)e de pagueno didmely (A), Notese queo de ron diimolro ston nsreqnoncias a fs enguanio o de prsjeenn didmetre ‘rans nla eaghncos basa, (Mo slifcade Rappaport Sprague in asset, 1544, p 1480) de sua operagio é semelhante ao que rege as campanulas quando clas so aplicadas sobre a pele do paciente. Ha de se considerar, no entante, que, com esses receptores, se obkém uma atenuacio adicio- nal produzida pelo diafragma, 0 que se manifesta prineipalmente para os sons de baixa freqiiéncia, Receptores de pequeno didmetro favorecem 0 atumento da pressio sobre o diafragma. Com isso a freqléncia de ressondineia da mem brana se eleva e a atenuacio se toma maior para as freqiténcias baixas. Isso pode ser visto na Fig, 6.7 comparando-se a curva A obtida com um receptor de grande diémetio com a curva B, que representa a resposta de um receptor de pequeno diémetro. Note se que 0s receptores pequenos atemuam a intensidade dos sons de baixa freqiiéncia. Campanulas versus diafragmas Figura 68~ Método pars oesiudoda ei sna dos ceptors decampinulaede ‘islagons pars caper son ranemisos trae dasentratiros dtr: GER, ge PulordesonmsA,altoalanerR,eceplor Sue esd sondo eaucado: M, microfone: AMP, ampliiendor: OSC, oacloetipi. “Modifiende de Rappaport Spragie Glaser 144, 9. 190) Rappaport © Sprague desenvolveram uma engenhosa montagem ‘experimental para estudar as caracteristicas dos receptores ce cam- panula e de diafragma (Fig. 68). Usaram, para tal, um gerador (GER) de sons que permitia 0 ajuste de freqiiéncia. Os sinais desse erador eram mandados @ um alto-falante (A) colocado sobre as ‘costas de uma pessoa. Na face anterior do torax, a mesma altura do alto-falante, eram colocados os receptores de campanula ou de dia- fragma a serem analisados (R). Os sons captados eram enviados a ‘um microfone (M), amplificacios (AMP) e, em seguida, visualiza- dos na tela de um osciloscépio (OSC). Nos seus experimentos os pesquisadores usaram trés campanulas: uma grande (volume in- teno 12,7ml), uma média (volume interno 6,2ml) e outra pequene (volume interno 2,3rnl). Usaram também um receptor de diafrag- ima (tipo Bowles) com membrana de 0,38mm de espessura e dig metro de 35cm (volume interno de 2,5m)). Com essa montagem experimental, os autores determinaram a curva de resposta de fre- giléncias dos receptores empregados. As conclsGes obtidas nesses experimentos foram as seguinies: + A oficidncia das campanulas, em relagio ao diafragma, me Ihora & medida que a freqiiéncia do som captado é menor. ‘+ Quanto maior for o didmetro deabertura da campanula, maior serd a sua eficiéncia para captar sons de baixas freqiéncias.. * Ascampanulas de grande abertura exibem ressonancia na fat- xa de freqiiéncias entre 300 e 1.000Hz. + A freqiiéncia de ressonancia das campanulas média e peque- nna (2.000-4.000Fz) estd acima da maior freqiiéncia observada nos sons tordcicos, Feu 69-8 eiisho = SeMED a {pSnulas quando Sconsiderar,no lRenuagio adicio- > principalmente ‘pento da pressio brncia da mem- Faas freqiiéncias sdo-se a curva A pa curva B, que }dimetro. Note- ade dos sons de ‘shosa montagem ceptores de cam- ‘tal, um gerador [a Os sinais desse ‘olocado sobre as, mesma altura do ipinula ou de dia- scram enviados a ‘eguida, visualiza- 5 experimentos 0s ‘ande (volume in- !) eoutra pequena ceptor de diafrag- fe espessura e dif fm essa montagem de resposta de fre- ‘Ses obtidas nesses 20 diafragma, me- aptado é menor, ‘campanula, maior ‘aixas freqiiéncias. ressondnciana fai- Jas média e peque ‘giiéncia observada Fisica aplicada 20 estetosedpio 139 (© receptor de diafragma tipo Bowles emprega uma membrana de baquelita de 0,38mm de espessura com um didmetro itl ce 3,5cm. Essa membrana tem siclo usada porque os testes clinicos demons- traram que ela suprime adequadamente os sons graves. Diafrag- ‘mas mais espessos ou com freqiéncia de ressonéncia mais alta no so comumente usados porque produzem uma grande atenuacio fem quase toda a faixa de sons do coragao e, por isso, apresentam ‘mais desvantagens do que vantagens. Hoje, com o auxilio de am- plificagio eletronica,a eficiéncia dos estetoscopios tem sido aumen- {ada. Iss0 vem permitindo que membranas mais espessas possam ser usadas, favorecendo a ausculta dos sons graves ¢ fracos. Eficiéncia da audicao biauricular Figura 69 Esquema dos apacthos ne -essriosomparapo entre aeficgnca Seaudicbo monoaurieuaee auricular (GER. gerador de sons; AMF, amplfics- SoeMED, instrumentode medics Rappaport e Sprague estudaram experimentalmente as caracteris- ticas da audigio biauricular, comparando-a com a monoauricular. O estudo foi feito num ambiente silencioso, pois 0s ruidos alteram © limiar de audibilidade. A montagem experimental (Fig. 6) foi feita com um gerador de freqiiéncia ajustavel (GER), que produzia fondas senoidais praticamente livres de harménicos. A freqiiéncia dos sons era ajustada na faixa audivel. A energia das ondas péde ser controlada por um amplificador (AMP). Os sons foram envia- dos a um individuo por meio de um fone de ouvido mono ou biau- ricular. Para cada freqiiéncia, a pessoa submetida ao teste ajustava a intensidade do amplificador até 0 ponto em que o som se tomava audivel. Nesse instante, a energia da onda podia ser determinada com 0 auailio de um medidor de poténcia sonora (MED). O teste foi repetido para a audigao mono ¢ biauricular. Eles conchuram que: ‘+ a maioria dos sons clinicamente importantes se situa na faixa de 60 a 400Hz; + a audigdo biauricular é 2048 methor do que a monoauricular Efeitos das dimensées dos tubos Uma consideraao importante e pertinente & performance do este- toscipio € aquela que se refere a0 calibre e a0 comprimenio dos tubos de conexéo. Foi previamente mencionado que as variagies de pressio no ouvido, produzidas pelo movimento da pele ou do diafragma de baquelita, s3o inversamente proporcionais 20 volu- ‘me interno do estetoscSpio. Assim, um volume minimo exibe varis- ‘gbes méximas de pressao e estas, por sua vez, produzem sons de maxima intensidade. Para reduzir a atenuagao os tubos deverso ser curios ¢ suas paredes suficientemente rigidas. Um fator que deve ser levado em considerago 6 a resistoncia de atrito oferecida pela coluna de ar contra as paredes dos tubos flex vveis. A eficiéncia de um estetoscépio diminui a medida que a resis- téncia as variagBes de pressio da coluna de ar é aumentada. A re- sisténcia produzida pelo atrito cresce quando o calibre do tubo di- ‘minui. Para reduzi-la, o ideal seriam tubos de grande didmetro, ‘mas cles tendem a diminuir a eficiéncia do estetoscopio por permi- tir grandes volumes de ar no seu interior. © estudo experimental da efici¢ncia dos tubos pode ser realizado aplicando-se diferentes presses sonoras numa das suas extremi~ dades e registrando-se na outra extremidade a pressdo que & efe- 10 eaten tivamente transmitida. Dois grficos podem ser assim construides: ‘um registrando a curva correspondente aos efeitos das variagées do comprimento do tubo e outro relativo aos efeitos das variagbes do dimetro intemo para um tubo de comprimento fixo. A super- posisio das curvas permite identificar a existéncia de um ponto de ‘cruzamenio entre elas, 0 que corresponde & situagao de compri- mento e de didmetro étimos Rappaport e Sprague testaram a mudanga real na eficiéncia do sis- tema de deteccdo biauricular a medida que o comprimento do tubo vvariava. Foram as seguintes as principais conclusdes obtidas: * Abaixo de 100Hz a eficiéneia do estetoscépio nao & afetada pelo comprimento do tubo. + De 100 1.000Hz a eficiéneia diminui com o aumento do com- -primento desses tubos. A aplicagao de conhecimentos da fisiologia e da psicologia, aliada ‘a0 avango da eletrénica,trouxe luzes a0 entendimento dos fendme- ‘nos actsticos do corpo htumano. Rappaport e Sprague apresenta- ram uma excelente exposicao sobre esse assunto, identificando as Jeis que governam a ausculta. Foram estas as suas conclusoes: + Sons de diferentes freqiiéncias, mas de intensidadles seme~ Thantes, afetam o ouvido humane de modo diferente. Iss0 pode ser registrado no audiograma. + A menor variacio da intensidade sonora capaz. de ser perce- bida pelo ouvido humano depende da intensicade e da fre- ‘qlncia do som. Na faixa das freqiiéncias obtidas na ausculta

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