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6 clea lacariana ‘como operar sobre ele? Dé-nos a certeza uma indicacao dingnéstica, © que é uma das fungées das entrevistas preliminares? Essa relagio com a certeza é obviamente 0 que faz com que, até © momento, a fanilise seja impossfvel. Mas ao considerar atentamente 0 caso, pode- se discemir uma evoluco dessa posicS, que vai da telepatia como formula meditada de sua posi¢ao A proposicéo: “O analista fala de mim”. Primeiro esbogo de transferéncia, portanto primeira criagio transferencial, mas néio ainda propriamente analftica, poi relagdo a certeza, 0 analista se encarna. Ele é um corpo, tt cado, Observernos entretanto que ao mesmo tempo que se ‘se deslizamento, surge uma pergunta que pode desenhar as bordas de outra transferéncia, em direcdo & anélise. Sua pergunta: “Que di- zem os pacientes em uma andlise?” manifesta com efeito uma pri- meira forma de divida, Serd preciso esperar que esta pergunta se de- senvolva e tome-se: “Por que uma anélise?, porque onde se colo- cardo seu sintoma e seu analista. Nessas entrevistas preliminares, trata-se portanto de dialetizar a certeza, de efetuar uma passagem em que 0 analista, como produto do trajeto, id se tornar 0 objeto que resta como objeto da separacio. Esse agente da separacio, dele fala Freud nestes termos: ‘“Toda libi- do € toda fo encontram-se concentradas na tinica atitude a respeito do médico, e, nessa ocasido, produz-se inevitavel- ‘mente uma separaco entre Os sintomas e a libido, aqueles aparecen- do despojados desta. Em lugar da doenga propriamente dita, temos a transferéncia artificialmente provocada, ou, se preferem, a doenga. transferéncia: no lugar dos objetos tio variados quanto irreais di ido, ndo temos sendo um s6 objeto, ainda que igualmente fan mitico: a pessoa do médico.” essa separacio pela via significante, 0 to psicanalitico se efetua pela passa- ‘gem de um conjur ibido) a uma classe onde um x orien- te. Ox € um produto: o analista que, imaginarizado como externo, introduz o paciente a psicanilise. Ox como sintoma novo devers de- saparecer, mas na condica0 ‘ocupado o lugar que Ihe cabe. Lugar que se funda numa ética, ¢ nio num simples contrato comer- cial de boa conseiéncia Digamos, para concluir com Lacan, que se um analista advier para a Srta, T., ele desaparecers: daquele que tudo sabe, ele se tor- nari resto puro —a. FRANCISCO HUGO FREDA ‘Tradugo do espanhol: Delia Esquibel n © DESTINO DO SINTOMA. ie tein ee No caso de que se vai cuidar, 6 paradoxal falar de entrevistas preli- minares porque estas entrevistas, preliminares entrada em anélise propriamente dita, j6 séo entretanto tomadas no tratamento. Todos 08 psicanalistas viram nessas entrevistas do inicio com um paciente um fomento de avaliagéo; alguns o exigem a partir da nogio de analisi~ ram uma pergunta técnica: € posto no diva? J. Lact f¢ a disjungo neurose/psicose em jo para restituir a esse momento toda isto é, toda a sua incidéncia sobre a diregio ‘afirmar ainda, em 1971: nio hé entrada possivel na psicandlise sem fentrevistas preliminares, ele vai mais longe e no remete somente As Consideragées técnicas ou a uma invocacao elementar & prudéncia terapéutica: ele visa a estrutura mesma do dispositivo nalitico no faparecimento de uma demanda que seja uma demanda de anflise Esta demanda propriamente falando nunca ¢ inaugural, ainda quando manda de se tornar analista; a de- ra chamar paciente é antes de tudo demanda de alivio e parte de uma queixa. A queixa o traz a0 hori- ‘gual for, mas nao conduz.& anélise: pode- ge € mostrar que entre a demanda por legitima que seja, e, nesse sentido, devendo set levada “e a demanda de anilise, ha uma antinomia que se po- bretudo niio toque em nada, ‘no toque em meu ser sm meu fantasma”” ‘Um de nossos de: (0 de mostrar que 0 dispositi- vo analitico, Jj presente nas entrevistas preliminares, opera uma Tnutagéo da demanda, a qual néo é posstvel senfo a partir da coloca- {glo desse operador que é a transferéncia. Como Jacques-Alain Mil- 60 1” cllrice acaniana let! enunciou, a clinica psicanalftica € uma clinica sob transferén- ‘cia, Nosso estudo das entrevistas preliminares deveria pois permitit experigncia analitica. Essa ordenaco resulta portanto da hipétese do inconsciente. Nosso empenho serd de tracar as grandes linhas da or- dem do st ‘onstrufdo a partir de uma sucessao temporal demar- cvel nes ‘entrevistas preliminares, sucessio menos cronoldgica Espasmotiia? A Senhorita X. me chegou com um sentimento de extrema urgéncia; ‘mum; com alguns amigos, ao findar a reunido, ela fumara ¢ de re- ppente se sentira assaltada por um estado inominavel, por ela descrito ‘como tetanizacdo de todo 0 corpo, seguida de um tombo, ¢ ja no cho, de um grito: “Vou morrer, vocés ndo véem que estou mor- rendo?” Esta primeira crise se tinha repetido depois varias vezes, © istia de vé-la surgir de novo, ¢ resposta que nio obteve, pois o médico Ihe garantiu que ‘nha nem um gro de droga no organismo”, e, sem diivida, era outra secs ‘destin do sitomt n coisa. Ela se esforgou para pér um nome no que Ihe acontecera, ain- da Ihe acontecia, e 0 achou num livro intitulado: Vocé é espasmofili- co?, cujo conteido parecia aliés permitir a cada leitor responder ~ sim, € foi o que ela fez. Senhora desse saber, procurou a acupuntura para um tratamento ao cabo do qual 0 especialista Ihe disse que 0 resto ndo era de sua competéncia. Quando superada, pelo recurso a esse saber de empréstimo, a angtistia absoluta que a envolvera, a urgéncia que a impelia ao meu gabinete era portanto a de um sintoma construido por ela, durante esses trés meses, achando-lhe 0 nome. Essa primeira construgo do manda no de psicandlise, mas de psicoterapia, concebida como as- sisténcia, a um s6 tempo ésperada ¢ detestada na medida em que ela tada de seu desejo, no deixavam diivida sobre o fato de se tratar de histeria. Surgiu entéo com maior evidéncia, nessas condigées, a fun- Go das entrevistas preliminares adiantadas por Lacan. Durante um més e meio, a razo de duas sess6es por semana, a to em sua di- fazer por mim, pois sofro de uma doenga que tem um nome ¢ um Tu- ‘gar no livro?” O sujeito do inconsciente logo aparecido nesse mal- estar absoluto, que a subjugava jé ha trés meses, achava jeito de de- Saparecer num apagamento que parecia permitir af 0 discurso da ciéncia. Parecido nesse ponto em sua estrutura & denegacdo, esse sintoma trazia & luz o inconsciente ao mesmo tempo que o fazia es yaecer. As sessées pareciam boletins de meteorologia: “Hoje, vai bem, Ontem estava mal...” © trabalho consistiu, nessa primeira se- n nica lacaniana ‘mana de entrevistas, em prosseguir a elaboragio do sintoma dessa Vez no quadro da situago analitica, isto €, sob transferéncia: a per- gunta da paciente se organizou como demanda de produgio de sa- bet: “O que provoca minhas crises de espasmofilia?”, pergunta & foi levada a responder ela propria: “Nada. Blas so impre- vis{veis” Esta resposta no podia surgir e ser aceita senio na medida em que, contrarizmente a0 livro que dizia tudo sobre a espasmofilia, o fnalista no ostentava tum saber preexistente 20 proprio sintoma. Re~ ‘usando responder, ele permitia o aparecimento de um novo saber, Contanto que, agora, a paciente seja dele separada. As entrevistas fo- ram entio centradas sobre o que era, no discurso da Srta. X., no seio da articulagdo significante, a espasmofilia: o sintoma era efetiva- ‘mente entio o tinico indicador desse saber em jogo. Cair A primeira associagio se fez. do espasmo aos choros, caracterizando fa relagio amorosa maior de sua vida — que durara cinco anos € ter- ‘minara um ano antes de manife primeira crise. g0, ela dissera primeiro encontro: “ ‘dessa relacéo dos dois, de ser visto, entrando em casa fe recusando toda manifestaco pablica de intimidade -metia & ruptura com esse homem como ia propria jé estava chorando no inicio Ga relacéo amorosa, No amor, uma mudanga de posigéo tinha se in- trometido, que a ruptura somente havia patenteado. "Trés elementos da cadeia associativa fizeram aparecer em quc © sintoma tinha sido uma resposia a essa mudanga de posigio. O primeiro se apresentou como uma recordacéo de inffincia relativa & mie, evocada a partir de uma hereditariedade provével: “Minha mie ‘0 destino do stoma wn também 6 espasmofilica”. Ela lembrou-se entio dos acessos de c6le~ ra da mie, aos berros, como momentos insuportaveis: “Os vizinhos a chamavam ‘mulher da matraca’ porque ela tinha o costume de nos perseguir, tamanco na mfo. As vezes, cu chegava a janela, abria-a, € Emeagava jogar-me no vazio, se ela nfo parasse”. O segundo foi btids pela descoberta que ela fazia de espasmofilicos em torno de- Ia, entie suas amigas. Uma deles, particularmente, esvaziava seus armdrios quando das crises. Entéo quando me admirei de que cla ti- esse identificado seu proprio sintoma, quando nada de compardvel com um amante perdido muitos anos ante: Tencia do que se constituiu como uma série: ele acabara de perder a ‘mulher. Esta, pensando abrir a porta do banbeiro, tinha aberto a porta que dava direto sobre uma escada muito ‘ngreme, e precipita- pese no vazio, numa queda mortal: a paciente teve de stibito a idéia de que ele bem podia ter dado um empurrdo. ‘Ao cabo desse més e meio de entrevistas, ela partiu em férias. (© surgimento do significante da transferéneia, de que emito aqui a de “‘cair”, teve-como cfeito sagrava. Acrescentou entio que nio era espasmofilica, Crises de tetania tinham desaparecido, pelo seu lado espetacul O gozo da mae ‘Abre-se agora uma segunda fase dessas entrevistas preliminares, ante a qual a Sita. X, cuidou de procurar outro nome para o sintoma do qual softia: foi “a angyistia de ser rofda pelo ex-amigo” ou a ‘estar presa numa espera de sua volta que a levava & aniquila Este segundo perfodo comecou com a elaboraco da posicéo onde @ hhavia colocado sua relagio com 0 amigo; posicao de falta em ser. 'Até onto, o pai tinha aparecido no seu dizer como marco absoluto: la era 0 orgulho dele, seguira os estudos segundo o desejo dele © ‘com a sua ajuda vigilante, e como cle, tinha paixéo pela mésica. Ela Combinara os dois numa vocagio precoce © de certeza absoluta, tor-

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