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CAPITULO APLICAGOES DA INTEGRACAO 7.1 INTRODUGAO. 0 SIGNIFICADO INTUITIVO DA INTEGRAGAO No Capitulo 6 atingimos dois objetivos principais. Primeiro, aproximamos a érea sob uma dada curva por certas somas e encontramos a érea exata, tomando o limite dessas somas E, segundo, aprendemos a calcular 0 valor numérico desse limite utilizando o método muito mais poderoso fonecido pelo Teorema Fundamental do Céleulo. Quase todo o contesdo do Capitulo 6 pode ser condensado na seguinte afirmario: se f(x) € continua em (a, 6], entfo lim Srnan- [ror = ro =F)- Fla), @ onde F(x) é uma integral indefinida qualquer de (x). Ha muitas outras quantidades na Geometria ¢ na Fisica que podem ser tratadas essencial- mente da mesma maneira. Entre elas esto os volumes, os comprimentos de arco, as reas de superficie e quantidades fisicas bésicas, tais como o trabalho realizado por uma forca varidvel agindo ao longo de um segmento de reta. Em cada caso, 0 processo € 0 mesmo: um intervalo de vatidvel independente € dividido em pequenos subintervalos, a quantidade em questfo é aproximada por certas somas correspondentes e o limite dessas somas fornece o valor exato da quantidade na forma de uma integral definida, que ¢ entdo calculada por meio do Teorema Fundamental Uma vez que jé vimos os detalhes desse provesso de limite de somas efetuadas para a érea sob uma curva, como foi feito no Capitulo 6, seria desnecessério ¢ mon6tono revé-los 298 __Giileulo com Geometria Anatitica 2 cada nova quantidade que encontrarmos. A notagdo necesséria para isto ¢ complicada e repetitivae na verdade impede a compreensio intuitiva do que desejamos cultivar Com esse espirito, voltamos rapidamente 4 Fig. 7.1 € consideramos a maneira fécil e intuitiva de construir a integral definida em (1). Figura 7.1 Pensamos na area sob a curva como sendo composta de uma grande quantidade de faixas retangulares verticais finas. A faixa tipica mostrada na figura tem altura y e largura dx e, portanto, érea dA= ydx= f(x) dx, Q pois y = f(x). Essa area chamase elemento diferencial de drea ou simplesmente elemento de rea. Localizase numa posigio atbitrisia dentro da regido e essa posicfo ¢ especificada por um valor de x entre a € 5. Agora pensemos na rea total A da regifo como o resultado de adicionar esses elementos de érea dA quando nossa faixa tipica varre toda a regifo. Esse ato ‘de adigd0 ou somatorio pode ser simbolizado por an fas @ Como o elemento de area varre toda a regiio quando x cresce de a a b, podemos expressar 4 idéia em (3), com maior precisfo,escrevendo a= fai frae f'poa o Obtemos uma integral definida de verdade apenas no tiltimo passo em (4), onde a variével ¢ os limites de integrago tomam.se visivelmente presentes, Dessa maneira, passamos por cima dos detalhes confusos e estabelecemos a integral definida para a érea, diretamente, sem ter de pensar ‘em limites de somas. Aplicagdes da integropo 299 Desse ponto de vista, a integragdo é o ato de calcularo todo de uma quantidade cortando-a numa grande quantidade de pedagos convenientemente pequenos e depois adicionando esses pedagos. E essa abordagem intuitiva leibnizina ao processo de integragdo que temos a intengio de ister e reforgar nas segSes seguntes, 7.2 AAREA ENTRE DUAS CURVAS Suponha que sejam dadas duas curvas y= f(x) e y = g(x), como ¢ mostrado na Fig. 7.2, ‘com pontos de intersego em x =a e x=b e coma primeira curva acima da segunda no intervalo (a, 5]. Ao estabelecer uma integral para a drea entre essas curvas, € natural utilizar faixas verticaisfinas, como esté indicado. pepe) Fin 7.2 A altura de uma tal faixa € a distancia f(x) ~ g(x) da curva inferior a curva superior e sua base Edx. O elemento de rea €, ento, A= (fo) — x0] dx, area total € az fase [years « Integramos do menor limite de integragio @ a0 maior 5, de modo que o incremento (ou diferencial) dx seja positivo. Devemos assinalar também que a € 6 so os valores de x para os ‘quais as duas fungdes tém 0 mesmo valor y, isto é, sfo as solugdes da equacdo f(x) = g(x). 300 __Claulo com Geomerria Analitica Recomendamos aos estudantes que no fiquem satisfeitos com a mera memorizagdo da formula (1) e aplicagdo mecénica aos problemas de érea. Nosso objetivo € 0 dominio de um étodo, ¢ esse objetivo ¢ melhor servido 20 pensar geometricamente e construir a formula necesséria a partir do nada para cada problema individual. © método se aplica igualmente bem para se achar dreas utlizando faixas horizontaisfinas, o que, as vezes, € mais conveniente. Nesse caso, a largura de uma faixa tipica seré dye a irea total ser encontrada integrando com respeito a y Como ajuda aos estudantes, damos um esbogo dos passos que devem ser seguidos para se achar uma érea por integragzo, Passo 1 Esbocar a regio cuja rea quer se determinar. Anotar no esbogo as equagbes das ccurvas-limite ¢ achar seus pontos de interse¢do. Passo 2 Decidir se vio ser utilizadas faixas verticais com largura dx ou faixas horizontals, com largura dye desenhar uma faixa tipica no esbogo. Passo 3 Olhando o esbogo e usando as equagdes das curvaslimite, anotar a ea dA da faixa tipica como o produto do comprimento pela largura. Expressar dA inteiramente em termos da varidvel & ou y) que aparece na largura. Passo — Integrar dA entre os limites x ow y apropriados, sendo que esses limites so encontrados examinando-e 0 esboso. Exemplo 1A regio limitada pelas curvas y =x? e y=4 & mostrada na Fig. 73. Figura 7.3 Se usarmos faixas vrticas, entdo o comprimento de nosse faina tipica é 4 — x? e sus dren é dA =(4—x*)dx, A area total da regito é i vw] fi-9e 8—)-CB+N=F, Aplicapder de integrpdo 301 Recomendamos 20s estudantes que usem a simetria sempre que possivel a fim de simplificar os cdleulos. Nesse caso, a simetria esquerdadireita da figura sugere que integremos somente de X= 0 a x=2 para achar a érea da metade direitae daf dobrar o resultado para obter a érea total: 2 fle-dcnas-pop28-9-¥ ‘Como esses cileulos mostram, é, ds vezes, vantajoso (apenas uma pequena vantagem nesse cas0) ter 0 como um dos limites de integragio, Se decidirmos usar faixas horizontais, ento o comprimento da faixa é 0 valor de x (em termos de y) na extremidade direita menos o valor de x na extremidade esquerda. Isto da VI — Vy Je assim dA = [V9 — (—-V9)] dy = 2V Vay e a drea total & [riamsefns. A resposta é a mesma, o que nfo é surpreendente, mas nfo deixa de ser confortante. Enfatizamos uma vez mais como ¢ importante um bom esbogo para compreender ¢ efetuar esses procedimentos. Exemplo 2 A regio imitada pelas curvas y=3—x? ¢ y=x+1 é mostrada na Fig. 7.4. 302 __Glaulo com Geometria Anelitice ‘Achamos onde as curvas se interceptam resolvendo simultaneamente as equagSes. Fazemos isto igualando os y, 0 que dé 3-extl B+x-2=0, (+ D0e=1) 0, x=-2,1 Os pontos de intersegdo so ento (2, ~1) ¢ (1, 2). © comprimento da faixa vertical indicada ¢ ( — x) ~ @& + 1) =2 — x? — x; logo, a drea da regio ¢ encontrada integrando o elemento de rea quando x vai de 2a, Le - war r-w—] Q-$-Y-C4t 4-44 Nao convém usar faixas horizontais nesse problema, pois uma faixa horizontal obviamente vai da metade esquerda da pardbola até a reta se y <2, e da metade esquerda da pardbola até sua metade direita se y >2. Problemas Nos Problemas de 1 a9 esboce as curvas e calcule as dreas das regides que elas delimitam. artice rae tet yo 3— 4x, y= Sx (x20) 99. yaad 3, yen 2e 43. 10. Calcule a drea no Exemplo 2 integrando com respeito a y, primeiro com um integrando de y= —Lay=2e depois com outro integrando de y=2ay =3, Aplicagdes da integrapdo 303 11. Caloule de duas maneiras a érea sob y =x? de x= 0 a x=4. 12. Calcule de duas maneiras a érea sob y=x? de x=0 a x=2. 13. Caloule a drea limitada por (® oeixo x ¢ y=x*-x*; (b) oeixo y ¢ x=2y—y? 14, A dreaentre x=y* © x=4 6 dividida em duas partes iguais pela reta x=a, Determine a. "15, Caleule a area entre y =x? e sua tangente em x= 1 16, Calcule a rea acima do eixo x limitada por y= I/x?, x=1 ¢ x=B, onde b €algum riimero maior que 1. O'resultado dependerd deb. O que acontece com essa érea quando boot 17. Resolvao Problems 16, substituindo y = 1/x por y= IVE 18, Resolva o Problema 16, substituindo y = I/x* por 1/x?, onde p € um niimero positive dado maior que 1. O que acontece quando p € um nimero positivo menor que 1? 7.3 VOLUMES: 0 METODO DO DISCO Se a regio sob uma curva y = f(x) entre x= gira ao redor do eixo x, ela gera uma figura tridimensional chamada sdlido de revolupdo. A forma simétrica desse solide facilita o céleulo de seu volume. A situagaio ¢ ilustrada na Fig. 7.5. Figura 7.5 304 Cileulocom Geometra Anata AA esquerda mostramos a propria regi, junto com uma tipicafaixa vertical fina de largura dx, cija base esté no eixo x. Quando a repifo ¢ girada a0 redor do eixo x, essa feixa gera um disco circular fino com a forma de uma moeda, como se mostra a dircta, com raio y= f(x) € espessura dx. volume desse disco ¢ 0 nosso elemento de volume dV. Como o disco € um cilindro, su volume ¢ obviamente area da face circular vezes a espessura, dV = xy dx = nfxy dx. aw Imaginemos agora que o sélido de revolugdo seja preenchido com um nimero muito grande de discos muito finos como este, de modo que o volume total seja a soma de todos os elementos de volume quando nosso disco tipico varre todo 0 solido, da esquerda para a direita, isto ¢, Jere fonace [xnova @ Esta ¢ uma outra formula fundamental que os estudantes ndo devem memorizar. Em vez disso, € muito melhor compreendéJa em termos da formula do volume de um cilindro, tornando a ‘memorizagio desnecesséria v= Os estudantes podem ter a impressio de que a formula (2) nao pode dar o volume exaro do sélido, porque ndo se leva em conta o volume das pequenas “cascas” a0 redor do lado de fora do disco na Fig. 7.5. Entretanto, exatamente como no céleulo de éreas, 0 pequeno erro aparente, visivel na figura — devido a0 fato de usar discos em vez das fatias reais — desaparece como consequéncia do processo-limite que faz parte do significado do sinal de integral. Podemos portanto calcular volumes usando a formula (2) ¢ ter total confianga de que nossos resultados serdo exatamente corretos ¢ nfo meras aproximagGes. Exemplo 1 Uma esfera pode ser encarada como um sélido de revolugio gerado ao girar um semicirculo ao redor de seu dimetro (Fig. 7.6). Figura 76 Aplicaybes de integrosdo 305 Vi = eo elemento de Se a equacio do semicirculo € x* +y* =a, y 20, entio y= volume é dV = ny? de n(a? = 2) de Usando a simetria esquerdacdireita da esfera, podemos determinar seu volume total integrando dV dex =0 a x=a emultiplicando por 2 wor teean sof Ana’, 8) Esse resultado confirma a bem conhecida (mas pouco entendida)férmula da Geometra elementar Se integramos dV somente de x=a—h a x=a, obtemos a formula do volume de um segmento de esfera de espessura h, = x(a? — faa) — Ha AY} = ah(a— 4h), ‘ap6s alguma simplificago algébrica Devemos notar que essa formula reduz-e 2 (3) quando =a Exemplo 2 Uma outra formula importante da Geometria elementar estabelece que um cone de altura he raio de base r tem volume V'=1/3x7*h; ou, o que € equivalente, o volume € um tergo do volume do cilindro circunserito. Para obter essa formula por integragio, e por esse meio compreender a origem do fator 1/3, pensamos no cone como 0 sOlido de revolugdo gerado a0 gitar 0 tridngulo retangulo mostrado no primeiro quadrante da Fig. 7.7 a0 redor de sua base. A hipotenusa desse triingulo ¢ obviamente parte da reta _y = (r/l)x; logo, o elemento de volume é a ‘Obtemos agora o volume total integrando dV de x=0 a ve [Beane te] darth 306° Glleulo com Geometria Anata Figura 7.7 Por motivos dbvios, 0 método desses exemplos ¢ usualmente denominado método do disco Podemos aplicar a mesma idéia a slidos de outros tipos, em que o clemento de volume néo seja necessariamente um disco circular. Suponha que cada segdo transversal de um s6lido feita por um plano perpendicular a uma certa reta seja um triéngulo ou quedrado ov alguma figura scométrica cuja area sejafécil de calcula. Entio, nosso elemento de volume dV € 0 produto dessa rea pela espessura de uma faixa fina, e podemos calcular o volume total do sélido pelo método das faias méveis. Exemplo 3 Cortase uma cunha a partir da base de um cilindro de raio a com um plano que passa por um diametro da base e ¢ inclinado de um angulo de 45° com relagdo a base, Para achar (© volume dessa cunha fazemos primeiro um esbogo cuidadoso (Fig. 7.8) Figura 7.8 AplicarBes da integrapdo 307 ‘Uma fatia perpendicular @ aresta da cunha, como ¢ mostrado, tem uma face triangular. Usando a notagdo estabelecida na figura, vemos que o volume dessa fatia & aaa» EHH dy =He-y) ay; logo, 0 volume da cunha é 4a? = 9) dy = aty— 49° a 5a ‘Uma fatia vertical paralela ao eixo da cunha tem evidentemente uma face retangular (os estudantes devem fazer seu proprio esboro). Se x € a distincia da aresta a essa fatia, entdo é fécil ver que dessa vez 0 elemento de volume é ax, «,portanto, =HHe- sm- ia, como antes. Observagio 1 Daremos agora uma pequena variagio do método do disco, que é muitas vezes Util © necessiria para muitos dos problemas do fim desta seg. Suponha que a faixa a ser girada em tomo de um eixo esteja separada desse eixo por uma certa distancia, conforme sugere a Fig. 7.9. 308 Claulo com Geometrie Anat Nesse caso, o elemento de volume gerado pela faixa ¢ um disco com um buraco — 0 que pode ser descrito como uma arruela, (Essa arruela foi deslocada a direita da figura anterior, para melhor clareza.) 0 volume dessa aruela é 0 volume do disco menos o volume do buraco, dV = x(y2—y2) de 0 volume total do sélido de revolugdo ¢, portanto, =f ae [favs onde y1 © 2, 0s ros extemo ¢ interno da arruela, sio determinados como fungdes de x a partir “das condigdes dadas no problema. Esse procedimento de calcular volumes chama-e, naturalmente, método da arruela. Ele se aplica aos s6lidos de revolugdo que tém espacos vazios internamente dx, Observagio 2A formula (3) do volume da esfera foi descoberta por Arquimedes, no século III a.C. © método empregado por ele era uma forma primitiva muito bonita e engenhosa de integragdo. Os detalhes sio dados no Apéndice A.3. Problemas 1. Caloule © volume do s6lido de revolugdo gerado quando a regido limitada pelas curvas, ddadas gira 20 redor do eixo x: (@) y= VR y= 0,45 (b) y= 2x8, y=; © Pax yr xm; @) y=x, y= 1, x= 0; (@) x= 2y— x= 0, (02948 @, primeiro quadrante 2. OProblema 14 da Seco 6.7 trata da clipse 242 a>b>0. Se a regio limitada pela clipse gira a0 redor do eixo. x, 0 sblido resultante chamase elipsdide alongado, Ache seu volume. (Sea ce, mostre que a area dessa regio infinita, mas que, se girarmos essa regio em tomo do eixo x, obtemos um volume finito. VOLUMES: 0 METODO DA CASCA Existe um outro método para achar volumes que é, com freqiéncia, mais conveniente que aqueles descritos na Seco 7.3. Para compreender esse método, considere a regido dada na Fig. 7.102, yen oO

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