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MARX COM FOUCAULT: ANALISES ACERCA DE UMA PROGRAMACAO CRIMINALIZANTE Vera Malaguti Batista Mestra em Histéria pela UFF Doutora em Sade Coletiva pela UERJ Do Instituto Carioca de Criminologia - ICC - RJ Resumo: 0 texto pretende aprofundar as ligagées entre 0 pensamento marxista com a visio de Foucault acerca da questo penal. A partir da articulagdo dos conceitos de mais-valia e de bio-poder, busca-se interpretar as permanéncias do autoritarismo absolutista na histéria da programagao criminalizante no Brasil. Palavras-chave: marxismo; criminologia; bio-poder. MARX CON FOUCAULT: ANALISIS ACERCA DE UNA PROGRAMACION RESPECTO AL CRIMEN Resumen: El texto pretende profundizar las asociaciones entre el pensamiento marxista con la visién de Foucault acerca de la cuestién penal. A partir de la articulacién de los conceptos de mds-valta y de bio-poder, se busca interpretar las permanencias del autoritarismo absolutista en la historia de la programacién respecto al crimen en Brasil. Palabras-clave: marxismo; criminologia; bio-poder. Voredas do Direto, Belo Horizonte, v.2+n, 4+ p, 25-31 «Juno - Dezembro de 2005 25 MARX COM FOUCAULT: ANALISES AGERCA OF UMA PROGRAMAGAO CRIMINALIZANTE Em uma alusio ébvia ao inescrutavel texto Kant com Sade, deLacan, you me aventurar a demonstrar 0s fios da costura entre 0 marxismo ea microfisica do poder. Em primeiro lugar, acredito que, sem a militancia do filésofo no Partido Comunista Francés — independentemente dos embates que travaria posterior- mente, debates legitimos de ambos 0s lados -, nao poderia ele ter efetuado a reflexiio que fez. Nacriminologia, ele realizou uma ruptura, uma fratura,a partir da obra frankfurtiana de Rusche e Kirchheimer, que demonstrou historicamente que o sistema penal se integrava ao processo de acumulagio de capital, a partir do disciplinamento do mercado de mio-de-obra. Nas palavras de Darcy Ribei- ro, 0s sistemas penais alimentam os moinhos de gastar gente que botam 0 capi- tal para funcionar. E 0 corpo do homem, o trabalho realizado pelos corpos hu- manos que s‘o apropriados para produzir a acumulac&o do capital. _Para Foucault. o corpo € 0 centro nevrélgico do poder, e também do_ i ir igo de Rusche dos mecanismos de disciplinamento dos cérceres, suas normas, seus procedimentos diérios, Foucault desenvolve 0 disciplinamento, a constituig%o dos corpos déceis, e mais tarde a idéia de bio-poder. O bio-poder seria um colossal dispositive de apropriacio que Conjugaria o disciplinamento dos corpos ¢ 0 assujeitamento das almas de uma forma massiva, contempordnea mas instituida historicamente a partir da Inquisigaio moderna. A criminologia buscaria subst{ncia na sistematizagao daquela produ- co de verdade Na periferia do capitalismo, no Brasil, a heranga juridico-penal da inquisicao ibérica € uma das marcas de um modelo de Estado que vinca a hist6ria do Brasil até os dias de hoje. “O discurso do direito penal, que tem a pretensao de exercer-se como locugao legitima, numa lingua oficial, esté per- manentemente produzindo sentidos que viabilizem a expansao do sistema penal, expansiio que também se orienta na diregao das mentalidades e da vida priva- da”! Nesta heranga, o dogmatismo legal se contrapde ao pluralismo juridi- co, 0 diferente é criminalizado, hd uma coercitividade do consenso e uma mani- pulacio dos sentimentos ativados pelo epis6dio judicial.’ Para Batista, esses mecanismos sobrevivem ese agudizam em determinadas conjunturas politicas, Teproduzindo o tratamento dispensado ao herege: o prinefpio da oposicdo entre. ‘uma ordem jurfdica virtuosa e o caos infracional; a matriz do combate ao crime 1 BATISTA, Nilo. Os sistemas penais brasileiros. Aula inaugural dos cursos da Universidade Candido Mendes, proferida em 12 de margo de 2001, Rio de Janeiro, Y= RATISTA, Nilo. Mattizes ibéricas do sistema penal brasileiro - vol. 1. Rio de Janeiro: Instituto Carioca de Criminologia/Freitas Bastos, 2000. 26 \Veredas do Direto, Beto Horizonte, v.2+n, 4+ p. 25-31 - Juho- Dezembro de 2005 ora Malegutl Batista € feita como cruzada, com 0 exterminio como método contra 0 injusto que ameaca: é produzido um direito penal de intervengo moral baseado na confis- sio oral e no dogma da pena, Essa ordem juridica intolerante ¢ excludente nao tolera limites, transforma-se num sistema penal sem fronteiras, com a tortura como principi i Jagioea ra culo. E importante trabalhar as permanéncias hist6rico-culturais das fanta- sias de controle total do absolutismo portugués que desembocam em priticas pedagégicas, juridicas e religiosas que inculcam uma determinada visio sobre direitos, disciplina e ordem: Estas permanéncias produzem, para Neder, impli- cagdes juridicas, politicas e ideolégicas de uma visio social teolégica, aristocré- tica e rigidamente hierarquizada com uma performatividade politica e alegéric: que impregna a vida cotidiana do Brasil. Como em Portugal, as elites brasileiras incorporam pragmaticamente alguns aspectos da modernidade mas garantindo permanéncias do autoritarismo absolutista. O legado do perfodo colonial mercantilista trazia para o Império Brasileiro o controle social penal “realizado dentro da unidade de produgao™ num “poder punitivo que se exerce sobre 0 corpo de sua clientela” > No processo que intitulam de historia da programagao criminalizante no Brasil, Batista ¢ Zaffaroni mostram como os usos punitivos do mercantilismo praticados no corpo do suspeito ou condenado no ambito pri vado vao dando sinais de anacronismo depois da independéncia e na constitui- do do capitalismo no Brasil. As permanéncias, no entanto, sfio muitas: “a alga da criminal abrangia a pena de morte natural inclusive em escravos, gentios € pees homens livres, sem apelaczio nem agravo, salvo quanto as pessoas de ‘mor qualidade, quando se restringiria a degredo por dez anos e multa até cem cruzados”.* Eles citam Gilberto Freyre, que estuda, nos antincios sobre escra- vos na imprensa do século XIX, a sobrevivéncia das priticas de marcar 0 rosto. dos escravos com fogo ou lacre ardente. Cicatrizes de agoites e de ferro quente, denies limados, feridas e queimaduras na barriga pontuam os classificados de gente daqueles tempos. Do ponto de vista juridico, do império das leis, as Ordenacées Fi nas, que constituiram 0 eixo da programagao criminalizante do Brasil Colonia, regeram o direito penal até a promulgagdo do cédigo criminal de 1830. Eimpor- 3 Cf. NEDER, Gizlene. Op. ci + NEDER, Gizlene, Iuminismo juridico-penal luso-brasileiro. Op. cit. p. 182 5 BATISTA, Nilo. Os sistemas penais brasileiros. Op. cit., p. 7. © Cf. BATISTA, Nilo € ZAFFARONI, Eugenio Rati. Direito Penal Brasileiro - I. Rio de Janeiro: Revan, 2003. Voredas do Ditoto,BoloHorizonto,- v.2-n.4+ p. 25.31 Juto- 27 MARK COM FOUCAULT: ANALISES ACERCA DE UMA PROGRAMAGAO CRIMINALIZANTE tante frisar que no direito privado varias disposig6es das Ordenagées Filipinas regeram até 1917!” No marco da “questo do poder e da disciplina sobre a familia, instituigo-chave no leque das priticas de controle e disciplinamento social, na passagem & modemnidade”’* Neder e Cerqueira Filho, estio trabalhan- do aidéia da “‘construgdo de um arcabougo ideol6gico e afetivo de sustentagao da fungo parental repousada numa autoridade capaz de substituir esta figura to abrangente do paterfumilias ? Gostarfamos de desvelar as marcas da Inquisigo ¢ suas devassas gerais sobre delitos incertos"® que até hoje pontuam os noticiarios sobre crime no Brasil e também os coragdes ¢ mentes da direita e da esquerda punitiva." ‘Asdemandas por ferocidade penal ea seletividade da clientela do sistema penal so permanéncias hist6ricas. Mas, a partir das contradigdes que surgem entre 0 sistema colonial-mercantilista ¢ 0 capitalismo industrial que se configurava jéna segunda metade do século XVIII, vai-se esbocando uma outra conjuntura. No bojo da Independéncia, a Constituicao de 1824 produz algumas rupturas, ma non troppo, que fazem parte do universo liberal no conjunto das idéias fora do lugar da modemnizagao & brasileira. Surgem as tais garantias individuais: “liberdade de manifestagiio do pensamento, proscri¢io de perseguigées religio- sas, a liberdade de locomogii, a inviolabilidade do domicilio e da correspondén- cia, as formalidades exigidas para a prisiio, a reserva legal, o devido processo, a aboligdio das penas cruéis e da tortura, a intransmissibilidade das penas, o direito de peticao, a aboli¢o de privilégios e foro privilegiado”. E l6gico que tudo isto no poderia colidir com 0 “‘direito de propriedade em toda a sua plenitude” que, mantida perifrasticamente a escravidao, instituiria a cilada da cidadania no Bra- sil, digamos a ciladania, que pontua até hoje os discursos do liberalismo da direita & terceira via no Brasil. E neste marco de referéncia que o Cédigo Criminal do Império de 1830 é promulgado, na esteira do medo das insurreicGes, nas expectativas de que nacdio independente de 1822 sobreviessem os direitos plenos de seu povo mestigo, nas contradigées entre liberalismo e escravidio, na necessidade de unificagdo territorial ¢ centralizaciio dos poderes imperiais. * Cf. BATISTA, Nilo ¢ ZAFFARONI, Eugenio Ratil. Op. cit. * NEDER, Gizlene e CERQUEIRA FILHO, Gisilio. Os filhos da lei. In: Revista Brasil Ciencias Sociais, v. 16, n° 45. So Paulo: ANPOCS, 2001. p. 113. + Op. cit. p. 124. "© BATISTA, Nilo ¢ ZAFFARONI, Eugenio Rasl. Op. cit. NCE. KARAM, Maria Liicia. A esquerda punitiva. In: Revista Discursos Sediciosos ~ Crime, Direito Sociedade, ano 1, n° 1, 1996. Rio de Janeiro: Instituto Carioca de Criminologia/Relume Dumaré, 1996. = BATISTA, Nilo ¢ ZAFFARONI, Eugenio Rati. Op. cit., p. 39. 28 ‘Veredas do Direto,BeloHorizonta-v.2n. 4+ p. 25-31 - Julho Dezembro de 2005, ora Malagut Gait Para Zahidé Machado Neto, as discusses parlamentares do Cédigo de 30 giram em torno de uma concepgio de cidadania do homem proprietario versus 0s escravos, mulheres e ndo-proprietérios, conduzidas, desde 1826, por deputados com extraco social entre senhores de terra, militares ¢ letrados, graduados na Europa e na Faculdade de Medicina e Cirurgia da Bahia, magis- trados e senadores. Para Machado Neto, o liberalismo que tenta romper com as figuras juridicas e normas penais inquisitoriais nao ultrapassa as barreiras socioecondmicas de uma sociedade agraria, patriarcal e escravista de uma eco- nomia dependente e periférica. Para Batista e Zaffaroni, a legalidade, que deveria acontecer pela Constituigdo de 1824 no artigo 1° do Cédigo Criminal, nao se deu, Na esteira do medo branco das insurreigGes escravas, em 1835 é editada uma lei cominando pena de morte para qualquer delito escravo contra o senhor, o feitor ou seus familiares. “A conturbada década de 30 resulta no retrocesso processual de 1841-1842, que transfere para a policia poderes da magistratura”."’ A Lei n° 9, de 13 de maio de 1835, da Assembléia Legislativa da Bahia, previa que africa- nos libertos que regressassem a provincia depois de expulsos, fossem processa- dos por insurrei¢io. “Tal lei — elaborada sob a influéncia da recente revolta malé'* — promovia af uma equiparacio monstruosa, e em seu artigo 21 elevava as penas estabelecidas por um decreto imperial; em ambos os casos, 0 principio da reserva legal virava po”.!5 A circulagao e movimentagio dos escravos ¢ pretos forros era punt- vel Batista ¢ Zaffaroni nos falam de uma postura municipal de 1870 que punia com multa ou quatro dias de prisiio os donos de tendas, botequins ou tavernas que “‘permitissem em seus estabelecimentos a demora de escravos por mais tempo que o necessdrio para as compras, com a cléusula respondendo sempre os amos pelos caixeiros”).!® Aqueles passaportes descritos no decre- to de 14 de dezembro de 1830, na Bahia, tém longa duragio e iro inspirar as fronteiras erigidas entre a ordem e a desordem, disciplinando o deslocamento e a sociabilidade urbana na virada do século XIX para 0 XX, e até os dias de hoje". Os lundus, batuques e algazarras também seriam punidos com prisio. Em 1861, um aviso ministerial preconiza a graduacdo dos agoites “conforme a idade e robustez do réu”; alugar uma casa a escravos dava oito dias de prisao. ® BATISTA, Nilo. Os sistemas penais brasileiros. Op. cit., p. 13. ™ Nota do Editor: Sobre o tema, por inaceitével modéstia da autora, nio fez ela mengio a0 seu imprescindivel O medo na cidade do Rio de Janeiro - Dois tempos de uma hist6ria. RI: Revan, 2003. ® BATISTA, Nilo ¢ ZAFFARONI, Eugenio Rati. Op. cit, p. 41. CE. Batista e Zaffaroni sobre a legislacéo da Provincia da Bahia. ‘Veredas do Direto, Beto Horizonte,» .2 sn. 4,251 - Julho - Dezembro de 2005 29 MARK COM FOUCAULT: ANALISES AGERCA DE UMA PROGRAMAGKO CRIMINALIZANTE Para Batista e Zaffaroni, é nessa conjuntura histérica que se enrafzam as matrizes do autoritarismo policial e do vigilantismo brasileiro, do sentido his- t6rico da crueldade de um conjunto de leis liberais que permitiam “o retorno ao poder de uma senhora, de uma escrava achada com a lingua cosida com o labio inferior”."* No liberalismo a brasileira, a pena de morte tem “escabrosa faci- itagdo processual para réus escravos que compete com a invulnerabilidade a cla dos senhores”.'° Nas palavras de Batista, nosso segundo sistema pe- nal, na sua grosseira corporalidade, expunha ambigiiidades fundamentais. “0 escravo era coisa perante a totalidade do ordenamento juridico (seu seqiiestro correspondia a um furto), mas era pessoa perante o direito pe- nal”2° Mas, mesmo com suas ciladas e ambigtiidades, 0 Cédigo Criminal do Império influenciou muitas legislagdes latino-americanas e mais diretamen- te 0 cédigo penal espanhol de 1848." Foucault entende as sociedades disciplinares instauradas na Eu- ropa como alavanca para 0 que ele chamou de “decolagem econdmica do Ocidente”. Ele trataria também o racismo como ideologia intrinsecamente vinculada ao empreendimento colonial que sugou e suga as veias abertas da ‘América Latina. O bio-poder conjugaria, na modernidade ¢ na pés-moder- nidade, a extracdio da mais-valia, aprofundando o poder sobre 0 corpo do homem e sobre o seu tempo. No capitalismo industrial, esta relagfio com 0 tempo se difere da do pés-fordismo. Agora o capital tem que se apropriar cada vez mais do tempo livre dos homens, das almas ¢ principalmente dos desejos do homem. A midia e o aparato publicitadrio tratam de ativar coleti- vamente os desejos ¢ as almas que vao dar conta do controle social pela compulsio ao consumo: das marcas aos medicamentos. A criminologia surge no Brasil junto com o positivismo, de quem nunca se desvinculow inteiramente. O saber criminolégico vai se construin- do na historia brasileira a partir da certeza da inexorabilidade do fim da escravidio. Sem aderir as libertagdes republicanas, as elites senhoriais pre- cisam, na virada do século XIX para 0 XX, de um discurso cientifico que seguisse legitimando a exploraco sem limites da ralé mestiga. Maximo Sozzo analisa a criminologia latino-americana como uma grande importagao cultural configurando racionalidades, programas ¢ tec- 1 NEDER, Gizlene. Cidade, identidade exclusto social. Op. cit. 8 BATISTA, Nilo e ZAFFARONI, Eugenio Rail. Op. cit., p. 42. BATISTA, Nilo ¢ ZAFFARONI, Eugenio Rail. Op. cit., p. 53. ® BATISTA, Nilo, Os sistemas penais brasileiros. Op. cit., p. 13. 41 BATISTA, Nilo e ZAFFARONI, Eugenio Ratil. Op. cit., p. 53. 30 ‘Veredas do Diteto,BeloHorzonte,«v.2+n. 4+ p. 25-31 - Julho - Dezembro de 2005, Vera Malaguti Satsta nologias”, a partir da internacionalizagio do controle social dos resistentes, nas palavras de Rosa del Olmo. As tradugGes da criminologia européia pro- duziram uma matriz discursiva comum, uma identidade geopolitica. Mas a tradugdio pode ser traidora, ela nao é nunca neutra e pode, sediciosamente, produzir aquilo que Ratil Zaffaroni chamou de realismo marginal. A crimi- nologia da periferia deve ter uma relag&o antropofagica com os originais que chegam da metropole. Os textos sagrados tém que ser profanados, mergulhados no saber local, na realidade nua e crua da histéria dos nossos povos. S6 assim, poderemos reconstruir um pensamento critico. Somos nés. os respons4veis pela compreensio de que as sociedades disciplinares de Foucault se cruzam por aqui com a barbérie do sistema colonial escravista que se eterniza estética e subjetivamente no dia-a-dia das cidades brasilei. ras. Foucault teve a lucidez de descrever o bio-poder quando nés ainda nao nos divamos conta do fim do Estado, nos anos 70. A alma materialista de Karl Marx deve ter se alegrado muito com isso, apesar da rebeldia do discf- pulo. Ratil Zaffaroni se apropriou do conceito foucaultiano de “instituigao de seqiiestro” para a colénia como um todo. A América Latina seria entao numa gigantesca instituicio de seqiiestro:” a prisdo nos paises periféricos seria uma institui¢ao de seqiiestro menor, dentro de outra maior: uma espé- cie de apartheid criminoldgico natural, com caracteristicas exterminadoras diferentes das disciplinadoras dos pafses centrai Enfim, o realismo marginal de Zaffaroni e a antropofagia de Oswald de Andrade podem e devem transitar livremente pela critica marxista do capital, revigorada pela compreensio dos novos dispositivos do bio-poder no capitalismo tardio. Joel Rufino dos Santos convida os intelectuais que nao sao indiferentes aos pobres, numa sociedade cuja tradig&o mais legitima é a escravidao, a entender a economia capitalista da periferia dependente da “economia domiciliar etnicizada: 0 racismo da sociedade brasileira 6, antes de tudo, como tantos j4 observaram, um cédigo de alocagiio de mio- de-obra”.* Marx com Foucault: mais-valia e bio-poder. Em tempos tio dificeis, de criminalizagao da pobreza e da politica, nao hd como fugir ao desafio: ou a teoria criminolégica serve ao povo brasi- leiro ou serve ao capital. ® SOZZO, Maximo. “Tradutore, traditore”. Traducién, importacién cultural ¢ historia del pre- sente de la criminologia en América Latina, In: Cuadernos de Doctrina y Jurisprudencia Penal. ‘Ano VIT - n. 13, 2001, Buenos Aires: Ad-hoc/Villena Editor. ® ZAFFARONI, Eugenio Rail. Em busca das penas perdidas. Rio de Janeiro: Revan, 1991. * SANTOS, Joel Rufino dos. Epuras do Social — como podem os intelectuais trabalhar para os pobres. Sio Paulo: Global. 2004. p. 31 Veredas do iret, Bolo Horzorte, -v.2-n.4- p, 25-31 - Julho - Dezembro de 2005, 31

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