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Ministério do Planejamento, Orgamento e Gestio Instituto Brasileiro de Geografia ¢ Estatistica - IBGE Revista brasileira de geografia volume 59 numero 1 janeiro/junho 2005 ISSN 0034-723 bras Geogr, Rio de Jancivo, v59,n 1, pal-152, jan fjun 2005 Instituto Brasileiro de Geografia ¢ Estatistica - IBGE Av Franklin Roosevelt, 166 - Centro - 20021-120 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil co ee a ee, Gere Des crain enero eden rhb hn ett pera oree lower nn ec Oregano ated pe Sl ent ‘hednon ee a 'A Revista nio se responsabilina pelos conceizos Informagtics CODUTEGE, em 2005 Nope coretie Capa —- ——— CENTS cana os Co-editor ‘Foto da Capa er oe a sanedsptan ett ee ee Berths Becker- Gaigraa Deniza Bit - Matemtico Aldo Pavia - Gegrafo ‘Jorge Soares Magus - Gabgrafo Maredlo Martine - Gesato Equipe Editorial Gevtnca de EdioracioCDDI BseuearagSo Ealeortal (Carmen Heloisa Pesoa Coses Copidesque Reviséo ‘Anna Masia dos Santos Ceistina Ramos Carls de Cavatbo Kiva Domingos Visa Maria de Lourdes Amati Suel Als de Amorim Revs rsa de pograflIBUE —val y= 1 Gan ine 1939) io (sone: IBGE, 1938 Tien Taser: A de lags incnacionis coped das mas 1967 outider 1976 Sundin nde cumulus de autores pabldo:s0 47 (4939-1985) 50 (984-1988) Nimere epi» 50 (1908 1 Ckisicos da goa © 2 Redes sae pops 1539 0096.725% « Revi at de pop 1 Geogafin: feos 1 IBGE GE CDD! Div de ibe «Acros Esprit CDU 9 (5) RJ. THGHI.23(en 99) PERODICO Ineo Bele in Br Note da editor Astigos ‘Teativério e territorialidade: Considciagies hhistético-conceituais i Alves Pena ‘Territérias da prostituigio nos espagos piblices da aca central do Rio de Jancivo Miguel Angelo Campos Ribeiro Rogério Botelho de Mattos ‘Titangule Minchio: segido e regionalisme Jilio Cesar de Lima Raraiver Beatriz Ribeivo Soares Cliudio Vendeil de Soseza Importiincia das imagens de radai no mapeamento de solos de Folha $E.22 Goifnia Zebina Pacheco do Amaral Filho Nogées sobre aproweitammente agvossilviculeosal na Amazénia Wabnor Nogucina da Fonseca ‘Aface destenidosa da epsapriagio © uso de tensitério amaxénice Masia do Socorro Brito Estudos geogificos da diea mineradosa garimpeira de onso do norte de Mato Grasso ¢ da sicea mineradosa gacimpeiva e cempresarial de omo do Amaps Irene Garrido Filbe “Aptidio aguicola e zoneamento agricola da Gleba 01 - Projeto Assentamento Machadiaho es Zebino Pacheco do Amaral Filho Isaias Oenning nstrugdes bdsicas para prepare dos originals . . Sumario 2B - 37 61 93, 105 135 149 motivo de grande satisfagio, para o IBGE, spublicar esse novo mimeto da Revista Brasileira de Geogratia - RBG que, desde 1959, ¢importante veiculo de disseminagéo de estudos & pesquisas da 4 conmunidadecienfca, especialmente qua interes sada em temas da geogtafia ¢dreas fins Ao longo destes 65 anos de existéncia, a RBG tem publicado antigos que procutam tetratar 0 avango da ciéncia geogrifica Os artigos publ dos versam sobie diversas linhas de investigacio, desenvolvidas no 86 no IBGE, mas em tod 2 comunidade cientifica, contando com a valiosa colaboragao de autores de diferentes Insituigdes de pesquisa e académicas Este niimero intertompe a série temporal uo perfodo de 1997 a 2004, tendo em vista que Nota do editor dificuldades operacionais impossibiltaram 2 con sinuidade da publicagéo Assim, este langamento marca também a nova petiodicidade da Revista, ‘agora semestral Apresentamos, nessa edigio, ite artigos, ial ¢ regional, agropecudria, interpretacao de imagens absangendoasseguintestemsticas:andlise te recursos natuiais © IBGE, através dos editores da RBG, agradece a0s autores que contiibufram pata esta publicacio e aos leitores criticos que, através de sou. imporrante trabalho anénimo, colaboraram para a manucengio da qualidade dos attigos sclecionados, para este ndimero da Revista Territério e territorialidade: Resumo 0 bjs da peste sexta € examina o dese mento dos concits de "ero" cde testcoralidade” enfo- ‘anda simportncia dos mesos paso pensmentogeogfco freqiientemente registram um significative iimero de hotéis de alta rotatvidade que fo suporte i atividade da prostiuigio; © £- sio repletos de moradias ocupadss por nu- _merosas familias de baixa renda c homens soleitos ‘Os contetides deseritos acima apresentaim uma alterndncia habitual dos usos diurno e/ou noturne dos mesmos espagas, conforme indicado no quadko e caracterizados a seguir 28 Central do Brasil e imediagdes As fronteiras invisiveis deste territério esten- dem-se par trechos das tuas Bariio de Sio Félix, Senador Pompeu, Marcflio Dias, Bento Ribeito, Presidente Vargas e Visconde do Rio Branco, e pela Praga da Reptiblica (Campo de Santana) Constituiem érea de passagem, em fungio da Estagio errvidsia D. Pedro II (conhecida popularmente como “Central do Brasil”), do Terminal Rodovidrio Amético Fontenelle, que intetliga a Baixada Fluminense ao Centro da Ci- dade, ede uma estasio de metré que ficilia acoso de pessoas as 2onas Sul e Norte. Este espagn é servido, também, por uma drea verde para o lazer (Campo de Santana), muitos bares (inclusive “biroscas”), barracas de ambulantes que comercializam um pouco de tudo, tum hospital (Souza Aguiat), o antigo Ministétio do Exéscivo (Palécio Duque de Caxias), os museus do Palicio do Itamarati, do Exército e de Deodoro, um quaztcl do Corpo de Bombeiros« uma gafiira (lit), além da eoneentragio de escola e faculdades. Este antigo e tradicional tertitério da prost tuigio softeu, ao longo do Séeulo XX, uma retragio nas Geogr, Rie defi, 59, Lp 25-41, jn fam 2005 em suas fronteiras, devido & repressio policil € & demoligio de indimeras casas destinadas, exclu smenie, essa atividade Atalmente, ea constiuida por prostinuras e“michés” que buscar, diariamente, 1s clientes que transtam por seus logradouros. No ‘Campo de Santana, durante todo o dia arés 18 horas (quando fecha) acontecem contatosinicais no que ange 2 prostituigio masculina "michés"), enquanto nas imediagies da estagiofersovidsia,apesar do pre- dominio da prostitugao feinina (em sua maioria de ‘mulheres negras), aparecem também os “michés" O principal chamariz para esta concentragao de prosti- tutase “michés” €0 grande niimero de usustios dos ios de transporte, que so cientes em potencial Segundo reportagem cealizada por Barsotti (1994), trata-se de uma das éreas de mais alto geau. de petigo no tocante 8 prostituigéo masculina no Rio de Janeiro. Os “michés’, prostitutas e clientes que freqientam esse tersiétio caracterizam-se por possulrem poder aquisitivo muito baixo PragaTiradentes e inicio da Avenida Passos A Praga Tiradentes € 0 inicio da Avenida Passos formam um dos mais antigos e conhecidos teititios da prosttuigio feminina do Rio de Janeiro Ese terstério, hoje, restringe-se & Praga Tiradentes, Avenida Passos e parte das ruas da Constiuigao e Lis cde Camoes (junto & Praga) Nessa tradicional érea de lazer da cidade, concentram-se teatros, como o Carlos ‘Gomes ¢ 0 Jodo Caetano, o posto da'Telr),restau- antes, galletas, bars € lojas de comércio em geral A grande maioria dos estabelecimentos funciona em uum conjunto arquiteténico tipieo das itimasdécadas do Século XIX Nesse contexto, a Praga Tiadentes destaca-se, também, principalmente, durante o di, pelo grande fluxo de pessoas que se dirigem avs pontos finais de Onibus municipais Teatase de dea tradicional na prostituigéo feminina c desenvolve-s¢ cotidianamente, durante diae noite, com a presenga de hotéis de alta rotatividade que se enconteam em logradouros das redondezas, apresentando, assim, suporte & atividade em questo De urna mancira getal, a existencia e a sobrevivéncia desses hotdis “baratos" ocorrem em fungi das prostitutas locais, que se ditigem a esses estabelecimentos em com- ppanhia de seus clientes tradicionais e/ou “cagados” nag ruas Conforme exp ido anceriormente, esse Titi de prt nos ears piles dares cial da Rio de Janae tcrvtério configurou-se desde o seule pasado, esua continuidade legiimou-the a presenga, enexistinda diferentes segmentos sociais¢ prostcutas, apesar de 6s contatos predominantes serem aqueles ralizados nas cakades. Nesse territério dominado, na maior parte do tempo, por prosticaras,existem lugares segmen- tados para cada tipo As mais velhas, que nao Iucram tanto coma pritica da prostituigao, tendem a ocuper com maior freqiéncia a Avenida Passos, enquanco as adolescentes ¢ as de meia idade procuram se concentrar nas ruas em toro da Praga Tiradentes, preferencialmente do lado esquerdo da calgada. A escolha do lado esquetdo se justifica pela facitidade da toca de comunicagio entre o fregués motorizado ea prostinuta: apesar de 0s contatos predominantes serem aqueles realizados nas calgadas Na Praga Tiradentes, durante as madm= gadas, quando 0 mimero de prostitutas ¢ seus respectivos clientes diminui de intensidade no local, outro segmento da prostituigio entra em cena: os travesti, que mesmo timidamente formam no decorrer de algumas poucas horas um outro Passeio Publico e Cinelandia (Oterritério da prosttuigao do Passeio Publi- coe *Cinelindia’, conhecido também como aantiga Broadway catioca, éformado por trechos das ruas do Tasseio, das Marreeas, Senador Dantas ¢ Evaristo da ‘Veiga, Avenida Rio Branco e pelas pragas Mahatma Gandhi e Floriano (*Cinelandie”) ‘A Rua do Passcio se destaca pela preseng de alguns pontos finais de Onibus manicipais, que Jntesligam, em sua maior parte, o Centro da Cidade aos bairros das zonas Norte ¢ Oeste Outro ponto de cembarque e desembarque de passageiros éa estagdo cdo meted da Cinelindia. A antiga Broadway carioca concentra numerosas opgées de lazer, tais come cinemas, bares restaurantes, uma dtea verde (Pas seio Piiblico), 08 tatros Municipal, Dulcina, Rival Biigitte Blait II, Museu de Belas Antes, Biblioueca Nacional, Camara Municipal, Sula Funarte, Secreta- tia de Educagio, Escola de Mitsica da Universidade Federal do Rio de Jancito, sede do Auroméyel Clubedo Brasil, muitas agéncias bancitias oficiais¢ privadss, virios prédios clojas cometciais, a loja de departamentos Mesbla-Passeio, entre outras Essas muitas opgées de lazer ¢ 0 grande movimento diério de pessoas contribuitam pare surgimento da prosttuigio masculina ¢ feminina durante 0 dia ea noite A confluéncia das ruas das Marrecas e do Passeio é dominada, exclusvamente, por prostituras, cratando-se consequientemente de ruas tradicionais nesse tipo de prostituigéo, Du- rante o dia, as “mulheres de vida fil” buscam seus provaveis clientes entre os pedestres ¢, quando 0 “negéeio” é concretizado, disigem-se aos hows de altarotatividade dos artedores, Em contrapartida, a Rua do Passio (nas proximidades da Praga Mahatma Gandhi) ¢ a Praga Floriano sio dominios da pros- situigdo masculina, principalmente em frente aos cinemas Palicio, Odeon ¢ Metro Boa Vista. Atu- almente alguns “michés” fazem “ponto” no interior dos jardins do Passeio Pablico, como transitam nas ‘reas internas da loja de departamentos da Mesbla- Passcio enassuldas da estagéo do merré Cinelindia, «em busca de provaveis clientes © Passeio Priblico, até a décads de 1970, cera tetritério exclusive da prosttuigio masculina ina Area Central do Rio de Janeito, Por volta dessa Epoca, porém, a aca esvaziou-se devido as obras pata a construcio do metré Mais tarde, esa dre foi ‘ocupada por prostimtas que, assim, retomaram seu antigo terrtério até fins da década de 1980, quando ‘este espago torna-se uma territorialidade mesclada de prostcutase “michés” Os anos de 1990 marcam © aumento da inseguranga ¢ da violencia nas dreas préximas 20 Museu Histérico Nacional, Santa Casa a Misericrdia © imediagoes (conbecida popular~ mente no mundo gay como “Via Apia’), deslocando muitos “michés” que fiziam "ponto” naquela dre, principalmente para o “Castelo” e “Cinelindia’, reocupando ¢ revalorizando esse antigo tesitéxio da prostituigo masculina Lapa e partes das ruas do Riachuelo, Mem de Sa e Frei Caneca Parteda Lapa erechos das ruasdo Riachuelo, Mem de Sé ¢ Frei Caneca formavain um teritério conhecido pela pritica da prosttuigéo dese o final do Século XIX, pela presenga de iniimeros prostibulos, conde acuavam as prostizucas estrangeias wraficadas, em sua maioria, da Europa centzo-oriental. No ink cio do Século XX, segundo Menezes (1992), houve violentarepressio policial nese tetit6tio, com a cx- 30 pulsio, inclusive, de muitos cafetes ¢cafetinas, mas, ‘mesmo assim, area nfo diminuiu em importincia, no eendrio da prostituigio Entretanto, 2 época de couro da Lapa situase em torno de 1910, quando ‘ocortem os primeiros casos passionais ¢ da boemia desenfreada Por suas ruas,bilhares, bares, cassinos- concertos ¢ cabarés, circulavam os malandros ¢ os “ouirios” Durante 0 Estado Novo, 2 malandragem daLapa foi persoguida por aparato policial e politico, culminando coma descaractetizagio social dobaitro Entrctanto, por volta de 1950, surge 0 “gucto” dos ‘ravests, confinados praticamente nessa zona, pols se salssem deste terit6rio, se arrscavam a ser surtados ou presos Esta violéncia impostaa um grupo por uina sociedade que nao admitia 2 existncia de diferentes padrées sociais justifcava-se como uma forma de preservar a moralidade c os bons costumes da Area ‘Central, Alguns travests, para sobreviver, durante cease petiodo, tabalhavam, basicamente em shows fculos localizadas Casanova, existente desde musicais em certas casas de es area, al como 0 Cabs 1930 ¢ em atividade até hoje brilhantismo da Lapa jé fz parte da his- téria da cidade e, apés intimeras reformas urbanas, ‘esse bairro da periferia do Centro se tomou um local de obsolescéacia, habitado por antigos moradores, pessoas descapitalizadas 2 procura de aluguéisbaixos, ladrbes e marginals, que convivem cotidianamente com duas terrtorialidades de prosttuigio, a feminina ea de eavesis O tersudri da prostituigao feminina seconfina somente nas ruas Mem de Sie Frei Cancea, ‘no trecho compreendido a partir das pragas da Cruz ‘Vermetha e da Repiiblica ¢ em pequenos trechos da rua Riachuelo, Jo teritério dos travestis enoontra- se localizado na rua Mem d Lapa c a mua dos Invilidos & interessante observat 4, entre os Arcos da o sentido diametralmente oposto desses territérios, pois, enquanco 0 dos travestislocaliza-se no trecho inicial da rz Mem de Sé, 0 das prostivutas situa-se a0 seu fina, onde estio concentrados os hotésde alta roatividade. Cabe mencionar que tas teritériossio apropriados diariamente, a partir das 19h, somente do lado esquerdo das referidasruas,faciltande o contato com 0 dliente mororizado De acordo com Silva (1993, p 66), "a atengio permanente, & cata de dliente, ou cautela contra os tiscos, conferem (aos travesti] um olhar alkivo ¢ esquadtinhador. Sobre salts altos operam varreduras nas calgadas, no asfalto, nos automéveis” bres Geog, Ried Jona, w 59,» 1, p 25-4 jam fe 2005 [esse sentido, tais locas de passagem, com grande movimenco de awoméveis, sie muito disputados pelos travestis, porque os clientes motorizados pagam melhor pelos seus servigos. Acresce, ainda, “todo um citcuiro de relagées que liga os meninos de rua, ladroes, policiais, travesti, eraficantes € © pequeno comércio informal em sorno de al- guns principios de convivéncie” (SILVA, 1993, p. 87). Encre todos esses atores se estabelece uma confianga miéitua advinds de uma série de numero s05 ¢ miniisculos contatos de rua, Segundo Barseti (1994), nas proximidades dos Arcos da Lapa a situ- acto de periculosidade ¢ bastante clevada Essas dreas, descontinuamente utilizadas pelos territérios da prostituiggo, sio formadas por diferentes contetidos, como a Fundacio de Amparo 20 Menor-de-Rua Joaquim Martinho, Hospital da Cruz Vermetha, redagio do jomal O Dia, predo- miniincia de salas de escritérios ¢ casas comerciais, como as de antigitidades, material eldtico, gréficas, supermercados, bares e casas de shows, como o Asi Branca, Circo Voador e Fundigio Progresso, junta- mente com prédios residenciais e antigos casarées, hoje transformados em habitagdes multifamiliares Cumpre mencionar que a rua Frei Caneca € espe cializada no comércio de material de construsao, contando também com uma das gafieiras mais tra- dicionais da cidade ~o Flite Clube Hd também os locais destinados, de um modo geral, a prosttuigéo «em locais fechados, como apartamencos onde fun cionam casasde massagem ou agénciasespecializadas esse tipo de atividade, além de boates, cabarés, como 0 Casanova, ¢ hotéis de alta rotatividade Praca Paris, Avenida Augusto. Severo e imediagoes Otertt6rio dos aves comfoeme observado no mapa, estende-se pelos ados esquerdos, do sentido do tréfego, das ruas Teiseira de Freitas, da Lapa € pequeno trecho das ruas da Gléria e Morais ¢ Vale, «, ainda, predominando na Avenida Augusto S axé 0 Beco das Camclitas, ¢ imediagies da Praga Paris A *batalha pelo ponto” c busca pelos clientes, dliariamente, inicia-se a partir das 19 horas, quando os festivos travesti, provenientes de diferentes bairros do Rio de Janciro, formam seu respectivo terrtério rinse, assim, uma rede de regis entte os clientes mororizados ¢ os travests, que dispucam, palmo a “virinda prsiuigio mo psp plicr da rea centile Rio efi palmo, os espagos dese eritdrio, configuradoa partir do final dos anos de 1970 Anteriormente, as ruas da Lapa e da Gléria eram ocupadas pela prostituicio feminina, subscivuidas mais carde pelos uavestis Nesta area convivem diferentes estabelecimentos representados pelo Instituto Histérico ¢ Geogréfico Brasileiro - IHGB, ag2ncia do Banco do Brasil, casas comerciais, como a tradicional Hollas,especializada cem aluguel de roupas, Associagio Cristi de Mogos -ACM, Coligio Estadual Deodoro da Fonseca, aléin de uma sauna (Rio Antigo) ¢ de intimeros bares, restaurantes ¢ hotéis de alta rotatvidade (nas ruas rmansversais & Avenida Augusto Severo), juntamente com prédios residenciais, ondese mesclam popula de diferentes matizes © importante, aqui, € diferenciar o contra ponto existente entre o dia c2 noite dessa area O dia 6 caracerizado pelo ir e vir de automéveis e bnibus ligando os bairros da zona Sul ao Centro da Cidade, criangas ¢ moradores que se diviger para 2 escola ou para os diferentes afazeres, tendo em vista o fato de 0 local er um “divisor de éguas” entre 0 “Aterra” do Flamengo, o Passio Piblico eo bairroresidencial da Gloria A noite, principalmente na Avenida Augusto Severo, a maquiagem € trocada JA nfo existem criangas, nem moradotes, que sio substivuidos pelos wavests, em seus tzajes sumniios ¢tejeitos, eoreen- ce policia, que procura imprimir uma certa orem, ora dlo de um lado. para o outro, ora pela presenga da pela presenga da clientela motorizada, Para aqueles que passam, a rua se wansforma em uma verdadeira visine de compos desnudos Desde 1994 esse teritério tem se expandido pelas imediagées da Praga Paris, ampliando seus limives Muitas veces, as relagBes sexuais com os clientes sio mantidas no préprio local Castelo e Via Apia Exe rerritério foi, no passado, o “bergo" da cidade, concentrando, nas partes baixas do antigo morro do Castelo, um grande miimero de “casas de tolerincia” ¢ bordéis exclusivosde prostitutas Com as reformas urbanas ocortidas na gestao Carlos Sampaio, em 1920, como parte das comemoracies do Centenério da Independéncia do Brasil, © mate- iu de atereo rial de desmonte da citada elevasao se para o futuro Parque Brigadciro Eduardo Gomes (Aterro do Flamengo) ¢ o bairro da Urca. Nesta 31 4rea surgiram outras construsbes que abrigam se- tores de servigos e de gestlo, Posteriormente a essa ‘mudanga de contetidos, uma nova territorialidade de prosticuigio comegou a ser gestada em suas ruas: a masculina, que se subdivide em duas éreas bem. definidas A partedo “Castelo” abrange as ras San- «a Luzia, nas proximidades da sede do Ministério dda Educagao ¢ Cultura - MEC, e nos fundos da Igreja de Santa Luzia, Avenidas Presidente Anténio Carlos, Nilo Pesanha eadjacéncias, onde se localiza © terminal rodovidtio Menezes Cortes Ea area da Praga XV de Novembro, nas proximidades do ‘Terminal Rodovidtio Alfredo Agache, Rua Gene- ral Justo até as imediagées do Aeroporto Santos Dumont, ¢ na Avenida Marechal Cémara, Nessa frea encontram-se os muscus Histérico Nacional ¢ da Imagem e do Som, a Santa Casa de Miseri- cérdia, a Igreja de Nossa Senhora de Bonsucesso, © Ministério da Actondutica, agéncias bancérias diversas, Petrobras, Presidéncia do IBGE, Instituto dde Resseguros do Brasil - IRB, além da existéncia de bares, restaurantes ¢ salas de escritérias Esses dois teritérios sio, temporalmente, muito bem marcados, ou seja, durante o dia, hd um predominio dos setores de servigos ¢ gestio, com grande afluéncia de pessoas que utilizam, em sua maiotia, os erminais hidroviirio e rodovidrio localizados na Praga XV de Novembro © terminal hhidvovidrio faz 2 ligagdo entre o Centro da Cidade com a Ilhe de Paquet e 0s Municipios de Nitersi « Sio Goncalo, enquanto o Terminal Redovidrio Alfredo Agache possui pontos finais de énibus ‘municipais e intermunicipais, Alm do terminal rodovisrio existe um outro, o Menezes Cortes, que interlga, através de 6nitbus tipo “frescoes", a Arca Central 8 zona Oeste ¢ 20s municipios da Regio Metropolitana do Rio de Janeiro, como Maricé, Nitcréi, Guaratiba, e da regido serrana, como Petr6polis ¢ Teres6polis. A. noite e, principalmente, em véspera de feriados einai de semana, algumasruas dessasdreas se transformam em tetiérios da prostituicio. Onde antes existia 0 predominio de homens de paletds ¢ ‘gravatas, agora existe, no lado esquerde de algumas vias publica, os prosttutos “vis, de feigdes sia, que flanam de jeans justos ¢ rasgados para realgar seus corpos atléticos, ou os travestis, em menor e cospos “fabricados” & base de silicone e similares ¢ suas roupas de mulher. 32 (Os “michés” desta éreasio figuras nfo-cfeminadas, idemtificados pelo tipo do homossexual ativo e/ou macho, que utiliaam como chamariz de sua visi dade 0 érgio genital seguro em suas mos Traci-se deum tetritério pico de prostituigéo masculina no Rio de Janciro, de alta periculosidade, tanto para o “miché” como parao cliente, econhecido eafamado mundialmente, no mundo gay, A dteado “Castelo”, ‘queers constitulda, eminentemente, pelos “michés’, hoje vem sendo ocupada por alguns travestis, prove- nientes, provavelmente, da casa de shows Boémio, sieuada & rua Santa Luzia, com clientela composta, predominantemente, por gas e tavesis A chamada “Via Apia? (Rua Sanca Luzi, depois da Santa Casa da Miseriedrdia, imediagoes do Museu Histérico Nacional e proximidades da Praga XV de Novembro} difere do “Castelo” por ser uma drca eminentemente de passagem dc automéveis ¢ da prostituigdo “vir” ou de “mi- chés! A. caracteristica principal desse teritério & didtio de contragdo ¢ expansio, pois, se durante © dia desaparece em meio as atividades voltadas der que © mesmo apresenta em seu processo principalmente ao setor de prestasio de servigos, Anoite rorna-se teritério dos michés Superpée-se a este, em dreas, outros tercitrios, caso verificada hhoje mais restritas, nas proximidades do Museu Histérico Nacional e Santa Casa da Miserieérdia, onde se encontra um depésite de papéis a eéu aber- to, com concentragso elevada de catadores. Em recente pesquisa de campo, conscatou-se a dimi- nuigdo da prostituigio nesse espago. Praticamente esté havendo uma contragio e desaparecimento desse terrtério, explicado em grande parte pela atuagio da policia civil, que “achaca” nao s6 0s “michés", mas, principalmente, os clientes que © freqiientam. A tendéncia dos rapazes de progr ma procurarem novos territérios, caso verificado no “Castelo”, onde reproduz-se, hoje, o que hé 20 anos encontrava-st na “Vie Apie’ - a presenga de intimeros clientes motorizados & cata dos “michés’ que migraram para este local Praga Maud A Praga Maui c cercanias sio reas uipicas€ cradicionais de prostituigio exclusivamente femini- nna do Centro da Cidade, sendo que dutante o dia ccaracteriza-se por ser dtea de servigos, de comércio ceminentemente atacadista, em fungio da proximi- bras Googe, Bi de Jancve, 3 59, Je p 25-4 anf 2005 dade do Porto do Rio de Janeiro As imediagées da Praga Maud destinam-se ao uso residencial, bascacas em populagio de baixo poder aquisitivo, que, nfo tendo capital para mancer a aparéneia de suas moradias, deixamenas se deteriora fisca- mente, estigmatizando adres com uma imagem de pobreza, vici, prosttuigdo ¢ crimes Nesse local situam-se vitios pontos finais de anibus intra ein- da cidade ~ Terminal Mariano Procépio, o principal da cidade até 1962, quando foi concluida a Rodovidtia Novo Rio ~ hoje servindo a alguns municipios da Regio Metropolitana carioca. Encontra-se, também, em suas adjacéncias, © Primeiro Discrito Naval, os hhospitais dos Servidores ¢ de Psiquiauria do esia- do, a Maternidade Pié-Matre, 0 posto da Policia Federal, akém de emptesas ligadas dircramente a0 cesmunicipais, além da antiga rodovi caanspoite mariimo e de importagio A enitorialidede da prosticuigéo nessa drea descnvolveu-sea partt da mudanga do Porto do Rio de Janciro para 0 local, ataindo estabelecimentos do comércio atacadista, grande niimero de pessoas, além das atividades poutuitis cotidianas A presenga constante de matinheitos de diversas nacionalidades «edeturstsfizeram surgi hoxés de ata roratividade, {que servem, também, dehospedagem tempordcia is prostizutas © aos seus clientes Esse tenitério esd voltado, completamente, para as atividades desenvolvidas na Praga Maud «nos seus cabaiés, boates ¢ bares Nesses esta- belecimentos, hi, durante o dia ¢ & noite, shows cerétiens, enm cenas 20 vivo de sexo explicito A noite, observam-se algumas prostituias cireulando pela Praga Maud a fim de aust clientes pata as casas de shows, bem como pata os hotéis de alta sotatividade nas suas imediagBes Tintin depron nor pees plies dives coal do Ria de Jers Concluséo ‘A Area Central & considerada como o local do intercimbio econdmico, asim como espago da vida simbélica e do lazer, estruturada na superposi- Gio de diferentes contetidos, como os de moralia, comérco, servis de representacia ¢ financeirose, também, de prostie [A prostiuigéo nos espagos piblicos da Area ‘Central do Rio de Janeiro estabelece-se, na maioria das vezes, em tentitétios onde se idenificam singu- latidadls ¢ especificidacles que os legitimam dentro descucontexto Tas trtitérios possuem diferentes escalas, contetidos esignificados, xepresentados ora pela cfervescéncia eagitagao dos ranseuntes, como no Passcio Pablicu, “Cinelandia® ¢ na “Central do Brasil, o1a como especie de refiigio ou escondesijo, como no “Castelo? e “Via Apia” Para ume grande parte da sociedade, essas reas estio associadas a verdadiros “tetitétios do edo" © da sepregagio, onde a rua toma-se um local das maishostis, acontecendo, cotidianamente, brigas, assaltos e assassinatos, enfim a violéncia nos seus mais diversos matizes (Os errt6rios da prostinuigao acompanham a dinimica da propiia cidade na qual eto inseridos, ‘uma verestabelecidos, podem se sedimentar durante algum tempo, tendendo a expansio, caso aummente a procura do coméicio do sexo, ou sea, a ampliagao da geografiado sexo Da mesma forma, podes frames tar-se em decorténcia de invasées de autios grupos sobre a érea, ob mesmo da intervengio dos podexcs instituidas, como 2 policia, os politicos ¢ o poder municipal, e mesmo do poder “matginal’ levando, ‘em alguns casos, & sua extingdo em uma éiea e/ou 0 sou reapatecimento em outia BACELAR, J A A familia da prosttuca So Paul: Atica Salvador: Fundagio do Estado da Bahia, 2982. 186 p (Fsaios, 87) BARCELLOS, S Com a palavra,o miché Nos por exemplo, Rio de Janeiro: 8.9, set fous 1993, BARSETTI, $ Gays: o toc oficial © Dia, Rio de Jancino,p 1, 7 abr 1994 CARNEIRO, M Crimes asusam mundo dos guys © Dia, Rio de Jancio, 30 jan 1994 Policia, p14 CORREA,R LA Espago urbano Sio Paulo: Avics, 1989 94 p (Peinepios, 174) Meio ambieate e metnspole In: MESQUITA, OV; SILVA, ST (Coord) Ge- graf e questio ambiental Rio de Janeiro: IBGE,1993 9 25-30 FOULCAULT, M Histéia da sxuaidade 2:0 uso dos pracres 5 ed Tradugio de Maria “Thereaa de Costa Albuquerque Rio de Jancito: Graal, 1988 232 p (Biblioteca de flosofa -ehissra das dna, 15) LOURENGO, LC A degradante vida marginal dos meninos eravetides © Globo, Rio ddeJancito, p 12,3 abr 1994 MACHADO, M § A tenitoralidade pentecostal um estado de caso em Niteréi 1992 208 p Dissersgio (Mesuado em Goografia)-Univetsidade Fedeial do Rio de Janeiro, Rio de Janciro, 1992 MENEZES, L_M de Os esrangezos¢ 0 comeézcio do praze nas was do Rio, 1890-1930 Rio de Jancivo: Arquivo Nacional, 1992 117 p (Peta Axquivo Nacional de Pesquisa, 2) PARKER, R G Coxpos, prazercs © paixées: a cultura sexual ne Brasil con- temporineo Tradugio de Maria Therezinha M Cavallari Sao Paulo: est Seles, [1991] 295 p PECHMAN, R MA invengio do urbano: a constiuigéo da ordem na cidade Tn: PQUET, R Pda ; RIBEIRO, A CT (Orgs) Brasil, cuitésio da desigualdade: descaminbos ‘da moderitagio Rio de Jancito: Zahar: Fundagio Univeriéria José Bonificio, 1991 p 121-133 Referéncias 36 PEREIRA, RR Em busca da infinciaperdida Veja, So Paulo, ano 27, n 11, p 66-75, 16 mar 1994 PERLONGHER, N © O negécio do miché: prosttugto vril em Sto Paulo Sio Paulo: Brasliense, 1987 275 p Ocginalmente apresentado como dissertagéo de mestrado 3 Uni- versidade Estadual de Campinas RAFFESTIN, C Por uma geografa do poder Tradusao de Maria Ceca Franga Sio Paulo: Arica, 1993 269 p (Temas) RAGO, LM Do cabaré ao lar: a uiopia da cidade disciplinar: Brasil, 1890-1930 2 ed Rio de Jancro: Paz € Tera, 1987 209 p (Colegio estudos brasileros,v 90) ‘Os praneres da noite: prosttugSo céigos da sexualidade feminina em Sio Paulo, 1890-1930 Sao Paulo Paxe Tena, 1991. 322 p ROTEIRO gay cruzaa cidade 0 Dia, Rio de Jancito, 30 jan 1991 Policia, p 16 SACK, RD Human tesa: ts theory and hixory Cambridge: New York: Cambridge University Press, 1986. 256 p (Cambridge studies in historical geography, 7) SANTOS, M Espago e método 3 ed Sio Paulo: Nobel, 1992 88 p (Colegio Espacs) SILVA, HR S$ raves: invengio do feminino Rio de Janeiro: Reume Dumaré: ISER, €1993 176 p Originalmente apresentado como disseragio de mestrado 3 Universidade Federal do Rio de Janeiro! 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Desca forma, esperamos con- cribuir para uma melhor comprecasto e divulgagio de alguns processos socioecondmicos ¢ politicos selevantes, que colocam essa regio numa posigio de destaque no contexto nacional A regio do Tiiingulo Mineio possui uma fotmnagioistérca espectfica, na qual a sociedad, com determinado modo de prodvzit ¢ com uma intense representative politic, sem se contrapor 20 processo de desenvolvimento do Pals, ctiou € preservou uma identicade socal eeconémica, que se ~* Dowrorem Geogisfis Humana de USE prosoradjanto da Uahesdade Federal de Ubedndis “= Doutorand em Geogr da USP cprofewors adjunto 4 da Universidade Federal de Ubetlindia ‘+ Douioe em Gcogrfa Humans pela USP e professor ante da Universidade Federal de Ubeelindix cencontra matedalzada cm diversas partes deseu tersté- tio, reforgada por uma intensa prétca regionals Esse regionalismo expressa as relagées pol ticas de grupos que se unem em defess de interesses politica, econdmico ¢ social espectfcos, que no raro resultaram em movimentos reivindicat6rios vinculados & sua identidade tertitorial A reivindicagio da exiagio do Estado do ‘Tiiingulo € 0 exemplo mais significativo desses mo- vvimentos de caréterregionalista aqui exstentes Os _movimentos separatistas c/ou emancipacionistas do ‘Tiiangulo Mincito existem desde meados do Século ‘XIX, e sua histéria confunde-se com a prépria expan- so da regio, ¢ seus desdobramentos, muitas veres, influcaciaram na sua conligaragio testorial, Esses movimentos, pensados por politicos « elites regions e difundidos pela is prensa, sur gem pendularmente, seja pela auséneia de lagos 3s, sociais e culturais com Minas Gerais; por projetos nacionais de subdivisio territorial do Pais; por reivindicagées de base econdmico-finan- cxira; por auto-sustentagio da regio; ou ainda por divergéncias politicas entre as liderangas de suas, principais cidades Castro (1994) lembra-nos que, apesar de 0 tema do regionalisma ser extremamente rlevante, cle ainda é pouco estudado pela comunidade académica do Pals, em fungao da herenga de um imagindrio da unidade ¢ da identidade nacionais, sendo as andlises produzidas, até entéo, centradas tno Nordeste ¢ Rio Grande do Sul Analisar criticamente 08 movimentos regionalistas do Triangulo Mineiro € 0 objetivo central desse artigo, realizando um percusso no ‘qual a reconstituiggo da formagio histérica regio- nal € condigio sine qua nom para .dimento desse process A segiéo denominada Teiingulo Minciro! cestf localizada na parte ocidental do Estado de Minas Gerais, em uma érea de aproximadamente 93 500 kim habitada por uma populace de 1 562 602 pessoas, segundo 0 Censo Demogrifico 1991, realizado pelo IBGE Grosso modo, esta regiio se limita, aleste, pela Serra da Canastra e Marcela; a ‘este, pela confiuéncia dos rios Paranaiba ¢ Gran- de; 20 sul, por Sio Paulo; e, 20 norte, por Goids, conforme pode ser observado na Figuta 1 Sua regionalizago, segundo definigio do IBGE, foi claborada para fins de planejamento estadual, sendo que os parimetros para sua divisio obedeceram, principalmente, aos fatores hidrogeé- ficas ¢ orogeiticos. De acordo com esses critéros, ela consticui a TV macrorregio homogénca do estado, sendo composta por cinco microrregises: Uberlandia (170), Alto Paranafba (171), Pontal do Teiingulo Mineiro (177), Uberaba (178) ¢ Planalto do Araxé (179), conforme a Figura 1. ‘A dea abrangida por esea macrorregi composta por 51 munieipios, sendo os mais im- porsantes Uberlindia, Uberaba, Araguari,Iruiutaba Patrocinio, Araxé, Frutal e Iturama, Situando a questao regional A renovagéo do pensamento geogréfico, levada a cabo na década de 1970, produziu uma rediseussio do conceito de regiéo, fundamentado no materialism histético e dialérico, como cam bbém nas Geogratias Humanista e Cultural. Cosréa (1994) sintetiza és conjuncos de formulagoes sobre regiso até entio desenvolvides. O primeiro deles concebe a regiio como uma resposta 208 processos capitalistas, sendo a regio entendida como a organizagio espacial dos processos sociais associados 20 modo de produgio capitalsta Teata- se da regionalizagéo que incorpora clementos do matetialismo histérico ¢ dialético, tais como: a divisio social do trabalho, o processo de acumula- Go capitalista, a reprodugdo da forga de trabalho € 0s processos politicos ¢ ideolégicas. O segundo considera a regio como foco de identificacao, uma “apropriagio simbélica de uma porgio do espago por um determinado grupo” «, assim, um elemento constituince de sua identidade. A regifo como um meio para interagées sociais €0 terceiro modo de sua conceitualizagio pés-1970 ‘Trata-se de uma visio politica da regio com base na ide de quea dominagao ¢ 0 poder constituem fatores fundamentais na diferenciagao de dreas "a macrorepito IV, denominadaTiingaloe Ako Parana, seni desigaada no tsbalho de Tidagulo Minczo 38 as Gee, Rio de faire,» 59,» 1, p 43-89, ja fn 2005, Fonte: Fundage Teonclogico de Minas Gores, Institute de Essas idéias sintetizam uma discussio ex- tremamente compleaa, a definigio de tepido que, segundo Corréa (1994), sempre foi marcada pela pluralidade conceitual e que no pode ser eliminada ‘no contexto atual da globalizacio Analisando as formulagbestebricas e priticas sobre regionalizagéo mo Brasil, Souza (1993) afirma, que 0 conccito de regio foi banalizado 20 longo do tempo, verificando-se atualmente uma valorizagio do lugar (ponto} em detrimento da regio (plano), indicando a possibilidade de facia dessa extegoria deanilise do espago, tradicionalmente utilizada nos cestudos geogrficos, ou soja, uma explosée da regio edo territério e um resgate do dager: Costa (1994, p 211) defende a idia de ‘que 0 conceito de regio deve ser renovado, incor porando as nogées de rede ¢ terrtério entendidos como expressfo de um mesmo processo Assim, segundo ele, “a regido 6 pode ser um conceito dil e consistente se associado 2 processos sociais de (e)rerritorializagio especificos, especialmente @ dinamica de formasio de regionalismos (politicos) « dades regionals; esses processos encontram-se intimamente vinculados & destertitorializacso das redes técnico-econdmicas, & qual actescentam uma dimensio identititia néo instrumental” Castro (1994, p. 160), também investigando 2 questio da regido em Geografia, mostra que, na stualidades A nogfo de planeta, enquanto morada da hhumanidade, fortaece-se a nogio de tertit6:io, en- quanto morada de uma sociedade particular Parece que oconceito de territério ampliou-se,incorporan- do a perspectiva do recorte também sécio/cultural, para substituir 0 conccito de regiio, cada ver n incémodo ¢ polissémico ” ‘A autora diz ainda que, nos slkimos tempos, as relagées supranacionais da globalizagio para os processos de integragio e cooperagio ccondimica/ politico cada ver mais defrontam-se com os poderes organizadosesustentados em nivel regional. Ao mes ‘mo tempo, constata-se a intensificagio das priticas de regionalismo, expressas pelas politias de alguns {grupos que se organizam em defesa de interesesespe- cificos,vinculados & sua identidade territorial “A base territorial para a expressio do regio- nalismo 6, necessariamente, a regio Essa se define 2 partir da sclacao do homem com scu mcio c com seus simbolos A elite se apropria desses simbolos, reclaborando-0s idcologicamente na identidade ides e valor simbélico regional, confetindo vis aos tragos singulares da sociedade local [..] O tet- ritdrio passa a ser tratado como sujeito do processo 0, substituindo e reduzindo a visibilidade histé das relagbes socials, que se diluera nos problemas territoriais” (CASTRO, 1994, p, 165) A incorporacio do regionalism nosestudos regionais parece sor um caminho enriquecedor, para que scjam superadas algumas limitages metodol6- gicas ainda existentes no tratamento dessa questo no ambito da Geografia Regionalismo, elites € movimentos emancipacionistas Na visio de Castro (1986, p 39), oregiona- lismo é um conceito eminentemente politico edeve ser entendido como a mobilizagéo de grupos poll- ticos em uma base teritoril pebpria, defendendo interesses expecificos que se confiontam com outras regides ou com o Estado. “o regionalismo constitui a expressio das relagées politicas entre as regides ou destas com © poder central, sempre que nessas relagées haja opressio politica, econémice ou cultural. Assim, a intervengio ¢ a manipulagio politicas, e a base ter ‘torial compéem as duas dimensées fundamentais, do regionalismo’ A referida autora afirma que 0s movimentos xegionalists podem ser revolucionitios eformistas ou conservadores, dependendo do grupo particular queos condua, sendo um processo bastante com- plexo por envolver tanto as forgas sociis internas a regio, como as suas vinculagdes com 0 poder central. Desta forma o regionalismo “supe identificagio e eoesio internas € competigfo externa para defesa de padtées, preser- vagio ou obtengio de condigées mais vantajosas Assim, o cardter regionalista ¢ simultaneamente intrinseco ¢ relativo” (CASTRO, 1986, p 40) 2 dns Goge, io dnc, 59. 1p 43-9 joe un 208 Costa (1988, p 26) afirma que 0 tegio- ralismo “seria tum processo de criagio ¢ sustentagio de determinados signticados sociis, relacionados semprea um dado territrio através dos quais uma fragio de classe, heyeménica ou portadora de algu- ma bandeira autonomista, procura fazer valet seus interesses- de natusera politico-ccondmica lou de Jdertidade euleural (que também nfo pode ser sepa sada de ums fundamentagio), frente aosinceresses da classe dominante em nivel do Estado-Nacio Para Brito (1986, p 44), 0 regionalisino & “antes de tudo um sentiment, um estado de espitito nascido da combinagio de foreas fsicas e humanas, ‘que dio a una comunidade, num certo quadro tt- sitosial, como que uma individualidade psicolégica em ielagio aos seus vieinhos” unio aspecto destacado por Castro (1992) refere-se& constatacio de que, com o desenvolvimen- ‘co capitalista, 0 aprofundamento das desigualdades regionals ¢ inevitive, levinds aurormaticamente a tum acirramente das presses engendradas peas elites regionals pelas benesses do desenvelvimento junto ao poder central Apesat das critcas 20 coneeito de ete desen- volvido no ambito da Ciéncia Politica e Sociologia, ‘o mesmo aptesenta-se como um instiumenco vélido no erato das questdes, envolvendo as relagées entre ‘espago e sociedade, em especial o regionalismo “A teoria das Elites nasceu e se desenvolveu pot uma especial relagao com o estudo das Elites politicas, ¢ pode set tedefinida como a teotia se- gundoaqual, em cada sociedade, o poder politico pettence sempre # um circulo 1estrito de pessoas © poder de tomar ¢ de impor decisscs validas para todos os membios do grupo, mesmo que cenha que recorrer & forga, em dltima inseincis” (BOBBIO, 1991, p 386) Dani] (1988, p 30), estudando a compo- sigdo das elites, locas, diz quer “Blas consiscem em agrupamentos socais que se representam como portadores da tradigo Local e doesclatecimento, rzzio pela qual se percebem como sesponsiveis pela conducio do municipio epelo sou farato [ .] Na medida em quesua constinuigio se d& no nivel simbélico, as eiceslocais sao compostas pot agentes sociais de ratzes heterogéneas: profissionais Tidngulo Mina, git mgoralinso liberais, membros do empresatiado local, das classes anédias assalariadas clo municipio, exe. | ] Muitas vers, integrantes do poder econdmico participam, também, das elites locais.” Essa elite local governa a cidade segundo seus interesses, através do controle politics, eco- némico, institucional, administrativo ¢ cultural. mantendo, muitas vezes, um falso consenso, 2 partir de uma intensa rede de manipulagées, que é formada por algumas familias, pelos meios de ‘comunicagio de massa, pot politicos ¢ governantes. Essa rede de controle social, nio raro, impoe uma politica de marginalizagéo, diante das forgas inte- ectuais, uma ver que sua contribuicio as inovagbes éenoume e dinamica Gecides (1994, p 80), pesquisando 0 poder ea atuagio desss elites, mostra que “o senso de ordem ¢ eficiéncia desses in- dividuos, seu desejo da convenitncia ¢ decéncia, 2 divulgagio que fazem disso em suas empresas «através daqueles que af atuam, sio fatares vitais da sua superiotidade; fatores gragas aos quais se rnotabilizow o sucesso empresatial dels sobre aquele ‘competidor mais prético” Esse giupo, compasto pot uma minoria, hhomagénea c eoesa, acaba tendo um enorme poder sobre a cidade e sua populagio ¢, sendo assim, 1e- passa is novas getagGes sua maneira de agit € pensas «, por isso mesmo, perpetuam seu poderio, sua luegemonia nas decisées politicn-econémicas. De acordo com Delle Donne (1983), 2 clite do pader ¢ composta predominantemente por teptesentantes das forgas econdmicas, que 6 excepcionalmente assumem posigées de poder politico na comunidade e se valem, na gestio do poder, de uma “subestruvuta’, constiutda pelos executores de decides “Também fz parte dessa estrutusa de poder na cidade um exércivo de jomnalistas, pequenos emptesi- politicos profsionais, que nada mais sto do que {nstrumentos para a vabilizacao, defesae operacionali- zagio das diettzestagadas por ese grupo social. © grupo dominante, em suas priticas politi- cascem suas decsdes, usa aparclhoestatal paracon- seguir alcangar objetivos que estio imbricadamente aarelados aseus proptiosinceteses, deisande de ado, esquecidas, as decisdes © necessidades coletivas 4a [Nese sentido, nenhum grupo exerce sozinho tum controle permanente sobre as decisis politias locais sua pritica ¢exercida de acordo apenas com inte- resevexpectias pontunis, Observa sent, uma maior compaticio ¢ feibilidade no exereiio de poder. Mas, ainda asim, os grupos mais organizados poliicamente ¢ influentes economicamente conseguem expandir ¢ rescera cidade, segundo seas interes, apesa de ‘mesma ter uma exrutura complesae diversificada, A regiao do Triangulo Mineiro e a sua insercao na divisao inter-regional do trabalho cariter regionalista do Tilingulo Minciro pode muito bem se enquadrar nas concepgBes apresen- tadas anteriormente, uma vez que o discurso« pritica de suas elites indicam, historicamente,aconstrucio da regio nessasbases Assim sendo, apresentaremos uma breve evolugio dessas tlagdes 20 longo do tempo Os primeiros nuicleos urbanos doTriangulo A regio do Titingulo Mincivo tem sa histéxia ligada is bandeiraspaulistas que,a patirdo Séeulo XVI, comaram ese terttétio & procura de metais e pedras preciosa ¢,secundariamente,&caprura de indios Toda essa dra (e também Goidse Mato Grosso) fziaparteda Capitania Geral de So Paulo? A partir dom bandeirance, @ regio integrou-se a0 cenétio nacional como fornecedora de metas preciosos¢ ponto de apoio 206 nicleos mineraSrios do Cento-Oeste No’ ‘io préxima a nascente do rio das Abelhas (atual tio iingulo Mineiro, teve éxito a minera- ‘Araguari), onde surgiu 0 povoado do Rio das Abe~ thas, ¢ que tomnouse responsivel pela aglomeragéo de aventureras, ransformando-se em caminho obti gat6rio na ligagéo do Sudeste com © Centro-Oeste. fm meados do Século XVIII, foi criado o julgado de Nossa Senhora do Desterto das Cachociras do Rio das Velhas do Desemboque. Nessejulgado 0 forescimento do povoado do Rio das Abelhas, com aproximadamente 1 000 habitances, dew origem ao Arsaial de Desemboque?. # Quando Minas Grass tornou caitaia independent em 1720, 0 Tiinguo continuou pstencendo a Sio Palo O auge da exploragzo mineral, nas proximi- dades do julgado de Desemboque, ocorren entre os anos de 1740 ¢ 1789, quando o esgotamento das javidas deu inicio a decadéncia do primeito micleo urbano da regio ‘Coma decadéncia de Desemboque, aatividade rural foi incrementada, espalhando-se por novas Areas Devido auséncia de outro micleo urbano, as Familias aque deixaram a cidade ditigiram-se, natutalmeote, pas conde se encontravam incipientes bases produtivas Assim, através da pecudtia, ocorreu a consolidagao das ‘paz6quias de Sao Domingos do Araxi (1791) e Nossa Senhora do Patrocinio do Salitre (1800). Por serem ‘reas propicias ao desenvolvimento do rebanho bovine, ‘ocorreua fixagio do elemento social ligado aosimpul- 08 do mercado, propiciando o seu dinamismo A pardéquia do Araxd foi a primeira benefi- ‘Gada com 2 decadéncia de Desemboque, 0 gue lhe ppermitiu ser clevada a condigio de ulgado do Araxé em 1811, ¢ 0 Tiiangulo Mincito ficou, assim, divi- ido em dois julgados: 0 julgado de Desemboque, na porgio oeste eem franca decadéncia; ¢, na parte leste,o julgado de Araxé, onde a pecudria ganhava forca, destacando-se a a formagio do niicleo urbano de Araxi, mais tarde centro de domindncia politica ¢ mercantil no Triéngulo Mineiro (Figura 2) Figura 2 - Julgados do Desemboque Coit jc nepat® [Cupitanic \Chmucgte de. a x ph einag Gerais SON YE | oo | Pogude do%s y y "Seles dos julgados Fone lps de deserboquee Arat In: Brando, A. Ting capial comercial, ca caprinsria 1989 p 24 Disenaco (Mesrado cn Leonora) ~Cenno de iments « Panamera Refiond, Univesidade Fadel de Minas Geni Belo Horizon, 1989 Adapagio Hscala 15.000 000, 744, surge 0 Tsado de Goits eo Tingulo ¢colocaco sob su juretigfo Somenreem I816, qe ese tenitdrio pass a percencer Minas Gets *Apss 1862, Desemboque tornou-se dni da aul cidade de Sseramento 42 2 bras Geog, ia de Joni, 58,» 1p 3-69, jan fon 2005, E imporante resalar que a dominéncia de Araxi se deu em meio 2 um aaaio e, mesmo com tama frdgil condigio mbana, sobresaia-se enquanto «picentto do Tiiangalo Mineiro. O dominio de Araxi ‘bascou-se muivo maisem Forgas rurais, com a figura do coronel da pecustia extensva, do que especificamence cm forgas urbanas Portanto, css nicl estava suber dlinado basicamence & estutura produtiva rural, com pequeno desenvolvimento do capital comercial Devido a ast rncleo de Araxi nao conseguit se consolidar econo piente esrutura urban, 0 micamente na regio Iso se dew, basicammente, por rds ftores a atragao da populagio de Araxt para © rieleo diamantifero de Bagagen (atval Kstels do Sul), no que ficou demonstrada a fragilidade econd- mica da eserutura utbana araxzense; as hetas polircas «em Araxi devido & revolngio de 1842, que colocou fientea frente liberis ¢ copservadorss; ¢ por fim a emengéncia comercial de Ubereba a partir de 1808 Aemergéncia comercial de Uberaba Com a decadéncia de Desetmbogue e com 0 processo de ocupagio através da auto-subsisténcia agropecuatia formou-se, 2 partir de 1808, 0 araial da Capelinha, mais tarde wansformade no Muni- cfpio de Uberaba A ascensio urbana de Uberaba se deu pela cexplotacio da rota fluvial, nas primeitas décadas do Séeulo XIX, que ligava parte do percusso encre os portos paulistas « 0 Rio Grande nas proximidades ‘de Uberaba Esta situagio Ihe peimisiu a conquista de prvilégios comercsis com relaeao aus demais niicleos agropecudtios Na verdade, esta roca fluvial constituiu-se como uma alternativa cconomicamente mais viavel em telagio aos dois caminhos i existentes de ligagio com 0 Centro-Oest: 0 primero, denominado de camino cde Goid, nada mais era do que a rota do bandeirante Anangiera, que, partindo dolivral pauls, passva pela cidades de Sto Paulo, Jundiat, Campinas, Mogi- Mirim, Franca, até chegar a0 Porto da Espinha, nas proximidades de Conquista, onde percortiao testo do Tridngulo Minciroaté Goits © segundo, conhecida como a rota saléneina, partia do litoral carioca, passava pelo sul de Minas, Arxé, Patrocinio, seguia em ditogio a Goids e Mato Grosso iad Minera, regio reionaliona Op ‘caminho favorecia comercial- mente a cidade de Franca, ainda no Estado de Séo Paulo, que se desenvolveu como entreposto de disttibuigao do sal. © segundo beneficiava Araxi, 4quese tornou o principal ponwo de ligacio da regio com a corte brasileira Entretanto, a emergéncia comercial de Ube- aba € a prova de que uma rota salineira fluvial que chegava a0 porto de Sio Bartolome, no rio Mog, descia pelo tin Pardo e atingiao rio Grande conseguiu definir um impotcante canal de mercantliagio para 6 incerior triangulino Deste forms, Uberaba pasion 8 ‘analizara deranda de mercadorias de grande paredo interior do Pas, sobrepondo-se a Franea e Araxi Neste momento, éimportante observar que as potencialidades iniciais de desenvolvimento de Ube- sabanio sio explicadas peas condigées interns, mas sim por uma condigio externa, ou sea, 0 coméscio do sal, com entroncamento em Uberaba, pois este «ra o produto bisico essencial para dat continuidade a0 processo de urbanizasio do intetior: primeiro, pelo baixo descavolvimento das selagdcs capitalitas de produto (devido & nao-obsigatoriedade de se produzit mercadorias); ¢, segundo, pelas dficuldades de se colocar, 2 pregos compettivos, outro produto, além do gado bovino, no mercado de liroral Portanto as alteragdes nas condigbes externas incerfertam, dizetamente, no proceso de desenvolvi ‘mento uberabense Foi assim, por um lado, coma tise dadécada de 1850, provocada pelo dexeawolvimiento da porgio oeste da regio, quea cidade de Frutal emergix ‘como entreposto deligasio com Goidsea Regiio Not te Por outro lado, 0 algodio toxnou-se, logo depois, ‘outro importante produto agricole, pois estimulou novamente 0 setot comercial urbano de Ubetaba De tuna certa maneia,o algoddo exereeu um importance papel econdmico no lingalo Minciocomo um ro, dacio que desde a década de 1860, em 1aza0 de Guerra de Secessio nas Estados Unidos, havia uma grande demands internacional por esse produto Somando-se a0 impulso algodoeiro, Guerra do Paraguai (1865-1870) contribein aren tuadamente para o reerguimento das atividades comer is de Uberaba, principalmente, por essa ter sido transformada em ponto de passagem ¢ de abastecimento das cropas que se destinavam & invasdo do Paraguai Esses impulsos propos cionaram 4 Uberaba uma acentuada atratividade a para a inverséo de capitais, e com isso a atragio de iniimeras familias ries, procedentes do abandono da mineragio de diamantes de Bagagem, Paralelamentea esses acontecimentes, a eco- rnomia cafecira entrava em sua fase de assalariamento capitalista, formando um expressive mereado interno ce criando fortes expectativas mercants para.sregides petiféricas Nesse contexto, Uberaba colocavacse como a cidade triangulina melhor aparclhada para reacher o progresso ciniciara sua fase moderna, inte- grada 20 eentro econdmico nacional: Séo Paulo. Acchegada da ferrovia A ferrovia chegou ao Tringulo através da ‘Companhia Mogiana de Estradas de Ferro na década de 1880 © café era uma atividade capaz de gerar capitais ¢ consteuir ferrovias, tendo em vista a ex pansio dos caferais Entretanto, a garanta nical dos trilhos para o interior foi dada pelo governo, através a rentabilidade minima de 7% sobre o capital apie cado, Dessa forma, a penetragio das fetrovias pelo interior nao se dava propriamente pela necessidade deescoamento da produgio, mas por dois motives: a garantia de rentabilidade ea conquista de mercados potenciais de demanda e produgio. (Figura 3) A ferrovia penctrou pelo tetritério tiangu- lino através da Estagio de Jaguars, aprovcitando a ponte jd existente desde 1850, tendo sido feitas apenas algumas adapragées Em 1889 inauguravam- se as Esagées de Sacramento, de Conquista ¢ de Uheraba, ¢, em 1890, o govern concede a Com- panhia Mogiana o dircito de prolongamento até a cidade de Cataldo, em Goids Estava implanrada a ferrovia no Tiiéngulo Minciro, ligando-o ao centro dinamico da economia brasileira, ¢redefinindo o seu papel na divisio inter-regional do trabalho A chegada dos trlhos até Uberaba signifi- cou o estabelecimento dos caminhos econdmicos ‘modernos. Superou a rota fluvial ¢ consolidou 0 seu dominio sobre todo 0 territério do Triingulo “Mineiro, Mato Grosso e Gots. Contudo, o apogeu uberabense conheces o declinio quando a ferrovia, passando por Uberabinha (atual Uberlindia), atin- iu Araguari no final de 1896. Este fico implicon.a ‘mudanga de entreposto das mercadorias destinadas 4 Gois € ao resto do Centro-Oeste, de Uberaba para Araguari 4 Figura 3 - Esquema das linhas ferrovidrias, (Sao Paulo, Minas Gerais e Goiés} 1 J Goids =) Goinnia Sdo Paulo (Compania Mogians de Estrada de ero AragunrSt0 Paulo Enea de frr Goits(AragoarGoina) Digitliado por Zac Bueno 1 Companhia Mogi Earadsce Rr, Tinka Feros Ari! So Paul; Enrads de Fero Goi, inka Ferovirta Args'GoBinia Mais uma vez, Uberaba encontrava-se val nerdvel as determinagées da economia brasileira Embora sta cidade tenba consttuido grandes redes de troca em sua drea de influéncia, foi obrigada 2 dividir o dominio do Brasil Central com Araguari, que despontou no Triangulo Mineiro em 1897, como mais um entroncamento polarizador O alongamento dos trlhes da Mogiana até a Estagio de Araguari ocorreu devido a dois fatores: primeiro, & garantia governamental de 79 de juros sobre o capita investido; ¢ segundo, pelas expecta tivas faturas, ou soja, a expansio ferroviésia, como fendmeno mundial, que significava uma possbili- dade efetiva de concretizagio na pesiferia Exes fatos dio’ margem a um questiona- mento da agéo do Estado e da expansio da rede ferroviéria no Brasil. No caso do Teitngulo Mineiro, apenas a garantia dos juros sobre o capital no se apresentava como condigao satisfatéria Na verdade, a viabilidade econ6mica do empreendimento era bastante questionével Este ramal era R hos Geog, Rio de Janie, 59,» 1,» 43-69, jan fan 208 “(_} subvencionado pelo governo, e por longos anos funcionou sob essa garantia em face do ‘wifego defictério quemantinh:”,e que “a penctracSo do ramal dla Alta Mogiana (Ribeitdo-Araguari) pelos sertGes do Tridngulo, seria uma aventura, de vez.que as zonas eram despovoadas ¢ pouco produiam para gatantirem lucto compensador ’ Companhia” (TEL XEIRA, 1947, apud GUIMARAES, 1990, p 31) ‘Um outro fitor que juificaria as expectativas quanto ao metcido fare do Cento- Ocsteeraa discassio «momo datransféncia di Capital Federal para contro lo Pals (fato este confimacho pela Constituigéo de 1891), favorecendo, asim, osineeses da Companhia Mogiana alga de Sto Paulo com o Planalto Cental Transportes e comunicagées: um novo perfil para oTriangulo Mineiro A presenga de uma tee de transporte ecomu- nicagbes madera no terriéro tiangulino modificon substancialmente as expectaivas de aproveicamento das porencilidades da regido central do Bras, Esta vasta drea viu-se diznte da possibilidade de produgio ‘de mercadorias para 0s mercados do litoral, em trocadda igri de proiuros manufaturados, Dest forma, ‘Uheraba, Araguate, posteroemene, Ubeekindla pos ionaram-se diante do progress, engendrado pelo ca, habilitadas a cumpritem o pap significative que hes caberia na nova fase do capitalismo brasileiro Para Uberaba, a ferrovia, er um primeiro momento, veio consolidar o seu cariter de centro comercial hegeménico da regio, facilitando a liga- io do sertio da produsio extensiva com o litoral do assalariamento capitalist, [A primeira derrota da economia uberahense, contudo, foi a perda da fungéo de entreposto comer- ial com o sudeste de Goids para Araguari, como jf salientamos ‘Lal fto irmpés limites 20 dominio de Uberaba na regio. Depois, a partit de 1900, 0s confitos ocorridos em Mato Grosso se colocaram como uma barrcira a0 desempenho do comércio uberabense naquele estado A perda do dominio co- mercial sobre Mato Grosso conererizou-se, em 1911, coma implantasio da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que passou a ligardirctamente Sao Paulo a ‘Campo Grande, desviando da rota uberabense todas 4s transagdes comerciais referentes dquele eixo ‘Mais uma vez, estava demonstrada 2 vul- nerabilidade de Uberaba ¢ da regio, diame das Tino Minera, ride eeionalisns articulagbes politicas ¢ econémicas externas, uma ver que esta ferrovia, projetada inicialmente para ligar Uberaba a Coxim, em Mato Grosso, teve 0 seu tragado alterado para o Estado de Séo Paulo (GUIMARAES, 1990, p. 34) Porfimn, Uberaba perc, sambém, 0 dominio do pontal enorte do Triéngulo Mineiro para Ubecabinha « para Barretos, no Estado de Sio Paulo. Esta cidade passou ase ponto terminal deestradadefetroeransfor- ‘mouse em um grande centro de wansigéescomerciais o mai centro pecuétio do Brasil Central Todo esse desenvolvimento de Barretos inaugurou uma nova rota comercial entre So Paulo € o Centro-Oeste, pasando obrigatoriamente por Frual, no pontal do Tiingulo,« poraf oslo cafe, principalmence, © gado, Dessa forma, Uberaba foi a cidade mais prejudicada na redefinigao das caminhos econdmi- cos do Centro-Oeste, 0 que ocorreu desde o final do Séeulo XIX Por isso mesmo, viu-se Forgada a voltar suas atvidades para o setor pastorl, através da ctiagio do gado zebu Incrodurida em Uberaba aindz no Século XIX, essa raga, pelo investimento e especializagso de seus produtores, encontrou um meio bastance favorivel a0 seu desenvolvimento, tendo atingido uum desempenho notével a partir de 1910 Uberaba pecdleu sua fiangio de polavizadora do comércio regional, mas continuou como uma das principais éreas econdmicas do Triangulo Mineiro ‘gragas 20 gado zebu, e como o principal centro po- litico local por um periodo considerivel gragas aos coronéis do zebu Porm, partir de 1910, reveinicio sua debilidade econdrmiea enguanto niicleo urbano, devido is frgeisrelagbes deste com o setor rural © niicleo urbane de Araguari, que surgiu com a pecuiria extensiva ¢ com a mineragio, depa- rou-se com. possibilidadedo crescimento mercantil no final do Século XIX, devido & sua ligagto fecro- vidvia com a economia cafecica -Além de assumir pare das funges de entepos- to, desviados de Uberaba, Araguari porter se tornado ponto terminal deestada de fero, apareceu como um importante centto de apropriagio do exoedente reyior nal auravés do desenvolvimento do capital comercial Coma conserugio da Estrada ce Ferto Gots, ‘Araguati comegou a perder a hegemonia de cidade~ pélo, chegando sue economia a ficar completamente detsriorada, em 1935, quando ostilhos dessa ferrovia 5 ‘que partiam da prépria cidade de Araguat atingiram ‘Andpolis,apés atravessar todo o sul de Goiés Coma perda da intermediagio da economia paulistacom osudeste goiano, restowa Araguati uma A sede do THingulo Mino sempre cumprit,c car bastante Ext, 3 wa fungéa de enteposto comercial de Sto Paulo com 0 Censro-Oene 48 2 bras Geogr, Ride Joni, « 59,» 1, p 43-69, jam jn 208 Na verdade, essa fase histérica acabou por representar a grande oportunidade que teve 4 burguesia regional pata inserir ¢ consolidar 0 Thisngulo como espaso privilegiado na érbita de Brasflia, aprovcitando todas as oportunidades abertas com a consttugio da capital federal Com a atuacio das liderancas regionais, antigns reivin- dicagdes triangulinas pudcram sor atendidas No «aso dos transportes (inadequados diante da nova situagio de mercantilizagio que se colocava), © Plano de Metas’ do governo JK, em um de seus ponwos bisicos, © rodoviasismo/automobilismo, apresentou-se apropriado e fundamental para uma. regido com fortes interesses comerciais com uma “prvilegiada localizagio geogeifica? Desta forma, das grandes redes troncais, a principal (BR-050: Sa0 Paulo-Brasla) passoupassa pelo Trngulo Mincizo. Também foram consteuidas 4s ligagées: Uberaba-Belo Hosizonte-Vitérie, de grande imporcancia na integragio da regio a capital do estado; a BR-365 ligando Montes Clanos-Uber- lndiz-Canal de Sio Simo; ¢ 2 BR-452 ligando Ubetlindia-Araxé. Estava, portanto, esa regio com 2 infia-estrutura que he datia uma fungSo privile sgiada na reestruturagio da divisio inter-regional do trabalho a partir da consolidagio do capitalismo monopolista no Brasil. Com o golpe militar de 1964, o Tiiingulo ‘Mineito ceve reforsada a sua posigio em relagao is formas superiores de capital instalado no Brasil As liderangas que emergitam do golpe implementaram ‘uma politica que favorecea o avango da homogenet- zagio do espaco para o giande capital Tal politica ampliou a dre produtiva, a0 mesmo tempo que aliviou as dreas mais povoadas das tensées sociais, ‘empurrando-as pata as fiontcitas Esta estcarégia ttcitorial foi sustencadla pelas idéias yeopoliticas dos militates, que vitam na regio Central do Brasil um “eentro energético vital”que precisava ser controlado, ‘Assim, amplamente apoiado pela burgussia ‘wianguling, © Estado mili, atuou no sentido de transforma essa tegido cm um verdadciro “posto avangado” do capital, no qual os interesses expan- sionistas deveriam estabelecer 0 dominio sobre as liderangas politica locas* A partir do final da década de 1960, 0 “Triangulo Minciio ganha maior expressio politica, em niveis estadual ¢ nacional, projetando vétios politicos representantes dosinteresses da reprodugio do capital mercantil local’ Na déeada de 1970, a eonjuntura capicalista passa a cxigir uma reordenago da politica econ6- ‘mica governamental apés 0 “choque do petréleo", €.0 “milagre brasileiro” Nesse momento, cabe 0 Estado a responsabilidade da execugio dz politica econdmica nacional, acendendo 20s interesses con- jugados da indiistriae da agricultura ‘esse sentido, a reghio do Tidngulo Mineiro € inserida no T Plano Nacional de Desenvolvimento = PND (1972-1974) e no II PND (1975-1979), pas: sando a usufruit dos mecanismos de implementagio cad pelo gover Dentre cles, os programas para 2 ocupagio intensiva dos cerrados atingiiam grande éxito, tendo provocado um surto de modemizagio agr- colaem uma drea que era destinada A cringéo extensva cdo gado, e que passou a ser produtora de gros No sctor industrial, a dintmica vegionel e2- rminhouw no sentido da agtoindustralizaci, sendo que, mais ocentemente, ess atividade €comandada por grandes complexos incentivados pelo capital forineo. Assim, 0 Thidngulo Mineiro \corporou definitivamemte o seu papel de polo atmazenados, processador redistribuidor de produtos agroindus- triais, principalmente de grios ccarnes, oxiundosdo Centro-Oeste e Norte do Pais Porranto, acravés de uma andlise do pro- c2ss0 histérico de constituigéo das escruturas nguli s, potlemos compreender 0 papel fondamental que esta regiSe septesema no contexte do desenvolvimento social, politico ¢ ccondmico brasileiro O Triingulo Mineito, que se desenvolveu originatiamente como um. “Sponto de passagem obrigatério” entre Sao Paulo co interior do Pals, chega 20 final do Séenlo XX coma espago estratégico dos interesses maiotes das capitais nacional ¢ internacional “Dara desaépoea a uaagio de grande contingente mila na reo, ea aberua de fculdades em Ubelndia ? Rondon Pacheco, por exezplo fi chef a Casa Cin o govern do Geneal Cote Siva lide dz ARENA e Gove: de Minas Gorse de 1971 41975 ingule Mines sei ponaline 9 Emancipagao do triangulo: a expressao do regionalismo Emancipagao: um sonho antigo Ahistéria da expansio do Triangulo Mineiro 6 na economia nacional confunde-se com a histéria dos movimentos emancipacionistas, idealizados pelas elites triangulinas, desde o século passado, quando comegaram a clamar por sua eman- cipagio, devendo-se ressaltar que a referida regiso nem sempre fez parte do Estado de Minas Gerais, pois até 1748 cra ancxada a Sio Paulos entre 1748 a 1816 Golds esomente a partir dat passou a percncer 4 Minas Gerais Desse modo, suas relagées socsis, cecondmicas ¢ culturais foram, historicamente, muito ‘mais intensificadas com So Paulo ¢ Goiés do que propriamente com Minas Gerais, ¢, assim sendo, ss idéias de emancipagao vém de longo tempo Em 1837, um fazendeito de Araxd Se For- tunado Borelho idealizou transformar 0 Triéngulo Mincito em uma reptblica independente Mais tar de, em 1875, um francés chamado Henrique Des Genettes comesou, em Uberaba, um movimento separatista do Tiiangulo para anexé-lo a Sio Paulo Do mesmo modo, o St. Augusto César Fecrcira ¢ Souza, deputado provincial que conscguiu eman- cipar So Pedro de Uberabinha em 1888," acres centou no projeto idéias de emancipagio, pois, historicamente, nada existe de Minas aqui, porque rnosiasratzes vém de Sto Paula e de Goids que foram ‘portas abertas para todo o relacionamento comercial, cultural, tradicional com o Tridngulo (TEIXEIRA, 1970, p 83). O deputado provincial recebeu na- quele perfodo mais de 3 000 cartas de adesio & sua proposta de emancipasio. Souza (1991) nos lembra que os primciros movimentos separatists ocosreram por volta de 1857 € 1875, ¢ foram conttolades por alguns coroncis da pecustia; 0 movimento de 1875 foi um levante politico, iniciado na cidade do Pzata, que tinha como objetivo anexar 0 Tiingulo& Provincia de Sio Paulo, cou mesmo constitur uma replica independente Essas manifestagies foram desencadeadas tendo em vista que as relagées com Minas Gerais exam frgeis, acrescidas ainda de outros ftores, ais como 2 distancia da capital Ouro Preto, os altos im- postos cobrados pelo governo estadual, hem como as relages comerciais que erem feitas diretamente com o porto de Santos No final do Século _mento emancipacionista toma forga com a elabora- em 1890, 0 movie io da Carta Constitucionsl da Repiblica, quando {i proposta ao Congresso Consttuinte uma redivi so territorial das antigas provincias, com o objetivo de adminiseri-las com mais efciéncia, a parti de uma melhor organizagdo territorial dos estados. Na teferida proposta, o Triéngulo Mineiro, sul de Golds « sudocste de Mato Grosso formariam o Estado de Paranayba,cuja capital seria Uberaba, Gomide (1993, p.37) em seus estudos sobre a questio diz que, na repido do Tréingulo Mineiro, sul de Goidse no sudoeste de Mato Grosso, comegou ‘uma movimentagio das liderangas locais em favor dda criagio do Estado do Paranayba, cuja capital seria a cidade de Uberaba. O novo estado se constitu a partie da agregacio dos municlpios do Triangulo Mineiro e Alw Paranaiba, como também de alguns rmunicfpios goianos - Ipameri, Catalio - © mato- és Lagoas Entretanto, a constituigio do Estado do grossenses, como Campo Grande Paranayba no ocorreu, visto que o governo federal deci priorizar questées mais importantes naquele momento. Segundo a imprensa escrts, houve, in- clusive, um “reeuo” das liderangas rgionais, embora ‘io tenha havido nenhum confronto polttco com as decisées governamentais. Somentea cidade de Ubers bateve gushos mais significatvos, nese embate, pois conquistou para sia criacéo de seu Bispado. Mesmo assim, em 1906, um outro movi- ‘mento cmancipacionista foi organizadoe deflagrado porque, segundo seus lideres, a regiso era margina lizada pelo governo estadual, pois néo tinham sido ainda construidas as ligagés cestadual ea regido E mais, em Uberaha, 0 govern vidvias enue a capital cstadual retirou o Instituto de Zootecnia ceansferiu 6 Batalhio de Policia para Belo Horizonte, 0 que revoltou seus moradores Diante desse quadto, foi ctiado © Clube Separatista, em 1906, que lutava pela scparagio do Teangulo, nfo para anexi-lo.a So Paulo, mas para formar um estado independent * bern foi denominada Seo Pedro de Ubesabnhs aé 19 de outubro de 1929 50 2 bras Geng, Rio de Jancia 1 59, 1,p 43-69, jan Sun 2005 “O resultado aleangado beneficiow mais diretamente Ubetaba, dotando-a_com as me- Thotes condigses educacionais da regido, além de cepresentagio na Camara Federal, eriagio de agéncia bancdtia © do retorno do Batalhao de Policia do Estado Ainda como beneficio, © go- vyerno autorizou a construgio do ramal ferrovidrio Araxi-Ubetaba, projeto que propunba também 0 prolongamento desse ramal até o Rio Paranalba Un outro ral, inchuido no projeto, deveria partir cdo ponto mais conveniente da linha Uberaba-Rio Paranatba indo até Mortiahos no Estado de Goids’ {GOMIDE, 1993, p. 38). A partir desse perfodo, fortaleceu-se a idéia da emancipagio do Triangulo Minciro, ¢ até mesmo foi ctiado um jomal denominado O Paranayba, em 1914, com objesivos explicitos de oxganizar o mo- vimento ¢ divulgélo & populagéo, principalmente para que a mesma incorporasse a proposta Em 1919, em Uberaba, foi ctitde outto jornal semanal ddenominado A Separacao,tamisém com objetivo de defender e divalgar coligarquias segionais Alin destes, os outros jornais, tais como O Tridngilo co Correio Casilico também dofendiam a emancipagio ¢ sempre divulgivam-na ais emancipacionisas das «cm sous priédicos Hi que ser ressltado que, em 1919, a nto ine sergio da cidade Araguasino movimento, uma vez «quea mesma eraa principal interlocutor do govern estadual das cidades do lete do Tilangulo, e, «endo, suas teivindicagdes poderiam ser prejudicadas se panticipasse efeivamente daquele levante, Aidéia da separagiolemancipasio, a parti de movimentos reivindicatérios, indiretamente fortalecia politicamente o Triingulo, & medida que cram sempre retomades os investimentoy © obras pablicas Desse modo, a constante “ameaga’ de separacdo serviu sempre pata atrair beneficios para «a regio, pois, nesses momentos, as elites unificavam= se para combatero isolamenta politico da tgito no contexto minciro Durante todo 0 Século XX, o ideal de eman- cipagio permanecet vivo, poisasliderangas regionals reforgaram sua posigio diante dos obsidculos que surgiam, primordialmente, naqueles momentos em {que surgiam os empecilhos para a incegrasso com 0 Estado de Minas Gerais , principalmente, quando Titulo Minciv. rio eregiouline info cram atendidas as reivindicagBes ¢ reclamagdes da populagio De acordo com Gomide (1993, p 38), nesse perfodo as ideas de emancipacio pre- valeciam, visto que “o parimetro usado para argue mentagio favorével & emancipagio era o‘progiesso" aleangado pelos Estados Unidos da América” Aorganiaagio das cites em torno da eman- ipagio chegou a preocupar, em 1930, 0 presidente ‘Washingron Luis, pois o mesmo tentou convencer scus ministros 2 criar © Estado do Teiingulo, com a capital em Uberaba (Estado do Tiiingulo, 1988) Em meidos dos anos de 1930, mais uma ‘vex, em decorréncia da nio importincia dada pelo soverno estadual 3 regiao, principalmente quanto ‘construgio de obras piblicase instalagao de infrares- ‘teutura urbana, ressurgeo movimento reivindicaté- sio em Uberaba, repercurtindo posteriormente para Uberléndia, Sacramento ¢ Araxd, com o objetivo de ‘obter recursos paraa melhoria de infra-estrutura das sespeetivas cidades As conquistas conseguidas com o governo «stadual nesse periodo foram: aimplantacio de redes de cleticidade e sancamento bisico em Uberaba; 2 construgio do cassino/hotel Grands Hotel Barciro, em Araxi a construsso da Rodoviz Belo Horizonte Araxé/Uberaba; © a construgéo da ponte sobre © Canal de Sio Simo, em patceria com Golds “Todavia, o movimento separatista foi eavi- vado, em 1948, pela Cimara Municipal de Uberaba, tendo o Jornal de Uberaba como sex principal veleulo de divulgacio, que resakavaaauséncia de uma unidade polttica regional em torne do objetivo daemancipagio, pois esa etapa refletia a situagio politica do Pais O mesmo teve dois pressupostos noves aparecimemto de ‘duas contentes, uma pré-emancipago e outra contra ‘0 movimento separatsia, reptesentadas pelos alados do governo (Uberlindia) e oposivores (Uberaba); ¢ incorporacio em tomo da. movimento de discusses politico-partidarias, pois, axé entio, © mesmo tinha como objetivo a formagio de uma giande frente polftica suprapartidéria Iso ocomreu tendo em visa 0 apoio das liderangas comunistas da regio ‘Acitra-seentio a sivalidade entre Ubertindia Uberaba, uma vez que a thtima comega a perder 4 hegemonia tegional para a primeira, pois © go- verno mineira repassa novas investimentos diretas, primordialmente, para Uberlindia. Sr Segundo a pesquisa de Gomiide(1993, p 38) as duas correntes antagonicas “ocotreram porque os autonomistas conse- guiram um sensfvel éxito ao projetarem o Triingulo no cendrio nacional, tanto pela idéia separatsta quanto pela riqueza econdmica, ¢ pela sua posigio politica estratégica, sempre enfatizada pela oligar- quia regional” © governo federal, diante da posisao gcogrifica da regiéo, condigdes econémicas, riquezas naturais, da possibilidade de a Capital Federal vir a ser instalada no Teiangulo Mineiro e do ideal de emancipacio, fez dese regiéo uma rea de inceresse nacional e ponto de integragzo geopolitica Mais uma vez.o movimento separatsta foi rciniciaclo em 1951, mas de uma forma diferen- ciada dos anteriores, com algumas especificidades bem mais sistematizado Os Iideres se apoiaram na Constituigio Federal de 1946, que apresentava possibilidades de autonomia administrativa das regi6es ¢, sendo assim, apregoavam o seu potencial geoccondmico, bem como reafirmavam os velhos argumentos teativos ao descaso do governo estadual com a regiio, Dessa feta, 2 questio foi debatida nna Assembléia Legislativa de Minas Gerais, com deputados da rogito a favor (Mario Palmério) « contra (Vasconcelos Costa) a divisio do estado ‘Ao mesmo tempo, foram criados e orga- niizados em vévias cidades do Triangulo Comités Pré-emancipagio. Nesse petiodo, a populagio foi, pela primeira vez, consultada sobre 2 questio da cemancipagdo, através de uma pesquisa de opiniéo piiblica, nos principais jornais da regio Entre- tanto, por razées de realizagio de inves pelo governo estadual na regiao, pela posibilidade de transferéncia da Capital Federal para o Centro~ Oeste. pela expressiva oposicio de politicos com bastante influéncia em niveis estadual e federal, © movimento foi se retraindo © perdendo gra- dativamente espago na imprensa Desse modo, as liderangas tiveram consciéocia de que esta era hovamente uma questo jé vencida 7 Na primi pi A reativacao do ideal emancipacionista a partir dos anos de 1960 Durante mais de 15 anos, o ideal de eman- cipagio ficou artefecido, pois somente em meados dos anos de 1960, com a ditadura Militar, fo reativado, tendo em vista @ projeto do deputado Coronel Floriano Rubin, que previa uma redivisio territorial do Brasil, ¢ que estava em consonancia ‘com os objetivos de reforma politica e administra- tiva do governo Costa e Silva, que preconizava 0 ddesmembramento de grandes estados, com vistas na Seguranga Nacional esse periodo, as clases produtoras regionats, representadas pelos componentes ¢ direrores das associagoes comercial, industrial e agropecuitia, rnum semindrio denominado Encontro das Classes Produotas, em Araxi, reativaram 0 deal emancipa- cionisa, pois dali saiu um documento denominado Carta de Araxi, onde foi langada oficialmente mais ‘uma campanha pré-emancipagio do Tiiangulo. “Osargumentos que respaldaram a campanha cram scmahantesaos anteriores Baseavamsena idéia da viabilidade gcoeconémica da regio, assim como na pressio exercida pela politica tributéria estadual, que sacrificava 0 Tingulo em fungao de outras regioes do estado” (GOMIDE, 1993, p. 40} Em outubro de 1967, foi constitufde a Unio para o Desenvolvimento ¢ Emancipagio do Thiangulo - UDET, érgio formado pelas elites regionais constituidas por produtores industriais ¢ rurais ¢ empresitios e comerciantes que concla- maram 0s politicos e 2 populagfo para assumir 0 movimento, Foi elaborado um documento deno- minado Proclamaséo av povo do Tritmgulo sobre a formagio de um nove Estado O estatuto da UDET foi votado no encon- tro de Araxé, onde também foram escolhidos os membros do Conselho de Representantes, cujo pre- sidente escolhido foi o St. Ronan Tito de Almeida, presidente da Associagio Comercial ¢ Industrial de Uberlindia - ACIUB®, do jomnal O Repértereram publicadesdaviamente os reulados da pesguise 0 Se Ronan Tico de Almeida a partir dt cornau-se Gepurdo foderd, dfendendo« bandera separatist do Titigulo,e mais tarde foi senador de replica pelo Etado de Minas Geri candidat wo gorerno tinct 52 bes Gene, Ride fence, 59, m bp 43-5 jan fam 205 Assim sistematizada, 2 UDET organizou a ‘ampanha pré-emancipacio, com a divulgagio pela imprensaescrta, que mais uma ver criow um jornal - Jornal do Titgulo-apenas paca divalgacio do mos ‘mento e,essencialmente, pan conelamara populagao tviangulina para a necesidade da autonomia (Os integrantes da UDET langaram a cam pana em fungio de um disposiivo da Consttuigio (depois houve a Constituigio Federal de 1969}, que permitiu a notmatizaco de uma Lei Complementar paraactiagio deestadoseteitérios “Pariss, saimos campo, buscando motivar 3 populasio do Trngu~ lo, porque uma Lei Complementar apresentada 20 ‘Congresso Nacional exigiaa realzacso de um plebis- Cito na regio para apuraso dessjo da populagio em seemancipar” (depoimento do Sr Hugo Redtigues da Cunha, Jornal da UDET, p 7, jul 987) ‘Mais uma vez, houve resisténcia, pois prefei- tose vereadores de 18 cidades da regio colocaram-se contrérios 3 causa, mas, de outro lado, as teivindica- goes das elites foram de novo atendidas Souza (1991) afirma que alguns fatores dese simlaraz a com fe do movimento na medida cem que as lasses envolvidasno movimento eram aten~ dlidasem suas reivindicagdes de hase econémico-finan- czia, ocasionando o esvaziamento da campanhs, com oslideres se voltando para outzas questoes pollicas A ambigiiidade do movimento residiu na partcipagio artificial da populagio, conelamada, na verdade, para atender a interesses da classe dominante Mais de 20 anos apés a vltima centativa de cemancipagio do Tiiangulo ressurge, pela décima vez, «em 1987, mais uma campanha pré-emancipagio nas cidades de Patrocinio e Frutal,em que, nesta tina, o prefeio, indignado com a desistencia de visita do governador por vcasifo do aniversério de Frutal, langa de novo a idéia da emancipagio Logo em seguida, em Patrocinio, foi realiza- da uma primeira reunigo com politicos da regiéo, tomnando conhecida a intengio do deputado cons- te Francisco Humberto de Freitas Azevedo de inscrit na Nova Carta Constitucional uma emenda visando a eriagdo de novos estados, a partir de um projeto apresentado pelo respectivo depurado, sob o respaldo do prefeito de Brutal e de mais 50 Cémaras de Vereadares do Tiiéngulo Mineivo, Alto Paranafba © Oeste de Minas, & subcomissio dos estados na Assembléia Nacional Constituinte de 1988 Tingle Mino, neta erent © projeto obteve parecer favorivel do rela tor da subcomissio, deputado Siqueiea Campos, ¢ posteriormente, foi aprovado em vatias inscincias no frum das discusses constituintes Em nivel regional, foi criada uma Coordenagio-Geral para a

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