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Lupino taiguez 505 psicolégicos quando estes so abordados de um po to devista diseusivo. Osexto capitulo, enguadrade no mor- ‘coda Andlise Critica do Discurso, mostra como o discur- so funciona como pritiea de dominagio e de exclasio, ‘Finalmente, 0 sétimo capitulo, no marco da Tnteranims ‘980 Dialogica, amplina relexdo sabre daminaga, abor- dando a Tinguagem dos riscas como estratégia de gover- snamenalidade. 18 (Gi lings” ua exressio qe ete em m0- ida nos anes 1970 e 1980 para designar uma eerta smudanga que ovorseu na filosofia e em varias citncias ha rmanas e sociais,¢ que as estimulou 2 dar uma atengio ‘maior so papel desempenado pela linguagem, canto nos priprios projetos dessas diseiplinas quanto na formagao dos fenmenos que elas costumam estudar. ‘Normalmente, nia se da essa expresso nenbum on- tno significado além deste que acabamos de mencionar. ‘Um dos primeitos bjetivos que podemos atsibuir ao pre sents capitulo €precisamente ode contribu para que se a= (quira uma conscgncia clara do aumento progsessivo daalen- fo que foi dads i linguagem no decorter do século XX. No entanio,o “gic lingUstoo” teve efeitos e implica ‘58es que vio bem mais além do simples aumento da énfa- se dada a irmportincia da linguagem. Ele contribuin pars que fossem esbogados novas conceitos sobre a natureza do conhecimento, sea ele 0 do sentido comum ou o cient fieo, para permitir que surgissem novos signifieados para * Universidade Aber dy Cotati, 19 Ton es Gracia aguilo que se castuma entender polo termo “realidade” — {anto “social” ou “cultural” quanto “natural” ou “fiscal” — ea desenher novas modalidades de investigneae propor cionando outro contexto teérico e outros enfigues meto- Afologicns.Porém, mais que tudo, o zirolingistic”|mno- disicow a prépsia eoncepedo da natureza da Finguogémy ‘Um segundo objetivo deste eapitulo, ortanto, seria ens nara diseemir quais slo as eoncepgdes da linguagem que sustentam as vias formulagdes oferecidaspelaseigncias humana e socias, Por outro Jado, © presente capitulo pretende anaisar ‘om profundidade a natureza eas implicagdes do gino lin= siistico”, dando uma atengto especial a sua genealo ‘ou se, 8 dimensio histrica de sua constituigko progres sivas upturasteéricas que tiveram que ocareer para que ‘© giro Tinguistice pudesse constrair € desenvolver seus projetos, au carter plural eds vezes contraditério de que se revestram as suas virias formlagdes Seo “gio lingistco” realmente consti, come ind ‘camos neste capitulo, uma mudanga profunda das concep- ses do mundo, das eoncepetes sobre como interpret 2 cigncias humana e soca, inclusive a propria flosc- fia, ¢impertante que o leitor © a leitora ented niko so- mente 0 aleance ew erentago dessas mudangas mas tae Dem as razdes que o fizerum surgi. Podemos entdo consi sdemr que um tereeio objetivo que nos propomnos a aleangat neste capitulo sera ode discemir e avait esas rzbes, Par esse fim, no entant, néo é suficiente apenss en tender eacmazenara informatio proporcionada pelo texto ‘que foi elsiborado para este capitulo. Alem disso, & preciso por em pritica um esforgo extaordinisi de ellexio pes soal que permnitz qualificar a naturcza ea for das supost- Ges & que 0 “giro liniistico” teve que se sobrepor para ‘conseguir se desenvolver, Nesse sentido, seria itil refletir 20 1.0 “giro inet” sobre nossa pripriaconcepgso da linguagem comparan: ddo-a com as concepgbes ge s40 inferidns pelo "zito line ‘listico”, im iltimo objetivo, portato, consiste em por intr e facilitar ssa reflex, 1. A Lingiistica ea filosofia como pontos de partida ‘Uma das marcas distintvas do séeulo pasado foi, sem ‘vida algume, a enorme importinein que tanto afilosofia ‘quanto as eigncias humanas e soviais em seu conjunto de- Fam ao Fendmeno da linguagem. A atengto crescente que se dé ao estudo da linguagem durante toda o séeulo XX tove seu estima inicial no eer ne de uma duple ruptara ocomride no despertar do secu. De um lad, ruptura com a antiga tradigiofilol6gicn contrada na comparagia das Finguas © no esto do sua evolugdo historca. E, por outr, 8 ruptura com a total he emonia que a filosofa da conseiéncia exerceu durante sais de dois sBeulos A primeira dessasrupturas,liderada por Fendinand de Saussure (1857-1913), institu na verdade, a lingistiea rrodema, dotanda-a de um programa de alguns conecitos ‘edema metodolosi que visblizavatn 0 estado rigaroso ‘da Tingua considerada “por i mesma e em si mesma”. A segunda ruptura,inieiada por Gottob Freve (1849- 1925) e por Bertrand Russell (1872-1970), fez.com que 0 olhar da ilosofia, até entao voltado para o mundo interior « privado das etidades mentais, se vllasse para mundo ppssivel de ser objetivad e puiblico das produgies dis- fursivas. Astenlavam-se, assim, as bases para uma nova forma de entender ede praticara filosofia qe, sob a deno- aiinagio do “flosofia analitica”, dominaria.o cenério da Filosofia anglo-taxt durante mais de meio séeulo, Os sucessosaleanacos pela lingistea modems, tan to n0 marco da orientago estruturalista inciada com a5 a Toms Iaties Gracia contribuigdes de Ferdinand de Saussure, quanto no marco da orentagio gencrativa claborada fandamentalmente por Noain Chomsky (19284) no final dos anos 1950, tiveram ampla repercussio om vastos setores das eigneiassociaise hhumanas que viramna ingistiea um medela exemplar 20 que podiam recorrerdirctamente quando ahordavam os ‘bjetos de suas propris diseiplinas [No entanto, mais além de esse efeitotnimeético extras cordindrio, € 8 flosofia analitica, em suas vitias exieata- Bes e devido tanto a seus fracassos como 8 seus Exitos, que devernos atrbuir a expansio do interesse pela lingua gem nas virias eines sociis e huunanas. Dificilmente paderemos campreender a atencio dada ‘A linguagem pelo pensamento eontempordneo se no ana- Tisarmos 0 “giro lingiistico” emprecndido pelo pensa- ‘mento posterior ao stoulo XIX, ebservando tanto {ago como a hstdra de seu desenvolvimento, Mas antes de aborda essa questio no préximo capit- Jo, talvez sen iil recordar que ji no medievo encontra~ ‘mos alguns ingredientes que feiam podido propiciar ura "git lingbistica” evant fo Fete. Trataese Faas die puta enge 0s escolisticos a respeito dos “universe”. Co: no bem se sabe, os “nominalsts” sustentam a tese da inc iste fitoa dos universais, argumentando que tudo Aguila que existe o faz de umd forma peculiar ¢ que do nada adianta buscar referéncias existenciais por rs doc tegorias geris. Naocxistenem “0” earnpomés, nema” vore, nem "a" mulher, mas sim e apenas, eamponcses, vores e mulheres partculares ‘Um universal nada mais & do que uma abstragdo cuja cexistencia s6 se materaliza no imago de nossa inguin caja realidade & resultado exchusivamente dos usos qu fazemos da linguagem. A parti de consideragses dese po, ‘0s nominalistas esbagavam uma lina de pensamento que 2 1.0 “gir Ungistico” outorgava at Linguagem um papel especial na claborago ddenossa visio do mundo, mas ainda seria necessitio espe- rar vos séculs para que essas intuigdes dessem aya & um auténtico “giro linguisto”, 2, Das idéias as patavras ou do “animal pensante” 430 “animal falante” ( ser humano & um “animal racional”. Essa foi wma das féemolas mais antigas ulizadas para expressar a dis tinguiblidade de nossa espécie. No entanto,embora a ea- pacidade que o ser humano tem pare oxeritar 0 pensn- ‘mento, 0 racioeinio, a elaboragtoe o manejo de idsias to- nha fascinad os fildsofos desde os tempos da Grécia Cli sca, foi, sem dvida, René Deseartes (1596-1650) que eon- truiu éom maior sucesso para que © olhar filasitico fo- calizasse o interior de nossa mundo mental (a famosa res cogitans) exoriando=n6s a esquadrinhar nossa ids ps ra ficarmos unicamente com aquelas que fossem “cla ase distntas”. Dessa perspectva a inguapen écertamen- {e importante, mas constitui apenas um instrumento para ‘manifest nossa dias, uma simples roupagem coma qual 3805 e apresentam a0 exterior e se fornam visivels para ‘es demais. Quando nosso discurso parece set confuso & ‘porque nossas idéias nao so sufieientemente claras eo ‘lusive,algumas vezes acontece de a linguagem difieu tara exterorizagdo de nossas iias em ver de judar-nos a comunici-ls 40s A partir de Descartes e durante dois s8cules¢ meio, 2 flosofia européia seria uma “flosofia da consciznci ceentrad no estdo da interioridade do sueitoe convenci- dda de que, para conecer o mundo exterior, ¢ preciso ins- pecionar minuciosamente as iis que habitam os espa- «9s inteiores da subjetividade. No entant partis do so neato em que se acita dicotomia ents res cogitans © 2 Tomés Ibtes Gracia es extensa, © procisamente porque foi tragada essa Lith Uivisdria, surge imedialamente a pergunta do como se re- lacionam ene sio“interior"€0 “exterior” co mister da adequagao entre nossas idias © a realidad Durante dois sfculos e meio as grandes divergéacias filosificas vio se articular ao redor dessas questbes. Sérios antagonismos se devenvolvem entre agueles gue ‘considera que nostas dia ve forma com base em nos- ‘as experiGneias sensariais (nada esti em nossa mente ane ‘nfo tenba anteriormente passado por nossos seutidos, di~ iam, porexemplo os empirisias) eaqueles que erfem qu as fdas se eonstituem com base nas propriedades inatas da res engitans, ou ands aqueles que consiéram, com Emma nae! Kant (1724-1808).queas“categoias prior de nosso ttendimento” estabelecern 0 marco no empiric a partir {do qual a experiéncia empltica conforma nossa i CCuriosamente, essas profundas divergéncis filosof- cas nascem precisamente porque existe umn cansenso pre ‘io a respeito do eatiter privileyiado do mundo das ideias ‘ porque se fenta explicara consciéncia a parti dainques- fioniveldicoforie entre a mente e 0 mundo, Se questio~ tharmos a dicotomia “interiorexterioe” odifiil problema ‘da relaglo entre ambos se dil imedistamente, deixando tem evidencin a vaculdade das grandes divergéncias flos)- ficasoriginadas por esse problema, [No enfanto, nfo é nada fcil deixar de indo dois séeu- Jos ¢ meio de cansenso filos6tic. O fato de que j tans ‘corre quase um sé desde aquele momento.em que co tnecaram questionar a primazia da “filosofia da cons tcidneia”e que ainda hoje, tems séias dificuldades para Tivrar-nos de suas influgneias, indica, sem dvida algu tus, 2 magnitude da inowagdo que o “giro lingistico” st- 26 41.0 gio ingtstico" ‘pise aorginalidade de que seus promotor tiveram qve 13. 0s comecos do “gio lingiistico” 'A propria expresso “pro lingbstico” sugere a ima- ‘gem de um momento precisamentedeliitado no qual se proviin uma mudanga brusca de algo que nfo Linas fo para 0 espago propriaments linistico. Pode a Ser {que alguns dos comentizos fetes acta tena contsbul {Spare fomentaressa imagem. Mas coisa nfo fo bem as- ‘sin, O git linguisico no € um ito preciso e sim um fend~ reno que vai se Formando progressivamente e que adota virias miodaldades ao longo de seu desenvolvimenta. Fin sen comego, o gir linglistico surge de uma preo- ‘eupagio em superar a antiga Idgica silogistica herdads de ‘Anstoteles (388 aC.-322 2.) ecm inventar uma nova }- ‘gea formal, capaz de dar vida aessulinguszem “idea” € ‘Spereita” com que sonkava Leibaitz (1646-1716) oi Gottlob Frege (1848-1925) que empreendeu essa tarcfi an inventar a teoria da quantificagd0” (base da tBca medema) eao substituiras velhas nogbes de "sujeito™ ‘ede “predicado” pelas nogbes de “argumento” ede “fun- “eho”. A nota candi propesta por Frege perma rans- formar os cnunciados linisticas em “proposigles” cujo valor de verdade (proposigio verdadeira ou false) podin ser ‘stahelecdo de uma manera rigorosamente formal ‘Da Universidade de Cambridge, Bertrand Russell 1872- 1970) colaborou intensamente com Frege para o desen- ‘vovimento da nova légiea, dando um impulso decsivo 20 tito Jingistico na Slosofie anoint. ‘Para. o propésito desta diseiplina, 0 que importa nfo &, certamente, 4 compreensio e 0 conherimento detalhade ‘dg novo insttumento légico eviado por Frege e Russell, © 2 ‘omés Mites Gracia sim comproender, por um Lado, quais eram as premissas ‘queorientavamasinvestigagbes “loscists” da dupta Fre- erRussel e, por outro, captar as repereussdes que esse hove instramento logic reve para o desenvolvimento da flosofia de linguagern ‘Essa premissas podem ser formoladas da segvinte ma 8) Maitos dos problemas com que se deparam tanto a flosofia, quanto a comunicnefo humana em ger, ocr em porque linguagem cotidiana tem como base uma |= fea impereit, ambigua c imprecisa 'b) As frases constuldas nas linguas natura se apSiam, laramente, em yma estrutura [ogica, mas essa esiraturat {gica no aparece com claridade se nos himitarmos acon ‘emplar exclusivamente a estrutura gramatical das frases fou se as analisnines com a ajuda da Kbgica aristotlica, ©) A nova lgiea, baseada em quantifieadore, permite que se exiba # auténtica esiratura gea das enunciados Tingtisticas, covertendo-os em proposigaes dotadas de sum valor de verdad 4) Se conseuirmnos estabelocer a estrtura Ligies dos ‘enunciados poderems exibie a estratura do pensarento “expressado por estes enunciados e, desta mancia, aumen- {aro conhecimento dos processes inferenciais, «) Se a linguageo é um instrumento para representa @ sealdade,entio sua anilise pode nos informar sobre ana fureza dessa mesina realidad. Este conju de premissas nos indica vii cosas im- portantes: Em primero lugae, vemos como se produ um desho- ‘camento do esto das “ideas” realizado por meio deur Siseurso mental de carter privado (intospeegl0), para 0 26 1,0 "giro Ungistio” cestudo dos enunciadas linguistics, pblieas e objetiva ‘dos, a fim de evidenciar sua estruura lo [Nao & dentro de nossa mente que temos que “lar” para saber cou ponsamos,¢ sim devemos “olhat™ paca ossos diseursos; nfo devemos esquadrinhar nosso “in- {eriore sim, devemos permanecer no “exterior” visivel a todos. Asian fram, eo ua 6poea 0s ojo de todo ilo» {Src eontituvam onal oie oep0 ears ¢0 Indo ete a cl [1 Nas diseusses ati, 0 di- ‘ns pili substi 9 dscurso mera Um igre ‘rico questionado do dscusapblice Go cnuneiado Fr Guine disse que ado devosss pais uma fh fica de cnuncadoe” Os cauncados 580 ur atfato gmoscitivn ness fibres do dlsurs pio, Falvez. amo suger a seguir, sso cles que consiuem esse “Raeto eogooseiivo”. De qualquer fora, cle so os respnsiver pelt rpresento da realidad compo “Go cothecnano, Disa mancia pare qu os ene- {Mos sabe 2 08s [.]. A versa naareza Adoconhecimeno pnidou Nossa situs ata oso- fia € uma consegiencia daguilo que © conheinento ‘hogow a er. Um Descartes jas teria pensido Sesima ora € un ie de enctodos, asin como ‘Quine ome erin rewonecido que uma eri um = (Goema de iis do seco XVI. Hacking, 1975. oes TRingenge moter to plrophy? Nova lrque: Cambie te University Pros p. 189-169 Traducioem espano ‘Buenos Ate, Sulsmeican, 1°79), Em segundo fugar, podeios observar como, em um deterwinado momento, deixa-se de considerar que so a5 roses “idéias” que se rlacionam eom o mundo, ¢ pas ‘tse a afirmar que sie nossas palavras que se comespon= ‘dem com os objetos do mundo. J6 veremos como essa tse, que povtemos qualificar de “ralista, seri superada tos desenvolvimentos posteriores do giro lingtistico, em a ors Ieiier Gracia ‘ora tena, sem dvi, o grande méito de substitu axe- Jagio “idéiasmundo” pela relagdo “linguagem mundo” ‘tocando 0 privado pelo piblice © 0 no observavel polo manifest, (Quanto as epereussées que o instrumento Kigico cons- teuldo por Free Russel vria ater para a filosfia da fins ‘uagem, baste assinaar aqui que, durante vérias décadas, $filesofia analitca adotow a forms tenia de uma rigo: rosa analiseIogiea das propesigbesfilosficas, reeorren- do a teorin da guantifcacto 4, 0 estimulo neopositivista ao gio lingiistico Seguindo 0s conselhos de Frege, o jovem Ludwig Wittgenstein (1889-1951) decid ir estadar com Russ em 1911 ¢, poweos anos tas tarde, publicoa um fivro, 0 Trotado logico-ilaséfco (1921), que imediatamente exer ‘cri una inflncia profs sobre um grupo de ildsofos © entistas austringosealemes preoeupads em dar umn ot- ‘entago cilities ao pensamentnfilosien em acabar de Finitvansente com as especulagdes ucramente metafsicas Bases pensadores formant um coléyio Hlosifico ~ 0 ‘Cielo de Viena!" ~ ¢lancam, em 1929, um manifesto programstico fortemonteinspirado pela tose de Witkgens {ein- Eles esto convencidos de que a inguaigem coma & tom pessitno instramento para expore diseutirassuntos fi- Tosoficos, e também para construiruma visto cietifica da realidade. A seu ver, mites dos flsos problemas em que Eeeuvolvem os fiosofos fm grigem em ut uso pou tgoroso da linguagom; grande parte das formulacies Tosbficas no tem sentido devido ao uso de uma lingua- gem insficentement formalizads;eaté mesmo os enun- Ciados cientificas ~inadvertidamente, mas com dems- Siada freqiéncia ~caem nas indmneras armadilhas da fin- uagem covidians. 28 1.0 gio Ungistico” Portanto,o problem que seria conveniente solucionar para que pudéssemos avangar na diregdo de uma explies- (fo centfies da mundo e para acabar com a vacuidade da Filosofia herdada é, defnitivament, wim problema de lin ‘guayem Para tr garanias de cientificidade& preciso re formar a linguagem usando todas os recursos tecnicos da nova Togieae submetendo os enunciadus um exame rio: ‘oso para avaliar sua consisténia ldgica,transformanido- ‘0s em “proposigdes ‘Como bem se sabe, 0s positivstas 1bgicos do Circulo de Viena postulam que 86 exist dois tipas ce emuneia dos vilidos. De wm Jado, teriamos os enunciados Kigico-matems- tices (enuneindes“analitcos"), que so absolutente cor zetos quando hem Formilados mas que nfo os dizem nada sobre a realidade empirica. De out, estaiam os enuneia dos empiricos (enunciados “sintéticos”), que versam 80- brea realidade mas que so poslem ser aceitos como emu ciados vilidos se foram verifcados, eserupulosamente, ‘or experiéneias bascadas no “mécodo cientiico”. Todos fs outros enunciados, que no sejam estritamente unaliti- 0s ou sintticos, mio tém sentido, Em sutta os posifvistaslagicos acham que é preciso dizer ag coisas “bom” (sem ambigtidades nem omissées Tgicas)e que 6 preciso também dizer coisas que estejam ‘bem’ (ou se, de aoordo coma ralidade empiri sobre ‘a qual estamos falando). Apés 0 estntulo que the foi dado por Frege, Russell, Wittgenstein eos neaposiivstas, a importinea da ling _gemnto parou de rescer do inicio do sévulo XX atéavés- pera da Segunda Guerra Mundial, cupando o lugar da f= Tosofia no-hegeliana que domsinavaaInglatera € compe: 29 Tomas Ibex Gracia Lindo seriamente eom 0 neokantismo € a fenomenctogia bnraizados nos paises de Hingua germinica Depois da Segunda Guerra Mundial, giro lingistico se acentuara sna mais, diversifieando suas expressées, ‘vdtando novis todalidades e ampliand sua éres de in- fluéncta até atingr os Estados Unidos, onde vria a alean- fgarum dotninio hogembnieo no imbitofilosético. 5. A expansio da filosofia analitica e 0 auge da {Tea que se expandiana Inglaterra durante os snos 1950, a {lando a acennara importincia que envolve tanto a ings gum quanto sen estado conjuto das cine soci (0s “flésofus de Oxford, entre os quai se destacam, por exemplo, Gilbet Ryle (1900-1976), John Austin (19) 96), Peter Stawson (1919) ou Paul Grice (1913-1988), oncerdavans plenamette com Bertrand Russel com ses Coleuas topieisis em Cambridge com relago a um rep Grow tradigiocartesiana também necessiade de passa de uma "ilosofi da eonseiénls para vos “flo itis da linguiagem”. Mas os pontos de coincidencia 80 fam muito mais além desse aspecto e ram intensas 80s ‘Sivergencias sobre quase todo 0 reso, (0s filésofas de Oxford, por exemplo, opunham-se _gorosamente nd s6 20 positivism e ao cienfificismo que Repreynavama cortente logiist, como tribésn 4 preten- aay fo togiciiro de eonsiuir uma Tinguagem formalineste Shatacdvel, Quer esta linguegem no pars demons: (oar suas iraperfeigbeslpicase corigi-lase sim, simples reno, pa entender ss mecanismos. Mas opus, ripretado, preiensio de redurir a ingwagem a uma mera fungao de desrigao ede representagio do mundo, 32 1, 00 lingo” ara ces, iqueza da linguagem cotidiana ulrapasss- ‘va, em muito, a fungi descitiva,e se diversificava em Tums enorme variedade de vss ede fangs to importan- tes quanlo a propria fingio descritivo-representacional. ‘Nao se tem acesso, portant, 20 fuscionamento do pens ‘mento humano, analisando fio-Somente a estrutura Wogica oes qual se pia as Finyuasnaturaise sim €noeessi- Ho contempt todos os usos a inguage se querentosen= tender tanto nossa forma de pensar quant nossa forma de faire a manera como ns flacionamos com as pessoas Frege, Russell, o Wittgenstein do Tratado...Camap ¢ (0s filésofos analiticos norle-americanosromperam com & tradigho cartesiona, fazendo-nos pereeber que a lingo {gemngo é um simples veiculo para expressarnosss 8s, Shem uma stnples roupagem para vest nosso pensemento ‘quando o manifestamos publicamene. Ela $a propria com digo de nosso pensament e, para entender esse imo, {Gos que nos concentrar us carateristeas da linguager fem vez de contemplar o suposto mundo interior de Hos Sas ideias. Nosso canhecimento do mundo no se radica nos idéian que dele fazemos; ele se abrigs, sim, nos ex tiados que a linguagem nes permite constr pare repre sentar ¢ mundo, (0s fidsofos de Oxford acentuaram ainda mais 0 af's- tamento da trig cartesian, ensinando-nos que 8 lin [poagem faz muito mais do que representar o mundo por fue é basieamente um instramento pare “fazer coisas”, A Tinguagem nio s6 “faz pensasento” como tambem “fitz roalidades” ‘Assim, por exeiplo, John Austin mostraia que ali ‘guogem também ter propriedades "performativas”. Com feito, certos enunciados constituem literalmente “ats de Tinguagem” & medida que sua enunciaelo¢inseparavel da ‘modificasdo ou da cringe de um estado de coisas que nio 2 Toms Ibe Gracia poderia surgi independentemente desss enuneiagZo. Por exemplo,o “sim, quero” proounciado no aio nupeial pr prio de certs rtas & um elemento necessério para que o Jago matrimonial sea institu, ‘Dessa maneira Austin abr caminho para o desenvol- vimento da “pragmdtica”,contribuindo para que 0 conjun- todas cincias sociais humanas se conselentizasse de ‘gue a lingnagem & um insteumento avo na produgae de ‘nitos dos fendmenos que essas ciéncias pretendem ex plorar e que, portanto, seria impossivel deixar de levi-la ‘em consideregio. 7..0 impacto do giro Linguistica nas ciéncias hhumanas e sociais Assim como o giro lingistico nfo teve uma origem dlfinida, mas foi-se articulando progressivamente, & as- sim também como nfo se revestn de ma finiea modalida- de, mas foi adotando varias configuragoes, seu impacto tumpouco ocoreu simultaneamente nas Virias eignciasso- «ais e humanas nem as afetou com a mesma intensidade ‘enem adotow uma expresso uniforme. Distinguiremos, aqui, rs linhas prinipais de infutn- «ia: O impacto da lingistica estrutural;b)O impacto da correnteanalitco-logicista,¢) O impacto da correnteana- Utica centrada ua lingusem cotidiana. 8) O impacto da lingistca estrutwral—0 sucesso ob- tido pelo estado esteutualista da Lingua no demorou & it as demas cigncias humanss © socinis. Em poucos nos alinghistica moderna tha conseguido se constitu ‘em uma discplina totalmente auténoma, com um objeto de estudo proprio, cluramente delimitado, dotada de al- uns conceites claros e rigorosos, ¢ equipada com uma tnetodoloya eficaz, baseads em alguns provedimentos fr mais que asseguravam altos niveis de abjtividade “ 1,0 "gio Uingtistico” Em suma,alingdistica de inspirago saussuriana apre- ssentava essa imagem cle cientificidade com que tanto s0- ‘nhavam as demais cigncias socais e humanas. Foi assim que, gradualmente, fai tomando corpo aconviegio de que 2 linguistica moderna era 6 modelo que todas as outras, cigncias sociais¢ huuanas deverian tentar copia, fos- se através do estabelecimento de analogias entre seus préprios abjetos de estudo ¢ as estruturaslingistieas, fosse aplicando os métodos da lingtistica para investigar cesses objetos. ® Talvez antropologia tena sido ciéncia em que esse feito mimic se manifestou com maior nitidez. Com efei- 1, a preocupago com o fendmeno da linguagem no esa nenhurma novidade em uma antropologia ein gue os taba thos de Edward Sapir (1884-1939) on de Benjamin Whort (1897-1941) j inham chamado atengo sobre o papel que lingua desempenha na constituigao de nossa visio do rmuride, Mas foram os trabalbos de Claude Levi-Stauss, nascido em 1908, especialmente aqueles sobre a estratura dos mites, que estimularam uma grande parte da antropoto: aia buscar diretumente su insprago nos concetos e nos todos da pripria linglisica estrutural ( prestigio aleangado pelas obras de Levi-Straus ser ‘vi como um amplificador para ailuéncia exereida pela lingtistica modema, contribuindo pars o desenvolvimen- tode ums corrente de pensumentorigorosa que, sob a de~ nominagfo de “estuturalismo”, durante mais de uma dé «cada (de meados dos anos 1950 at fnais dos anos 1960), percorreria as diversas ciéncias sociais e humanas, com {ncidéncia especial no mundo de lingua francesa slstca em termos de “lingtisicn generativa”, longe de atenuar a fascinaglo que a ingisticaexercia sobre asc 35 Toms Ibdhez Gracia cas sociis¢ humanas, a fortaleceu ainda mas, proparcio- ‘nando novas motiforuse novas analogiss que alangatiam ‘espeial reievancia em diseiplinas come a psiolingisti- ‘ca, 04 em arientngBes como a psicologia copnitiv. Paralelamente 0 efito mimético produzid pela line gistcas estruturas e generativs, a importincis concedi- dda Finguagem se alimentaria também de alguns dos de- ‘envalvimentos da fenomenologia, especialmente da fe- ‘nomenologia heideggeriana. Segundo Martin Heidezees, (1889-1976) somos vitimas de uma taigoeiailusio ego céntrica quando acreditamos ser donos de nosso discur- 505. quando consideramos a limguager como simples ins- ‘rumento que se encontraa nossa disposigdo para ser mani= ‘ulado& nossa vontade. Na verdade, € propria Linguagem ‘que mands em nbs, causando, modelando,consirangendo.© provocando nosso discus, tl ponto que bem se podria tizer que € a linguagom que fala através de nds, Consideragies desse tipo, somadas & influéncia do penstmento estraturlista e @ decadéncia da filosofia da eonseiéne, levariam parte dos pensadores da segunda ‘motade do séeulo XX a decretar “a morte do sujito”,re- ddurindo-o « um simples “efeito da lingusgem”, Assim, ‘por exenplo, Miche! Poueault (1926-1984), emseu famo- slssimo texto sobre “A ordem do discurso,epontaria para ss conseqitneins co poder que emana da linguagem e que ‘capfura seus usurios em suas redes. b) 0 impacto ds corrente analitico-logicista ~ Res- ponsével peo inicio do" gir lingistco” na losofia, essa ‘corrente tem o mérito fundamental deter contibuide para ‘orientar 0 ponsamento contempordneo na deco da pro blemitica da lingnagem. Porém, curiosamente, &possivel também atribuir-he outro mérito, que € resultado de seus prOprios fracassos mais da que das vitbrias que obteve. Na verte, a malograda intengio de demonstrar a validde 36 1.0 “git Unghistio” ‘dos postulados neaposiivistas teve come importante con= seqiéncia ade permitir ceria “liberalizagio'” das ciéncias Frumanase sociais.E ici entender o motivo para isso: en- ‘qvanto petdurava a erent na unieidade e na validace ab )_._ soluta do “métode cientifco” terizado pelasvirias vari- 0 “antes do positivism, seria fei delegiimar qualquer ten 1 atv de realizar investgagSes nas eiéneias humanases0- “olais que nio se ativessem eserupulosamente as regras sstabelecidas pelo credo positvista. A demonstrada inde- {seat esse creda abit a porta para um plurals ma metodolégicoetebrieo que permit um enriquecimen- jo das cigncis sociais ¢ humanas como um todo, atenuando a pressio exereida pelos fundamentalis- [mos eientifiens. ©) 0 impacto da corente analitica centrada na lix- _guagem eotidiana — Os filésofos de Oxford nio s6 conti= ‘buiram para que se desse mais énfase a ateng0 que se ove dar a0 fendmeno lingistico para que scja possivel compreender o ser burnano e suas produgdes, como tam- ‘bém provocaram uma reviavoita radical no proprio con- ‘eto da inguagem, proporcionando umn novo status pro dugdos lingistcns. Essa roformulagao conccitus da natu reza das fngbes da lingungem produsiv efeitos impor. ‘tanos eduradouros no campo das vas cignciassocais e ‘humanas, estimulando-as para que modificassem drastica- mente muitos de seus projetos ede sua mancira de abordar (08 varios objetos de seus estudos. Citaremos aqui quatro grandes linhas de infiuéncia: (60 1 Emprimeivo lugar, rofanda cites que os il6sofos ‘de Oxford fizerain & concengfo puramente “representa [> clonal” e “designativa” da linguagem deu lugar a uma re- ‘consideragio radical da prSpria natureza do conhecimen- 1o, tanto cientfice come ordinaio,e também a uma refor- When 7 Toms Ibier Gracia mulago da relagdo entre conhecimentoeralidade, final- zando por redefinr proprio conccito de relidade ‘©-conjumto desssreformulagdes contribu para ode~ seovolvimento de uma importante conrente de pensamen- to que questionow mites das certezas consideradas indi cotivels desde a époea de Descartes e muito especialmente fr certeza de que existiam buses s6lidas ¢ finmes, ¢ usa Findamentago kis, soe as quis se assentaria.o co- rhecimento vilido, A erosto dessu certeza deixou claro a Fragilidade dos esforgos para encontrar urna fundamenta- ‘go indubitvel, realizados durante séculos,e rediecio- foto trabalho floséfico para outs assutos, De-esta forma, seria possivel dizer que a critica oxfor- diana &concepyao “representacionalista” da linguagem se ‘estendeu, através da rlagio estabelccida entic eonheci rnentoe linguagem, 8s cancepySes representacionalistas {do priprio conhecimenta aos ertérios de “a verdad” jque as acompanhavam, permitindo a revitalizago do le todo progintista eo auge de uma filosofia neopragmatis- fa, estimulada, entre outros, por fildsofas da estegoria de Richard Rory (1931+). ‘Como as cigncias sociis © humanas nio sio imper- rmedveis ds contribuigSes fits dentro da filosofia e muito tspeciaimente dentro da flosofia do conhesimento © da pistemolagia &focibmente compreensivel que ex todas ‘ssn ciencas tenhams desaparecido algumas corentes que tontavam dosenvolver suas investigagdes e seus projetos fem consonaneia com as formulagdes ni representacio- nalistas do canhecimento cienGco. ‘Em segudo gar, e paralelamente i critica a0 repre sentacionalismo, a insistineia ds excola de Oxford em fonsiderar a linguagem ens termos de “atvidade” (a Lin- ‘guagem faz coisas em woz de apenas “represents” som 38 we ‘i 1.0 "gir Unghistica” divids contribuiu para © desenvolvimento das eorrentes construconiatas que surgizam e se consolidaram em vi tas cieias sociais¢ humanas. Decertamancita, ¢ posive dizer ques contibuiges de John Austin com rela ao cater “performativa” de deteininadas produgdeslingsics se etenderam, neste ‘aso também, ao conjunte da Tinguager,plasmando-se ‘xmla pela qual “dizer 6, também e sempre, 222". linguagem se nstila asim coro “oo i sas, mais do gue meramente “descritva” delas, deixando {de ser palavra acerca do mundo para passara scr ag30 30 bre o mundo. A linguagem nfo s6 nes diz como & omn- i, el tambéin o institu; eno se Fimitaa refer as co 585 do mundo, também atua sobre elas, partcipando do sua eonstituig, f ‘Gauge da concepgd0 “ative da linguagem tevereper- ‘eussbes importantes em disciplinas como, por exemplo, & Psicologia social, onde investigadores como Kennet Ger fen ou John Stoter esti, aualment,estimulando uma ‘poderosa correntesovioconstrucionisa, ou onde Michael Dili, Ian Parker ou Johnathan Potter, entre outtos, estBo desenvolvendo o prolific campo da “andlise do discur- 50”. A peicoogia evoltiva ou a pseologia clinica nfo fi- ‘ara theias a este movimento constracionsta ediseur- ‘ivo,e0mexmo ocomen no caso da antrepologia da hist risou dasociclogia para citar apenas algumas das dscpl- nas que fazem pate das eigncia sociais ¢ humanas. Pderiamos apresentar uma infinidade de exemplos para ilutraro impacto ue essa nova concepso da ingua- fom teve ns fomlagdes mais ats das vias efénias Socials e huunanas, mas nos finstaremos a asinalara pro- finda renovagio porque passou, porenemplo, 0 estudo de idenidade ou dose" pelamo deautores como Chatles Taylor (19314), ene outos. 39 Tomés ther rac Para Taylor, nossa identidade esté fundamentalmen- te determinada pola linguagem que utilizamos para refe- ricnos a nds mesmos e para forfar nosso “autoconecio". [Nio existe wma reaidade subjacente, um “eu” profundo & pessoal, susetivel de ser desonito de isias maneies, ee 01 Tendo a vocabslérios dstintose a distinas expresses line ‘Blstica:o que sim existe € 0 proprio vocabulério que wii ‘za para me descrever a mim mesmo eas expressbes lings ‘cass quai recor para fa-lo so constituntes¢ coast tutivas de mina fra dese; elas no explicitam ou exp ‘eam minha manera de se, pelo contro, a conformam. Em outas plavres,o meu"eu” no €independente de ‘como 0 vivencio quando o interpret lingisticament; 20 ‘contrério, ele € resultado dessa intorpretagto. Qura forms deme dizer" mim mesmo implies ums outa concep ‘de mia mesmo, ¢ss0¢ importante porque ocorre que 7- ‘ha concepsao de mi mesino € constittiva daquilo que sou, 880 fem repereussBes importants, fanto para a con- ‘dapio de investigagses sobre aidentidade, como para de- fini essa reafidado snbstantiva que € a identidade Em ferceira lugar, cabe ressaltar que, tt quanto “ago sobre o mundo, «linguagem é também, © conse- ientcmente, “aglo sobre os dems” chegando, inelosi- ‘Ye, a consttuir um dos principais instumentes a0 que f= ‘coretos para incidir, om maior ou menor Exito sepa ‘do as creunstineias, sobre nossossemelhantes. Levar em consideragio exsn propriedade da linguagem contribuia pera renovaro interesse que Aristitles jd tinbe demons- trado pela erica, em assim come para aviv # seusibi lidade com relagao a0s efeitos sociopoliticos ¢ psicold- sicos que ensanam das virias pritieas discusives, éando lume atenglo especial, por exemplo, as constugdes Iin- _g0iaticas sexisias, “racistas” ou que estigmatizem de um ‘modo ger. 40 oe : 1.0 "gio inguistio” © renovadio interesse pela anise dagueles proc rmentosretiricos em que s apdiam as diversas produgbes discursvas, inclusive © discuso cientifico, permitiu de- ‘monsira, nfo 36 as estatépias argamentativas prOprias os viris tipos de discurso © 0s efeitos poderosos que se ‘cultam na estrutura discursiva, como também os atificios retéricos questo usados para crarrealidades diversas. ‘A sociologia do conhesimento cientific, por exem- po, re1ovou os estudos da einea,recorrendo, com Bri rho Latour entre outros, a andlises desse tipo, para expli- ‘caro papel, nada desdcahivel, que desempenham os pr0- cedimentos retdricos na eonstituigio dos proprios "fa- (aF" cientifios. Finalmente, em quarto lugar, ocomre que, se a lingua ‘gem & constitutiva de realidades e €unv instrumento para farnos sobre o mund, inclosive sobre nossos semellan- tes, devenos esperar que cla incida tambsim sobre a confor- smago ¢o desenvolvimento das rages soca e das pit ‘as seins, Correntes amps inteessantes da soctologia foram particularmente sensiveis a ess fato, desde ctno- ‘metodologia, com suas anlises minuciosus dos converses ‘cotianas, até as soviologias qualitativae interretativa, Em sum, no final do século XX e comego do século [XXI, a diversidade e a riqueza das perspectives nascidas tanto do enfoque sobre a linguspem quanto, « sobretudo, da nova compreensio que femos del, sf0,no mini, im= pressionantesnaratividade ilogismo, eanenéutica, cons trugio, andlise conversacional, andlise do diseurso,andli- so erica etc. Pouca & pouca, linguagem foi se tomando wm fend- ‘meno que nenhuma das cine soeiais e humanas pode ‘evitar quando empreende o trtamento de seus objtos es- pecificos. Mas, além disso, a lingwagem aparece também a Toms ier Gracia ‘somo um elemento que todas. a eins humans sociais ‘an gue inetropar para estabelecer seu proprio statu eps {emoldgieo e para forjar um entendimnento de si mesmas 28, Perspectivas para 0 amanha 4 inicindo o séeulo Xt, devemos nos perguntar se 0 sir Tingtistico” com v qual tev eameso 0 séoulo pasa do nos reservar alguma surpresa e se as primelras des {as do novo século acentuario ainda mais. centralida de da Finguagem au se, a0 contro, 0 gir lingtistico” conheceri um period de refluxo, sendo substtuido pela emergéncia de algum giro novo. ‘Como ude dispomos, obviamente, de enum bola de cristal usna, as rellesSes a seguir devem ser consider das apenas como conjectuas, imidas¢inseguras, que pO- lesa ser dosmentides pouca tempo depos de terem sido ‘enunciadas, Mas, enfim, hoje sabemes que nada & seguro hem definitive, Nem mesmo o passado esti eseito para sempre, porque, camo muito bom observou Dante, parte frevé-lo coin seguraiga faanbém teams que Conheces todo o futuro, Portanto, podemes apenas ariscar-nos @ ‘manifestaralgumas consideragdes, que por simples pr ‘éncia redaziemos a duas¢ que indicam a possibile de um giro “pés-lingistico” Em primeino lugar, os desenvolvimentos extraording= rios daquilo gue alguns chamam de “a nova fisica” mos- fram que nossa Hinguagem & um instrumento tito gro Seino para abarear foda a realidade que somos eapazes de onstmuit, Com efeit, nds, 08 sees humanos, formainos nossos idiomas com base em uma determinade "relagio com o mundo”, Essa “relag3o com o mundo” estabolese tum espaga tridimensional habitado por uma variedade de “ohjetos”cujaspropricdades se definem com base em nos- sos miceanismos sensoriais © porceptives amplisdos por 2 1, 0"giro Ungtistico” ‘nossas capacidades de anlis,absteago ¢ generaizag. [Nesse mundo, 0 tempo eo expago constituem realidades dlivididas que correm por leitos separados. Nossos movi smentos, gosto eagdes sobre essa roalidade, que como & Porque nés somos como somos fi forjando noss0s eon- ‘eltos ea esirutura lbgico-lingistica que os constitu De finitivamente, nossa linguager nasce de na relago com ‘o mundo feta & medida de nosso compo e de suas earsete- Fistcase a ela retoma. Por isso tems a iusto de que cla ‘desereve 0 mundo “tal como ‘Mas as aividadesinteletivas do ser amano no se conformaram em explorar 0 mundo estabelecido apenas saravés de seus mesanismas sensoriis‘perceptivos e de suas aruagdespriticas, ese estenderam para fora do mu doe além da “escala humna” até 0 maerocosmo até 0 ‘microcosm. Ambitos esses onde a oalidadejé no pode ser construida com base em uns linguagem “satura” su ida de coordenadas mesocdumicas, ou sea, i escala do corpo humano. ‘O resultado disso &que certs construgdes intelectivas, tais como, por exemplo, a mesinica quintcae, mais pre cisamente, "a tearia dos campos quanticos" desenhars um ‘mundo totalmente oscuro para nossa linguagem e, por- ‘tanto, para nossarquitetura conceitual ‘Tratase do um mondo onde, por exemplo, “es ubje- 10s" se convertem em “propricdades dos objetos™ (un cor- ‘isco pode se transform em puro movimento} condos Propriedals des abjetes podem so transformar em outros jbjots (a energia pode se converter em um corpisculo) ‘No mundo quiintico encontramos objetos que noes ‘80 localizados com previsio em nenhum seginento espa go-temporal definido, mas que tampoueo podem ser con- Ceitualizados como ondas porque nfo ha ncolum mefo em que se propguem, Iso significa que & nosso préprio cn- 3 amis Biz Gracia ceito de objeto que deixa de tr sentido para designar ou pensar # enidades que projetamos no universo quintco. E, apesttdisto,essascntidades existem efetivamente, na tmadida em ue podeias operar com clase sobre elas, ‘Guaue elas produzem efeitos priticos que nossas tecnolo ‘Gas wtlizam cada vez mes -Eneontramo-nes, assim, diante de enidades que nfo se deinain “dizer” através de nossa lingusgeme quando as studamos temos que transcender nossus eateyoris lin- tistieas para poder produzir resultados cientificamente ‘alisos © com utilidade pritica. F mais, essas entidades fe constrooin como produto de expressdes matemsitices Complexas esto, por assim dizer, aconclusio sobre qual ‘esemboca um puro formalismo matematico. ‘A realidade subatomice parece sor outra realidade que nosst linguagem nso &eapaz de deserever oude constr. ( giro lingistico mostrou claramente © papel que a tinguagem desermpenta na formagso daquilo que chama- tos de "a realidade"; mas, sc eonstruimos certs realida- ths (por exernplo, a tealidade quintica) usando procedi- entos ue esegpam do Ambico que a finguagem C eapaz {Ge abranger, parece que deveriamos abandonar a famosa so de Witgenstcin segundo a qual “os limites da zuagem so of limites de mew mundo”. se foto pode possibilita a emergéncia de um neopi- agorismo (a erenga na realidad fitiea dos nimeros, das ‘cxpresses matersitcas ena qual arealidade é em lima ‘hatinca,stmerol6gica), permitindo um “gio platnico” {que volte asitusro mundo das "iéas” em um lugar privi- Teeiado arrinando oesforgo para acabar com esse privik tio que 0 “giro lingistico”representou, ‘Bm segundo lugar, pareve quo ainsisténcia com a qual ‘chopennaver (1788-18650) e, depois dale, Niewsche (1844; 4 2.0 “giro Ungutstio” 1900), dram énfaseimportincia do compo, de nosso cor. po, para o desenvolvimento de nosso pensamento, est ‘euperando sua importincia, "Minhas iias melhores”, di- zi Nictesche, “suxgom quando earinho”. O gto Ings t5eo" conteibuin para o sucesso da afimmagao seyundo ‘qual nosso “ser no mundo” descansa sobre uma dimensbo hhermeneatica inevitivel. A interrotaglo ¢ formativa da guile que somos e nto pedemos chegar a ser independen- femente de nossa atividade interpretativa. Essa aftmasao parece razodvel, mas “giro lingistico”privilegiou o pa jue a linguaigem desernpenha na dindmica da intexpre- fag, enfatzando a centralidade das prticas discursivas no processo hermenutco. [No enfanto, também construimos vm sentido ineivel, tambsm nosso corpo opera como gerador de significados ‘quenio se deixain pret no interior do eign lingdist= ‘coat, no minimo,cabe considersr que o que nosso corpo ‘yvenea orienta algumas denossas intepretagdes, No 56 temos que expanir 0 campo da hermengutics para oespa- ‘50 das priticas “no discursivas” como também conte plara corporificagio das prévies disoursivas, 0 redescobrimento da corporeidade pelo peasamento do Fim do século pode contibuir para possibiltar um novo, “naturalism” que diminus a importancia que oséculo XX. concedeu & linguagem. Essas consideragdes sabre um possivel esgotamento 40 “giro lingiistica devem ser consideradas como urna simples digresio que, paradoxalmente, pretende ser fie! ‘0 esforgo que 0 “giro lingdistico” acaretou, Aqueles ‘que captaram um dos argumentos bésicos dessa parte da em seus primérdios, om uma tradigio secular centro ‘da no estudo do "mundo das idéias",rmando interior epri= ‘vado, e orienta a obra filsdiiea para oestudo dos enunci- 4os lingstcos. Isso significa uma profunda modificagio ‘em tiossa concepeo da inguagem, pois essa deixa de ser ‘considerada como wm simples meio para traluzir ou ex pressar, de melhor ou pior forma, nossas iis, para ser ‘considerada um jnstromento para exereitar nosso pens ‘mento e consttur nossa ideas A Tinguagom éa praia eondigfo de nosso pensamen- to, a9 mesmo tempo em que ¢ un meio para representa a realidad, O “giro lingtistico”, portato, substitu a te lagi "idéiasimando” pela relagia “Tinguagem/mundo” & afi que para entender tanto a estrutura de nosso pense ‘mcnto panto o conbecimento que temos do mundo € pre ferivelolharpara.aestrutur lgica de nossos discursosem. voz de esquadrinhar as interioridades de nossa mente. ‘Mas este capitulo nos easina também que 0 tlstco” possbiiton, no transcurso de seu proprio deseu- 46 1.0 gio ingistice volvimento, uma segunda moditicaglo de nossa concep- ‘lo da linguagor. Bssadeixom de sr vista como unm reo ara represenararealidade e passon aserconsiderads umn Jnstrumento “para fier coisas”. Junto com suas fangs “deseitvo/representacionas” a lingoagem iia adguiir, portanto, um cariter “produtivo” e se apresentiva como tum elemento “formativa de ealidades” (© capitalo tent lustarquais foram as virias influén- cis que essas novas concepsdes sobre a natreza da lin guagem tiveram sobre as eoncepgdes do conhecimento & a ealidade, como também, em um plano mais especifco, sobre as orentagdes eos objets de estudo da visas citn- cas soci e humanas, Glossirio Atos de linguagem: expressio eunhada por LL. Austin para se referit ds expresses lingsties que devem ser ‘uncial explicitamente para que uma realidade de- ferminade posse se configura. Por exemplo, a expres- slo “sim, quero” deve ser pronunciaa em dtermina- dos rituals para que o matriménio sea estabelecido, Performaividade:propridads que determinados enunci- dos lingistios t2m de afeta a canstrusio de realida- ss. Em doterminadas concengdes da linguagem, essa propriedade, inicialmcnte linitada a um tipo de expres- shes linglstieas, passa a ser cousiderada goneralizivel &Dingusgem como um todo, Pragmética: parte da lingistica que se dediea 20 estado os usos da linguagem comum ¢ leva em consideragao tanto os contexts como os efeitos, no dietamentelin- atistcos, que envolvem priticas diseursivas concretas fu que delas resultem, a7 Tomds Ihr Gracia Proposigdo: expresso lingistica convenientemente rmalizada de aconio com os procedimentos da 1égica ‘moderna para que se possa estabelecer seu “valor de verdade” Representacionitno: dovtina files6fiea que postula uma Telagdo de correspondéneia entre o conlecimento © a realidade que vai mais alm da simples utilidade pratiea do conheeimento para operar sobre a realidade. Nessa dloutina, supbe-se que o conhecimento vlido represen- (a ficimente a realidade © que é possivel demonstrar a correspondacia entre conhecimento ¢ realidad. Bibtiograia AUSTIN, JL, (1962). Cémo hacer cosas con palabras, Barcelona: Pais, 1998. BRUNER, J. (1990), tos de significado. Madr: Alianza [19911 D'ESPAGNAT, B. (1981). busca de fo real: ta visin de wn fisico. Madi: Alianza Universidad [1983]. DOMENECH, M. & TIRADO, FJ. (1998). Sociologia st. ‘metrica ~Ensasos sobre ciencia, teenologiae sociedad. Barcelona: Gedisa. FOUCAULT, M. (1970). El orden del discurso, Barcelona: ‘Tusquats {1973}, ORTOLIS, S. & PHARABAD, J.P. (1984), Ef einico de {a enintica. Barcelona: Gedisa [1997} RORTY, R (1979). La flosofiayelespejo de la naw: 24, Madi: Citedra [1983] RORTY, R. (1967). El giro linglstico, Barcelona: Pai- désICE DAB [1990] “8 1,0 gio Ungisteo” Leiturescomplementares BRUNER, 1.1991, Aco desgnficdo. Mad: Alianza. Escrito porum dos mais eminent piclogesconempo- inees, ess lio & uma expendi asragio do 0 Tingistico no dmbito da ptclogin DOMENECH, M. & TIRADO, F.. 1998), Soctolgia Imire Ensasorsobr cinco, tcenologiny'soctedad. 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