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REVISTA INSTITUTO HISTORICO E GROGRAPHICO BRASILEIRO Fundado no Rio de Janetro em 1888 TOMO 92 — VOL. 148 % 7% & RIO DE JANEIRO IMPRENSA NACIONAL 1926 No Instituto dos Bachareis em Letiras, que se inaugurou nesta capital om 4864, ha 60 annos, sob a presidencia do bacharel Antonio Maria Corrta de Si © Beneyides, entiio simples sacerdote ¢ depois inclyto bispo de Marianna,—nessa aggremiagio de jovens estudiosos de antanho, logo em 1865 teve o director desta “Revista” occasiio de lér 0 trabalho intitulado — “0 pulpito no Brasil” — obra de seus 19 annos de edade © por isso mesino sujeita a imperfeigdes de férma e talvez de ponderacdo writica. Foi publicado o referido trabalho em 1867 no primeiro © unico volume da “Bibliotheca do Instituto dos Bachareis em Tetras”, — livro que dentro de poucos annos se tornon varo. Esta circunstancia induzin yarios bondosos collegas do nosso Instituto a reclamarem a sua insercio nesta “Revista”, como documento que algo tom de historico. O director da “Revista do Institute”, si bem re- conheca que em similhante reclamac%o manos impera a justica do que a benevolencia, no tem o direito de resistir-lhe ¢ insere no presente volume esse trabaiho da sua mocidade. Ni devendo altera-lo na substancia, limitou-se a ligeirissimas correcedes de fémna, e elle ahi fica como simples prova de que seu auctor desde os verdes annos amou as cousas da Patria. Esla reproduceao 6, pois, filha da ohediencia, e nada mais; relevem-na os leitores. Vagar nfo houve para 4 ampliar, e sobrou eserupulo para a modificar, como lalvez merecesse (Da pineccto.) Q PULPITO NO BRASIL 1 A Bloquensin sagrada que um auctor eatholico denomina ® eloquencia de todos ns tempos, de lodes os governos de todos os paizes (1); @ Rloquencia sugrada, que foi desconheoida Ra antiguidde © nio apparecen «infio com o Evangelho, 6 sem duyida alguma a que mais espago concede aos talentos © n0s genios. A raxfo & simples, Nao citounsoripta em limites acanhados, mas livre © sem Darreiras; tendo por bass os prineipios de uma legislagto ‘Dor excalieneia jusi« e harmonica, porque dimana do principio de toda a tarmonia—Deus;—visando como fim ultimo @ sempre a propagacio da verdade; indo provurar suas victorias ¢m regifio elevada, e fazendo consistir seus trophéos, mio em ‘balmas passugeiras ¢ caduens, sindo em glorias immorredoras © eslaveis, a Hloquoncia sagrada offerece ao espirito cultivado um campo vastissimo © Inexhaurivel, embora nio soja seu texto mats que — Deus ¢ a Garidade. Como bem diz Chateau briand, nfo the sfo precisas as cabalas de um partido, nem emoces populares, nem grandes cireunstancias para brilhar; Pa paz mais perfeila, sébre 9 atmide do tals obscuro oldadao, ella acha seus mais sublimes movimentos, sabe interessar por uina virtude Ignorada, e faz correr lagrimas por um nome, de quia nunea se ouvin fallan: ineapar de temor © de injustiga, ella da licedes aos reis sem insulla-los, consola os pobres sem Hisongear-Ihes os vieios, ou corrige o desvarios dos grandes Sem animosidade, 1 por isto, sobretudo, que a Rloquencia sagrada, dizemos nds, se leva tanto aclma da Bloquenoix Ju- (1) Chateaubriand em ne — Genio ao Chriatiantams —, 10 EVISTA DO INSTETE'O HISTORT disiaria © polilicn e & nisto principalmente que ella diverse Ga Eloquencia antiga, Daqui se ¥@ que nfo concordamos corn LacBraybre que as distingue 36 por essa tristeza evangetica, ie revesto ¢ characteriza as palaytas proferidas no pulpilo. Nao { Muito elevada esti esta trina sobre aquellas, para que sus distinegao nada mais seja aie uma simples roupagem de tristern; @ distancia, que separa o orador sagrato do profano, muito grande para que se differencem por Vio pouco. A distincedo verdadeira 4 « fonte, onde aquelle se inspira, éo fim diverso @ que ella (ende, e 6 meio de que se Serve, para‘ aleancar seu desideratum, © primelro inspira-se na te~ Higito, o nfo tom sinfe como reaées secundarias a politica & ‘as cousas da terra, que sto para o orador profano os primeiros Thovels de Etoquencia: o orador sagrado olla para o eéo, o tem por desideratum anniquilar as paixdes, serenar os espirilos. Guande muito, despertae um seatimento christao, enquanto cMeundo faz consistir seu trinmpho no abalo desks mesinas paixies, ¢ da por completa sia missia quando agita as onlas populares, nik perturba o& coragbes; @ ovador sagrade enfim Kambate as movimeutos désordenados do espirite, para. con- Guzi-lo, ou analysa ae fraquezas humana: para destrut-las, emquanto o orador profano sopra o fogo dos, sentimentos energieos para arrastar, ou faz alavanca das contradiegdes do homem para persuadit (2) . Diagui procede immediatamonto a superioridade de uma sdbre oulra tribuna, e a nobreza que characteriza sempre o fm quo #0 interpreta @ palavra divina; d'agui procede enfim a vantagem que, para os grandes rasgos do genio, tem a Elo- (2) Vesu-se 0 que diz Cormentn a este reapelto, faxendo © paralleic do orador profano ¢ do oradOr sngrado: “O ofador christfo, dix elle, ‘Ramen com seu amor todo 0 gontre humane, Ble curva-se para lavar oe pée dos pobres, para erguer o¥ que supplicam, para tocar ax hagas Reaterosae don pomiferos, lle nquece ein seu lor or wrercripto arro- Sadew 4 terra pela tempestade das revolugier, ¢ dese sey manto para a eirtios. Eile atira-se entre om guerrelcos, Cin horror ae sanauo; mio ‘he importam intercsses, alliangas, Hnguas, elimas, naghes, difference de fichn, nem aisda u que yaidade shame — gloria —; poraye nfo ye Ten talos oe infelizes sino etantins, assim nos extrunhos como 10% con “inadion nto flhox efualmente carow # Deas, © no cOu rise a patria Commum ie todos os homens, E emauanto o enthislasno eas aeckma: ccia papulares coucediem palmike 0 orador prefand, talves mw haver Frovorndo 0 incendie daw eidades, a explosdo dios yaxox de euerta ¢ Ans Ciindsllas A matinoa de mulheres, ‘velhom © ctlancas, o rout dis Cities publics. w Hesporonamento das instituigies «sas leis, a cone ‘ribuigies para a gucren, as contiecaises directas ov Watnroaians 0 Gridér eluiatto, apostolo pacifico, dese de saa tribuna 6 desapparcee lielsando a ¥eus ouvintes come ultima exhortagho, estas. qalavran: Amac-vox, fazel o bem em troce do mal, ¢ orar ao Pac celeste.” © PULPITO NO RRASIT. 1 quencia moral sobre a Eloquencia antiga, vantagem baseada ‘no principio de que a religiio foi sempre o movel das grandes jdéas. Com effeite, Demosthenes ¢ Cicero foram grandes ¢ eminentes vullos da tribuna profana, e » primeiro mereceu que Boileau delle dissesse: “Quando leio Demosthenes me cai “@ penmin das mos” (4); que Fénélon 9 admirasse, confessando qe elle era “uma torrente que tudo arrastava” (4); e que alé seu rival Esehines, a proposito do eélebre— Discurso da corda—o denominasse deante de seus proprins discipulos —o alhileta da razfo (5); mas Demosthenes ¢ Cicero nunca foram eloquentes, sino porque foram religiosos; o primeiro inyo- eava os manes dos herdes de Maralhona, ¢ 9 segundo fazid apatheose aos deuses despojados por Verres, A religity foi sempre 0 movel das grandes idéas, repe= fimos; € sindo veja-se Montlosier nfo se inspiron certamente na demagogia, no bem pondera um sable eseriptor, quando, ua assembléa constituinte de Franca exelamou a proposito do clero: “Vos ‘os desiertais de seus palacios, elles retirar-se-3o para a ca- bana do polite que nutsiram; ws queneis suas eruz0s de oure, elles tomarfo uma ernz de madeira: foi uma cruz de madeira que salvou 9 mundo |” Sindo veja-se; Vergniaud em seu dis- vnrso por Luiz XVE nfo se elevou a alta Eloquencia, sino quando seu aseumpto o arrastow ao campo das idéas religio- sas (0); Rousseau néo fol admiravel em olguns logares, sinfo quando poz de parte o desvario do sou talento, @ se delxow inspirar polo Evangeiho, embora nfo tivosse ollo mais que um simulacro de veligifo; Racine, nfo obstante ter sido sempre grande poeta, nunca o foi mais do que na Athalia, obra que até o impio Voltaire admirava; Millon ¢ Dante, Rafael 6 Miguel-Angelo no deveram seus {riumphos sino 4 fonte, onde se inspiraram; eo vetho Ossian, entre as nevoas da Ca- ledonia, nunea desferiu de sua lyra cantieos de mais sublime poesia do que quando a idéa de Deus Ihe batejara o estro. (3) Carta le Bolleou a Hroaeette, tomo, 3 pag. 212. (4) carta A Academia Francea sobre a Hlbquencla, |5) Sabe-se que este discurso fol felto para defender a Ctesiphonte ane haxla preposto das-ec a Demosthenes nia corda de ouro em rex comin de sous merviggs: Exchines acousou a Ctesiphonite por east roposta, porém fol esmaxado pelo gignnte da Eloquencla, « vin-xe obri= gato a aaie de sua patrin para Rhodes; ahi em sta aula de Mhetorien Nik slle a nous discinulos 0 celebre Discurso pela carta: » quanda estes em transportes de omthusiaamo vicvorlavam a xu rival, schines re hondvi-this: “e aye farleis, ml houvemels ouvido 1 yroprie monstro: Hille €o athlete da raxto, efende-a com fodan as forgam de sun alma 6 do su genio, © a tribune onde elle falla ao trassforma em uma (0) Chateautiriand — Gente da Chriatlanisme: rd REVISTA DO INSTITUTO HISTORICO E’ por isso que a Bloquencia sagrada offereee aos goniox um horizonte illimitado e cheio de riquezas; é por que a re~ ligidio 6 seu manancial, sou escudo © seu desideratum unico © sublime; 6 por isso que Bossuet, talves sem ser a maior ca- boca do mundo, foi na opinitio de judiciosos critioos o pri- meiro escriptor que tem illustrado 0 genero humano; 6 por isso que Portugal nfo conta orador de mais subido engenho do que 0 grande Vieira, (go admirado por seus contemporaneos € pela posteridade que the fez justica; 6 por isso entim que a BHloquencia sagrada arrebata a todo espirito sensato, quando se altende 4 grandesa do sua misao, & nobreza de suas armas € 0 esplendor de seus padrées de gloria, ‘No orador do pulpilo tudo ordena o respeito e a venera~ ‘ho, tudo parcee que 0 eleva da superficie da terra, tudo pa- rece que 0 collosa entre © homem @ Deus, como revestide da dignidade de juiz do universo, Considere-se 0 representante de Christo, no meio das galas do sanetuario, explicando os mysterios da mais sancta religiio, celebrando os grandiosos feltos dos herdes do Christianismo, derramando o balsamo da verdade no coragio corrompido do homem, diffundindo a luz do Byangelho nos espiritos escurecidos pela cegueira do erro, castigando com apostolica liberdade os abuscs dos grandes do mundo, proclamando a miseria e o nada da natureza hu- mang, ainda deante das pompas vaidosas, que costumam ac- compantiax » realoze até no tumulo, para s6 glorifioar a Deus sobre as alfuras, @ ver-se-4 si 6 ou nfo verdadeiramente ma- estos, Drithanie @ sublime esta Wloquenoia, que to admi- rayels quadtos offereea 4 contemplagho do homem. Jamsis, jamais o Areopago on o Senado viram destas seenas em que a alma se extasia, @ 0 anditorio se eleva acima de si mesmo sem 9 abalo das paixBes, ¢ sem a desordem do sentimento; os maiores triumphos que alli houye nfo. pas- saram de imprecagdes aos tyrannos ¢ homioidas, onquanto a mais simples victoria desta arena @ 0 inirolto da felieitade elerna para a alma de um filho de Ghristo | Mas, com ser tio nobre, a Eloquencia sagrada, que a todas as outras se avantaja pola grandeza de sus missio, © com ser ella Wo vasta que 6a que mais largas concede aos voos arra- jados do talento © do genio, sf0 acaso seus verdadeiros padrdos de gloria © suas obras primas mais frequentes que os da Elo- queneia antiga, ou que 08 da judioiaria-¢ politica ? Com oc- cupar {io elevalo posto a tribuna moral, que entre todas se distingue pela sublimidade de seus fins, © pela nobreza de suas armas, sfio acaso seus athlotas em maior numero quo ot da tribuna profana, e formam-se elles por ventura mais facil- mente do que estes? No. Os grandes vultos nao sto muitos, € assim como os Demosthenes © Ciceros apparecem com ra~ © PULPITO NO BRASIL oc Tidade, 05 Bossuets, Massillo Bourdaloues, Vieiras 6 Sam- ‘Paios lambem sio poucos, n&o havendo talvex ta messe dos grandes oradores muito inais que respigar, Nao, por que o ministerio da palavra sanota, com see sublime, 6 lambem es- pinhoso, arduo e dificil: e o typo da perfeigo oratoria, como. todas os Lypos completus, nio encontra sua realizagao singo a custo de tmuilo estudo © trabalho, e talento e genio, predicados gue reunidos sO possuem esses condéres da intelligenoia, que de espago a espace Deus envia ao mundo. Os grandes pre goeitos da verdade {8m apparecido na superficie da terra 86 do soculos em seoulos, dir-se-ia que para mais encher de sor- preza ao homem que os admira © venera: poueos soberanos tm a ventura de Luiz XIV ¢ Luiz XV, que ouvirem os dous mais celebres oradores, de que a Franca’ se gloria; poucos tm 2 felicidade de d. Joao TV, que ouviu o immortal Vieira, ede d. Joao VI ¢ do augusto pae de nosso monareha, que ad- miraram 8. Carlos, Sampaio 8 Mont!Alverno, easas tres glorias a ordem de 8. Franciseo, e que fambem féram tres filhos do eé0 de Guanabara. Aqui, dando de mio aos talentos, que illusiraram em. outros paizes a tribuna moral, estudaremos somente as ri- quezas de nossa Lilteratura e passaremos em revista os des- tinos da Eloquencia sagrada entre nds. Tremos busoa-la em Seu coméro, accompanharemos as diversas phases por que ‘passou, ¢, Lrazendo~a até nossos dias, tractaremos de cada um dos colebres oradores, que abrilhantaram esta tribuna, notando enfim as causas que, a nosso yér, produziram a decadencia em que se acha hoje @ Eloquencia sagrada em nosso torrio patrio. n Nao podemos considerar neste trabalho o pulpito antes 0 meado do seeulo XVII, por que realmente elle no existin antes dessa epocha no Brasil: nem podem ser contemplados: entre os athletas da’ trihuna os nomes venerandos dos padres Manuol da Nobroga, José de Anchieta, Luiz Figueira, Francisco Pinto © os de tantos outros herées que, como estes, encheram 4s selvas da (orra de Sanota Cruz com as glorias do lado. © das miss6es, por que seu ministerio era outro. ros Deitaveis filhos da casa de Loyola, que, desde 1549, assombra- Fam © novo mundo com os prodigios de suas virtudes © com seu zélo pela salvagio das almas; esses vardes modelados polo Evangelho, que tao grande fama deixaram nos annaes do Christianismo, que {8o incaloulaveis servigos prestaram 4 causa da civilizagio e de seu rei, ¢ cuja historia 6 aliés uma cadéa nfo interrompida de acgdes heroisas ¢ sublimes desde © desintoresse até 0 marlyrfo, onde muitos sneeumbiram, no REVISTA po INSTITUTO HIStORICE n eontude glovias do pulpila, por fue 6 pulpite nfo existiat enti, © oecupava-lhe © logar a ealeira do missionario, pois, quando a elvilizacio ja se acha mais desonvol~ vida © espalhada; @ quando pelw andar dos wnnos se tém re~ uunido 9s povos em cidades, se Um levantado os templos da Senhor. © quando jd a6 eelebram as covemonias da roligifo ‘com a ponspa vo apparate peoprios da civilizaedo; ¢ quando niio mais se lovanla 0 missionario no meio ia natureza pare chamar 4 luz de Christo o espirito do selvagem ou para fazer conhecer 0 verrkueiro Deus aos escrayes ila idolatria e do érro, mas quande se ergue 0 orader sagrado para solennizar as festas da Egreja, ou para explicar a palavra dos livros sanctos, on para glorifiear 0 Deus jii conhecido ¢ adorado; é entio, digo, que pulpite apparces. © Rrasil porfanto nox primoiros annos, & polevemos dizer, no primein séeule depois do sew Geseobrimente eda sua colonizagdo, nao ivera occasi#ie nem moios dy nos dar grandes oradores: 6; embora essa pagina de sun historia esteja cheia de prodigins, cordus © triumphs at- camgados pelos v= da barca de S. Pedro, so contudo prodigios © cordas de outra esphéra, so triamphos que ti- veram por theafro oulros mares, qui¢é mais eneapellados 6 juncados de syrtes. Conquanto {alvex se nfo tivesse podido applicar melhor ystema nesses {empos e nas cireunstancias, em que se achavain ‘entao a colonia © a motropole, eontude o systema de cotoni~ zacio empregady pelo govirno de d. Joo TH para o Brasit nap promioven @ afcantamenty deste. sinko com grande de- mov ¢ custo; ialvex tambem que outras pausas tivessem im- pedido » proveito @ beneticios, que dosse systema se espera~ vam: mas o ceria 6 que a wachadinha da eivitizaedo nfo abrin caminho por entre as selva da lerra de Soneta Cruz singo tarde, © $6 de 1600 por deanle se manifestaram as luzes da Intelligencia nestas abengvalas pingas, que tio grande pro- gress jd devéram ter, si um desprézo Inqualificavel da parte do Gaverno Walém tar ¢ um obscurantismo combinado the nao hoavessem prado o desenvelvimenty ou escasseado os recursos desde 0 berco. Fei, pois, do séoulo XVIT “que co- megaram as grandes eidades, as institulgdes uteis © 0 pro- gresso moral da populagao do Brasil, e ¢ do meado deste séeulo que comecaremos a historia do pulpilo w dos grandes homens, que o illustraram, porque foi tambem 36 ento que elle realmente appareeeu. PRIMEIRA EPOUIA. Em 1623 fez-s filo da Companhia de Jesus na cidade da Bahia um mog, a quem vocagio decidida e manifesta © PULPITO NO BRASIL chamara av estasly ecclesinstico, © que postin arandes 6 1% talentos. Esle mogo foi depois o padre Antonio Vieira, ¢ & este 0 grande engenho quo deve abrir. a porta & phalange dos herdes tla lribuna sageada: @ este o homem exiraordinario a quem renderam admiracéo © homenagem as eortes de Portugal, de Hollands, de Franca ¢ Inglaterra, e deante de euja_palayra ploquente s¢ suspendew até a edrte de Roma, eschola de sabio (0 sigante lo pulpito, que abce a carreira aos grandes: pr gadores, quo no Brasil explicaram a palavra’ divina. Era Antonio Vieira portngues, pois em Lisboa vira luz do dia em 9 anno dé 1608; aactores houve que pretenderam da-lo com fitho do Brasil; ¢ aquella, porém, uma verdade (ne hoje niv tom mais contestacdo possivel, depois do que Uhevantemenie prayou & iMustrada areebispo da Bahia, i Romualda Antonio de Seixas, aa memoria que sdbre este jimeto envio ay Instituto Historico Geographico Brasileiro. © sseriptor abi analysa eom precisiio os documentos em que se haséain alguns biegraphos de Vieira para dar-lhe por: palria a cldade de Lisboa; deprebende depois pola leitura de suas obras o logar de sex nascimento; passa em revista grande numero de auctores que todos concortam em ter elle sido fitho de Portugal, ¢ por fim apresenta uma cépia authen= fica do assontamento de seu Daptismo, que o fax nascido em Lisbda: raedes © argumentos todos esses, que a luz da cvi~ dencia provam a vertlade dé que 4 Lysia coube a sorte de dar fo mundy vardn lo unico, © nfo ad Brasil, que =6 teve a feticidade de 6 adoptar dosde a infancia e de Ihe formar a nteltigencia (gloria que eu nfo sei si é menor, © si honra menos a nossa patria). Com effeite, tendo vinde Vieira para o Heacil em 1615, © nfo se tendo retirade d'aqui singo Hepois de 1685, passou toda a sua mocidade entre nés, ¢ Entre nds comegou essa curreira glorioss, em que desde tie cAdy se distinguiu para credito de sua Onlem, servigo de Deus e de seu paiz, henra sia ¢ da rligiéo, ¢ que ainda velo {seminar no Brasil, onde, ao lado do genio oratorio, mostrou tin zaly ¢ uma extremosa earidade, na qual reualou, sii nio exceden, no dizer ded, Romuakte, ao famose bispo do Chiapa, Hartholomen Las Casas. an pudémames, portanto, em nosso trabalho desprezar varie lio eminente, que tanto amou nosso pais © que’ por cle fex tantos & tio conhecidos sacrificios; nfo pudéramos fesquece-lo, quando a capital do Maranhiio ¢@ Bahia o ouvi= yaw tonlas vezes abrithantando as festas da Kgreja com sua palayra sibia e cheia de affeigio para os Brasileiros: nfo nos fore licito, sem sermos ingratos, pé-lo de parte nesta Me~ moria, a elle que tanto pugnon por nossos direitos ¢ por nossa 18 REVISTA DO INSTITUTO HISTORICO felicidade numa epocka em que jazia a triste colonia entregue an Hesprezo de mie emprestada, © sujeita ds depredaedes do exivangeira ambicioso. Daremos de mfo, porém, ds grandes aceSex practicndas em oulro ministerio por este insigne varfo, © nem fallaremos do muito que elle a favor dos indigenas prasticou, porque & Denna de seus biographos isso caherd melhor; estuda-lo-amos sdmente como prigador, e analysaremos as grandes obras ora~ torias, que o eximio Jesuit lezou a posteridade, obras que nos perlencem tambem a nds, porisso que néo tinhamos entiio Litteratura distinota. Vieira deixou-nos uina immensidade de sermGes, colleo~ cionados em 45 volumes, onde o numero nfio exeede # quali- dade,» que jusiamente Ihe grangearam opitheto de prin cipe dos oradores poriuaeras. So todos modelos de lingua gem purissima, correcta classiea; a maior parte delles esta cheia do grandes bellezas, © ulguns so arrebatadores pelas eublimes idéas e pela cloquencia de que o insigne orador se deixava arrasian por yeees, o onde entao era gigante do pul- pito, que a pasos fargos caminbava para o templo da Gloria, Revela Vieira erudicao espantosa e conhecimento extra ondinario das Sagradas Esoripluras, das quaes se servia a cada momento com extrema favilidade: deseobre outras vezes uma invencivel logiea de ferro, que prende, enlaga, conyence € cm algumis occasifes esinaga; ¢ mostra elle sobretudo um engenho agudissimo, pois, de vina 86 palavra tirava assumpto para um sernifo, vollando-a para todos os lados, vendo-a por todas as faces ¢ enriquecendo-a com sua imaginagio sempre viva, nova e inexhaurivel. Pasma enfim sua leitura, porque parece impossivel que um homem, que levou vida {do agitada, tiyesse ainda tempo suffieiente para estudar, meditar @ esore- ‘yer tanto, e tudo bom, tudo aproveitavel, tudo erudito Passando analyse dos sermdes do ilhustrado orador, cumpre observar primeirm, que os nfo modelaremos pelas Togras classicas e ferrenhas, que se tem querido dar a este go nero de compasigées. pordue estamos conveneidos do que a verdadvira rogra para elles 6a liherdade; nfo se davem des- prezar de todo os preceitos da arte, ¢ certo; mas inspire-se 0 orador nas riqueaas da religian, defenda uma verdade com calor, unidade e sempre na altura de sua miss%o, 0 sermio sent bom. Abre as porias do 4° volume dos sermbes de Vieira o prigado mw Bubiia, no anno de 1040. Era o tempo em que ‘© Brasil, victina da invasio hollandezs, fazia viios esforgos para livrar-so do pesado jugo destes extrangeiros, que en- {relanto iam extendendo suas conquistas pelo littoral do paiz a poncto de possuirem nesta data seis provincias, de Sergipe ‘0 PULPITO Xo BRASIL, 7 Bo Crari. © Govern hispantal, sempre muito moreso em enyine reenrsos 4 colonia, deixaraa lalla de exereito @ de forlificades; mo hyuye, portante, outro meig part ela si eoiles a férca do inimigo duasi sempre vencedor; fieiram enli os campos talados, as eidades invadidas, as casas des~ povoadas, ulttajados alé os témplos, 6 0 animo dos Porlugue- aes abatidy e desesperudo, Foi, por esta occasifo, debaixo fesies auspicios, e sobre este assumplo que na cidade da Bahia o paiire Vieira prégon este sermio, onde com uma tie herdade verdadviramente nova o orador parece arguir a0 Senhor, que tantas desgracas permittia a terra de Sancta Gruz Oneamo-lo, conjurando a Diviniads a que {rocasse os destinos da guerra. “Oh! ni permiltais tal, Deus mou, nfo permittais tal por quem svis. Nio digo por nés, que pouco ia em que nos eastigasseis; nao o digo pelo Brasil, que pouco ia em que 0 Aestmnisseis; por vés o digo e pela honra da vosso Sanctissimo Nome, que {dio imprudentemente se vi blasphemado: propter nomen tuum. dé que 0 perfido ealvinista dos successos, que s6 Ihe mereeem nossos peccailos, faz argumento da religiaio ° se jacta insolenle e blasphemo de ser a sua a yerdadeira, veja ollé na voda dessa mesma fortuna que 6 desvanceo, de qus parte esta a -verdade. Os ventos © tempestades, que deseom- fe dortolam as nossas armadas, derrotem e desbaratem as as doenras © pestes, que diminuem © enfraquecem os exersitos, esealem as suas muralhas © despovoem os residios; 63 consethos, que, quando vés quereis castigar, ‘vinperm, em nés sejam sllimiadas © nelles enfatuados e contusos. “Made a victoria as insignias desaffrontem-se us eruzes calliolicas, triuinphom as vossas chagas nas nossas handeiras, fe conbera humiliada 9 desenganada a perfidja, que s6-a £6 re~ mana que professamos # {¢, 0 86 ella w verdadoira @ a vossa.” Continta mais adeante o orador pintando o que. soffreria © propria Deus, si consentisse na derrota dos Porluguazes. “Sei eu, Senhior, que $6 por amor dos innoventes dissestes Vos alguma hora que nip era bem eastigar a Ninive. Mas nao sei que tempos, nem que desgraca é esia nossa, que até a mesa innocencia vos n40 abrauda. Pois tambem a vos, Senhor, vos ha de aleangar parte do ¢astign (que é 9 que mais senlé a piedade obrist®), tambem a vis ha de chegar. En- {rario 0s herejes nesta eareja 8 nas outras: arrebatarao essa eustodis, em due agora estais adurado dos anjos: tomaréa os galioes ¢ yasos sagrados, e applien-tos-fo a suas nefandas em- bringueces; derribariy dos allares os vultos ¢ estatuas dos sanelos, deforma-las-f0' a cutiladas, ¢ mette-las-fio no fog0; © ni pendoarda as mins turiosas e sacrilegas nem ds imagens [ramondas do Christo erucitieado, nem as da Virgem Maria, a REVISTA Do INSTHUTO IISTONICE Nao me admira tanto, Senhor, de que hajais de consentir ihantes aggravos ¢ affrontas nas vossas imagens, pois jd illisios em vosso sacralissimo corpo; mas nas da cn Matia, nas de yossa, sanctissima mic, nfo sel como isto pide estar com a piedade e amor de filho. No Monte Catyario esleve esta Senhora sempre ao pé da cruz, c com serem uslles algozes tio descortezes e crueis, nenbum se atreveu tocar nem a Ihe perder o respeilo. Assim foi, assiin havia de ser, porque assim 0 tinheis vés promettido pelo pro- pheta: flagellum non approninguabit tabernaculo tuo. Pois, fillto da Virgem Maria, si tanto ouidado tivestes entfo do res- peilo e decoro de yossa mie, como consentis agora que se The fagam tantos desacaios ? Nem me digais, Senor, que 14 era ‘a pessoa e ed a imagem, Imagem sémente da mesma Virgem era a area do testamento, @ sé porque Ora a quiz tocar, the rastes a vida. Pois si entdo havia tanto rigor para quem of- fendia a imagem de Maria, porque 0 nfo ha tambem agora ? Tastava ento qualquer dos outros desacatos 4s cousas sa- gradas para uma soverissima demonstragio vossa ainda mi- Tagrosa, 81 a Joroboko, porque levantou a mfio para um pro- pheta, se Ihe ssceou logo o breco milegrosamente; como 20s horejes, depois de se alreverem a affrontar vossos sanclos, thes ficam ainda bragos para outros delictos ? Si a Balthasar, por beber pelos vasos do templo, em que nfo se consagrava: ‘Voss sangue, 0 privastes da vida e do reino, porque vivern 08 Kterajes, que converam vossos calices a usos profanos ? Jé nid ha tres dedos que escrevam sentengs de morte contra ‘suerilegos ? “Enfim, Senhor, despojados assim os tomplos, e derriba~ dos 08 aitares, scabar-se-A no ‘Brasil a Chrisiandade catho~ Tie: acabar-se-4 0 culto divino: naseera herva nas egrejas, ‘como nos campos; mio haverd quem entre nellas. Passaré um fia do Nats, e nfo haverd memoria de vosso naselmento; passaré a Quaresma ¢ a semana sancta, e nSo se celebrariio ‘os mysterios de vossa Paixfo. Chorarko as pedras das russ, como dix Jeremias, que choravam as de Jerusslem destruida, Vor-se-io ermas © solitarias, o que as nfo pisa a devootio dos fieis, como costumava’ em similhantes dias. Nio haveré missas, nem altares, nem sacerdotes que as digam; morrerKo ‘os eatholicos sem confissio nem sacramentos: prégar-se-fo hovesiag nestes mesmos pulpitos, e, em logar de S Jeronymo © Sanco Agostino, ouvir-se-io € allegar-se-do nelles os in~ fames nomes de Calvino © Luthero; beberéo « falsa doutrina ‘os innocentes que ficarem, reliquins dos Portuguezes: © che- garemos a estado que, si perguntaram aos filhos € netos dos que agui estiio: Menino, de que seita sois? Um responderd: © PULPITD NO paste 19 eu soit calvinista; outro, eu sou Iutherano, Pols fsto 92 ha de soffrer, Deus meu 2” Com quo valentia de expresso, que aliés démins em todo 9, diseurso, o orador eloquentemenie exelama: “Nio me alrovéra a fallar assim, si nfo tiréra as palavras 4a bocea de Job que, como tio Instimado, néo 6 muito entre Tmuilas yezes nesta tregedia, Queixava-se o exemplo da pa- cioncia a Deus da dureza de suas ‘penas, demandando ¢ alter~ cando, porque se Ihe nfo havia de remittir © afrouxar um Doweo 9 rigor dellas: ©, como a todas as réplicas ¢ instancins o Senhor se mosirasse inexoravel, quando jd nfo teve mais quo conoluty assim: Bese nunc in pubiere dormiam, et si tie quasieris, non subsistam. 4 que nfo quereis, lesistir ov moderar 9 tormenta, jé que nfo quereis singo continuar 9 rigor e chegar com elle ao cabo, seja muito ¢mbora, matae-me, consumi-me, enterrae-me: mas 86 yor igo © vos lembro uma cousa, que, si me buscardes amanhi, no hayeis de achar, Tereis aos. Sabeus, tereis aos Chal- dens, que sejam 0 roubo 8 0 agoule de vossa casa, mas nio acharels a um Job que, ainda com suas chagas, as nfo des auclorize. Q mesmo digo eu, Senor, que no é muito, rompa hos mesmos affectos quem se vd no mesmo estado. Abrasay, destrul, consumi-nos 4 todos; mas pode ser que algum din Aueirais Hispanhoes © Poriugueses, @ que os no achois, Hol, Janda vos dard os apostolicos conquistadores que leven pelo mundo os estandartes da crus; Holanda vos dara os préga- Gores evangeliens que semoem nas terras dos barbaros a don. rina catholien e a resuem com 0 proprio sangue; Hollanda defenders 2 verduda de vossos Sactamentos e a auctoridade da Kare} romana; Hollsnda edificaré templos; Hollanda lovan- turd allares; Hollanda consagrard sacerdotes @ offereceré 0 Sacrificio de vosso sanetissimo corpo; Hollanda, entim, vos Servird @ Venevard tao religiosaments ecmo em Amsterdam, Meldeburg 9 Fiisinga e em todas as outras colonias daquelle flo e alagudo inferno se est fazendo todos os dias,” Por estas vitaeoes se péde ajuizar do serméo, onde por toda a parte Vieira 6 vigoroso, forte e inspirado. Pondo de parte o mau gosto © o amontoamento de eru- digfio profana, nfo menos admivavel é 0 prégado na primeira Dominga do Advenio e que se eneontra tambem no 4* volume de suas obras: verdadetramente notavel, como 6, pelas in- numeras bellezas, que a cada passo se encontram, cerlamente meliior {ra transceve-lo todo para o ngo mutilar; como, porém, nao ¢ isso possivel, cont ‘nos-emos com alguns (weehos. © orador propée-se nelte s provar que tudo sdbre a terra ‘passa © morre mais eedo ou mais tarde, e que 86 ndo passa a 2 AES DO INSTITUT HISTORIC? ont dos pecrados guy temo chrlstao de das ae Jule fu- Grane na outra vida. Bara iso far, desftlar deanty de si 08 see mais adorados, os gonerars mais Famosos os als faut Reraidos exerellos, ng leltyas ¢ as aries. os j0E0# © OS fabulas, we replicas sueracas @ as maravithias do mune. 00 Site 8 OF nos aa estagdes 0 ax cilades, © tudo v6.clip.calmld § 290°” Sendo ivy abso do tempo, que taniben vai passandd, en remaito #6 permmanece @ edna que.cocterm de peeslar 2 ‘lia se inizo, Mnfim, cont egual sublinicade, clams orador ae die ake Tribunal Divina ao rej para dac eonla de ses Ve reat so prelado pata responder por suas oveltis. 9) BA Geutar para dar-conta aq seus talentos, da suis dividas © vaeets eeu (ace arrojop. am que so Uislingue sempre Ot talento superior perira Vieita este magnifico seruida, OU= caino-lo falland “oumnd eomecon primeiro imperio, ems eomegott tambo a idclatria, digno eastign do eo, ates INI 08 homens iieitann aorar, chegassem os mesmos a adorar paus & peidiras. 08 nels, pore, que eran ou Unhan sido os idolatras verondadas, depois pela aduiacao © Tisoniey 95 vida on de~ pols da reanuarn tarnbem elles a set idols, Assint Sa- torn assim Mercurio, assim Apollo, © Matty ror ey Dyiatas © posto que fades estes deimran te. Fy Syavidos nas estrellas, ellas. permiamece™, 725 elles: to dos itolos, dos xenaraes ¢ dos exercitos nomes passaram. “Passaram 08 140105, aque nelins resnondin 0 Nae tate do Evangetho todos eramudeceran, siintin, eomegaran) ob guerras: 0 aue ditel die exereilos iomumeravois, das. batathias campaes€ martina’ das vielo- donee eriumnphos de mas, mages, e fia Tui PS abiatimento vin eee te cutras, tho viria ¢ altemada compte # $6 «lige que sera slonia. @ alegrin dos vensedares, COMO 2 °0r affront asst dos, {ado pasos, porane {ado pass. exercito do soe vane foi. maior que vino, miunld) onset de einee wrt mmtus o de cinco mithbes de.cnunbatentes: © Pre de uma ai en parte fez continents o Hieltesponli, © FAvOn T fer nave gavel o Monte Atlio, disse delle Marc Tullio que caminbaya y* ontes, Mag todo aquelle immensa res 4 pe ¢ navegaya os 0 ater iavel apparato: que viilo, fez tremer © Mae © & terra, 180 Teevernentt passe © desappareeeu, eno Hesharatad @ YEN= tito, que-e6 fica deli este dete, O masme ‘Themistocles. que ciey mnnite desogtial poten o destez & pox em fugida, tambent Fasenu, como na Grecia e fora della Dasara todos as farn050" Tipilace ¢ suas vietarias.) Passo Pyrtho, DASe Mithridates, paseott Divilippe de Macedonia passaray Heitor ¢ Achilles, pasearam Annibal ¢ Soipifio, passaram Pompey & Julio, Gesar, «© tambem passaram. os oractlos 60m da mentira, por que a0 som da Nee ) HEEPIMO NO BhAsiL 2a aston o grande Alexandre, nome singular @ sem. parelha, 6 alé Hereules, ou fosse um ou muitos, todos passaram, por que tudo passa.” Considera agora o orador as Jetiras ¢ as artes, os jogos & ‘as fabulas: “Costuman as iollras seguir as armas, porque tuo Teva noe si-o maior poder: ¢ assim floresceram variamente ¢ em. diversas partes no lompo destes imperins todas as scieneias & aves, Floreceon a Philesophia, florescon a Mathematiea ea ‘Theologia, floreseeu a Astrologia, foreseen a Medicina, flo~ rescomm a Musiea, a Oratoria, a Pootica, a Historia, a Avchi~ tectura, a Pinta «a Estatuaria: mas, assim eome as flares: ge murcham se sercat, assira passaram todos os auctores mais celebrados das inesmas seiencias e artes, Na Estatuaria passou Phidins ¢ Lysippo; na Pintura passou Timantes © Apelles; na Architeetnea passon Meliagenes © Democrates; na Musica postou Oephew ¢ Amphion; na Historia Thueyiides 0 io; na Eloquencia Demosthenes Tullio; 1a Poetica Mo- mera o. Virgilio; na Astrologia Anaxagoras ¢ Plolomen; na Medicina Minpoeritis ¢ Esculapio: na Mathematica Euclides © Archimedes: nin Philosophia Plata @ Avistoteles; na Theo logia. Merenrio ‘Prismesiste © Apollonia Tyaneu; © por Junel(, em tidas as scieneias passaratn no mest tempo os Sele sabios da Gesein, porque, on dunes ou dividido, tudo passa. $64 Etlien © Moral, comn {iio nevessarin & vila e @ Vivlude. pareer que nin havia de passar; mas os platonicos, os peripatheticas, os wpicurcus, os eynicos, os pythagoricos, os baloicns, os neademiens, elles @ sigs escholas ¢ seitas, todos passaram. * Nenhuma cousa ¢ mais propria desta consideragio em aque imos, dite as jogos ¢ espeetaculos publicas, que os homens inventaran a tiful de passatempo, como si o mesmo tempo niin passdra mais velozmente qe tudo quanto passa, Uns jo- es foram. os Citvences, ontros Dyonisios, outros os Jnvenaes, Outros os Nemous, outros ox Maratoning, todos cheios de dif forentes divertimentos, em que ou se perdia a honestidade, como nos ds Vents, on a jaiizo, coma nos de Bacho; mas ne nhuns mais indignos dos thos humanas ¢ ptedade natural do que os Gladiator nia loda Roma ao amphittvatro, a que ? A Ver 6 festear come se matavam hpmens a homens; eafa Uns # sabrevinkam ontras ¢ outros, sem estar y posto yao um sé momento, aeclamando a ealeca do munde com applausos nais carnicciros que erueis, assim no dar come mp tecehor das fevidas, tanto a iuliypiden dos morlos, comm @ furia dos maladares. “08 jogos annavam assim, porque se cold. Drvam uma s6 sex dé soeuly @ secnty, © dizia o prio. pa- 22 REVISTA DO INSTITUTO mistoRICO. Hlico, que convidayn para elles: vinde vér os Jogos que nin- gucin vin nem hade fornar a ver: venite ad tudes, quos nemo ‘vidit unquam, nee visurus est. T com este desengano da vida passada © desesperacdo da futura os jam todos vér, @ se cha- mavam jogos. Os Olympieos foram os mais oelebres ¢ famo- ‘sos de fodos, em que de cineo em cinco annos concorria todo 6 mundo a ima cidade da mesmo nome, on a lovar a yer quem Tevava uma conde de lonro. Por estes jogos; mais que pelo curso do sol, sa contavam e distinguiam os annos; mas, como toda a competencia era a correr ¢ o que mais corria, 0 que ‘mais triumphava, nfo podiam deixar de pasar as Olympia das, como passaram fodos os outros jogos daquelle tempo, ou todos os passatempos daquelles Jogos. “S$ uma cousa ha que nfio pédo pasear, por que o que numea foi nilo péde deixar de ser, e {aes parece que foram as fabulas que neste mesmo tempo se inventiram e fingiram, Mas, si ellas nfio passnram em si mesmas, passaram naquelles casos ‘que deram oceasiio a se fingirem. Na séoca universal, que abrason fodo o mundo, passou a fabuln de Phaetonte; no di- Invio particular, que inundon grande parte dalle, passou x fi ‘Dula de Deuealion; no estudo com que el-rei Atlante contem- plava o curso @ movimento das estrellas passou a fabula de {rarer 0 o¢0 aos hombros; na especulacdio continun de todas as noites, com que Endymion cbseryava os effeitos do planeia mais yizinho 4 terra, passou a fabula dos sens amores com a Tua, E por que tambem os nossos vioios, a nossa fraca virtude @ 8 nossa mesma vida passa como fabula, o amor @ compla- cenoia de nds mesmos passon na fabula de Narciso; » riqueca sem. juizo na fabula de Midas; » cobica insaciavel na fabula do Tantalo; a inveia do bem alheio na fahuln o abutro do Ticio; a inconstancia da foriuna mais alta na fabula © roda de Ixion; 0 perigo do acoriar com o meio da virtude, » nao de- clinar aos vioios dos extremos, na fabula de Sytla © Carybile ® finalmente a certeza da morte e incerteza da vida pendente sem juizo na fabula de Midas; a cobica insaciavel na fabula das Pareas. Assim envolveram e mixturaram o8 sabios daquelle tempo o que hn com o que nfo ha, 0 certo com a fabuloso, para que nem o lotvor nos desvancea, nem a calum- nia nos desanime, pois o verdadeiro e o falso, a yerdade © a mentira, tudo passa.” ‘Vejamos agora como falla o présador das republicas "Que so. a8 Piquezas, sinfo maré do ceeano ? — “Que sie as amizades, sindo lsonjas da herva do 20! 7 —"Oue é, finalmente, a corte, sinfio uma toda arreba- fada, onde atados de seus desejns volleam ox cortezios mi- seravelmente alegres 2” Tudo ista & muito bello, sem duvida, @ néo este inferior 4 pintura que das mesmas glorias mundanas faz Vieira no sermio da primeira domingn de Quaresma, que se acl no fomo quinto de suas obras. ¢ que ja e'timos entre os heltos frechos de seus discursos. Gontinda depois o padre Antonio de Si provando a ti ilidade da vida humana, e aqui se eneonteam, como sempre, Brandes idéas © Lindos pensamentos; por fim proroimpe o orador nesta peroragiio forte, energica, rigorosa, eloquente ¢ digna entim do prégador : “Mas, que, sendo esia a fragilidade da vida, vivamos com fanto descuide da morte; que, sendo esta a certeza da morte, vivamas com tanto engano da vide? Que, niw tendo a vida de sen um instante, gastemos os dias, os mezes ¢ os annos ome si no foram da morte? O' resolyamo-nos ji algun dia a ouvir a Deus, que Hu amorosamente is elimi: ronvertimini ad me in tote corde vestro, “Si temos f& © eremos que nio ha perdio de poceatos rependimento do peeeador, necessariamente nos ha- wapender algum din: pois si hue ser alum. Porque nio seré hoje 2 si hade ser depois, para sue nin sor’ loge 2 Ou peceado é hem ou é mal; si hem, para que vos haveis de arrepender nimea ? deixai-vos marrer em pecen si mal. © por isso determinais arrepender-vas depois, no # poura cordara multipliear numero das eulpas para dobrar fs eausns do arrepandimento ? nfo & pouca consideracio & REVISTA DO INSTITUTO HIsTORICO pecear mais para ter maia dé que arrepender ? Que queitais suorificar 9 melhor dos annos a9 mundo, 6 que fo vas peieis de reservar as reliquins da vida para Dons?! Que latenteis comecar a viver bem naquelies annos onde mattos nto che gario, ¢ outros acabam de viver ? “Comprais umn quitta @ deséjais que seja boa; fazcis uma gala, © procurais que nfio seja md; todas as vossas cousns, ainda as de menos substunoia, pretendels que seam has ¢ muito boas; ¢ que sesuvanga tendes de que a vida vos durari até esse tempo, para o qual guardais yossa pe~ niteneia ? quem vos esperou alé hoje nfio vos promette nem. © dia de amanhi; quantos viram natecr o sol, que 0 nfo tornario a ver posto? ¢ quantos o verfio, por que o nin tornarfig @ vor nagcido 2 néo o podéru ser cada qual de nos vin destos? antes quo 0 2oabe usta hora, nio poder cada qual de n6s acabar aqui a vida? si sucoedesse *” _ Esta interrogagio @ sublime, o foi sem duvida de grande effeilo na oceasifio, em que Antonio de Sk proferiu este diseurso, Faz-nos seu atrevimento ¢ grandeza lembrar 0 tho tonbneido arrojo de Massillon, quanto exelamen em seu sermio sobre 0 pequeno numero dos leitos: “Jo suppose que est iok votre dornidre houre et ta fin de Yunivers que les cioux yont s'ouyrir sur yos t6tes, Jesus Ghrist paraitre dans sq gloive au milieu de eo temple, et dus yous nly Mes assemblés que pour Vettendre, et commo des crimingls temblants, & qui Ton va prononcer ou une sentence Go gracr, ou un aera, do mort ¢ornelle..." magnifies pe- ‘iodo quo termina por aquella lambom sublime interrogagio: “0° Dieu! off sont vos éius? et que resto-t-il pour votre parlage?” pergunta que fox ersuer-so de espanto ¢ de horror i todo 9 auditorio, quevenchia a careja de 8. Hustachio, Continia porém o nosso orador: “Mas quero quo vivale esses annos, que falsimente vos peomotteis; © por onde vos consis que entfio vos lnyris de avvepender® Si agora vos parece tho arduo dar de mio aos Yicios, que seré depois, quando com 0 costume estiver a na- {vex mais depravada, @ a graga mais distante 2 nunca vistes tha aVesintia que, tendo 0 corpo todo Hvre ¢ yolto, ett comludo preéa por uma tna? bate as eas para vour e néo pale, arremech-so aos ates para fugit © Nao ‘acaba; pois que ie dotem, avesinha triste? nao tens 0 corpe solto, nfo tons ‘as nana livres? porque rif voas, porque nfio foges ? quem te prenda, quem te enlaca? uma unha, Ah! peceadores, a culpa @ pesto dalma, si vos achais agora tio impedidos quando sho 08 lags menda, como esperais desembaragar-vos © PULPITO NO BRASIL, » quando forem mais os lagos ? si a muitos retarda hoje uma si unha presa, como confiam soltar-se quando estiver on- tacado todo 0 corpo nin baleria de uma oldade puresse o general pena le movie a um artitheiro, 81 nfo empregasse alguma tala ‘no muratha fronteira, nfio procederin somo homem sem jutro sqvelle que, detxando tanto espact me parede om que loernt 9 Liro @ salvar a vida, fosse porn mira na pant ‘uitiinn da mais leyantada torre, onde qualquer sousn qin snbeoleve on deavie perds 0 golpe ¢ aventura tudo? pois que consl- devachio nossa que, tendo o murs da vida para acertar nate Hiro, em que nos vai nflo menos die umn otarnidade do gloria ou ima eternidade de pent, acertamos tho contin’ ‘ment ao ultimo porto nossa oonverato 7 Isto é querer xombar de Dens; ¢ de Dens, diz 8. Pato, nfo ae zomba: Dove non frridotir, queeumaue reminavertt homo hoo metet: semenr peceados toda a vida, © esperar colhor frnetos de graca na mori ? Deus non frritetur: comprar o infarnd n preco da lantas culpag, 6 no fim da vida qneret » gloria? Dews non irvidetur: despreanr a Deus tantos annos por servir a noseos appetites, ena ultima hora buscar a Deus como amit ? Nour non iveidetir, ao so 2ombn aseim do Dens; quoin samenr offensa na vida, hade recolher tormentos na monte, “Ora, fiefs, comhecida a vileza flo mundo 4 vista da baixeza div nosso ser, — memento, homo. quia pulots es, — conhecida a Importansla de ninssa conversa A vistn da tra- illdade le nossas vidas—et in pulverem reverteris, — nfo permittames que em tanto damno de nossas almas, se mal- logre 0 consetho de Ohristo © a vooagto de Deus. Deus chaina-nos 4 sua graga—convertiminé ad me;—e que maior folieidads que viver na graga de Deus? Chris{o aconsetha-nos que deponbamos o8 affectos da tore —nolite theranrisire in terra.—¥ que ha na terra que nos meregn Justamente os afiectos 2 “A Deus, pols, com os corag’es, ao e&p com ansins: ali tondes grandezas sem yaidade, honras sem haixos, privanea sem reeeio, despachs sem dependencia, postos sem destouro, fama sem invaja, prosporidade sem pete, formosura sem eclipse © sem mudanga, amor sem tormenta 6 sem rina, Boslos sem peznt, deleiies sem ste, riquezns sem limitucio, ‘4 amizado sem lisonjas, edrte sem voltae, & gloria sem fim. REVISTA nO INSTITOTO HisTORICO Guim mihi et vobis prorsirare dignetur Dominus, ee. Assim termina 0 orador este bello discursy, que, como se terd visto, confirma o juizo que demos sébre o merito oratorio do seu auctor. No sermao de Quaresma (primeira sexta-feira) notaremos o exordio, que é sem duvida nenhuma digno vival de qualquer dos de Vieira; comoga elle assim: “Entre todas as -ougas de mundo que nossos olhios vem ou nossos entendimentos aleangam, 0 maior milagre ¢ o mais notavel ¢ yerdadeiramente 9 homem; oriente do edo ¢ da terra, contermino da etornidade e do tempo, vinewlo do Creador e da creatura, na vida similhante as plantas, no sen— tido gual aos animaes, no entendimento eompanheiro dos anjos, na magestade quasi um segundo Deus, composto de diuas naturems 180 diversas @ tio adyersas como sio 0 es~ pirito ¢ a carne, das quaes uma 4 celestial « outra terrena, uma & eaduea © outra immortal, uma é imagem de Deus, © outra simillanga dos brutos, o espirito 0 faz pio, a carne ‘@ faz impio; o espirito o levanta ao céo, a carne o abate a0 inferno; 0 espirito o reforma em Deus, a carne o trans forma em animal; ha maior milagre que o homem ? pois ainda ha outro maior milagre. A unica admiracéo, a ma- ravilha uniea entre todos os homens, 6 0 ehristio verda~ ‘dein, eto.” Como @ bello tambem a exordio do sermio prézado ao rucollier da prosissio de Passos ! ougamo-to: possivel que este homem voroado de expintos, aberto a agoutes, descomposto a injurias opprimide de um madeiro, éo filho mesmo de Deus, tao puro, tio poderose, ¢ tio im= mortal como @ seu pak? que dircis a este lamentavel o=~ peetaculo, cortertias do cdo? Anjos, aquella «a face em cuja formosura desejais empregar a vista? Seraphins, aquelia & i caheca, a cuje gioria compiem doce! vorsas azas? Che~ rubins, aquelles sio os pds, a euja soberania servem dt throny yossas cabegas ? Enfim, espiritos gloriosos, aquetia & a magesinde, a eujo obsequio istis sempre reverentes © euidosos sempre? Ob! como wos deve de ler suspensos case: como vos deve de ter assombrados: a novidlade {" Vide que brithante apostrophe a Jesus-Christo se en~ contra no mesmo sermio de Passes: “Ora, meu deseontente amante, nio vos deseonsole yossn amér, chegastes @ ultima do bem querer, nfo ha passer a mais. Sendo Deus, vos fizestes homem; estandy no © haixastes & terra; jngestes como infante, fugistes como des- terrado, andastes como peregrino, obedecestes como subdito, © PULPYYO NO BRASIL. aL iMittistrastes como servo, batalhastes como soldado, ensinastes como mestre, sarastes como medica. Em que figuras vos io Wisfareastes por amér dos homens, no presepio, nas Casas, aS Has, nos castellos, nos templos, nas synagogas, nos logares, nas Gilades, no deserto, nos montes, nos valle, ia (erra, © no mar?1 que mais havieis de fazer, ¢ nio figestes ? Suuastes como affligids, fostes preso como tadrio, acuintarin como eseraye, estarneside como simples, » sereis eruciticado Como 60; que mais havieis de fazer, 6 nig fizestes ? Ponts 44 fim a esta portentosa obra de nossa redempeio, que ev mocasies; subi a esse; para vis, loce madeiro, ‘diving so’ justics, jd ane a esse duro ponnie vos destina vosso amor: bubi a morrer, que eéo © terra tudo “esté suspenso com a esperanca ide yossa morte, Espera vosso pae eim as mios abertas para receber vosso espirito; esperam os anjos para Applaudirem vossa victoria; espera o limbo parn que o Mlustreis com vossa gloria; esperam aquellas almas sancias para que as livreis do captiveira; esporam os peceadores arrependersm; espera o sol para se eclipsar, a ferra Para tremer, as podras para se quehrar, o véo do temple para so rasgar, as sopulturas para se abrir; espera o mundo para se renovar; esperam os homens para se remir, ¢ final- mente fodas ae cousas neste espacoso Tniverso esperam jan= Cinsamente vossa morte, come cousa de infinite peso ele !mmenso assombro, de que depernde o bem de todos; subi, Dols, vida noses, @ morrei para dar a conhecer melhor ad mundo 9 muito, que amais.* Enfim, vejamos um magnifico exemplo da prosopopéa M) mesmo sermiao de Passos, em que Christo. se mostra 6 falla ao peecador: “Homem, que; como ovelha perdida, embaragady nox do leites enganosos dosta vida, te tinhas desyiade dos caminhos da elernidade, eis-aqui come estou attligilo « atormentado vor te poder langar a mens hombtos para te reduzit ao Paraiso. Conformei-me com # imagem de tua tnmanidade Para te refazer: ja que nfo retiveste a férma de minha di- Yindale, que imprimi em ti quando tp formei, elem ao nos a forma de tua humanidade, que imprimi em mim. para te reformar; si nié estimaste os muitos bens que te toneedi quando te criei, estima ao menos as muitas miserias sue padeco para te remediar. Th és a causa de minhas Adres tn és 0 motivo de mens tormentos, tu é> a culpa de minha morte: tu foste o peeeador, ew sou o castigado; tu forte » Fé eu sou o eondemmado; ty foste o delinguente, eu sou 0 crucificadc. Padesi agonias para te merecer os 42 REVISTA DO INBTITUTD HISTORIC gustos temi para te fazer seguro; velei para te acordar exlendi os bragos para te abragar; incline’ a caboca para te dar © osculo de pax; finalmento tomei sobre mim a morte. para te perpeluar na vida, Di-te por premio de minha paixto pois eu me del por proce de tia redaripgio; Mio mee ‘respondas com sggravos, pois eu té obrigo com ternuras.” Admiromos a enorgia @ @ forga das exprossies ile foay com que o orador comena ex-abrupte 0 sermin do deseato de Nossa Senhora das Maravilha: “Enfim que chegaram a vér nossos olhioe a Tens Menino esauariefado! Enfim ‘que chegaram a andar quartos de um Menino Deus por logares publicos, como si fossem quartos de tum poblieg malfeitor! O° temaridnde nunea ouvida, nem imaginada! Dize, demonia, mas nfo se atreyera Snfanaz 9 il accho; dize, brato, mas reconhectra a sea Senhor nm hrnto: dize, homem, quo *6 tm homem segravata desaet- dooido, © doxatinado a Deus: dize, ereatura bumitde, halxa, jneecia, infame, sncrilega, barbara, como te atreveste, como te nrrojnste, como te opporeste contra aquslin Senhor, eufa diving formosura offerese ageados a Dous. gloria aos anios, raspeite nos demontios, veneragiin a todas as ereaturas? Como pateaste neste sancto templo, como chedaste quelle altar sagrado? Como Ievantaste 9 Drago. como extendeste a mio 2 Como ronbaste a Marin o seu menino, ¢ a nds o nosso Deus! B como, dize, coma desfizeste cam tues rifos a imagem dn~ quelle artifice omnipotente, que te fer @ sun {maze com ne silas? Como quebraste aqueltes Dracinhos tenros, come fireste em quartos aquelle corp, que o Rspirite-Sancto forma para teu temedio ? A Deus desprezas, a tenn Greador aseravas, a teu Redemptor despedagas ? Oh! monstro, oh! portento, oh! deshonra immortal da geraco humana t Maldicta seja a noite que para tanto destroco divine humano te fez amiga sombra. N&o so voja nella sereno jd~ mais o e6o, nfo reeptandecam seus olhos, nfo. nestanejem suas estrellas; dasatem sua luz em gritadéras lagrimas ¢ gomidos; piedoso assombro, on somno eterno as sepuite, hor~ rores densos como sombras mortaes a etcureoam, desusadas yentanias a inquietem, tempestades wltimas a porturhem; espere Tue do dia seguinte, mas nom veja os primeiros asxomos da aurora; titabée sompte temerosa, vacille errata, © false a tanta infidelidade 0 concerto todo dos celestes orbe H cortamente este treoho digno de Bossuot © nfo cedo © PULPITO NO BRASIL, 8 sin alentia ds mais brilhantes apostrophes que da tribiina sagrida temos ouvido, Bguulinente bella ¢ a pintura que no serio de 8. José {ux Antonio de Sé das duvidas ¢ reeoios, que saltearam o eoragio do Divino Hsposo da més de Deus, quando via os ‘ndicios da conoeigio de sun esposa. Nolayeis siio ainda os conceitos eneontrados no sexmiio de 8. Thomé, om que dirige @ orndor salutares conselhos & realezo, © sempre com esse estylo Ornady, sem deixar de sor enersico, que Ihe ¢ to familiar. Dignos de nosso orador sto {ambem o sermao prégado: ha quarld Dominga da Quaresma, 0 do Espirito-Sancto, « da Conesicho da Virgom Maria; finalmente o de Sanéto Amaro torna-se saliente pela habstidadé, com que sabe o orador en careeor o seu herde, fazendo-o0 apparecer sempre brillant ifepois de exasta eomparagho com o¢ personagens das Sa- gruas Bsoripturas. Baste-nos, pois, isto para dar a conhecer nosso illustre conterraneo, © padre Antonio de S4, que com effeito merece © home que aleancou em seu tempo, ainda na presenea do orapul da Oratoria ecalesiastisa, dean‘e de quem chewou a brilhar com toda a intensiio, como bem ilz o ahiksde D, bosa Machado. Apressemo-nos, portanto, em confirmar a proposigio que inmos no principio sobre o merite de seus # Primam elles certamente pela pureza de estylo, ¢ eolo- ride de expressio; revelam grande talento © avultado cabedal de conhecimentos; fio sempre muito logioos, bem deduzides, dis veres eloquentes, como provimos, © nfo tam como dofei "0 vie{o do seculo pelo qual ee deixon areastar tambon, ainda que maito menos, éomo ss terd notado, do qua o grands Vieira, seu mestye. Com efeito, uma ou oulra yer abi encontramos os toques: da pesto gongoristica, os onfadonhos trocadithos © antithesos, que ji fanto censirdmos no precedente aradér, de quem largu~ mente tivemos ~eousifin de fallar; mas nfo sig to repetidos: 68 primeiros, © as segundas so em geral de bom gdsto, pre- dicado que, ¢ forgoao confessar, {inka nosso patricio, em ele- vado gnu. (8) Nao se deixa elle fascinar por sua erudicho, (8), Nko # into 6 que die oar. de. J.C. Fernandes Pinhelto em ‘wet cured de Litteratura nacional, a pags 264; ontretanto conttnuamon 8 mustetm) nossa palavens poraie Nox pirecern male em harmonia ‘com aw Justicn. © #1. conego Pinhulto @ iajusto pia com o nosso con- terranco @isendo que “militden elle woh ae bandelran do celebre prégas oo REVISTA DO INSTITETO HISTORIC de sorty que nfo abafa os quairas, como costumava Vieira; este faria iimoderado emprégo de sua sciencia profana; nos disenrsos do padce Antonio. te Sa, porém, +6 se encontram as: Sagradas Eecripturas, ¢ dellas soube sempre com muito acérto fe folicidade fazer sun inspiragao, sua luz, sen guia, © sua rie queza. Coneordamos plenamente com o st, conego de, Fernandes Vinhelto em ser 9 ovadér brasileiry menos arrojada em sins Imagens ¢ menos hyperdiolico © guindady na phrase do que o jilustre Vieira: julgamo-lo tambem mais exacly nas compara giess mas nav podemos subserever egualinente o juizo que delle fo mesmo criticn, quando diz, ter sido g talento de Antonio ile Si muito mais mesquinho que o de seu mestre, © lnenos ainda acceitamos o menasprezo com que Welle falla o crudite philologe Francigco Joss Evolve. (0) Nao: o oraddr brasileiny ests cerlamente em plano infe- rior ao padre Vieira, mas, si este foi o oraculo da tribuna con= cionatorin, « outro honra-se de tee sido chamado — principe da Oratoria Eeelesiastiea; si aquelie vitt suspensa a cdrte de. Homa deante de sta palayra eloquente, mio menos admtrado foi o Filho da terra dé Sancta Cruz na mestia capital do erbe eatholion; si 0 primeiro enfim extasion a melrapole ea enlo= mia cont pasmosa agudera de seu engenhe, 0 filly dos Tro pices Viti tambon “pendentes de sua elegant energia” ns pro prios monarehas © toda a nobrexa, que admitaram seu talento beithante, O padre Antonin de $4 ¥, pots, ainda juneto de Sn dor castelhany pr. Tail, de Granada, cajas comsethos com » maik exe ‘ruptlosn rempoito Reais # ahiervou!"’ o pul Antonio de SA, xen die Sida alguna, como o# exemploe peovam, tinha mit hom gosto, @ uayn 6. Bonworleme com male parclmonia qué net mestre, —o emuinente Vieira. Demis, parece que ainda 8, $. so acta convencilo West ver Gade, poraie mals aiteante (pag. $55), comfessa-a abertarente pelo ‘eoguinte ‘modo: “Menoe arrojado em sue imagens, era tambem mule Hcaoto © tndre SM nas comparagies: menos hyperbolice « suiniada na rate, erator vit de reer de maior conelaio © propria nos (9) Frinelyoo Jose Freire (Caniide Lisiano) em sua obra — Ree slestes da leugua vortyphesa — assim 9 lx. Nao non parvce muito juste 0 Juizn au respelto deste Itterate portugues emittin algures 0 ie. Casto, «rue diane sandido Tatsitane, de quem, aig das obras $4 impresses, exister ainda ontms manvreriptas, era apenas wm erudite; eareeia de talento arn encriptor, ao xnslo © adgacklade philosopkiea para eritleo: por ile a0 poke dizer vem injuria, © que por outro tal mu lide « sabia iaia 0 nusen Trocage — Rorte pena ter este homem apresudidy Tatimt perded-se n’olle um grande yurvo!—" Sens duvida Candido Lasitand io € into; max aq critieou com parcialidad, © PULPITO NO BRASIL a5 fonio Vieira wn luminosy vulto da tribune sagrada no sneuly deciny seplimo, Assim comegou no Brasil a tribune evangelica, que deste Mio ealo evguen voos de condér altivo; assim comegou vom oraldces de primetra ordem em nosso piaiz 0 pulpite, que tio grandes (riumphos alrangou desi seu bereo. Costumam as Drimeins composiedes sor fracas ¢ quasi tontumes dos talentos, que se esforgam por subir w regides mais elevadas, quaes aves nplumies que experimentam 9 yo temerosas; ¢ quasi sem— Dre deseneontrados © confusos su us preludios Wharpa dedi- Mhada por mios novels. Como Pallas, porém, que sain armada do cerebeo de Jupiter, a Eloquencia sagrada levaniou-se de seu berso, estentando brilhe © grandeza; compensoa o gently A no Vidade, @ 0 engenho fox por si, apesur da falta de modelos, o due o tempo com sua eschola de aperfeigoamento nao promo= vera; assim Vieira fez-se ouvir claro erudite @ cloquente: as sim Antonio de Si mesirou-se olegante, pomposo, aninado e grande. Que mais pudéramos desejar no meado do seculo XVIL, secilo de tml gosto em Portugal, idade de ferro da lifterature ? Quando a linguagem estava corrompida, as fdgos amesquinhadas, enthronizado 9 gongorismo e escurecide 0 ci das lettras, pudéramos espeTar matores padres de gloria due os que nos doixaram esses dons grandes orndores? Apre- senlatn por ventura os extrangeiros nesse tempo melhores trabathis ests gendro ste domposigdes? A Franca, logar ‘onde mais fem brilhade a oratoria, apresentard talver Bossuet; snus quem podera estabelecor parallelo razouvel entre a litt ratura france” ea nossa no seoulo XVIT? A aguia de Meaus formon-se no Tein dua sociedade que se distinguin pelo es plendor dus loliras, no melo do seculo de Luiz XIV, brithanta » sublime como jamais iunea possuiu, nem talvez mais possua a Historia litleraria da Franea; um seeulo om que a porfia tudo. $e ostentou pomposo, ¢ em atte quasi por encanto néo houve: rato de litteratura que nio aitingisee 4 perfelodo, A littera- tura porluguega, entrelanto, em que phase so achava? Ah! a. Titferatura portuzneza ent dormia o letharze da decadenoia 6 somne prsade da indifferener e Ho marasmo. Como nfo se vio por conseguinte realinente admirayeis esses dous zrandes alhletas do pulpito, que, para assim dizer, tiram do nada a Blo- quencli sagrada, ramo que entre n6s permanecia sem eultiva, ‘hara colloca-la em ty elevado greta? came nie serio dignos de admiracio os archilectns que levantam. os eupitais dum edificin magestos no meio de ruinas ¢ de destrogos’? Infelizmente, porém, em todo o quadre ha luz © sombras: Janta nmtis caliginosas © medonhas slo as trevas da noite, quanto mais brithante p animadora f8ra a claridade do diay ¢ 6 RuVIaTA DO INeriroTO HIsrontce ‘02 castellos niio se ergtiem minis sinflo para eatr mais ostre~ pitosimente, como ja disse 9 grande lyrica, ‘A tribuna coneionaioria, depois de tanto sol, eelipsa-se 6 06 da Bloquencia evangelica, depois de tanto dia, escure- ee-se; 0. pois, durante a edado de ferro s6 de espngo a espago ‘yeremos ath ou outro raio de luz buscando passagem por entre as nuvens dessa atmosphera pesada, que toldgu nossa littera~ tura por tanlos e {fo malfadados annos, win ou outro claro, pallide reflexo dum sol quo jit mergulhou no poente, mas que ‘ainda tucta com a esouriddo trazidy nas fuseas azes da noite! Chegamos 4 segunda epocha. SEGUNDA EPOGHA Enlramos agora na segunda epocha da Eloquengia sa- grade enire nds. A primeira foi de porpas, a segunda sera do Tuoto; @ oragdo evangelion terd o destino da eponéa, a noesin sagracla accompanhard 9 poesia profana, Nfio mais eaberfio agora os prégadores inspirar-se nas srandozas sublimea da Religiio, nom mais o Sancttario resoari com aquellas vores de enthnsiasmo ¢ saneio arzoubo doutr’ora. A posto chegou até @ enaa do Sentior; 0 prégociro da vor= dade caminbard tambem jungido a9 carro do méu_ gosto, © queimaré tambent incenso aos idolos do tempo. E' que as inissies sublimadas $6 pentencem aos grandes engeahos, e, quando astes desappareoem pare dav logar ds medioenidaites, ido se nivela pela meeme resoura. 86 podem rosistir aoe rigdres da ventania @ da tormenta ag arvores robusias do prado; quando jazem aquellas por terra, fon este deserto, & apenas aqui on alli coberto de myrrhada » desconhecida plania. Fol sempre assim; nn propria Literatura portuguers, ji s@ ennevouva a edado dé auro, ¢ 9 reinado dos successores de . Joao TI jé divisava os clavies do din que passtra; Camibes, entrglanto, levantou-se ainda; seu genio dea o ul- timo, embora sublime, canto do séeuly do d. Manuel: mas, Jogo que expirou o poeta, como a lampada que bruxoléa ¢ moped, fambem eniu a musa da Poesin nesso somno prow fundo, em due, quasi #° pode dizer, dormitou dous séeulos. $6 Caméos, porque era um genio Lula podido levantar (fo allo @ vor da tuba epic, quando Ji declinava o sol da litte- ralura pare o seu oeeaso; sem Cambes, tudo ficou sopul= tado nos horrdres da edade de ferro. Na Hloquensta sagrada, ni suecodeu de diverso modo, A ‘Literatura jazia amortecida desde que as cudéas do captiveiro agrilhouram os pulsos da patria, e 0 mau ghsto bebido om © PULDITO NO HiABITD iv fonies impuras reyestia, 4 kuiza de Marini @ Gongora, as Doueas idéas que podiam sollar Yablds de escravo; appare- coram, entretunto, esses dous grandes vullos que puderam: lovar a um ponto de gloria a trilune evangelica pela fora de seu talento; mas quem os continuou na esteira luminosa que deixaram? Infelianente para nés, alo foram aquellas victorias devidas sinfio 4 foreu de sei talento; quando este ‘se exlinguiu, quando a estrella tombou no Poente os labios do genio emmudeceram, indo continuou no amortecimento primeiro; ¢ a esteira de liz apagou-se, porque nem todos sfio sues engenhos. ‘Sem vela, @ gem inspiragde, nflo péde aver nem Poesia tiem Eloguencia; ¢ por isto que agora nfo varemos sinéo ovadores mediosnes © discursos imperteitos, em que a Tin suagem, por affectada, se faz enfadonba, ¢ 0 pensamento, por arguto, 86 lovna fastidioso; & por isto que nfo mais vere- mos orades que arrastem pelos vos da imaginagdo, que convengam pelo rigor do raciooinio, que commovam pela expatisio de sonsivilidade, So todos disouraos frios, sem valor ¢ sei Vida, ingados de argumentagdo fina e vepetida, abafalos por melaphoras extravagantes, apostrophes eonti- thas, idéas sroteseas, ¢ arrebiques de divgdo; silo todos dis- cursos, cin que nada se vé de saliente, de novo e de pathe- tivo, exeriptos oom seoesra horriyel, e cm que 46 im ou outro raio de frouxa lux divisa a Oritia Ah! fora, entrelants, sé 0 defeito da linguagem, ainda bem fora. ‘Teriullano esoreveu om linguagem barbara, porem, delle disse Balzac: “Lertuliano tem estylo de ferre, mas com ferry forjou excellentes armas.” Envenenaram, porém, até © pensamento, tudo foi victims da peste; tudo foi inficio~ nado poly may gdslo; as idas 30 amesquinharam, az om paragdes nfy soryiram sino para mostrar conhecimentos alheios ao assumpio; 9 argumento nfo fez sindo patentear 4 arguvia do espirito, enfim tudo subiu ao requinte do alam- hicado e do exquisite. Chegou este periodo litleracio ao ponto ‘iy hem podermos a respeilo de seus eseriptores dizer o que a Italia, lembrada dessse séeulo que para ella tambem foi de decadenvia, diz quando quer mostrar 0 méy gdsto de um auctor: — ha del sei-eento — ! No meio de tanto lucto, entretanto, sirya-nos de consolagdo © regualjo, alguns poucos Nouye que souberam, uma ou utra ‘vez, vecorilat’ as galas de eloquencia de Vieira e Antonio de 84, € a e858 poucns cabe a nosso palz a gloria de os er dado 4 Lilteratura. Com effeito, pareve que & porfia deyéramos os Bra- silineses primar tanto neste geaere de composigdes, que a8 ‘REVISTA DO INSTITUTO HISTORICG quasi se pide dizer, que © genio sha Eloqueacia amava o bafejo Up nossas auras no espilendor de nassns e6os, O oraculo do pul pilo, que io brilhante nome deixon gravado no livre de ouro a, tribuna evangelica, aqui formon seu talento, © comegou sua carreiva gloriosa, inspirando-se nus presiosas riquezas de nossa patria; 0 diseipulo que mais de perto se chegou a elle, SA, vineipe da Oratoria ecclesiastica, lave seu hargo aquecide pelo sol de Guanabara, ¢ embalado pelos favonios da terea de ‘Sancla Cruz; pois 0 Brasil vai ainda dar-nos talentos que, nao estapdo, & certo a par daquelles, comtuda tuzidos souberam apparecer no meio do geral obscurantismo, Shwam de exem= ple os homes de que em seguids tractaremos, os nowes vespei- layeis dle fr. Eusebio de Mattos, fr. José da Natividade, fr. Ma~ nuel da Desterm padre Angelo dos Mis, padve Bartolome Loureingo de Gusmio ¢ outros, Seguindy a ordem chronoloxica, que nos parece a mais apropriada ¢ conveniente em trabalios desta ordem, fallaremos em primeiro logar daquelle que tambem primeiro citamos. Fr, Eusebio de Mattos— Nfo possuimos, nem podemos en- contrar sermao algum de tio ilustre conterraneo nosso; « silencio que guarda: seu Fesprito fra censti= ‘ravel, quando fanto coneantany os historiadorws biogeaphos om clogiar sells (alentos ¢ allos dates oratorios. Nascen ello na cidade da Tahia em 0 anno do 1620; depois de cursar os primoiros estudos, tomou 9 habifo de padre da Companhia de Jesus, na qual, porém, nid pefmanceen muito, passando-s para a ordem dox Carmetitas, sob cuja vexra findou uma vida ‘exempta de nédoa © preenchida com a mais rxacta observancia da virlude, Grande foi sou laloata, e muito se distinguiu nas eadeiras de Philosophia e Theologia, onde leu por muitos annos, rece- endo sempre os maioms eneomics de ouvintes © discipalos: © nem menor foi o applause com que prézou, sendo-thy de tanta gloria 0 pulpilo camo a cwteira de lente. Foi Eusebio de Mattos tambem musieo, ay icv, pintor e poeta, mostrando em todo tal talento, que Vieira ¢ almiraya, diendo que Treus se apostéra em o fazer em tudo grande, e que nay fora mals por ni Lor quesida Sabemos simente que delle se imprimivam: Praticar no collegio dia Bahia nas sextas-feivas de Quarestina @ noite; um serio dia coledade ¢ lagrimas de Maria Sanetissinia; uma col~ ecco de 15 sermies do padve-mestre tr, Eusebio de Matlos; © a Orato funchre nas exequias do Thm, ¢ Reym, Sr, D. Bs feviio dos Santos, Bispo do Brasil, Seus sermérs do Rosi desappareceram em manuscripto, segundo affirma o abbade Barboxs Machado. 0 PULPITO NO BASIE 9 Que infelicidade nao 6, pois, a nossa, por nto éncontrarmos 9s diseursos de to insigne varao, admirado em tudo pelo pro- prio Vieira? Que nao nebariamos ahi de bello © grandioso, que cabedal do riquezas nfo verixmos nolles derramado? Contentemo-nos, entretanto, Ji que razio mais poderosa nos impede a analyse, com acroditar no tostimunho de auolo- Tes insuspeitos 6 de muito peso, tomo o hingrapho ja cilado, que, fallando sobre 6 merito desses sermins, clogia-ox muito pela subtileza dos racincinins, © yehemencia dos affoptos, O home deste padro é um nome vensravel; seu eharacter foi sem= Pre nobre o elevado; ¢ seu genio, cumpe dieer, a aantithese per- foila do de seu ermio, Gregorio de Mattos Guerra, 0 mordaz salyrico, 0 {ustigador vinulento. ¢ doscomedide dos vivios da Babia, Juvenal portuguez, que tanto emparelhou com o ce- Jebre Aretino, mais conhecido por — “tlygetln dos prineipos, Fr, Joné da Natividade. — Naseeu nn cidade de 8. Sebas- filo do Rio de Janeire, em 19 de marge de 1649; ¢ na mesma cidade se fox monge de S, Bento, no mosteins de Sancta Maria de Montserrale, Admiravel progresso, diz o auctor da Bititorkeca Lusitana, fet sun applivagto nos estudos escholasticos, sendo {iin insigna nas espeoulagies de Philvsophia 6 Theologia, que nio simente adquirin 2 antonomasia de subtil, ou fosse dictando nas cadei~ Tas, ou argtimentando nas aplas, mas merecen recehor a borla doutoral ema Universidade de Coimbra, Koi abbade do mos~ teiro de S. Sebastifio da Bahia, presidente de Provineia o ulti~ Mamonte provincial eleily — logar que a morte nfio consentin exereilasse: fulleceu na Bahia, em 9 de Abril de ‘monges, em honra a seus (alentos, virtudes e digni zoramelhe exeqins solennes. Prégou muito fr, José da Nal vidade, 9 com muito applaaos publicou, porém, sémente, quo saibamos: o sermio de Santo Agostinho; a oragio funebre ‘da trastndugaio dos ossos do sr. d, José da Barros + Alareio, primeiro bispe do Rio de Janeiro, em 81 de Agosto do 1703; © 0 sermay de S$. Frandiseo, pattiarcha.. Nio Livemos possibilidade do Ir 9 primeira dostes discur- ‘S08; 08 dous ullintos, porém, livemo-los ontxe mios, 6 bi em sua analyse daromos togso juizo sObre 9 talonto ora José da Natividade, o subtil. A oratio sline a Lensladagai dos 08808 do. primeiro hispo do io de Janeiro é notavel pela feoundidade do progador, que da similbanca enire essa Leusladactio © a sos ossos de ‘Toss, Vieo-rei do Egypt, soube tirar 0 assumpto para ium extensd disenrso, em que no Juz mais outra idéa sindo esta. Perfeito 4, powém, » parallelo, e nko exeapa a niinima eivounstancia ao oradon que em tudo vai avbar a mais perfeita simithanea entre lum @ outro José. Expte elle os motivos que levaram o bispo 4 3 REVISTA DO INSTirUTO HISroNeD fa pedir que so frusladasceny seus desoe para Levrit da’ patria, pelo. seguinte mol: *Mandou (aslarar-se para que, abrinde-se o tumulo de cou eaulaver, e-nfio se achando nelle mais que os seus ossis, a sha caveira eas suas cinzas, se desengansssem os Grandes ¢ ‘audyerlissein os Prineipes, que todas as suas magestades e pom= pus véo pon fim s parar om ins asso sfeens, em uma caveira inyrehada, ¢ nas funestas cinzas de um tumulo; e, para que fi halment®, com a Irasladagio de seus ossos, se imprimisse em fs nossos eoracdes a memoria da morte, meditando-a camo desengano infallivel de que todos estamos sujeitos @ mesma Parea cruel, que Ihe tirou a vida, ¢ que assim aprendamos na esehola, que linje nos mandow abrir no seu monumento, a re forma de nossas vidas, com os desenganos que ainda hoje nos di 6% seus ossoe depois da sia morte, Oh! que documentos, ‘quip desenganos, e qué doutrina de tanta importancia para todo, esly povo oliristao!” Em outro logar 6 onaddr, depois de indagar 0 motivo: por que o distineto prolado mandira trasladar somente os bscas, diz, em resume: *— ... Em tudo s¢ mostrou na sua morte q nosso illustrissimo bispo d. Jost eom excellencia fiel nao 26 para com Deus e todo este se povo, sinio fambem fel oun a terra de sua patria: fiel com Pons em the entregar 9 sett ospirity (odo, firme na f6 das suas divinas promeseas, Fiel com toilo este eeu. povo em nos deixar nesta trasladagio de seus sss, entre as einzas do mais cadaver, us do sen coragio, 180 S6 como tespertadores para o nosso desenzano e doutrina, info lambem como memorias da fidelidade ¢ do amor com ‘aque nos tractow, Piel tambem, finalmente, com sua patria em mandar no seu testamento, que, para sua terra, onde jazem os badaveres do sous pias xo Innsladassem as seus oss0s, como publieos trophéus da sia fidelidade, © como ardentes victimes de seu amdr sempre encendide © nem com a morte apagado-” Hmfim, eonelae fr, José da Natividade: “Estas, 6 illustres ossos do nosso defunct bispo d. José, estas so ns occullas grandezas ¢ extellencias, que nesta vosea {raslalacio pdde hoje deseobrir a minha ignorancia, Parti hoje, iinstres ossos, para Urasladar-vos 4 terra da yossa pa~ triay © por que pactis para yossa terra, nao vos ausenteis sau— dosos deste noseo Egypto, ide sim alegres, si € que péile ter logar a alegria entre os funestos Nerrores dum tumulo; mas, si David achou que se podiam alegrar uns ossos ainda quando humilhadns va sun sepullura, parti-vos nesse tumulo conten= tes, porame ides a descangar, sublimados entre as cinzas dos Vossis illustres progenitores. Nao vos embarqueis (ristes, por que ainds que ides mettidos nesse feretro, como despojos da morte, tambem vos Ievam eardados nesse eofre, como glo- 6 PULPITO No Dhasi Tiosos [rophéus da fidelidate, © come preciosae prendas lo amor daquella ilustre alma, que vos dew av da, ele.” Ye-se por adil quanto faria a ness conterraneo, si sem= pre s¢ conseivasse nessa altura ¢ grandoza; as mais das vezes, Poni, accompanha elle o espirity de sua epocha com subti- lezas e eavilagées improprias da tribuna sagrada, Em seu sermio panegyrico de 8. Franciseo de Assia nao menos deixa transparecer o illustre monge benedictino o seu talento; eai, entretanto, com grande frequencia, nos mesmus defeitos que apontames em seu primeiry diseurso. Most ainda neste panegyrico fr, José da Natividade a sum habilidade, Sabendo onearecer seu horse, de quem diz elle: “Sancto, qué era allante, em cujes hombros se sustentavia a egreja da terra, um sancio, que era a columna mais firme de sua fé, @ ancora mais segura de sun esperanca, @ o Rtn mais ardente da sua caridade, vim saneto que enfim era uma cifra de vir- tudes, um compendio de marayilhas, um pasmo de ‘sanctidade, # un: portento de grag.” Paraphraseando depois uma visao de Tsaias, fer elle 9 pax rallolo entre o que se dra com o Senhor ¢ coun S. Francisco: “O Senhor, que vin Tsaias sobre um throno exeelsa e ele- vado, representaya a Christo sucramentady ¢ da mesma sorte que aqui © vemos exposto naquelle throng; aquellas cousus que estavam debaixo dy Senhor © que vin Isains enchiam o femplo, ou, como dizem alguns padres, eram os festivos pa- Famentos, as rieas sedas e pannos de que estavam ornados assim o throna come todo 6 templo, em que viu Tsains ao Senher e disso mesmo vemos hnje tamkem ehein aquelle throne e toda esta égreja; ou, como dizem outros padre: eram a immenso poder, a imagesiade ¢ gloria de Deus com que a 6 do prapheta ronhecia estar eheid o templo que viu, que ¢ 0 que tambem eonhece @ nossa fé nesta este; todos eremos quo ext aquelle divino Senhior com todo o seu poder immenso, com toda a sua maseslade © toda a sun gloria. Os seraphins, qué viu e ouvin Isaias estar louvande ao Senlhor por fres yezes sanclo, © por Senhior 6 por Deus dos exersitos, hem sabeis que signiticavam os seraphicos religio- sos, que em allernados thoros dia neste templo ao Sanelissimo ‘esses mesmos Jouyores. Aquelles umbraes, finalmeate, que cobrinn as eouceiris da porta do temple, que com os echos das vores dos seraphins yiu Tsaias se commoy eram ¢ abala- ram quando se enct Jodo o templo daquelle fumo, em que se symbolizava a gloria com que Senhor linha cheio 0 tem- aie exam singe timas sombras dos Ienhos ¢ taboas que weste Tigein fronlespicio sto ox ambraes com que se cobre 4 porta deste nove tempo? Estes sia as umbraes que vin Asaias thmmoverem-se ¢ abalarem-se.” 52 ‘REVISTA vo INStITUTO HistONCG © ‘Tal 60 eslylo de fr. José da Natividade, que, contudo, nos parece muito melhor ¢ menos efasdonho que 0 de seus coevos, Tinha elle muito saber. grande talento philosophies, ¢ notavel subtileza; seus sermies sto espellios destas qualidades, mas sio {ambem mais ou menos vivos espelhos do vieio de seu seoulo, ainde que eonfirmam o nome que alesncou o oradar, ¢ 0 logat ema’ 0 ‘tém seus biographos de — prégador dis- tine! Fr. Manvel do Desterro, — Naseeu na cidade da Bahia, em anno de 1652, foi eustadio da Seraphica Provincia da Imma- culada Concoican do, Rio de Janeiro, ¢ lente de Theotogia. Passou par grande philosopho, » eminente prégador, prova do que deixou em varios disoursos, que née podémos haver és iniios, mas de cujo mereeimento fallar: com elogio fr. Apol- Tinario da Goneeigio © Ding Rarbosa Machado, BI justo, por- tanto, qve nio exquecamos aqui seu nome. Oecupard agora a nossa attencfio 0, Padve Angelo dos Reis. — Em vm logar do serlio da Bahia vin a tux do dia o padre Angelo dos Reis, em o anno de de 1664, Vestin em 1681 a roupeta dos filhos da illustre: Companhia de Jesus, que io grandes homens den ao mundo, a quem {anto deve 9 progress: moral do Brasil, Em seu Eremio foi o nosso patricio distineto, {4 como mesire de Hu- manidades, de Philosaphia © Theologia nos collegios da Bahia edo Rio de Jancin, que admiraram a altura de sua intel- igencia Drilhante, Ja come um dos eelebres progadores de ‘seu: tempo, arte emi que ainda poude receber as liegies do oraulo da Eloquencia sagrada, 0 grande Vieira, de quem fol por alguns annos amanuense minentemente yersado foi Angelo dos Reis na Historia seoular 9 eeclesiastica, que faziam especial object de seu e8- tudo, chegando seu saber a ponto de elegél-o a Academia Real sett rolloga supranumerario. A applicagio ds seiencias the nao abafava, porém, os nobres gentimentos do coracéo, © reloso pela salvagio dus almas tevantaya-se muitas vezes da cadvira, em que era ouvido com todo o applauso, para exeroer 9 minislerio de missionarin no mato das selvas, renunciando ‘os Iouros da oschola para cingir a fronte com a corda do ‘mattyrio. Deus pareee que ouviucthe as rogos, ¢ @ morte 0 veiu sorprehender neste sanclo exereicio; ao lempo que apos- folicamente discortia pelo sertio de Cana Brava, perdea a vido em 1724 cate insigne ornamento da Companbin de Jesus. Dos muitos sermdes que prégou om diversas festividades, Sempre com a maior aeceitagin, $6 sabemos estejam impres- sos: 0 Sermdn da Restauracdo da Bohia, prégado na Sé da mestia cidade; 9 sermao da canonizagho do apostolo do Oriente, © PULPITO NO BRASIE. 3 8. Francisco Xavier, prégado no Rio de Janeiro; 0 de N. Se. de Belém, e o da Soledade de Maria Sanctissima, De todos estos diseursos, porém, em que tanto devera (er brilhando 0 talento de nosso patricio, 3 aleancamos um, 0 da Soledade, que realmente justifiea a nssergia dos historia ores, que fazem ante elogio ao pace Angelo dos Reis, © que, s1 por tim lado nos enche de regdsije por ver a victoria, de'um filho do Brasil, por outro faz-nos lamentar a falta dos mais sermios do mesmio orador, que fia bella collocgio po deram formar. Sirva-103, entretanto, este si para mostrar @ justica do nosso enromins, & bendigamos esta felicidade, que jf nto & pequena 4 visia do geral desprezo w obscuridade, £m que permaneee tudo que nos pertence, Bo sermiy da Soledade da Mae de Deus notayel pelas dollezas que em todo elle se encontram, jd de estylo, ji de Pensimento, ¢ sobeetudo pela sensibitidade o unegio que nelle dominnm, Propée-e o orndor a pinlar as déres de Maria pela’ morte de seu divino filho, ea procurar 0 lenitivo para tssas dOres; embalde, poréin, passa em sta imaginagao tudo que abrandar podia a tnagoa daquolle eoracio afflicto: acaba elle confessendo que nio tem lenitivo » Soledade da Mao de Deus. Ougamo-in, © seja_o primero exeerpta o exordio, que, apezar da linguagem um poueo de mais emphatica, 6 com- tudo bello, “Yiu 8. Joie um novo eéo, que ainda até agora nfo esti entendide, posto quo variamente interpretado. “Mas, si 0 eéo ¢ tao antigo como o mesmo mundo, & com © wundo (eve prineipie, que nove céo cra aquelle sinko ty, Mausoleu sagrado, Urna sumptuosa, luminoso fuinebre monu- menio, Thvono elevade de Deus, que ahi adoramos vivo, 0 tamulo adoro de Dens, que ahi choramios marin? ‘Tu, for meso mappa de tees, cara fammante onds assiste Deus entce laharedas, Etox que respira incendies, ¢ assento luzide dos astrus; porgue, sis ustros so as tochas do eéo, essas tochas quo em {i vejo, sin as Estrellas que te esmaltam, Nem me admira qué se divisem em {i aa estrellas, porque bem eonbego que esti posto » sol ¢ eclipsada a lua. “Tn, venturoso campo, onde estd escondide o melhor the- soure e enterrady 6 melhor talento; que por isso le comprou. J aquella magoada mie, dispensando por ti em preco um mar de perclas, E si o edo se chama edo porque encobre, a Li que agora encobres esse divino depSsito, com bem mere sida razio te chamou novo edo o Evangelista, Mas ja nfio quero dar-to (io ditoso nome; Ja nfo quero chamar-te assim; poraue, si 0 08) Ga fonte de todos os goslos, quem nfo conheee queés (1 a causa do tantaa pons. emblema tragico 54 Revista po INSTITUT) MSTORICO de tristeza, traslady vive de Iueto, @ lastinnsn motivo de lameatos? Verdugo sini, te chamo agora, da methor alma, ¢ tysanno da melhor vidas porque, oeeuttando em tio corpo do lilbo, rovbas a vida o feres mortalmente a alua da nvie! ‘Assim 6, megoada Senhora, assim 6; magoada estais ¢ feria do dér entre mortaes desmaios pela morte ¢ ausencia de vosso filho. Sol, loa, e aurora yos chamaram os anjos no dia de Noseas glorlas; hoje, pontin, suc é 0 dia de vases dros, quem nao vé que esti esse sol coberto de gombras (ristes essa tua padsoendo eelinses pallidos de sentimonto, ¢ essa aurora cherando insessantemente lagrimas de amaraura 2” Quereis ouvir sore uma pintura sentimental, @ bella em sna sinplicidade, das dires, que o coragio da mie de Christo soffria pelos tormentos de seu filho? Bila: *Vistes 0 mar formentoso, eomo passam nelle as fondas crestidas e vo seguindo. umas ds ultras? Pois essa a similhanea das grandes ondas do mar com a grande dot do Maria pela morte e ausencia de seu filho, “Vinha tima onda de {risteza, «ainda esta nao tinha pas- sado, da paquelle corsedo forido se levantava oulra, Via a affli- gia mie a seu filho eaminhar com 9 pesado lenho da cruz os hombres, © passava uma onda de tristeza, pregar na cruz © romper-Ihe os pds @ taos com duros eravos, ¢ passava outra onda maior. KE porque cressia a tormenta cada ver mais, lambem creseiain ada vex mais as ondas. Vie levantar 0 madeira da cruz © a seu filho pregado nella, suspen: nor, no aneie de seus inimigos, © rodewto por lodas as partes de viluperips, e passava outra onda maior ainia. Via-o expiar ¢ dar a vida entre tormentos @ dor hradanda ao evo © Iprubrando-se repetidas vezes a sua mie, que tinha & vista, © passava outra onda ainda maior, Via finalinente quande o puzeram na seputhira, onde se despe- diy doilo com os ultimas abracos, ainda due nfo com os ul timos gemiilos. Viu que 0 cobriram com uma pedra, tirande~ The juinctamente dos olhos a luz e do coragio a vida, E aqui subia a onda ¢ se levanton tio alla que chegou a ponto de nautragar aquelle eoragda amante.” Y-jamos agora a riquesa de sua imaginagio quando define a Soledade; ha talyex aqni bastante resaibo do mau gosto do- roinarile, mas con tudo & digno de cilar-se. “Sabvis que cousa é Soledade? E) uma setta que fere a alma; uma espaca quo traspassa 9 coragiio; uma tanga que abn porta para que séin a vida: um accidents mortal que chowa a ser morte, Kuma sandade yehemente, que conse me; tan dlesojo ardente quo lastima; um veneno mortifero que mala; um verdago cruel que atormenta, ¢ um tyranno fero quo martyriza, FE’ a nuvem de todas as eonsolagdes, 0 véo de 6 PULPITD NO BRASIL 8 Jodas as slexrius, o eclipse de todos 9s jubilos, a sombra de Todos os gostos, a ausencin de todas as doguras, «a privacio ‘de todas as sunvidades... E' o,argol de todas as agonins, o valle de todas as lagiimas, ¢ a regifio de todos os torments.” ‘Oricamos enfin a peroragdo reste mesmo discurse, que som duvida @ de grande merito; 0 orador, depois de apresentat 16 aitario, pinia o estado ite Jesus, ¢ conelue que a Soledade da Senhora nao tem. lemtives “gato 6 0) objeeto da bemaventaranca aa gloria, Nas em {ao lastimose figura apparece aqui, que posso duvidar si a ¢0- ecels, FE que alegcia pide ttnzer a yossm coragio ver Hin alfeain esto rosty, tio dssinaindas estas frees, 0. bio sem oe elas rosns? Vér estes olhoa sem vista, sem esplendor e sem fuz, sendo elles a Yar de yossos ollins? Vir esta bacea donde penedias. Era miuito ¢edo. para que Vigorassem as nobres idéas dum bispo brasileiro, animador das letiras, © do vicw Rei senerosy que queria afastar do povo ‘infeliz @ captivo as nevoas da ignorancia do obseurantismo { ‘Nos bragos do despotieo gonde de Rozende, diz. um escri- plor, expirou a nova Ateadia, ainda balbucianto; @ nés ajun- “ctaremos, arbitrariamente prenderam a Silya Alvarenga sob pretexto de eombinacdes na conspime’o da Inconfidencia, © dispersdrain todos os membros da sociedade nasconte 1 Assim se frusirou uma das bellas esperangas do bispo Mas carenhas, que, enlretanto, mostrou sempre o mesmo amor e dedivayio pelas lettras. © PULPITO NO BRAstL 6 Como orador suzraio tom elle hoje logan em nosso’ es eviplo, » compro dizer como tal, que go2ou fama de optimo Gr: 60 que affirmam unanimemente os auctones que ole flag, TERCERA EPOCHA A nnvem dissipou-se, « 0 firmanjente das Tolteas yak ap pareeor radiante e esplendido como outrora; Simoun abra- sade passou, © as flores do ameno campo da Literatura ¥io levantar a fronte pallida e emmurchecida, a que um orvalho vivificanfe agora renova as gracas ¢ a bellez. primitivas. © gongorisine corte banido pela reacgdio do hom gosto; de novo se osteniam os luxuioss dias das lettras quinhentistas em Porlugal, © com ellas a Eloquencia ergue 0 coll do meio das ondas, ens que se havin merguthado. Qual foi, porim, a causa dese renaseimento depois de tantos annos de lucto? Bis @ que cumpre ser indagado em trabalho desta otviem, onde as eatsas dos acontevimentos & as cireunsianeias, que os accompanham, nfie podem pussar sem analyse, Muilo jd se fem eseriplo sbbre esta materia, e dis tineios Tilteratos s6bm ella tm derramade as Inzes ‘de seu saber ¢ talento; ajudande-nos, pois, em seus trabalhos diga- Mos alcuMa CONSH A PssH respeito. Queiran embora alguns altribuir o renascimento das Ietlras porluzuezas a eincunstaneias alias importantes, como a grandeza de anime de d. Joao V, que tanto se esforcou para imilar ao soberany da Franga Seu contemporaneo; queiram fembora apresentar como enusas dese facto os trabalhos da Academia Real da Historia Portugueza, fundada em 1720, ou noforma da Universidade de Coimbra, feita pelo marquer do Pombal: a nase vér é preciso buscar em outra fonte a causa directa o verdadeira desse renasoimento . D, Joan V foi amanto das letras; mas, por amor a jus~ tiga, & forgose confessar que nao foram sino muito secun— darios os esforeos que fez para este fim; a Academia da His toria Portugueza, que linha por filo. eserevar a historia’ do Reino, moyia-se dentro de limites muito, acanhados, e ainda que prestou servigos, © @ “digna de consulta a copiosa col= “Jeera de suas menrias documentos, com tudo por amor “a verdade & preciso diner que ella nfo fez singia um labo- ries) exame © ajmetamento de factos perieneentes aos “varios ramos da Historia, expostos num estylo inchado, alheio “da verdadeira eleganeia @ ainda por vezes inficionado do “contagin geval do seculo”, como hem diz Aragao Morato. En. fim, @ reforma que fez 0 ministro dé d, José L na Universi ‘dade dy Coimbra, ond Garrelt, se _enirineheirade a barharidade como em sua ultima cidadella na 6 ‘REVGTA Ho INSTITUTO HISTORIC ‘Europa, nflo tee a influencia immensa © directa que proten— tiem alguns, porque ells ni tastou para demolic 0 edificto ‘sgiganlado que 9 Gongorisino levantara. SAo factos todos ro- veados de alguma importancia ¢ due a meio foram lavrando © campo, que se devérn plantar mais farde; mas tho de longe exereeram sua nfluencia, que nelles no podemos eacontrar 4 caust directa e decisiva de acontecimento tio elevado, e de tio grandiosos resultados, como 0 renascimento das leitras portuguezas no seoulo 18%. Forga é pois, buscarmos outra causa; enconiramo-la na formagao da Arcadia © nos seus trabalhos. Com effelto, 0 Gongorismo, do qual sairam “a infeslar os campos “Da hella Poosia os anagraminas, “Labyrinthos, acrosticos, segures “H mil especies de medonhios monstevs, “A' cuja vista as musas espantadas “Largando 08 instramontos se escondéram “Longo tempo nas arulas do Parnaso, © Gongorismo, digo, essa ave negra e fatal, que pairou sdbre os prados da Litleratura, como a ave negra de Klopstock, que extendia suas azas sObre a cidade invadida pela peste, nao fugiu sinfio deante dos Arcades, que, na phrase de Elpino Nonaoriense “ouséram com espanto do vulgo tragar aovas © prosperas carreiras sObre 0 campo glorieso do Tejo”. Yornsy linha escripte, 6 certo, um grande livro em que so prosentin a restauraeio litteraria; mas nfo sio sino os importantes trabalhios de Candido Luisitano, de Elpino e Go- rydon, que yém dar forte iinpulso dessa rogeneragtio in— tellectual; nfo sio sinio os grandes talentos de Diniz e Garo, esses dous homens que valiam Lota a Arcadia, que abrem a porta ao hom gésto @ a edade de prata da Literatura portugueza. Antonio Diniz da Cruz » Silva, Manuel Nicolo Esteves Negro v Theotonio Gomes de Carvalho, eis os nomes dos res furidaddres da Academia dos Arcades: pelo primeiro foram foitos sous Helatules, segundo os quaos eo destinava a Sociedade a formar uma eschola de bons dictames e bons exemplos em materias de loquencia e Poesia, que servisse de modelo aos maneebos estudiosos, © diffundisse por toda a hayio o ardor de restaurar @ antiga belleza destas esquecidas artes. 'Taes foram os yolos © desejos do doulo Elpino; e a Arcadia silisfez a osses dosejos @ yotos de seu fundaddr. Ha com effeito de nolavel nesta Academia, que feita ella 4 simi- Thanga da Arcadia Romana, fundada por JoKio Mario Greseim- 0 PUEPIRO NO WRABE o beni para desterrar @ miu gdslo que egualmento reindou na Talia no seculo 17°, teve tamhem como esta os mais bri- Thantes resultados, @ aleangou do mesmo modo {flo esplendida— ‘Tente seus fins, Na veriade em Portugal, a mudanga da noite para o dia foi manifesta; a reacetn operada por essa eongresso. do sabios foi clara e incontestavel. Tudo so despi daquelle negrume primeito; dadas as regras do bem escrevér, aconse- Yhada a ieitura dos bons eseriptores quinhentistas, inculeado, 6 estudo da linguagem patria, 0 onfim provado tudo isto om a effieaeia do exerplo, nfio houve sinfio trabalhar para a re- ‘xenoragio, nip se vin sino esforgo para o reapparecer dos ellos dias doutrora; Garedo (13) de um Jado abrindo margens ‘ans vos da’ Poesin: Diniz do outro, purifieando os escriptos » privando-os das maculis da peste (44); Quita (15) mais além tirando da ayena pastoril maviosos sons dignos de Theo- erito © Gessner; Freire (16) ncold diotanda sabios consothos, ¢ entiquoeendo os thesouros da lingta portugneza; todos, en fim, procurandg deixar nome cheie de gloria nos annaes de sua patria, ¢ {ractando do elevay a Lilteratura 4 nobro ¢ aurea. simplividade de seus tempos primeiros. OQ Brasil, entio es~ pellio da metropole, fambem participou dos heneficios da re~ Keneragio litteraria, ¢ w Eloquencia accompanhou esse movi- Inento; purificamdo-se ¢ aperfeigoando-se a linguagem que é seu instrumento, ella tambien chegow singe ao cume da per= Cadeiaa du inaginacko, e asweata melhor & subiimidadn o grandes + Como posta Tyrie, Garsto ocoupe tim dos mais éistinctos.lo- info talver o primeio: sun cantata de Dido ¢ a. noaso ver Que Mlustrara a literatura porteguesn, © & far viver, 9 Laisiadan Je Cumies; demais, ako gomox nd 26, sino ‘enna ave realmente pent na balan do critiea quom'o dle: de Dido é uma das male gublimes compostofes do. cesero. humans © dite mals perfettin obrax exeeutnlsa Ua tai do. horyesn", ‘Gavrrtt.). (14) Antonio Dinix aa Crug © Silva, foi auetor de sublimes eden ‘indairlens, » do poem era-comico — © Hiswpe — ane tanta acimn © elevou go genero de Boileau, a quem choy a exccter. (13) Domingas don Tis Quita € vem contostagfo posstve! 0 Urimeiro do nostow poutas pastoris; vedas 0. adbre elle dizem 0 st. Tn~ oneuciy dg Slim em xen — Diccionario Wbliographico —; Garrett, em seu — Hospunlo da Historie da poctia ¢ lingua portuguesa —; © 0 set. congo dr. Fernandes Pinheiro em sou — Ourea de ZAtteratura nae clonal. (1e) Francisco Jose Wriire — Candido Liwitano — 8 HEVISTA bo INSTITENY MisTortcd feigho, peto menos a urn gedu bastante alto de alperfeigon= mento. Naseida, por asin dizer, quandh comecaya a edade de fervo da Lilteratura, eriady sob a influencia de agentes perni- ciosus ay bom gésto, olla 36 agora apresenta vordadeiros paviroes de gloria que rombam do tempo, © chegany a posteri- Cade, <6 agora apparece no pulpito tevestida de brithe © de gvandeza. ¥ com o senascimento das Tellus que sures a edade de our) da nossa Oratoria ecclesiastica, eneravada na ferceira ‘epocha dy sua Historia. : Vieira © Antonio de Sd, ¢ certo. abrilhantaratn sagrada no. principio da edade de ferro; mas esses dous homens foram destocailos, « tiveram a infelicidaile de viver dobaixo de uma almosphera inficionada; niy deixaram um ‘56 diseurso que possa hoje servir de modelo, aperar de secem aroun pales engonhes de primeira ordem para seu tempi, T?, pois, com # restauracao de nossa Litteratura que surge © hello © aures periodo da Eloquencin’ sagrada entre nds; pudéra deixar de ser assim? : Pode por ventura haver Eloquencia ser liberdate 2 pode aver Kloquencia sem simplicidade ? nia 0 eremos: comme pouia olla deixar padres de gloria & postoriciade, quando o Vicio de uma Linguagem impura a estreitaya, a esmagaya com braeos de ferro, ¢ the tolhia as azas 2 Pras sempre entre as pontas geometricas de uma antithese, abafada sempre pelo: poss de uma melaphora, sempre vestida por unm subtilexa ¢ ‘armada de tima distinegdie, como fora possivel a palayra sa- ‘grada ser verdaiteiramente eloquente 2 oi Hem soi que a epithelo orna o estilo (17) que a mela phora enuncia melhor uma idéa em toda a sua forgt, ¢ que ‘alé a Bloquencia nfo péde persistir sem esta linguagem au~ ine Sei que a comparacio © PULPIT). NO URSSIE 60 sine” (18); que a tmotapliora empobreco a eloetietio ea forma srutesca, quando 4 imagen @ falsa o de miu gosta; tanibem sei que a comparagio. forma @ estylo enyphatico © enfulenho, quando nio tens novidades nem exaetidao, nem edry sei tambern que o estylo numerdso, quandy exagerao, pea a divgio ma gestosa e sublitne com que se desenyolyem os movimentos Walma; sei enfim © aftirmo com Buffon, que “nada é mais opposio a verdadaira Eloquencia do que o emprego desses pensamenios finos eo sebuseado deswas idéas loves, destiga~ tas © sem consistencia, que, como a follia do metal batide, nlio fomam brilho seni a custa de sua sitided.” Poder-se-in pois prestar & Floquencia o estylo do seoulo 17% envenenaio pelo Gongorismo ¢ coin os pulsos ro xeados por tars cadoias, e.caminhando tay longe da natureza, Dudéra olin existit 2 Foi por isso que comocou a edade de oure tia Oratoria eeclesiastica com o resurgit das leltras; foi porque este (rouse consigo a pureza ¢ a perfeicao da tinguagem. ‘Temos, pois, chegado & terceita epocha do Pulpito; se~ undo o plano que adopkimos, entremos np connecimento dos filhow da terra de Sancta Crux que ilustracam neste periodo ‘4 tribuna evangeliea com o vigor de sua palavra. Sip ainda aqui us Brasileinos os athletas esforgades que pio von 4 arena sino para salir cobertos de mais virentes Youroe; si0 ainda agora os nossos patricios os oradores de. primeica orem, que por vezss podem entra: cm paraltelo eom bs mais eminentes prégadores de todos os paizes. Com of- feito, Caldas, S. Catlos, Sampaio, Barbosa e Mont'Alverne o provam © testifieam. ‘Antonio Pereira de Sousa Caldas. Nasceu no Rio de Jancico 4 24 de Novembro de 1762, e foram seus pois Luiz Pereira do Sousa, ¢ d Atma Maria de Sousa. Nao logrou passar sta mocidade eulre as harmonias e Dellezas da terra hafal, porque sha debit compleigho, © infermidade, que o sal teavam de continue, ebrigaran-no a abandonar o ninho de (48) HorKeio 38 tem: Gal Mapervacunin plevo ite poctore manat. 0 grande Blair em sen curse te Riconoa 6 Bolla Tatras dix: Mo jornato mul estudado pre- Sialea io estyto, axsim como tn Hiomemicc.. Em don maiorcs segnedos saenne de cecrever eabor ser simplen a propostos a slmplicidade faz ‘op ornaton, quando sia Giapostos do modo conventente ; & & iobren deve tedo © seu 1a enim ent dtoawens, dinse Cleeve. niet Numidia aybtiliter, et hiaguas qraviter, et wediverta temparati poltnt illoere ; nam arat wihit Jorhat, erauauitto, whit tenis wail definit®, atinet® potent, Meare, 8. Tone nom procparatia auibun uiflaxomare rem cocplt, furere mul MNO, quant inter sovring Dacchark temntentus videtur’ 10 REVISTA Do INSTITUTO AISTORICO Seus améres, na edad de oito annos, para in & Lisboa pro- curar aquella sade que (fo cara devér ser é patria, Abi com effeito Caldas poude alcangar o que almejava, e 1 6o- mecou. tambem sua educagio litteraria, indo depois para Coimba, quando vos 46 annos completo os estudos prepara torios. Distribuindo seu tempo entre © commercio das sciencias juridiens 0 ameno [racto da filha de Homéro, Caldas desde logo fol mostrando sea admicavel falonto, j4 Naquellas seiencias, jé no cultivo da Poosia, » hem depreesn correu nas azas da fama 0 nome do auctor da Oile ap homem. selvagem, que, embora se bastasse em theorias subversivas ¢ falsas, quaes as de Rousseau, era com tudo um brithante tam- pejo do genio que comegava a apparecer, e que desde eedo subia tanto acima. Idéas paradoxaes, perém, © tao infensas 08 sabios dictuues da religifi, como as que apregodra o nossa Patricio, nde podiam passar despercebidas na’ epocha, em que & Inquisiego com olhar vigilante © admiravelmente perspicaz Vigiava pela observancia dos preceitos da si Moral, © im ‘Pedia a propagarto de doutrinas perigosas. Caldas tinha-re deixado arrusiar por sou enthusiasmo de maneebo, © nao pe- sara ni balanya da razio 0 perigo daquellas idéas, que, si bem muilo hellas na apparencia, nem por isso deixavam de sar na Sua essencin utopias intealizaveis, ¢ vordadeiros paradoxos: tinha cantudo o “home selvagem © postergado as vantagens da civilizagio © da veligifio: o Sancto Officio, pois, julgou con= veniente chatia-lo ag seu juizo; flo retractar-se de pen- samienlos {fo ervoneos, @ mandou-o reeluso para a Congregns ‘eo dos padres Calechistas dle Rilhatolles. Ahi Caldas, entregue 4 leitura do livros sagrados, ficou Dor espace do seis mezes. fines os quues, aleanyando o perdao, fol terminar seus osiudos interrompidos pelo acontecimento de que demos noticia, Roeehido o wriu academico, dispunha-se elle a volver & terra natal, due de longe Ihe sorria, Ondina, formosa’ filha do Atlantic: noticias Tunestas, porém, vieran muda-lo desso projecto, @ Caldas, em ver de vér os lares da patria, fot visitar os reinos @ as cldades populosas da Europa, quo com o es- plondde de suas luzes 0 enchia de enthusiasmo, Foi ‘i Fran, o paiz de sua paixio, que dera ao mundo Boseuel, Nacine, Montesquien © Corneille, engenhos que tanto admirava o posta brasileiro; ahi entrotanto a decepgao foi fervivel, rw o tempo cm que expiraya a monarchia no meio da grita infrene da massa popular, entre os furdrs da dema- gogin phrenetion; © 0 poeta, que fora heher inspiragao, teve hori0v desses quadros ameagudores, sanguinolentos © terriveis, Iludide em suas esperangas, passou adeante, © fo embalar sua ‘alms agilada pelas scenas de que fora (estemunha, debaixo de

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