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Disciplina: Direito Internacional Privado Professor Doutor Dario Moura Vicente Data: 01/03/2007 | ‘Na Ultima aula procurei expor © objecto da nossa disciplina, e a tramitagéo do nosso ‘curso ao longo deste semestre, portanto, os varios tépicas que vamos aqui tratar. ‘A nossa aula de hoje é dedicada acs Valores do Direito Internacional Privado, Chegamos na uitima aula concluso de que esta disciplina tem or objecto as situagGes privadas internacionals, que a respelto destas situagées privadas intemacionais se Essa norma ainda néo foi declarada inconstitucional com forca obrigatéria geral, aqui de novo hé que fazer uma distincéo: a. Pode haver casos em que no estado estrangeiro @ que essa norma pertence no ha controlo da constitucionalidade das leis por tribunais comuns, ex. Franca s6 © concetho constitucional é que pode declarar a inconstitucionalidade de uma norma, os tribunais comuns néo 0 podem fazer. Se assim 0 tribunal portugués no pode recusar a aplicago de uma norma francesa mesmo que seja arguida a inconstitucionalidade da norma se um tribunal homélogo néo o poderia fazer. Se no pais estrangeiro da norma em causa ha controlo da constitucionalidade das els ordindrias pelos tribunals comuns, fiscalizagSo difusa da constitucionalidade, como acontece nos EUA, af a situacao é diferente, j4 no se pode negar legitimidade ao tribunal portugués de negar a aplicago da lei estrangelra, mas hd que fazer uma distingio. Ou, a norma estrangeira em ‘causa néo foi objecto de nenhuma declaracdo de inconstitucionalidade no pais estrangelro, ou foi por um n® irrelevante, insignificative de decisées, penso que do seria prudente 0 nosso tribunal recusar a sua aplicacéo. Ou hi de facto uma maioria de deciséo nesse sentido, uma corrente jurisprudencial nesse sentido, como tal justamente para assegurar a harmonia de julgados podemos recusar a aplicagio desse norma mas também aqui com a méxima prudéncia. ‘Tem que se tratar de ume situagSo em que a inconstitucionalidade & mals ou menos evidente, Se a situaco for controvertida, for duvidosa 0 mais prudente seré @ do nosso tribunal nao se antecipar ao que os tribunals estrangeiros b, fariam. Lt Direito Comunitério (DC): Hé cada vez mais normas da nossa disciplina que constam de actos comunitarios. 0 que nos interessa é saber se e em que medida € que os objectives fundamentals visados pelo fare eee eee eC oeCeeEPESE SCE 5. Ano @ FDL 2006/07 (besgeavado por: Tania Esperanca bee Disciplina: Direito Internacional Privado Pagina 7 de 14 Professor Doutor Dario Moura Vicente Data: 12/03/2007 Preto Comunitério contendem com a nossa discipina © com dekO proprio das situacbes brivedes infernacionsis que est na sua base. Seré que a harmonizagSo e uniformizaco de leaslagées na CE @ prazo ir determinar o fim de DIP? 34 houve queem sustentasse isto, na CE © DIP estaria condenado porque 0 caminho seria @ harmonlzagéo de leglslagées, ou mesmo a Sua unificago, livre crculagdo de pessoas e de mercadoras, captais, portanto a realzacdo de um mercado comum pressupée em alguma medida @ harmonizaclo de legislacies, mas nio necessariamente uma unificagio de todo o DIP. A unificagao de legislaco tem varios inconvenientes: 1) Desde logo porque retira autonomia legislative aos estados, aos 6rgiios lealsletivos que estio mais préximos dos destinatérios das normas juridicas, Todo © direto esté sujelto a um principio de adequasio, 0 direito tem que se Adequar a0 sentimento ético-jurdico dos seus destinatérios, se no for assim o ue € que acontece? Toma-se ineficaz, quando o legislador tenta impor normas ue no correspondem ao sentimento de justica dos seus destinatérios mtas vezes 0 que acontece & que essas normas ndo chegam a ser observadas e vém 2 ser derrogadas, normas de costume contra-legem, 2) Principio da subsidiariedade do DC, principio de acorde com o qual 9 direito comunitério é a utima récio, a CE s6 intervém quando possa fazer em melhores condigBes que os estados membros, se & assim no hé que uniformizer os DIP’s de todos os estacos membros, no hé que ir por esse caminho hé que reservar a diversidade dos diretos nactonais, lama da CE é a unidade na diversidade e 3% se consegue em DIP como? Através de um sistema de coordenagSo em os sistemas nacionais, através de regras de confltos & tembém regras de conhecimento de sentencas estrangeiras, mas no abrindo mao da diversidade dos direitos nacionais, Hoje reconhece-se que deve haver uma uniformizag3o minima mas ara além desse minimo cada estado deve preservar 0 seu DIP © aos demais estados cabem Feconhecerem a regulamentacéo institufde pelos outros conforme com esse minimo, Portanto hi tum principio que cada vez mais & reconhecido que & © principio do reconhecimento mtituo, Em matérlas de direito privado também cada estado reconhece o regime institulda pelos-outros no tocante &s relagées juridicas de - direto privado € portanto permite que sejam admitidas 2 circular no seu territério mercadorias oriundas dos outros estados e que eles se conformem com a lel do pals de erigem. A lel do pais de origem & hoje a grande regra da CE, desde logo encontramos @ manifestagéo dessa regra na convengio de Roma, art. 4.° n.° 2, quando manda aplcar as relagées contratuals a lei do Desgravado nor: Tania Esperenca 5.9 Ano @ FDL 2006/07 } Disciplina: Direito Internacional Privado Pagina 8 de 11 Professor Doutor Dério Moura Vicente Data: 12/03/2007 devedor da prestacdo caracteristica, ou seja os contratas. sobre exportagéo de servigos, de mercadorias celebrados na CE ficaram sujeitos a lel do pais onde essas empresas esto estabelecidas e com toda a vantagem sob © ponto de Vista econémico e assim as empresas s6 esto sujeltas a uma lel onde quer que ‘exportem os seus servicos e isso reduz os custos das tramsaccies, 6 conforme & eficiéncia econémica @ também conforme @ liberdade de ciculagéo. Outro ‘exemplo, a directiva do comercio electrénico, art. 3.° n.© 1, transposta por nés pela lei 7/2004, ‘A integrago europela no significa 0 fim de DIP, pelo contrérlo significa langar-se cada vez mals intensamente m&o dos mecanismos préprios de DIP, assim daqui a uns anos haverg uma intense legiferago comunitéria nesta matéria, ou a um vastissimo nimero de actos ‘comunitarios, primelro em processo civil Internacional mas agora também em matéria de conflitos de lei no espago. Projecto de Roma J (obrigacées contratuais), Roma II (obrigacées no contratuais), Roma II (divércio)...A CE esté cada vez mais a legislar nesta érea, sendo que 1a técnica adequada para garantir 2 livre circulago de mercadorias € capitals no ambito da comunidade europela néo é igualar as legistacées nacionals, é sim permitir que elas coexistam se coordenem umas com as cutras. +4 Direito internacional piiblico J vimos em aulas anteriores que Direito Internacional piiblico é fonte de regras de DIP, isso acontece nomeadamente no que diz respeito aquelas fontes internacionals que visam unifcer as regras de conflto de leis ho espaco, regras sobre competéncia reconhecimento de sentengas estrangeiras, nomeadamente aquelas que emana da conferéncia de Haia do DIP, So regras que so formaimente de Direito Internacional ptiblico atendendo & sua fonte mas substanciaimente s8o de DIP, néo devem ser estudadas em Direito Internacional piiblico porque 0 seu objecto néo so relagées entre estados, ou de sujeltos de direito internacional, so relacSes entre particulares, ou éntre particulares e estados, mas agindo este desprovidos de poderes de soberania. Houve uma doutrina que sustentou que as proprias regras de conflitos de leis no espago seriam regras de direito internacional piiblico, porqué? Porque toda a aplicac&o de uma {ei estrangelra com alguma sorte envolveria o reconhecimento da soberania dos estados estrangeiros que emanassem a norma, os conflitos de lei no espaco seriam como que conflites de .soberania, onde a nossa, matétia no teria autonomia. face ao direito internacional puiblico, (foi sustentado nos meados do sec.XX em Franca por "Thierry Batsa"), & tum ponto de vista que esté ele todo ultrapassado, Quando um tribunal Portugués aplica num proceso que decorre em Portugal uma lei estrangeira, exemplo & questéio de saber quais eram 0s deveres conjugais entre duas pessoas de nacionalidade estrangeira, ou qual ¢ a capacidade de alguém para contratar sendo que.esse alguém tem nacionalidade de um pais estrangeiro, ————— 5. fon @ FDL 2006/07 negrava por. Tania Esperenca 9deit Disciplina: Direito Internacional Privad Professor Doutor Daria Moura Vicente Data: 12/03/2007 quando 0 tribunal portugués aplica a essas matérias uma lel estrangelra, no se esté 6 exercer obviamente, em Portugal @ soberanla de um estado estrangeiro, 6 a soberania do Estado Portugués através dos seus préprios tribunals. A soberania mede-se através do exercicio de Poderes coactivos, a aplicacao de uma lei estrangeira nao implica o exercicio de outros poderes. Mesmo nos casos em que hé @ recepgéo material da ordem juridice de um pais de normas estrangeiras essa soberania estrangeira néo se exerce. EX: a Independéncia des antigas Provincias ultramarinas, em 1975 os golpes de estado que surgiram dessas independéncias receberam 0 direito Portugués tal como ele se encontrava em vigor na época, ainda hoje o CC Portugués esté em vigor em Angola, Mocambique, Guiné-Bissau ete, na versio em que se encontrava em vigor & data da independéncia com algumas alteragées introduaidas Posterlormente, Quer isto dzer que o Estado portugués tenha exercdo a sun soberania? No, esse recepsio deuse por um acto de vontade do priprio estado em questéo que recebau © tlreito estrangelro, se assim é por maloria de razéo, quando um tribunal de certo pais se limite 2 aplicar a uma causa uma lei estrangeira néo hé nenhuma soberania estrangeira que se esteja exercendo, portanto nfo é exacto dizer que a nossa disciplina seja uma disciplina cuja as normas relevam do Direito Internacional piblico, ‘+ Direito comercial Internacional Aqui estamos perante normas que visem disciplinar também situagées privadas internacionals, mais especiicamente situagbes do foro do direto comercial, mas fazem-no de luma forma diferente daquela que tpicamente © DIP regula. Enquanto que DIP tipicamente regula as situagées internacionais dlzendo qual é a lei aplicivel a essas situagdes por via mediate, indrecta, 0 direto de comérco internacional fé-lo através de normas materials, de ormas que regulem directamente as situacées juridicas que tem em vista, So normas como aquelas que encontremos nas convengées da ONU sobre @ compra e venda internacional, ov 2 convengio de Monte Real sobre 0 transporte aério internacional e nessas convengées nés encontramos directamente @ discplina material das situagdes que elas tém em vista, néo é Possivel determinar a lel aplicdvel quando essas convenes operam, Pode dizer-se que DIP e lrelto comercial internacional tém em comum o objecto,situacSes privadas internacionais, mas 3 estrutua tiica das normas de cada uma dessas normas, 0. método & que é elferente, ortanto essas duas dscipinas néo so reconduzivels uma & outra. © que no quer dizer que 1 prSprio DIP niéo se possam introduzir normas desse tipo, hé quem fale para designar estas normas que tive aqui fezerreferénca de DIP meteral;éntio teremos uma concepséo arpa de nossa disciplina em que caberia 0 préprio cireito do comercio internacional, também é bom dizer que é uma concepeéo que reine na mesma asciplina realidades muito heterogeneas foma-se muito difcll uma teorizagéo que seja comum a.essas varias normas e dai que tende para a separagéo desses 2 mundos. Uma coisa DIP, outra direlto comercial Internacional, Desgravado gor: Tania Esperange 5.° Ano @ FOL 2006/07 Disciplina: Direito Internacional Privado ‘Pagina 10 de 11 Professor Doutor Dérlo Moura Vicente Data: 12/03/2007 ‘4 Direito Comparado ‘Aqui estamos perante uma realidade diferente, o direito comparacio nao é propriamente um ramo da ordem juridica, néio & um conjunto de normas juridicas que rejam determinada categoria de situagies juridicas, & sim um disciplina clentifica, uma Clisciplina auxiar, uma ciéncia auxiliar do direito, tem por objecto 0 préprio direito © estuda esse direito na sua pluralidade de manifestagées, na sua diversidade, procurando determinar que as diferentes manifestacSes do direlto em cada sistema juridico tem de igual ou de diferente, procurando cexplicar essas diferengas e semelhancas. O direito comparado tem grancle relevancia para DIP, pode até dizer que se trata de uma disciplina “politica” de DIP, Ha vérios aspectos em que o funcionamento de DIP depende da comparacio de direitos, depende dos conhecimentos que tenhamos obtido através da comparagio de direitos. Quando os tribunais de cada pais tam que Interpretar normas de DIP estrangeiro, 0 art. 23.9 do CC refere-se a essai situagio e diz que as normas de direlto tém que ser interpretadas dentro do sistema a que pertencem e de acordo ‘com as regras Interpretativas que nelas estio fixadas. Isto pressupde que se atenda ao sisterna de fontes estrangeiras em causa, & organizagdo judiciétia, 20 sistema de controlo da constitucionalidade, aos métodos préprios de direito aplicdvel que vigorarn nessa ordem juridica estrangelra, tudo isso so aspectos que o direlto comparado nos ensina. Também na propria aplicacSo da regra de confllts, a aplicagéo de toda a regra de conflitos pressupie da resolugio de problema, que se chama qualificagéio, para saber se uma determinacia norma se aplica ao ‘caso temos que subsumir sob a previséo dessa mesma norma. O art. 15.0 CC diz-nos que a competéncia que é reconhecida a determinada lei, através de uma regra de confltos portuguesa sé abrange as normas que pelo seu conteddo e fungo que desempenham, nessa mesma lei, integram a categoria normativa visada pela norma de confiltos. Quando uma norma portuguesa de conflitos remete para certa lel, ela ndo esté a remeter para todas as normas dessa lei estrangelra, s6 para certas regras, aquelas que pelo seu contetido e fungio sejam reconduzidas & previséo, conceito-quadro da nossa norma de confitos, Isto consiste a operaclo de qualificacéo, Para verificar 0 contetido e fungo da norma cujo 0 contedido est em causa, para reconduzit 20 conceito quadro da nessa norma de confitos, temos que proceder a uma comparacéo, temos que comparar a norma material em causa com a previsdo dz nossa regra de confltos e temos que compara-la & luz de um crtério funcional, temos que ver se as fungdes daquela norma material cuja a aplicacdo esté em causa desempenha na sua propria ordem juridica. Tudo isto é comparago de direitos, assim o direito comparado assume a sue méxima relevancia. Ex: art; 14.° CC que estabelece a reciprocidade em matéria de tratamento estrangeiro, muitas vezes essa reciprocidade para comparar pressupde a comparacio de direitos, Outros casos, em Portugal pode ser necessério eplicar figuras que nem sequer esto previstas na nossa ordem juridice, desconhecidas ao nosso-direito,-por exemplo, hipoteca de bens méveis que existe em certos paises, temos que traduzit multas vezes esses institutos, _ Desgravad par: Tania Espereaigs 5.9 Ano @ FDL 2006/07 , Disciptina: Direite Internacional Privado Pagina 11 de i" Professor Doutor Dério Moura Vicente Data: 12/03/2007 €ssas figuras do direito estrangeiro para os Mossos quadros conceptuais. Também esta disciptina tem relevancia para DIP, Desgravado por: Tans Esperance 5.9 Ano @ FOL 2008/07 Aula Teética de Direlto Internacional Privado - Prof. Doutor Deirio Moura Vicente 15 de Marco de 2007 Vamos entrar hoje na andlise da matéria relativa cos problemas gerais de interpretagdo e de aplicagdo das regras de contflitos. Eu gostaria a este propésito comecar por recordar que quando me referi aqui ao método de DIP disse-vos que a solugao preferivel para ag regulacéo das questées suscitadas pelas relagdes privadas internacionais consiste em submeter essas mesmas questdes a uma ou mais das leis com as quais elas se encontrem conexas. E essa ou essas leis ferao de ser encontradas em principio através de regras de conflito de leis intemacionais. S40 estas regras a categoria normativa fundamenial da nossa disciplina e é agora sobre elas que vamos reflectir um pouco co longo desta & das préximas aulas. Vamos procurar examinar aqui como se devem em geral resolver os problemas suscitados pela interpretagao e aplicagdo dessas mesmas regras. Antes de mais nada, imporia explicar um pouco do que elas consistem, como é que funciona e qual € a sua estrutura, Como qualquer regra, a regra de conflitos analiso-se numa previsco e numa estatuigGo. No entanto, a previsto e a estatuigéo da regra de conilitos séo diferentes daquelas a que jd se habituaram a trabalhar. Qual é a previsdo da regra de conflites? E a situacGo da vida que ela visa regular, situagdo que teré de caracteristico, em principio a circunstncia de ser uma situagdo plurilecalizada, uma situagdo com cordcter internacional. Quat é a estatuigéo da regra de conilitos? A estatuigdo da regra de conflitos traduz-se naquilo a que nés chamamos @ conexao, conexdo no sentido de o chamamento de certa lei ou de cerlas leis @ aplicarem-se & situagdo priveda internacional ou se quisermos por oviro angulo, temos a atribuig¢Go de competéncia a certo lei para regular determinada categoria de questées suscitadas pela situagdo privada internacional em causa. Atenc&o que este conceiio de conexao assim entendido, no sentido de chamamento de atribuigao de competéncia n&o se confunde com o chamado elemento de conexio, o elemento de conexio € o elemento que a Aula Teérica de Direlto Internacional Privado ~ Prof. Doutor Dério Moura Vicente 15 de Margo de 2007 Tegra de conflilos pode conter e € o elemento através do qual nés vamos ochar essa lel ou essas leis aplicdveis.’Em relagdo previsio da regra de contiitos. ela suscita de facto problemas muito espectiicos, Gesde logo a comecar pela questo de saber como delimitar essa mesma previsGo. Na maior parle dos casos, a delimitagdo da previsdio da regra de contlitos & feito através de conceitos técnico, -Jutidicos, Conceitos que das duas uma: ou nos indicam uma cerla categoria de situagdes, revelagées € manifestagdes juridicas ou nos indicam uma cerla categoria de questées juridicas espacials. No primeiro caso, estaio Por exemple as regras de confltos que constam dos artigos 41 € 46 do CC (Cédigo Civil), que se referem respectivamente a obrigagées Provenientes de negécios juridicos e a direitos reals. Portanto, nesses Cas0s a Tegra de confltos reporta-se a uma categoria de situacdes ou de relagées juridicas. Mas, hé casos em que regra de contiiios nao & tao vasta, 0 seu objecto, a sua previstio 6 mais restrita © abrange apenas uma categoria de quesides parciais ¢ encontramos regras de confiilos Comoe ds due constam dos artigos 36 © 49 do CC que dizem respeito & forma da declara¢éo negocial e & copacidade para contrair casamento © para celebrar convengdes antenupciais respectivamente. Aqui j@ ndo se fala de uma categoria de relagées juridicas, fala-se de Glgo.com um alcance mais restrito. Em ambos os casos, relativamente a ambas as categorias de regras de contlios fala-se para designar os conceitos que descrevem éssas categorias de relagdes ou de questées juridices, fola-se de conceitos-quadro. O conceifo-quadro 6 o conceito através do qual a regra de contlitos delimita © seu objecto, a sua previséo. Porqué o conceito-quadro? £ ‘uma matéria que vamos desenvolver mals & frente quando tratarmos da qualificagdo, mas fica desde [6 esta ideia, fala-se em conceito-quadro a este respelto Porque se frata de um conceito que visa abarcar uma pluralidade de reolidades juridicas muito diferentes, a regra de confltos pode atribuir competéncia a uma lei estrangeira @ na lei estrangeira'nés podemos — Pagina 2 — ot ] Aula Teérica de Direito Internacional Privado ~ Prof. Doutor DeSrio Moura Vicente 15 de Margo de 2007 encontrar figuras e institutos juridicos que néo tm um correspondente exacto na nossa ordem juridica, os conceitos através Clos quais a regra de contiitos delimita 0 seu objecto tem de ser bastante vasto no sentido de que possam abarcar todas as figuras juridicas de leis estrangeiras que nas leis em que se integram exercem as mesmas fun¢des que os institutos. ou as figuras jurdicas homdlogas desempenham no ico do estado do foro. E essa preocupagdo em ‘ordenamento juric abarcar uma multiplicidade de contetdos juridicos Muito distintos que leva a que a doutrina se refira a estes conceitos Como conceitos- quadro, mas como disse 6 maiéria que desenvolverei mais adiante quando tratar da temdtica da qualificagéo. Agora, quanto a estatuigGo da regra de conflitos. Aqui, femos também varias modalidades possiveis de regras de conflitos. Temos desde logo ‘as regras de conflito que a doutrina chama de unilaterais. Unilaterais, porque? Porque se trata de regras de conflito que tém esta porticularidade, apenas designam e apenas dizer quando € que se aplicam as normas materiais do direito do estado do foro, limitam-se a delimitar e a circunscrever 0 Gmbito de aplicagdo espacial das normas juridicas do estado do foro. Aié ha algum tempo atras havia muito poucas normas deste tipo entre nés, mas nos Ultimos anos elas tm vindo’a aumentar em nimero, Um exemplo, que taivez j4 tenham confrontado e que encorirém no art. 8 do Cédigo do Trabalho, que traia do destacamento de trabalhadores para territério portugués no Gmbito de uma prestagao de servigos, uma situagao que hoje se vai fornando cada vez mais comum, uma empresa leva os seus trabalhadores para executar urna empreitada num cleierminado pais estrangeiro. Esse art.8 do CT vem-nos dizer que um certo conjunto de regras que constam do CT relativamente as condi¢ées minimas em que os frabalhadores devem exercer a sua actividade (o hordrio maximo de jrabalho, as condigdes de higiene e de seguran¢a no trabalho, o regime de férias, de faltas, ...), uma série de aspectos que sdo revelados Avia Teérica de Diretto Internacional Privado - Prot. Doutor Dévlo Moura Vicente 18 de Margo de 2007 | através de normas imperativas constantes no Cédigo ¢ relotivamente a esas quesiées diz 0 art. 8 que o trabaihador esirangeiro destacado Para terrtério nacional beneficia imperativamente pelo menos dessas Condig6es que 0 nosso cédigo estabelece, mesmo que o seu conirato individual de trabalho esteja submetido a uma lei estrangeira, a lei do sais de que ele ¢ originério. Reparem, temos aqui uma tegra de Confitlos, uma regra que nos diz qual é a lei aplicavel numa situagao intermacional como € esta do destacamento infermacional de trabalhadores, mas uma regra de confiiios que ndo nos diz de um modo Genérico qual € a lei aplicavel, diz-nos apenas quando & que se aplicam cerlas normas do direito do estado do fore no caso do direito Portugues. Neste sentido, 6 portanto uma regra de confltos unilateral, SPenas delimita 0 Gmbito de aplicagdo da lei portuguesa, néo nos diz quando 6 que se aplica uma lei estrangeira, Outro exemplo, na lei sobre @ fime-shering, figura que todos conhecem, esse diploma 6 0 DL 275/93 de 5 de Gosto € 6 fol vérias vezes alterado, nomeadamente pelo DL 2212002. Ora bem, esse diploma no seu art, 60/7 vem-nos dizer que as disposicdes que constam desse mesmo diploma se aplicam a todos os contratos de fime-shering relativos a direitos reais de habitagéo Periédica e a direitos de habilacdo tutistica felaiivamente a empreendimentos que tenham por objecto iméveis fixos em Portugal. Porlanto, dizse no funco que as normas constantes deste diploma Steger © consumidor, o adquirente de visam de um modo geral Giretios de fime-shering € as regras desse diploma aplicam-se imperativamente quando o imével relativamenie ao qual se refere o Contrato de fime-shering est situado em tenitério porlugués, mas esse Preceifo ndo nos diz qual é a lei aplicdvel se o imével estivesse situado @m Espanha, em Franca ou noutro pals qualquer s6 quendo for situado om Portugal, também neste site é uma norma de contltos unilateral. O Sifimo exemplo @ mais recente © exttaido da lei do comércio electronico que 6 0 DL 7/2004 no seu art. 4/1 dlz-nos que os Prestadores PECrEREECaraT rere erroe Paina eee ee al Aula Teérica de Direito Internacional Privado ~ Prof. Doutor Dil Moura Vicente 15 de Marco de 2007 de servigos da sociedade de informagdo estabelecidos em Portugal ficam integralmente sujeitos & lei portuguesa relativamennte 4 actividade que exercem, menos aquilo que conceme a servicos cla sociedade da informagdo prestados noutro pals comunitério. Este preceito diz-nos quais so 0s casos a que se aplica a lei porluguesa, sdo os casos em que o prestador destes servigos, a empresa que comercializa servigos através da internet esid estabelecida em Portugal, se estivesse estabelecida no estrangeiro ndo nos diz qual € ¢ lei aplicével, também aqui estamos perante uma regra de conflitos unilateral. Estes ndo serdio os casos mais comuns de regras de contfltos, pois a maior parte das regras de contflitos vigentes entre nés tem cardcter bilateral, bilateral no sentido de que tanto remetem para a lei do foro como para uma lei estrangeira, lei de qualquer pais do mundo, melhor se diriam regras de conflito multilaterais, podem remeter para qualquer lei. No entanto, na doutrina vigou esta designagdo de regras de conflito bilateral. Portanto, qualquer situagado que seja subsumivel & previstio desta norma, a norma indico-nos qual € a lei aplicavel, a lei do foro ou uma lei estrangeira. Olhando para o art.25 do CC, que & logo a primeira regra de conflitos que nés af encontramos, e esie vern-nos dizer que uma série de matérias que est&o nesse artigo enunciadas {estado dos individuos. capacidade, as relacées de familia e de sucessdes) sao reguladas pela lei pessoal dos respectivos sujeitos. Ea lei pessoal diz-nos depois 0 art. 31/1 do CC € em principio a lei da nacionalidade do individuo. Aqui ém como pare as questées de estado, de capacidade, relagdes de fornlia e de sucessées nos é dada aqui a resposta quanto & lei aplicdvel, pode ser a lei portuguesa ou uma lei estrangeira, tudo depende da nacionalidade do individuo. Portanto, ‘estamos aqui perante normas de conflito bilateral. Ha ainda ume terceira categoria de regras de conflitos no que diz respeito & sua estatui¢do, a que podemos chamar de regras bilaterais ito Internacional Privado ~ Prof. Doutor Dério Moura Vici Aula Teética de 15 de Margo de 2007 — imperfeltas, que séio regras que tanto remetem para a lei do foro como Para uma lei estrangeira, mas 18m esta caractetilica, elas 86 se ‘sporiam a certa categoria de situagées juridicas que sao normalmente @s situagSes que 18m de certa forma conexde com o direito do estado do foro. Um exemplo encontra-se no art. 51 do CC ocupa-se da forma do casamento, a regra geral nesta matéria consta do art, 50 do CC, em Principio aplicavel ai lei do lugar da celebragdo do casamento, e se Glguém quiser saber qual é a forma que se deve observar Para que um Cosamento seja valido basta-Ihe observar a lel do pais onde casou, mas Oar] do CC vem estabelecer alguns desvios. Desde logo, 0 caso de do's estrangeiros que casam em Portugal, o seu casamento pode ser celebraco na forma estabelecida nao na lei portuguesa mas na forma estabelecida pela lei nacional desses mesmos individuos, em vez lex loci actus tem de se ter em conta a lex pattie, a lei do pals de origem da Pess00 em questao, isio sob certas condigdes, 0 casamento tem de ser Celebrade perante agentes diplomdticos ou consularés ¢ tem que haver reciprocidade, também a lei do pats de onde sao originarios esses individuos.deve reconhecer a mesma competéncia dos nossos agentes Giplométicos © consviares. Depois femos no art.51/2 do CC a situagao inversa, a situacdo de dois portugueses que casam no estrangeiro, dois emigrantes radicades na Alemanha ou em Franga querem casar, podem fezé-lo de acorde com a lei portuguesa desde que casem Perante agentes diplomaticds ou consulares do Estado Portugués ou Perante 05 Ministros do culto Catdiico. Aqui, temos dois desvios 4 regra da lex loci actus, pois femos a aplicagdo da lex patrie quando se trate Ge casamento de dois estrangeiros em Portugal ou de dois portugueses no estrangeiro. Mas, falta:nos evideniemente uma categoria de situages neste art. 51 do CC, falta aqui a previsio do casamenio de dois .estrangeiros.no..estrangeiro. Se dois espanhéis se Casorem em Franca este precsito jé ndo nos diz se podem ou nao casar-se de Qcordo com a tei espanhola, Portanto, trata-se de uma norma bilateral a Aula Teérica de Direlto Internacional Privado ~ Prof. Doutor DGrio Moura Vicente a 15 de Margo de 2007 mas imperieita, porque ela s6 contempla as situagdes &m que haja uma ligac&o 4 nossa ordem juridica, seja por casamento aqui celebrado, seja por a nacionalidade dos nubentes ser portuguesa, hé aqui de facto uma omisséio, uma lacuna, Eu penso que efectivamente esta lacuna pode ser preenchida por aplicagéo analégica das outras regras, ou seja, um estrangelro que cose num pois diferente do da sua nacionalidade que néo seja o nosso proprio pals poderé casor de acordo com a lei da nacionalidade se o fizer nas condi¢des que aqui esiGo previstas, e assim se consegue tornar perfeita a bilateralidade desta norma. Bom, temos portanto diferentes vias com as quais os regras de conflitos desempenham esta sua misséo de indicar a lei, 0 sistema ou a via aplicével da unilateralidade ou da bilateralidade. Mas, séo apenas vas formas pelas quais a regra de conflitos desempenha a mesma fungdo essencial. Houve em tempos quem pensasse que se iratava de um unilateralismo, e que a regra de conflitos unilateral corresponderia a um método diferente do chamado método confiitual, mas como estao a ver ndo é verdade, a norma unilateral também & uma norma de conexéio, € uma norma que resolve 0 problema da regulagéo da situagGo privada internacional indicande uma cerla lei que esta em conexdo com essa mesma situa¢ao. Agora, « conextio operada pela regra de confitos pode também ela ser de diferentes tipos. Fundamentalmente, ha duas grandes categorias de conexées: a chamada conexdo singular e a conexdo plural ou cumulativa. A conexGo singular quando a regra de conflitos remete apenas para uma Unica lei e conexéo plural ov cumulative quando a regra de contliies remete para duas ou mais leis. Por seu turno, cada uma destas duas_ espécies de conexdes pode apresentar varias modalidades. Comecemos pela conexGo singular. Esta pode ser uma conexdo simples, a regra de coniflitos designa uma Unica lei que & Aula Teética de Direlto Internacional Privado - Prof. Doutor Dério Moura Vicente 15 de Margo de 2007 Aplicdvel em todas e quaisquer circunsiancias a esta situagGo que ela contempla, Eo caso tpico do art, 46 do CC, 0 regime da posse, Propriedade € demais direitos reais é definido pela ei do estado em Cue lerTtério as coisas se encontrem situadas, a lex rei sitae, & sempre essa, em principio, a lei aplicdvel. Mas, hé casos eM que a conexdo singular € uma eonexdo subsidiria, ela s6 intervém se ndo tivesse sido escolhida pelas partes a lei aplicdvel, & 0 caso do art. 42 do CC edo art.4 da Conven¢éo de Roma, dizem-nos qual é a lei aplicavel a titulo Subsididrio, se as partes no tiverem fello uso da sua autonomia nos termos do art. 41 do CC e do art3 da Convengao de Roma respectivamente. E hé casos em que a conexdo é singular, mas éuma Conexéo alfemativa, quer dizer, prevé-se varios leis Potencialmente oplicavels, mas s6 seré aplicével uma delas, aquela que preencher Gerlos requisites, por exemplo a que for mois favoravel a certa Categoria de suieitos (por exemplo, 0 consumidor) ou a que permita glcancar certo resultado (por exemplo, a conservagdo do negécio luridico, arf.65 do CC) © prevé como potenciaimente aplicaveis ado lugar em que © acto foi celebrado, a lei pessoal do autor da heranga aver ne momento da declaracéo quer no momento da morte e ainda Os Prescrigdes da lei para que remeta a norma de contltos da lei local., hG nada menos do que 4 leis potencialmente aplicaveis, mas 36 se vai aplicar aquela que considere o festamento valid, hé aqui uma Preocupacdo em assegurdi-a validace do negécio juridico em homenagem @ tutela da confianga, temos aqui uma conexdo cliemativa. E temos ainda deniro da conexéo singular, a conexdo optativa 6 uma situagéo também onde hé vérias leis Potenciaimente aplicavels © $6 se aplica uma. Mas, essa lei vai-se aplicar em fungéo de ser invocada pela parle a. quer inferessa, portanto tal como na conexGe allemnativa, o aplicablidade de uma de vérias leis visa aqui favorecer certo resultado material, por-exemplo, entre a lei do lugar onde se verificou 0 evento que deu origem a um dano e 0 lugar onde — Pagina 8 Aula Teérica de Direlto internacional Privado ~ Prof. Doutor DGirio Moura Vicente 15 de Margo de 2007 * se deu esse mesmo dano, aplicar-se-G 4 responsabilidade extra- contratual aquela lei que o interessado invocar. Aqui, ao conirério do que acontece na conexao alternativa n@o € 0 tribunal ex officio que vai buscar a lei que em Ultima andlise sera aplicavel dentro das varias oferecidas, 6 o proprio interessado que tem o énus de invocar essa lei que Ihe é mais favordvel. E finalmente, dentro ainda da conexao singular, temos a chamada conexdo acesséria, aqui também sé temos uma lei aplicavel ao caso, mas esta lei € a lei que € aplicével o uma outra categoria de questées contemplada por outra regra de confitos, Por exemplo se olharem para o art.’ 44 do CC, em matéria de enriquecimento sem causa, verdo que of se manda aplicar a lei com base na qual se verificou a transferéncia do valor patrimonial do enriquecido, podem ser varias leis, ¢ transferéncia do valor patrimonial do entiquecido pode ser feita ao abrigo de certa lei que rege um contrato, uma das partes pagou © prego, mas por hipStese e por razao imputdvel ao credor desse mesmo prego a mercadoria pereceu antes de ser entregue a esse mesmo credor, neste caso a transferéncia patrimonial deu-se em virtude da lei reguladora do conirato, se houver que resiituiro prego 4 parle que 0 pagou, essa restituig¢Go vai ser regida por essa lei. A conexao do art.44 do CC € neste caso uma conexdo que se define por apelo a uma regra de conflitos que Contempla outra matéria e por isso se fala.de conex6o acesséria. Porqué conexdo acesséria? Porque hd a preocupacado de evitar o fraccionamento das questées privadas internacionais, pois se aplicarmos muitas leis diferentes as mesmas situagdes fundamentais, por vezes elas n&o se harmonizam bem enire si, surgem conflitos entre essas leis. Entao, uma das formas de evitar isso € através desta técnica da conexdo acesséria, manda-se aplicar ao acessério, & relagdo juridica acesséria a lei reguladora da situagdo juridica principal. Depois, ternos as conexées plurais ou cumulativas € também aqui temos varias modalidades possiveis. Desde logo temos as conexées plurais ou Aula Teérica de Direito Infernactonal Privado ~ Prof. Doutor Dérlo Moura Vicente 15 de Marco de 2007 a Cumulativas simples, pois para que certo efeito juridico se dé & preciso que ele seja reconhecido por dois ou mais ordenamentos juridicos, Reparem no art. 33 do CC, este preceito irata dos pessoas colectivas & dlz-nos no seu art.38/3 do CC que se houver a transferéncia da sede da Pessoc colectiva de um Estado para outro, em principio née se distingue a sua personaliciade juridica, mas isso € apenas se @ lei do antiga @ da nova sede estiverem de acordo com a conservagao da Personalidade juridica, pois aqui vamos ter de aplicar duas leis, a lei da anliga © da nova sede para saber se efectivamente a personalidade luridica se manteve ou néo. Noutros casos a conexéo cumulativa ou Plural apresenta uma ouira faceta, fala-se de uma conexéo cumulative condicionante ov limitativa, hé uma lei em principio aplicavel mas ha ovtra lei que vem condicionar ou limitar os efeitos previstos na primeira lei. E 0 que acontece por exemplo em matéria de direitos de Personalidade, reparem no art.27 do CC, este diznos que em Principio oF direitos de personalidade so regidos pela lei pessoal, para nés sabermos que um deierminado estrangeiro invoque em Portugal um gualduer direito de personalidade temos de consultar a sua lel pessoal, femos gue ver se a sua isi he confere o- direito.& imagem, diretio & honra @ ao bom nome e em que termos.obviamente. Mas depois o 9112712 do CC ver-nos dizer algo mais, diz que 0 estrangeiro apatrida nde goza porém de qualquer forma de tutela juridica que néo seja reconhecida na lei portuguésa. Se a Iei do estrangeiro em questao censagrar uma forma de futela dos direitos de personalidade que néo fiver prevista na nossa lei e isso acontece muito frequentemenie, ha paises que hoje em cia empolam imenso a tulela dos direitos de Personalidade, € 0 caso por exemplo dos EUA, se essa forma de jutela nGo estiver previsia na nossa lel, a nossa [ei limita os efeitos da lei esirangeira em questéo; fala-se aqui de uma conexao limitativa ou condicionante. Aula Teérica de Direito Internacional Privado ~ Prof. Doutot DeGrio Moura Vicente 15 de Margo de 2007 Como vos disse, a conexGo ou o chamamento da lei aplicdvel nao se confunde com o elemento de conexdo, o elemento de conexdo é o elemento da situagdo da vida em questdo que a regra de confiitos indica como sendo 0 elemento decisivo para se achar a lei aplicavel. Também o elemento de conexGo pode corresponder a varios tipos. Desde logo, temos elementos de conexéo que sdo releativos aos sujeitos da relagao ou da situagao juridica, por exemplo © art. 31/1 do CC estabelece que a lei pessoal € a lei da nacionalidade clo individuo, aqui temos um elemento de conexGo que aiende & nacionalidade do sujeito da relag&o juridica. O art.32 do CC a mesma coisa, manda-se aplicer aos apdtridas a lei da sua residéncia habitual, também aqui temos um facto referente ao sujeito da rela¢ao juridica e fal também acontece no art, 33 do CC em matéria de pessoas colectivas, onde se manda aplicar a lei da sede principal e efectiva da sua adminisiragao. Mas outros casos jd ndo sdo de sujeltos da relagdo juridica que contam para estes efeitos, mas sim o objecio da relagao Juridica, para tal o art.4é do CC, que trata dos direitos reais e devem ser atendidos no teritério em que as coisas se encontrem situadas, entao é a situagée da coisa que vai contar para se achar a lei aplicavel. HG ainda casos de elementos de conexGo que mandam atender ao lugar da pratica de um acto juridico, por exemplo em matéria de forma do negécio juridico, art. da Convengdo de Roma manda atender ao lugar da celebragao do contrato ou em matéria de responsabilidade extra-contratual, o art.45 do CC manda atender ao lugar onde decorreu a principal actividade causadora do prejuizo, portanto também aovi o lugar da prética de um cerlo acto. Nem sempre, no entanto, a deierminagao da lei aplicdvel se faz desta forma, ha casos por exemplo como ja referi, em que se confere ao interessado a possibilidade de escolher a lei aplicdvel, portanto j4 ndo vai ser o elemento da sitvagao da vida que tem que ser regulada que nos vai permitir achar a lei aplicével, séo as préprias partes que podem dizer que independeniemente das Pagina Aula Teérica de Direito Internacional Privado - Prot, Doutor Dérlo Moura Vicente 15 de Margo de 2007 a conexdes que essa situagdo juridica fenha, sdo as partes que vGo dizer qual é a lei que se aplica, é o que acontece nos termos do art, 41 do CC e do art. 3 da Convengdo de Roma, em matéria contraiual o grande principio do DIP modemo é © Possibilidade de os paries escolherem a lei aplicdvel, nem lodos os paises adoptaram esta solugo. Por exemplo, o Brasil ainda hoje recusa essa Possibilidade. mas na Europa ela esté hoje adquirida. Noutros casos, seque-se uma técnica um pouce diferente, @ norma de Contltos no indica um elemento de conextio, também nao confere as Partes c possibiicladle de escoinerem a lei aplicdyel € 0 qué acontece é que diz que o tribunal deverd achar a isi oplicével na base de um cttério que a regra de confitos indica de forma muito genética, Por sxemplo, 0 arr. 52/2 do CC que em matéria de relacées matrimonials, S@ 08 Cénjuges no fiverem a mesma nacionalidade nem a mesma residéncia habitual comum apiicase a lei do pais com 0 qual a vide fomilfar se ache mais estrefiamente conexa, nao esé aqui nenhum clemento de conexdo, esté apenas um cilério que 0 juz poderd seguir Para achor @ lel aplicével. A mesma coisa aconiece no lei da arbitragem voluntéria, 0 art. 33/2 dessa le, diz que os érbitros na falta de escolha das portes da lei aplicével deverdio aplicar © dtteilo mais cpropriado ao ifgio e este & 0 dirsito que no entender dos érbitros por exemplo, tenha as conexdes mais fortes, mas ndo se trata obviamente do direito indicado por certo elemento de conexdo. Portanto, como observam a regra de contlios também se serve de ciferentes técnicas sxpedienies para nos indicer o lei apicével, pois nem sempre temos clementos de conexéo entendic como elemento da situagao féctica que a regra destaca. Agora, 0s problemas suscitacos pela interpretagdo e integracéo das regres de confltos. Como & que se hé-de interpretar uma regia de Conflitos de leis no espago? Bom, na medida em que se trata de regras Pagina Aula Teérica de Direito Internacional Privado ~ Prof. Doutor DGrio Moura Vicente 15 de Margo de 2007 de conflto de fonte interna, em principio, os critérios seréio os mesmos que 0 att. do CC consagra, so regras pertencentes & nossa ordem juridica. Mas, claro que hé problemas especificos que a regra de confitos suscita. Nomeadamente, a circunstancia de, como refer & pouco, de essas regras de contlfos se socorrerem de Conceilos-quadro, conceitos com uma amplitude muito vasta que potencialmente servem pora incorporar contetdos de natureza muito distinta provenientes de diferentes .ordenamentos juridicos, Isto significa, quando nés interpretamos um conceito-quadro de ur femos que necessariamente. airibuic esse conceito-quadra-o-mesmo significado que esse conceito tem no direito material portugués, casamento para efeito das regras de conilifo, art.49 e@ ss do CC nao significa necessariamente € tGo s6 0 que é casamento nos fermos do nosso direito da familia; filiag¢Go por exemplo, até ha uns anos atras nao era apenas para efeitos das regras de confltos aquilo que nds entendiamos por filiagGo, como sabem, até & entrada em vigor do novo CC nao vigorava entre nds a figura da adop¢ao, esta ndo existia na ordem juridica portuguesa, mas isso nao queria dizer que néo fossem ‘ou nGo pudessem ser reconhecidos em Portugal efeitos juridicos a adop¢bdes celebradas entre estrangeiros e no esirangeiro, finhamos uma regra de conflitos no CC de Seabra que era o art.27 sobre o estado e a capacidade civil dos estrangeiros que remetia para a lei nacional desses mesmos individuos e que tinha a possibilidade de incorporar também as normas estrangeiras sobre adopeao. EntGo, o conceito de estado e de capacidade civil nos termos do art.27 desse CC de Seabra, entendia a jurisprudéncia e em particular o STJ que abrangia também situagées juridicas que a nossa lei nGo contemplava como era 0 caso da adop¢ao. Hoje, como sabe, nds nado temos no nosso ordenamento juridico a figura da filia¢Go ilegitima, ela foi abolida na Constituigao de 1976, no entanto certos pafses estrangeiros confinuam a prever essa figura, 0 facto de n&o termos essa figura e de Pagina __ Aula Teérica de Diteito Internacional Privado - Prof. Doutor Dério Moura Vicente 15 de Margo de 2007 OF6 Herem sido revogados os art. 58 € 59 do CC que se referiam a fllagao legtima e a legitimagao, néo quer dizer que néo haja uma ‘eara de contlifos porluguesa com base na qual se posse oplicar uma lel estrangeita ov uma norma estrangeira sobre fliagcio legitima e essas normas sGo 0 arl.56 © 57 do CC referentes 4 fliagdo. Entao, quer dizer ave filagée para efeitos do DIP néo significa apenas aquilo que é fliagéo para © nosso ordenamento interno, podem ser também institutes estrangeiros em matéria de fliagdio que hoje nao existem entre N6s, O conceito que descreve a previsdo da regra de confiitos, o Conceito-quadto, pode ter um alcance mais vasto do que 0 conceito homélogo do direito material do estado do foro e na sua interpretacdo NOs femos de fer isso em conta, falo-se pora significar isto de um Principio de autonomia do direito intemacional privado. Autonomia, Teste sentido, os conceitos usados pelo direito intemacional privado sao auténomos em relacdio ao direito intemno, nao temos que os interpretar luz do direito interno. Quanto as regras de confito de fonte intemacional. Born, aqui por moioria de razdo este principio de autonomia tem de prevalecer, estos regras ndo perlencem & lei de nenhum eslado, sao fruto de acordos onite estados, consiam ce convengdes inlemacionois © convengdes que visam assegurar a harmonial intemacional de julgados. Se cuca estado ¢ os tibunais de cada estacio os fossem interpretar & luz do seu PrSprio dieito intemo, esse uniformidade que se tem em visto através dessas regras estaria posta em causa e © mesmo acontece com as regres de confilo de tonte comunitéria e hoje cada vex mais importantes. € aqui hé que atender aos citéios hermenéuticos.préprios de direito comunitério, nomeadamente co prinefpio do efeito ttl que 0 NICE fem desenvolvido ao longo dos anos na interpretacéio dos textos do direito comunitario, Aula Teérica de Direito Internacional Privado - Prof. Doutor Dario Moura Vicente 15 de Marco de 2007 E quanto & integragéo de lacunas nas regras de conflitos? Como é que se hd-de integrar uma lacuna no nosso sistema? Hoje nao serdo muito frequentes as hipdieses de lacunas, pelo contrério, © que aconiece mais frequentemente entre nés 6 haver sobreposicaa e concurso de regras de confltos que abrangem a mesma situacGo, Mas, aié ha alguns anos atrés, nomeadariente até & entrada em vigor do CC de 1966, de facto havia varias lacunas. Bom, seja cOmo for, imporia resolver 0 problema, Como integrar uma lacuna numa regra de conflitos? Também aqui hé especialidades, desde logo, para nés podermos afirmar que hé uma lacuna numa regra de Conflitos, que n&o ha uma regra de conflitos que contemple uma certa categoria de situagées juridicas, temos que ter previamente resolvido o problema de saber se efectivamenie no hé mesmo nenhuma regret de conflitos que contemple as situagSes que temos em vista. O tribunal quer determinar @ lel aplicdvel a certa situagdo juridica e vai ter de jorocurar entre as regras de confllo que exisiem entre nés, se essa sitUacdo é ou nao subsumivel a uma delas, tem que proceder @ quallficagto dessa sitvagGo juridica, coisa que vamos tratar na préxima aula. $6 se pode afirmar que hé uma lacuna depois de se ter tentado achar a regra de conflitos apliicdvel e ainda a qualificagdo da situagao juridica e se concluiu que essa situa¢Go juridica n&o € subsumivel em nenhuma das regras de confitos existentes. Atencdo a este ponto, pois se ndo fivermos perante um Tilbunal porlugués uma ac¢Go respeitante a umn problema de filiagdo ilegitime, nés no vamos encontrar nenhuma regra de contlitos sobre filiagdo ilegitima, pode-se dizer que estamos perante uma lacuna do direito de confitos porlugués? Nao estamos, porque essa situagao de filiacdo ilegitima é subsumivel aos ari. 56 © 57 do CC que tratam da filiagao em geral. Agora, pode de facto acontecer que n&o haja mesmo nenhume regra de conflitos que possa ser subsumivel & situagdo juridica em questo. Por exemplo, nds nao jemos nenhuma regra de contlitos que se refira aos simples actos Pagina Aula Teérica de Diretto Intemacional Privado - Prot. Doutor Dérlo Moura Vicente i 18 de Marco de 2007 juridicos, temos regras sobre os negécios juricicos, mas sobre 0s actos luridicos nGo temos nenhuma regra de contltes. ¢ podem efectivamente levantarse quesiées em situagdes — privadas inferacionals referentes aos efeitos de cerlos actos juridicos, Por exemple, c intetpelacéo do devedor, a que condigdes & que obedece © ave efeitos ¢ que produz. E, de facto, femos varias regras de contlito ave se reportam aos efeitos dos negécios juridicos, estabelocem a fei em principio aplicdvel estabelecem em muitos casos até dosvios a esas regras de contlios @ essas regras poderéo por analogia ser oplicadas a esta categoria de situacées. Se n&o for possivel resolver esta lacuna por analogia, haverd que recorrer ao crtétio do art, 10/3 do CC nos indica, aplice-se a norma que o intérprete criaria se fivesse que legislar dentro do esptiito do sistema. E, para este efeito é exiremamente importante que o intérprete recorra &queles principios e valores do DIP ave foram analisados anteriormente, sdo esses principio 6 esses valores aue no Tundo nos dao o espitito do sistema, © eritério do art. 10/3 do ce € allamente tributério dessas otientacdes gerais do nosso direito internacional privado. Ainda uma palavra a tespeito dos problemas que suscita aplicagéo no tempo e no espaco da regra de confiitos. Aconlece, com relativa frequéncia haver uma sucesséo no tempo de regras de contlito. £ Publicado um diploma com uma nova regra de confiiios 6 o que casos € que ela se vai aplicar? As situagdes constituidas depois da entrada em vigor desse diploma ou também aquelas que J existiam anieriormente? Sao problemas que se suscitaram por exemplo quando enrou em vigor © CC de 1966, quando.entrou em vigor a teforma de 1977 do CC, quando entrou em vigor a Corivencéo de Roma de 1980. assim por ciante, aplicagéo no tempo de regras de contlto no espaco. Para resolvermos estes problemas, antes de mais, temos de procurar se existe uma regra de confliios que resolva ssa sucessdo no tempo de regras de confltos. Por exemplo, o art, 17 da Convengdo de Roma diz- Pagina J Aula Teérica de Direlfo Intemacional Privado - Prof. Doutor Deirio Moura Vicente 15 de Marco de 2007 nos a que situagdes 6 que se aplicam as novas regras dessa Conven¢do, vem-nos dizer que a Convengdo se aplica no estado contratante aos contratos celebrados apés a sua entrada em vigor nesse estado. Por exemplo, em Portugal esta Convengdo entrou em vigor em 1 de Setembro de 1994, em principio 86 sera aplicdve! aos contratos posteriores a essa data. Na mofor parte dos casos nao ha normas especificas que nos resolvarn este problema e temos que portanto recorrer aos critérios gerais que entre nés comstam dos artigos 12 e 13 do CC, as regras gerais do direifo transitério. E destas regras gerais, nomeadamente o art. 12 do CC resulta que em principio as novas regras de conflitos s6 vao aplicar-se as situacées privadas internacionais constituidas apés a entrada em vigor dessas mesmas regras de conflifos na nossa ordem juridica, é 0 principio da nao retroactividade. Mas, também este principio tem de ser eniendido com uma limitagGo importante no Gmbito do DIP, o que € que se fem em vista. acautelar com o principio da ndo reiroactividade? A nao retroactividade visa acautelar as expectativas legitimas dos interessados e visa evitar defraudar a confian¢a, quando se aplica retroactivamente uma lei pode-se cometer realmente uma violéncia, oplicar uma regra a uma pessoa que nao estava a contar com a mesma. No plano do DIP a aplicagdo da nova regra de conflitos apenas 4s situa¢des constituidas depois da sua enirada em_yigor, visa justamente esse objectivo, visa evitar que a pessoa que contava com a aplicacao de ceria lei que era aplicavel segundo a regra de contflitos anterior, agora seja surpreendida com a aplicabilidade de uma nova regra de contflitos. Bom, mas pode perfeitamente acontecer que a sifua¢Go privada internacional em causa no momento em que se constituiu nao tivesse nenhuma ligagao. @ ordem jutidica portuguesa, e enido nesse caso ndo hé nenhuma expeciativa digna de tutela juridica por parte do sujeito ou dos sujeitos dessa relagao em que fosse aplicavel pela antiga regra de conflitos porluguesa. Quando assim seja, nao so muito corentes estas situagdes Pagina Aula Teérica de Direlto Internacional Privade ~ Prot, D: ims 18 de Margo de 2007 utor Dario Moura Vicente Mas podem ocorrer, néio hd razéo nenhuma para que néo se optique imediatamente a nova regia de confltos de isis no espace, Este Principio de néo retroactividade tem que ser aplicado com alguma Couiela 4s situages privadias iniemacionais, s6 quando a sua ratio Sfectivamente o justifique, se ndo se justiicar aplicamos imediatamente Gli designada pela nova regra de confiftos, Uma polavra, por Uitimo, sobre c aplicagae ne espaco da regra de confilos. Temos, no nosso ordenamento juridico um delerminado Conjunto de regras de conflitos, serdo elas aplicavels a todas 6 Quaisquer stuagGes que sejam submetidas aos nossos tibuncis, ou s6 a Glgumas dessass situagées? Em principio, a primeira 6 que é a resposta Conecta, 0 direito de contlilos € de aplicagée teniforial, os nossos "rlbunais em principio aplicam sempre e s6 aplicam 0 diteito de confitos vigente em Portugal nao 1m de aplicar direito dos contitos vigente em Poles estrangeos. Se é colocada em Porugal uma quesiao respeitante & validade de um conirato internacional, essa questo he de ser resolvida por aplicacéio da lei designada pelas regras de contlte Que vigoram entre nés, nomeadamente pelas regras constantes na Convengéo de Roma, mesmo que o contrato tenha sido celebrado em determinado pais estrangeiro e que as partes sejam estrangelras, néo varnos atender ao direito de contitos estrangeio e esta é a regra geral, Mas, hé casos em que as nossas regras de contitos cedem perante regras de confit estrangeiras © isso acontece sobretudo em duas grandes categorias de casos. A primeira categoria de casos, s80 casos em due os tbunais porlugueses tém de aplicar verdadeiramente regras Ge confito estrangeiras, sG0 os.casos ditos de reenvio ou de devolucao, figura que também vamos estudar neste CUISO UM PoUCco mais & frente © estdo previstos nos artigos 17 ¢ 18 do CC, So casos em que a nossa regra de confiitos, por hipétese remete para certa lei estrangeira 6 esta Por seu furno transmite competéncia a uma terceita lei que considera competente. Pagina 12 22 Aula Teérica de Direlto Internacional Privado - Prof, Doutor Dario Moura Vicente 15 de Margo de 2007 Li eS 1 > 1s Oart.17/I do CC diz-nos que em certas condi¢ées nés podemos aplicar esta terceira lei e nGo a segunda se isso permitir aican¢a a tal harmonia internacional de julgados que se tem em vista. Neste caso, reparem o que é que esta a acontecer? Se nds procedermos como manda o art. 17/1 do CC, © tribunal portugués em Ultima andlise vai aplicar uma norma de conflitos estrangelra, a nossa norma remete para L2 mas nés néo vamos aplicar o direito material de L2, nds vamos aplicar o direito material designado pela regra de conflitos de L2, hé aqui uma hipétese de reenvio. Nesses casos, 0 nosso tribunal vai aplicar uma regra de conflitos que n&o & nossa, mas sim de um ordenamento juridico estrangeito e isto em homenagem ao principio mais alto do direito internacional privado, que € 0 principio da harmonia intemacional dos julgados. Ha outros casos em que © nosso friounal nGo tem e€ apiicar uma regra de conflitos estrangeira, mas tem que a fomar em consideragao, sdo por exemplo os casos previstos nos artigos 28/3, 31/2 @ 47 do CC. O art, 31/2 do CC em matéria de determinagdo da lei pessoal do individuo diz que em principio e de acordo com o art.31/1 do CC essa lel é a lei da nacionalidade do individvo; mas hé casos em que o art. 31/2 do CC admite que em vez de se aplicar a lei da nacionalidade do individuo se aplique a lei da sua residéncia habitual. Suponhamos que ha um portugués /emigrante radicado em Franga que casa nesse pals ou que faz |G 0 seu testamento, e em vez de ler casado ou de ter feito o. testamento de acordo com a lei portuguesa, a lei que em principio era aplicavel segundo o art.31/1 do CC 0 fez de acordo com a lei francesa . porque julgava que era aplicével a lel francesa. E de facto 0 acio é vélido de acordo com a ei poriuguesa, o art.31/2 do CC vem-nos dizer que esse acto € reconhecido em Porlugal, desde que tenha sido Pagina Avia Tesrica de Direito Internacional | ‘ado ~ Prof, Doutor Dario Moura Vicente 15 de Marco de 2007 celebrado no pals da residéncia habitual, em conformidade com @ lei Ga residéncia habitual e desde que essa Iei se considere competente, ume vex mais € a preocupagéio de acautelar a confianga dos interessados que esié aqui em causa, as pessoas confiaram, criaram-se expectativas na validade daquele negécio juridico, depois nés vamos reconhecé-lo descle que ele do seja celebrado de a sordo com a lei da nacionalidade, mas de acordo com a lei do pois onde foi Celebrado. Ora bem, para esla regra funcionar 6 preciso apurar se a lei da residéncia habitual se considere competente, mas se considere competente como? Por forca das suas préprias regras de contltos, nos vamos fer due consultar as regras de contitos da resicléncia habitual 6 ver se essas regras de conflites no caso concrete mandam aplicar a lel Ga tesidéncia habitual, nesse caso néo vamos propriamente aplicar, mas vamos fer em conta para a oplicacéo de uma tegra de contitos Portuguesa, art. 31/2 do CC, mas vamos ter em conta o que se diz na regra de confiios estrangeira, Disciplina: Direito Internacional Privado Pagina 4 de 12 Professor Doutor Dario Moure Vicente Data: 19/03/2007 ‘Qualificacao Esta operacdo a que se chama qualificagio, no é propriamente, em termos gerais, rnenhuma novidade pera vés, uma vez que trata de algo que tem que ser realizado antes de ser aplicada qualquer norma juridica @ um caso concreto, Devo dizer-vos ue, genericamente, se trata da integragéo de um caso singular na previsio de uma norma juridica, na subsungao desse caso ao conceito que delimita o objecto dessa morma juridica, Por exemplo, quando nds nos interrogamos se, um contrato celebrado entre duas pessoas, pelo qual uma delas se obriga a entregar a outra um imével, para que a segunda se sivva dele, com a obrigacéo de a restituir ao fim de certo lapso de tempo, sé trata de um arrendamento, de um comodato, ou da cessio de explorago de um estabelecimento comercial, ‘estamos a realizer uma operacéo de qualificagéo, operagéo essa que é obviamente necesséria para depots definir se de facto os efeitos juridicos que pertencem @ esse contrato, variarso consoante a qualificagéo dessa situacio concreta, ‘Ora bem no Direlto Internacional Privado esta operacéo reveste certa particularidade, e essa particularidade resulta da estrutura especial da regra de conflitos que examindmos aqui na tiltima aula, Recordo-vos que disse entéo, que as regras de confitos, como todas as regras juridicas se analisam numa previsdo e numa estatuico, Simplesmente @ previséo da regra de confittos assim como @ sua estatuigdo tém caracteristicas especials. A previsio que consta daquilo a que chamamos um conceito-quacro, ou sefa, um conceito delimitado em termos de grande amplitude € que tem aptid3o para incorporar uma muttiplicidade muito grande de contetidos juridicos do nosso préprio direito material ou de direitos estrangeiros; estatuicéo é 0 chamamento de certa ou certas normas de uma ordem juridica designada pelo elemento de conexéo para reger a situagio privada internacional. Ora bem, na aplicagio das regras de confitos, assim configuradas, nés vamos depatarmo-nos com duas questées fundamentais: uma primeira questo prende-se com, saber se a referéncia que é feta pela regra de confltos além por ela designada é: uma referéncia aberta no sentido em que abrange todas ‘e quaisquer normas juridicas pertenceittes a essa lei que, de acordo com essa lei sda. aplicvels 20 caso concreto; @ todas as normas que um tribunal situade na ordem juridica @ que pertencem esse lel aplicaria 20 mesmo caso, ou pelo contrério se, a referéncia que é felta pele regra de confltos a essa lei por ela designada é antes uma referéncia selectiva, no sentido de que s6 compreende aquele ou aquelas normas que correspondam categoria definida por ‘aquele conceito-quadro da regra de confiltos. ‘A segunda questéo prende-se com @ operago de qualificagtio propriamente dita e trate-se no fundo de saber quals so os critérios. que presidem & subsuncSo das normas materiais da lei designada pela regra de conflitos, ao conceito-quadro desta mesma regra ou, 0 Rrcarmvecn nar Andie Rodrigues 5.2 Ano @ FOL 2006/07 Discipline: Direito Internacional Privado Pagina 2 de 12 | Professor Doutor Dario Moura Vicente Data: 19/03/2007 | que € 0 mesmo (hé autores que preferem dizer assim) a subsunglo da situacio jurdice decorrente da apticag3o das normas materiais da lel designada pela regra de conflitos a0, ‘conceito-quadiro da regra material, Vamos procurar responder & primeira destas questées com a ajuda de um exemplo que, encontram nos casos-préticas de devolugdo e qualicacSo publcados pela ‘AssociacSo Académica, que & 0 cas0 de qualificacio nimero 6, Trate-se de uma hipdtese em que temas um nacional do Reino Unido, A, que morre em Portugal sem ter feito testamento ou qualquer Dutra dsposicée de dima vontade © que delxa bens iméveissituados no nosso Pai; situato alias que, hoje, cada vez mais temos dado o elevado numero de estrangeiros que vém hoje Passar 2 sua reforma, ou os seus Ultimos dias das suas vidas no nosso Pats, Bom, que lel é que se vai aplicar ao destino a der aos bens iméveis deste indlviduo situedo em terrtério nacional? Como eu disse, ele faleceu sem dlspér sobre o destino dos seus bens, néo debou parentes sucessiveis, ¢ portanto aberta em Portugal a sucesséo pergunta-se que destino vamos dar @ esses bens? ‘Temos no nosso Cédigo Civil uma regra sobre as dsposigies montis causa, que é 0 artigo 628, (que € uma regra de confltes). 0 artigo 62° conjugado com o artigo 31° n®l e o artigo 20°, todos também do C.C., no caso remetem-nos por hipdtese para a lei inglesa, o individuo era originério de Inglaterra, De acordo com a lei inglesa o que & que acontece aos bens deixados por pessoas que néic tenham parentes sucessiveis, nem tenham felto testamento? Em principio esses bens séo atribuides 8 Coroa Brténica, Hé uma lel em Inglaterra que se chama 0 * Administration of the State Act", portanto a lei de administragdo de propriedades ue, confere 8 Coroa Briténica o direlto de recolher herencas vagas. Qual é a natureza desse direlto da Coroa Britanica? Nao € seguramente um direito hereditario, @ Coroa Briténica ndo é herdeira, trata-se antes de um direito de ocupar os bens sem dono, existentes porventura em territdrio inglés. E nesta medida trata-se, efectivamente, de um direito real, Agora pergunta-se, colocando-se a questéo perante os tribunals portugueses e estando estes bens situados em! terrtirio nacional deverd © nosso tribunal deferir estes bens 8 Coroa Britanica, como aparentemente seria 0 resultado? Tudo depende do alcance que é feito pela nossa norma de conflitos, & lei. inglesa no.caso concreto. & uma referéncia aberta, no sentido em que abrange todas € quaisquer normas que num caso concreto seriam aplicadas pelo tribunal inglés @ este mesmo @S0, Ou pelo contrério traterse de uma referéncia selectiva, no sentido de que sé abrange aquelas normas que sefam Teconduzivels a0 concelto-quadro da regra‘de confitos de que partimos, © artigo 620? Se esgravado por: Andrea Rodngues 5.8 Ana @ FOL 2006)07 Disciplina: Direito Internacional Privado Professor Doutor Dario Moura Vicente Data: 19/03/2007 fossemos pelo primeiro caminho qual seria o resultado? Deviamos aplicar normas inglesas sobre direitos reais, com base numa regra de conflitos portuguesa referente as sucessGes mortis causa. Ora isto no pode ser, Quanto aos direitos reais, hd uma outra regra de conflites no Direito Internacional Privado Portugués, a que jé fiz aqui vérias referéncias, que é 0 artigo 46° C.C., e que remete nessas matérias de direitos reals para a /ex rel sitae, para a lel do lugar da situacSo dos bens, no para a lei pessoal do seu titular como acontece como no artigo 62° C.C, Ore se nés aplicdssemos a norma inglesa que confere a Coroa Briténica de se apoderar dos bens sem dono existentes em territdrio inglés, ov relatives a propriedades de individuos britnicos, irfamos realmente violar a regra de conflitos de que partimos. Partimos do artigo 62° C.C., que nos remete para a lei inglesa, simplesmente, a norma relevante na lei inglesa ndo é uma norma respeltante a sucessbes mortis causa, é uma norma respeitante a direitos reais. E a competéncia do artigo 62° conjugado com o artigo 31° n® 1 0 artigo 20° C.C. confere & lel inglesa no caso concreto, é uma competéncia que se deve ‘entender restrita 4 matéria das sucess6es mortis causa, alarga-la a outras matérias seria deturpar, desvirtuar essa remissio para a lei inglesa. Portanto nés temmos que concluir que neste caso 2 Coroa Britinica no vai puder exercer o seu direlto de ocupagdo de bens sem dono, relativamente aos bens situados em territério nacional. Isto significa que a referéncia, que a regra de confitos portuguesa faz & le inglesa (0 artigo 62°), deve entender-se como uma referéncia selectiva, uma referéncia que abrange somente aquelas disposicées da lei inclesa que pelo seu contetido e pela fungo que desempenham no ordenamento juridico onde pertencem, correspondam, ou seja, subsumam no concelto-quadro da regra de conflitos de conde partimos. $6 esta solugo é compativel com a observéncia do espirito da regra de conflitos, qualquer outra implica violar aquilo que a regra dispée. Isto poderd parecer algo de relativamente linear, em face daquilo que acabei de dizer, mas chamo a vossa atenc#io para muitos ordenamentos juridicos e sistemas de Direito Internacional Privado esta & ainda hoje uma questéo controvertida. Felizmente, nés temos no DIP entre nés, uma regra que expressamente dispSe neste sentido e clarifica o problema, é 0 artigo 15° do C.C. que tem justamente por epigrafe “Qualificagdes” e que nos diz que a competéncia atribuida @ uma lei abrange somente as normas que pelo seu contetido e pela funcdo que tém nessa lei integram 0 ragime do Instituto visado na regra de conflitos. Nés podemos simbolizar através de um esquema. aquilo.que o artigo. 15° estabelece da seguinte forma: temos aqui a nossa regra de conflitos, a regra de conflitos que através de um elemento de conexéo vai remeter-nos para ume determinads lel, a /ex causae, a lei que regula a causa, 0 mérito da.questéo disputada perante o tribunal Portugués, nesta /ex causae nés vamos encontrar uma norma material, no caso eram as normas constantes do tal “Administration of the State Act", e aquilo que se pergunta agora é se esta norma material ¢ ou Desgravato por: Andieia Rochigues 5.© Ano @ FDL 2005/07 Disciplina: Direito Internacional Privado Pagina 4 de 12 Professor Doutor Dério Moura Vicente Data: 19/03/2007 nao reconduzivel ao conceito-quadro da nossa regra de conflites. Sé se a Tesposta a esta ‘questéo, que é a questéo que trata o artigo 15° do C.C, for Positiva é que nés podemos aplicar ess8 norma, Se no for essim, se aquela norma, como acontecia no aso que mencionei, no fesse subsumivel 20 concelto-quadro da regra de confitos de que pattimos temos que ‘ecomerar 0 proceso @ procurar através de outra regra de confltos outra norma material de cert Il, designade pela regra de confltos @ que seja subsumivel a esse concelto-quadro, Este fo}, portanto, o primeiro problema que colaquei. A referéncia felta pela Tegra de conflitos 8 ei Por ela designade nos termos do artigo 15° do C.C, deve entender-se uma referéncia selectiva ra acepeo de que ndo abrange todas e qualquer normas dessa ll mas tio somente aquelas hormas que Pelo canteldo ¢ pela fungo que desempenham na fl designed, se recond.zam, ‘Se subsumam e6 concelto-quadro da norma de confiitos de que partimos, ‘Aqui nasce outro problema, que temos que responder. Se a regra de Conflitos sé tem esse alcance isso significa que @ competéncia que ela defere a certa ki, através do seu lemento de conexéo & & partida uma competéncia meramente hipotética, antes de felta 9 oheracéo de qualiicagéo, quando ainda s6 flzemos funcionar um elemento de conexéo da regra Ge confitos nfo podemos dar como adquirido se efectivamente podemos aplicar esta Jex ceusae tudo depende como esse, da resposta deda ao problema da qualifcacéo. Ora, como & que entiio devernos proceder para respondermos @ esse Problema, como é que devemos Broceder quando vamos qualficar uma norma material pontenciaimente apicével, ou, (que & c5mo no fundo dizer @ mesma cols}, quando vamos qualicar a situagSo jurdica que temoe Berante nés, com 0 contefiéo © os efeitos que the imputam certa norma material da lel designada pela regra de confitos? Hé nesta operacdo trés momentos que podem ser distinguidos: *2 primeiro momento podemos dizer que corresponde & interpretacdo do concelto-quadro da regra de conflites, o concelto que como disse delimita 0 cblecto da regra de conftos; 6 conceito que nos diz para que é que vale aquele elemento de conexéio que a regra consagra; *0 Segundo momento corresponde & caracterizagéo do objecto a ualifcar, 2 caracterizaglo daquele quia, daquela norma ou daquela situacio jurdiea que vamos reconduzir ao conceito-quadro; *finalmente um terceiro momento, que podemos designar como da ualificago em sentido estrto, 0 momento em cue vamos deca, se em concreto, no caso que temos perente nés, a norma, ou a situagdo juridica em questo, & efectivamente abrangida pelo conceito-quadro da regra de confiitos. Desgravado por: Andraia Rocrigies 5.2 Ano @ FDL 2006/07 " Disciplina: Direito Internacional Privado Pagina 5 de 12 Professor Doutor Dério Moura Vicente Date: 19/03/2007 Vamos ver cada um destes trés momentos comecando pela interpretagSo dos conceito- ‘quadro. Trata-se de um problema que se coloca por exemplo, quando nes perante o artigo 48° do C.C., que como jé saber, certamente, nesta altura trata do casamento, tem por epigrafe * a ‘capacidade para contrair casamento ou celebrar convengSes antenupclais", diz-nos qual é a lei que rege os requisitos substantivos de celebracio do casamento, é perante este preceito que nos interrogamios se 0 conceito de casamento que é af utilzado corresponde apenas aquilo que rnés, em Portugal, entendemos por casamento, aquilo que 0 C.C. consiclera por césamento ou ‘se abrange também, como acontece em certas ordens juridicas estrangeiras, as unides de facto ‘@ que correspondam porventura os mesmos efeitos do casamento. Acontece em alguns sistemas juridicos, 0 casamento entre pessoas do mesmo sexo, hoje em dia consagrado pela lel de varios paises, na Europa. Salvo erro, em Espanha, abrange-se apenas o casamento monogémico. Os sistemas juridicos Islémicos consagram o casamento poligémico. Varios sistemas juridicos exéticos consagram 0 casamento poliandrico, de uma muther com vérios homens. Perante o artigo 55° do C.C., que trata do divércio, perguntamo-nos se por esta norma sero abrangidos apenas aqueles divércios que so decretados por uma entidade oficial, como seja 0 tribunal ou 0 conservador do registo civil, como acontece entre nés com oficialidade piilica, ou também se abrange aqui o divércio privado, como aquele que vigora nos sistemas juridicos tslémicos, em que o marido pode divorciar-se da mulher simplesmente pronunciando a palavra “talaq’ trés vezes na presenga dela, ou como hoje se entende até por correspondéncia? E ainda o problema que se coloca quando perante os artigos 569 € 579 C.C., que como sebem tratam da filiaglo, Perguntamo-nos ser que filiacSo para os efeitos deste precelto € sé a filiago como nés a concebemos, S80 $6 abrangidas as normas que néo estabelesam quaisquer discriminacées entre filhos nascidos dentro e fora do casamentto, ou seré que essas normas dos artigos 56° e 57° também tém a deciséo para chamar e convocar normas estrangelras que consagram a figufa, (que também existiu entre nés), da fillaglo flegftima. No fundo, trata-se portanto dos problemas que resultam de certos institutos juridicos consagrados na nossa ordem Juridica terem regimes, terem contatidos diferentes em outros ordenamentos Jutidicos. Hoje para nés é um dado adquirido de que se pode constituir a filago através da adopsfo, mas até 1967 no era assim em Portugal no havia @ figura da adopco e no entanto esta figura jé estava consagrada em muitos ordenamentos juridicos estrangeltos, #6 na vigéncia do Cédigo de Seabra se perguntava se perante 0 artigo 27° do C.C, se se deveria considerar abrengida nessa regra de conflitos as normas de ordenamentos juridicos estrangeiros que consagravam justamente 2 filagéo adoptiva. Como as regras de conflltos fazem,a ponte entre cordenamentos juridicos distintos, coordenam nas situagtes privadas internacionals, a aplicablidade de diferentes ordenamentos juridicos, estas questies colocam-se com grande Desgravado por: Ariela Rodrigues 5.2 ano @ FOL 2008/07 Oisciplina: Direito Internacional Privado Pagina 6 de 12 Professor Doultor Dério Moura Vicente Data: 19/03/2007 frequéncia. Saber até que ponto é admissivel, através do ‘chamamento feito por uma Tegra de conflitos portuguesa, aplicar em Portugal institutos Juridicos que so ‘desconhecidos entre nds, 4 que pelo menos nes ordenamentosjurélos estrangeirs a que pertencem tém conteies & efeitos diferentes é justamente um dos Problemas da ‘qualificacg3o que se coloca no primeiro momento, Depois temos um segundo momento em que se caracteriza ‘object da qualificagio, £ Por exemple, © problema que se coloca no caso que menconel & pouco, quando nos interrogamos qual é a natureza do direito subjectivo que o “Administration of the State Act” confere & Corea Britinia. Tratava-se de um det sucessério ou de um direlto rea? Héo-de notar que $6 podemos responder em face da regulamentagéo concretamente estabelecida pela {ei designada pela regra de conflitos para esse caso, E ainda um problema que se coloca neste out caso, que encontram reproduzido na colectinea da Assocagéo, © caso-prético de Swaliicagso nimero 4, Trata-se de uma situacdo em que temos um Indlviduo, A, que pede a condenacao de B perente um Tribunal Portugués, no pagamento de uma dlvida que esté sujelta 20 dete inglés, De acordo com o deito inglés, no caso concreto,o prazo para o exerckto do direlto de crédito em questo & um prazo de seis anos, findo © qual esse prazo o direito J no Pde ser exercido em julzo, Isto por forca de uma lei inglesa a que se chama “Limitation of Action’ portanto tracuzido & letra a limitacSo de acgées. Em Inglaterra no hé propriamente a ‘ura da prescrglo extintiva de direttos subjectivas,néo se extinguem por efelto do decurso do tempo. O que se extingue € 0 direto de propér a acco em julzo para exercer esse direto, © "Eu desta acy#o, que decorre no Tribunal Portugués, vem justamente dizer que o crédito ecté sujelto 20 direto inglés © perante este direito a “Limitation of Action” jé néo permite a Propositura desta acy, O autor contrapie dizendo que a “Limitation of Action” & um insttuto Ge creko processual, ele no etingue dirltossubjectvos, inibe a propostura da accéo, que é uma colsa lferente, Ora o direlto inglés neste caso conereto é aplcavel a qué? Ele & chamado pelo artigo 40° do nosso C.C. e é aplicdvel & extingfio do direito subjectivo, n&o a acco, niio ao Processo, © proceso de acordo com.a.repra universal de DIP & regido pela lel do foro, portanto no caso concreto a processo é regido pela lel portuguesa, direito inglés ndo & aqui aplcado, ‘Temos portanto aqui que determinar para que serve esta figura da “Limitation of Action", qual € © seu contetido, quals so as funcGes que desempenha? Estamos Precisamente, no Segundo momento da qualifcegéo, Se nés conclurmos que'se trete de uma figura esttamente rocessual,entao temos que recusar @ sua Subsuncéo sobre o artigo 402, essa regra da le inglesa néo seria chamada pelo artigo. Mas pode ser que assim no seja, pode ser que realmente as finalidades visadas dessa figura sejam exactamente as mesmas que so entre nés desempenhades pela figura da prescrigéo extintva, e se € assim entio de acordo com 0 artigo 15° do C.C. j4 no haverla obstdculos @ que. se. aplicassem essas normas inglesas no caso + Desgravado por: Aneel Rechigues 5.° Ano @ FDL 2008/07 Pagina 7 de 12 Disciplina: Direito Internacional Privado Professor Doutor Dério Moura Vigente Date: 19/08/2007 concreto, Este problema da caracterizaco de um objecto a qualificar pode ainda colocar-se a respeito de normas da nossa ordem juridica, Vejamos um outro caso, 0 caso n® 11, temos dois Ingleses, Ae 8, que vendem a um filho seu, C, um iméve! situado em Portugal. Aparece um outro filho do casal, D, que no deu o seu consentimento a essa venda e pede a anulacdo da venda, com fundamento no arty 867° do C.C. que estava, diz ele, a ser prejudicado pelos pals nessa vende que na realidade no seria se nao uma doago, Agora pergunta-se sendo estes dois individuos que fizeram a doacéo, ingleses, mas estando o imével situado.em Portugal seré © artigo 867° realmente aplicével.20 caso? Uma vez mais se coloca aqui um problema de qualificagdo. A compra e venda é efectivamente regida pela lei portuguesa, artigo 4 n° 3 da ConvengSo de Roma, este artigo diz-nos que em matéria de contratos relativos a direitos sobre iméveis-se-aplice'a 12x rer sitae; OU seja, a lel do lugar da situago. Por isso esta compra venda quanto aos efeltos substantivos que produz, quanto &s obrigacBes que delas nascem para as partes é regida pela tei-portuguesa. Mas seré que 0 artigo 867 6 uma norma subsumivel ao artigo 4° n03 da C.R.? O artigo 4° 03 é uma norma sobre confites de els em matéria de obrigagbes contratuais, é disso que trata a CR. Ora, seré que o artigo 867° pode_ realmente ser qualificado como uma norma respeitante a obrigaG®es provenientes de contratos? Se entendermos & sua insergio sistematica, realmente a resposta seria positiva, ele estd no capltulo do Cédigo sobre o contrato de compra e venda, mas qual é 0 contetido e as fungées desse precelto? Para que é que serve ele? Que finalidades é que se visam cautelar? Se forem finalidades atinentes as relacSes familiares, se'se trata de proteger a posico dos filhos uns perante os outros, no caso de casais.que tenhiam mais do que.um filko, entiio tratar-se-& de uma norma sobre relagdes entre pais-e filhos. As relacGes entre pais e filhos no so regidas pela /ex ref sitae, nos termos do artigo 57°, sSo regides pela lei reguladora das relagdes familiares, que é outra lel, portanto, também aqui a resposta que nés dermos & questo da qualificagio, concretamente neste caso a caracterizagéo a dar ao objecto a qualificar, & norma 8672, vai determinar a aplicabilidade ou no dessa norma ao caso concreto, Finalmente temos o terceiro € ultimo momento que & a qualificacdo em sentido estrito. ‘Agora que jé interpretimos 0 conceito-quadro, j4 caracterizémos o objecto a qualificar, norma ‘ou situacio juridica em causa, cabe tomar uma deciséo sobre a susceptabllidade ou no da subsunge daquela norma ou situago juridica do conceito-quadro de que partimos. & neste terceiro momento, por exemplo, & que nés temos que decidir naquele exemplo.que mencionei a pouco da accéo de divida intentada em Portugal por um inglés em que o réu contrapde que @ divide € abrangida pela regra inglesa da “Limitation of Action’, & neste terceito momento: que vamos decidir se € ou no que aplicamos as normas inglesas por via do artigo 40° do nosso C.C, porventura sera exacta a afirmacéo do réu quando diz que essas normas so normas —_ 5.2 Ano @ FOL 2006/07 Desgravade por Rndrela Recrigues Disciplina: Direito Internacional Privada +5 =shoenaw aun uiastel @ Sue epiKADMIGade, Porque o artigo 15° do C.C. no manda atender exclusivamente & Caracterizagéo das normas perante o ordenamento juridico a cue pertencem, mande atender a0 seu conteido e a fungio que desempenham. Se conciuirmos que a “Limitation of Action” ‘desempenha no ordenamento a que Pertence as mesmas fung5es que entre nés desempenha a figura da prescricdo extintiva, entio no haveré tice a que neste terceiro momento se aplquem estas regras apés a sua subsungéo a0 concelto-quadro do artigo 409, Interessa-nos agora definir um critério para 2 resolucéo dos problemas que se colocam estes trés momentos. Assim, no momento da interpretag3o do ‘conceito-quadro (conceito-quadro é um coneeito Juridico, € um conceito que muitas vezes Ja conhecemos do nosso direito material, do direito Ge obrgacies, do drito da fama e des sucessdes) o que se pergunta €: como é que vamos interpretar esse conceito para efeitos da, aplicagéo da regra de confltes? Vamos imputar nesse concelto 0 mesmo significado que ele tem no nosso dieito material2, casamento Para efeitos do artigo 48° vamos defintlo como o define 0 livto do direito da familia do nosso C.C., ou vamos Ihe dar um outro significado? Eu penso que na resposta a esta questlo temos de distinguir duas categorias da regra de conflitos: temos Por um lado regras de conflitos de for interna, 25 que constam do C.C nomeadamente, e temos regras de conflites de fonte internacional ou comunitéria, a5 que constam de convengies intemacionais ou de actos comunitérios, a que Portugal esté vinculado. Quanto &s normas de fonte interna nés, tendo em conta que o legislador dessas regras de confltos ¢ das normas materials, que dizem respetto a esses concettos, 6 0 mesmo, Hé Portanto uma uniéo pessoal nesse legislador, podemos partir da presuncéo de que um conceito utilzado per_uma regra de conftes, em principio quer signifcar © mesmo que esse conceito i nosso préprio direita material, mas no nos podemos esquecer de que as regres de confltos servem essencialmente para oordenar a aplicaglo de varios ordenamentos juridicos ‘s.mesmas situacdes privadas intemacionals,.que potenclalmente teremos que aplicar normas de direto estrangeiro © portanto nfo podemos cingir os conceites-quadro das regras de canfltos Squilo que eles signficam no nosso direlto material, Temos de admitir que eles possam Ser Interpretados com uma certa autonomia em relaglo ao nosso direlto,temos que admitir que eles possam significar mais do que aquilo que significam no nosso direlto interno, $6 assim & que 2 norma de confitos pode desempenhar a sua funglo. Revelam-nos alguns exemplos: por verzes até extraides do proprio C.C.. Reparem no artigo 64° al. c) do C.C.! Trata-se de ume regra de confites, em matéria de sucessBes que regula relativamente &s dlsposigdes por morte, remetendo para a lei pessoal do autor da heranca, para a admissibilidade'de testamentos de mo comum e de pactos sucesséries, Testamentos de mo comum s8o testamentos recfprocos, Desgravedts por: Ancreia Radhiques| 5. Ano @ FDL 2006/07 Disciplina: Direito Internacional Privado “pagina 9 de i2 io Moura Vicente Data: 19/03/2007 Professor Doutor duas pessoas testam em proveito uma da outra, no mesmo acto. Estes testamentos como ‘saberdo s&o proibidos pelo direito material portugués, 0 C.C. ndo os adimite, e ndo se admite, penso que com boas razdes, porque pode efectivamente acontecer que o que Id se estipula resulta da pressio que uma das partes exerceu sobre outra. Uma das partes tinha ascendente psicoldgico sobre a outra e obrigou-a a deixar-Ihe certas bens, nesse sentido. Todavia hd certos ordenamentos juridicos estrangeiros que admitem essa figura. Testamnento para efeltos de direto internacional privado vigente em Portugal e atento 0 que dispde 0 artigo 64° al, c) do C.C. no é sé testamento 0 que é entendido no nosso C.C., nas disposic&es materials do nosso C.C, séo também abrangidos pelo conceito de testamento do direito internacional privado portugués certos actos que 0 direito das sucessées probe, nomeadamente os testamentos de mao comum. isto demonstra-nos que o conceito de testamento para efeitos do direito internacional privado tem autonomia relativamente ao conceito interno de testamento, ‘A mesma coisa se passava na vigéncia do Cédigo de Seabra quanto ao conceito do artigo 27° do C.C. Nos anos 30, 0 STJ entendia que esse conceito de capacidacle abrangia também a figura da adopso, embora ela no existisse no nosso direito material, mas podia ser chamacia ‘ aplicar-se uma norma estrangeira de adopco por via desse preceito, Até muito recentemente © divércio entre nés pressupunha a intervencio de uma autoridade judiciérie, s6 podia ser ecretado no tribunal. Mais recentemente veio a admitir-se o divércio decretado, e sé em casos limitados, pelos conservadores do registo civil. No entanto a conservatiria dos registos centrals 8 muito que admitia que podiam aplicar-se em Portugal as regras de outros ordenamentos juridicos, por exemplo: o direito jeponés, que preve a possibilidade do civércio ser decretado pelo presidente de uma cémara municipal, coisa que entre nds néo é posstvel. Ou, quem diz 0 presidente da cmara municipal, diz qualquer outra autoridade administrative que entre nds no tenha competéncia para esse efeito. ‘A mesma coisa no que toca ao conceito de fillago, que nés todos reconhecemos nos artigos 56° e 57° do C.C. E reconheeida que-por.via.desses.preceitos se. podem aplicar-entre_. és normas estrangelras sobre.a.filacdo.ilegftima, que no entanto entre nés néo é admitida, Reparem que, a respeito de tudo isto que. estive a dizer até agora & que tet. presente-o seguinte: uma coisa é nés admitimos que hé na nossa ordem juridica como que uma porta de entrada dessas figuras estrangeiras, que & @ regra de conflts, que interpretamos com autonomia em relagdo 20 direito material, outra questo completamente-diferente.é saber se em titima anélise nés vamos ou ndo puder.aplicar essas normas estrangeiras.ao.caso. concreto que temos perante nés. Porqué?? Porque hd uma outra figura que vamos. estudar mals & frente que é a reserva de ordem piblica internacional, que em certos casos pocte opér-se & aplicacio das normas estrangeiras que consagram essas figuras, por o resultado da eplicacdo dessas normas ser chocante, fece 20 nosso sentimento ético-juridico, face aos nossos_principios Desgravade par Andrela Rodrigues 5.9 Ano @ FOL 2006/07 Cisciplina: Direito Internacional Privado Pagina 10 de 12 Professor Doutor Dario Moura Vicente Data: 19/03/2007 fundamentais. Claro que a discriminagSo feita entre filhos nacidos dentro e fora do casamento pode ser ofensiva, pode ser, ndo tem de ser, depende do caso, das conexes que o caso tem com a nossa ordem juridica @ de uma série de outros factores que estudaremos adiante. Portanto qualificagao é uma coisa, reserva de ordem publica internacional é outra, € um roblema que sé se pe mais & frente no proceso decisério. Tudo Isto que estive a dizer até ‘agora, como referl, diz respeito @ interpretagdo de normas de fonte interna, quanto as normas de fonte internacional 0 ponto de partida da sur interpretaclo de ‘Conceites-quadro tem de ser outro, Al J no pudemos partir da tal presunglo que esses conceltos correspondem, 20 que eles significam no direfto material do foro, parque no so normas que so emanadas do legislador do estado do foro, sio normas emanadas do legislador comunitério ov do legislador Internacional. Aqui haveré que utlizar outros crltérios. Por vezes as_préprias convencées internacionais dlo-nos orientagbes sobre a forma de proceder a essa interpretago, como acontece por exemplo com a Convengéo de Roma, 0 artigo 18¢ diz-nos que na interpretagao e aplicacéo das suas regras, deve-se ter em conta o Seu_cardcter Intemnacional e a conveniéncia de serem interpretadas e aplicadas como tal, Mas em muitos casos essas normas no existem ou no bastam para se chegar a qualquer conclusso Sobre o aleance dos conceitos em que esto e nessas hipbteses resta-nos uma outra Via, que é rocurar pela interpretec3o da norma de confites, olhandlo aos juizos de valor que estargo na ‘sua base, determinar qual € o émbito das situagées juridicas que pretende abranger através daquele conceito-quadro, aqui o exercicio de interpretag3o do conceito reveste-se de maior complexidade. Depois temos o segundo momento que referi: a caracterizacso do objecto a ‘qualificar. Aqui temos que atender ao que dispbe 0 artigo 15° do C.C. e este artigo dé-nos um extériopara este eft, diz que se deve atendr, na caractezacbo das nommaschamadas pelas "e9ras de confit 20 seu conto, ou sea, regulamentacSo substantiva que elas consagram & funglo ou seja, as finaidades, a sua teleologie no ordenamento jurdico a que pertencem, Portanto, nds vamos sempre interpretar.as normas materias Potencialmente aplicéveis 30 caso 8 luz da sex cousae, da lel chamada. pela regra de confltos. Se ne interpretacdo da regra de confitos poclemos partir da /ex forkpelo menos nas regres de confitos de fonte interna, como disse & pouco, jd na caracterizacéo das normas materais substancialmente apliciveis ao caso temos que atender 20 que dlspée 2 iex causae, nem feria sentido outra coisa, Un autor aleméo, dzia “quem conhece melhor o fio do que'a me", pols neste caso, nés realmente sé odemios caracerizar devidamente uma norma potencialmente. aplcével & luz da ordem Jurigca, que é como que @ mie dessa regra material cuja a aplicagéo esté em causa. Retomemos 0 caso do artigo 867° do C.C., que mencionel & pouco, este artigo, como disse, é uma norma, que esté inserida no nosso livro-do C.C. respeitante as obrigagies na parte Desgravado por: Andria Re 5.® Ano @ FDL 2006/07 Disciplina: Direito Internacional Privado Pagina 11 de 12 Professor Doutor Dério Moura Vicente Deta: 19/03/2007 sobre 0 contrato de compra e venda, mas bastard isso para caracteriza-La como uma norma de obrigagSes € portanto subsumivel as regras da Convengéo de Roma, a resposta deve ser negativa. Realmente os interesses tutelados através dessa regra sia atinentes_3s_relagdes familiares, penso que isso ndo levanta hoje qualquer diivida..portanto. essa norma-cabe-no artigo, $7° € no no artigo 4° n® 3 da Convengio de Roma, E sendo assim essa norma nfo teria qualquer titulo de aplicagio na situago submetida ao Tribunal Portugués, por conseguinte & pretenséo do fiho que néo tinha sido ouvido pelos pais naquela compra e venda teria que ser Julgado improcedente pelo menos com base na regra do nosso C.C. Resta-nos 0 ultimo ¢ terceiro momento da qualificagSo, a qualificagao em sentido estrito. Trata-se agora de decidir em uitima andlise se devemos qualificar ou no a norma material potenciaimente aplicdvel sobre 0 concelto-quadro da regra de confltos de que partimos. O critério que se ha de seguir para este efeito 6 0 critério do artigo 15°, é um critério de correspondéncia funcional. Vamos ver quais so as funces desempenhadas pele norma material, cuja aplicagéo esté em causa e ver se essas.fungies.cortespondem-és finalidacles visadas pela regra de confiitos ao aludir a certo concelto-quadro, se houver essa correspondéncia podemos efectivamente aplicar essa norma, se no, isso néo ¢ possivel. Na decisio da existéncia ou no dessa correspondéncia a titima palavra pertence & lel do foro, Em. litima anélise € & lei do foro que temas de atender para decidir se, Se regista ou ndo essa coincidéncia entre as finalidades visadas ¢ 9 conceito-quadro € pela norma material potenciaknente aplicivel. Digémos, portanto que a qualificaco que o artigo 15° C.C, manda fezer é ao fim 20 cabo uma qualificacéo lege fori baseada numa caracterizacao lege causae das normas materiais potencialmente aplicéveis ao caso. © que € que isto significa?? Por exemplo temos 0 caso da accio de divida, o réu invocou @ “Limitation of Action”, 0 autor contrapée que esta lei é um institute processual e ndo & chamado 20 caso do artigo 40°, que realmente remete para @ fel ingles, mas o Tribunal pode dizer que isso no é s6 por si relevante ou decisivo para se julgar Improcedente @ excepc3o fundada no "Limitation of Action", porque © que eu devo seguir é 0 critério do artigo 15° do CC, e este artigo manda atender ao conteddo e & fungSo, a fungio desempenhada pela figura da “Limitation of Action” é garantir um certo grau de certeza e de seguranca nas relagdes Jurldicas, se os créditos fossem imprescritivels gerariam maior indefinigio, maior incerteza no comércio juridico e € por Isso que se estabelecem limites temporais quer ao exercicio dos direitos, quer & possibiidade de propér as acces em julzo dependenclo a fazé-los valer. Os ingleses seguem a via processual, nés @ Via substantive mas a finalidade essencial é a mesma, entéo néo hé divida que essas normas Inglesas apesar de caracterizadas como normas processuais sio susceptiveis de serer qualificadas sobre o artigo 40° do nosso Cédigo Civil, Uma ima palavra antes ce conciuir esta exposigo sobre a qualifcacéo, naquele Dbesgravado por: Andéela Rediteves 5. Ano @ FD! 2005/07 4 ed Disciplina: Direito Intemacional Privado Pagina 12 de 12 Professor Doutor Dério Moura Vicente Date: 19/03/2007 enunciado inicial geral sobre as fases do Processo da qualificaggo poder-se-ia retirar que no fundo nés estariamos aqui perante uma espécie de silogismo judiciério em que o ‘conceito- uacro seria a permisse maior, @ norma material potencialmente aplicdvel ao caso @ permissa menor @ a quaificagdo em sentido estrto @ conclusio do sloglsmo. Mas realmente as coises ro se processam com esta lneeridace.Daqullo que disse a respetto do tereiro momento da —— Ojus soli > Ojus sanguinis. © que ¢ que isto significa? Que se atende preferentemente, 20 nascimento no territorio do estado que atribui a sua nacionalidade — jus soli —; ou se atende preferentemente & fiiagSo relativamente a nacionais desse estado, Séo pois, dois grandes critérios, que direito comparado nos revela. primeiro critério, 6 sobretudo adoptado pelas paises de imigragao, que acolhem no seu tertitério individuos oriundos de paises estrangeiros, que ai se fixam, e ai fazem as suas vidas. Foi o caso, nomeadamente, durante muito tempo dos paises americanos, ao longo do 6c. XX. Porque procedem esses paises assim? Porque, naturalmente querem assimilar os estrangeiros que afluem ao seu territério, querem inclul-los na sua comunidade nacional, querem poder reger a sua condigao juridica, o seu estatuto pessoal, e para isso, a atribuigéio da sua nacionalidade, faz todo o sentido. ——_— ‘Desgravado por: Rosrla Gangalves 5.9 ro @ FDL 2006/07 Oisciplina: Direito Internacional Privado Pagina 8 de 16 | Professor Doutor Dario Moura Vicente Data: 22/3/2007 © atitério do jus sanguinis & preferentements aplicado pelos paises de emigragéo, aqueles que tém comunidades importantes, a viver no estrangeiro, como foi durante bastante tempo o caso de Portugal, @ que n&o querem perder, a ligagdo existente entre esse mesmo pais e os seus nacionais radicados no estrangeito. @ muitos deles acabam, mais tarde, ou mais cedo por regressar a patria, © por isso, se justifica a manutengo da ligaggo com os filhos desses emigrantes. Os filhos dos emigrantes, mesmo que nascides em territério estrangeiro, vao ter a mesma nacionalidade dos seus pais. Entre os paises de emigragéo, ha que estabelecer uma distingéo, entre os que tinham provincias ultramarinas em Africa, e ao que néo tinham. Os paises, como Portugal, que tinham provincias ultramarinas, sempre deram alguma relevancia ao critério do jus sol, como forma de assimilarem as populacdes dessas provincias ultramarinas, poderem attibuir a sua nacionalidade também a essas populagSes, mesmo que, ndo fossem descendentes de pessoas com a nacionalidade do pais em questao. Realmente, foi esse o caso, durante muitos anos de Portugal, sempre se conjugaram esses dois critérios. Nos anos 60 € 70, houve uma alteragdo de vulto nesta matéria, @ que resultou do fenémeno da descolonizagao. A partir do momento, em que esses paises, que tinham essas colénias, passaram a conceder a independéncia a esses estados, poder-se-ia pensar que agora lamos regressara ao principio do jus sanguinis na sua pureza, deixava de haver raz6es para se considerar 0 critério do jus sol, Mas um outro fenémeno demografico, que entretanto surgiu na Europa, veio contrariar esta perspectiva, © que foi o surgimento de uma fortissima corrente migratoria, primeiro do norte de Africa para o sul da Europa, e depois do leste da Europa para 0 ocidente da Europa. E, todos sabemos que temos, hoje, temos entre nés, importantes comunidades de imigrantes oriundos de Africa, do Brasil, da Europa de leste. Portugal, particlpou também, deste movimento demogréfico. # isso, que justifica que 0 Jus sol, apesar da descolonizagéo, tenha, mantido entre nés e noutros paises europeus, uma certa relevancia. Portanto, os paises de emigragao europeus, entre os quais Portugal, mantém ainda hoje, uma ceria conjugag&o dos dois critérios. Realmente se olharmos para a nossa Lei da Nacionalidade, Lei 37/61, com varias revis6es, sendo a ultima de 2006, em que foi publicada a lei organica 2/2006 de 17 de Abril, Desgravacio por: Rosia Goncalves 5.° Ano @ FDL 2006/07 Disciplina: Direlto Internacional Privado Pagina 9 de 16 Professor Doutor Dario Moura Vicente Data: 22/3/2007, que alterou aspectos muito significativos a esta Lei, e esté republicada em anexo a essa lei de 2/2006, diploma que deve ser adquirido pelos alunos. Nesta lei, vamos encontrar um regime misto de atribuigéo da nacionalidade, em que se conjugam os critérios do jus soli e o jus sanguinis. Fundamentalmnente, de acordo com esta lei, hd duas formas de aquisigao da nacionalidade: ¥ —__ Aquisigao origindria, em que os efeitos se reportam a data do nascimento do individuo, regulada no art.1.° da Lei; ¥ —__ Aquisigao derivada, em que um determinado individuo adquire a nacionalidade Portuguesa, mas, os efeitos dessa aqjuisi¢do, se vo reportar a momento posterior ao nascimento, e esto previstos nos art, 2.° a 6.° da Lei. Dentro da aquisigéo originaria, temos @ aquisicae originaria por efeito da Lei, ea aquisigao por efeito da vontade. Por efeito da Lel, dé-se designadamente quando em certa pessoa se preencham os critérios do jus soli e do jus sangusnis, é 0 caso, por exemplo de todos os que nascem em Portugal e so filhos de portugueses, adquirindo estes, a nacionalidade @ nascenga sem que haja necessidade de fazer qualquer declaragdo de vontade, nesse sentido. Ha outros casos em que isso ocorre, que & 0 caso de filhos de portugueses que nascem no estrangeiro, mas em que os pais estavam ao servigo do Estado Portugués. E temos ainda, os casos em que um individuo nasga_em territério Portugués, e no possui, quaiquer outra nacionalidade, para se evitar a apatriaria, esse individuo vai ter a nacionalidade portuguesa. E, finalmente, temos os casos que foram introduzidos agora pela Lei de 2006, de individuos nascidos em territério portugués, que sejam filhos de estrangeiros, cujos pais aqui tivesSem residéncia ao tempo do seu nascimento, séo os chamados imigrantes da 3." geragéio. Portanto, trata-se de filhos de imigrantes, j4 nascidos em territério portugués, os pais dessas pessoas ndo tém nacionalidade portuguesa, mas os seus filhos, de acordo com a nossa Lel, véo ter automaticamente a nacionalidade Portuguesa Depois, vamos ter os casos de aquisi¢io da nacionalidade originaria por efeito da vontade, e aqui ja néo se da-automaticamente, € necessaria uma declaragéo de — Desgravad por: Reséria Gongeives, 5. Ano @ FOL 2006/07 Disciplina; Direito Internacional Privado Pagina 10 de 16 Professor Doutor Dério Moura Vicente Data: 22/3/2007 | vontade nesse sentido, E quando é que isso ocorra? Ocorre, fundamentalmente, em duas situagdes que lei prevé; casos de filo de mae portuguesa ou de pai portugués, nascidos no estrangeiro, se 0 seu nascimento for inserito no registo civil portugues, ou, se declerarem que querem ser portugueses. £ 0 caso tipico dos fies de emigrantes portugueses radicados em palses estrangeios, se forem registados no registo civil portugues, e os pale declararem que querem que o filho seja Portugués, teréo a nossa nacionalidade. HA sinde 98 casos em que,-um fiho de estrangeiro nasga em terrtério portugues, desde que os pais no se encontrem ao servigo do estado estrangeiro em questéo, © que deciarem que querem ser portugueses, desde que, no momento do nascimento, pelo menos um dos rogenitores resida legalmente em Portugal & 5 anos. Reunidas estas condigdes, esta pessoa pode adquitir a nacionalidade portuguesa desde o nascimento. Do confronto destas diferentes regras do ar.1.° da nossa lel, nds podemos dizer que, apesar da conjugagéo entre os dos ciérios,hé, ainda assim uma primazia do erro do jus sanguinis relatvamente 20 critério do jus sol, porque 0 fiho de um portugués nascido no estrangeiro,fho de pals portugueses, para adquirr a nacionalidade portuguesa, basta que Seja registado no registo civil portugues, e os pals fagam uma declaragao nesse sentido, 2o asso que, 08 fihos de estrangeiros nascidos em terrtério portugués s6 adquirem a nossa nacionalidade, se os pais aqui residirem legalmente, nomeadamente, & pelo menos § anos, Portanto, é-se mais exigente para a atribuiggo da nacionelidade portuguesa com bese no eritério do nascimento em teriério nacional, do que para a atrbuigéo da nacionalidade com base ne fllagdo, relativamente a um cidadéo portugués. Hé quem entenda que esta solupio & infqua, © que no se deveria discriminar, entre a situagéo dos nascidos em Portugal, fihos de estrangeiros, ou dos nascidos no estrangeira filos de portugueses, que deveriam ser tratados em situacéo de paridade. Penso que ha uma razéo que explica esta diferenciagao, E que, nés ndo temos a garantia que os filhos de Portugueses nastidos no estrangeiro tenham a nacionalidade do estado onde nascom: Até alguns anos alrés, isso $6 era possivel, por exemplo, em Franga, aos 18 anos, © que 0 Broprio interessado fizesse uma declaragao nesse sentido, o que significava que, se néo fivessem nacionalidade portuguesa setiam apétridas, aié aos 18 anos, pelo menos 5.9 Ano @ FOL 2006/07 Disciptina: Direito Internacional Privado Pagina tide is | Professor Doutor Dério Moura Vicente Data: 22/3/2007 Portanto, a solugdo da lei portuguesa, de privilegiar o jus sanguinis em relagao ao jus soli, realmente justifica-se nesta éptica. Nao ha davida, que a Lei 6/2006 veio reforgar o critério do jers soll, porque hoje 6 mais facil atribuir a nacionalidade portuguesa, pelo facto de se nascer em Portugal, do que era até alguns anos atrds, os tais filhos de imigrantes nascidos em Portugal tém, agora, automaticamente a nossa nacionalidade, o que até ha pouco tempo atras néo acontecia. Depois temos os casos de aquisigéo derivada, os casos em que 4 nacionalidade vai suttir efeitos reportados a um elemento posterior ao nascimento, e aqui, temos também Giversas situagSes, © que esto previstas no aft.2.°, 3.° € 4.° da nossa lei. Sao, nomeadamente, os casos em que, os filhos menores ou incapazes de pal ou mae, que adquira a nacionalidade portuguesa, podem também adquitir a nossa nacionalidade, através de uma dectaragéo nesse sentido. Hé os casos de pessoas que casam com portugueses ou que vivem em unio de facto com portugueses, desde que essas situagdes se mantenham por 8 anos, diz o art.3.° da Lei, permite a aquisigaéo da nossa nacionalidade. H4 os casos, em que uma pessoa perdeu a nacionalidade, por uma declaragéio prestada durante a sua incapacidade, podem adquiri-la, de novo, depois de adquirida essa capacidade. Em todos estes 3 casos, @ aquisigéo derivada da-se por efeito da vontade do interessado. Ha ainda a aquisigéo da nacionalidade por efeito da adopgao. Se um individuo for adoptado plenamente, por um nacional portugués, adquire a nacionalidade portuguesa, reportada ao momento da adopgéo. Finalmente, temos os casos de aquisigéo da nacionalidade portuguesa, que so os casos da naturalizag&e. Aqui, temos uma aquisigSo da nacionalidade, que depende da decisdo do govero, uma pessoa Tequer ao governo portugués que Ihe seja atribulda a nacionalidade, e para isso tem que preencher cerias condigGes que esido previstas, actualmente no art.6.° da Lei. Até hd algum tempo, esta naturalizagao era concedida na base de uma deciséo discricionaria do governo, deixou de ser assim em 2006, A decistio governamental, neste-caso concreto, do ministro da justica, de atribuigao da nossa nacionalidade, é uma decis&o tomada, agora, no exercicio de um poder vinculado. Portanto, verificados os requisitos que a lei faz depender a naturalizagao, a nacionalidade portuguesa SS 2 Ang @ FOL 2006/07 ‘besgravada por: Rosita Goncalves. Disciplina: Direito Internacional Privado Pagina 12 de 16 Professor Doutor Dério Moura Vicente Data: 22/3/2007 no pode ser recusada ao estrangeito que requer essa nacionalidade portuguesa. Quais do 0s requisitos que agora faz depender a naturalizagéio? > Tem que se tratar de uma pessoa maior ou emancipada face & lei portuguesa; > Tem de ser residente em Portugal ha pelo menos 6 anos; > Tem de conhecer suficientemente a lingua portuguesa; : > N&o ter sido condenado por sentenga transitada por um crime punivel com pena de priséo maxima, igual ou superior, de 3 anos. Estes requisites foram simplificados, porque até 2006 havia uma exigéncia, de que o andidato & nacionalidade portuguesa demonstrasse ter uma ligagéio efectiva 4 comunidade nacional. E essa demonstragéo poder-se-ia ser de diversas formas, ¢ isso deu azo a uma Jurisprudéncia do Supremo Tribunal de Justica, mas o simples dominio da tingua Portuguesa, entendia-se, que ndo era bastante para provar que existia essa ligago efectiva & comunidade nacional. Realmente, pode acontecer que determinado cidadéo estrangeiro que trabalha aqui, no nosso pais, viva © exerga a sua actividade profissional completamente Segregado, num meio estrangelro, na por exemplo, quadros de grandes empresas estrangeiras, que esto aqui 6 ou mais anos, mas que nunca se integram verdadeiramente na nossa comunidade. Poderéo por ventura, dominar urn pouco a nossa lingua, mas poucas mais ligagbes tergo & nossa ordem juridica. E, nessas situagées, entendia-se que, ndo se odia conceder a nacionalidade portuguesa, Esse requisito desapareceu, na lei de 2006, 1s, agora somos obrigados a atribuif & nacionalidade, mesmo que néo exista uma ligagao fectiva 4 comunidade nacional. Desde que @ pessoa em questo faca prova destes Tequisitos, nomeadamente, o conhecimento suficiente da lingua portuguesa, agora ha uns exames de lingua portuguesa para este efsito, a nacionalidade portuguesa tem que ser concedida. Fomos.além daquilo que muitos paises europeus estabelecem, e quais as Consequéncias desta solugéo, do ponto de vista da sociedade portuguesa, isso 86 0 futuro o dird, @ em todo 0 caso, néo ha duvida que esteve aqui, na base desta inovagéo da Lei de 2008, a preocupagao de assimilar, mais amplamente os-estrangeiros radicados entre nds. O 5.8 Ane FOL 2006/07 Desgravat mo ab Disciplina: Direito Internacional Privado Pagina 13 de 16 | Professor Doutor Dario Moura Vicente Data: 22/3/2007, legislador portugués demonstrou, nesta fei, uma generosidade maior do que aquela que tinha até a alguns anos atrés em assimilar os imigrantes radicados no-nosso pals. ‘Temos ainda o problema dos concursos, ou conflitos positivos de nacionalidade, ou de falta de nacionalidade, problema que referi 4 pouco, que suscita quando certo elemento de conexéo tem uma concretizagao em 2 ou mais paises, ou néo tem qualquer contetido concreto no caso em aprego. Realmente deste método que preconizei, ¢ que esta também previsto no direito vigente entre nés, de determinagéo do contetdo conoreto da nacionalidade das pessoas, pode resultar, que certa pessoa seja nacional de dois ou mais estados, Se vamos recorrer as proprias leis dos paises cuja nacionalidade esta em causa, pode perfeitamente acontecer, por exemplo, que um individuo nascido em Franga, filho de pais alemées, seja tido como nacional francés, pela lei francesa, e nacional alemdo pele lei alem, e vice versa, individuo nascido na Alemanha, filho de pais franceses, pode também ser tido como nacional destes dois paises. E, neste caso, como determinamos a Lei pessoai, desse individuo, para efeitos do art.31.° n.°1do CC.? Estas situagdes ocorrem com relativa frequéncia, sobretudo nos casos dos filhos de emigrantes portugueses radicados, ‘em paises estrangeiros. Muitos deles, tém a nacionalidade do pais onde nasceram, mas também tém, por forga do oritério do jus sanguinis, nacionalidade portuguesa. Qual a nacionalidade a atender nesses casos? Essa matéria, é objecto de dois preceitos da Lei, nos arl.27.° e 28.%, que tratam, respectivamente, dos conflitos da nacionalidade portuguesa estrangeira, por um lado, e de nacionalidades estrangeiras, por outro. Quais sao as solugdes que a lei estabeleceu para esta hipdtese: se uma pessoa tiver duas ou mais nacionalidades, e uma delas for portuguesa, diz © art.27.°, que prevalece a portuguesa. Nos casos de conflitos de nacionalidade, atribuimos a primazia & nacionalidade portuguesa. Se um individuo tiver“duas ou mais nacionalidades estrangeiras, 0 art.28.° manda atender @ nacionalidade do estado em cujo nacional tenha a residéncia habitual. Portanto, na hipétese que referi hd pouco, filho de alemées nascido em Franga, 6 a nacionalidade francesa que vamos atender. Se o individuo em questo, nao tiver residéncia habitual em nenhum dos estados de que é nacional, ou se residir habituaimente num terceiro estado, na mesma hipétese se o mesmo individuo residir na Italia, diz 0 art. 28.° in fine, que se atende a nacionalidade do estado com o qual ele mantenha uma vinculagéo- —— Desgravada par: Rosaria Goncalves. 5.9 Ano @ FOL 2006/07 Disciplina: Direito Internacional Privado Pagina 14 ce 16 Professor Doutor Dério Moura Vicente Data: 22/3/2007 mais estreita, Consagra-se um oritério bastante vago, 6 seré o tribunal a determinar, qual é essa vinculagao mais estreita, ¢, porianto, nesses casos prevalece os critérios da nacionalidade efectiva. Vamos atender, de entre as nacionalidades em causa, qual 6 a nacionalidade efectiva. Antes de concluir, quero chamar a atengéo, que este critério da nacionalidade efectiva, no ltimos anos, foi, em alguma medida posto em causa por uma jurisprudéncia muito importante do Tribunal de Justica das Comunidades Europelas, que surgiu, @ propésito dos casos, em que somos confrontados com um plurinacional, que tem duas nacionalidades, uma das quais ¢ @ nacionalidade dum estado membro da Comunidade Europeia, por exemplo um indivi ¢ italiano @ argentino, sendo que, reside habitualmente ne argentina, de acordo com o critério da nacionalidade efectiva, nés deveriamos apenas dar relevancia apenas & nacionalidade argentina, aquela do pais com 0 qual ele tom a vinculagéio mais estreita, mas no caso Micheletl, julgado em 1992, pelo TJCE, houve de facto, uma alteragdo importante na aplicagéo deste critério. Tratava-se de um individuo com a nacionalidade da Italia e da Argentina, que residia habitualmente na argentina, e quis exercer a sua profisséio de dentisia, em Espanha, e pediu que Ihe fosse autorizado 0 estabelecimento dessa actividade, ¢ as autoridades espanholas recusaram, e ele invocou a Tegra de que de acordo com o direito comunitério, gozava de liberdade de estabelecimento dentro da comunidad, ele era nacional de um estado membro da Comunidade Europela, Portanto, devia de beneficiar da regra de direito comunitério, segundo a qual, qualquer nacional de um estado membro pode circular e estabelecer-se livremente em qualquer um dos estados da comunidade. As autoridades espanholas contrapuseram, “néo o St, néo Pode benoficiar dessa regra de direito comunitério porque a sua nacionalidade efectiva néo 6 2 de um estado membro da comunidade mas a da argentina’. A questao subiu ao tribunal Comunitério, ¢ num acérdéo de 7 de Julho de 1992, veio dizer que, quando um individuo soja plurinacional, ¢ uma das suas nacionalidades seja a nacionalidade de em estado membro da Comunidade Europeia, seja ele qual for, s6 se vai atender & nacionalidade do estado membro da Comunidade Europela. Portanto, nesse caso, também néo deve funcionar, 0 crtério da nacionalidade efectiva. E como o que se aplicéssemos aqui o a.27.*, da lel da Nacionalidade Portuguesa, © no o oritério do art.28.°. atribui-se primazia Desoravado per: Rosina Goncalves. 5.8 Ano @ Fol 2006/07 Disciplina: Direito Internacional Privado Pagina 45 de 16 Professor Doutor Dario Moure Vicente Data: 22/3/2007 & nossa propria nacionalidade. Tem uma certa légica, no ambit de uma comunidade que tem uma cidadania propria, que se atribua também primazia a naacionalidade de um estado membro d comunidade Europeia. Mas entdo qual 6 0 impacto da deciséo do caso Micheletti_no DiPrivado? Repare-se, que a decisio foi proferida num caso de Direito Comunitario! Estava em jogo, o exercicio de uma liberdade comunitéria! Para efeitos do art.31.° n.°1 do 2C, de determinagéo da lei pessoal das pessoas singulares, que seja plurinacional, também vamos adoptar este critério comunitério? Esta deciséo faz todo 0 sentido em relagio as liberdades comunitérias, que s&io aquelas de que gozam os cidadaos da EU, mas, quanto 4 determinagdo do estatuto pessoal, penso que essa légica ndo vale. O critério que o TCE afirmou no caso Michelet, priori, ndo vale para os casos em que os problemas de plurinacionalidade se coloquem no contexto de questées de DIPrivado, de determinacio da lei aplicavel ao estatuto pessoal das pessoas singulares. Mas se isso 6 assim, também ha que dizer que, mais recentemente, em 2003, num outro acérdao do TJCE, no caso Garcia ~ Avello, em que estava em causa, também uma situagao de plurinacionalidade, duas criangas que tinham nacionalidade belga e espanhola, 0 TJCE também recusou, que se atendesse a nacionalidade do estado estrangeiro, que ndo do foro, num caso em que j& néo se tratava propriamente de exercicio de uma liberdade comunitaria, mas sim do exercicio do direito a0. nome, estava em causa a composigtio do nome dessas criangas. Eu néo duvido de que no Ambito da comunidade Europeia, caminhamos para uma situagao, em que esta derrogagao 20 critério da nacionalidade efectiva, ¢ portanto da primazia da nacionalidade comunitaria, vai aplicat-se também a resolugSo de quest6es de DIPrivado, j& no sdo s6 as liberdades comunitarias, séio também a determinagao do estatuto pessoal. Nos casos opostos a estes, nS casos de concurso negativo ou de contflito negative de nacionalidade, em que uma pessoa ndo tem nacionalidade quaiquer de pais, 6 apétrida, funciona, como disse & pouco, 0 critério de se procurer uma ‘conexéo subsidiéria, para determinar @ lei pessoal da pessoa singular, portanto, desistimos da nacionalidade e recorremos, como manda o art.32.° & residéncia habitual, ou ao.domicilio legal da pessoa ‘em questo, se for menor ou interdito, ou se essa pessoa néo tiver residéncia habitual, & pe SRE SE ECE eet ete eee e ee ee Eee Eee er eee eC eee 5.9 ano FDL 2006/07 Dasgraveco por Reséria Gongarves, Disciplina: Direito Internacional Privado Pagina 16 ce 16 | Professor Doutor Dario Moura Vicente Data: 22/3/2007 _| sua residéncia ocasional, e em ultima andlise ao seu Paradeiro. Aqui ainda vamos encontrar varias conexdes subsididrias a que podemos recorrer nestas situagdes, Por hoje ficamos por aquill! Desgravado por: Roséria Goncalves, 59 Ano @ FOL 2006707 3 cs DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO 26/0: 7 ‘AULA LECCIONADA POR: Dr.2 Susana Maltez ‘TEORIAS DO REENVIO EM DIP Como jé vos disse nas aulas praticas, DIP é aplicacéo territorial. Vocés lembram-se quando fizemos aquela recuperago 4s normas de processo, ou seja, as nossas regras de DIP aplicamn-se cd. Ou seja, nds remetemos para a lei francesa, a lei francese aplica-se, Nao hd problema. Mas excepcionalmente a nossa regra de conflitos pode dar relevancia a outra regra de conflitos, Atengo! Eu ndo estou aqui a dizer que as outras regras de ‘conflitos vigoram em Portugal com forga. Elas sé vigoram porque a nossa norma de confltos diz que elas podem ser tidas em conta, nfo vigoram por si sd. Portanto, nds temas a nossa norma de conflitos a ceder face a outras normas, nos termos, por exemplo, do art. 17°, 18°, 16/2, 65°/1. No funda, tudo isto tem em conta um problema subjacente: quando nés remetemos para uma ordem juridica, 0 nosso ordenamento juridico através da norma de confitos, remete para outro ordenamento juridico, Esse outro ordenamento juridico tem as suas normas materiais e também tem, como nés, normas confiituais. Global: normas materials @ ormas de confitos Nacleo: Normas 8 mater lais L1—>L2 ‘A questo saber se quando a nossa norma de confltos, nomeadamente 0 499, remete, por exemplo, Isto aqui é Franca, esté a remeter para este niiceo (A) (normas materiais) ou esta a remeter para todo o ordenamento juridico (B)? Correcto? Isto-é-tudo no dmbito do reenvio. Voc8s vo ver que é a coisa mais fécil, ‘que no tém que estudar, Portanto, o que nés temos que saber em primeira-mao é para onde é que se remete? Para que tipo de normas é que se esta a remeter? Se estamos a fazer uma remissio para estas como um todo, ou $6 para estas (normas materials)? Isto é um problema basico, E claro que isto surgiv porqué? Porque sabem tudo dos principios, e um principio muito importante em. DIP para a tutela da confianga é a Harmonia. de Julgados, Correcto? A Harmonia de Julgados no se consegue se eu tiver uma lel (lei do Foro) que remete para Franga, O franc&s morre cé, nds dizemos que 2 solugSo seja pela lei da nacionalidade, mas a lei da nacionalidade diz que no, Diz que se rege pelo sitio onde os imévels tém os franceses susceptivels de sucesso (eu se! que ndo fez ‘Aula desgravada por: Rute Cabral 26/03/07 1 ‘ented masseter de mesmo se.) ComPreendem? © que é que acontece? Hé aqui harmonia internacional de Julgados? Nao hi... porqué? LI—>L2—> 13 FRANCA Leida Let da Situaggo ‘Nactonalicade cas Iméveis 3 L2 Poraue se vos puserem o acyio aqui (L1), se pusrem a aero em Franga (12), sabem que Fenga ‘emete para ale da situacio dos iméves, A lel da situagéo dos iméveis, por sua vez, emete para Franca... J estas 2 ver, ndohé harmon interacial de jugados. ara iso serve o revi, Poraué? Pore nés varios, atrevés do reenter ter em ater, faerie: paar sete au (2), remeter para tod ese conte, ¢ atender &s nomas de confites excepconalmente da ordem jurdca para qual remetemos. Se née stendermas &s rormas de confites para as quaisremeteros vamos ver: “ah! Ela dia que se apca 13, nese vamos i vero que é que dz 13”, Ou seia, estamos a tentar dora mesma solo que L2 d, Peo meme assegurar este harmenia de julgados. Pelos menos assegurar que aqui e aqu, vamos conseguir ter a mesna Aplicada a0 caso, Este é 0 objectivo principal da tal harmonia de julgades. Portanto, o reenvio serve para isto © 1 omecou-se a sentr muito esta dfculdede de confites porque surgem exactamente os cnfites de sistemas no | DIF, nomeadamente quando os Estados comegaram todos a adopar elementos de conexéo dferentes que ae codifcacées de DIP, como vacts sabem, surgiram no século XIX, © fol a partir dat que se comegaram a por mites problemas pocue havia paises que edpiavem o ero do elemento de conexSo da naccnade, Ontos que preferam o demo © vodsJ6 sabem porqu, so pales de nigra ws paises de migracéo, ete, Portanto, estes confltos que foram ocorrendo estiveram na base das solugies de reenvio, Ora bem, reenvio j para jé, hd reenvio de duas espécies: Reenvio material ou retorno, art, 18, exactamente quando 0 DIP da L2, para a qual nés remetemos, Gevolve @ competénc para a Li. por exemplo, um cidadéo braslero mom domicllado em Portugal. és remetemos para a lei da nacionalidade, a lei brasileira, por sua vez, remete Para a lei do tiltimo domicilio. LI—>L2 BRASIL leida Devole se Nacionalidace Aula desgravada por: Rute Cabral 26/03/07 2 O que é que nds temos que fazer? E saber se quando fizemos esta remiss0 Para a lei brasileira, remetemos sé para as normas materials, € ai néio nos importa nada que ela diga "Hé nés @pticamos a lei do titimo domicilio", problema vosso! Mas se nds decidirmos que vamos ligar também 85 normas cle conflitos, entio af j& podemos saber © que ela aplica... correcto? E, portanto, aceltamos ou ndo 0 retorno. Isto é 0 chamado Retorno ou Reenvio de 1° grau. Vocés agora ndo esto a apreender aquilo que nés decidimos, esto a aprender os termos do problema, Depois voo8s vo aprender, quando passarmos as solucées portuguesas, como 6 que nés resolvemos isto, ou Sela, que opgio & que nés fazemios. Vamos atender 85 normas de confitos? Vamos atender as normas materiais apenas? Vai depender. Como jd vocés devem ter ouvido falar do reenvio, que dizem que é aquelz matéria fécil a partir do momento em que vocés a purcebem, até Ié & um bocado dificil, ¢ porque vai depender, se fosse uma solucdo facil nfo havia nada a dizer. Transmiss&o de competéncia, art. 17°, Vocés tém que ler isto com muita atengSo porque se passa a seguinte: vocés tém esta semana que é antes das ferias da Péscoa, e antes férias em Cuba, para aprender 0 reenvio todo, porque em nao tenho mais tempo para vos dar. O que é que nés temos? LI—>L2—~>L3 $6 narmas BRASIL ITALIA, ‘ater > Leida tei do ciltims Nacionalidade domi ‘Normas de “_ confites Remete depois ara normes: mmateriasRalanias Temos a nossa lel, 0 dado brasileiro que more, mas cujo tikimo domicilio era em Italia, Nés vamos aplicar a lei da nacionalidade, Brasil, ¢ 0 Brasil diz que se aplica a lei do ditimo domicilio. Mais uma vez importa saber se nds estamos a ligar 85 normas materials, caso em que para aqui (Brasil) o problema, ou se estamos a figar também ao que dizem as normas de confiitos da Lei brasileira, caso em que entéio vamos olhar para Itélia, (© que é que nés vamos fazer com isto? Nés temos varias solucées possiveis para estes problemas. Hé trés orientacGes: as extremas € uma intermédia, A da referéncia material ~ é mais simpética: diz que paramos em 12, fazemos uma remissio apenas para o ordenamento juridico material para o qual a nossa norma de conflitos remete. Nao nos importa, no temos qualquer problema com as normas de conflites de L2, fazemos uma referéncia material, Voc8s vo ver, hé paises que adoptam este sistema: nds temos para regular esta situagSo © 17°, 0 18°, 0 19°, 0 16°, Hé outros paises que 6 tém o 16° (é a referencia material). Referéncia material poupa muito trabalho. Quem adopte: Direito Espanhol faz referencia material excepto quando hé um retorno para si mesmo, Porqué? Até por uma facilidade de aplicacdo do direito, se ha retorno para lei espanhola, nfo sdé.favorece a aplicacio da lel espanhola como eles pensam em direlto espanhol (0s juizes), Depois, na Convengéo de Roma e no Brasl, que também faz 2 referéncia material. Ha varias coisas que apontam neste sentido, por exemplo, a Convengéo de Aula desgravada por: Rute Cabral 26/03/07 3 Roma, Isto é multo importante porque nas ora, fazer isto para vos chumbar logo al, pomos ago um caso de reenvio na Convencao de Roma, € vocés fazem... é delicioso! Em vez de dizerem: “NBO! A Convencio de Roma proibe 0 reenvio” e mostrerem 0 artigo, vec8s no... comegam a resolver. Quando hé escotha de ej aplcdvel pelas partes, nfo ha envio. Porque se presume que aqui em causa no esti, lembrem-se que nés & Partida vamos admit este sistema do reenvio para ter em conta a Harmonia Internacional de Julgados, que é uma forma de tuteler, por sua vez, @ confianca das partes. Por sua vez, quando nés deixamos as Partes escolheram a sua lei aplicdvel, também & uma forma de tutelar a Confianca das partes, correcto? Sim, porque las escolhem a le! apicdvel ao seu contrato, portanto jé sabem por que lel & que se vo pautar. Portanto, se auiserem, hi aqui dues maneiras: qual & que prevalece, qual é a que tutela melhor? O que tutela melhor é deixar as partes escolherem a lei aplicdvel, Portanto, elas escothem a {ei francesa e dizem assim: *O ‘Rosso contrato rege-se pela lei Francesa, nos termos do art. 30 da Convenco de Roma”, Acordaram isto. Mas depois Glzemes assim "Pos é, mas sabem que all francesa, nisto das obrigagées contatuais, remete para 0 lugar da celebracéo. E como vocés celebraram o contrato na Noruega, vakse aplicar a lel Rorueguesa.”, Ora Isto nfo tinha sentido, era defraudar qualquer confianga que as partes tivessem tutelado ne aplicagdo e na Caracterizacao de todas as suas condutas segundo a lel francesa, No tem sentido, no tem Teenvio, logo néio hd problemas. O que no quer dizer que as partes no contrato digam que remetem ara a lei francesa como um todo e, portanto, querem dar ao seu caso a solugdo que seria dada nos tribunals franceses, E se elas fizerem isso, tudo bem! Mas isso ninguém faz. Portanto: Escotha de partes, escolha de {ei, referéncia material, Também fazemos casos de reenvio com 0 41° do CC, de aplicago residual face & Convencio de Roma, (E sé para ver se voces fazem...), Porque o 41° também acmite que as partes escolham a lei aplcével. Nunca caiamn nesta, estd bem? Pepols hd uma razéo teérica admissivel para que néo se faca reenvio. Vocés lembram-se que os tealsladores nfo escolhem os elementns de conexo 20 acaso. HS ponderagies de todos o tipos. Voc8s lembrenvse das ponderagées subjacentes & escolha do elemento de canexio domicto, ‘racionalidade, por exemple: a proximidade, 0 facto de o pais ser de emigrantes ou e imigrantes, aquelas cols todas. Entre outras, © facto de nés apticarmos a capacidede a lei Pessoal. Portanto sfo tudo valores, © legislador Parte deste Brincpio,alés, 0 art. 9° manda, portanto, no é doldo! La vai aplicando, escolhendo o¢ elementos de ‘conexdio segundo @ matéria que quer regular, ponderademente, tentando tutelar as expectativas das partes, aplicar uma fel que tenha algo de profundo a ver com a relaclo, Faz todas estas ponderactes quando escolhe o elemento de conexéo da nossa norma de conflitos. Correcto? E nés demos isso. Subjacente & ‘escolha dos préprios ‘elementos Ge conexdo estéo Julzos de valor. Se esto juzns de valor entdo nds no podemos dizer & toa: "Esté bem, temos estas idelas todas mas nés agora vamos aplicar a norma de confiltos de um outro sistema qualquer”, Porque nds estamos a afastar 0 julzo todo que ele fez de proximidade em detrimento da solugo que outro legislador, e outro pals, fez, Se nés vamos perguntar &s normas de confitos de lel francesa (12), “ahem; voods qual éa lel que aplicam?! Qual foi o elemento de conexo que 0 vosso legislador consagrou para isto? No concordou connosco? Nés achdvamos que a sucesso se ia aplicar @ lei da nacionalidade! Afinal de contas, @ lel da racionalidade estd préxima do indviduo!, € os franceses éizem: “ah no, ro! Nés achamos que é 2 lel do sitio ‘Aula desgravada por: Rute Cabral 26/03/07 4 onde se situa 0 imével.", Portanto, hS aqul alsparidade de valoragées. E nds vamos dizer: “esté bem, entio prevalece a vossa”, Mas isto ndo é bem assim... Quer dizer, ha-de ser. As vezes 6, em nome da harmonia de julgados. Por exemplo, 0 reenvio pode estar 20 servigo de outras coisas mas esta ao servico, primariamente, foi por isso que ele apareceu, ao servico da harmonia de julgados. Sé por isso é que nés vemos dizer que prevelece 10 julzo do outro legislador. Portanto, isto é 0 argumento tedrico a favor da referencia material e que nos vai ser Util na polémica entre saber se a referencia matérla deve ser considerada no nosso sistema juridico como regra geral ou como excepgéo? Como regra geral temos 0 Professor Lima Pinheiro, © Professor Dério Moura Vicente, portanto no ha grandes problemas, Mas temos 0 Professor Baptista Machado a dizer que no. E isto vai ter implicagBes nas soluces. Isto ¢ outra das perguntas que nés gostamos de fazer nas orais. Nao é esta, qu> é demasiado facil, mas é pér-vos um caso pratico em que se vocés néo souberem dizer, de facto, que estamos aqui a tentar dar primazia 20 conhecimento do nosso legislador, no conseguem resolver 0 caso prético. Sb ‘mais outra razo para a remissio material ser aceite que & de facto a unificago de direitos de confiito que tem havido, Mas isto € dbvio. Se hé uma unificacdo de direlto de confltos, entio L1 aplica 12, que aplica L2.... Todas vo aplicar a mesma lei. Se L2 apficar 3, entio L1 também aplicaria L3, por isso é que haveria unificagio de confitos. Portanto néo é preciso reenvio para 2! harmonia de julgados. A harmonia de julgados é aquilo que & conseguido pela unificagao do direito de confltes, nomeadamente, pela Convengo de Roma, instrumento que fe2 unificagéo de confitos. Vocés com 8 Convenc3o de Roma tal como.aplicam aqui o art. 3 escolha das partes, ou oart, 4° a lel de residéncia habitual do fornecedor da prestacdo caracteristica, vo aplica-lo exactamente em Espanha, vao aplica-lo em todos os paises da Comunidade Europeia. Vo aplicar as mesmas normas de confitos, fo iguais! Houve ou no houve unlformizaglo das regras de conflitos? Vocés t8m que perceber 0 que dizem, do que é que estdo a falar das regras de confitos. Claro qué jé perceberam que esta teoria tern as suas vantagens mas tem a desvantagem da desarmonia de julgados. Entéo passa-se para a teoria da referéncia global. Aceita-se a devolucéo e diz-se que a referencia que fazemos abrange também as suas normas de confites. Portanto, para aqui, abrange todo o ‘ordenamento juridico. A referéncia material é sé para as normas materials, a referencia global esté-se mesmo a ver, & pare tudo, Correcto? Portanto estamos aqui entendidos, e é claro que ela favorece a harmonia de Julgedos. Nunca se esquecam: @ harmonia de julgedos no é a obtencSo do mesmo resultado, vocés disso no tem que segurar, é aplicagéio da mesma lei, é Isto que voc&s conseguem com o reenvio, E que L2 aplica 13, L3 aplica L3, e depois L1 aplica L3. esto a aplicar a mesma lel, n&o esto a chegar ao mesmo resultado, isso seria Jé bom demais, Se vocés conseguissem ter os mesmos resultados no tinham os tribunals da Relago nem o ‘Supremo Tribunal de Justia. & claro que esta teorla da devolucdo tem vantagens no caso do retorno, porque jé Vos disse, como Espanha que aceita o retorno, permite logo uma melhor aplicagao do Direito porque o juiz est € aplicar 0 seu proprio Direlto. Pode as vezes fazer com que se aprovelte um negécio juridico, ete, mas dé origem a situacées de citculo vicioso. Ou seja, eu dir-vos-ia que esta solugio da-devolucdo & mais simpstica, porque nés estamos aqui a tentar concilar, na medida do possivel, as orlentages de tacos os legisladores para conseguir aquele fim, correcto? Mas nem sempre é possivel, como vos estava a dizer, por exémplo: imaginem que todos os paises adoptavam a devolugéo. Li remetia para L2, L2 remetia para Li, mas Lt, remetia para L2, Aula desgravada por: Rute Cabral 26/03/07 5 pols 12, remetia para Lt... chamavse a isto ciclo viciso. Porqué? Porque remetia para L1 como um todo, logo Tormas materals © normas de conflites, © depois L2 a mesma coisa. Porque & isto que sinince fazer devolucao, Temes que ter em atencéo as normas de confitos. Até aqui fécl, Outros casos em que o reenvio Podia néo dar muito resultado era assim: L1 remetia para L2, L2 remetia para L3, L3 remetia para L4, L4 remetia para L5, 15 remetia para L6... L1—>L2 —> L8—> La —> 15 —> 1g Fortanto vocésestavam aqui sempre aceitanco o retoma e ndo sabiam quando & que havigm de para, Iso slo Stuagbes que o Professor Lima Pinheiro diz que nao acontece & partida, por uma razio multo simples, porque 10 esto assim tantos ordenamentos juridicos conexos com uma sé situacio Juridica, A no ser que hajam qualquer maneira, teoricamente, ha este reenvio ad infinitum, Portanto, o que é que surge para evitar, por exemplo, o reenvio ae infntum? Comegem surgir aquelas ‘odelidades intermédias, das quels vos fall. E agora é que isto comeca a ter alguma piada, Surge a devolugio simples. Ora bem, o que & que acontece? Quebra-se © ciclo viioso porque se Li fizer referencia material qual & lel que aplica? As normas materials de L2. € se acetar 0 reenvio? L3. Lt, L2, 13 @ L4, isto é frequentet {1 pratica, nao referéncia material, tem um sistema préprio que é a devolugo simples que consiste em Gizer assim: em tenho & intenco as normas de confitos de L2, portanto eu remete para L2 nestes termos, Eu ago uma devoluco integral, para todo o sistema de L2, normas materials e normas de confitos. Mas, mas normas conflitos de L2 remetem para L3. no passa de L3. Porque se considera que esta remissio de L2 para 3 6 uma referéncia materia, ou seja, nés vamos ver para onde & que 12 remete, isso nés ainda vamos ver. L2 considera-se aplicével a si mesma ou remete para uma outra lel? Remete ara uma outra lel. Mas, quando chegamas a uma outra fel no hé hipdtese, s6 temos em conta as norma materiais, Portanto, hd um primelro memento em-que a devolugéo~é global, mas no segundo momento sé relevam as normas materiais, Logo, j4 n&o passa para L4, acabou aqui (L3). Se nés 56 estamos a atender 8s normas materials de 13 jd n&o queremos saber se a norma de conflitos de L3 por acaso rematia Para L4. ¢ isto que nos diz a ‘teoria da devolugdo simples, Aula desgravada por: Rute Cabral 26/03/07 6 Mais, num caso de retorno. A devolucéo simples também é simpatica. L1. faz devolucéo simples, Devolurio LIS Le Entéo 0 que é que faz? Remete para 12. que tipo de referéncia é esta? Referéncia global, vamos ter em atengSo tudo, as normas materials e as normas de confltos de 12. L2, para onde é que remetes tu? Eu remeto para 11, mas sempre por referéncia material, ou seja, eu s6 vou atender & normas materiais de L1. O que & que voc8s aqui evitain? O ciclo vicioso, porque L2 quando faz esta remisséio jé nfo esté 2 remeter para o conjunto todo. Estio @ perceber porque é que apareceu na teria da devolucdo simples? Porque cbsta exactamente aquele reenvio ad infinitum, e obsta &queles cicos viciosos. Acaba por parar num sitio, Da primeira vez vai tudo, mas da segunda vez stop! Esta teoria é muito simpdtica e mulito aceite em casos de retorno, Porqué? Eu, por vezes, nos testes faco o sistema X pratica sempre remiss&ic material excepto nos casos de retorno em que aceita 0 retorno. Aceita o retomna significa que pratica devolucéio simples neste caso. E para qué? Para favorecer a aplicacéo do seu préprio direito, Portanto, agora vocés diriam: “afinal isto & que era o bicho do reenvio? € fécil, até ié chego eul” A lei francesa pratica devolucéo simples, a Alem pratice, a Italiana pratica, Mas depois temos ali casos de retorno e assim. Houve um caso julgado, © caso Allars (no tenho a certeza do nome), que foi juigado em 1952, Ai verios como a devolucdo simples, sendo um sistema simpético, que nos resolve alguns problemas e que ¢ adoptado por muitos paises, hd muitos paises que dizem: eu faco referéncia material fout cour, outros dizem: eu fago devolugao simples, Isto voo8s nunca precisario saber de cor porque € sempre dado nos testes. E vos sempre dito nos testes que tipo de referéncia € que o sistema faz. Nao t&m que andar a inventar. No Allars, & francés, morreu em Portugal. Deixou testamiento, Qual é a lei que se aplica & sucessio? Francesa. A lel da nacionalidade... Aprendam jé a fazer esquemas: um esquema bem feito é 75% do. ceminho andado para a resolucdo do reenvio. Nés ainda n&o sabemos 0 art. 17°, 18, 19°, Voc8s sé sabem quai & a lei que vamos aplicar e que artigos depois verem o que acontece em L2, clepois de verem o que acontece ‘em L3, € que vocés vo escolher o nosso artigo, Compreendido? Ento, quando voc8s comecam por dizer assim: ah, & devolugo simples... Chumbam! Ah, & por referencia material... Chumbsam! Vocés no fazem nada até saberem 0 que é que 0s outros fazem. Nés somos simpaticos, nés e os PALOP'S que adoptaram o nosso sistema, que temos 0 sisterna mais recional, mais dificil e mais correcto de reenvio. © Allars no tinha descendentes mas tinha a mée, 0 Allers era filho ilegitimo, portanto a mie néo herdava. S6 que, o Allars tinha os seus bens imévels em Portugal. Portanto, 0 que € que nés tinhamos? Tinhamos que néo importava, segundo a lei portuguesa, que a fillagdo fosse ilegitima, Mas segundo a lei francesa importava,, ou seje, se nds aplicarmos 2 lei francesa, a mae nio tem direlto & herenca. Se aplicarmos a lei portuguesa a rie tinha direito & herenca, Era Aula desgravada por: Rute Cabral 26/03/07 7 uma solugéo substencialmente diferente. Ns aplicémos 0 direlto portugues, e atribuimos & Senhora diteito a leaftima, Mas eu J8 vos disse que Franca pratica devolucio simples, Entéo pensem IS um bocadinho... 0 que é ue acontecia se a aczo tvesse sido intentada em tribunaisfranceses? Qual era a lei que a Franca aplicava? Frange remetia pare Portugal como um todo, normas materials e normas conceptuais, Que aconteceu, € isso ue acontece na devolucio simples, se vocés estiverem face a dois sistemas que pratiquem devolucéo simples, no ha harmonia de julgados. Percebem? Por isso & que a devolugéo simples & uma solugdo que é sempre Praticdvel, voo8s podem sempre fazer isto, nunca hi cites viciosos, nunca hé reenvios 20 infinitum. & devolucgao simples € sempre praticével, mas nem sempre conduz exactamente aquilo para ue devia conduzir que & a harmonia de julgades. Porque a verdade & que voc8s péem a acgéo num sftio que pratica devolucéo simples Ly aplica-se 3 si mesmo, se vocés puserem em L2, L2 aplica-se a si mesmo pelas mesmas rezes, EstSo-me a perceber? Reteréncia ae LI—>L2" Devalrfo Franca nese oan Nacionalidade Portanto, aqui na devolurdo simples é fécll mas pode dar asnetra, Quer dizer, a me, se fosse esperta, intentava @ acco ci. Quer dizer, cé no porque nés néo praticamos o sistema de devolugéo simples em abstracto, Mas se fossem dois patses que © fizessem, onde é que a mae intentava a acco? No pais onde ela ‘queria aplicar. De facto, no se consegue a harmonia de julgados, Hé uma situagio, e nisso os palses da common law séo tio simpétices, por acaso eles sé ‘adoptam esta solugéo a nivel de estatuto pessoal, é a Teoria da Dupla Devolucdo. E simples: L1, remete Para L2, em geral 12 € Inglaterra, se L2 for Inglaterra vocés tém logo dois problemas para se incomadarem: desconfiem sempre da Inglaterra, EUA, Canadé, so estados complexos, oe ke Lil ae —> L3 v L2 L2 6 num 20 momento... Aquijé tm o art, 20° misture. Mas agora no nos preccupemes comm isto. Os ingleses so multo gents, ‘mulo cavalhetros ¢ fazem devoluséo simples. EntSo 0 que é que vio fazer? Imaginem que 3 remetia para L2, 3 devolugéo simples € um modo de acetacso de reenvio, portanto aclta-se 0 reenvio, aceta-se de ume forma Aula desgravada por: Rute Cabral 26/03/07 8 condicionada, Na dupla devolugéo também hé reenvio, hd uma manelta eSpecial de se fazer 0 reenvio: 12 pergunta a L3 *o que & que fazes porque eu quero fazer exactamente o que tLs fazes". simpético. Nao aplicam 13, vao perguntar e t3 diz assim "eu cé remeto para L2", entio L2 diz “ah! Tu remetes para 12? Entéo também ‘vou aplicar 12”. E a dupla devolugdo, Lembrem-se sempre os ingleses ¢ 0s 2Mericanos: common law. ‘Agora, isto hd coisas mais iras, por exemplo: L1, 12, 13. L3 remete para L1, 12 pratice duple devolucso, entio qual é a lei que L2 aplica? Li. 0 que & que isto dé sempre? Harmonia de julgados. Porque a verdade & que nés vamos ter aqui L3 a aplicar Li, @ vamos ter L2 @ aplicar L1, portanto a dupla devolucéo é a verdadeira teoria complacente com a harmonia de julgados. Mas, claro que no ha bela sem seno, hé asnelra neste caso também. L1 e L2, ambos a praticar dupa néo se resolve, ambos dizem que o outro é que se devolugio, E agora & aquele problema que eu vos dizi aplical Entdo é assim: a devolucio simples é sempre possivel mas nem sempre. conduz & harmonia de juigados; ‘a dupla devolugdo conduz sempre & harmonia de-julgados, mas nem sempre & possivel. Estas sio as teorias intermédias do reenvio. E tém os paises a praticar. E das duas uma: ou t@m os paises a fazer referéncias materials, ou dupias devolugies, ou devolugées simples. sé com isto que voces tém que trabalhar, excepto 1nés que somos muito originais. Aula desgravada por: Rute Cabral 26/03/07 9 Direito Internacional Privado 29.Margo.2007 A devolucao simples € sempre possive] mas nem sempre conduz & harmonia de julgados, mas « dupla devolucdo que conduz sempre & yharmonia de julgados nem sempre ¢ possivel Estas duas solugdes sdo as duas solugoes intermédias quando nés aceitamos 0 reenvio, Daqui vemos que, porque uma no € sempre possfvel ¢ porque & outra 80 vee sempre & harmaonia de julgados, entao daqui decorre que 2 devoluglo nao pode 0 sera necessario achar uma outra solugao intermedia ser aceite sistematicamente, ent que tenha em conta a harmonia de julgados, a preservagao de negocios juridicos, nos ‘Binnos que permaitam conciliar todos estes interesses. Temos, de facto, um regime muito interessante: ‘Ant. 16* - consagracao expressa do principio da referéncia material, ou s¢ja, a referencia das normas de conflitos @ qualquer lei estrangeira determina apenas, na falta de preceito em contrario, a aplicaga0 do dieito interno dessa lei. Temos entao esta clausula que é a regra geral, mas & ‘qual s6 recorremos depois de analisarmos a existéncia ‘ou nao de preceitos em contrario. Portanto, como ‘direito interno’ entendemos as normas materiais da lei designada, fazemos aqui uma referéncia material, porque temos sermon que 0 nosso legislador procedeu a uma opcio valorativa e que esta Opodo nao Gave ger postergada a prior por outra valoragao de um outro legislador. vf partida predomina 2 concepez0 do nosso legislador, salvo se for necessério atingir outras soluetes que nos parecam importantes, nomeadamente, harmonia de julgados, preservagao de negocios juridicos efectividade das sentengas. Diveute-se se o art J6® cerd a regra geral, como defendem os Profs. Lima Pinheiro ¢ Dario Moura Vicente, ou se sera uma mera Tegra pragmatica, como defende o Prof. Baptista Machado. [Ao art 16° s6 vamos depois de vermos se cai nos arts. 17,18" (e Togo no art.19), 659/1 ~ é necessario ver se cai em algum preceito especial} ‘Vamos passar agora 40s casos em que DO NOsso cédigo se admite o reenvio: Artl/? — pransmniss4o de competéncla ~ se 0 DIP da lei zeferida pela norma ce conflitos portuguesa (L2) remeter para outra legislacao (13) € esta se considerar comperarke para Tegulat 0 caso, €0 dieito intemo desta TegisarHo que deve ser aplicado. ace Ls 1 3 Femos aqui que se propuséssemos a accao em 13 aplicarse-la 13; se propuséssemos 2 accdo em 12 aplicar-se-ia T3. Entio, ja temos aqui duas solugdes jguais, agora vamos preterir esta nossa primeira apreciagao do caso, vamos preterit a ‘Bsa norma de confitos, em nome da harmonia de julgados Na doutrina hé quem entenda que no art.l7* ¢ necessério trocar o ‘Temeter’ pelo ‘aplicar, porque quando diz que “o direito internacional privado da lef referida pela aenear Fenilitos portuguesa remeter para outra legislacao” ~ 2 dourrina entende que wore vemeter é ‘aplicar, porque pode haver uma remissto, mas pode nao haver uma aplicagac. Se 12 fizesse devolugao simples, remetia para L3, mas aplicava-se @ si mesma, Jogo, nao inha sentido aplicar-se oart.17n*le preterir a nossa norma, porque o que nés tinhamos aqui era, por exemplo, supondo que L3 também fazia dupla devolugao: aplicava 13, L2 aplicava L2 e nfo tinhamos harmonia de julgados. Por isso, quando isto acontece, nao vale a pena excluirmos a nossa valoracdo, pore no seré atingido nenhum objectivo. Entio das duas uma: ou trocamos no cédigo a palavra ‘remeter’ por ‘aplicar’ ou, segundo a Dr!, Susana Maltez, como o preceito se refere no inicio ao DIP de L2, este também abrange o seu sistema de reenvio, logo, o seu todo remete para si mesma ‘A condicao para a aplicagao do art.17%, n®l € que a lei para a qual aponta a lei designada pela nossa norma de contlitos se considere competente. Ex:: capacidade de um brasileiro que est domiciliado na Alemanha OY Li 12> 13 Por Br Al Em Portugal, a capacidade ¢ regulada pela lei da nacionalidade ~ lei brasileira. No Brasil, a capacidade regula-se pela lei do domictlio. A Alemanha remete para L2, mas aceita o retorno que L2 Ihe faz ~ a Alemanha aplica L3, logo, considera-se competente. Portanto, o DIP de L2 remete para uma lei (L3) e esta, apesar de remeter para a lei brasileira, considera-se competente, pois aceita o retorno. Outro exemplo: Francés morre em Portugal, com domictlio no Brasil e com bens ‘iméveis na Dinamarca. ps Li L2>L3+ 14 Por Franc Din Br UW Lei portuguesa remete para a lei da nacionalidade. Lei francesa remete para a lex rei sitac. Alei dinamarquesa diz que é aplicavel a lei do domictlio, que era o Brasil. Por sua vez, o Brasil diz que a lei aplicavel ¢ a lei da Dinamarca. Alei da Dinamarca faz devolucao simples. Aplica-se o art.179/1, uma vez que L2 remete para 13 e L3 considera-se competente. O art. 17/1 também se aplica nos casos em que 12 aplica L4 e o que interessa saber é se L4 se considera competente. Se L4 praticasse devolucao simples considerar- se-ia competente; ja L3 aplicaria L3. Mesmo neste caso em que L3 aplica norma diversa, entende o Prof. Ferrer Correia que nao se deve sacrificar a norma de conflitos: mas os Profs. Lima Pinheiro e Dario Moura Vicente entendem que, uma vez que temos duas leis fguais, isco basta para se aplicar na mesma L4. Aplicagao do art.17® - apenas se se aplicar o art.17%/I € que se aplica 0.att.174/2 e, 86 se eventualmente for aplicavel o art 72/2 € que se aplica o art.17*/3, porque uma é excepco a outta que € excepgao a outra. Art, 182 - se 0 direito internacional privado da lei designade pela norma de conflites (L2) dévolver para o direito interno porruguts, € este 0 dizeito aplicavel ~ zetomo. Se estivermos a regular 0 estatuto pessoal de um brasileiro com altimo domicilio em Lisboa: RM Lis 12 uo 1211 Let portuguese remete para a lei da nacionalidade, Brasil faz referencia material e devolve para a lei do domictlio. Aqui temos de ter uma referencia material para a lei portuguesa para accitar 0 retomo, sucedendo também a harmonia de julgados, Retomo indivecto ~ imagine-se que se quer saber « capacidade matrimonial de uum mexicano, que casou no Brasil reside habitualmente em Portugal. Ll Po Mex Br Lei portuguesa remete para a lei da nacionalidade - lei mexicana. A lei mexicana diz que o casamento deve ser regulado pela lei do lugar da celebracio ~ lei brasileira. Que, por sua vez, diz que € competente a lei da residéncia habitual (Portugal) A lei mexicana aplica a lei Portuguesa ~ aplica-se 0 art.18° porque L2 remete para Ll, Porque ¢ para L2 que n6s remetemos e 0 art. 8 refere-se a L2 (ao DIP de let designada G80 Allard (francés morreu com residéncia habitual em Portugal): 0 Supremo Tribunal de Justice aplicou a lei portuguese, No entanto hoje, a sohugao ceria diferone L> 12 La Nao estamos perante um caso subsuinivel ao art18®, porque L2 remete para si mesma Caso Gulbenkian - estudo do Prof. Ferrer Correia (ver em Estudos em Homenagem 0 Prof. Dr. Inocencio Galvao Telles, vol. I, Coimbra, 2002, PP. 155 ss). Nubar Gulbenkian ndo gostou nada do testamento feito pelo psiem que os bens eaten 2 vor da Fundagdo, Nuber queria que fosse aplicadaa le! pormiguesa mae Jel portuguesa remete para a lei de nacionalidade (era arméno mae chen a nacionalidade inglesa). Nubar impugna o testamento: Dp ul irl 1212 Lei portuguesa remete para a le inglesa, como sendo @ lei da nacionalidade. ‘lel inglesa remete para a lei portuguesa fazendo dupla devolucao C2 quer aplicar a lei que LI aplicaria). Se Ll aplica L2 nao ha retorno, teremos de aplicar a regra geral do art: 168 [No caso Gulbenkian aplicou-se a lei inglesa, ogo, nto houve retorng] Outras hipoteses de reenvio para além das que estao previstas nos arts. 17/1 e 18° em que se admite a transmnisséio de competéncia_¢ retorno Com. fundamento no favor negotii~ arts. 36°/2 e 659/1: subjacente a estes dois artigos nA© esta « harmonia de julgados, ests 0 favor negotil, o que faz com que se consagre um sistema igual ao da devalucao simples. Li> L2> 3+ L4 [Ds] iy lw Nos termos dos arts, 36%/2 ¢ 6541 aplica-se L3. Na falta destes preceitos, o artl7#%/l nao aplicaria L3, porque esta nao se considera competente. ‘Aqui agimos com se Ll fizesse devolucao simples. © art I?" é melhor que a devolugao simples, porque promove, de facto, a harmonia de jolgedos, porque 16s s6 vamos aplicar a sohucto de 13 se em 13. se aplicar 13, caso contrario néo se aplica 13, pelo facto de nao haver harmonia de julgados. O artl7/l € ‘um sistema aperfeigoado, mais proximo da dupla devolucao. 0s sistemas dos arts.17? ¢ 18° tém em conta todo o sistema de conflitos, bem como 0 sistema do reenvio (ndo se trata de remeter mas de aplicar). O nosso sistema é bastante aperfeicoado, porque nao cai nas situagOes de circulo vicioso da dupla devolugao, nem aplica cegamente a devolugao simples, inlependentemente de Seber qual a posi¢ao de L3, pois se assim fosse no se consegui & harmonia de julgados que se visa, ao contrario do art.17"/1, nao € a harmonia de julgados, mas Nestes artigos 0 o facto de L3 se considerar competente sim o favor negotil ~ nao nos preocupamos com ras sim com 0 facto de salvarmos o negécio. pireito Internacional Privado (semestral) 29 de Margo de 2007 sana Mattes Lembram-se da frase com que acabémos [a dima aula}? A devolucdo simples nem sempre © possivel - pego desculpa! - € sempre possivel, mas nem sempre conduz & harmonia de julgados. Mas a dupla devolucao, que produz a harmonia de julgados, nem sempre é possivel, ‘td bem? Lembram-se que era isto que nés tinhamos concluidi ugdes so solugies intermédias quando nés aceitamos. ora bem, estas duas so 9 reenvio. Daqui vernos aue, porque ume [8 dupla devolugéo} nem sempre & possivel e a outra [devolucso simples] néo conduz sempre a harmonia de Julgados, néo seré este 0 Principio a aceltar, ov seja, esta solucdo néo pode ser aceite sistematicamente, apesar de haver Palses que © fazem e outros que nao o fazem, de todo. Mas, & partida, se calhar vamos ter de achar aqui uma outra solugdo ig esta - também tenha em conte a harmonia de julgados, a intermédia que ~ @-lo nos termos que permitam conservagso do negéclo juridico, etc, mas faz conciliar todos estes interesses. E temios Um regime, de facto, muito interessante [, 1. € eu agora pedia-vos que pegassem no Cédigo Civil, porque nds em Portugal, sa do Principio de Referéncia Material, temos, no art.? 16.9, a consagrac&o express referéncia das normas de confiltos a qualquer Ici estrangeira determina ou seja, 2 slicagio de cireito interno dessa fe}, mas claro (esté antes) na falta de apenas a ai receito em contri 3 qual vocés s6 vao depois de terem ani 5 normas materials da lel designada ~ fazemos portanto, vocés tém esta cidusula, que € @ regra geral, mas alisado se néo hé preceito em contrério. Nés aqul, direito interno, entendemos 2: aqul uma referéncia material. Isto aqui eu ja vos expliquel valorativa e esta opcao néo deve Ser postergada 4 priori, por outra valoracao de portanto é esta ideia essencial que o [art.°] 16.° pede ~ © jé porqué, © nosso legislador procedeu a uma opgo um outro: legislador. vos tinha dito isto logo no principio da aula. A partida, predomina @ concepcao do nosso legislador, salvo se for necessario nos parecam importantes, nomeadamente, @ harmonia 0 do negécio juridico e efectividade das sentencas. vos referi en passant ~ s@ 0 [art.0] 16.° a atingir outres: solugdes que de julgados, @ preservaga piscute-se allds isto ~ € penso que mera regra pragmatica, como defende o Prof. Baptista Lima Pinheiro e © Prof. Dario {Moura Vicente] regra geral ou se seria uma Machado, sendo que 0 Prof. defendem que é a regra geral ~ © também vos disse que isto teria Implicacses nalgumas das solugées. De qualquer forma, nunca se-esquecam disto: a0 [art.°] 16.9 vocés $6 v0 depois de irem ver «cai Isto no [ert.°] 17.9, no [art.0} 18.9 0 no [art.0] 19.0%, ou 7,0 @ ni [art.°} 38.0 €, logo, no [art.0] 19.99%, «cal isto no ver se no cai num outro preceito especial. «cai isto no [art.] 1 [art.2] 65.9, 1.012%, tem au Pagina 1 ae Direito Internacional Privado (semestral) 29 de Marco de 2007 Dr.2 Susana Males, Ora bem, vamos passar aos casos em que, no nosso Gédigo, se admite o reenvio. Regra geral, temos a referéncia material, s6 se preceito em contrério e um dos preceitos em contrério seré 0 art? 17.0: transmisstio de competéncia. "Se {, porém,] 0 direito internacional privado da lei referida pela norma de conflites portuguesa remeter para outra legislaco e esta se considerar competente para regular 0 caso, € 0 direito interno desta legislac&o que deve ser aplicado.” Grande confus&io? Nao. Néo é nada. Isto significa o seguinte: se 0 direito internacional privado, da lel referida pela norma de conflitos portuguesa - € qual é a lel referida pela norma de conflitos portuguesa? A L2! ~ se @ nossa norma referiu L2, entdo - isto € 0 que diz 0 [art.®] 17.0 ~ se esta [L2] remeter para outra legislagio, L3, € esta se considerar competente, entdo aplica-se esta Ultima, O que é que conseguimos aqui claramente? Se puséssemos a acgSo em {3 aplicar-se-ia 13, se propuséssemos a acco em L2, aplicar-se-la L3, ent&o j4 temos aqui duas solugdes iguais, portanto vamos preterir a nossa norma de conflitos em nome da harmonia de julgados. Est&o 2 perceber? oy 12 B u Pr Regre Geral Art© 17.0: remissB0 pare Referéncia Material uma legisiacdo estrangeira que se considera competente B B B ‘Tém que perceber que ha muita doutrina que diz que aqui tem que se trocar o “semeter” por “aplicar”, porque quando se diz que quando “o direito internacional privado da lel (L2) referida pela norma de conflitos portuguesa (L1) remeter para outra legislagdo (13)’, a maior parte da doutrina diz que o termo nao é [ndo deve ser] remeter, é aplicar, porqué? Porque pode haver uma remisso e no haver uma “ aplicag&o. Imaginem que havia um caso destes: L2 fazia uma devolucdo simples. Aqui, a L2 faria referéncia global para a L3,que ndo se acharia competente e a L2 acabava por se aplicar 2 si mesma. Aqui no estamos perante um caso do art.9"47.°/1, porque nao haveria a tal harmonizacio de julgados, a L3 no se considerando competente n&o preenche os requisitos do préprio artigo. Neste caso n&o conseguirlamos alcangar 0 objectivo da harmonia de julgados [que preside & valorago do legislador, na consagraco da norma do art. 17,0/1], . Direito Internacional Privado (semestral) 29. de Marco de 2007 i r.2 Susana Mai Ref. Material Ds, ua 12 Ref. Giobal 3 —_— ——fet. Sobel Pr Regra Geral: AM© 17.9: remissio pera Referéncia Material uma legislagio estrangeira ue no se considera i competente B 2 B A conclusaéo € que, quando isto acontece, n&o vale pena nés exclulrmos a nossa valoragao [tal como decorre do art.° 16.9], porque nio atingimos nenhum objectivo! Portanto aqui vocés podem fazer uria de duas coisas: ou escrevem - @ no fart.c] 17.0/2 também, porque os vossos colegas, no ultimo exame espalharam-se todos de uma maneira... Sé porque Ihes disse isto em relaco ao {art.°] 17,0/1 ¢ n&o disse em relac&o ao n.°2, fizeram um disparate de todo o tamanho no teste - claro que isto tem de ser entendido da mesma forma. O que se pretende aqui ndo é © que se remete, € 0 que € que se aplica! Se nés queremos uma hatmonia de Julgados, queremos saber 0 que se aplica de facto! Portanto vocés podem riscar aqui “remeter’ @ por “aplicar", porque aplicar é que promove a harmonia de julgados e podem dizer assim ~ mas isto é a minha humilde opinido, néo esta nos livros mas também néo € necessério - porque se vocés virem bem aqui diz “o direito internacional privado da lei referida pela norma de conflitos", portanto fala do DIP de L2. O direito internacional privado de L2 abrangeria, se quiserem, 0 seu sistema de reenvio, Portanto, a partir dai, se abrangia tudo isso, ent&o, no seu todo, remete para si mesma, porque é 0 DIP, O DIP em si remete para si mesmo!, Mas isto aqui séo maneiras, vocés n&o precisam de dizer isto, podem simplesmente substituir "remeter” e por “aplicar”, 34 viram que a condicic para a aplicagdo do [art.©)-17.2/1, € que a lel para e qual aponta a lei designada pela nossa norma de conflitos se considere competente. Por exemplo... Neste caso: A capacidade de um brasileiro que esté domicitiado na Alemanha, Nés queremos saber da capacidade de um brasileiro que vive na Aleranha, correcto? Entéo, se o brasileiro vive na Alemanha, qual é a 12? € a lei brasileira, muito bem. A capacidade regula-se pela lei da nacionalidade! Mas os brasileiros dizem que nao, que a capacidade se regula pela lei do domicilio, a Alemanha, * Esta explicagio parece-me muito confusa mas esté transcrita ipsis verbis,,. Francisco Matos r 29 de Marco de 2007 Agora, a Alemanha remete para L2, Mas aceita - e agora tém de se por na perspective dos tribunais alemies ~ 0 retorno que a L2 Ihe faz. E entéo, acham que isto é um caso do [art.°] 17.9/1, ou no? (2.2) Ref. Ref. Material ut 2 3 ss —————__ Pr BR (1.9) Ref. Global Retorno AL Aceita retorno [Aluno:} Sé seria do n.92 se 2 Alemanha néo aceltasse o reenvio para si mesma. “ Exacto. A Alemanhe aplica..? Aplica L3. Logo, considera-se competente. A lei alemé, apesar de remeter para L2, considera-se competente, pois aceita o retorno, As coisas as vezes no so assim to fécels porque a L3 nem sempre tem de se considerar directamente competente. Pode considerar-se_ indirectamente competente. N3o nos interessa como é que ele [o ordenamento da 13] “atira” fa competéncia] mas se ele [no fim] se considera competente. Temos de saber como 6 que ela [2 competéncia} volta [a0 13). [Aula incompleta*} 7 2 pos 17minutos de aula, a Dr.@ Susana Maltés ao virar de pagina nos apontamentos dela, desligou-me o gravador. Dal a minha aula corresponder apenas a esse periodo. Os colegas da mengio de Juridico-Histéricas - em especial, a Marta Castro (que gravou) e a Catarina Matos (que é a proprietaria do gravador) ~ ja se disponibilizeram pere ceder o restante contetido. Por este facto, peco desculpa e geranto o envio da aula assim que me for entregue. Uma vez que se verificam os requisitos para a aplicagéo do art.° 793.° do Codigo Civil, considero excluida toda e qualquer responsabitidade da minha parte. A harmonizagio de julgados nem sempre é possfvel. Lembram-se que era isto que nés tinhamos previsto, Estas slo as duas soluedes intermédias quando nés accitamos o reenvio. Daqui vemos que alguns paises que nio a fazem de todo. Mas, & partida, se calhar vamos ter de schar aqui uma outra Solugfo intermédia que conduza & harmonizagio de julgados, a conservagio dos negicio juridico... js fermos em que nos permita conciliar todos esses interesses, E temos uum regime de facie muito interessante ¢ eu pedia-Ihes que pegassem no Cédigo Civil. Nés assistimos no art. 16° & consagrago expressa do principio da referéncia material, ou seja, a zeferéneia das nomnas de conflito estrangeiras determina apenas ¢ aplicagfi dessa lei, na fats eum Preceito em contrério. Portanto, vocés tém esta cléusula que é a regra geral ¢ a qual vocés &6 vio Gepois de terem verificado que no ha preceitos em contrétio. Portanto, nds aqui, diteito intemo, aplicamos as normas da lei designada, fazemos uma referéncia material porque termoe om conta que o nosso legislador proceteu @ uma opgao valorative e que esta opglo no deve ser ostergada, a priori, Ror outra valoracdo de um outro legislador. Portanto, é esta ideia fundamental que 0 art, 16° exprime. A partida, predomina o nosso legislador, salvo se for necessirio atingir outros objectives que também nos paresam importantes: por exemplo, a harmonia de julgados, a Conservagaio dos negécios Juridicos e a efectividade das sentengas, Portanto, discute-se se o art. 16° serd Tegra geral ou uma se nfio cai num outro preceito especial. Vamos passar & parte em que no nosso oédigo se admite o reenvio: regra geral é a referénoia material, salvo preceito em contrério, sera o art, 17°, Transmisso de competéncia: se o DIP da lei referida pela norma de conflitos portuguesa remeter para juira legislacdo e esta se considerar competente para regular 0 caso, & 0 dieilo inten dessa legislagto que deve ser aplicado. Isto significa que o DIP da lei Teferida pela norma de conflitos porauguest-- qual é a lei referida pela norma de conflitos portuguesa? E'L2. A nossa none de conflitos definiu L2. Se o DIP remeter para outra, L3, e essa se considerar competente, aplica-se esta jeeislaglo. Se eu pus a acpio em L3, aplicar-se-ia 13. Se eu pusesse a acgfo enn 12, aplicar-se-ia L3, 74 temos aqui duas solugdes iguais... vamos preterir a nossa primeira apreciagto de caso, preterir a nossa norme de confit. Aqui hé muita doutrina que diz “no 17° é preciso prover que @@@@@” guando o DIP € a lei aplicada pela norma de conflitos portuguesa remeter para cua legislagao, Aquilo que entende « maior parte da doutrina é que no & remeter porque pode haver aplicagao ou se 12 fizesse uma dupla referencia, remetia para 1.3 mas aplicava-ce x a mesma. Entéo, ndo tinhe sentido aplicer © 17°, n° 1 impreterivelmente... porque senie existia uma Gupla remissto: L2 aplicava L2 ¢ L3 aplicava 13 e nao havia harmonia de julgados, Exvsr ara isso nfo valia a pena excluirmos a nossa valoraco porque nfo consegulamos atingir neniure objectivo. 0 que estd em causa nto € a remissio, é o que isso implica: nés queremos uma harmonis de Julgedos e faber 0 que se aplica de facto se x ace20 foi posta naquele tribunal. A aplicagio & que promove a harmonia de julgedos. Para mim [Dr.* Susana Maltez] nic eta sequer preciso fazer inn Porque aqui diz “o DIP é aferido pelas normas de conflitos”, portanto, o sistema legal de L2 pretendia que fosse aplicade também o seu sistema legal, por isso, no seu todo, remeteria para si mesma, ee [Susana Maltez} acho que nfo é preciso mas vocés, por via das diividas, fazem isso, Como jd vimos, a condigio para a eplicagio do art. 17%, n° 1 é que a lei para a qual aponta a lei designada pela nossa lei de conflitos se considere competente. Por exemplo, neste caso: para aferit a capacidade de um brasileiro que vive na Alemanha, SFT» ds LI 127M” 13 Brasil Alemania t t 13 L3 Brasil diz que a lei da capacidade se rogula pela lei do domicilio (nés di:zemos que se regula pela lei da nacionalidade) ‘A Alemanha remete para L2 mas aceita o retorno que L2 the faz... no fumdo, é como se tivéssemos uma remissio simples. A Alemanha aplica L3, considera-se competente. .A norma de conflitos de L2 , 0 DIP de 12, remete para uma lei que é L3 ¢ 13, apesar de remeter para a lei de residéncia, considera-se competente, As vezes as coisas nfo sto assim tio ficeis, a Lei nfo tem de considerars¢ a si mesma competente, pode considerar-se indirectamente competente. A harmonia de julgados é precisamente saber que se pusermos a acedo em tribunais diferentes eles vo aplicar a mesma lei: L3 Mas interessa saber para onde é que ela atira e como é que ela atira. Outro caso: Francés morre em Portugal, tiltimo domicilio no Brasil, bens iméveis na Dinamarca Da LI ——+ L2_mm, 13 __,la Franga Dinamarca Brasil Lexreisitae Lei do domicilio (A Franga € que o diz) 13 € a Dinamarca porque a lei francesa diz que & sucesso imobiliéria é regulada pelo sitio da situago dos bens. Por sua vez, 2 Dinamarca diz que ¢ aplicdvel a lei do domicilio e, por sua vez, 0 Brasil diz que a lei aplicavel é a lei da Dinamarca. ; L2 remete para L3 e L3 considera-se indirectamente competente. A partida, atirava para LA mas como faz, devolugo simples. © que nos interessa aqui € que L3 se considere competente. Seja directa, seja indirectamente, isso j4 ndo nos interessa, Isto basta para aplicarmos 0 17°, n° 1, Este exemplo € basicamente igual ao anterior mas tem mais uma lei para que vejam que esta lei [12] atira para outra lei [13] e que esta se considera competente, Também se aplica nestes casos: imaginem que 2, ¢ esta ¢ a parte em que a doutrina comega a divergir, nomeadamente o professor Ferrer Correia ja nfo acha isto, mas 0 prof. Dério Moura Vicente e 0 prof. Lima Pinheiro concordam. .. Hipétese: Ds Ds Li ——>+ 12 ——+ 13 —— 14 4 L4 Qual é a lei de DIP que L2 aplica? L4. Portanto, ja sabemos qual ¢ 0 direito para qual a norma de DIP de L2 remete, Portanto, o que é que temos de ir perguntar? Se L3 se considera competente? Nao, Aquilo que nos interessa saber é se L4 se considera competente. E assim ja temos duas normas de acordo. Claro que podiamos sempre ter isto: ps p= LI ——> L2 —Re> 13 —EN 14 t { I L4 3 4 Ou seja, nfo hi urna harmonia total porque esta L3 aqui a estragar a coisa... O Prof. Ferrer Concia diria que neste caso no irjamos sacrificar a resolup2o desta norma de conilitos. Mas os Prof Lime Pinheiro e Dério Moura Vicente diriam “bem, ja temos aqui duas leis iguais, portanto isso id basta ara aplicarmos « mesma lei”. Reparem que jé estamos a trabalhar, ndo com a letra da lei, me com 2 esphrito. ‘to hé absolutameate mais nada para saber sobre o 17%, Tudo o que havi para dizer sobre o 17" ja foi dito, Sc 0 17%, nT nio se aplica, 0 17°, n° 2 também no pode aplicar.se, $6 se se aplicar 0 17°, n° 1 6 ane se aplica o 17°, n* 2 ¢s6 eventuslmente se aplicarmos 0 17%, n.* 26 que podemos aplicar o 17, n23, Agora, os casos do 18°. O que é que nos diz o 18°? Que o DIP de 12, se é a lei desigmada peta nossa norma de conflito...a lei designada pela nossa norma de conflitos é sempre L2... se remetet para 6 direito intemo portugues, é este o direito aplicavel. Portanto, se nés tivermos... de aferit o evista Pessoal, ou seja, a capacidede de um brasileiro com domicitio em Lisboa... L2 é a lei brasileita - se sé houver uma referéncia material... Volta para a lei do domicitio, a lei portuguesa, Brasil a y——+ la (DP em caus) Li Li Aqui temos de ter uma referéncia material & lei portuguesa para se dar o retorno. E equi o que é que acontece também? Harmonia de julgados. Se pusessem a lei no Brasil qual era a lei que aplicavann? LI. Logo, se no Brasil vocés aplicavam a lei portuguesa, nés cd tambéan aplicamos, Os tribunsic aoe sempre muito simpéticos no que toca ao retorno, gostam de aceitar e aplicar o seu direito. Mas o art. 18° também estica para os casos de retomno indirecto: Queremos saber a capacidade matrimonial de um mexicano que casou no Brasil. O México diz que o Gasamento deve ser regulado pela lei do lugar da celebragio. O Brasil, por sua vez, diz que & apical a lei da residéncia habitual, Portugal. A Joi Mexicana faz-devotugao simples... Nunca se esqueyam... lei da nacionalidade, tei locus eclebrationis ¢, depois, a lei da residéncia habitual. Portanto, temos este esquema: ps LI ——+ l2 —>+ 13 il Vocts aplicam o art, 18° porque L3 remete para L1? Nio. Voss apticam o art. 18° porque 2 remete Para Li. O art. 18° refere-se « L2. £ o DIP da lei designada pela nossa lei intemacional de competéncia. A nossa norma de conflitos (L1) remete sempre para L2. Temos de ver: L2 remete ara onde? E depois para efeitos do 17%, vocés véem que a lei para onde L? atirou ndo se consiiere competente, E entdo voeés vém que L2, independentemente daquilo que fizer, vai parar a Ll. Esta € a condiglo de aplicago do art. 18°, Por exemplo. .. mais dois exemplos: Lembrem-se do caso @@@@, um francés, tal, tal, tal... O Tribunal naquela altura, em 1958, acho cu, € 0 STV aplicou a lei francesa, ainda nfo havia estas regras. Agora pensem no que realmente aconteceria’ hoje. Lembrem-se... era uma francesa e ela vivia habitualmente c4... L2 aplica L2! Portanto o DIP de L2, para o qual nés remetemos, aplica-nos a nés? Nio. Portanto, nao é um caso de aplicago do 18°. Nao! 1.2 remete para si mesma, Ds LI —rwr> 12 Francesa t 12 Se voces estivessem em Franga e pusessem a aceao... aplicava-se a lei francesa. L2 > L2. Ou, se preferirem, o DIP de L2, como um todo, remete para si mesmo. E por qué? Por causa da harmonia de julgados, que ¢ isso que se visa. Isto aconteceu num caso que muito nos diz, que é dito pelo prof. Ferrer Correia. Qual é 0 caso? @@@@@ Muito bem... se quiserem estudar mais isto, vejam o prof, Inocéncio Galvao Telles, volume I, edigo de 2002, pags. 133 (2) e segs. E estudem o prof. Ferrer Correia. Portanto, 0 Nobar Gulbenkian nfo gostou nada do testamento feito pelo pai. E ento 0 Nobar ficou chateado por qué? Porque o Gulbenkian queria que os bens ficassem na. sua Fundago em Portugal, Ele era arménio mas depois tinha-se naturalizado inglés. E, portanto, como ele era inglés, naturalidade inglesa, mas depois passou cé uns dias solarengos, ¢ ent&o deixou-nos cé a Gulbenkian, E claro que o Nobar niio queria, Entéo, 0 que é que o Nobar queria que fosse aplicado? A lei portuguesa! E 0 que € que nés querfamos que fosse aplicada? A lei inglesa! Isto é mais giro porque era numa altura em que nds nao tinhamos direito de conflitos, porque o direito de conflitos ainda nfo tinha aparecido no Cédigo Civil. Por isso o prof. Ferrer Correia teve alguna dificuldade mas ganhou, gracas a esta simples afirmagio Portanto, o Nober vai aqui impugnar o testamento, nds remetemos, de facto, para a lei inglesa, a lei inglesa remete para a lei portuguesa por dupla devolugdo. Ou seja, a lei inglesa quer dat a lei que nés portugueses dariamos, Voces aqui é bom saberem que a regra geral é 0 art. 16°, que é a primazia que © nosso legislador da ao nosso valor. L2 quer aplicar a lei que LI aplicaria,.. mas como é que nés sabemos que Li néo aplica o retomo? Sendo comegamos também a entrar num ciclo vicioso... Portanto, para nfo entrarmos num ciclo vicioso... porque Inglaterra diz “‘eu quero aplicar o sistema de dupla devolugdo, eu quero aplicar a norma que LI aplicar”. Entio vocés dizem assim “bem, mas LI manda aplicer L2”... esta é a resposta que tém que dar, é a solugio do caso dada pelo prof. Ferrer Correia, a soluggo dada pela doutrina... L1 aplica L2. Portanto, se L1 aptica L2... portanto... neste caso, 0 que & que no existe? Nao existe retorno. Mas para isso vocés tém que poder demonstrar que LI aplica L2. Ora, quando vocés néo téar um sistema puro de referéncia material, ha que recorrer regra geral do art. 16°, A primazia das nossas normas de conflito. Seniio até podiamos dizer “mas Ll remete para si mesmo" porque aceitaria a devolucdo, portanto, o ait. 16° ajuda-nos neste raciocinio: nés remetemos mesmo para L2... portanto LI remete para L2, independentemente do retomo para no cairem num cielo vicioso. Portanto voods jé sabem que quando tiverem dupla devolugdo, véem logo qual foi a lei que se aplicou no ceso Gulbenkian foi a lei inglesa. Logo, houve retomo? Nao. Se tivesse havido retorno, nfo havia Gulbenkian. J4 viram como isto é giro? Isto do reenvio ¢ importante. .. Hi outras hipéteses de reenvio que esto previstas para além dos art. 17°, n.° 1 ¢ 18°, n° 1, em que se admite a transmissio de competéncias e o retomo com fundamento no favor negotii, $80 0s outros dois artigos que voces tém de ir examinar — 0 art. 36°, n.°2 € 0 65°,n.° 1, Subjacente a estes dois artigos que vos disse, nao esté a harmonia de julgados, esté o favor negotit, ‘Nido hi harmonia de julgados, Isto € importante porque isso faz com que estes artigos (porque nto esti aqui em causa a harmonia de julgados) consagrem o sistema igual ao do-da devolugao simples, eee egg eee Invilido Valido Invilido Segundo 0 36%, 2.42 € 0 65%, n.° 1, qual &@ lei que vocts vio aplicar? L3, segundo os art, 36° 65", Se nio houvesse estes preceitos, aplicavam L3 nos termos do 17°, n° 12 Nao. Por qué? Porque L3 nio se considera competente, Portanto, nestes casos agimos como se LI tivesse ume devolugao simples. Na devolugdo simples, se vocés repararem, nés nunca vamos perguntar aL 6 que ela ache

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