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CONSERVACAC E INOVACAO NO PORTUGUES DO BRASIL CELSO CUNHA* RESUMO Partindo da tese a respeito da unidade e arcaici dade do portugués do Brasil (Serafim da Silva Ne- to), © A. retoma fatos que tém sido considerados como prova de seu carater conservador e anteclas- sico (Gladstone Chaves de Melo), procurando mos- trar que, se o mito da unidade tem sido desmentido pela publicagao de atlas lingiiisticos, o mito da arcaicidade parece mais resistente. Apresenta, a seguir, farta documentagao de fendmenos fonéticos que se explicam por uma diversidade da norma por- tuguesa (Norte e Sul do pais) e de outros que pre- sumivelmente podem ser tratados coio_inovagdes ane- ricanas. Com base nos estudos de Menéndez Pidal e Amado Alonso acerca do espanhol da América,conclui que € prematuro, em face dos dados até agora _reco- lhidos, afirmar que o portugués do Brasil 6 con- servador ou inovador, se bem nao parega exata a presungao de sua 'estaticidade'. Serafim da Silva Neto, cuja obra é ainda hoje pedra an- gular dos estudos sobre o portugués do Brasil,considerava ca- racteristicas basicas de nossa variante idiomatica a unidade eo conservadorismol, caracteristicas também ressaltadas por quase todos os lingiiistas e fildlogos que versaram o tema. Ainda recentemente (1981) Silvio Elia publicou um livro de duzentas e sessenta paginas para justificar, 4 luz de con- dicionamentos geoeconémicos, tal unidade , @ Gladstone Chaves de Melo, nas quatro edigdes de sua obra pioneira, A lingua do Brasil?, demora-se em documentar com uma série de exemplos o earater arcaizante do portugués americano, chegando mesmo a indicar as causas deste estagnante estado idiomatico. Depois de declarar que "aqui no Brasil sucede um fato curioso e extrema- mente interessante para o lingiiista: € que, apesar *Professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fildlogo, gramatico e medievalista. 0 Eixo e a Roda, Belo Horizonte, (5): p.199-230, 1986. 200 da imensidade do territério e das dificuldades de comunicagdes, a nossa fala plebéia apresenta nota- vel unidade relativa, apreciavel uniformidade," escreve 0 seguinte: "Estou que a nossa lingua popular, falando-se de um modo geral, & substancialmente o portugués arcaico, deformado, ou se quiserem, transformado em certo aspecto da morfologia e em alguns da fo- nética pela atuagado dos indios e dos negros. Um fundo-comum constituido pela lingua arcaica, esta- belecido por grande contingente de portugueses vin- dos de varias regides de Portugal indistintamente, com predominio dos do Norte, e um 4uperestrato cons— tituido por alteragdes desse fundo portugués, de- terminado pelo grande niimero de silvicolas e prin- cipalmente africanos que entraram a falar a lingua romanica. Porém, 6 facil verificar que, no que diz a estrutura da lingua, a forca do estrato foi mui- to maior que a do 4uperestraton4, © mito da unidade da lingua popular esta sendo progres- sivamente desmentido pelos atlas lingiiisticos que se vao pu- blicando. Ao contraério, o que eles comegam a ensinar-nos é que a caracteristica fundamental dos falares brasileiros reside no seu carater vacilante, no seu acentuado polimorfismo. © mito da arcaicidade parece mais resistente, o que ja havia sido notado por Amado Alonso ao examinar argumentos se- melhantes com relagado 4s caracteristicas do espanhol america- no. Tanto assim que um mestre da altura intelectual de Alonso Zamora Vicente nao teve diivida em reafirmar, na sua Dialecto- Logia espaiola (1970), que o fundamento do espanhol americano € a lingua pré-classica, a de fins do século xv, "a usada por Mena, Manrique, La Celestina e codificada na Gramatica de Ne- brij panhol importado, o fundo patrimonial idiomatico aparece vi vamente colorido pelo arcaismo e pela tendéncia a acentuarem- "6 "5. E, mais, que, “apesar dos sucessivos estratos do es- se os tracgos populares Nao obstante a agdo de tais fatores, essa modalidade lin- giiistica apresenta, para ele, “uma sdlida homogeneidade, so- bretudo nos niveis cultos", sendo “minimas, no imenso terri- O Eixo ea Roda, Belo Horizonte, (5): p.199-230, 1986. 201 tdrio americano, as diferengas, consideradas dentro da estru- tura total da fala"’. Essa maneira geral e indiscriminada de personalizar o espanhol americano foi em seu tempo criticada por Amado Alon- so e Menéndez Pidal e ainda hoje o € por um dos lingiiistas que mais se tém dedicado 4 dialectologia horizontal e verti- cal da Romania Nova, o professor Juan M. Lope Blanch. A afirmativa de ser a lingua anteclassica a base do es- panhol americano contém, segundo Amado Alonso, um duplo erro de visao. O primeiro est4 na confusdo. entre lingua e lingua literaria, confusao tao enraizada, que vem resistindo aos mais licidos ataques e, ao que parece, é imortal. "O idioma falado por todas as gentes, pelos aguadeiros e pelos bispos, pelos ouvidores e pelos soldados, pelos catedraéticos e pelos be- déis, nao é nem pode jamais ser classico e, portanto, nao po- de nunca ser anteclassico nem pés-classico. 0 segundo erro" - continua - "é de ordem histérico-lingiiistica, e consiste em pensar (que maravilhosa precisao!) que o espanhol que hoje se fala na extensa América deriva concretamente do idioma que em 1492 trouxeram os companheiros de Cristévao Colombo na Pinta, na Nina e na Santa Maria"®. © espanhol americano - se assim devemos insistir em cha- mar uma unidade lingiiistica inexistente na pratica - 6 0 re- sultado da conquista e colonizagao de parte do Novo Mundo pe- los espanhéis, que se desenvolveu durante todo o século XVI e, em certos casos, se estendeu pelo século XVII. A verdeira co- lonizagao do Paraguai, por exemplo, s6 foi iniciada pelos je- suitas em 1608. Mas retornemos 4 argumentagao de Amado Alonso. "Na 6poca da conquista e da colonizagao", escreve ele,"a linguagem espanhola do século XV, no que continha do século XV e nao do século XVI (no que ja havia saido do uso), estava tao pesada, morta e inoperante como a linguagem do século xX. © passado e caduco nao se conta pela distancia temporal, mas por sua condigao de nao pertencer ao sistema lingiiistico vi- 0 Eixo e a Roda, Belo Horizonte, (5): p.199-230, 1986. 202 E n&o se esquece Amado Alonso de assinalar a profunda di- ferenga entre o espanhol americano, em evolugao permanente, e © dos judeus expulsos em 1492. 0 judeu-espanhol no Norte da Africa, de Amsterdam, dos Balcas tem realmente por base 0 es- panhol do século XV, porque os sefarditas perderam todos os lagos de comunicagao com a Peninsula e passaram a viver em terras estranhas isoladas em seus guetos. © arrazoado de Amado Alonso é perfeitamente aplicavel 4 situagao lingiiistica do Brasil, onde 0 portugués s6 comegou real mas precariamente a ser difundido em 1532, com a insti tuig&’o de capitanias hereditarias. Em todo o periodo de gestagao das caracteristicas mais marcantes de nossa fala - vale dizer os séculos XVI e XVII -, vieram individuos das distintas regides de Portugal, que fa- lavam naturalmente a lingua do seu tempo, com matizes mais conservadores ou mais inovadores conforme as areas de onde provinham. De um modo geral podemos dizer que a um Norte con- servador se opunha um Sul inovador. A norma neolégica do Sul, que ja representava um modelo seletivo, do qual foram elimi- nados ou neutralizados os regionalismos ou localismos estig- matizaveis, tinha maior poder de expansao!?, nao precisando, portanto, de ser a do maior niimero de reindis nele radicados para se impor no Brasil. E repisemos esta afirmagao. Nao apenas a lingua culta, mas também a lingua comum dos brasileiros, funda-se nessa neo- légica norma sulista dos séculos XVI e XVII, o que é facil de demonstrar tanto na fonologia como na morfologia e na sintaxe. “se em alguns casos a atual norma portuguesa ou a atual norma brasileira dela divergem, isso se deve a posteriores evolu- goes, paralelas ou distintas. £, porém, de uma evidéncia que dispensa maior comprova- g&o o fato de ter a lingua portuguesa se desenvolvido no Bra- sil, durante séculos, em condigdes socioculturais mais propi- cias 4 conservagao do que 4 renovagao de suas formas. Tendo vivido mais de trezentos anos sem contacto com outros povos, sem imprensa, sem nicleos culturais de importancia,com um ni- mero exiguo de escolas, a América Lusitana foi alcangando nes- 0 Eixo e a Roda, Belo Horizonte, (5):p.199-230, 1986. 203 se largo periodo algumas das etapas que levam os povos aos estados lingiiisticos paralisantes. Esse imobilismo cultural e, conseytientemente, idiomatico é ainda muito sensivel nas re- gides interioranas, onde continuam a existir populagées mar- ginalizadas dos préprios acontecimentos histéricos. © panorama de conservadorismo intenso foi em parte alterado no século XVIIIcom o 14ush para as Minas, quando nao sé as popu- lagdes da costa, em maior contacto com a Metrépole, mas as do préprio Reino se deslocaram para o interior, levando consigo padrées lingiiisticos inovadores. Depois, a partir de 1808,com a permanéncia da Corte Portuguesa no Rio de Janeiro, introdu- ziram-se na capital do Reino Unido melhoramentos materiais e, também, habitos apurados, entre os quais certos procedimentos lingiiisticos. Data certamente dessa 6poca a assimilagao pelos cariocas da proniincia chiante lisboeta do -4 pés-vocdlico,que era a dos cortesdos. Na segunda metade do século XIX, o Brasil, que fora até entao um vasto pais rural, com um opressivo e inevitavel do- minio do campo e de seus modelos socioculturais sobre a vida publica e particular, comega a sentir o depauperamento do pa- triarcalismo campesino e a ver o surgimento de uma nova for- ga, a do patriarcalismo urbano. A cidade passa entao a in- fluir normativamente na vida do pais, e o faz num crescendo vertiginoso pelo aparecimento do fenémeno da megalépole e dos poderosos meios de comunicagado, como o radio e a televisdo.Em poucos anos altera-se completamente a geografia humana e ur- bana brasileira, com a fundagao de novas cidades e 0 cresci- mento desmesurado de outras. Cidades tornadas centros cria~ dores e difusores de cultura, a assumirem posigaéo reitora, a nivelarem os falares atraidos para a sua Grbita, a mudarem, enfim, com a sua forga normalizadora, e também inovadora, 0 tabuleiro lingiiistico do paisll, Essas razdes justificam por que, apesar de viver uma fa- se essencialmente inovadora, em particular na lingua culta oral e escrita, a variante brasileira do idioma continua a apresentar caracteristicas que, tendo sido também da variante portuguesa, no século XVI ou, ainda, no século XVII, poste- 0 Eixo e a Roda, Belo Horézonte, (5): p.199-230, 1986. 204 riormente nela se perderam. Atendo-nos apenas aos fatos fonéticos mais difundidos no portugués do Brasil, vemos que é possivel estuda-los - e al- guns j4 o fizeram - dividindo-os em dois grupos: a) os que representam a conserva¢gao de pronincias atualmente de nula ou escassa vitalidade na Peninsula; b) os que, 4 falta de sua do- cumentagao nos falares portugueses de qualquer época, devem ser considerados inovagdes americanas. £ bastante provavel que na entoagaéo, que hoje bem dis- tingue um portugués de um brasileiro, a nossa fala correspon- da melhor ao est4gio lingiiistico do século XVI, como geral- mente se afirma com fundamento num exame perfunctério da mé- trica do tempol? e num passo da Gramatica da Linguagem portu- guesa, de Fernado de Oliveiral3, Mas nao nos demoraremos em analisar mais detidamente essa questao porque nos faltam ele- mentos comparativos seguros. Enquanto os fenémenos de entoa- gao tém merecido em Portugal um tratamento cientificol4, no Brasil continuam eles a ser objeto de consideragdes impres- sionistas!>. Como exemplos quase certos de conservagao podem-se, no entanto, indicar os seguintes fatos fonéticos: a) a realizagao fechada [e] e [9], que era - tudo faz crer - a do ¢ e c preténicos, nao originados de crase, até o século XVIII em Portugall@, e que permanece nas regides Cen- tro e Sul do Brasil: [pe“gar}, {kor“tar]; b) a realizagdo aberta do a preténico nao proveniente de crase: [ma“deyr@]; ©) a realizagao mais aberta do -a final tono [“tir®) e nao (eirey, como na variante européia; a) a alternancia polimérfica das preténicas e/i e o/us que a lingua dos séculos XVI e XVII conhecia: [@‘trar]/[I”trar], fme“nin®]/(mi“nin®], [kos“tum!]/[kus”tum!)+7, e) a realizagao [e] antes de consoante palatal da vogal t6énica que, na regiao de Lisboa, evolveu no século XIX para [a]: [fe8"], [sek], [ispes"], [ten]: £) as realizagoes [ey] e ([€y] dos ditongos que se pro- 0 Eixo e a Roda, Belo Horizonte, (5): p.199-230, 1986. 205 nunciam [dy] e [ay] na regido de Lisboa, onde teve inicio a mutagao, e em outras areas de Portugal!®; g) a realizagao sibilante, na maior parte do Brasil, do -s e do -z pds-vocdlicos, que se neutralizam em [s] em final absoluto ou diante de consoante surda, e em -z antes de con- soante sonora: [a°tras], {"pas] , ["list®], ["fas ka‘lor] , [ma“razm4], [“maz “ligwas]; h) a realizag&o com sensivel nasalidade da vogal que antecede as consoantes m, n e nh, comum 4 maioria dos falares brasileiros e aceita em nossa lingua culta, proniincia que,co- mo hoje, talvez j4 nado fosse a dos registros altos no portu- gués europeu dos séculos XVI e XVII, mas que certamente era entao a dominante, pois do contraério nado se poderia explicar © fechamento das vogais a, ¢ e 0 em palavras do tipo cama, feno e sonhol?, i) a nao articulagao do s que antecede o ¢ em formas co- mo descer e nascer, consoante realizada hoje em Portugal como (81: [a4e"ser}, na“ser] e nao [de¥“ser] , [naS“ser]. Provavelmente, os seguintes fatos fonéticos também re- presentam a conservagao, no Brasil, de estagios anteriores do idioma: a) a realizagdo [i] do -e grafico final [“tard!}, geral no Centro e Norte do pais e que, segundo os testemunhos de Luis Caetano de Lima e Luis Anténio Verney, era ainda a pro- nincia vigente em Portugal na primeira metade do século xvir1?9, b) a realizag&o africada [t¥] do ch grafico, em regides mal delimitadas de Sao Paulo, Paranda e Mato Grosso, proniincia que era a mais geral no século XVI e a que ainda prevalece na maioria dos dialetos setentrionais portugueses e na totalida- de dos dialetos galegos: [°t¥av+], [a°t¥ar]??; ¢) a realizagao da africada paralela [a2], atestada no falar caipira e, também, em crioulos e falares fronteirigos portugueses, que, para Révah, representa "un archaisme remar- quable", mas de vitalidade restrita a certas regides do Por- tugal quinhentista??, 0 Eixo e a Roda, Belo Honizonte,(5): p.199-230, 1986, 206 a) as pronincias populares e regionais fia e lia,que eram as da propria lingua culta nos séculos XVI e XVII, documenta- das que est4o nas obras de Camées e Gregério de Matos”3; e) uma certa fricatizagdo, com aparéncia de ditongagao, notada por Oskar Nobiling na proniincia de nossas nasais e por Gongalves Viana na emissao das mesmas vogais em falares ar- caizantes do Norte de Portugal*4. £) a proniincia oclusiva do 6, do d e do g intervocdlicos, que foi substituida em quase toda Portugal pela realizacado fricativa, tendo-se conservado apenas na regiao que vai de Portalegre a Mértola e numa parte do Algarve?>, Como acabamos de ver, nenhuma dessas realizagoes fonéti- cas € geral em todo o pais; estendem-se elas por uma parte maior ou menor do nosso territ6rio, mas sao sempre regionais, a semelhanga do que ocorre na América Espanhola com fenémenos da mesma natureza. Tém certamente maior expansao alguns fatos conservadores de morfossintaxe, como: a) a perifrase formada de estan (andar, vivenr, etc.) + geriindio, que, em Portugal, desde o século XVIII, vem sendo progressivamente substituida por outra, constituida de estar (andan, viver, etc.) + infinitivo antecedido da preposicao 26, b) a possibilidade de se empregar, como outrora, 0 pos- sessivo sem artigo nos casos em que este é, hoje, obrigatério no portugués europeu*’: mou carto, minha oupa; ¢) a préclise do pronome atono, também admitida pela lin- gua classica, em enunciados que atualmente exigem a G6nclise no portugués peninsular: Ele se despiu, e nao Ele despiu-se28 £ claro, como advertimos anteriormente, que nos falares dos grupos sociais mais desfavorecidos culturalmente - rurais, rurbanos, ou mesmo urbanos, mas especialmente nos falares de povoagées perdidas por este imenso Brasil, de acesso dificil durante séculos e, n4o raro, ainda em nossos dias - permane- ceram muitas antigualhas lingiiisticas que os atlas e as mono- grafias dialetais vém trazendo 4 tona. £ o caso, por exemplo, de sarofLha “terra umedecida", palavra atestada somente num 29 passo do Livto da montaria, de D. Joao 179, e que sabemos ho- 0 Exo e a Roda, Belo Horizonte, (5): p.199-230, 1986. 207 je ter plena vitalidade na maior parte do territério baiano e em todo, ou quase todo, o Estado de Sergipe?°. 0 fato, porém, de ser de um texto do século xv a dnica documentag4o conheci- da até ha pouco prova apenas que a palavra existia nessa épo- ca, e nao que seja um arcaismo quatrocentista, como seria li- cito supor antes das ocorréncias comprovadas no Nordeste bra- sileiro. Essas ocorréncias tornar-se-iam impossiveis, sea sua vitalidade, mesmo regional, nao tivesse chegado na Peninsula ao século XVI. Também os trinta e cinto itens lexicais, que Gladstone _ Chaves de Melo considera vulgarismos brasileiros descendentes 31 de arcaismos do século XV~", sao todos, absolutamente todos, formas vivas do portugués quinhentista e, em grande parte, de épocas posteriores. A maioria esmagadora aparece até na obra literaria dos melhores escritores do tempo. Para encurtar razdes, dezoito deles estao em 04 Lusiadas: alifante, Anrique, baxo, despois, enveja, esprito, Lia, mali- no, menhd, pexe, pola, polo, pranta, nezao, safugo, samear,aa e Berto£ameu, que é como se assina o censor do poema?; oito, nas poesias de SA de Miranda: amenha, aquel, assossegar, qua- je, perjuizo, chkamar (o exemplo de Gladstone & cramoxr) ,inzem- plo (em SA de Miranda enzemplo e enxempro) e preguntar; um, no teatro de Gil Vicente: entonces??; e outro, na prosa de Duarte Galvao: sujigat (no historiador sogigan)34. Quatro dos sete itens restantes poderiam ter ocorrido nesses autores, que empregam formas derivadas ou paralelas. Assim: bautismo (n'0s Luszadas ha bautizado),. péadade (n'0s Luszadas ha pic- dade e piadoso), fruita (n'04s Lusiadas e na obra de S& de Miranda encontra-se 41uitc) e tuita, forma usada por Joao de Barros que apresenta a mesma vocalizagao do c latino?>. pas demais, bencado 6 a pronincia etimolégica, e ainda em 1784 a finica aceita por Couto Guerreiro*®; avangetho pode ser consi- lerado um plebeismo de grande vitalidade, pois desde o século I vem resistindo 4 condenagao dos filélogos portugueses?’;e itoura (melhor seria grafar cilona) representa um caso nor- 1 de metatese, possivel de ocorrer em qualquer época do oma. Eixo ¢ a Roda, Belo Horizonte, (5): p.199-230, 1986. 208 vemos, pois, que o fundo anrcaico basico estabelecido pe- lo ilustre fildlogo pertence igualmente ao patriménio lexical do século XVI e - tudo leva a crer - também ao do século xVIL E que parte substancial desse acervo continua viva nos fala- res portugueses, prova-o as numerosas monografias que sobre eles se tém escrito, estudos que permitiram ao préprio pro- fessor Gladstone Chaves de Melo apresentar um convincente con- fronto das semelhangas que ainda hoje se observam entre for- mas dialetais das duas variantes do idioma?®, Qutra reserva que fazemos 4 conceituagado do ilustre fi- 16logo refere-se ao emprego do adjetivo arcaico para designar a lingua da Gltima metade do século xv°9. Essa fase idiom&ti- ca, em nosso entender, deve juntar-se 4 primeira metade do se- culo XVI para constituir o periodo do portugués médio. A pro- sa de Zurara, Rui de Pina, Garcia de Resende e Bernardim Ri- beiro j4 se distingue bastante, seja da canhestra linguagem dos documentos notariais dos séculos XIII e XIv e dos Livaos de Linhagens, seja da mais apurada expressdo dos cédices al- cobacenses e das primeiras crénicas galego-portuguesas, seja, mesmo, das obras de irrecusavel elaboragao artistica, a exem- plo das de Fernao Lopes e D. Duarte. E aqueles que estao ha- bituados a convier com os textos poéticos das diversas épocas do idioma sabem que existe uma diferenga muito mais profunda entre a lingua de um trovador tardio, como D. Pedro, Conde de Barcelos (1289-1354), e a de um antigo poeta do Cancioneiro Geral, como Ferndo da Silveira - cujas vidas medeiam pouco mais de cem anos -, do que a que separa a de certos poetas do Cancioneiro de Resende da de Fernando Pessoa ou de Carlos Drummond de Andrade. Retornemos, porém, 4 linha tronco de nossas considera- gdes. Aos aspectos fonéticos conservadores, que encerra 0 por- tugués do Brasil, podemos contrapor os inovadores, que passa-— mos a examinar. Ja nos referimos 4 inovagéo que representa a proniincia palatal (chiante) do -4 pds-vocAlico, caracteristica da lin- guagem do Rio de Janeiro’? e de alguns pontos da costa brasi- 0 Eixo e a Roda, Belo Horizonte, (5) :p.199-230, 1986. 209 leira, entre os quais Santos. Vejamos, agora, outros fatos fonéticos que podem ser as- sim considerados, enumerando-os pelo grau de difusdo no ter- ritério brasileiro: a) neutralizagao no timbre fechado do ee 0 pretdnicos provenientes seja de uma vogal singela do latim, seja de uma crase ocorrida dentro de nossa lingua, diversidade de origem que o portugués europeu distingue com preciséo: [pare ser]/ [iske“ser], [ino“rar]/[ko“rar]; b) neutralizagao no timbre aberto da vogal a proveniente seja de vogal singela ou de crase, seja de uma especializagao morfolégica, do que resultou serem eliminadas no Brasil as im- portantes distingdes de natureza fonolégica e morfofonolégica que se fazem em Portugal: a) entre o a artigo [&J eo origi- nario de sua crase com a preposigao a [a]; b) entre a 18 pes- soa do plural do presente [a mamu$] e a do pretérito perfeito do indicativo [amamu$} 41; ¢) desenvolvimento de um iode antes de -s implosivo, principalmente quando palatalizado [$], o que permite, por exemplo, a rima de at4as com vais, de vez com seis, de atroz com 4518 e de nus com azuis’?; a) intercalagdo de um é ou de um e para desfazer certos grupos consonanticos: adivogado por advogado, penew por pneu*?; e) vocalizagaéo do ¢ implosivo, fendmeno que, com exclu- sdo do extremo Sul, parece muito generalizado no pais; assim carnaval, anel, Elvina, canil, toldo e sof pronunciam-se, na fala distensa, Pearnavaw], Tanew], — few'vir®J, [ka niw], (towa), (sew) **; £) palatalizagao e passagem 4 africada dos grupos ti e dis btimo (oebin"}, Sdio [aks *?; g) abertura das vogais pretdnicas no Nordeste e em areas do Norte do pais em palavras que ndo sejam diminutivos nem advérbios em -mente, fendmeno cuja origem, depois de tantas e téo variadas explicagées, que vao desde a agdo de substrato indigena até uma influéncia da proniéncia erasmiana do latim, continua no grau zero da investigagao realmente cientifica, 0 Eixo ¢ a Roda, Beto Horizonte, {5): p.199-230, 1986. 210 mas cuja funcionalidade parece estar condicionada, em muitos casos, & harmonizagao vocalica’®:; pegar [pe"gar], corner fq” Rer]; h) o ieZsmo, ou seja a passagem da palatal [1) a [y],que alguns estudiosos afirmam ser um fato geral da linguagem po- pular brasileira, afirmagao no entanto nfo respaldada pelo ensinamento que se colhe dos trés atlas lingiiisticos até ago- ra publicados’?: 4itho [“fiy"], orvatho Lor-vay"). Além do ieZsmo - fato romanico muito difundido, mas que h ponderaveis razdes para considera-lo, no Brasil, um caso interno de desfonologizagao popular’® -, outros fenémenos fo- néticos inovadores pertencentes a registros* muito vulgares podem ser apontados. Assim a perda das consoanetes -1, -£ e -$ finais (ama, genera, as casa) 4; a assimilagaéo do dao n no grupo nd (andano por andando)°°; a passagem do a ténico au em Areas do Para e do Amazonas®+; a despalatalizagao do i) em Sreas da Bahia e de outras regides do Nordeste [muler] a iodizagao do 2 (e do £ tornado ) pés-vocalico ocorrente em areas mal delimitadas do Nordeste e de Goias (coigo de coxrgo, por corrego; aima de arma, por alma) >a proniincia retroflexa do 1 chamado caipina, tipica de Areas de Sdo Pauloe do sul de Minas Gerais, mas que se documenta em outras regides do pais*’; a passagem de [2] a [y] em povoagées da costa para~ naense ({"ygry®l por Jorge, [ivgrey"] por igteja)>®; a aspi- ragdo que substitui o |v) en Areas do Nordeste ({a“hi%) por havia, ["hamu®} por vamos)>®; a passagem também a uma aspira- ¢30 do [2] e do [z} antes de vogal palatal, Bess tada na lin- guagem riistica de povoagdes cearenses ([“hét*] por gente, [fa7néa2) por fazenda)>?; a redugdo a [i] da terminagao -énhe, fato muito difundido em Areas interioranas do pais ([ka“mi por caminho)°®, e ainda outros fenémenos cuja altura de re- gistro e cuja extensdo geografica precisam ser melhor estabe- lecidos. Temos diivida em incluir entre as inovagdes brasileiras certos fendmenos fonéticos por muitos assim considerados. £ 0 caso, por exemplo, da monotongagao dos ditongos [ay) en [a] antes de [8] e ley} em [e]antes de [3], [Zl e [r}. as- O Eixo e@ a Roda, Belo Horizonte, (5): p.199-230, 1986. 211 sim: Uba$"I por baixo, [pe$!] por peixe, (ket) por queéjo, {pe“drer"] por pedreiro. As grafias baxa e pexe, que ocorrem até em 04 Lusiadas, mostram a antiguidade do fenédmeno, larga- mente documentado ainda hoje nos dialetos centro ~ meridionais portugueses”®. Pode-se mesmo dizer que nas areas onde {ey]no evolveu para [ay| ha sempre a tendéncia de monotongar-se em fe}. Quanto A monotongagao do ditongo [ow] em [e] ela é geral nao sd na lingua comum do Brasil, mas também, desde 0 século XVII, no portugués europeu®?, Quanto 4 pronincia fecha [el e [9] do -e e -0 = graficos finais - caracteristica do Rio Grande do Sule de Areas do Parana, de Santa Catarina, de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul -, se alguns a explicam por influéncia espanhola (o que seria uma inovagdo), outros, como Révah, nela véem a manuten- gao de um estado antigo do portugués®!, Nao € facil enquadrar entre os casos de inovagao certos foneticismos populares como: a) a passagem de ¢ a 1 no falar caipira e em outros fa- lares brasileiros, apontada como um dos nossos tipicismos wul- gares, mas que representa uma tendéncia romanica muito difun- dida, tendo sido mesmo uma evolugao normal dos grupos de £ do latim para o portugués: brando, de blandu; pranto,de planctu; erano (arc.), de clanu; fron ou grok (arc.), de flore; b) a desnasalizagao de formas como home (“ém!] por homen, vitgem Fvir¥+} por virtgem, pois que ome se usava na lingua ar- caica literdria e outras palavras latinas terminadas em -ine perderam em sua evolugao a antiga nasalidade: fuméne>Lume,no- méne>nome, verménerverme>, As formas populares do pretérito perfeito do indicativo cantaro, §izerc e partino sao evidentes casos de desnasaliza- gao das antigas cantard, fizenrd e panrtind, pertencentes 4 nor- ma culta da lingua arcaica e ainda conservadas em falares portugueses. Do exposto verifica-se que nao ha também nenhuma_ reali- zacgao fonética inovadora que, no estado atual de nossos co- 64 nhecimentos”, possa ser considerada geral em todo o pais. Fenédmenos como os que foram aqui aflorados nao se clari- 0 Eixo e a Roda, Belo Horizonte, (5): p,199- 230, 1986, 212 ficam satisfatoriamente sendo com minuciosos estudos diatépi- cos, diastraticos e diacrénicos, que s6 agora comegam a_ ser empreendidos. A luz deles, esperamos que se venha a escrever um dia sobre a nossa variante idiom&tica algo semelhante ao luminoso ensaio de Menéndez Pidal intitulado Sevilha frente a Nadxéd®>, no qual o sabio lingiiista-filélogo reexamina, com a erudigéo e a agudeza costumeiras, todas as teses aventadas até a época para explicar as caracteristicas do espanhol ame- ricano. Tem razao Lope Blanch em acentuar a precaugao ea pre- cisao, tao pouco usuais em outros investigadores, com que Me- néndez Pidal ai se serve dos qualificativos ancaizante, con- servador e ty]. Dai as proniincias [“ot$4¥] e ["mat¥¥]. Quanto 4s preténicas cearenses, leiam-se as agudas obser- vagoes de Martins de Aguiar. Fonética do portugués do Cea- r&. Revista do Instituto Histonico do Ceara, 51: 271-307, 1937, especialmente p. 275-283. Sobre as regras de abertu- ra das pretdnicas em Natal, veja-se Vera Licia de Medeiros Maia. Vogais pretonicas médias na fala de Natal.Rio de Ja— neiro, 1986 [texto policopiado] . Cumpre advertir no en- tanto que a abertura das preténicas nado é um fato fonéti- co privativo da regiao nordestina. A professora Maria Ber- nardete M. Abaurre Gnerre chamou a atengao dos estudiosos para a vitalidade do fendmeno no Espirito Santo (Cf.Cader- nos de Estudos Lingiiisticos, 2: 23-44, especialmente p. 27 e 35-38, Campinas, 1981) e a professora Leda Bisol estabe- leceu os seus condicionamentos na area do Rio Grande do Sul (C£. Harmonizagao vocalica. Tese de doutorado defendi- da em 1981 na Universidade Federal do Rio de Janeiro). Para justificar o que afirmamos, faremos uma breve andlise da carta orvatho, que tem o némero 5 no Esbogo de um atlas kingiiistico de Minas Gerais (vol. 1, MEC/Casa de Rui Bar- bosa, UFJF, 1977) e o niimero 27 no Atlas Lingiiistico da Panaiba (vol. 1, UFPB/CNPq, 1984). Dentro de um polimorfismo que apresenta quinze realiza~ ges fOnicas diversas para o item em causa, verificamos que em Minas Gerais as formas nao ieistas, largamente pre- ponderantes, foram recolhidas em 61 pontos. Assim: [ori-valy") e [ora*valy"] em 22 pontos cada uma, [or-valus}] em 13, [gro“valy"] em 4, [of-valy"J em = 3, [or-valy"] em 2, [of"vai"] em 2, e© cada uma em um ponto [ok-valy"], forvaly"] e [oru’valy"]. = somente em 10 pon- tos encontraram os inquiridores formas ieistas, realizadas foneticamente: [or“vay"] e [ar-vay"], ambas em trés pon- tos; [ori-vay"] em 2; [ori~vay] e furu’vay], cada uma em um ponto. 0 Eixo e a Roda, Belo Horizonte, (5): p.199-230, 1986. 48. 225 Também na Paraiba foi comprovado um intenso polimorfismo do item lexical em exame, que assume treze formas distin- tas, das quais seis nao iefsta: (ch-val"1,recolhida em 10 pontos; faru“vaj"), em 3; furu“vay"], (gru“vay"T, [ey~val) e foy’val"], cada umaem um ponto. As formas ieistas apare- cem sob sete realizagées, que se distribuem por quinze pontos do mapa, em cinco deles lutando com formas nao ie- istas: {uru“vay"), em 5 pontos; [ru’vay"], em 3; [aru“vay4] e [ghvay"], em 2; [aro“vay"}, [uru’vay) e [aru“vay], uma em cada ponto. Sobre a alternancia de formas iefstas e nao ieistas na- Bahia, ver a nota seguinte. Vj. Nelson Rossi, A iotizagao de /-lh-/ em algumas locali- dades baianas. In Anais do Primeito Simpasio de Félologia Romanica. Rio de Janeiro, MEC/Biblioteca Nacional / Univer- sidade Federal da Bahia, 1970, p. 161-179; Manuel Alvar. Relatério. Ibidem, p. 179-182. . & claro que a perda do -% e do -¢ @ distinta da do -s, que s6 se verifica em elementos de um sintagma (substantivo, adjetivo e verbo) que apresenta mais de um indice de plu- ralidade. Como acertadamente diz o professor Silvio Elia, "nao € 0 fonema que cai; 6 o morfofonema que deixa de ser usado" (Ensaios de filologia e Lingiiistica, p. 216) .Vejam- se também Serafim da Silva Neto. Intrxoducdo, p. 152;Glads- tone Chaves de Melo. Obra cit., p. 78, 98-99; I. S. Révah. La question des substrats et superstrats dans le domaine linguistique brésilien. Romania, 84: 433-450, especialmen- te p. 443, onde cita exemplos como o piri e 0 algenri em que se di a perda pura e simples do -s. Semelhante 4 assimilagao do d ao n, @ a do b ao m no grupo mb. Vejam-se, a propOsito dos dois tratamentos, Serafim da Silva Neto. Introdugao, p. 196; —-.A Lingua portuguesa no Brasil, p. 51; Silvio Elia. Obra cit., p. 193-194; Glads- tone Chaves de Melo. Obra cit., p. 56-57, 101. . Foi José Verissimo o primeiro que se referiu a tal cambio Eixo e a Roda, Belo Horizonte, (5): p.199-230, 1986. 226 0 €. fonético entre os amazonenses e paraense (Cf. As popula- goes indigenas e mestigas da Amazonia: linguagem, crengas e costumes. Revista do Instituto Historico e Geographico Brasileino, 50(1): 295-390, especialmente p. 326, Rio de Janeiro, 1887). 0 fendmeno tem sido explicado por influén- cia agoriana, ou dos aloglotas nativos, ou, ainda, por al- teragdo dentro do préprio sistema fonolégico da lingua (Vejam-se Serafim da Silva Neto. Intrcdugdo,p. 190; —. A Lingua portuguesa no Brasil, p. 46-47; —.Ensaios de §i- LoLogia portuguesa, p. 74; Antenor Nascentes. Idioma na- éionak, t. 4. Rio de Janeiro, 1929, p. 260). Como a passa- gem de [9] a [u] ocorre na regiao dos rios, 6 provavel que ela tenha origem numa interferéncia do sistema vocali- co de linguas indigenas da area, pois que evolugao seme- lhante se verifica na Serra do Equador, no Peru e na Boli- via andinos, e os lingiiistas sao acordes em atribui-la aos adstratos quichua e aimara, linguas em cujo vocalismo sd existem trés fonemas reais - a, i e u -, que podem apre- sentar alofones de diferentes timbres por efeito de harmo- nizagao vocalica. A propésito escreve o malogrado Humberto Toscano Mateu: : "Hay que acudir al sustrato y adstrato qui- chuas para explicar estos cambios. En esa lengua sdlo existen fonolégicamente tres vocales, a, u, i. Los sonidos @, © pueden considerarse simples variantes de i, u. El in- dio, para hablar espafiol, altera lo menos posible su pro- pio sistema fonolégico. De ahi la multitud de cambios vo- cAlicos, que van desminuyendo conforme se pasa del pueblo indigena al mestizo y al blanco. El limite lingiiistico en- tre el indio y el blanco es poco preciso, sobre todo en las zonas rurales; de donde resulta que muchos cambios vocali- cos que se atribuen al quichua se producen con frecuencia en el habla de personas que ignoran totalmente la lengua del Inca". (E2 espanol en el Ecuador. Madrid, C.S.1.C.,1953, p. 52, onde, a seguir, exemplifica o fenédmeno com formas como cuco por coco, cundur por condor, cuchd por coche, tuco por toco, turin por turron, entre outras). Essa obra foi objeto de importante resenha critica de Hélcio Martins na éxo e a Roda, Belo Horizonte, (5): p.199-230, 1986. 227 Revista Brasileira de Fikologia, 1(2): 233-237. A pagina 234 tece o saudoso filélogo judiciosas consideragdes sobre o fato fonético em exame, estudado também por Rafael Lape- sa. Historia de La Lengua edspanola, 8. ed. Madrid, Gredos, 1980, p. 550-551; Alonso Zamora Vicente. Obra cit.,p. 390; Juan M. Lope Blanch. EL Léxico indigena en ek espanol de Néxéico. El Colegio de México, 1969, p. 10; P. Boyd-Bowman. Sobre la pronunciacién del espafiol en el Ecuador.Nueva Re- vista de Filologia Hispanica, 7: 231, 1953; Dora Justinia- no de la Rocha. Apuntes sobre la interferencia fonolégica de las lenguas indigenas en el espafiol de Bolivia.In Actas deL 111 Congreso de La Asocéacidn de LingiiZstica y Fitolo- gia de La América Latina. San Juan, Puerto Rico, 1976, p. 160-161. Vj. Silvio Elia. Obra cit., p. 217-218. . Serafim da Silva Neto. Introdugdo, p. 192; —. A Lingua portuguesa no Brasil, p. 48. Silvio Elia. Obra céit.,p.201. . Uma precisa descrigao deste [r] pode ler-se em Amadeu Ama- ral. Dialecto caipina. Sao Paulo, Casa Editora "O Livro", 1920, p. 21. O professor Brian F. Head vem estudando, ha tempos, a vitalidade do 1-caipira em varias regides do Bra- sil. Leiam-se, a respeito, os seus trabalhos: 0 estudo do "r-caipira" no contexto social. Revista de Cultura Vozes, 67(8): 43-49, 1973; Subsidios do Atlas Prévio dos Falares Baianos para o estudo de uma variante dialetal controver- tida. Cadenrnos de Estudos Lingliisticos, 1: 21-34, Campinas, 1978. . Veja-se Serafina Traub Borges do Amaral. Contribuigao para um inquérito lingiiistico no litoral do Parana. Letras, 5- 6: 157-166, especialmente p.158. Curitiba, 1956. . Serafim da Silva Neto. Introdugao, p. 193; —. A Lingua portuguesa no Brasil, p. 48. . Serafim da Silva Neto. Introdugao, p. 193; —. A Lingua portuguesa no Brasif, p. 49. 0 Eixo e@ a Roda, Beko Horizonte, (5): p.199-230, 1986. 228 58. 59. 60. 61. 62. 63. 64. Serafim da Silva Neto (Intxodugao, p. 193; A lingua cit., p. 49), fundado em Martins de Aguiar, compara a redugo de -inho a i (através de -iu) existente na fala popular do Ceara a fendmeno idéntico documentado por Schuchardt nos crioulos portugueses de Africa. Advirta-se, porém, que tal redugao nao se circunscreve ao Ceara, antes se encontra em idioletos de diversas areas do pais. Luis F. Lindley Cintra. Os ditongos decrescentes cue ei: esquema de um estudo sincrénico e diacrénico. In Estudos de dialectologia portuguesa, p. 35-54. Manuel de Paiva Bo- 180 (Estudos de entre as paginas 240 e 241) insere dois mapas ilustrativos da passagem de [ey] a fe]: mapa ne 8 sobre "Redugdo do ditongo ei>@ em figueta e Laranfera"; mapa n? 9, intitu- ngiiistica portuguesa e rAomanica, tomo 1, lado “Redugao do ditongo ei>é". Luis F. Lindley Cintra. Ibid., ibid., onde se estudam as areas dialetais portuguesas em que permanece o ditongo [ow], bem como sua alternancia com foy]. Sobre a isdfona do fow)] em Portugal, veja-se também Helmut Liidtke.Beitrage zur Lautlehre portugiesischer Mundarten. In Méscelanea Homenaje a André Martinet: esthucturatisme e historia, tor mo 1. Tenerife, Universidad de La Laguna, 1957, p. 95-112, especialmente p. 110-i12. Vejam-se I.S. Révah. Anais cit., p. 399; —. Actas cit.,p. 281-282; Serafim da Silva Neto. Inttodugdo, p. 190-191; Silvio Elia. Obra cit., p. 214. Como se sabe, os grupos latinos de ¢ sofreram uma dupla evolucdo para o portugués. Numa primeira fase, palataliza- ram-se. Assim: clave>chave, Sfama>chama, planurchdo, spec {ulLurespetho, implere>enchet, Os que entraram no idioma quando nao mais vigia a regra de palatalizagao sofreram a passagem do { a 4. Conservaram o & as formas eruditas. Serafim da Silva Neto. Introdugao, p. 188; —-+ A lingua portuguesa no Brasil, p. 45-46. Apesar dos importantes progressos dos estudos dialectolé 0 Eixo e a Roda, Belo Horizonte, (5]: p.199-230, 1986. 65. 66. 67. 68. 69. 72. 73. 7h 229 gicos nesses iltimos anos, com o aparecimento de novos atlas lingiifsticos, de varios léxicos e de algumas mono- grafias regionais, ainda sao aproximativos os dados de que dispomos sobre os falares brasileiros. © ensaio tem como subtitulo Algunas precisiones sobre ek espanol de América e foi publicado na Miscelanea Homenaje a Andnr® Martinet: estructuralismo e historia,tomo 3, 1958, p. 99-165. Juan M. Lope Blanch. Estudios sobre ef espanot de Mexico. Universidad AutGnoma de México, 1972, p. 29. Menéndez Pidal. Obra cit., p. 157. Idem. Ibid., p. 158 e 160. Idem. Ibid., p. 148. Do conservadorismo dos atuais paises da América Central exclui-se o Panama, porque "la pequefa Audiencia de PanamA era punto de encuentro para las flotas de Tierra Firme y del Peri, deteniéndose en sus _ puertos las naves de tres a cuatro meses; por ello su habla sigue el tipo mas andalucista, en contraste con el habla del resto de los territorios centroamericanos" Menéndez Pidal, Ibid., p. 149. Idem. Ibid., p. 153. Idem. Ibid., p. 163-164. Com a enorme imigragao sofrida desde o século passado, Buenos Aires tornou-se, no dizer de José Edmundo Clemente, o "puerto terminal de todos los dialectos del mundo" e, conseqiientemente, "no puede resca- tarse a su necesario contacto" (In Jorge Luis Borges. EL idioma 'de Los argentinos - José Edmundo Clemente.Ef idioma de Buenos Aites. Buenos Aires, Pefla - Del Giudice, 1952, p. 46. Menéndez Pidal. Obra cit., p. 164-165. Idem. Ibid., p. 165 Idem. Ibid., p. 165. 0 Eixo e a Roda, Belo Horizonte, (5): p.199-230, 1986. 230 74. Juan M. Lope Blanch. Obra cit., p. 47. Do exame dos tragos fonéticos que, em principio, consideramos conservadores, parece-nos que a razao est4 em Révah, quando nos diz que "os dados brasileiros confirmam a existéncia na lingua-pa- dro portuguesa dos séculos XVI e XVII de proniincias hoje desaparecidas ou relegadas aos falares populares ou regio- nais" (Actas cit., p. 281). 0 Eixo e a Roda, Beto Horizonte, (5): p.199-230, 1986.

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