DETERMINACAO DA QUALIDADE DO MEL
Crispin Humberto GARCIA-CRUZ*
Femando Leite HOFFMANN*
Lyssa Setsuko SAKANAKA*
Tania Maria VINTURIM*
= RESUMO: Foi determinada a qualidade do mel por meio da realizagao de ana-
lises microbiolégicas ¢ quimicas de vinte amostras de mel (100%) de consumo
imediato comercializadas no varejo por pequenos apicultores e feirantes da
tegiao de Sao José do Rio Preto, Estado de Sao Paulo. Foi realizada a conta-
gem de bactérias aerébias mesofilas; contagem de bactérias aerdbias terméfi-
las; contagem de bolores e leveduras e a pesquisa de Salmonella sp. Os
resultados das andlises microbiolégicas das amostras de mel mostraram que
as contagens de bactérias aerébias mesofilas variaram de 0,5 x 10"a 2,2 x 10°
UFC/g; jd as contagens de bactérias aerdbias terméfilas variaram de 0,5 x 10!
a 2,8x 10? UFC/g eas de bolores e leveduras variaram de 0,5 x 10! a 1,4x 102
UFC/g. Foi detectada a presenga de Salmonella sp, em apenas uma das amos-
tras analisadas (5%), nao atendendo, portanto, ao padrdo de auséncia em 25 g
de amostra, Com relagdo as andlises quimicas verificou-se que a média da
acidez titulével foi de 2,28% (v/p) com variacao de 1,19% a 3,33% (v/p). De
acordo com os resultados obtidos 40% das amostras foram classificadas como
mel de mesa e 60% como mel industrial. A andlise global dos resultados reve-
lou a adigdo de glicose comercial em algumas das amostras analisadas
= PALAVRAS-CHAVE: Mel; qualidade; microbiologia; anélise.
* Departamento de Engenharia e Tecnologia de Alimentos ~ Instituto de Biociéncias, Letras e
Ciéncias Exatas - UNESP ~ 15054-000 ~ Sa0 José do Rio Preto ~ SP - Brasil
Alim. Nutr., $0 Paulo, 10; 23-35, 1999 23Introdugdo
O mel é elaborado pelas abelhas a partir do néctar e outros sucos
doces de plantas, adicionando, ademais, substancias de seu proprio
organismo. Essa combinagao é modificada no corpo das abelhas sendo
posteriormente colocada em favos onde devera maturar.?
A elaboragao do mel se inicia logo apés ser colhido do polen das flo-
tes, do néctar e do orvalho doce na vesicula melifera das abelhas coleto-
ras; a isto segue a elaboracao pelas abelhas operarias que recebem o
material bruto, e 0 processo conclui-se com o enchimento dos favos na
colmeia. A transformagao compreende essencialmente as seguintes
etapas: espessamento do néctar, aumento da taxa de acucar invertido,
incorporacéo das substéncias protéicas das plantas e das abelhas, de
acidos procedentes do corpo do inseto, adigao de minerais, vitaminas e
substéncias aromaticas dos vegetais e de enzimas das glandulas saliva-
tes e da vesicula melifera das abelhas. Os alvéolos dos favos sao fecha-
dos com uma pelicula de cera quando a taxa de umidade alcanga entre
16% e 19%.
O fato mais importante desse processo é a considerdvel perda de
Agua (40% a 70% do peso inicial do néctar) que ocorre em dois estagios:
uma evaporagao inicial desenvolvida pela prépria abelha, a qual diminui
0 contetido de agua até 40% ou 50%, e a evaporacao final ocorre no favo,
onde o produto alcanga uma umidade entre 15% a 18%. Dentro dos
alvéolos o mel softe transformagées posteriores, dentre elas, destaca-se
a inverséo do agicar. Nos estdgios iniciais de maturagdo existe uma
consideravel populagao microbiana e essas bactérias podem estar en-
volvidas em algumas destas transformagées.2®
De acordo com 0 sistema de extragao utilizado podem-se distinguir
Os seguintes tipos de mel:! mel de colmeia, de gotejamento, centrifu-
gado, prensado, espesso e moido.
O mel de colmeia é aquele que existe nas colmeias de construgaéo
Tecente. Estas sao brancas, fechadas e sem incubagao (colmeias vir-
gens). Esse tipo de mel é de otima qualidade. As vezes, o mel obtido é
escuro, entretanto as colmeias também devem ser fechadas e nao apre-
sentar incubacao, a idade maxima deve ser de um ano e nao apresentar
criadouros de insetos
O mel de gotejamento é aquele que flui espontaneamente das col-
meias sem larvas ou fragmentos. A consisténcia liquida deste tipo de
mel nao permite sua colheita.
24 Alim. Nutr., $0 Paulo, 10: 23-35, 1999O mel centrifugado obtém-se por centrifugagao das colmeias sem
presenca de larvas. Este é 0 principal procedimento de obtengao do mel;
um ligeiro aquecimento (até 40°C) favorece a separagao desse mel.
O mel prensado é obtido a partir das colmeias sem larvas mediante
uma prensagem hidrdulica a frio.
O mel espesso obtém-se a partir das colmeias sem larvas ou sem.
moer, mediante suave aquecimento e subseqliente prensagem.
O mel moido é preparado moendo-se as colmeias junto com as lar-
vas. Esse tipo € somente utilizado como alimento para as abelhas.
O mel pode ser classificado segundo sua finalidade de utilizagao em
mel comestivel e mel de confeitaria. O mel comestivel 6 aquele de con-
sumo imediato e deve ser de primeira qualidade; ja o mel de confeitaria
nao necessita ser de primeira qualidade e somente € utilizado como adi-
tivo em confeitaria. Esse tipo de mel é submetido a intensa fermenta¢ao,
adquirindo sabor e cheiro marcantes. Quando aquecido intensamente 6
denominado mel torrado ou caramelizado.
O mel é comercializado como um produto liquido ou semi-sélido.
Geralmente 0 mel esta saturado de glicose. Durante a extragao, esse mel
adota um sistema estavel de cristais hidratados de glicose em xarope.
Para estabilizar a fluidez do mel liquido, limpa-se este mediante filtragao
por pressdo dos cristais de aguicar e outros componentes que agem
como centros de cristalizagéo. O aquecimento é necessario para dimi-
nuir o tratamento e auxiliar no envase, servindo também para dissolver a
glicose e pasteurizar o produto; deve ser realizado com 0 maior cuidado
possivel, pois o mel, como conseqtiéncia de seu pH relativamente baixo
e de sua elevada taxa de frutose, é muito delicado. O aquecimento a
65°C por 30 segundos seguido de resfriamento rapido a 50°C é muito
vantajoso. No tratamento do mel semi-sdlido adiciona-se, quando se
encontra no estado liquido, 10% de mel finamente cristalizado a 27°C;
deixando-se, logo em seguida, repousar 0 produto durante uma sernana
a 14°C para a sua completa cristalizagao.!
O mel é essencialmente uma solugao aquosa concentrada de acu-
car invertido que contém uma mistura complexa de varios outros carboi-
dratos, enzimas, aminodcidos, acidos organicos, minerais, substancias
aromaticas, pigmentos, ceras, graos de pdlen etc. O contetido de agua
deve ser inferior a 20% para evitar a acao de leveduras osmofilicas. Os
principais acucares sao a frutose (38%) e glicose (31%), nado se tem detec-
tado a presenga de outros monossacarideos. Tém-se identificados mais
de vinte oligossacarideos dos quais a maltose é o principal componente,
esta fragdo 6 varidvel dependendo das plantas de onde foi extraido o mel.
Alim. Nutr., S40 Paulo, 10: 23-35, 1999 25A taxa de sacarose pode oscilar de acordo com 0 grau de maturacdo do
mel. As enzimas mais importantes do mel sao as a-glicosidases (inver-
tase e sacarase); a- e B- amilases (didstases); glicoseoxidase; catalase e
fosfatase acida
O mel natural é um produto de produgao limitada e, portanto, de
alto prego, por isto, tradicionalmente, o mel tem sido alvo de adultera-
gdes. A regido de Sao José do Rio Preto tem grande movimento comer-
cial de mel e seus derivados, tanto por pequenos apicultores quanto por
feirantes que comercializam livremente esses produtos de consumo
imediato. Dessa forma, o objetivo deste trabaltio foi determinar a pureza
quimica do mel utilizando os métodos tradicionais, assim como determi-
Nal 4 carga microbiana.
Material e métodos
Amostras
Para o presente estudo, foram adquiridas vinte amostras de mel
comercializadas no varejo por pequenos apicultores e feirantes da regiao
de Sao José do Rio Preto, Estado de Sao Paulo. As vinte amostras de mel
estavam em garrafas de 500 g e foram realizadas (em triplicata) andlises
quimicas e microbiologicas.
Andlises microbiolégicas
Preparo das amostras*
Foram pesadas 10 g de cada amostra de mei, seguida de diluigéo em
90 ml de agua destilada estéril. A partir desta diluigdo (10"), obtiveram-se
outras diluigdes seriadas até 10°, retirando sempre volumes de 1 ml da
diluicao anterior e transferindo-os para 9 ml de agua destilada estenil.
Enumeragao de bactérias aerdbias mes6filas*
Foi empregada a técnica de semeadura em profundidade, utilizan-
do-se 0 4gar-padrao para contagem com incubagao a 35°C durante 48
horas.
26 Alim. Nutr., Sao Paulo, 10: 23-35, 1999Enumeragao de bactérias aerdbias termofilas*
Foi utilizado 0 método de inoculagao por profundidade, utilizan-
do-se o agar-padrao para contagem com incubagéo a 65°C durante 48
horas
Enumeragao de bolores e leveduras*
Foi realizada com 0 uso da técnica de inoculagao em profundidade,
usando-se como meio de cultura 0 agar batata dextrose, acidificado com
solugao aquosa de acido tartarico a 10% até pH de 4,0. A incubagao das
placas de Petri foi feita a 25°C durante 5 dias.
Pesquisa de Salmonella sp*
Foram diluidas 25 g de cada amostra de mel em 225 ml de caldo lac-
tosado e de agua peptonada 1% e homogeneizados. Apos a incubagao a
35°C, por 24 horas, 1 ml dessas suspensées foram transferidas para
10 ml de caldo selenito-cistina e deixado incubar a 35°C por 24 horas.
Em seguida, foram realizadas semeaduras por esgotamento em placas
de Petri contendo agar SS e agar verde-brilhante e incubou-se nova-
mente a 35°C por 24 horas, 48 horas e 5 dias. As colénias suspeitas
foram submetidas a testes bioquimicos e sorologicos.
Analises quimicas
Determinagao da acidez titulavel do mel’
Foram homogeneizadas 2 g de cada amostra de mel em 50 ml de
agua destilada, adicionaram-se duas gotas de solugdo alcodlica de fenolf-
taleina a 1% e titulou-se com solugao de NaOH 0,01 N, até coloracao rosa.
Para o calculo da acidez titulavel, foi utilizada a seguinte equagao:
7 a Vxt
acidez em solugao normal por cento v/p = ir
Alim. Nutr., $40 Paulo, 10: 23-35, 1999 27V =n? de ml de solugao de hidroxido de sédio 0,01 N gastos na titulagao.
f = fator de solugdo de hidroxido de sddio 0,01 N.
P =n? de gramas da amostra.
Reagao de Lund’
Foram pesadas 2 g de cada amostra de mel em uma proveta graduada
de 50 mle adicionados 20 ml de agua destilada. Homogeneizou-se e adi-
cionaram-se 5 ml de uma solugao de acido tanico a 0,5%, preparado
recentemente. Completou-se o volume com agua destilada até 40 ml.
Agitou-se e deixou-se em repouso por 24 horas. Quando o mel é puro
forma-se um deposito de 0,6 a 3,0 ml; quando o mel é adulterado nao ha
formacao de depésito ou ele é desprezivel.
Fermentos diastdsicos’
Foram medidos 10 ml de cada amostra em uma proveta graduada
de 50 ml e homogeneizou-se com 20 ml de agua destilada previamente
fervida e resfriada. Transferiu-se com 0 auxilio de uma pipeta 10 ml da
solugao para um tubo de ensaio de 60 ml, adicionou-se 1 ml de solugao
de amido, agitou-se e mergulhou-se 0 tubo em banho-maria a 45°C por 1
hora. Apos isso, as coloragdes foram comparadas. Na presenga de fer-
mentos diastasicos (mel natural ndo-aquecido acima de 45°C) aparece
uma coloragao verde-oliva ou castanha. Na auséncia de fermentos dias-
tasicos (mel adulterado ou mel natural aquecido acima de 45°C) aparece
uma coloracao azul.
Reacao de Fiehe’
Mediram-se 5 ml de mel em uma proveta graduada de 25 ml, adicio-
naram-se 5 ml de agua destilada, misturou-se bem e adicionaram-se
5 ml de éter etilico. Agitou-se e deixou-se em repouso até a separagao
das fases ou camadas (a camada etérea deve ser clara); transferiram-se 2
ml da solugéo etérea para um tubo de ensaio. Adicionaram-se duas
gotas da solugao de resorcina, recentemente preparada e agitou-se. Na
presenga de aguicar invertido aparece uma coloracdo vermelho-cereja
num intervalo de 5 a 10 minutos.
28 Alim. Nutr., $40 Paulo, 10: 23-35, 1999Reagao de lugol’
Mediram-se 10 ml de cada amostra de mel em wm béquer de 50 ml,
adicionaram-se 10 ml de Agua destilada, homogeneizou-se e adicio-
nou-se 1 ml da salugao de lugol, recentemente preparada. Na presenga
de glicose comercial, a solucao fica vermelho ou violeta, e a intensidade
da cor depende da qualidade e quantidade de dextrinas presentes na
glicose comercial.
Resultados e discusséo
Foi determinada a qualidade e autenticidade do me! por meio da
tealizagao da analise microbiologica e quimica de vinte amostras de mel
(100%) para consumo imediato, comercializadas no varejo por pequenos
apicultores e feirantes da regido de Sao José do Rio Preto, Estado de Sao
Paulo. A legislagao federal? estabelece que Salmonella sp deve estar
ausente em 25 g de mel. Entretanto, 0 mel podera apresentar outros
microrganismos que poderéo tornar-se importantes, principaimente,
devido a seu ntimero e diversidade, pois alguns autores tem observado
que existe uma correlagdo entre a maturagao do mel e alguns grupos
microbianos encontrados na propria colmeia.29 Dessa forma, foi reali-
zada a contagem de bactérias aerobias mesOfilas, contagem de bacté-
tias aerObias terméfilas; contagem de bolores e leveduras e a pesquisa
de Salmonella sp. A Tabela 1 apresenta os resultados das andlises
microbioldgicas das diferentes amostras de mel. Na Tabela 1 é possivel
verificar que as contagens de bactérias aerobias mesofilas variaram de
0,5 x 10! a 2,2 x 103 UFC/g, no entanto apenas a amostra 4 apresentou
contagem acima de 10° UFC/g. J& a contagem das bactérias aerdbias
terméfilas variou de 0,5 x 10! a 2,8 x 10? UFC/g, e 40% das amostras
apresentaram < 10 UFC/g. Com relagdo a contagem de bolores e levedu-
ras, esta variou de 0,5 x 10! a 1,4 x 10? UFC/g, apresentando 45% das
amostras com contagem < 10 UFC/g. E dificil explicar a baixa incidéncia
destes Ultimos durante a maturagao do mel, jé que, antes de que tenha
sido aicangada uma baixa atividade de agua, a proliferagdo de bolores
acucar-tolerantes deveria ser possivel, mas parece que existe um fator
antizimogénico que desaparece a medida que o mel matura ou, talvez,
deva-se a uma inibicéo competitiva pela propria populacao bacteriana.?
Alim. Nutr, $40 Paulo, 10: 23-38, 1999 29Tabela 1 - Representacdo dos resultados obtidos apds as diferentes
andlises microbiologicas
Amostra Bactérias Betérias Bolores Salmonella sp
aerdbicas aerobias fe
mesofilas termofilas (UFC/g)
(UFC/g) (UFC/g)
1 20x 108 1,5 x 10! 14x 10? -
2 4.7.x 10° 15x10! <10 -
3 2,7x 10? <10 0,5 x 10! -
4 2,2 x 108 0,5 x 10! <10 -
5 2.5.x 10! <10 3.0.x 10! -
6 3,0 x 10! 45x 19! 8.0.x 10! -
7 7.5 x 10! <10 <10 a
8 85x10! <10 <10 -
9 45x10! <10 1,0 x 10 -
10 0,5 x10! 1,0x 10! <10 -
ott 3,6 x 10 2,8 x 107 15x10! -
12 5.0.x 10! 1,0 x 10! 05x10! -
13 55x10! 55x10! 45x 10! +
14 <10 4,0 x 107 <10 -
15 1,0 x 10! 0,5 x 104 <10 -
16 <10 1,0x 10! <10 -
7 2,5 x 10! 2,0.x 10! 0,5 x 10! -
18 2,0.x 10! <10 05x 10! =
19 33x 104 <10 <10 -
20 3,6 x 107 <10 1,5 x 10! -
Padrao federal”
Auséncia
em 25g
< 10 = auséncia de UFC.
resenga.
auséncia,
Na mesma Tabela 1, observa-se que a presenga de bacterias aerd-
bias mes6filas foi muito mais acentuada do que de bactérias termofilas,
bolores e leveduras. A amostra 1, apesar de apresentar um dos menores
indices de bactérias aerobias mes6filas e termofilas, obteve a maior pre-
senga de bolores e leveduras. Somente foi detectada a presenga de Sal-
30
Alim. Nutr., $a0 Paulo, 10: 23-35, 1999monella sp em uma (5%) das amostras analisadas, sendo classificada
como “produto potencialmente capaz de causar toxinfeccao alimentar"
, portanto, “produto improprio para o consumo” e as outras dezenove
amostras (95%) atenderam, portanto, ao padrao de auséncia em 25 g de
amostra, estabelecido pela legislagao federal.
Os resultados das andlises quimicas estao descritos na Tabela 2. Na
Tabela 2, verifica-se que a média da acidez titulavel do mel foi de 2,28%
(v/p) com variagao de 1,19% a 3,33% (v/p). De acordo com os resultados
obtidos e considerando a legislagao estadual,!° que estabelece para o
mel de mesa uma acidez, em ml de solugdo normal, maxima de 2% (w/p)
e para o mel industrial uma acidez maxima de 4% (v/p); as amostras 4, 5,
13, 14, 16, 17, 18 e 20 (40%) seriam classificadas como mel de mesa e as
outras amostras 1, 2, 3, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 15 e 19 (60%) como mel
industrial.
Com relacéo a pesquisa de proteinas naturais no mel (reagdéo de
Lund), foi verificado que treze amostras (65%) apresentaram resultado
positivo (formagao de um depésito de 0,6 a 3,0 ml) podendo, portanto,
por esta reagdo serem classificadas como mel puro, ao contrario das
outras sete (35%) consideradas como mel nao puro (adulterado).
Ja com relagaéo a pesquisa de fermentos diastasicos, todas as amos-
tras apresentaram resultado positivo, ou seja, desenvolvimento de uma
coloragao castanha ou verde-oliva, comprovando-se a presenca de fer-
mentos diastasicos, portanto, tratando-se de mel puro.
Com respeito a reagao de Fiehe, somente as amostras 3, 11, 13, 17,
18 e 20 (30%) apresentaram resultado negativo. Nas demais (70%) houve
a presenga de glicose comercial ou ocorreu superaquecimento do mel,
ou ainda, corresponderam a mel velho, uma vez que a concentracéo de
hidroximetilfurfural aurnenta durante um armazenamento por longo
tempo a temperatura ambiente.
Na reagao de lugol, 50% das amostras apresentaram resultado
positivo, desenvolvendo uma coloragao que variou de vermelho-viole-
taa azul, demonstrando a presenga de glicose comercial e 50% foram
negativas, considerando-se, portanto, como mel puro. Alguns dos
resultados positivos podem também ser explicados pelo fato de algu-
mas das amostras serem de mel velho, pois quando o tempo de arma-
zenamento aumenta, 0 mel torna-se mais escuro e maior é a perda do
aroma.!
Como pode ser observado, alguns dos resultados obtidos nas anali-
ses quimicas realizadas sao conflitantes pondo em duvida a autentici-
Abm, Nutr., S40 Paulo, 10: 23-35, 1999 31dade do mel analisado. Alguns autores® encontraram a mesma
dificuldade, uma vez que a variabilidade natural da composi¢do do mel
aumenta a complexidade do problema de deteccao de adulterantes.
Dessa forma, do total das vinte amostras, apenas as amostras 13 e 20
cumpriram com todas as caracteristicas necessarias, do ponto de vista
quimico, para serem classificadas como mel para consumo imediato,
entretanto a amostra 13 seria desclassificada, do ponto de vista microbio-
légico, em razao da presenga de Salmonella sp (Tabeia 3).
Tabela 2 - Representagao dos resultados obtidos das diferentes andli-
ses quimicas efetuadas para cada amostra de mel
Acidez Reagéo de Fermentos Reagaode Reagao de
Amostta situlavel (%) Lund — diastéticos ~—=«“Fiehe lugol
1 2,70 + + + +
2 2,85 - + + +
3 2,55 fe + - +
4 1,28 ~ + + +
5 1,96 + + se +
6 2,74 + + e +
7 2,87 = + ai +
8 2.95 - + + +
9 2,85 a + + +
10 3,33 = + + +
11 2,36 + + - =
12 2.63 + + ut -
13 1,37 + + - =
14 1,37 + + + 7
15 2,81 + + + —
16 1,19 + + + -
17 1,99 + + - -
18 1,48 + + - =
19 2,80 + + +
20 1,60 + + er op
Média 2,28
eacao positiva,
reagéo negativa.
32 Alim. Nutr., $40 Paulo, 10: 23-35, 1999Tabela 3 — Representagdo global dos resultados obtidos para as vinte
amostras de mel nas diferentes analises quimicas e microbio-
logica e sua relagéo com a legislagéo em vigor para mel de
mesa (consumo imediato)
‘Amostra Acidez Reagéo de Fermentos Reagéode Reacéode Salmonella
titulavel Lund diastaticos —Fiehe lugol sp
1 = * + = a +
2 - 7 + - 7 +
3 7 = + + a +
4 + - + = - +
5 + + + = Es +
6 - + * - = +
7 - - + = - +
8 = = + = = +
9 - 7 + 7 a +
10 - - + a a +
re - + * + + +
12 Z + + e + +
13 + + + + + 7
14 + + * a + *
15 - + + = + .
16 + + + = + +
7 + + + + + +
18 + + + + + +
19 - + + = + +
20 + + + + + +
+ =atendeu a legislagio.
~ = no atendeu a legistagao
Conclusées
A analise global dos resultados revelou a adigao de glicose comer-
cial em algumas das amostras analisadas e foram classificadas como
“mel adulterado”. Com relagdo a presenga de microrganismos, apenas
uma amostra nao atendeu a legislacdo brasileira.
Alim. Nutr., S40 Paulo, 10: 23-35, 1999 33GARCIA-CRUZ, C. H. et al. Quality determination of honey. Alim. Nutr. (S40
Paulo), v.10, p.23-36, 1999.
= ABSTRACT: The quality of honey sold by retail in the region of Sao José do Rio
Preto - SP was evaluated by chemical and microbiological analysis of twenty
samples of the product destined to immediate consumption. Microbiological
analysis showed that mesophylic aerobic bactena counts ranged from 0.5 x
10! to 2.2 x 10° CFU/g and thermophylic aerobic bacteria ranged from 0.5 x
10! to 2.8 x 10? CFU/g, while yeasts and molds counts were in the range 0.5 x
10! to 1,4 x 10? CFU/g. Salmonella sp was detected in one sample. Chemical
analysis showed that the acidity index varied between 1.19% and 3.33%.
Based on the results, 40% of the samples could be classified as “natural honey”
and 60% as “industrial honey”. Chemical analysis could also reveal that some
samples may have been adulterated by addition of commercial glucose.
= KEYWORDS: Honey, quality; microbiology; analysis.
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