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3.1. A CONSOLIDACAO DA INDEPENDENCIA + somalia aelioraiiencaliangatcincs D. Gs brasileiros ‘ayoriveisAlodependéocia unica foopaseensidesdveisparaluar contra as. tropas partuauesas. que-aguestavam.desde-avinda.da familiares. 1508. Pape importante na mobilizapdodasicopas brasilziras foi desempenhado por Comandante, curnpens. entre. 9s quas-0.oficial-Arancés-Pedso-Labatut, que, antes da Jadependéscia fora nomeado-pelo principe segene-pasa orzanizar cs comtingentes.de-trraJesis ale. Labatut Joye sum papel destacado-nesia tacefa,embora enka sida substitu apés um motim das tropas pelo general brasileiro José Yoaquim de Lima e Silva, em maio de 1823. Outro comandante europea importante na consoidasso da Independéncia foi Lorde Cochran céntratado pelo imperador para enfentar @ esquadra lusa, Cochrane era um aristocrata inglés que fora excluido da Marinha briténica por um escndalo ‘cortido na Bolsa de Valores, em 1814, e, a seguir, se torara figura central _da independéncia do Chile e do Pera Os confitos mais importants ocorreram no Sul do pats ena Bahia, Na Provincia Cispatna, tual Urogus, as tropas portuguesa resistiram, mas seabaram se etrando em novembro de 1824 Af comecaria na longa guerra if agora conta os brasleiros e nfo contra pela independéncia uruguaia, mz 0s portugueses. Na Bahia, 0 coronel Madeira de Melo, governador militar, partidério da Independéncia, reuniu tropas vindas do Rio de Janeiro de Lisboa, para conquistar Salvador, enquanto uma esquadra portuguesa domi: nava entrada da cidade por mar. As forcasbrasileias de tera, apoiadas petos- senhores de engenho do Recéncavo a frota liderada por Cochrane, forgaram a rotirada final dos portugueses, a2 de julho de 1823, Essa data € considerada Por.muitos baianos pelo menos tio significativa quanto 0 7 de setembro de 1822 para marcar a Independéncia do Brasil. A ago de Cochrane se estendeu logo depois 20 Maranhao e ao Pari, provincias que tinham contatos mais prénimos com Portugal do que com o resto do Brasil [No plano internacional, os Estados Unidos reconheceram a Indepen <éncia em maio de 1824. Informalmente, ela jé era reconhecida pela Inglaterra, interessada em garantir a ordem na antiga Coldnia. Assim, os ingleses pr Sservavam suas vantagens comerciais em um pafs que, aquela altura, jé era sey tercciro mercado externa. O reconhecimento formal 56 foi retardado porque 0s ingleses tentaram conseguir do Brasil a imediata extingfo do tréfico de escravos, Mas, direta ou indiretamente estiveram presentes na consolidagio 4a Independéncia, servindo também de mediadores no reconhecimento da nova nagio por Portugal Isso ocoreu em agosto de 1825, por wm tatado em que o Basi con- cordou em compensara Mettdpole em 2 miles de libres pela penda da antiga coldna em nfo permitir a unio de qoaiqoer outa colénie com o Beit & necessiade de indenizar a Coros portuguesa dew origem ao primers em préstimo extern, contraido pelo Brasil em Londres. A segunda elsusula, saparentemente estranha, explic-s pelo fato de intresss brailsiros,lgados 0 comico do eseravos, estarem frtementeimplantados em alghmas regis 4a costa da Attica, Quando chegarom a Angola as noticias da separagto, ‘gia paniletos impressos no Brasil, convidando Bengucla a adprit “cause ‘wasieta A prevencto portuguesa nfo era, pos, sem fundamemo 32, UMA TRANSIGAO SEM ABALOS YE lugar-comam nahistoriografa brasileira comtastrarlativafailgade da consolidagio da Independéncia do Brasil com o complicado processo de emancipagio da América espanhols, Ressalt-s ainda que, enquantoo Brasil permaneceu unificado, « América espanhola se fragmentou em vérias mages. Os dois temas esto inter-telacionados, mas vamos trata aqui apenas do primeito deixar segundo para depois da anslise dos acontecimentos ocor- Fidos entre 1822 ¢ 1840; quando entio ficaré mas claro. [Nao faltam abjegdes& ese Segundo a qual a consolidagdo da Indepen- dncia foi Fil. Ses ecossalientam gue a Independ2acia sob a forma de unio em toro do Rio de Janeiro resultou de uma lua e nfo de um consenso 05 movimentos autonomistas eral, Ness laa form vencidos nas provi € os que sutentvam a permanéncia da unifo com Porta como aconteceu to Pa. As objogest8m 0 mérito de chamaraalengio para 0 fato de que a Independéncta nfo corespondeu a uma patsagem pacific. Mas elas nto invaldam a constaiagio de que, admitido o uso da forge as mores dat resolantes, a consolidago da Independéncia se fez em povcos anos, sem grandes desgssie. Mais do que iss, a emancipagio do Brasil no esliow em maioresalieraes da ordem sociale econ6nica ov da forma de govero. Exemplo Gnico na histéria da América Latina, 0 Brasil ficou sendo uma imonarguia ene replies. ‘Uma das principais azbes dessa contnuiade se enconta na vindo da fennel ara Brasil ena forma como sedena process de independ, ‘Abertura dos ports por pre de Dom Joio Vi exabeleeu, come vimes, uma ponte ene a Cora portuguesa e os setores dominantcs da Coleus, 10 Rio de air, So Pavio © Minas cespecialwente vp ue se eoncentravat Garni, Os beneticistrdos pra a regiteflmiacae, com a presenga do ‘ino Brasil, vinham incentivar a expanso econdmicadaqueta ea, ligada 208 negécios do agcar, do café edo tfico de eservos, Por certo, muitos descoatenientos com a Corte permaneceram, masinada qi lembrasse ai satifagio de algumasregdes do Nordeste, ond despontaram a iéias de r- pablica, A elite polities ptomotora da Independéncia ni tnha interese em favorecer mptras que piessem prem ritcoaeabilidade da antiga Colin B significative que os exfrgor pela autonomia, que desembocaram na Inde- ppendéncia, concentraram-se na figura do rei e depois na do principe regente [Nos primeiros anos apés a Independéncia, x monarquia se transformou em ‘um simbolo de autoridade, mesmo quando Dom Pedro I era contestado, Na esfera internacional, vimos como a Inglaterra garamti e apressou © reconhecimento da Independencia. O Brasil alo fez restrigbes a9 coménsio inglés, estabeleceu relagdes de dependéncia com o mundo financeiro britdnice ¢, contrariando “as tendéncias republicanas ¢ desagregadoras” do resto do ccontinente, adotou o regime monérquico, A afirmativa de que a lndependéncia se realizou em tempo curto e sem ‘grandes abalos no nos deve evar a duas conclusbes erréneas. Uma consistiria fem dizer que nada mudara, péis o Brasil passava da dopendéncia inglesa vis Portugal a dependéncia.direta da Inglaterra. A outra seria supor a existéncia ‘de uma elite politica homogénes, com uma base social firme € um projeto claro para a nova nagios rimeira conclusio seria equivocada por vériasrazBes. A nova relagio de dependéncia, que vinha se afirmando desde 1808 com a abertura dos ports, representava mais do que uma simples troca de nomes, importando em uma ‘mudanga da forma como a antiga Colfnia se inseria no sistema econémico internacional. Além disso, a Independéncia impunha a tarefa de se constuir tum Estado nacional para organizar 0 pafs e garantie sua unidade. ‘A segunda conclusio seria igualmente equivocada porque, mesme no interior do nécleo promotor da Independencia, com José Bonifécio a frente, nc havia wm acordo sobre as linhas basicas que deveria ter a organiasgo do Estado, Pelo contriio, 0s anos entre 1822 ¢ 1840 seriam marcados por uma enorme flutuagao politica, por uma série de rebelives & por tentativas con- trastantes de organizar 0 poder. 33. A CONSTITUINTE ‘Nis dais primeisos-ones-apss-e-Indepondtncia-o-debate politica.se ‘concenizou.na problema daapenvago de.sioaConstinicin, Como vimos, as cleiges para uma Atsombléie Constiints encaregada de claborara Const twigso, jd Eativam previtas meses antes da Independéncia. Elas ocorreram ps 07 de setembroe aConsttinte comesou a ser reuni no Rio de Janciro, ‘em majo de 1823. Na fala de abertura dos tabathos, Dom Pedro"usou uma ‘expressio indicativa do que poderia acontecer. A frase nao era sua, sendo e6pia da existente na carta constitucional da Franca, de junho de 184por meio da ual o Rei Luis XVI tentou retomar a tradigio monérquica, ap6s 2 derrota de Napoledo. © imperador jurava defender a futura Consttuigao “se Fosse digna do Brasil e dele préprio”. © condicional deixava em suas miios a shtima palavea ‘Os membros integrantes da Constituinte néo tinham nada de radicals, Eleito pela Bahia, Cipriano Barata ~ revolucionirio de 1817 e nacionalista intransigente ~ negou-se a participar dela, por vé-la ‘cercada de mais de 7 mil bafonetas, (opas formadas de grande mimero de nossos inimigos portugue- ses”. Mesmo liberals com ativa presenga no movimento da Independéncia, ‘como José Clemente Pereira, Gongalves Ledo ¢ o Cénego Janusrio Barbosa, tinham sido. presos ou exilados. A maioria dos constituintes adotava uma consistente em defender uma monarguia consti- tos individuais e estabelecesse limites a0 poder postura liberal moderada, tucional que garantisse os di do monarea. Logo surgiram desavencas entre a Assembléia ¢ Dom Pedro, prinefpio por seu ministro José Bonifacio. Elas giraram em torne do campo de_atribuigdes do Poder Executivo (no caso, 0 imperador) e do Legislative — ‘uma contenda que iria repetir-se, em situagées muito diversas, em ouiros momentos da histéria brasileira, Os constitintes queriam que 0 imperador no tivesse o poder de dissolver « futura Cimara dos Deputados, forgando assim, quando julgasse necessério, novas eleigées. Queriam também que ele no fivesse 0 poder de veto absoluto, on soja, 0 direito de negar validade a {qualquer lei aprovada pelo Legislativo, Pata o imperador e os cirealos palticns fam, era necessério criar um Executive forte, capaz de enfrentar ue 0 ap as tendéncias “democriticas e desagregadoras, jstficando-se assim a con- centragdio de maiores aribuigdes nas maos do imperador. Os tempos eram de incerteza politica. Menos de um ano apés a Inde- pendéncia, em julho de 1823, José Bonificio foi afastado do ministéro, porque ficara espremido entre a critica dos liberais e as insatisfagbes dos conservadores. Bites viam com mass olhos o comando pessoal do governo pelo ministro, que Ihes fechava 0 acesso direto ao trono. Daf para a frente, na Constituinte, para a qual foram eleitos, © nas paginas do jornal O Tamoio, José Bonificio e seus irmios Anténio Carlos ¢ Martim Francisco fariam cratas,insinuando que a indepen: Constante oposigio ae governo © aos cdéncia do pafs se via ameagada tanto pelos “corcundas” (reacionsrios)e “pes adicais” de-chumbo” (portugueses) como pelos stitute por Dom Pedro 3s depulados, entre les, 08 ds Ania Logo.a seauis, cuidowse de elaborar um projeto de Constituigie que resultou na Constituicio promulgada Seti diferia muita. da-propasia. da, constituntes GHEATASsemblea, mas hi wma dfereoge a ser esata A atest lima pega slo, Se 10 — ag escravod ~ estava 10d Peles a se coptaa nfo ser obliqhamene, wando se fala dos lieries. O antrn, ponto.se efese.A.dist@ncia entre Pringfpigs ¢ a prlca. A Consituigio represeptava.um.avanco, a0 organizar os poderes, defini aiibuigdes, gaantir direitos individis.O problema € gue sabretudo. no camno.dos direitos, sua aplicagho seria muito relativa. Aos direitos se sobrepunta a reatidade de um pais.onde mesmo a massa da popo- lagdo live" dependia dos grandes proprictirios ruais, onde s6 um pequeno grupo fina instrugio.¢ onde exista-uma tradi autortaia ‘A Constituigio de 1824 vigorou com algumas modificagSes até fim do z0yerno come m ereditiioe constitucional. 0 “mpério teria. uma.gobveza, mas no urea. a ou sea, existiriam no- bres por. itulos,concedidos.pelo.imperador (bari, conde, duque ete.) porém os ttulos ndo_seriam.bereditiios, elimina, portanto, a possibilidade de ving “aristoomacia de-sangue”.Areligto catblca romana continuayaa ser rl si oficial, permitindo-se apenas o culto particular de outasreligives, “ forma alguma exterior de tempo 0 soni po enc 15D, Peto 1 Su ia Mal da Give, ogi fa em Pass em 1826, scgundo gets eo de prevendo: © Poder Legislative foi dividido em Cimarae Se eteiges pars as dae casa, com difeengasessencins A eleigdo para a Cima 11 Tmnporiria,enqoanto ado Senado era viulcs, Alem dst, processo theta, no ease do Senado, destinva-seacleger uma lisa iriplice em cada provincia, cabendo ao imperador escolher um dos és nomes elias. Na Pritica, essas restrigées fizeram com que o Senado fosse um érgio cujos ‘membros exam nomeados pelo imperador, em cardtervitaicio 2 pondentes hoje 3 eleigdes chamadas de primérias; esse corpo eleitoral é que elegia os deputades. Censitério, porque s6 podia ser votante, fazer parte do colégio eleitora, ser oto era indire o. Indireto, porque os votantes, corres ‘massa dos eleitores, votavam em um corpo eleitoral, mas seus Iederes estayam figuras imporintes; como o Padre Feijé ¢ Campos Vergueiro, de Sio Paulo; kitapo de Abreu Te6filo-Ouwoni, de Minas, Os grandes proprictios ‘turais.s¢ dividiram entre. os dois campos em hita. No Rio de Janeiro, o lider ‘dos rebeldes era Joaquim de Sousa Broves, frzendeiro de café e o homem 17. Rett de, Pees Hons Deere As, ais rico da provincia. Broves opunha-se ao governo central porque este tentava combater a sonegacio de impostos sobre o café e tomara medidas de combate ao trfico de escravos, ‘Alguns anos mais tarde pemet8¢8psurgivren PernambucorRevolugiom | Praieira: A-denominagéo deriva de um jornal liberal ~ 0 Didrio Novo ~cuja qesedeficavanaRuaiaePraiannosResife, {importante lembrar que 1848 no foi um ano qualquer, pois nele uma série de revolugSes democriticas varreu a ‘Europa, Em Olinda ¢ Recife, respirava-se 0 que um autor andnimo, advergério das revolugdes, chamara muitos anos antes de “maligno vapor pernambucano”. ‘0 vapor 8e componha agora também de critica socal e idéigs socialistas, "Um exemplo de ertico social contundente & Ant6nio Pedro de Figueire- do, apelidado por seus adversérios de Cousin Fusco, por ser mlato (fusco) © ter raduzido para 0 portugués uma Histéria da Filosofia do escritor francés Vietor Cousin. Nas paginas de sua revista O Progresso, publicada entre 1846 «©1848, Figueiredo apontov como grandes males sociais da provincia aestraty- sa agraria, com a concentrago da terra nas mios de uns poucos proprietirios, © 0 monopélio do comércio pelos estrangeios. 1éias socialistas foram veiculadas por gente tio diversa como Louis ‘Vauthier, contratado pelo presidente da provincia para embelezar o Recife, © o general Abreu e Lima, autor, anos mais tarde, de um pequeno livro inttelado (0 Socialismo, Nao era 0 socialismo de Marx, pouco conhecido naquela altura, ‘mesmo na Earopa, mas o de autores franceses como Provdhon, Fourier © 0 ingles Owen [Nao imaginemos porém que a Praiciratenha sido uma revolugio socia- lista, Precedida por manifestagSes contra os portugueses, com virias mortes, tno Recife. ela teve como base, no campo, senhores de engenho ligados a0 Partido Liberal. Sua razdo de queixa era a perda do controle da provincia para 10s conservadores. Cerca de 2500 homens atacsram o Recife, sendo porém derrotados. A luta sob a forma de guerrilhas prosseguiu até 1850, sem causar pporém maiores problemas ao governo imperial (© niicleo urbano do’ praiciros, no qual se destacava a figura do velho repiblicano Borges di Fonseca, sustentou um programs favorivel 20 federa- lismo, &aboligée d3 Poder Moderador, &cxpulso dos portugueses ¢ & nacio- nalizago do comércio a varejo, controlado em grande parte por eles. Como novidade, apatece a defesa do sufrigio universal, ou seja, do direito de voto para todos os brasileiros, admitidas algumas restrigSes, como idade minima para votar e ser votado, mas sem a exigéncia de um minimo de rend 53. 0 ACORDO DAS ELITES E 0 “PARLAMENTARISMO” ‘A Praicira foi a dltima das rebelides pmuiuciais. Ao mesmo tempo, ‘marcou 9 fim do.ciclo revolucionvio-em Pernambuco, que vinha desde a guerra contra. os holandeses, com a intégragao da provincia & ordem imperial Bem antes de eclodir a Praicra, as elites imperiais vinham procurando formalizar as regras do jogo politico. O grande acordo, afinalalcangado, tinha como pontos bisicos reforco da figura de imperadh com a retaurasio do Poder Moderador e do Conselho de Estado, eum conjunto de normas escritas «eno esritas. As tkimas constitufam o que se chamava, deforma deiberada- mente vage, "o-cpiito do regime” Comegou a funciongr um sistema de govern assemelhado ao parlamen tar, mas que no se confunde cam.o,parlamentarismo no sentido proprio da expressio. Em primeiro lugar, lemb i9.de quea Consttyigio de 1832) nto tinka nada de parlamentarista. De acordo com seus dispositives, o Pe Executivo era chefiado pelo imperador ¢ exercido por ministzos de Estado livremente nomeados por ele. Esse eritério €diverso do parlamentarismo, pois nesse sistema o ministério ~ chamado de gabinete ~ depende essencialmente do Parlamento, de onde si a raigria de seus membros Durante o Primeiro Reinado e a Regéncia nio houve prética parlamen- tarista, Ela foi se desenhando e, mesmo assim, de forma peculiar erestita, a pair de 1847. Naquele ano, um decreto eriou 0 cargo de presidente do Con- selho de Ministros, indicadorpelo imperador. Essa personagem politica passou 4 formar 0 ministério cujo conjunto constitufa 0 Consetho de Ministrs, ov sgabinete, encarregado do Poder Executivo, O funcionamento do sisteria presu- ‘mia que, para manteé-se no governo, o gabinete devia merecer a confianga, tanto da Cimara como do imperador. Houve casos em que a Cimara forgou a _mudanga de composigdo do Conselhio de Ministros, mas o imperador detinha uma considerdvel soma de atribuigées através do Poder Moderador ¢ isso distingue o sistema politico imperial do parlamentarismo, © imperador usava 4s prerrogativas do Poder Moderador, quando a Cimara nfo apoiava o gabi We sro 0 as. rete de sua preferéncia. Nesse caso, com base no Poder Moderador, dssolvia a Cimara, ap6s ouvir 0 Conselho de Estado, © convocava novas eleigbes. ‘Como nas eleigées 0 peso do governo era muito grande, o imperador conseguia eleger uma Cémara que se harmoni2ava com o gabinete por ele preferido, ‘Como resultado desse mecanismo, howve, em um governo de cinqdenta anos, a sucesso de 36 gabinetes, com a média de um ano e tés meses de uracto cada um, Aparentemente, havia uma grande instabilidade, mas, de fato, no era bem isso 0 que ocorria, Na verdade, tratava-se de um sistema flexivel que permitia 0 rodizio dos dois principais partidos no governo, sem raiores traumas. Para quem estivesse na oposi¢do, havia sempre a esperanga, de ser chamado a governar. Assim, o recurso s armas se tornou desnecessrio, 54, OS PARTIDOS: SEMELHANCAS E DIFERENCAS. Os dois grandes partidos imperiais - © Conservador ¢ o Liberal ~ com- pletaram sua formato em fins da década de 1830, como agremiagdes poiticas ‘opostas. Mas havia mesmo diferencas idealégicas ou sociais entre cles? Nao passariam no fundo de grupos guase idénticos, separados apenas por riva- lidades pessoais? ‘Muitos contemporsineos afirmavam isso. Ficou célebre uma frase atibui- da ao politico penambucano Holanda Cavalcanti: “Nada se assemetha mais a tum “saquaremia? do que um ‘luzia’ no poder”, “Saqu ‘0s primeiros anos do Segundo Império, era 0 apelide dos conservadores. Derivava do moni: cipio fluminense de Saquarema, onde 0s prncipaischefes do partido possofam terras e se notabilizaram pelos desmandos eleitorais. “Luzia” era 0 apelido dos liberafs.em uma alusio & Via de Santa Luzia, em Minas Gerais, onde ‘corren a maior derrota destes, no cuiso da Revolucio de 1842. A idéia de. indiferenciagio dos partidos parecia também confitmar-se pelo fato de ser freqiente a passagem de politicos de um campo para o outro. [Na historiografia; existem opinides diversas sobre o tema, variando de ‘acbrd coitus concepgbes gerais dos autéres sobre 0 perfodo e mésmo sobre ‘a formacao sécial brasileira: Por exemplo, Caio Prado Jinior admite a éxistén- ia dé vérto conflito entre 0 que chama de borguesia reaciondria, representada ppelos donos de terras ¢ senhores de escraves, © a burguesia progressist, representada pelos comerciantesc finances, Mas, segondo cle divergéncia no se manifesta através da police panda, AS doas correntes s€ mis- turavam nos dois partidos, embora houvesse cert preferéncia ds rerGgradot pelo Partido Conservador Por sua vez, Raimundo Faoro véno Partido Conservador a representagio «a borocracia,enquantoo Partido Libera epresentaria os interests agrérios, opostos ao reforo do poder central promovido pelos burocrtas. ‘Ao considerar @ questo, devemos ter em conta que a politica desse perfod, eno 6 dee, em boa medida nf efaia paras alcangarem grandes abjetivosideolgicos. Chegar a0 poder sgnficava obterprestgi e beneficios para si proprio e sua gente: Nis eligdes, nfo se esperava que 0 candidato cumprisse bandits programiticas, mass promessas feta a seus partidos CConservadores iberasuilzavam-se dos mesmos recursos pars lograr vit riasleitorais,concedendo favors as amigos e empregando a violEncia com relagio aos indecizos¢ sos adversrios. Als, havia wma dose considerada accitivel no uso dessesrecrsos, certs eleigesficaram famoses por supe rarem essa dose. E 0 aso da, "eleigdo do cacte”, que, om 84D, garam a permanéncia dos liberais. no goxsmo A divisio entre liberas © conservadores tem, assim, muito de uma disputa entre cliemslas opostas, em busca das ‘vantagens ov das migathas do poder. ‘Ao mesmo tempo, a poltcanio se reduzin apenas ao intress pessoal devendo a elite politics do Impéria lider, em win plano mais amplo, com os srandes temas da organizagao do Estado, dis liberdodes pblicas, da repre- sentaso, da escravatura, As linhasdivsis dessasquestes corresponderiam as dvisdes panda, s¢ iso ocomeu, que sgnificariam exsasdvisbes? \Vamos deixar part mais adiante o problema da escravatura, por ser rmerecedor de um tatamento& parte, dando aqui com as outs quests. O tema da cenralizacio ou da descenralizago do poder que diz reapcito A organizagfo do Estado dividiv, como vimor, conservadorese liberi, Resta vemos porém que, na pritca, sea divstos6 foi relevant na década de 1830, quando as doa endncias ainda nlo chegavam a ser partidos. As medidas do “regresso" ea maoridade de Dom Pedro Mt, promovida, ass, pelos préprios Tiberais,assnalaram a vitria do modelo centaizador. “Daf para a frente, os dois partidos aderram a ele, embora os liberasinsstssem, ds boca para fora, em dsfender a descenralizagio, [A defesa das liberdades e de uma representacio politica mai ampla dos cidadios foram bandeiras levantadas pelo Partido Liberal, mas foi s6 a partir dda décadia de 1860 que estes temas ganharam forca em seu ideo, juntamente ‘com a retomada das propostas de descentralizagSo. O chamado “nove” Partido Liberal, organizado em 1870 com a adesGo de conservadores como Nabuco de Araiijoe Zacarias de Gois, defendia em seu programa a eleiglo direta nas cidades maiores; oSenado temporsrio; a educio das atribuigbes do Consetho de Estado; a gerantia das liberdades de consciéneia, de educagio, de comércio de indistra; ea abolicao gradual da escravatura, Algumas figuras do libe- ralismo, como 0 senador Silveira da Mota, chegaram mesmo a igtroduzir um se da opinio tema hoje’atual, ao dizer que as reformas deviam origin pblica — da sociedade civil na jinguagem de nossos dias ~ nao do governo, ‘como sempre acontecera no pais. ‘Sc havia uma certa diferenciagao ideolégica entre 0s dois partidos, cabe perguntar a que se devia, Ao analisar a composigio dos ministérios imperiais, ‘José Murilo de Carvalho chega a algumas conclusdes significativas. A seu ‘er, nas décadas de 1840 e 1850, sobretudo, o Partido Conservader represen- tava uma coali2do de proprietrios rurais € burocratas do governo a que se {juntou tm setor de grandes comerciantes preocupedos com as agitagbes urba- nas. O Partido Liberal reunia, principalmente, proprictarios nurais ¢ profis- sionais liberas. ‘Uma distingio importante dizia respeito as bases regionais dos dois partidos. Enquanto os conservadores extraiam sua maior forga da Bahia e Pernambuco, 0 libertis eram mais fortes em So Paulo, Minas Gerais © Rio Grande do Sul, A unio entre burocratas, com destaque para os magistrados, © (0s grandes proprietrios ruralsfluminenses representou v corayiu Ua politica ‘centralizadora sustentada pelos conservadores. G concepeio de um Império estivel¢ unificado,originéria da burocracia {governamenta, foi assumida pelos donos de terra fluminenses, estritamente vvinculados & Corte pela geografia e por seus negécios. O setor de proprietirios rurais da Bahia’ Pernambuco; pertencente ao Partido Conservador, tinha vvivido ¢ ainda estava vivendo a expetiéncia das lutas pela autonomia regional om contesdo popular. Esta seria sua razSo bésica para apoiar a idéia de um governo central, dotado de grande autoridade. Por sua vez, em uma primeira fase, as propostas liberais de descen- tralizagto partiam de Areas como So Paulo e Rio Grande do Sul, onde havia ‘uma tradicio de autonomia.na classe daminante. O liberalismo, no caso de ‘Minas, provinha tanto de proprietérios rurais.como da populagéo urbana das velhas cidades geradas pela mineracio. Por outro lado, 2 introdusio de propostas como a amplias sentagio politica © a énfase no papel da opinio. publica teria presenca de.profissionais Tiberais uibanos no Pastido Liberal. Essa presenga 6 se tomou signficativa a partir da década de 1860, com.o desenyolvimento das cidades © 0 aumento do nimero de pessoas com educacio superior. Lemibremos por sltimo que, por volta de 1870, principalmente em $0 Paulo, as transformagées socioecondmicas haviam gerado uma classe baseada na produsio cafeeira, essa classe assumiu com toda a conseqincia um dos aspectos principais da descentralizagzo: a defesa da autonomia provincial, ‘Agmesmo tempo, entre grupos de base social diversa, como essa burgue- sia cafeeira a classe: média urbana, surgia uma convicelo nova, Ela consistia na descrenca de que reformas descentralizagras ou de ampliagio da represen- tagio politica pudessem ocorrer nos quadros da monarguia Nascia assim o movimento cepublicano,] 5.5. A PRESERVACAO DA UNIDADE TERRITORIAL } Estamos agora em melhores condieSes para discutir uma questio a que ji aluditnos piginas atrés. Por que o Brasil nfo se fragmentou ¢ manteve a ‘nidade territorial que vinha dos tempos da Col6nia? As rebelifes provinciais © as-incertezas sobre a forma de organizar o poder central indicam que a tunidade do pafs nfo estava garantida, ao ser proclamada a Independéncia: A ‘unidade foi produto da resblugdo de conflitos pela forga e pela habilidade, € do esforgo dos governantes no sentido de construir um Estado centralizado, Mas nfo hé divida de que, nesse processo a hipdtese de separagio das pro- vincias foi sempre menos jrovavel do que a permanéncia da unidade. Para cexplicar isso, os historiadores 18m buscado vérias respostas, Vamos nos eferir ‘a duas, elativamente recentes, contrastantes entre si me nsrom vo ana Em seu livro A Construgdo da Ordem, José Murilo de Carvalho prope ‘uma explicagio que dé peso maior & natureza da elite politica imperial, que teria tido melhores condigdes de enfrentar com éxito a tarefa de construir 0 Estado nacional, por ser bastante homogénea. Essa homogencidade resultaria, comuns. A maioria dos membros principalmente, da educagao e da profs da elite ers formada por gente que tinka educagio de nivel superior. Esse fato 1 opinio de José Murilo, um elemento poderoso de unificacio ideoégica por irs razéesEm primeiro lugar, como muito poveas pessoas tinham instrugdo, a elite era via ilha de letrados em usm mar de analfabetos. Em segundo lugar, porque a educagio superior se concentrava nos estudos Juridicos e fornecia assim um nticleo homogéneo de conhecimentos e habili- ddades. Em erceito lugar, porque as faculdades de direito se resumiam, até a Independéncia, aos cursos da Universidade de Coimbra e, depois, is Faculda- des de Sto Paulo e Olinda/Recife. A concentracio geogrifica ¢ a identidade de formagio intelectwal promoviam contatos pessoais entre estudantes de \viria capitanias e provincias. Incutianeles uma ideologia comum, dentro do estrito controle a gue as escolas superiores eram submetidas pelos governos, tanto de Portugal como do Brasil. Anda segundo José Murilo de Carvalho, deve-se acrescentar a 880 0 fato de que uma parte significativa da elite politica era consttuida de ma- sistrados. Desse modo, a profissio contribuiu para aumentar os indices de hhomogeneidade da elite politica, em termos de visio do mundo, interesses e cobjetives 2 serem alcungados. A elite que assumiu 0 poder e foi, ao mesmo tempo, se constrvindo no Brasil pés-independéncia possufa carscteristicas bésicns de unidade ideoldgica e de treinamento que no estavam presentes nas elites de outros paises. Apesar de nio ser nada representativa do conjunto x uma politica de construsso de um 4a populagio, teve-condigbes de real Estado centralizado e conservador, que acabou por assegurar a unidade do pas Por otito lado, Luis Filipe de Alencastro parte de premissas bem di- versas para explicar a nio-ragmentagéo da antiga colénia portuguesa. Sua argumestagio s¢ desenvolve apart de duas constatagbes bisica: 0 papel fundamental d'sistema escravista'e 0 quadto de relacGes internacionais, ‘vigente ni prteira metade do sécvlo XIX: Sob o timo aspecto, Alencatro ‘acentua 0 interselacionamento confituoso entre o Império brasileiro, interes nen ene sado na manutengl0 do réfico de esravos © do escravisme, © at pressdes inglesas com o objetivo de, pelo menos, pir fim a0 trifico. Nesse jogo de interesses, a Inglaterra era, sem vida, a poténcia domsinante, mas o Brasil dispunha de um trunfo significativo, por sera tinica monarquia implantada na ‘América do Sul. Na perspectiva de Londres, 0 Império era encarado como uma garantia de ordem e um freio& propagagio de idéias republicanas no continentes 0 Brasil conseguiu adiat, por vérios anos, medidas efetivas no sentido de acabar com o trafic de escravos, apts ver sua independéncia reconhecida pela Inglaterra. Mas € certo que a Inglaterra continuou pressionando o governo imperial brasileiro Alencastro parte desse contesto ¢ lembra que as principais provincias brasileira assentavam sna prosperidade no sistema escravist, para Se pergun: tar: como iriam suas elites aventurarse a uma separagio do Império, com o risco de enfrentar sozinhas a poderosa Inglatrsa? Quem melhor do que. um Iimpéio, unit « centralizado.para.contemporizar, na guestio.do-fim. do ‘réfica.s encaminhar o problema sem grandes abalos? Para reorgar sua tese, Alencastro lembra que as duas rebeli6esregionais mais voientas no perfodo da Regéncia estouraram no sertdo da.Maranhio ~ a ‘Balgiada ~c no Rio Grande do Sul~ aamroupilha, As duas regides tinham na riagio de gado sua atividade fundamental e o trabalho escravo, asim como © tréfico, no desempenhava nelas um papel determinant [As difereneas entre as abordagens de José Murilo de Carvalho e de Luts Filipe de Alencastro acerca da unidade do Império sao indicativas de que esta, no € uma questéo simples. Sem aderir a esta ou aquela explicagio, sugira que. a0 contrério do que_pareee & primeira vista, uma.nio.exclui.a outra. O préprio,Alencastro nos 44 uma pista nesse sentido quando, 20.dar-conta do quadro complexo de selacdes entre o Brasil ¢ a Inglaterra, diz que.a aptidso jleia ganha sentido no Ambito desse quadro. histérica da burocracia luso-br Podemos considerar assim que, se o escravismo limitou as possbilidades do separatismo, uma elite homogénea soube tirar partido disso, garantindo a integridade tervitorial do Império. 5, oe sroeu bo anus 56, AESTRUTURA SOCIOECONOMICA E A ESCRAVIDAO do ‘Até aqui, concentramos nossa atenglo nas questées da orpanitag Estado e da politica imperial, nos anos de:1822-18302 Vamos agora e as mudangas na estratura socioecondmica e 6 problems do tréfico de es- 5.6.1. A ECONOMIA CAFEEIRA [A grande novidade na economia brasileira das primeiras décadis “do século XIX foi o surgimento da producio do café para exportacio. A introdu- 40 do cafeciro no Brasil deveu-se a Francisco de Melo Palheta, que em 1727 trouxe para o Par as primeiras sementes da planta, Usilizado no consumo doméstico, o café chegou ao Rio de Janeiro por volta de 1760, mistorando-se 05 pequenos cultivos de pomares e hortas dos arredores da capital da Col6nia, jo Parafba, atravessando uma parte do Foi poréim no extenso Vale do Rio e de Sio Paulo, que se reuniram as condigdes para sua primeira grande expansio em niveis comerciais. A érea era conhecida e cortada por alguns ccaminhos etrithas que, desde os tempos de apogeu da mineragio, se dirigiam Le clima favordvel. Além a Minas Gerais; af existiam terra virgem dispor disso, a proximidade do porto do Rio de Janeiro, apesar de o transporte ser precio, faciltava o escosmento do produto e os contatos para a obtengo de erédito, acompra de mereadorias etc. ‘A implantagio das fazendas se deu pela forma tradicional d plantation, com o emprego de forga de trabalho eserava. Nao eta impossivel prodezit café exportivel em pequenas unidades, como 0 exemplo da Colombia iria demonstrar, Entretanto, nas condigSes brasileiras de acesso A tera ede organi- ago e suprimento de mfo-de-obra, a grande propriedade se imp6s. Apesar da inexisténcia de estudos globais sobre a origem social dos fazendeiros do Vale do Parafba, alguns trakalhos indicam que os primeiros ‘proprietérios de fazendas de-café nfo tinham ascendentes muito privilegiados. Em sewestudo sobre Vassouias;o histotiador Stanley Stein observa que muitas ‘das familias dominantes no'municfpio provinham de antepassados comer- ciantes, pequenos proprietiris e, em alguns casos, militares de patente alta. De qualquer forma, familias importantes, como os Werneck ¢ os Ribeiro de ‘velar, jf no inicio do século XIX estavam estrategicamente situadas, pois exam proprictias de extensas sesmarias ‘A hst6ria da ocupagio das terras seguiu um padrio que vinha do passado «iia se repetir ao Jongo da historia do Brasil. Havia uma total indefinicao dos limites das propriedades e muitas terras ndo eram exploradas. Os titulos de propriedade, quando existentes, podiam ser contestados porque, entre ‘outras coisas, uns se sobrepunham a outro. ‘Em um guadro desse tipo, prevaleceu a lei dd mais forte. O mais forte cera quem reunia condigoes para manterse.na terra, desalojar possciros desti- tuidos de recursos, contratar bons advogados, influenciar juizes e legalizar assim a posse de terras, ‘Qs contemporineos tinham conscigncia desse estado de, coisas. O presi- le da Assembléia Provincial do Rio de Janeiro, em seu relatério de 1840, afirmava claramente que assumir a posse de uma Srea e.conservi-la dependia AA partir da década de 1870, comegaram a surgir uma série de sintomas de crise do Segundo Reinado, Dentre eles, 0 © 05 atritos do governo imperial com o Exército e a Igreja. Além disso,0 ma da escravidao provocou desgastes nas relagées Sociais de apoio. Esses fatores, nfo tiveram um ico, explifvelambém por um conjun- to de razées de fundo onde estfo presenes 28 wansormagdes ocioecond- idgias de jodo movimento republicano encaminhamento entre © Estado e & ‘micas que deram origem a novos grup reforma. Vamos examina a qustdes mais importnes do perfodo 670-1680. ‘Assim poderemos entender melhor a crise final do Impéro a proclamagio 4a Repiblica. Comecemos pelo problema bisio da exeravidso 58.1. O FIM DA Escravidko exungeo Ga eseravatura foi encaminada por etapas até o final, em 1888. A maior controvérsia quanto as medidas legis nfo ocorreu em 1888, mas quando o governo imperial propés a chamada Lei do Ventre Livre, em 1871. A proposta dectarava livres os filhos de mother escrava nascidos apés a Ici, os.quais ficariam em poder dos senhores de suas mies até a idade de oto ceber do Estado ‘uma indenizagdo ou wtlizar os servigos do menor até completar 21 anos. O projeto partiu de um gabinete conservador, presidido pelo Visconde do Rio Branco, arrebatando desse modo a bandeira do abolicionisme das mios dos Iiberais © que teria levado © governo a propor uma lei que, sem ter nada de revolucionétia,criava problemas nas relagSes com sua base social de apoio? © condigio social di a tusroein D0 seat. ‘A explicago mais razoaivel 6 de que a inicativa esultou de uma opgi0 pessoal do imperador ¢ de seus conselheiros. Embora nfo estivessem ocor- tendo insurreigdes de escravos, considerava-se nos circulos dirigentes, logo ‘aps a Guerra do Paraguai, que o Brasil sofria de uma fraqueza basica em sua frente interna, pois no podia contar com a lealdade de uma grande parcela da popolagio. O encaminhamento da questio servl, mesmo ferindo interesses ‘econdmicos importantes, era visto como um mal menor diante desse problema ‘edo risco potencial de revoltas de escraves. ‘A classe social dominante, pelo contréro, via no projeto um grave rico de subyersio da ordem. Libertar eseravos por um ato de generosidade do senhor levava os beneficiados 20 reconhecimento e & obediéncia, Abrir eami- ‘nho & liberdade por forga da lei gerava nos escravos a idéia de um direito, 0 ‘que conduzitia 0 pais & guerra entse as rasas. [As posigdes dos deputados em torno do projeto afinal aprovado sao bastante reveladoras. Enquanto os representantes do Nordeste votaram maciga- mente a favor da proposta (39 votos a favor e 6 contra), os do Centro-Sul inverteram essa tendéncia (30 votos contra e 12 a favor). Iss0 refletia, em parte, 0 fato de que 0 trifico interprovincial vinha diminuindo a dependéncia Go Nordeste com relagio & mao-de-obra eserava, via também outro dado importante, relative & profissio. Um mimero significativo de deputados era constituido de funcionsrios pablicos, especial- ‘mente magistrados. Esse gropo, que em sua maioria provinha do Nordeste © o Norte, seguia a orientagio do governo e votou em peso com ele. Do ponto de vista partidério, nfo houve uma nitida divisio do voto de liberais e conser vadores. Deputads dos dois partidos, indistintamente, votaram a favor ou contra © projeto. [Na pritica, a lei de 1871 produziu escassos efeitos. Poucos mer foram entregues 20 poder piblico e os donos de escravos continuaram a usar seus servigos. ‘Apart da década de 1880, 0 movimento abolicionista ganhou forca, Gein parigio de associagdes, jornais'e 0 avango da propaganda. Gente:de vers paricipou das campannas abolicionistas, Entre vérias ‘iguas de elite, destacou-se Joaquim Nabuco, importante parlamentareexei- tor; oriundo de uma familia de politicos ¢ grandes proprictiios rusis d Pernambuco. Entre as pessoas negras ou mesticas, de origem pobre, os nomes ‘mais conhecidos sto os de José do Patrocinio, André Rebougas e Luis Gama Patrocinio era filho de um padre, que também era fazendeiro dono de eseravos, e de uma negra vendedora de fruias, Foi proprietério da Gazeta da Tarde, jornal abolicionista do Rio de Janeiro, ficando famoso por seus discur- sos emocionados. (© engenheiro Reboucas representava 0 tipo oposto, uma figura retrafda, professor de botinica, célculo e geomettia da Escola Politécnica da Conte Ele ligava o fim da escravidio ao estabelecimento de uma “democracia rural", efendendo a distibuigio das terras para os escraves libertados e a criagdo de ‘um imposto territorial que forgasse a venda e subdivisio dos latfndios. Luis Gama tem uma biografia de novela. Seu pai pertencia a uma rica familia portuguesa da Bahia e sua me Lufsa Mabin, na afirmasao orgulhosa do filho, “era uma negra africana livre que sempre recusou 0 batismo a

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