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REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA SUMARIO DO NUMERO DE JANEIRO-MARCO DE 1953 ARTIGOS Limites Meridionais e Orientais da Area de Ocorréncia da Floresta Amazénica em Territério Brasileiro, Lécio pe CastRo SoaREs Distribuicio da Populacéo no Estado de Minas Gerais, em 1940, Eucinta GONCALVES EGLER VULTOS DA GEOGRAFIA DO BRASIL Aarao Reis, Davip Penna Aarko Reis COMENTARIOS Contribuicdo para o Problema da Séca, PAULO VACELER A Atual Séca Nordestina, J) Sampato Ferraz Crescimento da Populagiio do Estado do Rio de Janeiro, Euza Comino pe Sousa Kenuer NOTICIARIO JI CONGRESSO NACIONAL DE MUNICIPIOS BRASILEIROS NIVELAMENTO DE ALTA PRECISAO XVII CONGRESSO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA 123, 154 186 162 165 170 176 178 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA Ano xv | JANEIRO - MARCO DE 1953 [ Nei LIMITES MERIDIONAIS E ORIENTAIS DA AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA EM TERRITORIO BRASILEIRO * Liscto pe Castro Soares GoGgmfo do Gonselho Nacional de Gengrafin INTRODUCAO O presente trabalho é 0 segund Geogiatia & Camara dos Deputade do Plano de Valoriza do Ambito geogrittico da 1 © plano de valorizagao econdmica da Amazdnia, previsto no « io de 1946, que estabelece o seguinte: zagao Econdmica da Amazénia, a Unido aplicard, durante, pelo menos, vinte anos consecutivos, quantia néo inferior a tés por cento da sua renda tributdria Pardgrafo tmico ~ Os estadas ¢ os territérios daqucla regio, bem como os respectivos municipios, reservardo para 0 mesmo fin, anualmente, tes por cento das suas rendas tributérias. Os recursos de que trata éste pardgiafo sero aplicados por intermédio do Goveino Federal”. No primeiro, elaborado em 1948 ¢ intitulado “Delimitagio da Amazénia 1, chegamos, com a adogio de wn tado, A configmagéo tenitoial da dea do nosso 9 apresentado pelo Conselha Nacional de por solicitagéo da sua Comissiio Especial io Econdmica da mazénia, interessada na determinacio giao do tenitdrio bnasileno onde deverd ser executado t 199 da Cons- “Na execucio do Plano de Vatori- paa fins de planejamento econémico” aaitéio que julgames ac tenitério que deveria ser considerada amazénica, paa o fim especial do plane- jamento da sua valoizagio e ecuperagao econdmica Tal aiitaio nio se prendia rigidamente a nenhum ponto de vista simplista, mas consideava um. conjunto de fatéres, tais como: os limites alé entio conhecidos (e em giande pate hipotéticos) da flo fa amazdnica; o diviso. de Aguas da bacia amazdnica; * Deixo aqui teyistiade @ men sincera agiadecimenty aos colesas da Divisio de Geogratia lo Comtho Nacional de Georrafia, yeigralos Auonn Macxanst, Ronameo Fr kia Causéeano Gauvao. Mania Gosuine Vetoso © AxiOvin Tayxema Guenna, da Seegio Regional Notte, Epoan Kyau san © Stmmori0 Faissur, dn Soveio Rogionel Gentro-Ocste, c, Mrcurs Anves oe Linea, da Seo Geogeitioos, em como, aos colegas auxiliaes-de-gedgiafo Mansa Maparmxa Virima Pisro © Lule Funwaxno Raréso FonTEsrrt, ¢, a0 téonico em fotografia Toms Sonreo, pelo inestimivel quxilio que me prestaran, uns collgindo parte da oxteusa bibliagrafia consultada, ontwes elaborando mapas de voweta vos de reconhuelmente dave io de Rstudos do fotwgratias aéreas, ©, quase todos, acompanhando-me aos ariseados Angin nos estados de Mato Grosso, Goiis, Pari © Maranhtio © nos territé- 10 através da interpret Hos do Gusporé © Acie 1 Liew ou Casino Soanns — “Delimitagie da Amazinia pata fins de planejamento econdaaic Neo Bras de Geogvafia, ano X, n° 2, 1949 Pag 3 — Janoiro-Maieo de 1953, 4 REVISTA BRASILELRA DE GEOGRAFIA as zonas de influéncia dos centios econdmicos da Amazénia na regio Centio- -Oeste; a necessidade de desenvolver a grande area despovoada existente entre a Hiléia Amazénica e a drea ja ocupada, se bem que fracamente, do Planalto Contial; ¢, as grandes vias de acesso terreste & Amazénia, pelas quais também se realizad a conquista efetiva daquela, integiando-a na economia e na vida cultmal do Brasil {sgh i ei io ws U/OF eat Fig 1 —~ Area do temitorio brasileino detimitada em 1948, pelo Conselho Nacional de Geografia, para fins de planejamento econdmid da Amasonia Esta delimitagao nao ea, pois, exclusivamente a da regiio geografica amazdnica 2, mas abrangia também algumas sueas dos estados de Mato Grosso, Goiés ¢ Maanhio, que Ihes sio contiguas on que a ela esto econdmicamente ligadas: a valorizagio econdmica dessas creas conconeria, conseqiientemente, paa a da Amazonia propriamente dita Ein oli de 16/1/1948, 0 presklente da Comissio Expeeial do Plano de Valorizagio Beondimiea da Amnzdnia, da Cimare dos Deputades, deputade Leoro.oo Pints, inspitador do referido art 198, soliciton a0 Consetho Nacional de Geogratia a colaboiacio déste dree, que consistiin em um estudo sdbre os oritérios mais iacionais para x delimitugdo da reyiio compreendid coma amazéniea, para fing de planejamento econdmico”” Pig 4 — Janelio-Margo de 1953 AREA DE OCORRENGIA DA FLORESTA AMAZONICA 5 ‘A delimitagéo apresentada em 1948 pelo Conselho Nacional de Geogiafia ¢ elaborada dentro do critério a que aludimos, foi, porém, rejeitada pela prdpria Comissiio do Plano de Valosizagio Econémica da Amazonia, por incluir dieas que, pela sua fisiografia e economia, nd pertencem a regio, fugindo, assim, a0 esphrito daquele mtigo constitucional, que visa a valorizagio e 1ecuperacio econdémica da diea geogifica do nosso tenitério denominada Amazénia Devido as consideiagdes a esse 1espeito contidas no longo e bem documentado parecer do ielator da Comissio de Constituigao e Justica, deputado Epvanno Duvivien, foi entao apresentado um substitutivo conjunto destas duas comissées pala mentazes, a0 projeto de lei 267-B/48, cujo art 2° passon a ter a seguinte 1e- dagio: “Amazdnia, nos térmos da presente lei, é a regido que defionta o Aildntico ¢ tem, como eiro, 0 rio Amazonas, e, por limite, ao norte, as Guianas ¢ a Venezuela, ao oeste, a Colémbia ¢ 0 Peru, ao sul, a Bolivia, até o limite ealremo sul do territério do Guaporé e, ainda ao sul ¢ em diregto geral a leste, a linha da floresta tipica da Hiléia Amazénica Pardgiafo tinico O Poder Exe cutivo, dentro em 30 dias, a paitir da publicagio desta lei, nomeard wna comisséo de cinco cientistas, a cuja disposicao pord seus servicos de aerotopogiafia, a fim de ser determinada e tragada, em mapa, « referida linha, 0 que deverd, essa comissio ter concluido, no prazo mdximo de cento e vinte dias” © intuito da delimitagio da regito amazénica, para fins de planejamento s da sua formagio vegetal predo- minante e caracteristica — a floresta hileiana, foi o de chcunsciever o dmbito desta regiio & area geografica déste seu mais expressivo elemento fisiogrdico, que 1eflete o seu clima e condiciona a sua economia tipica, deter conseqiientemente, os diversos géneios de vida desta regio Com isso, desojou aquela comissio parlamentar restringi a regiao amazdnica ao seu prdprio fmbito geogrifico, evitando que o seu conceito fdsse estendido a outias éreas do Cen- tro-Oeste ¢ do Nordeste biasileitos, que, pela contigitidade territorial, mantém com ela certas interdependéncias econémicas Tais éicas contiguas e econd- amente dependentes foram inchidas, na delimitagio que apresentamos em 1948, na érea que deveria ser considerada como amazdnica para fins de plane- jamento econdmico e ondmico, pelas olas meridionais e orienta minando, mi Publicado o projeto (n° 267-C/1948), portador da emenda Duvivier, a Seeeio Regional Noite da Divisio de Geografia do GN G , de 0, pon iniciativa prdpria, aos estudos pata a determinagdo clos limites meridionais ¢ oiientais da area nasileina de oconéncia da floesta amazénica, tendo em mira © tragado “da fimbria da floresta tipica da Hiléia Amazénicu”, que deveria ser “oportunamente demarcada”, couforme o pardgrafo tinico do mt 2.° do reterido piojeto intel ‘Tendo conhecimento de que a Divisio de Geografia estava empseendendo tais estudos, a Comissio Parlamentar do Plano de Valorizagio Eeondmica da Amazdnia, dirigiu-se, por intamédio da Seactaria da Cimaa dos Deputados, em maio de 1951, a0 Conselho Nacional de Geografia, solicitando-the, 0 apres- samento da conclusio do trabalho, considerado por aquela Comissio, “de grande utilidade para esclaecimento dos debates naqnela Comissio, quanto & 4rea verdadeiramente amazénica das unidades que parcialmente sto consi- deradas integrantes da regio”. Pag 5 — Janetro-Marco de 1953, 6 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA Sdmente em principios de 1952 péde éste estudo ser terminado, sendo, em fevereiro déste ano, enviado 4 Camara dos Deputados um Relatério Prelimi- nar *, no qual foi apresentada a delimitagao solicitada, isto ¢, a demarcagio da referida “fimbria”, meridional e oriental da “floresta tipica da hiléia ama- zonica” Na primeira parte do presente trabalho apresentamps, finalmente, de ma- neira pormenorizada e completa, 0 resultado de nosso estudo, dividido em ca- pitulos que versam sobre o objeto principal do trabalho, seu plano, método & natureza; uma caracterizagao fitofisiondmica da floresta amazénica; uma descri- gao comentada dos limites da sua area de ocorréncia nas unidades federadas onde a mesma confina com outras formagdes vegetais nfio amazénicas; um cal- culo planimétrico da area de ocorréncia da floresta amazénica dentro de nossas fronteiras; a relagio dos municipios abrangidos por esta rea, bem como, a dis- tribuigao da populagao e principais caracteristicas econdmicas da mesma; as conchusdes finais; e, a lista da documentacao eserita de que nos utilizamos para elaborar © presente trabalho. A sua segunda parte consta de dois estudos que interessam ao assunto: uma monografia sdbre os limites floristicos da Amazénia Maranhense, especialmente elaborada, 2 nosso pedido, pelo botinico Dr. Rr carpo Lemos Frors, para servir de subsidio cientifico a éste trabalho; um li- geiro estudo sobre a evolugio dos limites meridionais e orientais da flora e vegetacio amazénicas; ©, um comentario sébre a delimitagio, finalmente apro- vada por lei, da area onde serA cxecutado o Plano de Valorizagio Econdémica da Amazonia. PRIMEIRA PARTE, OBJETIVO PRINCIPAL DA DELIMITACAO, “A Amazonia Brasileira para efeito do Plano definido nesta lei, abrange a regio compreendida pelos estados do Pari e do Amazonas, pelos territdrios federais do Acre, Amapa, Guaporé e Rio Branco e, ainda, a parte do estado de Mato Grosso que vai até o paralelo de 16°, do estado de Goiis, 20 norte do paralelo 12°, e do Maranbio, 2 oeste do meridiano de 44°, sendo a linha de limites nesses trés estados determinada pela fimbria da flo- resta tipica da Hiléia AmazOnica, que for demarcada”’. Artigo 2° do projeto de lei n.? 267-C, de 1948, da Cémara dos Deputados, que dispée sébre 0 Plano de Valorizactio Eco- némica da Amazénia, A primeira preocupagio que se deve ter ao fazer-se um planejamento regional, seja qual for a sua natureza, é necessiriamente, a de determinar a ca onde ésse planejamento serd levado a efcito. Keconheeendo a importineia déste principio basico e verdadeiro, a Co- Parkumentar encarregada da elaboracio do plano de recuperagio ¢ \alorizagie econdmica da regiao amazonica (de acérdo com 0 que determina © citulo art, 199 da Constituigdo), houve por bem solicitar ao Instituto Brasileiro de Geoxratia co Estatistica, a delimitagao daquela grande regiao geografica do nosso territérie, conhecida como Amazénia Brasileira, ou simplesmente Annarsenier. sel im Didier Comgarsso, de 18 Pag. 6 — Janeiro-Mareo de 1952 AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA 1 Sendo esta uma tarefa de cardter essencialmente geogrifico, coube ao Conselho Nacional de Geogtafia, um dos érgios integrantes do 1.B GE, 0 encargo de a executar Possuindo recursos ¢ pessoal técnico na sua Divisio de Geogafia, e, nesta, uma secgSo especializada em estudos geograficos da regio norte do pats (Seccio Regional Noite), teve assim 0 C N G uma feliz opor- tunidade de cumpiir, mais uma vez, uma de suas mais elevadas finalidades, que é a de servi & administiagio piblica, realizando trabalhos geograticos do interésse desta A delimitagio de uma determinada area, para fins de planejamento, deve obedecer a um critério que mais se coadune com os objetivos do planejamento. No presente caso, a Comissio Especial do Plano de Valotizagio Econdmica da Amazénia decidiu ser a floresta amazénica 0 elemento mais indicado para de- finir a regiio onde ésse importante plano de valorizagao deverd ser realizado, tendo em vista que a vida econémica da Amazdnia esté, em seus diversos a tipica aspectos, intimamente relacionada com a sua flor Uma vez fixado 0 critério que definiria a regido a ser valor pois, © problema da sua delimitagio Examinando os recursos de que dispi- nhamos no Conselho Nacional de Geografia para tragar os limites meridionais e o1ientais da Area de ocoréncia da floresta amazénica em tenitério brasileiro, concluimos que éste trabalho teria de ser feito, patte no gabinete e parte no campo ada, smgiu, PLANO E METODO DO TRABALHO TRABALHOS DE GABINETE, A primeira fase dos trabalhos de gabinete constou da inteipretagio de fotografias aéreas existentes no Conselho Nacional de Geografia (tiadas com proceso “trimetrogon”, pela Férca Aérea Americana, em 1942) que cobriam trechos do tenitério nacional onde suptinhamos estarem os limites meridionais © orientais da grande area de ocoréncia da floresta amazénica A interpretagdo destas fotografias nos deu, com satisfatéria precisiio, os limites das penetragdes da floresta amazénica em ceitas porgées dos estados de Mato Grosso, Goids e Maranhiio ¢ duma pate do tenitério do Guaporé (catograma da Fig, 2 e mapas fitofisiondmicos que acompanham éste trabalho) Da interpretagio das aerofotos “timetrogon”, examinadas num total de 8408 (cobrindo a Area fotografada cérca de 500 mil quilémetios quadiados), resultaram 5 mapas fitofisiondmicos, nas ‘escalas de 1: 500000 ¢ 1: 1000000. ‘Tais mapas abrangem as regides: nordeste do teriitério do Guaporé; noite do estado de Goids; sudoeste do estado do Pard; noroeste, oeste, sudoeste ¢ central do estado do Maranhdo; bem como, as porgdes do tenitério matogrossense vompreendidas entre os rios Xingu e Teles Pires, e, entie éste ultimo e 0 rio Araguaia (Figs. 18, 55 ¢ 72). Pig 1 — Japetro-Margo de 1953, e REVISTA BRASILEIRA DEY GEOGRAFIA Estes cinco mapas estio reunidos em trés nas escalas de 1: 1000000, 1: 1500000 © 1: 20002000 Néles esto distinguidas apenas as formagdes flo- restais ¢ as campesties, bem como, as que no pudemos identificar, provivel- imente formagGes intermedifaias ou de transigio A nossa preocupagio em re- presenta principalmente as formagées campestes ¢ florestais, fmdamenta-se na utilidade que esta distingio pode oferecer & colonizacao, agricultma, comu- nicagdes tenestres e aéieas e outos emprcendimentos de natureza econdinica * Para a organizagio déstes mapas fitofisionémicos (no que diz respeito & escolha da escala dos mesmos € A selecdo das formacées vegetais a serem néles representadas) procuamos seguit as 1ecomendagées feitas para a claboragio de um novo mapa de vegetagio de nosso pais *, pelo eniinente gedgrafo ¢ sandoso mestie Prof Leo Waren O fato destas fotografias nio cohirem téda a faixa limitiofe da foesta amazénica, muito dificultou e retardou 0 nosso habalho, 1estingindo, por outio lado, a sta exatidao Apesar do método de interpretagio de fotogiafias aéicas ter sido, segundo. © Prof Watwer, utilizado pelos emopeus desde logo apés a primeha guerra mundial — primeitamente pelos ingléses no Canada, Birminia, Rodésia ¢ Amé- rien Central pata fins de explotacao florestal, e, posteriormente, com 0 objetivo da organizagao de mapas fitogeogdficos para estudo do uso da tena, pelos holandeses, na Nova Guiné e na Guiana® — sdmente a partir de uns 5 anos para cd @ste método passon a ser aplicado no Brasil, no Conselho Nacional de Geografia, onde foram elaborados mapas de vegetago com auxilio de aerofotos de alguns estacos sulinos (Parané ¢ Rio Giande do Sul), e, mais ,eceutemente (1949), um mapa da vegetagio original das regides Cental, Sul e da Mata, do estado de Minas Gerais As fotografias acieas sao particularmente uteis para o 1cconhecimento de aegides desconhecidas ou de dificil acesso tenestre Em seu artigo “The Nosthern Alaskan Coastal Plain Interpreted fiom Aerial Photographs”, Epwaxp CG Canor di-nos un exemplo dessa utilidade, ao afirmar que 0 estudo da fisio~ gtafia da regio costcia setenbional do tenitério do Alasca, sdmente foi tor- nado possivel com o auxflio de Fotografias aéreas? 3 conttasto entic a mats @ © campo desompentand sempio um papel decisive ealtura ¢ na colunizacio do Brasil Por isso, a remesentagho cartogeifiea déstes dois pas de vescingio © de solos constitu um poblems fimdamnental da yeowiafin sistemitica do pals’ escieven Luo Wasus, em getagio do Brasil” (Reo Bras de Geowvafla, seu comentério “A clabaagio de um nove mapa do v ne 2 yp Las-144) © Referindo-se ao asninto, estroven Wann: Sendo, porim, vantivel nosso coulieclwnento topos feo © Hilogeogitica pma dilerentes sexes da Brasil, fo é possivel faver-so vm mapa do vewetagko satisfat6rio amuina exeala s6 para © pals inteizo Nas reyifes mais eonbecidas pode ser adotada uma scala mator, come a de 1:500000, devendo entretento serom usadns nas egies menos mbueidas fesealas menoies, coma as de 121000000 on 12000000 © ainda menoses O mya deve tazer apenas as giandes areas de vewetacio, principalmente a distibuigio de mata © campo Os tipos de vogetigio secundiria © outs ocoréncias 56 devem ser representadas em casos especial (Op cit, pp 901-02) # lid, p 302 © Ronan, Dona A — Vavize, Rawa — Varvenpe, Onraxno — “Mapa da ‘vezetapio original as regies Contral, Sul ¢ da Mats, do estado de Minas Gerais", Compe Rendu du XVIe Congrés International de Géographie, Lisbonne, 1949, pp 881-47 T Ksoreve ete antor: “The northern Aliskan constal region, almost untraversable, has seldom been visited, and its exploration has been practically confined to the river valleys Recently, however, aerial photographs fos made possible tho first complete mapping of this region and provided a perspective, heretofore Jacking, of its physlogaphy"" (Op cit, The Geographical Review, October 1947, P 639) Pag 8 — Janelro-Marco de 1953, AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA 8 Os mapas fitofisiondmicos que ilustram éste trabalho foram organizados pelos gedgrafos da Seecao Regional Norte, da Divisio de Geografia do C N G Auceo Macnanini e Rosenro FrAvio Crisrorano Gatvio, sob a nossa orien- tagiio Foi também realizada no gabinete demorada pesquisa biblio-caitogdfica, em relatérios ¢ demais obras de naturalistas, geélogos, botinicos, biogedgrafos. cexploradores © viajantes, com a finalidade de obter-se informagSes sobre os contactos da floresta amazénica com os tipos de vegetag&o caractenisticos das regides Centro-Oeste e Nordeste, nas 1egiées n&o cobertas pelas fotogiafias aéreas No seu artigo “A elaboracio de um mapa de vegetagio do Brasil”, 0 Prof Warnxz. tece consideragées sébre o antigo método da utilizagio das descrigdes de viagem e caminhamentos, para a distribuigio geogrifica dos tipos de vegetacio, método em que também se baseou Gonzaca ps Campos paa claboia: o seu mapa “Mata e campos no Brasil”, publicado em 1911 Utilizamos éste método, com algum proveito, em certas Areas limitiofes da mata amazdnica (principalmente no estado do Maranhao) das quais nao dispinha- mos de fotografias aéreas Na pesquisa biblio-cartografica, que constou da consulta pormenorizada de 141 obras, tomaram parte os seguintes gedgrafos da Divisio de Geografia do CNG: Atceo Macnanmr, Cravpr Paut, Courper, Marina Gostinc Vel Liicto pe Castro Soares, Roperro FiAvio Crisréraro Gatvio ¢ Sp Fatssos, bem como, os auxiliares-de-gedgrafo Manta Mapatena Viema Prvro e Lufs Frnwanno Rapéso Fontenene ‘TRABALHOS DE CAMPO Nao oferecendo a pesquisa biblio-cartogrdfica elementos suficientes que nos peimitissem determinar os limites onientais e meridionais da diea ae oconéneia da floresta amazdnica, nas regides do nosso territério nao fotogra- fadas pelo proceso “trimetiogon” (ver cartograma da Fig 2) tivemos que Jangar mao do imico recurso disponivel para tiagar éstes limites: 0 reconhec mento aéreo Gragas a inestimavel cooperagio do Ministério da Aerondutica®, que, atendendo a uma solicitagio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica, pos A disposigio do Conselho Nacional de Geografia dois avides “Douglas” G-47, do Coneio Aéreo Nacional, e um aviio “Catalina” PBY-120, da base aéiea de Belém, pudemos realizar uma série de vos de reconhecimento sdbre regi do territério nacional inacessiveis por via tetrestre e sem cobertura aero-foto- grfica. s Tais reconhecimentos aéieos — realizados em 8 grandes excursées nos meses de junho, julho e agésto de 1951 e numa excusio complementar em se- tembro de 1952 — somaram 74 horas de véo, correspondentes a 17500 quilé- © A. Péxca Aérea Brasileira, em sinal de agrdecimento pela valiosa cooperagio’ presta Consetho Nacional de Geografia, através do Comando de Transporte Aéeo e da L* Zona Aéro A meméria de seus dignos ofieiis, major-aviador Groncys Manzixs Tenamma, capitio-aviador Auvano Avsuns oe Avie e¢ 19 tenenteaviador Auusuro Batisra DA Sizva, nossos bons amigos e com- anheitos de vor de reconhecimento, dedicamos éste trabalho Pig 9 ~— Janetro-Margo de 1953, 10 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAYIA metros de s0tas perconidas Constituiram @stes vos de reconhecimento uma tarefa aniscada, pelo fato da quase totalidade das zonas sobevoadas, além de serem cobeitas, em sua maioria, por floresta densa e de possuinem carto- gratia deficientissima — sendo, portanto, praticamente desconhecidas * — estarem fora das iotas 1egulaes de navegagio aéiea, néo dispondo, por esta razio, de nenhum servigo de protegio ao véo Pondo em pritica um processo de observagio adiea dos tipos de vegetacio por nds idealizado * e experimentado numa excmsao adiea preparatéria, no estado de Mato Grosso e tenitério do Guapoé, conseguimos marca sobre as iotas perconidas, grande parte dos limites meridionais e mientais da floesta amazénica, nas areas sohevoadas (ver caitogiama dos véos de reconheci- mento, Fig 2) Participaain déstes vdos de 1econhecimento, tazendo observagdes segundo éste processo, os seguintes gedgiafos da Divisio de Geogiafia do © N G Lécro pe Casino Soanns, RoBerro FLAvio Crisroraro Garvao, Evcar Kunn- MANN, Sreamtdo Farssou, Manitta Gostinc VrLoso, Avceo MacNantny, Ani6- sto Trixema Guerra e Micurn Auvrs pe Lita Processo semelhante de observagio aéiea foi empregado, em 1950, pelo en- genheio Fnevenico Monkey, da Fnndagio Brasil Cential, com 0 objetivo de fazer um reconhecimento aio da vasta € inacessivel 1egiio desconhecida do nosso tenitéiio, compieendida entic os paraiclos de 8° e 12° S$ e ent os rios Xingu e Teles Pives, para facilita, a penetuagio empreendida pela F BC , com a finalidade do estabelecimento, naquela 1egiao, de campos dle pouso a serem utilizados na iota aéiea Rio-Manaus Com as suas obseivagGes adieas, éste técnico péde fazer excelente reconhecimento geogritico das zonas por éle so- brevoadas ¥, 9 qual mnito o auxilion a claborar um mapa acrofotogiamétiico, oiganizado com as mesmas aciototos “timetogon” por nds utilizadas na iden- tificagio das formagées vegetais nela oconentes, da qual sesulton um dos mapas fitofisiondmicos que acompanham o presente trabalho Nossos tiabalhos de campo compreenderam ainda tés excmsdes tenestes de 1econhecimento geogratico A primeia delas se efetuou ao norte de Mato Grosso, com o fito de es- tudar a ocouéncia da economia tipicamente amazénica — a da extragio da bonacha — nos prolongamentos mais meridionais da flovesta hileiana das cabe- ceiias dos altos formadores dos rios Teles Pies ¢ Juuena Nesta longa excursio pelo noite matogrossense, visitamos os seringais dos altos vales dos 1i0s Novo (formado: do Arinos) € Beija-Flor (uibutario do Teles Pies) Participaram desta exemsio os geégiafos Epcarn KumiMann, Lticio ve Casrro Soars, Ma- nitta Gostina VeLoso ¢ Rowerro FLAvio Crisiérano Gaxvao, resultando da mesma um trabalho intitulado “A explotagao da bouacha na regio dos altos © 0 Brasil 6 mm das poncos valves do Gluhn qua possni dentro de pelo homen citizade, chegando até ponte de nto se saber se J, cule os patslelne de 8 © 12" S, as fhontelras uma ampla “rea de teas jamais palmilha ndlas habitam thos fudigenns Esta sew situada, de modo fe enke os rior Xingu ¢ Telos Phos’ (F Hourasx — “Ubilzagio das fologialins aéieas was exploingses Reomiticns’” Reo Bras de Geogfia, ano XI, n° 2, 1950, p 251) 3 Lécio me Casrao Soaaes ~ Process de obvervacdo area para identificagto de formacées vegetais (marcagio de tipas de vegetagio ao longo de uma rola aésea) Tnédlito M_ Vex, désse autor, 0 aitigo “Ubilizagio, das fotogenfias adreas mas exploragies geoguificns”, Rev Bras de Geografia, ano XM, n° 2, 1950 Pg 10 — Janelro-Margo de 1959 ARBA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA a formadores dos rios Arinos ¢ Teles Pires (Mato Grosso)”, da autoria do gedgrafo Makritta G. VeLoso publicado no n.’ 4, ano XIV, desta revista As duas tiltimas excursées terrestres foram realizadas em setembro de 1952, uma na regio compreendida entre os rios Araguaia ¢ das Mortes (Mato Gros- so), a0 longo da estrada de 1odagem que liga Batra-do-Garcas a Xavantina, e outra, na iegiio conhecida por Serra do Cachimbo (SW do Para e N de Mato Grosso), onde a Fundagao Brasil Central construiu um campo de pouso, situado A maigem direita do brago norte do rio Peixoto de Azevedo, afluente do Teles Pires Estas excursées foram conjugadas com reconhecimentos aézeos, entre o Alto Xingu e a confluéncia do Juruena com o Teles Pires (no inicio do rio Tapsjés) ¢ entic Atagargas ¢ a regitio dos formadores do Xingu, para contidle da identi- ficagao das formacbes vegetais feita por meio das fotografias aéreas “trimetro- gon” que cohnem éste techo do territério (vide cartogiama da Fig 2) Déste tuabalho de campo participaam o autor e 0 auxilia-de-gedgrafo Maria Mapauena Viema Pinto. NATUREZA DO TRABALHO “fiquatorial sainfosest is supposed to present the acme of he- terogeneausness and to escape all definition but the physiognomic’ Panne DaNseneav Como ficou evidenciado paginas atras, procuramos identificar a floresta amazdnica e determinar 0 seu Ambito geogrifico pelo aspecto de conjunto ou fisionomia da sua flora, isto é, pelo seu “facies floristico ou fitofisionomia”, na expressfio de A J. SaMpato Este meio parece ser 0 mais recomendivel, pois, segundo a opinitio aba- lizada do biogedgiafo canadense Prerrr DanseReav, a floresta tropical chavosa, ¢, paticularmente, a sua variedade equatorial — considerada a formagio florestal que apiesenta o maior grau de heterogeneidade até hoje conhecido ~ nao pode ser definida seniio do ponto de vista fisionémico * ‘Tendo em vista os processos de que langamos mo para identificar a flo- resta amazOnica (observagao aérea direta e utilizagdo de fotografias aéreas) © presente trabalho pode ser considerado como um estudo fitogeogrifico, tra- tando, principalmente, da identificagao, pelo aspecto de conjunto ou fisionomia (facies floristico) de uma formagao vegetal ou dum tipo de vegetacao, e, da distibuigio geografica do mesmo, donde ser, em dltima andlise, um trabalho fitofisiondmico Este trabalho preliminar néo é, pois, um estudo da flora da regio ama- zénica (estudo da algada exclusiva dos botinicos), mas um ensaio de caracte- tizagao fisionémica da sua vegetagio predominante e da determinagao da area geografica desta, em territério hasileiro Trata-se, assim, da delimitagéo da drea de ocorréncia — continua ou inter- calada com outras formagées nao florestais, amaxénicas ou ndo — em nosso 52 Sanmraro, A J. — “A Flora Amazénica’’, Rev Bras de Geografia, ano IV, n® 2, 1942, p 921 3 "The distribution and structure of Brazilian forests", Bulletin du Service de Biogeographic, Université de Montreal, n° 8, Mars 1940, pp 261-277 Pég 11 — Janeito-Marco de 1983 2 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA territdrio da formacao vegetal predominante e caracteristica da regido noite do Brasil on Amazdnia Brasileia, isto 6, a floresta ou Hildia Amazdnica, e nio do estudo das associagdes florestais desta regio, donde, por conseguinte, 0 scu cumho googidfico A distingao entre formagiio e associagéo vegetal, outora pouco claa, toi perfeitamente estabelecida ha 20 anos atds por Gaussen ', e, mais recente mente (1944), por VanameRbexcs, que assim detine, distinguindo-os, éstes dois campos de estudo do revestimento vegetal teneste: “A associagao constitui pleocupagdes do botiinico: sdmente a formagao é geogratica” * A FLORESTA AMAZONICA “Lrunité physiononiique d'un paysage provient de que taines plantes se repétant bes féquemment lui impriment me ale patticuliéae” “Yeusanible forme un goupement homogene appelé fore” “11 ya Bun fait essentiol qui dome & ta notion de forma- tion” une aéalité indéniable La eause doit en eve recherehse surtout dans action dn milliew” “Leétude des formations est done foulamental pore Te 60- gaphe” Hexnt Gaussex A grande tormaciio vegetal que cobie quase totalmente a regifio amazdnica € um tipo da floresta que, na classiticagio fitogeogratica geral, tem a denomi- nagio de floresta tropical, encontiada nas zonas de clima quente, tanide © de clevada precipitago pluviométrica do nosso planéta (Américas do Sul ¢ Cen- tual, Antilbas, Ahica, Asia e Insulindia), razio pela qual é denominada tro- pical rainforest (Hovesta pluvial dos tépicos) na nomenclatua titogeogrittica inglésa Na divisao botinica de ENctmy, a flovesta amazdnica esti compieen- dida uas duas grandes classes de vegetacéo por éle denominadas hid dfila (vegetagiio que se desenvolve em Ingares de abundante umidade atmostévica, Anes sont Te Jiste de plantes: Ghdier Ia flowe un ays est Gtudion In liste de plantes ‘awe ¥ habitent Ce rest mas da meme chose ane Péaide do la véxetation ow Ton baits de oupements lays odes wégetausx avue Tes comelctions div milion” — 4 des wssueiations \éactales, des relat (Cesar Gavssis, Geographic des Plantes, p75) % I convient tt ce dernier propos de distinguer nettement dens uotions: celle @assneiation et celle de fermatinn On a defini 18 memi&re (ef p86), coineklence dans espace de deux ow de plasiens spices” Got TA adalité ne notion pmement botanique, puisan’elle fait allusion i I composition floistique du giuncmeut Les hotanistes ont dailons Mubitude de nommer association par le nom de Pespes prideminuite — Copendant, cette classification ne fait pas Ia pat de Paspect extdrieur de ly véyétation Os, cot aspect aépend om sonde partic des condictions de milion vonsidérées au sens lnige, cestivdite das Ie cide des giamdes régions climatiques et édaphigues L’aspeet des grandes finéts équatoriales est géoqgaphiqnement Je mime en Amuroniv, en Aftiqne Centrale, en Insuliude Si elles sont différentes au point de yue des associations végétales qui I commposent, Cest-icdite au point de vue de leur composition Hlosistique, elles offrent eependamt partout Ja méme densité estraoidinaize, Ix _méme superposition d’étages de vegetation, Je meme aspeet toujours vert résultant du earactéxe apésiodique de ln chute des feuilles La forét équatoriale est une formation végétate; Ja fandt antique, le WalUtade en sont aautvos LTassoviation whe des préoeupations ‘du botauiste: some la formation est géogeapbiquo” (Manoet, Vannenenssncx — Initiation & la Géo~ taphie pp 167-8) Pig 12 — Janelro-Marco de 1953 -xonvge svar espe ovo 7 > 0g D DISA ‘DoId}? DoIUgEDWUD DISe10]/ DP DIMOUDIE — f “SE “ REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA giagas As neblinas e nevoeiios de chuvas mais ou menos freqiientes) e hidréfila megatermal (foimagées constituidas de plantas que necessitam paia o seu desenvolvimento, de temperatmas constantemente superiores a 20° C), segundo a classificagéo de pe Canponur. Na Amética do Sul a mata tropical é encontiada, em sua forma mais pujante na bacia amazénica, crescendo nos terenos tmidos da sua vasta planicie sedimentar e dos seus peneplanos de rochas cristalinas antigas, onde ha ceita abundancia de 4gua no subsolo durante todo o ano, em razio da ele- vada pluviosidade, pois, a pequena estiagem observada mesmo na Amazénia, é compensada pelo total anual da queda de chuva, 0 que permite o desenvol- vimento da floesta “Quanto ao macigo venezuelano-guianense — escieve A J Saataro, ao estudar a distiibuigio geogidfiea da foresta topical amazé- nica — vai além désse planalto, descendo pelas suas veitentes, até as bordas das savanas da Venezuela, das Gnianas e da ilha de Trinidad” ** No esto do Brasil cla é ainda encontiada cobrindo giandes areas em muitos techos do litoral atlintico oriental 7 (baixadas ¢ encostas), bem como, sdbie oxtensas superticies do planalto meridional, e nas bacias dos rios Parana, Paraguai e Cuaporé No Planalto Cential constitui gandes manchas, das suas formagées vegetais caracterfsticas (campos limpos ¢ campos cenados), no Tiidngulo Mineiro e em tenitério goiano, onde constitui 0 chamado “mato guosso” de Goids dentio O aspecto da floresta topical nao é 0 mesmo em tédas as latitudes ¢ regibes do globo As diferenciagées fisiondmicas por cla apresentadas parccem deconc: da adaptagfio das suas espécies botinicas a certas condigdes mesolé- gicas, 1egionais e locais, 0 que determina alteragbes de sua estiutma, de sua composigéo floristica e do comportamento fisiolégico de algumas de suas es- pécies Nao fugindo & 1eg)a geral em nosso continente, ela apresenta aspectos ligei- 1amente diferentes, tanto na bacia amazénica, onde tem a sua maior dea de oconéncia, como em outias regides do tenitéio hasileiio Com eteito, em nossos 1econhecimentos adeos e tenestes, pudemos distinguir, do ponto de vista fisiondmico, alguns aspectos principais dessa impoitante formagio flo- restal Um désses aspectos oferecido pelo seu tipo “equatorial” Vista do ai, a chamada floresta equatorial se apresenta como se fésse um imenso e continuo tapéte de aparéncia esponjosa e de cdr veide-escuma, uniforme ¢ mondtono devido ao fato das copas das suas érvores, de alto porte ¢ de folhagem abun- dante e sempre verde (o que the valeu a denominagio de silva sempervirens), se univer umas as outias aproximadamente num mesmo nivel “A floresta amazénica ¢ 0 que se pode conceber de mais assombioso ¢ mondtono Espanta © Sanwaio ~ A Flue Amazdnica, p 813 “Dado 6 sen eimiter exguatorial, & como que ontia “FTylaca’* envulvendo 0 Brasil pela face owiiien”, escrove 0 Prof Lixnar vo B nos Saxros, yeferindose A flmesta tropical que 1ecobre a encosta, oriental atKintien em nosso pats “A sua maior similitede com a “Hylaca” ~ continna este gedeiafo ~ 6 observada nas baixas latitudes; A medida que se estende pain o sul, a diferenciagio em expdcie se acentt, dado © abaixamento da temperntina anédia’” (“Floresta da encosta oriental”, Reo Bras de Geowafia, ano TT, n® 4, p 619) Pag 14 — Janelro-Margo de 1952 AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA pelo inédito do espetéculo A sua monotonia vem da repeticio do mesmo facies botdnico” Em nosso territrio a floresta equatorial 6 encontiada vicejando com a surpreendente exuberdncia que a caracteriza fisiondmicamente, nos tenenos mais baixos — planos ou ondulados, alagiveis ou nfo, mas sempre muito ‘imidos — da bacia amazénica. A chamada mata de vérzea ou “caa-igapd”, é uma de suas variedades: ela se desenvolve nos te1renos possuidores de taxa de umidade mais elevada, isto é na planicie aluvial de inundagio do rio Amazonas e de seus afluentes e subafluentes, que formam a sua vasta e intricada réde hidrogifica J& a outra variedade, a mata de terra-firme ou “caa-cté”, viceja em tenenos menos timidos, por estarem acima do nivel maximo das cheias Fig 4 — Floresta de vérzea, na margem do rio Amazonas (itha Grande de Gurwpd) Foto do autor —~ CN G A existéncia da mata equatorial é devida a um clima altamente chuvoso (precipitagio anual variando de 2000 a 8500 mm), quente (24° a 26° G de temperatura média anual), timido (umidade relativa média de 80 a 98%), i. ¢., a0 clima do tipo equatorial, segundo as classificagSes climéticas de pz Manton © Morvze-Decavo, ¢ Af ¢ Am, da classificagio de Korrren Tal clima, por outro lado, é também responsivel pela multiplicidade de espécies botinicas que apresenta, em profusio, pendendo dos troncos ¢ galhos de suas Arvoies, cuja altura, néo raro, ultrapassa 50 metios, gigantismo ésse resultante da com- peticdo pela luz, dos espécimes que compéem éste tipo de floresta espéssa. Um dos caracteristicos mais individualizadores da floresta equatorial é a sua riqueza botdnica ”. Esta grande formacio constitui, segundo Deronrate: Axons, A — “A floresta do Amazonas" O Campo, ano XVI, n® 146, 1946 Na composicfo das matas amazénicas, ax Jeguminosas constituem, segundo Ducks, 9 familia mais importante entre técas, tanto pelo grande mimero de suas espécies como pelo valor econémico de suas madeiras Pog 15 — Janelro-Margo de 1953 16 REVISTA BRASILEINA DE GEOGRAPIA “um dos mais extizordindtios panoramas vegetais da Tena; ela se distingne por completo das flovestas das zonas temperadas, compostas de algumas espé- cies uniformes, na Amazénia, j se contaraun mais de 4000 espécies arborescentes, enquanto a Emopa téda conta com menos de 200, ¢ cada exploragao no Ama- zonas identifica novas espécies A floresta é um bloco vegetal, de évores litaalmente tomadas de assalto pelos mbustos ¢ pelos parasitas, cipés, onqui- deas Contaram-se j& 80 espécies vegetais vivendo numa sé fivore A “Ama- zonia”, continua éste gedgiafo, “constitui um verdadeio muscu vegetal; museu de vatiedade mas também muscu de antiguidade, pois esta floresta é 0 residuo de formagées florestais que datam das eras tercidrias e talvez mais antigas: ela representa um dos mais antigos panoramas da Terra, mais antigo do que a maioria das costas e montanhas ewopéias” *" Impressionado com a extiaordiniria pujanga, densidade ¢ riqneza fleris- tica da Floresta equatorial, ALexanpne von Iuxmorpr dew as regides onde ela domina o nome de Hilaca (do grégo hylé: floesta densa), denominagao essa mais tade estendida & pidpria Floresta da zona do equador; na América do Sul a Hiléia 6 encontrada nas bacias do Amazonas (a chamada Hiléia Amazé- nica), do Orenoco € dos rios da veitente das Guianas e do litoral amazdnico A fomagio hileiana — identificada pelo giande sibio alemio e individualizador da Geoguafia Botanica — 6 também encontiada na Afvica equatorial (bacia do Congo), segundo ENcner, e, na Insulindia e num techo do Indostio e na Indochina, pelo que ha que distinguir uma hiléia americana, uma hiléia africana e uma hiléia asidtica Essas tés hiléias, além do complexo climato-edifico analogo, tém ainda similitudes ou analogias floristicas, além da mesma exu- berancia floestal e do heteroclitismo; mas nao diferentes pela grande maioia de endemismos ou exclusividades”*" ‘Também no istimo de Panama foi en- contiada uma pequenina mancha hileiana A Horesta amazbnica conesponde ao dominio da Flora Amaxénica, Pro- vineia Amazénica, ou Hiléia Brasileira, dado po. Sampaio na sua classifica- cao floristica do Brasil ®*, modificando ligeiamente a denominagio que lhe foi atibuida po ENGLER em sen sistema fitogeografico mundial, na parte 1efe- aente ao nosso tenitdrio Na sua divisio do Brasil em provincias fitogeogiaficas, Manrrus denominou a iegiio amazdnica Provincia das Ndiades **, levando em conta a grande abun- dincia de Agua encontiada, em razio do sen clima; na classiticagio fMoristica biasileha de Banosa Ropaicues a area de predominio da vegetagio amazénica, emacterizada pela sua floresta tipiea, é chamada de Amazonina uss P — L’Homme of le Favet, Tome Gd, pp 19 @ 1 0 ~ Op city p SM 1 "A Hyinog no & hoje wna fomagio exdusivamente sulamerieana; uma ministma dy flow amazinica foi wecentemente deseoberta por H Prrrizn em regia do Pa ena Afviea Eycren reconhecen uma Hylaea equatorial aficnna (Bxcuzn — Das Pflunzenwelt Afrikas, 1925), de tipo iéntico, mas diversa pela cumposiga Sloustica’” (Saatraro, Fitoycografia do Brasil, p 82) 5 Seqmdo a classificagka de Saxmaro, a “Provinein Arowzdnien” dn flor hrasileha, divide-se em matas alwviais, matas de tena-fhme © eampos-inclusos = *Provins des Amazonenstromes oder Hylaea’? (Een ui-Guse ~ Syllabus der PRlazenfamitien, oa) A floresta equatorial & a fox rare ficas ~ as ndiwles — om que Martius dividin a cobertura vegetal do nosso planéta As nilades abrangem as regiges do Globo quentes 0 dimédas ¢ muita abundantes em dqgua Na Amériea do Sal conresponde & yegito amnazinien fo vogetal que cmacteriat ama das eineo provineias fitoges Pg 16 — saneito-ninrgo de 1953 ° 1 & 5 8 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA A floresta amazénica, como jé dissemos, nem sempre apresenta 0 mesmo aspecto, em téda a sua vasta drea de oconéncia Mesmo no fundo do vale amazénico, onde domina o clima equatorial, de alta pluviosidade, sao encon- tradas giandes areas em que cla nio ostenta a sua tipica exuberincia, ame: sentado um aspecto menos timido Tal aspecto menos timido decone, ali, mais da natureza do solo do que da distribuicio e quantidade anual de chuva. Gom efeito, esta mudanga de fisionomia é obser vada, via de regra, nas dieas onde os te11enos sio constituidos por rochas cuja decomposigao dé solos arenosos altamente permedveis, ou solos rochosos 1as0s, com pequena capacidade de retengio de gua na época de estiagem Exemplos da influéncia da natureza fisica do solo, na modificagho do aspecto da floresta amazOnica so amiticle encontrados mesmo As maigens do 1i0 Amazonas, como regiées cireunvizinhas a Santarém (mata semi-decidua, do tenago arenoso de Santaém, que se estende do 1i0 Amazonas ao 1i0 Tapa- j6s 29, as matas da regitio dos campos de Monte Alege ¢ seas do Fieré e Itand-Juni, dos divisoes Xingu-Araguaia, Xingu-Itacaiunas ¢ Itacaiunas-Araguaia (sena dos Giadatis e da Cachoeira), matas das encostas das seiras dos Pacads- Novos ¢ da encosta da chapada dos Pacis, no vale do Guaporé, para cita sdmente alguns exemplos que pessonlmente tivemos ocasido de conhecer A peda de félhas de ceitas divores da floresta amazdnica net correspond, porém, a uma defesa das mesmas contra a diminuigéo ou falta Agua no solo, dmante a estagho séca (o que lhe empiesta um eater semi -deciduo) pois, tal fato & observado, se bem que em muito menor eseala, nas matas que recobrem tenenos permanentemente timidos do platé tercidrio, dos tenrenos arqueanos de solos profundos ¢ das planicies immdiveis ou vauzeas Como é sabido, isso decone do comportamento fisiolégico de determinadas espécies, que tém um 1epouso prdprio no seu ciclo anual, 0 que no acontece a0 mesmo tempo para tédas as favores que perdem totalmente a sta folhagem “Na selva tropical chuvosa” — escreve Nrweiciy — “podem-se observar, em qualquer perfodo, fivores desprovidas de tolhas emboia por um emto espaco de tempo Pareceria que as pequenas variagdes em intensidade da chuva, que oconem mesmo nos climas caracteristicamente topicais, exeicem tal efeito, mas devido grande variedade de espécies ¢ as numerosas adaptagdes que estas soferam, nao se efetua ao mesmo tempo em tédas as espécies” A floragiio, como a muda de félhas — continua éste autor — ocone também de modo esporddico © niio em uma estagao fixa definida” ** Todavia, 4 medida que a mata amazdnica vai avangando para o sul, em se modificando, mais, porém, em sempre nosso tenitério, sua fisionomia vai també: fungao do clima que do solo Esta mudanga de aspecto é notada prineipalmente na época da estiagem (quando a observamos) e é motivada pela pada das félhas de algumas de suas dtvores mais altas Vista do ar a flor vai dei- xando de apresentar aquéle aspecto de tapéte uniforme e a mesma exuberin- cia da mata equatorial “Obsorvagées geogrificas na Amaxinia”, Para intiores pormenotes ver 0 satiga de Brean Govnow, Primeira paste — Capitulo HI — “Morfolosia c clos da weyito de Santarim — Bolterw”, Reo Bras de Geoguafia, ano XI, n° 3, 1949, yp 866-72 = Maniox T Niwnmicis — Geossafia de Plantas y Antnuales, p 149 Pig 18 — Janelro-Mareo de 1953 19 AREA DE OGORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA D'N'O — omog svwoL oror UauDiUDg 2p apvpio » vaguoou 98 2pu0 mo01 © ow09 woq ‘soucepury os ou foladng oll Op 9) 0 26-94 ‘CUULE OwtID ON “dudsound 2369 Bsemusss0089p ‘93f910010f Dp Dpssnbsa ‘nua.I20 Du Bo210d0 Sub ‘opiod Pind BP “(ul OE1), wlaLo;Ce 2p osjoupid op DIS00Ka vp opIUN DIDU D “OUDIE O1otIAd ON “OPoLsL” OOS ‘NaS 2D DADIOapLIer ypu woo "(us og) WaLDIUDs ep odd.i9} op (OUMIE OUI OM) [DIOIDE DOlUpLOUEE DISVA "9 "SL waavinys P6g 19 — Janciro-Margo de 1953 20 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA Este aspect “menos imido” a que nos referimos, parece decorrer da mu- danga do clima equatorial, de chuvas bem distribufdas, para o clima topical Yimido, porém, com uma pequena estagio séca, cnja dinagio vai aumentando & proporgao qu aproximando do Planalto Central, onde jé predomina o clima topical de savana, caracterizado, quanto ao regime pluviométrico, por duas estagdes bem marcadas, uma séca ¢ outra chuvosa, e de duragio mais ou menos equivalente. © aprecidvel mimero de copas sem félhas dessas Aivores que, pela sua giande altura se destacam do nivel médio da floesta, ficando 0 seu andar superior, dé & mesma win aspecto “menos timido” mais acentuado nessa faixa de a flovesta amazénica vai s contacto climatico Tais copas, que agora perdem em sua maioria as folhas Sea), das maygens do Braco Norte do , a jusante dé cachocita porima do campo de powso da Pundacdo Brasil Central, no chapaddo ‘aa serra do Cacnimbo Notem-se as copes iarejeilas pela perda das folhas durante a No ‘pitmetro plano derrubada reeem-queimada para ‘plantacdo A co) esbranquicada do solo é devida d camade de cinza da quetmada recente Foto Tomas Smo — © na época da estiagem, se concentiam por vez com afastamentos varidveis, impossiveis de serem determinados com exaticiio pela observagio aérea Em estimativa grosseita, calculamos, no entanto, em s, mas via de 1egia, siio dispersas, 10% a ocorréncia destas copas desnudas AREA DE OCORRENCIA DA PLORESTA AMAZONICA a No seu contacto com as formagdes vegetais tipicas do Centro-Oeste, 0 as- pecto da floresta tropical da bacia amazdnica, tomna-se cada vez menos exube- rante, pois, af j4 esta grandemente influenciada pelo clima de prolongada es- tiagem Seu aspecto é 0 de v'a “mata séca” e assume um cardter francamente semi-deciduo quando observada no rigor da estiagem Com esta denominagiio queremos nos referir ao tipo de mata tropical por nés observado, na zona limftrofe da mesma com os campos cerrados, em que os espécimes arbéreos perdem suas folhas em grande porcentagem durante 0 inverno (estagéo séca)*. © aspecto destas formagées florestais na época da estiagem justifica bem ‘a sua denominagiio regional de “mata séca” ou “mato séco”. Com efeito a perda quase que simultinea das folhas de suas érvores mais altas, que possuem copas geralmente esgalhadas e, de folhagem pouco densa, deixando ver, do ar, os seus troncos ¢ galhos finos, faz com que esta mata oferega um aspecto de certo modo “séco”, nada exuberante e pujante, apresentando no seu conjunto uma colaboragao verde-acinzentada, que retrata perfeitamente a pouca umidade do solo em que vegeta Em seu trabalho intitulado “A vegetagdo e 0 uso da terra no Planalto Central” o grande geégrafo alemio Leo H Warner, especialista no estudo da vegetacio tropical, confessando sua dificuldade em classificar éste tipo de flo- ta e em enquadré-lo no sistema da fitogeografia geral ou da América tropical, julga, no entanto poder comparé-lo ao tipo de floresta ao qual J. S. Bean chama de “floresta sazonéria semi-perene”, estudado por éste autor na ilha de Tri- nidad *® A Gste tipo de floresta de cardter acentuadamente semi-deciduo, que os fazendeiros do Planalto Central chamam sugestivamente de “mato séco”, Warset. denominou “mato de segunda classe”, denominagio esta que, como aquela, re- gionalmente usada, corresponde ao tipo de mata que oferece um solo inferior, do ponto de vista do seu aproveitamento agricola, pois, somente os solos flo- restais so utilizados para o cultivo naquela 1egido ®, onde “tanto as terras mata de primeira quanto as de segunda classe so chamadas “terras de cultura” ou, abreviadamente, “cultura” (Warmer, op cit., p. 349) Observamos manchas dessas matas sécas confinando com campos cerrados e matas tmidas bem como com outras formagées transicionais por nés identi- ficadas, provavelmente cerradées ou caatingas altas no extremo norte de Goids, no vale ¢ nas margens do rio Tocantins, entre Carolina e Imperatriz e a leste desta cidade, ja em territério maranhense (entie o Tocantins e 0 Grajati), ocor- rendo geralmente em terrenos de solo pouco tmido, tanto sdbre terragos flu- r de © Esa perda de félhus foi estimada om mais de 80% pelo uedurafo Leo Wamex (ver, désce utor, “A vogetacio © 0 uso da terta no Planalto Central”, Rev Brar de Geogvafia, ano X, n° 3, p 347) ® Assim desoreve Brann éste tipo de floresta: "As espéoies confinadas ao andar inlerior so ‘quase t0das de fOlhas perenes, mas aquelas que atingem s abéhade foliar sio na maioria deciduas Algumas so de folhagem perene com félhas duras, feltrosas; mas a maior parte delas & facultativamente Gecidua, isto 6 9 gra de queda das suas félhns varin segunda a intensidade da séea Num ano Ximido, a floresta pode priticamente nfo perdor féllas Nam ano sco, as copas das frvores vio ficando gradualmente rarefeitas © no fim de uma séea prolongada a absbada foliar aparece priticamento Aospida de fttha uma distineia de mithae” (JS Buano, “Climax Vegetation", Tropical America Ecology, vel XXV, 1944, p 189, traduzido © transcrito por Wamu, Op cit, p 808) © Pritica alls genevaliznda por todo o Brasil Pég 21 — Janeiro-Margo de 1953 2 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA viais e altos, como sdbre chapaddes residuais, ¢ planfcies, encostas de elevages e também em terrenos de topografia suavemente ondulada, As matas-galerias do tépo do chapadao quartzitico conhecido por “serra” do Cachimbo (N de Mato Grosso e SW do Para) sio désse tipo semi-decidual (Fig. 7), 0 mesmo Seu see Fig 8 — Mata semi-decidua (“‘mata-séew”) da planicie de inundacto do rio Pindatba, afluente do’ rio das Montes Queimada para plantacdo, ‘pdcimo ao Acampamenio da Pindatba (futuro niicleo’ de colontzagdo da Fundagdo Brasil’ Central), na estrada Aragarcas-Xavantina Foto Toxas Sono — CNG acontecendo com as que acompanham o rio das Moites ¢ seus afluentes (Fig. 8). Na regio dos campos cerados ela esté sempre ocupando os vales de pequenos e grandes cursos d’4gua, sujeitos A intermiténcia; bem como as suas bacias de recepgio, com a forma de conchas 1asas, denominadas dales pelos gedgiafos ingléses e Dellen pelos alemies, originadas nas encostas suaves de chapadées ¢ espigées cobertos por campos limpos ou cenados, conforme ob- servou WarBeL no Planalto Central * As alteragGes fisionémicas da floresta amazénica, traduzidas ora pela perda das félhas de algumas de suas atvores na época da estiagem, ora pela dimi- nuigao da sua densidade © modificagio da sua composicao floristica, & medida 5 "Nos muatas de segimida classe oeorrem em mumerosas manchas dentro da frea de campo mas cabeceiras dos edrzegos onde 0 creeping @ a erosio de fontes formam deprestes rasns, chamadas — Dellen fem alemfo As florestas que cobrom essas Dellon chamam-se capes © so verdadeirs thas do mata dentro do mar de campos” (Op cit, p 345) Ver também no mesmo autor, “Uma viagem de reco- hecimento no sul de Goiis”” (Rev Brus de Geografia, ano IX, n° 8, 1947, p 819, para melhor re feréncia ie dates no Planalto Central Pig 22 — Janelro-Margo de 1953 AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA 23 que ela vai progredindo para o sul, deve-se no somente & mudanga climética (diminuigao da durag&o da estagio chuvosa), mas também A natureza do solo, que igualmente se vai modificando. Fig 9 — Campo natural ao norte @ présimo da cidade de Monte Alege (Pard), exemplo do que SaMraro denominou areas campesiies Inclusas na floesta amazdnioa Poto Tomas Sono — CNG Com efeito, & proporgéo que a flovesta amazOnica avanga para o sul, vai galgando o Planalto Central do Buasil, formado principalmente por terrenos sedimentares antigos (paleozdicos e mesozdicos) que dio origem a solos muito permeaveis, incapazes de reter, durante a estiagem, wna quantidade de agua das chuvas suficiente para mante1, na sua pujanga caracteristica, uma floresta higrofila por exeeléncia, donde aparecem em certos pontos da parte meridional da bacia amazénica manchas de mata tropical de aspecto menos exuberante. Apesar dos conhecimentos geolégicos da é.eas onde ocorre a floresta ama- zénica serem ainda muito precarios (devido A sua inaccessibilidade), nota-se, no entanto, uma grosseira concordincia desta diea — especialmente no norte de Mato Grosso — com as das supostas exposigdes, (nesta regio matogrossense), de tetrenos de embasamento cristalino (1ochas arqueanas) do complexo crista- lino brasileiro), como se pode ver no mapa geoldgico editado, em 1942, pelo Servigo Geolégico e Mineralégico do Brasil. Estes terrenos, constitufdos geralmente por arenitos extremamente porosos, formam grandes e extensos chapaddes, preservados uns, a julgar pelos seus topos planos € pouco recortados, e, fortemente dissecados outros, transformados ja num relévo ora ondulado, ora representado por pequenas mesas isoladas, tes- temunhos do nfvel sedimentar primitivo, do qual os chapadées sao resi- duos de maior superficie. Pig 23 — Janetro-Margo de 1953 ™ REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA Tais terrenos dao origem a solos pouco higroseépicos, geralmente muito profindos Quando o lengol fedtico est& préximo da supeificie, a poucos me- tuos apenas, a floresta pode sdbre éles se desenvolver; encontrando-se a grande profundidade, sdmente vegetagio arbustiva e campestie sdbre éles ¢ encon- thada Isso ocone mesmo nas iegides de abundante precipitacdo phiviométiica, onde predomina a floresta de giande porte ¢ pujanga, ocupando sempre o fundo dos vales ou niveis inferiores, formados por terrenos originados da decompo- sigdo de rochas que, pela sua constituigao quimica, dao solos nao sé mais ricos, como de maior capacidade 1etentora de Agua % Estas alteragées fisiondmicas da vegetagio florestal ¢ a piesenga das for- mages florestais e campestics mencionadas, nao estado adstritas sdmente aos solos oriundos da decomposigao de rochas sedimentares: ocowrem igualmente em terrenos formados por iochas caistalinas, cujos solos tm pouca espessua, reponsando diretamente sdbre a iocha mater que aflora freqiientemente, como observamos em certos peneplanos modelados em terrenos do complexo crista- Fig 10 — Genaddo, jd visitado pelo jogo, cortado pela estrada Xavantina-Aragaicas, na repiao compeendida entre os Nos Aragtaia e das Mor tes Foto Tomas Sono — CNG lino (rochas arqueanas e algonquianas) na bacia do Xingu e no vale do baixo Araguaia Estes solos rasos, encontiados, via de regia, nas encostas de nein da matureza do solo mi diferenciagao da flovesta amazbnica ufo escapor A obser vagin de Sansvato, que em sua Pitoweomefia do Brasil, p 321, exereven: “Na AmazOnia, tide & imenso, tudo ¢ sbundante, tedo vavia, desde ax mais espléndidas matas do terra fine até ‘as matne mediccies em solo de atein bennea, com suas drvares de altua média, © at Parkla pectinata™™ Pag 24 — Janelro-Margo de 1953 AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA 25 cristas, morros e colinas nfo permitem, em razio da sua pouca espessura ¢ grande declividade do relévo, a permanéncia de um lengol estavel, na época da estiagem, mesmo nas regides de abundante e bem distribuida pluviosidade. ‘Tal fato, observado mesmo nas Areas mais chuvosas da encosta do planalto brasileiro, torna-se mais freqiiente, A proporgéo que a floresta amazénica, na sua progressio meridional, penetra na regiéio de predominio do clima tropical de savana, onde a duragio da estagio séca, & praticamente téo longa quanto a da pluvial Aja floresta amazdnica se reduz a simples matas-galerias, vivendo 2 custa da umidade do fundo dos vales estreitos, junto aos cursos d’égua, como uma verdadeira intrusa no dominio das formagées campestres ou savanicas. Seria, pois, a natureza pouco higrosedpica de certos solos, aliada & pobreza quimica dos mesmos** que, nas regiées pluviosas da bacia amazénica, explica a existéncia ali de grandes e numerosas manchas de vegetag’o campestre e no florestal, bem como, as alteragdes fisiondmicas da floresta amazénica, em meio & drea onde predomina, pujante, esta floresta tropical, As manchas campestres ai encontradas Samraro denominou dreas campestres inclusas **. Exemplos dessas manchas de vegetagao nao florestal sao assinaladas (vi- de mapas fitofisiondmicos regionais nas bacias do Xingu, Teles Pires, Gua- poré, Aripuand, Juuena Arinos, Roosevelt, e, nos divisores das bacias do Tapajés, Iriri e Xingu (sobre 0 extenso e alongado chapadio conhecido como “serra” do Cachimbo), Xingu e Araguaia (“sena” dos Gradatis) Xingu e Ttacaitinas (“serra” dos Carajés), Aripuana e Juruena (“serra” do Norte), e, sd- bre a “serra” dos Parecis e dos Pacaas-Novos, para citar sdmente algumas das ocorréncias mais importantes, Estas “serras” nada mais séo na maioria das vézes, do que chapadées residuais, reliquias da desnudagio do grande capea- mento sedimentar que outrora teria coberto todo o peneplano caistalino que constitui o substractum geoldgico da bacia amazbnica ® Em nossas observagées aéreas e terrestres e também pelo estudo das foto- grafias aéieas, pudemos distinguir — entre estas formagées nao florestais — campos limpos, campos cemados, cerradées, charravascais ¢ outros tipos de vegetacao cuja identificagio nfo nos foi possivel estabelecer®® Dentre as Estudando a distribuicio da vegetngiio em faisns grosseiramento homdlogas as das zonas climétiess, Avuenr choma a atencio pam o fato de que os varios tipes da grande floresta dx zona Gimida (a floresta tropical e equatorial), parcoem corresponder A natures de solos diferentes, do pouto de vista da composieso qufmiea “Si une forét a vegetation humide a ym s’y developper et s'y maintenir”” — afiema éste autor — “c'est seulement grico, d'abord a Patilization maximum qu'elle peut faire des moindres eléments featilisants, contenus dans le sol, et ensuite au frit quelle se nourrit ses propres dépens"” (Geonces Aunznr — Les sols et Vaménagoment agricole de VAfrique Occidentale Francaise) Isto vern claramente explicar a diminuisio da exuberineia da floresta smazdnica quando ela se desenvolve em certas solos originivios da decompesigio de rochas que contém reduzida quantidade de elementos minerais nutrtivos para as plantas % Fitogeogratia do Brasil, p33 ® “Os monos ¢ serras inclusos no snfiteatro amazénico — acrescenta Saataro — so florestais ou campestres, conforme © local e a natureza do solo; nas zonas de verio mais rigororo, ‘sto é, onde as chuvas so menos abundantes, hi os tabuleitos © mesmo serras s€cas, © gr as de Paranaquars, Jutai, Velha Podre © Jaraucu" (Op cit, p 920) ® Quanto A origem destas manchas campestres quo stualmente cobrem chapadies _sedimentares tesiduals, encontrados, sob a forma de “arquipélagos” de “ilhas”” tabgleivos no imenso “mar” florestal do fundo da bacia amazdnica © que na suposigio de Enaknncicst, testemunbos “da desmadagto da plantele que ligava outtora as terras altas das Guianas ao grande Planslto Central do Brasil” — Sastraio foi Jevado a supor “que a flora désses campos idéntioa A do Brasil Central f0sse a peimitiva antes do fendmeno geolégico de que resultou a depressio amazinica, com as suas conseatiéncias hidrofitieas; assim ses campos seria remanescentes da vegetagio que precedes a Wiléia atwal, com as suas fmensas florestas que Ihe aio 0 fécies Mloristion ou fitofisionomia, sendo, de muito menor importéncia a8 demais ocorséneias™ (bd, p 921) Pég 25 — Janelro-Margo de 1953 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA Pag 26 — Janeiro-Marco de 105% Norte de Cows, Fix. 11 — Campo cerrado feampo com arvores esparsas) vendo-se 20 tundo 0 cerrado (mesma Veyetsedo com arvores mars gents) AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA a variantes fisiondmicas da floresta amazdnica observadas pudemos reconhecer 1s tipos que Warsex denominou “mato de primeira classe” ¢ “matas sécas”, ja descritos paginas atras Observamos ainda outras formagdes vegetais que nos pareceram formas de transigio entre as formages campestres ¢ florestais Na impossibilidade de identificar com precisio tais formagées intermedidrias, limitamo-nos a distin- guir, nos mapas de vegetagiio que organizamos com o ausxilio de fotografias aé- reas, sdmente as areas florestais e as nfo florestais, dividindo estas Ultimas em campestres € niio campestres. Assim, se de um lado a grande floresta tropical amazénica, é um reflexo do clima equatorial ¢ tropical, quente ¢ timido, de outro, as suas variagées fisio- némicas, bem como, as manchas de outros tipos de vegetagao que em seu seio ocorrem, seriam resultantes das diferenciagdes do solo, regionais e Iocais LIMITES MERIDIONAIS E ORIENTAIS DA AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA EM TERRITORIO BRASILEIRO Como resultado final dos nossos trabalhos, apresentamos, no cartograma ao lado, os limites meridionais e oientais da area de ocorréncia da flo- zesta amazénica, em territério biasileiro. Como ja foi dito, éstes limites foram obtidos com a interpretagio de fotogiafias aéreas, reconhecimentos aéieos e terrestres, bem como, com pesquisas biblio-cartognificas Apesar do seu carter acentuadamente esquemiatico, principalmente nas Areas nao fotogratadas, éste limite vem corrigit varios jA apresentados por diversos autores, nacionais e es- trangeitos, inclusive 0 que vinha sendo adotado pelo Conselho Nacional de Geografia e néle elaborado (vide cartogramas da Fig 1, do anexo n° 2) Dente as delimitagées da floresta ou da flora amazénica existentes sao as de autoria de Gonzaca pz Camros, César Dioco e A J. SAa@aro, as que mais se aproximam da que obtivemos, por serem as que fazem avangar paia o sul as penetiagdes da mata hileiana. Em nossa delimitagio ha que distinguir, quanto & exatidao: a) — a divi- soria conseguida com a interpretagao de fotogiafias aéreas (a que mais se apro- xima da 1ealidade); b) — o limite resultante da ligagdo de pontos de contacto da mata amazénica com formagées nao florestais, determinado pelos reconhe- cimentos aéreos; e, finalmente, ¢) — a linha estimativa tragada com o auxilio de informagées colhidas em obras de naturalistas, viajantes, exploradore tistas, e, em indicagdes foinecidas por grandes conhecedores, habitantes das regides em apiéco (sertanistas, fazend © cien- seringuciros, mateiros, ete ) Apesar das fotografias aéreas consultadas terem sido tiradas de grande al- tma (cérca de 6000 metros), representando a superficie terrestres na escala aproximada de 1; 40000 (o que, em certos casos, muito dificultou a identifi- cago da vegetacdo, mesmo utilizando-se aparelhagem estereoscépica), foram, ainda assim, estas fotografias, os melhores elementos de que nos valemos. Os reconhecimentos aéreos permitiram o estabelecimento de pontos de 1¢- feréncia, quanto ao limite da floesta amazénica com as formagdes vegetais tipicas do Brasil Gentral ¢ vieram complementar a pesquisa bibliogrdfica, con- firmando ou nfo, os resultados desta. Pag. 21 ~ Janetro-Marco ae 1953 28 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA Os limites da floresta amazénica com as formagdes vegetais caracteristicas das 1egides Cento-Oeste e Nordeste sio muito inegulares, e, na maioria das vézes, bastante imprecisos Dai o limite que ora apresentamos consistin numa linha envolvente simplificada dos imimeros recortes e reentincias, originadas pelas fieqiientes interpenet regionais, nos seus miltiplos & variados contactos Feitas estas consideragées preliminares, passaremos & descrigio pormeno- iizada désses limites, examinando suas peculiaridades em cada uma das uni- dades federadas onde foram encontrados (tenitirio do Guaporé e estados de Mato Grosso, do Para, de Goids e do Maranh&o) procwando, ao mesmo tempo, fazer um ligeiro estudo da vegetagao das zonas limituofes, baseando-nos em nos- sas obseivagées aéieas e tenestres, e, na escassa bibliografia existente sbie as mesmas Nos trés mapas de vegetacio que acompanham essa de © auxilio de fotogratias aéreas, estio 1epresentadas as ocoméncias continuas agdes dessas formagées vegetai igao, feitos com da floresta amazénica e as dieas em que a mesma ocone de permeio com ontras formacées nao florestais, bem como, as éaeas onde predominam os campos cei- 1ados, com matas-galerias, amazOnicas ou nao, ao longo dos casos dagua Estes mapas abnangem as partes noroeste do tenitdrio do Guaporé, noideste do estado de Mato Grosso, sul e sudoeste do estado do Para, norte do estado de Goids e sudoeste do estado do Maranhao NO TERRITORIO DO GUAPORE Bs mente coberto pela floresta ou hiléia amazénica, que se estende pelos lagos vales dos 1ios Guaporé, Mamoré, Madeira e de seus afluentes oiientais, revestindo téda a bacia do grande tibu- thtio déste diltimo, 0 110 Jipmand ou Machado. O mesmo acontece do Jado da Bolivia ela cobe quase total- mente 0 noite € nordes- te déste pais, acompa- nhando os vales dos afluentes e subafluentes do Guapoé e do Ma- » vasto temitério federal 6 quase tota onde moié, até muito acima de mil metios de altitu: de, jd nas encostas da cordilhei dos Andes Fig 12 — Foz do 110 Urupé, no rio Jiparand, visto no mi- aan ‘meiro plano Note-se a. jloreste: amaconiea continna & densa Sdmente nos topos, n° bacla “aa Siparand ov Machado geralmente — tabulares, Foto sétes do autor — CNG dos chapadées disseca- dos ou continuos — cujos alinhamentos constituem, dentro déste territério federal, os prolongamentos ocidentais das chamadas “serras” dos Parecis e dos Pacads- olugées de continuidade, cedendo lugar a formagie se arbéreas, consideradas pelos botiinicos e fitogedgiafos como -Novos — ela sofre pesties, arbustiva cam- Pag 28 — Janelro-Marga de 1 AREA DB OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA 29 sendo de transigdéo entre a mata e o campo (cerrados, cerradées, chavascais, charravascais, bamburrais, taquarais, ete.) como as encontradas na regio dis- persora das aguas dos rios Cautério, Sotério e Sao Miguel (bacias do Guaporé ¢ do Mamoré), Jamari, Jaru, Urupa e Ricardo Franco (bacia do Madeira) Sobre os morros e montanhas-testemunhas das chapadas escalonadas dos Pacads-Novos, e Parecis, predomina um misto de vegetagao arbérco-arbustiva que, vista do ar, tem 0 aspecto de um mato séco raquitico, ora denso ora mais aberto, deixando ver, amitide, por entre as suas drvores, altas, de troncos finos ¢ pequenas copas de poucas félhas (principalmente durante a época da stiagem, quando as observamos) um solo pedregoso, onde afloram lajedos lisos e grandes blocos rochosos fraturados e decompostos. Por serem despro- vidas de vegetagio, as altas escarpas das bordas déstes platés e testemunhos isolados apresentam, por vézes, uma cdr réseo-avermelhada, emprestada pela exposicio de arenito erodido que as forma. Este tipo de vegetacio corespon- deria a0 que CLemenrs identificou como ta formagao 0 mesmo que charravascal. Esta vogetagio apresenta, no seu con- junto, a mesma fisionomia das que ob- servamos do ar e a baixa altura sébre os chapadées de solos arenosos © com afloramentos rochosos (lajes ¢ blocos de lados talhados a pique) do divisor Ita- caitinas-Araguaia e da “serra” do Ca- chimbo, no sudoeste paraense (ver des- crigdo adiante) . Descrevendo o revestimento floiis tico da regido campestre-florestal do norte ¢ noroeste de Mato Grosso, Hors Fig 13 — Escarpa meridional da chapada dos Parecis (cabecetras dos formadores do rio Se- potuba) Sobre 0 chapadito dominam cerrados 4 primo, jlresta‘tmacohica do Aits Faraone’ NE assim se refere a estas formagées Foto atzea do cutor CNG “Outra formagao que deve merecer nos- sa atengo é a do chavascal ou charra- vascal, que é de aspecto muito interessante ¢ comparavel ao das matas das res- tingas beira mar, ou ao dos carrascais, como veremos adiante. Sio compostas de plantas lenhosas que atingem o mdximo de 4 metros de altura e que, cres. cendo muito mais, formam uma mata raquitica em que dificilmente se consegue penetra’ Em geral os chavascais aparecem em tdrno das matas fiondosas e vingens que emolduram os rios ¢ formam entre estas ¢ os cenados, verdadeiras paredes Predominam no divisor das aguas ¢ na nesga de cerrados que se entfia entre as matas ao longo dos chapadées até as cabeceiras dos rios: Jamari, Cau- tario © Jaci” *, Segundo Curneewes, o chavascat 6 wm “bosque axbustive ¢ cermdo; Ingar préprio para deitar-se Ge emboscada” Para estas formagées arbustivas Gite botinico propde a denominagia Tachmium (do rego Téchme: bosque arbustivo e cerado) (FREDRRICO E Cuiatents — Sistema para nomenclatura Hitogeomdtica (trad) FC Hosunx — Fitofisionomia do estado de Mato Grosso © Ligehas notes @ respeito da composigio © distribuicto da sua flora, pp 7 © 8) Pag 29 — Janctro-Margo de 1953 30 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA Os largos vales dos rios Jaci-Parand, Candeias, Jamaii, Préto, Roosevelt ¢ Jipatand ou Machado e de seus tributirios, sio todos florestais: néle & encon- fnada a flovesta hileiana, densa e continua, abrigando ricos seringais * Entre os meridianos de 81 ¢ 83 graus a chapada dos Parecis tem a sua Jagma muito :eduzida, sofrendo um verdadeiro estrangulamento pelo avango, pelo lado sul, das cabeceitas dos 1i0s Branco ou Cabixi e Corumbiara, da ver- tente guaporeense, e, pelo noite, dos formadmes do Jiparané, Comemoracao de Flniano e Pimenta Bueno: nesta regio as florestas do Guaporé e do Jipa- rand, qnase que se unem Figs 14 ¢ 15 — Gontacto da flovesta da encosta setentrional do vale do Guaporé, com ua mancha de campo ceraio, nos mimenos degiaus da chapada dos Paresis Na Orla do cenado vecmeve duas aldetas de indies, prosimos das nascenice do rio Branco ou Cabiai ‘Na jotomasta da diveita vé-8e, na borda da floresta, uma derrubada pard roed, feita pelos indios Cabict, habitantes da repido Fotos aéieas’ do autor CNG No fundo do vale do Gnaporé, tanto do lado hnasileito como em tenitério boliviano, a floresta amazénica é intenompida por grandes ¢ teqiientes man- chas de carnpos alagaveis, onde vicejam extensos palmeiais de “buniti” (Mau- ritia vinifera Maat) ¢ de “mexiti” (Matitia flexuosa Mart) Estes campos sio cortados pelos baixos cusos dos seus afluentes Colorado, Corumbiaia e Cabixi, éste tiltimo j& servindo de limite ene o tenitdrio do Guaparé ¢ 0 estado de Mato Grosso Na iegifio dispersoa das Aguas das bacias clo Jipmand e Guapoé ha — num pkaalto de aproximadamente 500 metios de altitude © de uns 100 qui- Témetios de Iagma (compreendido ene as escarpas das “senas” dos Parecis © dos Pacads-Novos) — extensos campos, aparentemente limpos vistos do =, cotados por faixas csticitas © sinuosas de matas-galerias, e, com bunitizais e mititizais a0 longo das maigens dos altos emsos dos formadores dos rios Urupa, Jaiu e Ricado Fianco (tributirio do Jipaiand) © dos rios Sotério © Cautirio éstes da bacia do Guaposé *” * “Reforindose & sande mata do vale do Jueiparani, © capitin MT Cosa Promo, ajudaute da Cowissio Rondon, escresen om se selatdnio intitulady Explevagde do si JackeParand (1940); “A vegetucia estenta-se cin tad 0 rio com a mesma inpondneia © @ mesmo vigo das Honestas amardnieas (17) A seringuetia © 9 cauchn abundam nis dius mages, em thda a extensio dor aio, sendy ides das cabeecitas Thi também yrandes exhugées du eneauoios © de frutos silvestres A indistin extattive 6 a da sei % Em you relatério das uxplorucies do rio Cautirio, Cosra Pisano £6 de campos no alto Cautirio, infornumlo: “O sen teecho intermediinio & cachoeha Espeanea i da Bandeira que emacteriza nis Ese Leche & a diminuigio progressiva a vogelayio nas prosimidades das eachoetns em que se observa mm eerado ane dhwinsi & moporcin ‘que se aprofunda, com tendéncias 9 Gansfomar-se em campo Nw eachocire da Bandeiva, » Altima be cance abundante do que a serhumelta, as proximi Pég 90 — Janeko-Mago de 1959 INSTITUTO BRASILEIRO OE GEOGRAFIA E ESTATISTICA CONSELHO NACIONAL DE GEOGRAFIA DIVISKO DE GEOGRAFIA MAPA FITOFISIONOMICO PARCIAL, IAS, SUDESTE DO OES NORTE DE GOI DAS REGI SUDOESTE DO MARANHAO PARA & Organizado s aéraas Trimetrogon (1942) Ao de fotogratia com a interpreta Por ROBERTO F C GALVAO 30D a orientagdo de LUCIO DE CASTRO SOARES CONVENGOES Formagées florestais amazénicas Formagées nao florestais (campos eerrados, campinas, charravascais e outras), com mata tropical de galeria nos vaies e depressées. campos alagaveis, cerradées, Areas de ocorréncia da floresta amazénica com outras formagées nao florestais. By eon OT BS EYE Se IO Oe eee SS tO CO EON ete sieceiert Sf EORTC —Lrt—~—S SN SSS EN oss eaie 1S ele ee eRe ce ete Site LEAS piste gers GES ees EES LO Leon {See Goiete: week cof wiser ke ae seals eee seco oS oe oer hoe ae So SS nacroreoe oe Bee eee cece sed costs a eR fo Goh to] gor tom tow #0" Gon eorfiay to Bora 0, EO TE ROSE ees ; sof con BEYONCE Sree tore locos Be : so eeelea pee eR ete ad SeeBE Sees ak gs AES LASER SN Ste cE Sot SIS fee ESCALA 1:1/500 000 & Mata tropical de galeria nos vales ¢ depresses. es Fig. 72 AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA at Nestes campos (que seriam os dos Urupds ou de Cataqui-lamain), nfo con- seguimos localizar o divisor Jiparané-Guaporé, donde supormos que estas duas duas bacias sejam ai Ke gadas por “éguas-emen- dadas”, pois nesta regido campestre so comuns os brejos de cabeceiras, ocu- itera pros, via de regia, po > pequenos buiitizais ou eS mititizais *, ee De volta de nossas excuisdes de reconheci- mento no territério do Guaporé, verificamos que nossas observagdes aéreas concordam com a descii- Fig 16 — Vista aérea do posto telegrdjico de vithena 0 TTiacada no chapaddo plano & coberto de cerrado veem-se 30 que KUHLMANN féz Gs estradas que, acompanham. a linha telegrafica, @ aieita : gure Cuba's & coquerde part’ 0 vale Go Fpaand ePot dos campos de Cataqui- Veiho. A esquesda'e ao. alto da fotografia, a borda da a dscaipa to chapaitto, ao pe do qual comege a grange mata -Iamain, por éle visitados Mitelane ade eadecetras do rio que pues eee one om 1O08quando, de sus viagem de estudos boti- nicos para a Comissio Rondon Segundo Hornne, éste botinico informa “que os campos de Cataqui-lamain sio acidentados mais ou menos timidos ou encharcados, tesos, e que , a vegetagio que os ador- : na é de carater raquitico e composta de espécies herbaceas e arbustivas na sua grande maioria ixre gulares e misturados com divores pequenas ¢ tor- tuosas” Sobre os chapadées dos Parecis por nés sobre- voados, hé também cer- rados, densos e ralos, mui- to castigados pelo fogo, rig 17 — Grande mancha de floresta amazénica nas cabe- : cevat do Ho Iqué(Malo™ Grosso). Notar 0 timite ber deixando ver um solo ver- Gefiniao aa’ mats com on campos ‘errados’ do chapada ae melho, oriundo da decom- — Yihend, “estabeleida’ peig"eboupa "deste. (chepada dos posicéo dos arenitos que Foto aéren do autor — CN @ Os constituem, como observamos na regifio de Vilhena ‘uecho, 0 ce Wdo que contorna ambas az mantens, por ser muito ralo, deixa a vista do observedor os campos que se aprofundam, oF qutis, jolgo ser ainda o prolonsamento dos esmpas dos Unupés"” (p 14) Bstes campos, delimitados por Horsiwn em seu "Mapa da Fitofisionomia de Mato Grosso”, de sebrdo com as informagses do Dr Kuncaraxn @ do general Roxpox, ficam emo ocidental do zme divisor que comega com a Chapada e coatinna pelo Chapadso dos Payoois alé se perder grad tivamaento ma curva formada pelos zios Mamoxé ¢ Madeira Néles t8m otigem os ios: Jamas, Cautiio, Grwnde, Cautasinho, Gie JaciParané, Candeia, Jara, Pacads-Novos, Sotério, Mutum-Famné © owtes teibutitios dos ries supiamencionados e do Guapoxé™” (Hosnixe ~ Op’ eit, p65) © Horuxe — Op ot, p 65 Pég 31 — Janelro-Margo de 1953, 2 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA A tloresta do vale do Guaporé sobe a sua encosta setentrional, até os pri- meitos degiaus dos chapaddes dos Parecis ¢ dos Pacais-Novos 0 territério do Guaporé pode ser considerado quase que totalmente flo- restal, de vez que a floresta deixa de cobrir, de modo continuo, sdmente cérea de 2% da sua gande area, que mede 254 163 quilémetros quachados NO ESTADO DE MATO GROSSO A floresta amazénica coe, de maneiia continua, quase téda a poigdo setentrional déste grande estado interior, avangando francamente paia o sul, dentro das calhas formadas pelos Jongos vales dos formadores dos intimeros e importantes afluentes do rio Amazonas que descem do Planalto Cental — sal- tando numerosas coriedeiras e algumas cachoeiras de grande desnivel nos seus médio e alto cursos — sob a forma de linguas que se vo estreitando & proporcio que a floresta se vai intrometendo por entre as chapadas cobertas de campos cenados*, até se 1eduzir a simples mata-galeria, de algumas centenas de me- tos de largura, No cartograma anterior esté tragada a linha que une as pene- tragdes mais meridionais da floresta amazénica no norte de Mato Grosso, bem como o limite estimado da area onde ela ocire de permeio com os campos conados e outras formagées nao florestais dos altos das chapadas ¢ espigées nesta 1egiio matogrossense Penetiando dessa forma na 1egiao campestre-flaestal do norte de Mato Grosso a floresta possibilita a esta regio uma economia tipicamente amazénica, pois, nessas Iinguas florestais ocoe com abundancia a seringueia, que, se- gundo Huser, nao tem o seu habitat 1estiingido As planicies aluviais da depres sAo amazénica, mas também é encontrada, e com freqiiéncia, na mata amazéni que galga os planaltos onde nascem os formadores ¢ tributérios dos afluentes meridionais do Amazonas **, donde, possivelmente, seria originaria. E até aproximadamente a altura do paralelo de 12° $5, © um pouco mais paia o sul, nas bacias dos 1ios Xingu e Teles Pires ou Paranatinga que, em Mato Grosso a floresta amazénica ocoue de forma predominante **, conforme ja observara Ducke, afiimando que sémente o extremo norte déste estado é “tipicamente hileiano” *. © Horne diz tiploos entre os vios ‘Teles Pines, dos Peixes, Juruena © Bararati (Op cit) Segunda Jacguzs Hearn “a Hevea brasiliensis grandes ios”, encontrando-se também na toa firme, porém geralmente em lugares com wmnidade du ante mya parte do ano" “Nos planaltes coberlos de mata que so estendem entre o Tapajés © 0 Madeira © evias partes destacadas e situadas no meio dos compos revebernn do povo a designacio de seras, a H brasiliensis pareve exeseet com mais freaiiéneia” (Ensaio Puma sinopse das espécies do kener0 Hécen sab os pontos de cista sistemdtico © yeoxudfica, » 64) © “As florestas amozinicas desoem poco obaixo do paralelo 12° do latitude an, entre as graws 14 © 24 de longitude” (meridiana do Bio de Jancivo) “e acompanbam a encasta da Chapada pelo vale Ao Guaporé, atravessnndo depois ainda pela dos Parceis, sombreando os formadores do Paraguai e seus Drineipais tihntévioss mas, em todo 2 vesto do estado, elas sfo restritas A margem dos ios © eérregos © a algumas encostas e, sucessivianente, interrompidas pelos campos” (Horm ~ bd, p 7) “Esta contimiidede nio 6, relembmmos, absoluta (nfo simente nesta regio matonesense came (0 & Limitada a planfcies uvionirias dos 1 {Oda a hacia amazénicn), devido i existénela de inimers manchas de vexetagio nto florestal, enilmente compesties "No estado de Mato Grosso, xbmente 9 etttemo norte & fipicamente amazénicay jf as terras altus da chamada sera do Norte apreyentem uma vegetacio mista de espécies meridionais amazdnicas, com forte elemento endémico pésto em evidéncia por wna colegio rewnida pelo Dr Kuszasann nos eampos de CatsaulJamsin"” (Avota Docks — As Leguminows da Amazinia Brasileia, p 7) Sobre @ste assunto ver tamhém FC Hornxe, obta citads, no capitulo em que ste botinico trata das formagSes hidréillas (matas justafluviais) no norte de Mato Grosso Pig 32 — Janeiro-Margo de 1959 3 z 1 a 4 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA A vertente amazénica na regiao dos altos cursos dos formadores dos grandes afluentes do Amazonas do noite de Mato Grosso, é como jé tivemos ocasiio de assinala, em parte ceberta por campos e em parte cobeita por matas Estas sempre oconem no {undo dos vales e depresses, ora formando, em ceitas partes, manchas as vézes de considertvel Arca, ora constituindo matas-galeias de Iagmas vanidveis (que vao de quilémetio a poucas centenas de metios) ao longo de cusos dagua, € onde sio encoutiados seringais, como os do rio Novo ‘ou Arinos Novo ¢ os do tio Beija Flo (tibutéiio do Teles Pies), por nds visi- tados, ¢ distantes apenas céica de 20 quilémetios do diviso. Amazonas Parana (vide desenhos abaixo feitos segundo fotogiatias aéreas PENETRAGOES OA FLORESTA AMAZONICA NA ZONA CAMPESTRE DO NORTE DE MATO GROSSO onl ease Zoe os : re Fin 201 Gubeceivas do ri0 Saueuind, 2 Formador do rio Juind, 3 Formato: do rio Jurwena: #4 Alto cwso do rio Papagaio’ Todos estes sios peitencem a bacla do Juruene Tiesenho de Percy Lav, seatindo Zotogiafias aézeas do atitor CNG Nos longos véos de obscivagio que fizemos — de Vihena a Cuiaha; do Grande Diviso A foz do rio Sacurinin’ ou Ponte de Pecia (no rio do Sangue); déste ponto & foz do rio Verde (uo rio Teles Pies); e, dai a Cuiaba, bem como, no realizado desta cidade ds cabeceias do Teles Pires, descendo éste rio até Pdito Caneco (situado céica de 50 quilémetios a jusante da toz do rio Beija Flor) — veiticamos a repeticio constante desta paisagem vegetativa, formada por manchas de foresta e matas-galerias, intenompendo, a distincias variiveis, grandes extensdes de campos cenados, cenadées, chanavascais, e, pot campos aparentemente limpos **, éstes possivelmente resultantes da degiadagao © Séme os cluwpaddes divisoree situadas entre os ros Buriti e Joruens, o engeulbeire militar E Servustne no Astanawis, mombio at Comissio Rondon, assinalon a existéncia de eenados, eeradden, charavuscais, charravascuis-mistos ¢ taquirais Esta yaviedade de toms; algnns regionals, dens wna idéia da diversidade de tipus de yeyettelio no florestal ocorrente sBbie éstes chapadics do norte do Pig, 34 — Janetro-Maico de 1953, AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA 38 de ceriados pela agio do fogo, néles ateado, quase que anualmente, em certas regides (chapada dos Parecis) pelos indios, em suas excursdes venatérias, ¢, noutras, pelos criadores de gado, para apressar a renovagio das pastagens nativas Fig 21 — Mata amazonica cobrindo a regido da confluéncia dos rios Teles Pires ou Sao Manuel © Juruena, formadores do rio Tapajés Pondo de irijuncao das divisas dos estados do Amazonas, Pard ¢ Mato Grosso. Foto aérea de Tomas Sono — © NG A chamada “serra” dos Parecis — formada na realidade por um conjunto de extensos chapaddes escalonados e de altitudes que vaiiam de 600 a 700 metros — é coberta por campos-ceuados, cenadées e campos apa- rentemente limpos: a flovesta amazénica nela penetra sob a forma de matas- galeria e de grandes manchas", Nas cabeceiras de alguns rios que sobre esta chapada nascem, com o 1i0 Tqué, ela forma considerdveis manchas, limitadas nitidamente pela escarpa dos chapadées dos niveis superiores, como a que ob- seivamos a leste e prdximo de Vilhena (Fig 17) Outro es emplo do comégo da Mato Grosso (Ver E § Aatananre — Leoantamento € locacto do trecho compecndida entre or rios Zolaaruina (Busite) ¢ Juruena (1909) ® “0 chapadto dos Parecis, préximo a Aldeia Queimads, & mais ou menos arenoso @ coberto de cormdo A vegetagio quase tdda raquitica varia muito de forma; geralmente, os lugares onde @ terreno & mais s6lto, sto ocupados pelos cerrados, ¢, es onde © mesmo é mais compacto, s6 ostentam uma ou outra drvore muito rquiticn Bstes lugares mais despidos de drvores maiores, tm as vezes, algumas Iéguas de circunferéneis Fm tédar as cabeceitns dos rios ¢ as depresstes do terreno, hi formagdes de matas, que, om eral sdo muito rleas em Héveas (F © Horsinn — Relatério dos trabatios « vingens esecutadas no decorrer do ano de 1909, p 41) Pag 35 — Janciro-Margo de 1953, 38 REVISTA BRASILEIRA DB GEOGRAFIA mata amazénica ao pé das escarpas, “aparados” ou “quebradas”® setentrio- nais dos Parecis, foi colhido por Roguetre Prvro, em sua viagem de estudos com a Comissio Rondon, encarregada da constiugio da linha telegrafica estraté- gica Cuiab4 — Pérto Velho Escreve éste cientista: “Pouso em Naicoabord; zona de grandes seringais IF. 0 tiltimo pouso no chapadio dos Parecis Poco além, cérea de 1 quilémetro o planalto detém-se, bruscamente a bea de um paredio, Tmensa visio de matas sem fim, surgiu diante de nés” *, Fig 22 — No cartograma acima, organizado pelo Votdntco Avorso Ducks, vé-se que os limites aa trea de ocorréncia da variedade te seringuetia mais explotada na Amazonia, a Hevea ‘brasilien= ‘15, coincide, stosso modo, com os das penetragdes mais ‘mertdlonais e orientais Wa floresta amazéntea nos estados de Mato Grosso 0 de Golds 1 — Limite da drea de H, Brasilionsis; 2 — Limite da dea de outias ospécies do género Hevea; 3 — Limites da drea de 4 benthamiana Nao é ainda possivel, devido ao pouco conhecimento geogratico da regio do noite de Mato Grosso, & pobreza da sua cartografia ¢ a falta quase absoluta da ocupagio humana, estabelecei-se, mesmo com relativa precisio, os limites desta area mista, de campos e florestas Com 0 auxilio de intormagées de abali- zados conhecedores desta regio (seringueitos, seringalistas e desbravadores)® e com a ajuda da escassa bibliografia existente sébie a mesma, tentamos delimi. tar esta drea, Estas informagées confiimam, no entanto, a vinda da mata ama- zénica, de maneira quase continua (formando manchas de consideraveis Areas) © © aparecimento dessas mates no pb das esearpas déstes chapadées, explice-se pela umidade do solo nessis encostas, uiidade proveniente das indmeras fontes que minam shaiso da canada rochosa penineivel (arenites), que formam o tipo plano désses chapeddes, e, nas suas bardas, grandes cornijas, sob as quois 6 comum a existéneia de numer © Roguers Pavso — Rondénia, p 157 © Deixmos aqui consignados os nossos melhores agradocimentos aos iumios Srventt (Mino BE Sriveuix e Renaro pe Sruxusta), grandes serivgalistas e antigos exploradores do setentrifo matostossemse, sas gratas pelas vallosas snformagies que nos prestaram (além Ge magnifica hospitalidsde), as quai muito not auxilitam na dolimitacdo desta sea de matas e eampos do morte de Mato Grosso Pag 36 — Janolro-Margo de 1953 AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA st até o paralelo de 12° de Jatitude sul, No reconhecimento aéieo que realizamos a0 longo do baixo curso do rio Teles Pires comprovamos a existéncia de exten- sas dreas de campos cerrados que se aproximam da margem esquerda déste rio Convém sessaltar que nem sempre hé limites definidos entre as matas e ‘os campos, sendo freqiiente haver transigio vegetativa entre estas formagées, representadas por cerradées e charravascais @ outros tipos de vegetagio se- melhante 4s por nés observadas nos topos dos chapaddes dos Pacaas-Novos, no territério do Guaporé € na regiao da chamada serra do Cachimbo (sudoeste do Para), como teremos oportunidade de nos referir mais adiante *. Ja as bacias dos altos formadores do Xingu (1ios do Feno, Steinen, Tamita- toala, Ronmo, Curisevu, Culuene, Paranaiba, Manitsaumigu, como também, do rio Iriti) ¢, do pmalelo de 14° para o norte, as bacias do rio Teles Pires (in- dluindo as bacias dos rios Peixoto de Azevedo e Cristalino, por exemplo), so em quase a sua totalidade florestais, como 1evelaram as fotogiafias aéieas (vide mapa fitofisiogidfico da Fig 55). Nestas regides a mata hileiana, dominante com tddas as suas feigdes, s6 & intenompida pela presenga de manchas espaisas de campos cerrados, ceira- does ¢ de vegetacdo nao florestal, porém densa, formada por cerraddes, catan- duyais, chanavascais, carrascais, etc, tomas de transigio entie 0 campo ¢ a mata, que ocupam iemanescentes de chapaddes ¢ encostas de serras € ciistas, muito dissecados, eujos solos, o1a por serem rasos ¢ pedregosos, o1a por serem muito arenosos, nao retém a wmidade suficiente para permitir a instalagao de uma floresta topical, altamente exigente de Agua no solo para se desenvolver Exemplo tipico destas ocoréncias de vegetagao nfo florestal séo as encontra- das na “se1a” do Cachimbo, divisora das Aguas das bacias do Iriri (veitente do Xingu) e do Teles Pies e Jamanchim (bacia do Tapajés), ¢ situada, parte em tenitério matogiossense ¢ parte em tertitério paraens ‘A chamada serra do Cachimbo nada mais é que um extenso chapa sidual — formente dissecado e em processo de destiuigéo sob a ai erosio remontante ou de eabeceiras — langado na direcho geial SE-NW, estieito © quase estrangulado na sua parte mediana Nas suas ciicunvizinhangas sio en- contradas pequenas manchas de vegetagio néio florestal co1oando os topos ta- bulaies de remanescentes do grande chapadio, que outioia deveria cobrit fea muito maior no sul do Para e norte de Mato Grosso. Nas excusdes aéieas ¢ terrestres que, em setemho do corente ano, reali- zamos sobre um déstes chapadées residuais, cujo conjunto é conhecido por “serra” do Cachimbo, verificamos que tais chapaddes no sio constituidos por 1ochas sedimentares conforme indica o “Mapa Geolégico do Brasil” (edigéo de 1942), que ali assinala a existéncia de terrenos cretdceos, estendendo-se, em Vmettio Consmia Freato, grande conhecedor de Mato Grosto, desereve wm déstes tipos de 10 © chanavascal, observado wa vale do rio Coniemoragio de Floriana (afhiente do Tiparand) Assim o caracteriza este autor; “Por vézes, © especialmente ao norte, além da estaglo B de Melgago, © cerrado sobremancira se adenss, tornando-se, quase impenetrivel, mos charravasonis, em que 0s pequenos axbustor so ligam pela japecanss, de forte: espinhos, pela navalha de mico ¢ outras plantas tecedoras de malhas Smpenctiveis”” (Mato Grosso, 134) 5 HA noticias da existéncia de grandes manchas isoladas de campos cerrados © eerrades também has chapadas © serrae divisoras dag bacias dos ros Roosevelt-Avipuand, Aripuani-Juruena e Juruena Teles Pires, ocosséneias estas impossivels, até agora, de scxem delimitadas, mesmo com relativa precisto Pig 97 — Janotro-Margo de 1953 40 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA giande mancha, no sudoeste do Paid e extemo norte de Mato Grosso, entre 08 1ios Juruena e Curué, abangendo téda a bacia inferior do Teles Pies Segundo os estudos realizados no local pelo Prof Francis Ruritan (em cuja companhia visitamos, em setembro de 1952, a 1egiio) € confirmados poste- rioumente por andlise pebogratica, feita no Rio de Janeito, a rocha de que sko constituidos éstes chapadées, é um quaitzito couglomeritico, da série de Lta- colomi No chapadao (de tépo plano e de vegetagio ala ¢ 1arefeita) da “sera” do Cachimbo por nés visitado, foi constunido pela Fundagao Brasil Central um campo de pouso, situado & margem direita do cumso superior do biago norte do sio Peixoto de Azevedo, atluente do Teles Pies Bstes chapadées, de solo arenoso ¢ 1aso, do qual atloia 0 quattzito, o1a sob a forma de giandes lajedos, o1a sob a forma de blocos muito desgastados pela erosio, niio apresentam escarpas de grande altma em suas bordas; do ar a sua existéncia so é assinalada pelas giandes manchas claas formadas pela vegelagio caracteristica que os 1ecobie, © que, por ser rala, deixa ver, amitide, © solo branco formado pela areia que resulta da decomposigio do quaitzito Logo abaixo das pequenas escaipas, comega, geralmente sobre o talnde das mesmas, a mata bopical timida, ficando as copas de suas davoies, aprovi- madamente no mesmo nivel da borda do chapadéo Ao longo dos ties que cor rem sdbie éstes chapaddes ha esticitas matas-galerias, de cmater semi-deciduo (matas sécas) Representando a vegetagio ufo tlorestal © de “facies” geralmente campes- tue dos chapadées do Cachimbo, wm exemplo do que A J SaMpato chamou de dreas campestres inclusas na flo.esta amaz6nica, passmemos a fazer uma des- ciigéio sumévia da anesma Verificamos que a yegetagio dos topos dos chapadées em apréco nao pode ser confundida com a dos cenados e cenadées A tinica espécie aibiiea ca- racteristica do cerrado, que nela encontiamos foi o “muriei” (Byrsonima sp ) ‘Tiata'se, evidentemente, de uma vegetacso sui-generis, de diffeil classitica- Go Nao sabemos se os indios para ela tém alguma denominagio especial ‘Tentaremos, todavia, descrevé-la em seus Uagos principais Consistirio estas Lormagdes arbustivas os chamados chavascais on chanavascais? Logo & primeia vista pode-se, pordm, distinguir Lés tipos dessa vegetagio: 0 urbsieo, 0 arbus- tivo © 0 graminco-herbiceo © primeio é constituide pelo agiupamento de pequenas arvores de alma média, vasiando entie 4 ¢ 6 mevos, de toncos tinos ¢ prdximes um dos outros, de copas estieitas e pouco folhosas As félhas sf de cdr verde elmo e veide- -amarclado Seu aspecto & de um capoeita de 5 anos Na foto da Fig, 38 pode-se ver a estuutwa déste tipo de vegetagio, onde o andar inferior, Jormade poi raros arbustos ¢ poucas ervas, foi completamente destruido pelo fogo, alasbado de uma queimada para ro¢a, Heita pelo pessoal que habita 0 campo de pouso da Fundagio Biasil Central Neste tipo se incluem as mata-galerias (matas-séeas ou semi-deciduas) que acompanham os cursos d'agua que conem sobre estes chapaddes Em outras areas do chapadao, onde a cohertina arenosa ¢ mais delgada, ptedomina uma vegetagio arbustiva, formando moitas, o1a juntas, era separa- Pag 40 — Jancho-Marco de 1953 AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA a Fig 28 — Vista aérea do chapadéo quartettico coberto por vegetacdo arbustiva tipica, em moitas ‘soladas “ote-se 0 solo de areia branca, orfundo da decomposicao do quartzite Foto aérea de Tomas Somio — C NG Fig 29 — Campo de pouso da Fundagho Brasil Central, sobre um chapadao da “serra” do Cachimbo, a margem dvvetta Yo draco norte do rio Petzoto de Azevedo No primeiro plano, a wepetageo’aroen taquition «que nos referimos, alam vegreardo erbustive vals, detwarita Foto aérea de Tomas Somo — C NG Pay 41 — Janetro-Margo de 1953 Fig 30 — Aflorae mento “do quartzite que forma or chapa does da “Sera” to Cachimbo no letto de um ew so. agua fempordsio, —prdzimo ao. campo” de pouso fa Pundacto Brasit Cenirat A esquerda uma toucetra de “car hela de ema (Vel- tozin Sp 1, que possui Pequeno porte nestes chapadoes’ Foto Tomas Sosro —ENG Fis a1 — Trecho do Draco norte do.tio Petzota de Azevedo, 200" menos mon: fante ‘aa cachocva da doda ao chapas ilo onde esta 9 cam- no de. pause “da BG. (sea do. Ca~ chimbo) "' Notecse “0 leita rochoso 0. 149 ‘quartzito) exposto elas uguas batzas da Tazante No atime plano a jaiza de ma- ta semideoidua (ma taestea) do talude do Dequeno desnivel for ‘nuddo peta bata bor fda do ehapeddo Foto Toaias Soxsu0 ~ene ee — Instata- ipo de Pig 0 — vegeta- eco arbustiva tpien dg" solo arenoso do t6p0 do chapadda da “serra” do Cachimbo, junto ao etmpo. dé pouso da FBG “A dsauerda wa moite fava de. gales ", “Tegumingea se miethante a0. "ba ba~ tind” Suyphnoden= hon harbatimnaoy Foto do auto. — onG Fig 35 — Arora mentos de quiarteito eovertos te Hauenes, Obie "9 capattag ie a” io. Caohim= dor mdvino ao. came po’ We pouso dak B.C No. primetio piano 0 solo 1030 de fareia’ bianca. “eto finde, "a vegetacta aibustioa que the peewliay, muito case Figada peto Jogo Foto Tomas Souzo ~eNne AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA a das umas das outras por um tapéte de gramineas ralas, e por eriocauldceas formando tufos e deixando ver o solo arenoso e esbranquigado (Fig. 89). Quando, porém, 0 quartzito aflora em lajes planas ¢ muito diaclasada ou em blocos erodidos ou soltos, a flora se modifica inteiramente dando lugar a um tipo de vegetacio composto, principalmente, de espécies arbustivas de félhas ovais (de uns 5 centimetros de comprimento), biilhantes ¢ ligeiramente coridceas, ¢ por uma leguminosa (Fig 84) cujo aspecto lembia o do “barbati- mio” (Stryphnodendron barbatimdo), e denominada localmente “fava de ga- Iheiro” (i. é, fava de veado galheiro ou do campo). Dentre as plantas de menor porte, destacam-se as varias espécies de bro- melidceas, gramineas, ciperdceas ¢ criocauliceas, sendo comum uma velosidcea, a “canela de ema” (Vellosia sp ), vegetando nas juntas das diéclases e também na fina camada de areia que repousa sobre as lajes de quartzito (Figs. 86 ¢ 87). A presenga desta velosidcea j4 constitui, por si, uma indicagio da natureza da rocha em que se desenvolve, pois a sua ocorréncia no Planalto Centual, esté sempre ligada aos afloamentos quartziticos Além dessas formagées vegetais, encontiadas sdbre éstes chapadées quart- ziticos, ha que assinalar a existéncia de pequenas clareiras campestres, que fo.- mam manchas de contomnos irregulares, em meio a vegetagao arbustiva e arbé- rea, Tais “campos” sao formados por uma associagiio de gramineas em tufos, exemplares das familias citadas, e eriocauliceas, muitos dos quais se achavam floridos quando os observamos Uma dessas clareitas naturais foi aproveitada pela Fundagéo Basil Central para a construgdo féeil do campo de pouso da serra do Cachimbo (Fig 38). Colhemos alguns exemplares desta vegetagdo baixa, determinados no Jardim Botinico do Rio de Janeiro, pelos naturalistas Profs J. G. Kuaumann e Waren A. Eoten (aos quais agradecemos), e que sfio os seguintes: Syngonanthus grao- -mogolensis Aly. Sil. (fam, Eriocaulaceae), ¢, trés exemplares do género Paepa- lanthus, desta mesma familia; um exemplar do géne.o Hyptis (fam. Labiatae); e, um exemplar psaméfito da familia Graminae, identificado como sendo Anthae- nantia lanata Benth A familia das bromelidceas esta bem representada com numerosos exemplares, dentre os quais reconhecemos, no local, 0 “ananas sil- vestre” (Ananas sp.). Os tés tipos predominantes de vegetacio que acabamos de descrever apre- sentam um cardter subxeréfito variavel, resultante de uma maior ou menor adaptagao dos individuos vegetais & relativa aridez dos solos arenosos em que se desenvolvem Essa adaptagio vatia em fungiio da capacidade de retenggo de gua déste solo francamente arenoso durante a estagio “séca”, que na regiio tem uma dmagéo aproximada de 3 a 4 meses, H4 abundancia de Kquenes, encontrados revestindo os blocos ¢ lajes rochosas, Também na bacia do Xingu as fotografias a¢veas assinalaram a presenca de uma grande drea coberta por éste tipo de vegetagiio, que poderia ser chamada “de transigéo” * entre a mata e o campo, imposs{vel de ser identificada, tanto ‘Em sua FHogeografia do Brasil, p84, A J Sanerazo faz xeferéncia @ aste tipo de vegetagio transicional, dizendo que 0 aparecimento da transiefo entre a flora amazéniea ¢ a flora geral do Brasil 6 assinalado no leste de Mato Grosto, mo sal do Pari, ¢, no Maranhfo, até Imporatri e médios Pindaré © Grajasi Pég 45 — Janetro-Margo do 1953 — “Canela Foto ‘Tomas Some NG francamente arenoso g raso, renuttante, da ao Guartstto "ho funto ‘moitas da vegetacto “serve” do Cachimbo Foto Tomas Sosti0 tne Foto Tontas tne Fig 38 — veget edo natural do cat po de pouso da Pu Gap Brasit Central, sobre um. chapadao Ga serra” “do. Ca ehimbo Fis nor da mancha focatizaaa ‘com ipalmente,. wuldceas (S31 panthus grao-m Tensis lv “Sil ¢ es meas (Anthaenan= lanata Benth, ¢ ladiatas (genero Hyptls) Nesta foto 08, floridos, exem= das eribeatuld~ eas acima” mencio- nadas Sono 4 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA por meio das aerofotos como pela obseivagio aérea direta Tal fuea acha-se localizada na 1egiao compreendida entie os rios da Paz, Liberdade, serra do Roncador, rios Huaiamigu, Jarina e Pérto Alegre™, sendo de supor que se trata das mesmas formagdes por nés observadas nos chapadées da “sena” do Ca- chimbo No fundo dos vales dos foumadores mais meridionais do Xingu (1ios Ro- nado, Culuene, Jatoba, Sete de Setembro, Tamitatoala, Cuisevu, as fotos aéieas denunciaram a presenga de muitas manchas, relativamente pequenas, de cam- pos alagiveis, que ocupam as planicies Huviais déstes rios Nem todos éstes formadores do Xingu tém suas bacias completamente flo- restais, pois os seus altos cursos j@ correm na zona de domfnio dos campos cer rados dos divisores amazdnico-paraguaio e xingu-maguaiano Esta faixa cam- peste intlete para o noite, mantendo as matas do Xingu a uma distincia média de uns 150 quilémetios do 110 Avaguaia, até aproximadamente a divisa Pat- Mato Grosso: dentio desta 1egido, predominantemente campeshe, conem o 1i0 Ciistalino, as corixas da Saudade e Heunano Ribeiro da Silva e os 1i0s Manso ou das Moites, das Vertentes, Taphapé ¢ Zacarias * A iegiio compreendida pelas bacias dos altos cursos dos sios Culuene, Ciniseva, Sete de Setembio © outros menoies formadores do Xingu, representa “uma zona de bansigao entie a Hiléia e o Planalto Central”, segundo as obseiva- gGes do natwalista do Museu Nacional, Jost CSxpmo pe Meno Canvatno, que a visitou em 1948 Escieve éste cientista: “A 1egido por nds visitada é plana, do 1io das Montes ao Xingu, com excegio da cadeia de seisas do Roncado: e da seu Aail, a topogiatia é pica para os cenados ou seja, de modo geral, plana, com pequenas colinas ¢ depressdes O cenado estende-se até prdximo aos gran des rios da regitio e continua para o noite acompanhando as dieas mais sécas pela mata ou sendo invadido por ela, conforme a topogratia e proximidade dos 1ios Sao tipicas as matas ciliaes, os restiados (dea tmida recoberta de gia- mineas) os bmitizais, techos de campo ¢ depessées recobertas de mata A me- dida que caminhamos para o Xingu, a mata toma-se progressivamente mais densa © mais alta, a topogiafia mais plana e o volume de agua muito maior, atinginde © se auge talvez na confluéncia do Ronmo-Culuene, onde existem grandes & numerosas lagoas” * “A mata do Xingu, no local onde estivemos acampados, é 1elativamente densa, de altma média e bastante rica de espécies vegetais O sub-bosque é, de modo geral, bastante emaranhado, tomando-se dittcil a jocomogio”, acrescenta éste natumalista * A lendétia serra do Roncado (chapadao muito dissecado, de uns 400 me- tuos de altitude © situada no divisor Xingu-Araguaia) fica no limite desta 1e- © engenheha Ansarho OrAvio Népias, encanegudo dos servigos eatogiificus © motenolégions da “Bandvits Anbangueia™, assim deseaure a vegelagio desta regio: “A vegelagio enconbadla até o aio fdas Moites &, om sumay a seutuintes as maagens do tio Atogusin, Cerlea du Saudade, sto Cristatino, Const, Hermano Ribeivo du Sitea, Cénego Toledo Filho, Rio das Motes © Iagons, assim como nos -monios em geval, eneontram-se pequena faixa de mata pobre © couaddes A cobertura reatante nfo passa de campo, cermdos, caatiagas © cormdos swios, oferveendo assim até corte facilidade wipida com trupas, sem muito tahalho de pieadas” "“Brndeita Anhanguera”” — 1037 (Rec Mas de Geografia, ano I, #2, 1940, p 159) % Yost: CAxoie we MerLo CARVALHO — Obseroapies zool Xing, p 7 = Ibd, py 8 fens no vio das Moites @ na alto Pég 48 — Janeiro-Margo de 195% Pag 49 — Janoiro-Margo de 1959 RBG. 4 }-Mango de 1953, Pég 50 ~ Janetro. “Tenweo Tug oy naa CLOT outauinad 1X 8p vsusss0s003 1 2 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA gio: sua porgdo sul esté pacialmente dentro da érea florestal da bacia do Xingu, e, a sua extiemidade norte, no contacto desta com a zona campestie da vertente araguaiana * Ressaltando a inestimavel utilidade das fotogratias aéreas no reconhecimen- (0 geogrifico destas 1egides desconhecidas, prdximas do centro geogratico do Brasil, 0 engenheiro Frepertco Horrxen descreve — em seu citado trabalho “Utilizagiio das fotogiafias aéieas nas exploragées geograticas” — a paisagem das mesmas, bem como, a oconéncia nelas de manchas de vegetagio nao flo- restal (campestres ¢ de transicfo), 1elacionando-as as formas de relévo © dre- nagem >? As obseivagdes por nds realizadas através de ieconhecimentos adieos © excuisdes terresties, hem como, com a interpretagdo de aerototos, revelaram estrutnnas geolégicas que assinalam a presenga de grandes exposigées de tenre- nos proterozdicos (denunciados, geralmente, pela mudanga de vegetagiio, como no caso do chapadao conhecido por “sera” do Cachimbo ¢ do peneplano (?) do vale do Xingu, entre os paalelos de 6 e 10°), 0 que faria cescer considera- yelmente a area de oconéneia das formagdes algonquianas na porgio seten- ional do planalto biasileio, onde, segundo os mapas geolbgicos mais 1ecentes estio assinaladas guandes manchas de tenenos arqueanos ¢ ceticicos Hoferindo-se i vegetngie dos tenenos chtewdantes. Bandeiia Anhanguera a atiavessint (na altura do panitela de 19°90") escreve a enyentivito AwNacne Néaas "A vegetnedo dos tenemos cltemdantes A seua 6 constituida de segues matas, tendo també algunas potes, cerradies @ ceriudes Tampax” (Op eit, 160 © 161) Extasy matas obrigaam a Bundesia Auhangueta a fazer um percisso maior para aleanciv 9 sorta do) Roneados, conforma selata o engenheito Néwias em seu citado Relatéiio: “A sera do Roneadar acha-se A TT guilémetsas do rio das Montes, pelo eaminhamento que fizemos pon atingi-l Hi porém, tem caminko mxaiy cute, como se pode ver na plants janta Em nossa intencio sequi Aesistimos devido is grandes mutes existentes”” (Op cit, p 160) do Roneados, no pomto em ane a te mame, do que “O tunballa com as fotognafiag dx AAP permitiu também founar algumas idéias gerais stbre 8 geogiafia iegional “Tendo em vista que a maior parte da regife entre os dois los mencionadas & coberta com uum tapdte de mata viigem amazhniea, pode-re, contudo, ebservar do ar a diferenga enbe a mata das tenas baivas © a de regides momtanhosas interessante que exista uma depressio, em forma de wma hacia rsa, eno 10°45" © 12°45" S, tendo no lado sul uma espicie de chapadio chaimedy Roneador que estende do leste, um comteaforte pata o noite enhe 9 Suii-Abign € os alluentes ay mange esuuerda do Atayuain, © que se apioxima do Xingu na latitude de 10° 8, formando ali f& conredcira Martius Um contiaforte similar se estende do chapadin pam o noite, & oeste da bacia, acompanhando Alto Leles Pires até 11¢ § Esto chapadio © os contiafontes so cobertos de uma vegetagio do tipo “cerrado” O noite da hacia é fechada por moutanhes balsas, estendendase do Teles Pises a lesto o chegando ao Xingu no lugar da eoxredeha Martins, sendy éste terreno coberto. de anata vigem Esta hacia, assim Formada, tem smente am dren que 6 0 xio Xingu, quebsando a paede Yarcce-me te fendmeno de providéneia da natureza, eviande wma aeserva de gua naquele setor e impetlindo que na estagia das seas 0 Amago do Brasil se tone tum deseite, motivo pore Gate estado de coisas deve ser respeitado, conservando-se a represa formada pela coneddeita de Martius ¢ a defesa excessiva evaporacto constitulda pela mata A owira excceio da cahettua por mata vigem & situada np alto do giande macigo de montauhas chumade sera dy Cachimbo, apiowimadamente a 9° $ e@ de 5490" a 55" Wo Bxte bloco tanga um comtmafinte em diegio W-NW até sproxinndamente 57°W O bloeo € 0 sew contiaforte silo cobestos fom uma vegetagio semelliante i do chapadio do Ronendos, amas aflame em aluumas partes a reeha, nua Nesta regio & interessante oheewvar que no momento wm que se forma no alto da sera, ma ligelzx depressia, extn 6 eobesta Imediatamente com mata virgen © morte o macigo © 0 conbaforte cae abiuptamente para a mata vingem do Amazonas; om tddas as divegses a queda 6 paulatina, Forman um declive mais suave para os ros que ¢ de ver om quando intenompide por monos e cord Theitas haixas, estes formam, nas eabecviras do Pelxotw de Azevedo, Iniri e Tmiaa um segundo pequeno rnieleo de montanhas-mesne A Teste, of morzos lorgam 0 tio Xingu, entre 9 ¢ 10° S a dar uma volta wito grande; © dentro de sun concavidade existe © dnico Tugar desta regio em que as earacteristicas Qa vogetagio su uma intermediisia entre a mata virgem © 0 cermdo Estas notas tém, naturalmente apenas valor geral © sio feitas sbmente para indicar que vm estudo tendento a deterninar, entre outros projetos, © tipo da vegelugho nos diforentes Iugares éste torritério soria altamente interessante” (F Hozrxen — Op cit, Reo Bras de Geosrafia, ano XM, n° 2, 1950, yp 263 ¢ 264) da Davia pela mencionady conedel Pég 52 — Janeito-Margo de 1953 AREA DE OCORRENGIA DA FLORESTA AMAZONICA 33 Ainda em territério matogrossense a floresta amazénica é encontrada co+ brindo grandes dreas, nas regides dos altos formadores do Guaporé e do Para- guai® Na parte matogrossense do vale do Guaporé ela esté presente, com téda a sua pujanga caracteristica, desde as margens déste rio, até a borda do chapadio dos Parecis, e, entre esta e o fundo dos vales dos formadores do Alto Paraguai®, A larga vatzea do Guaporé apresenta grandes ocorréncias de campos ala- gaveis na época das chuyas, as matas seguindo os cursos d’agua ® Nas vizi- nhangas de Mato Grosso (ex-Vila Bela) ha enoimes extensdes désses campos, que continuam para sudeste, dentro da depresstio plana formada pelo vale do Guaporé, até mesmo as cabeceiras de seus formadores (rio Alegre e Corixa Ginza), situadas numa regitio deprimida, de relévo ondulado e baixo (embora com alguns serrotes que parecem ser ciistas monoclinais), com banhados e brejos, onde a bacia guaporeense parece ligar-se & paaguaia. Fig 43 — Cidade de Caceres, na_maigem esquerda do rio Paraguai No primeiro plano a mata amazdnica da planicte fluvial deste rio; por tras da cidade, campos cerrados ¢ cerraddes no nivel ‘Superior da plantcie Foto aérea do autor — CN G Ocupando niveis mais altos — a salvo das alagagdes dos 1f0s, mas, sofrendo inundagio na estagio chuvosa — ha, nas 1egiées do Alto Guaporé e Alto Pa- © “Rica e possante, a mata do Guaporé se estende por mais de 10 Téyuas de largura Aqui eit sepreientada a flosn amazdniea: palmeiras, madeiras diversas, orquideas, poaia”” (Faepeaico Roxpox, Na Rond6nia Ocidental, p 99) % Na encosta do divisor dos Patecit & a grande mata que vai pelas vertentes do Paragual, no Sant’Ana, no sip dot Bugtes, no Bracinho, no rio Branco, no Sepotuba, no Cahagal, no Jauru, a emendar fem continuagio pelos afluentes orientais do Cuaporé, descendo até temminarem nas campinas © brejais da margem déste rio E esta mancha mio é mais do ue o prolongamento da formacio equatorial, Ga Hiléia, a moner no Pantanal” (Gonzach DE Camvos — Mapa Flovestal do Brasil, p 88) © A vegetagio das margens do Alto Guaporé 6 densa ¢ alta Na margem mais baisn, nota-se iatural, conhecido no Pantanal como strozal ou artoz de pate” (F | Roxon tom capinzalextenso, = Op cit, p 149) Pig 53 — Janelro-Margo de 1953 3 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA raguai, giandes areas de campos cerrados, campos limpos, cenadées e charra- vaseais, que podem ser observados do ar, na ota Caceres-Mato Grosso Préximo A cidade de Céceres, onde a mata amazénica se limita A planicie aluvial mais baixa do rio Paraguai, sio encontiados em terrenos aenosos muitos campos com Arvoies bem afastadas uma das outias% quase sem o andar heibiceo mbustivo dos campos cenados tipicos, porém alagaveis pelas Aguas das chuvas estando esta cidade situada sdbre 0 ten.ago superior do rio Paaguai, em tereno também menoso, ocupados por cenaddes Em suas viagens de estudo pelo estado de Mato Grosso acompanhando a Comissio Rondon, 0 botinico F CG Hornne registia a oconéneia déstes campos ccuados, que ao lado de ceuadées ¢ matas hichétilas, compéem a paisagem vegetativa da regio de Ciiceres ** A Hiléia Amazénica, subindo o vale do Guaporé, passa, assim, para a bacia do Alto Paraguai, fiegiientemente intenrompida por formagées campesties no fundo da depressio paraguaio-guaporeense, e, mais ou menos continua, nas encostas meridionais do chapadio dos Parecis (vales do alto Guaporé, Jamu, Cabagal, Sant’Ana, Sepotuba e do Pamaguai), coustituindo a chamada “Mata da Poaia”™ Foi o botanico inglés SpeNcna Moor quem primeiio piovon, ba- seado em estudos floristicos, ser a mata do Alto Paaguai uma continuagio, para sul, da floresta amazénica do vale do Guapoié “* Continnando paa o sul, a mata amazénica vai descendo a planicie do Pauaguai, até misturar-se, giadualmente, com o complexo vegetative do pantanal matogiossense FE digno de nota a grande oconéncia — assinalada por Frorence, Horne, Mimanpva Ripeiro, F Ronvon e outios — de palmeinas babagu"’, nas matas de Guaporé ¢ do Alto Paaguai, em Vila Bela, (atual cidade de Mato Grosso) © nas encostas dos Parecis (como observamos em nossos 1econhecimentos aé- © Horns, com muita propriedade, diste que ster conados so “paquiformes"” (Pitofisionomia to Estado de Mato Grosso, p17) 5 "Sin Luis de Ciceres G exenda de campos cemados, of anais estavam, dysmnte a nossa festada all, muita scens; vianese, entetante, em mnites Ingues indicios de que devem ser em onttas Gpncas do uno, bastante rexado por lagmas temponistas © conentes passugetsas dle dst: notamos ame a vegetigio nestes Iuyates citados e1a bidedtila Bstes contados eonfinam com os conadées dos pequenos rmorrotes que se Jevantam a algwenas Kéguas da cidade” (FC Horns: — Relatérie dos nabathes @ viayens exceutmdas no decarer da iitina metade do ano de 1908, yp 21 © 22) © "Bm porto Esperidio © rio Jauru ji € bastante conentoso, a mata dali para cima 6 mais alta, PAs mats, muito vicar de madeiine preciosa phinths medieinais €or © tenene mais firme mentais, sip cartctenizadas pelo apaieeimento da Ungoga ipecaevanha Baill, a "poain™™ qwe dew nesima”” (PC Hoenxe = Op cit, » 20) "Quo esta fama de mata esté Tignda A foray Sruxerx Moon, que a estudon em afigentes do Paras io amevdniea, referesnos notivel hotiniea Wie ma Basra ‘do Bugiey (Santa Chez), eden Go pualelo de 16% Nos seus cstudos encontion all ax soguintes poreentagens para as Hoss que toma ‘come tipo: Tropleal americana de difusio arm Comm ax das provineias (morte e sel) 28% Brasil Sctennional-Gaiana 19% Brasil: Sul Be “Hos mista em que piedominam of tips do noite Deve ser ineluida nos limites da Assim, pois, a ltiin fiaiea dae dlescaevemes go noite da pantinal, otinicamente dove fazer paite da “floiesta equatorial” —Nela encanta varlada © ica messe a indishia estativa; além das madeiris fings © de eonstmoio mito valiosas, hi sevingnis"” e yma planta medicinal de alte pogo — a “pon” (Goxzaca pe Caxtvos — Op elt, p88) es gg. vallovos tmbadhus vem acusar as siquezas 1A cxistentes © a continnidade das matas amazénieas descend até 9 Pantanal de Mato Grosso, pelo menos até o pasalelo de 162” (Goxzaca ps Caswos — Ibid, » 38) © Onbignia longidracteata Bo Redki, Osbignia macreoupa B Rods © Osbignie wbantana Darem Pag 54 — Janeiro-Margo de 1953 AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA 35 Figs, #4, 45, 46 0 47 — Mata amazénica da planicie fluvial do io Paraguat, précimo e ao norte de Ghceres, que esté siluada no seu contacto com uma grande mandha de verrados 0 cerradées Jo extremo norte da depressdo do Pantanal Matogossense Fotos aéreas do autor — CNG Figs 48 © 49 — Campos alagéveis da plantoie do rio Paraguai ao sul de Céceres, com cerrados Barquiformes e mata amazénica de vdzed Fotos aérens do autor — CNG Pag 85 — Jamelro-Margo de 1953 36 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAPTA res) entre os altos vales dos ris Sepotuba e Sararé ou ribeirio do Cardoso (formador do Gnaporé) os rios Cabagal, Jam e Guaporé) ¢, no vale do Guaporé, ainda na encosta da chapada dos Paecis Estas palmeitas, encontia- das dentro da flovesta formando concentragées notdveis, s0 na regio chama- das “nanagu”, “auagn” ¢ “aguagu”, espécies ¢ variedades diferentes do ba- bagn do Maranho, onde piedominam a Orbignia speciosa Mat ¢ a Orbignia martiana B Rochi Tanto nos vales dos ri0s Pacads Novos como dos rios So- tdio e Cantério, no territéiio do Guaporé, verificamos a existéncia desta pre- ciosa palmeita A vogetacio da regiao compieendida entre Caceres e Cuiabs (por nds so- Dievoada quatro vézes em observagdes aéreas) se caracteriza pelo predominio do cenado, em suas mais variadas formas A. oconéncia desta toumagio esté selacionada A ponca umidade do solo; éste parece ser 1as0, 01 10choso O18 me- noso, da superficie suavemente ondulada de um pleneplano (escalpide em 10- chas, na maioria, algonquianas), 0 qual apesar de bastante rebaixado pels erosio, apresenta nitidas Jinhas estutmais (Figs. 53 © 54), orientadas na diregio geal SW-NE Sdmente ao longo de cursos d'agna, isto ¢, uo findo de seus vales hem abestos, existe estieitas faixas de mata séca ou cenndao Mais paa o nore, aproximando-se dos conbatotes da ebapada dos Parecis, 0 1elévo toma-se mais movimentado, com 0 apaecimento de cristas monoclinais de grande altma € paalelas (dispostas também na diregio geral NE-SW) e separadas enbe si por largos vales de encostas alnuptas e fundo quase plano, que formam veida- deias “avenidas” Estas cristas sto Hancos de anticlinais arasadas, ofeiecendo um exemplo tipico de inversio de 1elévo As veitentes interiors ¢ alcantiladas destas aistas, sto geralmente cobertas por mato séco ow por cenadées, sendo as suas encostas exteriores, de forte declividade, ocupadas pm cerados que dominam no fundo dos laigos vales ou “avenidas” mencionadas onde ha matas- galerias, entezadas e muito estieitas, seguindo as maigens dos emsos dagua (Figs 51 ¢ 52) A nordeste e pidximo da cidade de CAceres, sobrevoamos a extemidade de uma destas anticlinais, ainda em processo de anasamento, apresentando uma tipica “combe”, completamente ocupada por floresta de en costa (Fig 50) A escarpa desta auticlinal™ que apresenta o aspecto de um chapadiio dado 0 achatamento do sew topo, cai para a planicie do so Paragnai, neste ponto completamente florestal © "No Guaponé dominim por tilda parte as matas de agua’ OP Roxvox, Thien, » 93) Hm alguns Inygues alientamese wile at denis plantas ay maestnsas copat da held Oxbiguia peoloss Mart, w ongiy eine oxednminns cm tide a rea desta grand mate” Ch Gotan, Tal py 20) A amhignin de Martins os fodios whambiauass chamam de “newage™ Cpatmeia de grandes Exutos) Phonic chamon a estas pulmehas “xmaguagns’? (Viuwwom flucial do Lleté eo Amazonas, 1825-1829 Referinderse A existdneéa do hshuew na Alotesta do Alto Panwa, esereve Hlonnse: Os “aduces ow “agnagus”” (Orbignia specter Mut) predominan em t8da este mata” (Relatdrie dos tabathos € ciagens exeeutadas no deconer do ano dle 1909, p 39) Em son elutério doe tinhuthos realizades divunte o ano de 1908, » 90, Atfeio ye Maso Runxme, zidloxo da Comisio Rondon, também far referdneia A ocoréneh, nesta vezi, de “ama, subusta pakmeirt — 9 guage’ > Hats superficie que esti, sproximndamente, mo mesma nivel que a da cidade de Cwishs (200-250 m) & tambdan idantica ynanto & veqetacko 7% Esta csearpa imponente, siinacla a tréx Idguas a NE da cidade de Civwes, segundo Hosuse, 4 ueakmente chamada sets do” Quilombo Pag 86 — Janeito-Marco de 1953 Fig 80 — “Combe” ‘de antiolinal em pro tess de evolueda, com ““mata-séea”, eerrados ¢ cerradoes, @ nordeste da oda: fe ‘de Caceres (serra 0 Quilombo) ¢ pra~ zima @ plantcie. do Tio Paragiat, vista ao alto e @ esquerda desta fotografia Foto aérea do autor tna. Figs 51 ¢ 52 — Campos cerrados com matas-galeria (matas-séoas ou semi-deciduas), dentio de “combes" de anticlinais as encostas das cristas monoclinais pavalelas que limitam éstas tongas “combes” $42 geraimente cobertas por matas-séeas c cerradses As “avenidas” por elas formadas estdo dispostas na directo ‘geval SW-NE Fotografias feitas entre Caceres e Cutabi Fotos aereas do autor — CNG Figs 53 ¢ 54 — Peneplano do. nivet de Culabd (200-300 m), vendo-se as linhas das camadas dos dobrantentos arrazados, orientadas na direpdo geral SW-NE Zona de compos cerrados ¢ matas-sécas ‘eiliares, a wns 100 Km a sudoeste de C Fotos aéreas do autor — CNG 38 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA A mata do Alto Paraguai continua paia o norte, subindo o seu yale ¢ os de sens tormadores, até ceder Ingar aos ceriadées ¢ cerrados das partes mais altas da chapada dos Pamecis, 0 mesmo acontecendo nos vales dos formadores dos ri0s Cuiabi, Sepotuba © outios que nascem sdbre ou ao pé da escarpa desta chapada ® NO ESTADO DO PARA A fea désse estado cobeita pela floresta amazénica mais ou menos contf- nua é, ploporcionalmente, menor que a do Amazonas, cujo vasto tenitério, de mais de um milhéio ¢ meio de quilémetos quachados é quase totaknente 1eves- tido pela mata hileiana, que, na opiniio de Huxer, esse estado se apresenta em seu tipo mais puro, Isso devido & existéncia de grandes manchas campesties no noite e no sul do Para: estas oconéncias campesties, bem como, as de vegetagao nao tlo- restal ou de transigdo, sio encoutradas principalmente sdbie as chapadas e ser- 1as divisoras das bacias dos principais atlucntes meridionais do Amazonas como as que formam o extenso chapadao denominado sera do Cachimbo, de que ta- tamos paginas ads Tais divisoies, porém, nem sempre abrigam campos, v gy os que separam as bacias do Xingu ¢ Tapajés (bacias dos ties ini e Jamancbim, tributirios de um e de outio) conforme o depoimento de SrmLace, qne ata- vessou, em memorivel expedigao de estudos, 0 divisor de Aguas entie o Ja- manchim e o Cmua (afluente do hiri), na altma do paralelo de 6" 40°30" + A iespeito da continuidade da mata amazdniea no sul do Pad, esceve Hupen: “Ff yerdade que ao sul do sétimo grau de latitude 0 interior das tenas & quase completamente desconhecido ¢ que a vegetacao litoral dos giandes rios, a fica conhecida naquelas latitudes, indiea antes a proximidade dos cam- pos, mas segundo o que sabemos sébie o rio Itacaitinas, afluente do ‘Tocantins, os atluentes orientais da volta do Xingu e Jamanchim, afluente da maigem dieita do Tapajés, todos éles tém a sua o1igem e 0 sen ctso numa regiao de mata que por conseguinte provavelmente sob o sétimo grau se estende ainda em zona jninteriupta do 1i0 Araguaia até o Tapajés ou pelo menos até a pio- ximidade déste As matas entre o Tocantins e 0 Xingu — continua éste antor — so considetadas como as mais ricas do estado Fi ali, que é © principal centio de produgao de caucho ¢ também de castanha” No sul e sudeste déste estado ocoem as mesmas formagdes de tansigées, enlie a mata e o campo, obseivadas no estado de Mato Grosso: @ flovesta ama- zOuica nem sempre entra em contacto com os campos cerados, de maneiia si- bita, a nao ser quando ha stbita mudanga de solo on de geologia A zona de vegetagao dita “de transigio” assinalada atiavés das fotogratias éreas no vale do Xingu, aproximadamente entie os meridianos de 51 e 58 giaus (e j& mencionada paginas atids), continua pelos divisores constituidos por alinhamentos montanhosos (setas e ciistas) e chapadas dissecadas, que sepaam “Na hacia do Allo Panaiguai, a vegetagin varias as etapsdas, phinultos © seszas apresentam © tipo de campo venade A vexetagin no pe da germ aprescta veyctagio de conada om am misto entie cenada © cestadae, on ene ceriado © campo" Prpno PE Mount — “Bacia do Alto Paraguay” Ree Bias Geog, mo V, 0% 1, pp 15 e 16 2} Houen — Males © medehas amusdnieus, 92 * B SymemrAGE — “A. tnivessia entie 0 Xingu e 0 Tapalés", Boletim do Museu Paraense Emilio Goetdi, vol YD, 1910 = J Honen — Op cit, p 125 Pag 58 —- Janeiro-Margo de 1953 AREA DE OCORRENGIA DA FLORESTA AMAZONICA 50 Fig 56 — Uma das nume- rosas gargantas epigénicas (“gaps”) ‘por onde passa o © Xingu, cortando os alinha- mentor de eristats monocli- nats langados paralslamente tna direeao geral NW-SE, no- t2 caracteristiea do “facies” geomorfolégico da regido, ‘pois destacam-se nitidamen- fe da peneplanicie suave mente ondulada que Jorma © fundo ao largo vale deste piande rio 4" vegetacdo que cobre estes “alinhamentos. nao é densa, apresenta wm aspe fo "téco", detzando apart cer jreqilontemente 9 solo Faso 'e rochoso sobre © qua se desenvotve Fote area do autor — ene Pig 81 — Rio Xingu, na al twa do paraiclo de $ 15° S alinnamentos SW-NE, —co- bertos de mata semindect ua, paratelos ao. curso. do rio, que neste ponto acha-2e ‘adaptado t estructura Foto aérea do autor — ong ne Fig 58 — Nhas do rio Xin~ gu, na altura do paraleto de'r'S A mata destas thas aluviais 8 sempre mais pu fante que a encontrada ‘s0- dre alinnamentos“monta- niosos da regido (mata sé~ ea) Foto aérea do autor — ong. Pag 59 — Janetro-Margo de 1953 0 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA as bacias do Xingu ¢ Araguaia (as chamadas seas do Matio, Tamanacu, do Thiunfo, dos Gradatis e da Seringa), ¢ a déste ultimo da do seu importante afluente Itacaitimas (sera da Cachoeira) Os tragos principais da paisagem geogidfica desta area transitionis, bem como a descrigéo da sua cobertura vege- tal, encontiam-se em nosso relatério do reconhecimento aéreo realizado entie Maabé, $0 Félix, cuva do Araguaia (na altura do paralelo de 6°50") ¢ Ma- 1abé, a ser publicado no Boletim Geogrdfico do Conselho Nacional de Geoguafia. coe SH a Fi 59 — Revestimento floristieo a@ divisor Hacatunas (ri Parauapeles) — Xingu (io Fresco) , na vegido da chamada seid dos Gradais SOdie 0 chapadde e suas encostas, veqetacdo arbustind e arborea, ral @ ‘semi-tecidua Foto aéien do autss ONG Coabitam essas creas de transigao espécies botinicas Upicas das floras amazonica, nordestina e do Brasil-Ceniral como chama a atengio A J Sampaio, exemplificando ésse fato com a obseivagio de Ducks, que veriticou a existéncia de tloestas de aroeita (Astionium sp ) no sul do Para, quando estas sio “muito caracteristicas do centio e do noideste do Brasil” ™ O mesmo aconiece com a feqiiente oconéneia do babagu na faixa limftofe da toesta amazdnica com as formagées priprias das regides Centio-Oeste e Noideste brasileites Em resumo, a vegetagio desta regio apresenta: a) matas frondosas, no fundo dos vales, planicies fluviais (alagiveis on nao), depressdes com relévo ondulado e, encostas baixas de montanhas e ser1as e¢ chapadées; b) metas sdcas, cerradées, cenuados, chanavascais ou chavascais 7, bambuiais™ e catandu- vas ®, sdbie os topos tabulares dos chapaddes, nos vales dos cursos dégua que couem encaixados nestas superticies superiores, nas altas encostas de seras, cristas e outios alinhamentos montanhosos No seu conjunto, porém, esta Area de tiansigio é edica de 50% florestal ® A] Sawparo — Op cit, p 84 (capitulo em que trata da tamigie entio a fom amazdaien 2 flea do Basil) 7 Vide significagio déste térmo & pigine 47 © Couio bu Mscasudes diz ser esta palavra de orlgem tupi, com a signifieagin de mato rato © “Uma forma de mata um tanto inquition 6 a culendues, que segimde a epiniio de alguns autores é influenciada no sen cieseimento pelas queitmay dos campos” (Huta vow Ruste A dishibuigto de campos © matas do Brasil, p 126) Pag 60 — Janelro-Marco de 1953 AREA DE OCORRENGIA DA FLORESTA AMAZONICA ot Fig 60 — Rio Xingu, visto = | pare montante, na altura do pavalelo de 7" 20'S Mata bom muitos elementos se~ Iniedeciduos “O10 corta equi alinhamentos (ertstas monoelinais?), o} fentados na s Gireodo eral NW-SE, e a cujas extremidades sao vis ee s fas no primeiro plano desta Fotografia Foto aérea do autor ona Fig 61 —- Outra garganta epigénica do Xingu, cortan- to longa ‘entsta monoclinat ‘SW-NE, na altura do para~ ielo de 8° 15" 8 Foto de jusante para montante No primeiro” plano, a mata fmida de uma grande ila aluvial, com agos de mean- ‘Gio @bandonados Foto area do autor ~~ oNnG Foto 62 — Rio Xingu, visto | de Jusante, na, altura Go pa- “alate de 8° 15''S, no mesmo | local da joto da’ Fig ‘61 No primetro ‘plano a sua plant ble" de inundagto, com un | grande 'lago de’ meandro @bandonado, numa tiha No horizonte cristas de alinha~ mentos rejeridos, cortados ‘pelo rio. Rote adrea do autor — one Pag. 61 — Janelro-Margo de 1958 2 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAPIA No tenitério paraense a mata amazénica vem comumente até o rio Ara- guaia, ultrapassando-o mesmo, para formar, em territério goiano, estieita faixa, Fie 63 AS copas rancas de cettas dvores sao de tyes anarelo, flonidos, A marge do to elevada o rochosa, porém, oculéa pela vegetacdo Foto tiada u jusante da fos do 10 Comandante Fontowra, ‘em teritorio paraense Foto aéies do autor —C NG Nas matas do sudeste e sul do Pa- 14 oconem fregiientemente, muitas palmeitas babagu, de forma dissemi- nada, sem constituir concentragées que justifiquem a denominagio de babacuais Na 1egiio compreendida ente Maaba e Araguatins, no vale do Itacaitinas e seus afluentes Ver- melho e Parauapebas, bem como, no Jago vale do 1io Sant’Ana (atluen- te ocidental do Araguaia, na altma da extiemidade norte da ilha do Ba nanal), observamos do at a oconén- cia desta palmefa ¢ de outia muito semelhante A piesenga da palmena babacu nestas matas pode, no entanto, set confandida com a da palmeita ina j& (inajé ow anajés, Maaimiliana regia. Mart) que sempre disseminada na floresta. Esta pal meia é, segundo Marmtvs, exclusiva mente hileiana, muito emboia seja uma planta de larga dispersio® ocone © A J Sanwato — Op elt, p — Vegetacdo florestal da margem esquerda do ro Xingu de contornos extre- mamente —irregula~ res Em alguns te- chos do temritério pataense ela no chega a tocar o rio Araguaia, manten- do-se atastada da sua margem esquer~ da por grandes manchas de campos cenados onde pe- netia sob a forma de laigas matas-ga- lias © giandes ca- pées, como na 1¢- gio a oeste do Araguaia, ene as ‘intewamente dades de Couceicto do Araguaia e Aiaguacena (zona de ciiagio de gado) Fis 64 — Pormenoy da mata da plantote de inundacdo do rio Araguaia (nargem esquerda, prottma a Jor’ do rio Inajé, Estado do Paya) Note-se as copas intevramente floidas dos 1pés- famareios, abundantes ‘nesta mata. ‘Foto néren do autor — CNG Pag 62 — Janetro-Margo de 1953 AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA 6 Pig 65 — Floresta com muitas ér- vores sem folhas, cobrindo alinha- mentor montanhosos da regido Gas. nascentes dos formadores. se~ tentrionais do ribendo. do. Pau Diareo, aftuente do Araguaia (mar gem ésquerda) e da regiéo onde as. cartas locatizam as serras Gos Gradais, divisor das aguas fo rio. Fresco (bacia do. Xin~ Qu) das do Araguaia Estes alinia~ yientos, formando cristas aparen= Yemente monoclinats, estdo dispos- tos geralmente na directo NW-SB, @ baltsan, por vézes, largos vales te fundo suavemente ondulado, on- de predomina uma floresta alta e timéda, com poucas drvores sem jolhas, apresentando notdvel ocor~ yéncia’ de paimeira babag, contras- tando com a vegetacdo das encos- tas e do dorso das cristas, formada ‘por ‘um revestimento arbéreo e ar bustivo, de pequeno porte ¢ semi- “decide, semeihante ao que obser~ Damios nos chapaddes quartziticos ‘da. serra do. Cachimbo Rote aérea do autor — ONG Fig 66 — Aesmo local da foto an- ferlor, Vista. mats prozima da ve getacdo florestal descritiva na foto anterior, ¢ cobrindo wm désses i= ‘ahamentos montantosos Foto aérea do autor — ONG rig or — Aspecto da veyetacdo cima descrita na Fig ‘65, ven dovse uma alta esearpa de um dos E alinhamentos referidos, limitando ‘im vale suspenso Foto aérea do autor — CNG Pag. 63 — Janelro-Margo de 1953 “« REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA Segundo Jti10 ParerNosteo exemplaes de inajé oconem de permeio com outios de babagu, nas margens do Tocantins, no extremo norte de Goids** Parece estar fo- 1a de davida que o babacu, quando en- contiado na orla da floresta amazénica, representa um ele mento indicador da zona de transigio en- tie esta e as torma- ges que com cla confinam em Mato Grosso, Pad, Goids e Maranhio”’ Esposa- vam esta opiniaio dois grandes conhecedo- [tie de Gonesioto to arepuaia. Foro tage no alta wales ribeaD res da flora e da ve- to Aosetlnh, formedar do tio tot Arvoios do: Avaguatn, tibuttn getagio do Meio Foto aéren do autor — CNG Narte, 0 botinico A J SamPato e o gedgrafo Rartunpo Loves, no que diz respeito aos limites da flna e vegetacao amazbnicas, pasticu- larmente no tenitd- tio maanhense “No Maranhio como é sa- bido, a flora amazéni- ca predomina até Im- peratriz e médios Pin- daré © Grajai” — es- creve o grande botd nico patricio —“dan- do além disso avan- gadas que formam Fie, $0 — Vita parcial da oldade paraense de Marabd, na fos do vi0 H Tiloatinas “is’pPneto tans obo fosuntie A grande Mater rieg pestanas de rio no Cm taamntral (Serenoledm etiny dle ao Hacatinas sere noyte do estado, jh ECS néren do mutot CNG om eontacto com os gandes cocais ow matas imensas de babagu que caracterizam © Meio Nite” Piofundo conhecedor do seu estado natal, aquéle gedgrafo maranhense assim se referiu as associagées de babacu, salientando o seu papel particular de mai- 14 ana do Anyguaia, rio acima, no so v8 mais © arapari Em terreno ereticeo surgem 08 babagus que se enfileimm nas altas sibaneeitas onde mastieiam os inafis"” (J6110 Pateswostno — Viagem ao Tocantins, p 123) © A chamada zona das cocais “engloba diferentes tipos de vegetagho, pexfeltamente individualizndes, cescalonadas do Iitoral ac planslto, através das transgresset da mata amazénica com a sua franja cearacteristion dos earmascais em que ama flor rastelra e trangada assinala uma do suas notas earacto- ists” (TV Cosra Penema — “Babaguuis", Rev Bras de Geogrofia, ano VI, n® 1, 1944) © A J Saxmaio ~ Op cit, p 84 Pig G4 — Janelro-Marco de 1953 AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA 65 cador da transicio entre a mata amazénica e as formagdes do Meio Norte e Nordeste: “O palmeiral de babagu é justamente uma vegetagio caracteristica das zonas de interferéncia entre a Amazénia e o chapadio — alastrando especial- mente nas terras firmes quaternirias ¢ de modo geral nas planfcies e vales, mas no no campo alagado como tantas outras, nem no Amago da floresta, nem no chapadio A maior freqiiéncia do babacu na planicie tansicional do Mara- nhio, deve-se as mesmas condigdes gerais do sen habitat” ** Figs, 10 © 71 — Cidade de Conceteao do Araguaia (Para), 2 margem esquerda do rio Araguaia, vendo-se a vegetacdo de cerradées, cerrados mata decidua da planicie que a circunda Potos aéreas do autor — CNG A presenga do babacu no vale do Tocantins, préximo confluéncia do Ara- guaia — presenga de certo modo inesperada para aquéle a restringir a diea de ocoréncia desta palmeira, Jo acostumados ao seu dominio classico na Baixada Maranhense e nas bacias do Itapecuru ¢ do Pamaiba — tem chamado a atengo de varios viajantes, que naquela regiio entam em contacto também com 05 1icos castanhais do sudeste paraense (regi tal fato nao passou despercebido também a Eumenreics, que, quando da sua viagem do Paraguai ao Ama gnaia * que es 0 de Marabit). Assim é que, zonas, desceu os vales do Tocantins e do Ara- Cumpre ainda assinalar, no estado do Paré, as grandes Areas campestres qne, situadas nas varzeas do Baixo Amazonas ¢ Solimées, na ilha de Marajé, no planalto de Monte Alegre, litoral do Amap4, vale do Purus, e nos altos vales de alguns importantes tributdrios do Amazonas que descem do planalto guia- nense, constituem imensas clareiras fendendo a cobertura espéssa ¢ continua da floresta hileiana. Ramuxpo Loves — Entre a Amazénia e 0 Sertdo, pp. 27 0 28 % Escreve ste gedgrafo: “Densas florestas virgens cobrem a terra a perder de vista € nelas imperam castanheitos em téda a sua majestade Imponentissima & x improssfio déstes gigantes vegetais, ‘que com suas imensas copas verde-escuras enlagados de um sem nimero de trepadeiras elevam-se ainda mais alto da que a soberba palmeira Oavaga™, (P Eunexnuce ~ Viagem do Paraguai ao Amazonas, p 242) Pig 65 — Jonetro-Mazgo de 1953 RBG—5 6 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA NO ESTADO DE GOIAS Em Goids — segundo 0 que nos mostraram as fotografias aéreas que con- sultamos € as observag6es que fizemos em nossos vos de reconhecimento — a floresta amazénica ssmente avanga em grande mancha continua, em reduzida dia da extremidade norte do seu territério, na estreita mesopotimia proxima & confluéncia dos rios Tocantins e Araguaia; esta mancha é limitada ao sul por uma linha ideal que liga a vila de Aragnatins A cidade de Itaguatins Conti- nuando em manchas menores para o sul e dentro do vale do Araguaia, a flo- resta abrange, no norte goiano, parte das bacias dos tributirios déste io, a saber, rios Corda, Lontra, Muricizal e Martinho. O limite meridional apro- ximado destas manchas corre na diregao geral leste-oeste, ao longo do paralelo de 7 graus Confirmam-se, assim, as observagdes de Rarmunvo Lorrs** e de Morars Rétco ** quanto & ocorréncia da mata amazénica no extremo norte de Goids, mente na vertente araguaiana Realmente, a paisagem vegetativa desta regiio a pelo dominio dos campos cerrados com matas-galerias na _ver- tente do Tocantins até a altma do paralelo 5°30’, entre as cidades de Itagnatins e Imperatiiz (mais préximo, porém, desta ultima cidade) ¢ pela presenga de matas densas no vale do Araguaia se caacteri: O contacto da floresta amazénica com as formagées campesties do extremo norte do territério goiano é extremamente inegula, como se pode ver nas foto- ghafias aéreas e nas por nés tiradas nos varios vos de observagao que realiza- mos sdbre esta regio, onde a hiléia ja apresenta certas diferenciagoes fisiond- micas (tendéncia para transformat-se em mata séca, semi-decidua) decorrentes das condigées de solo e umidade locais: nesta regidio j4 hd penetiagdes em seu seio de cenados © cerradées sob a forma de pontas de langa e de pequenas manchas de poucos quilémetros de didmetro. ‘A sua invasio pelo babacu, (referida no capitulo anterior) 6 neste ponto, mais acentuada, pois nas margens do Tocantins, entre Imperatriz e Carolina, so encontradas formagées priticamente puas destas palmeiras, as quais ocor- rem s6bre os terracos superiores de suas margens e ilhas: exemplo tipico déste fato é encontrado na ilha dos Campos, a jusante e proximo de Carolina, e, nas proximidades de Pérto Fianco (Maranhio) e Tocantindpolis (Goids), estando esta “iltima cidade dentro de um babagual Do paralelo de 7° paia o sul, 0 limite da mata amazdnica pode ser con- siderado como couendo em ambas as margens do Ataguaia, com fiegiientes solugdes de continuidade devido & presenca de campos cenados que chegam, hemos due, par quem vai do Tocantins para 0 Ataguaia, 160 amandnico, fem contraste com 0 Tycantins, mais profunde © de Teito mais definide, © terreno que vai entie 0 Tocentins © 6 Ataguais, sobe lentamente, até ag dites “cordilhelnas"”, isto 6 a Borda do platd; dal se vé 1 em baixo o selviso vale do Araguaia’” (Rareoxno Loves — Aspectos da formacdo sertancia, 1) Monats Rico, também di infoumagio semelhante em stat Notus xeoguficus © geol canting, pO no ria Tocantins, para montante, “¢ rocha que forma as harrancas do rio é sempre o arenito, que Thes mprine aspoctor caracteristies, com escarpas abruptas Também o pais marginal tem wm aspecto completamente diferente: a espéasa selva que vinhamos eneontrando desde © baixo ‘Tocantins desapaiece, © terzeng & cobeito pelo capim agreste com drvores esprnsas, terrenos que sto denominados oampos Bernie A cexta distincia das maigens, no melo destas planicies, erguem-se mores de escarpas abruptes © tipo play, todos constituides pelo arenite” Op cit, p 281) % “Por auto Jado, cas sone © vo 7 1, dizendo que a partir de wm ponte situsdo proxino a localidade de Estreto Pag 66 — Janelro-Mareo de 1953 Fig 18 — Fox do rio Santana (2), a/luente da margem es Juenda do araguaia, na altura de estremidade noste da ua do Bananal Neste ponto o cerrado atinge @ margem do gual A mancha ekeura sista ao aldo da fotografia é a'mata do vate deste seu ajluente Foto néren do autor — CNG Fig 14 — Mesmo local da Fig 73, vendo-se a esquerda ¢ ao Ulta da fotografie, 08 campos cervados do territorio golano, Sepurades do Araguaia pela. mata de sua planicie de inundacdo, Foto a do autor — ONG. Pig 15 — Margem paraense do rio Araguaia com grande ccorréncia do ipé amarelo (copas elaias), na mata da sua Dlantete de inundacdo. No 1 plano, porcaes de. grandes ‘aids no Teito do Araguaia (Agosto de 1952) Foto aérea do atttor — GN G Fig 16 — Eatremidade norte da itha do Rananal A direita 0 Araguaia e esquerda ¢ boca do seu brace menor Nobe-se eomo 0 campo cerrado chega até-a margem deste brago, ‘@o ‘lado. goiano Foto aéren do autor — CNG Bg 71 — Povoado na maygem esquerda do rio Avaguaia, no estado de Mato Gosso, em frente 4 ha de Bananal Nesta [aldo o cerrado do territérto matogiossense toca fieqien~ temente @ barranca do rio, nos pontos em que ndo hd Planicte de tnundacdo Foto aérea do autor — CNG Pag 67 — Janelro-Marco de 1953, Fig 18 © povoado da Fig, 77 As dguas baizas da vasante dio’ Araguaia ‘ezpoe™ as rochas do seu lelto, pelo que jul- amos. tratar-se do ‘povoado matogiossente’ denominado Puro de Pedras, entre'os rlos Cusar e Tapirape Por tras ida" povoado 0 campo cerrado, que se estende para 0 oeste, ate 0 hortzonte ‘Foto aerea do autor — CNG. 68 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA por vézes, até os barrancos déste rio, tanto na margem goiana como na paraense. Do lado paraense, como jé tivemos ocasiio de lienta, ela se afasta para oeste, a0 sul da cidade de Conceigio do Ara- guaia Suas_ ocor- réncias na_margem esqueida déste rio se 1eduzem a uma faixa que se prolon- ga, de quando em vez, paia leste, 20 Fig 19 — Mata anaconica, rica em castanheires (Beitholstia excsisa) longo dos _Iaigos Pen babagte torgnin 30) na sepido da" fou do No Araguaia (iri fae las Gotssries eotaduais de Gouda, ard @ Marenndo) Foto aéren do autor — CNG ales dos seus tri- butarios — onientais, que nascem no pla- nalto diviso. Araguaia-Tocantins ¢ sob a forma de compridas, longas ¢ estieitas matas-galerias, jé dentio da rea de predominio dos campos cenados de Goiis®® Fe oa septate, ge usente a te do Ounay io ig 8 — Babar no msigom eoquards do 7 ee eaa) Ea tee nguiel "telus fe gactommere! a gem eal me ai cumpectat aeo we Pee kes nde ee, Seales "'S Spaeth do Campos, @ usante © Mane ee ainaee Para aise casas na faopeaey antense de Caraina te inane aes 8 ororate} peotesiaies = Num longo véo de observagio que, em 1950, fizemos sobre 0 1i0 Araguaia — de Conceigao do Araguaia a Aruan’i (ex-Leopoldina) — sobievoando a ilha do Bananal, verificamos a oconéneia da mata amazdnica em ambas as margens % “No planalio, as matas de anteparo representara a ocorr8ucia da Flora Amazénica em meio 4 Flora Geral do Brasil on Estra-Amazdnien As matas em galeria constituem, juntamente com os fcapses, duns modalidades da mata siez6niea na imensidio dos campos brasileios”” (Lixparvo B pos Sanros — “Floresta em galeria”, Reo Bras de Geografia, ano Ul, n° 3, 1941) Pig 68 — Janelro-Margo de 1953 AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA Cc déste rio, sempre apresentando as referidas solugdes de continuidade. Via de regra ela ocupa as varzeas do Araguaia e dos baixos cursos dos seus afluentes, orr—~r—C—C“=‘=CCCC tuem 0 fundo de intimeros lagos tem- poririos, como ¢ co- mum ver-se na itha do Bananal Tal ob- seivagio, feita por nés do ar, féla Axen. Lororen des- cendo o Araguaia, como se pode veri- fiear ao ler o se- guinte trecho do seu relatorio de viagem: “As tenas margi- Fig. 2 — restemunno de arenito cretioeo, de t6po plang e horicontal, ais, com especia- Ge tneostas sho: coberias de cerrado, ‘ben! como’ 0 nivel ae crosdo lidade as do estado mle cto aérea do eutor — CNG de Mato Grosso, sio notdriamente baixas apresentando, todavia, algumas pequenas campinas € inundaveis, pouco fértei com pastagens 1egulares, intercaladas nos cer téda a sua extensio, af formando uma faixa, a qual avanga de 5 a 20 e mais quilémetios para o interior Na margem goia- na nao séo raras as matas altas e fechadas, denotan- do assim um solo mais 1i- co, porém nao excluindo de todo a presenca dos cerrados cobiindo respei- taveis areas Cobiindo a bacia dos rados, que predominam em quase tios das Almas (formador rig 3 — Patsagem da repido das nascentes dos a/tuentes do Tocantins) largo trecho Gantt cervadoe com matap-valertes semiedeciduas, (ntas do diviso. Tocantins-Para- ee rotseiccene OG nd e as partes altas das ba- cias de alguns afluentes do Paranatba (rios Meia Ponte, dos Bois ¢ Corumbé ¢ do Crixés-Agu (tributério do Araguaia) hd uma giande mancha de mata tro- pical de uns 20 mil quilémetros quadrados® tadicionalmente conhecido por “mato grosso” de Goids © A Lévonrx — Deseondo 0 Araguaia-Tecantins, p 9 % Spempiio Fansso. — 0 “Mato Grosso de Goids”, p 7 Pig 69 — Janelro-Marco de 1952 0 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA NO ESTADO DO MARANHAO. A oconéncia da floresta amazdnica no Maranhio, cobrindo atualmente cérca de 1/3 do seu territério™ (porgbes oeste ¢ noroeste) ¢ um fato jé bem conhecido. Os limites desta area florestal, com acérto denominada, tradicional LIMITES FLORISTICOS DA AMAZONIA MARANHENSE RL FROES. Mone Symmeria Astrocaryum java Astrocaryum murumura Hevea guianensis Manitkara paraensis Manilkara huberi Hura crepitens Swietenia macrophylla Derris urueu Bortholletia excelsa Copemicia ceritera a. ae oder ene cio Ravenala guianensis Limite da flora amazonica Fig ot Ht “Segundo 9 eémputo de Goxzsca, no Maranhio, as mates oeuparnn em alyum tempo crea de 42% da extensio tenitorial; stuslmento, ésse mimeo tem do ser bem veduzide pelo desflorestamento nos trechos mais povoados, como os vales do Mearim e do Mapieuma" esereveu, em 1981, Sixv0 Fr6is Awnew (Ne Tena das Palmeias, » 49) Pag 70 — Janeiro-Margo de 1953 AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA n e expressivamente, “Amazénia Maranhense” e “Guiana Maranhense” — pelo fato da Hiléia e de outros elementos da fisiografia amazénica Ihe emprestarem um cater amazénico, traduzido nao somente pelo préprio quadro fisico como também pela atividade econédmica (explotagio do ouro e economia de coleta florestal) — até hoje nao foi ainda bem definido Alguns autores (A. J. Sam- ato, Rarmunpo Lopes, Siuvio FRé1s Apreu, Grycon pr Paiva, Rrra Ames DA Suva) fazem referéncias — umas com cunho de preciso, outras um tanto va~ gas — aos limites meridionais ¢ orientais da mata amaz6nica em territério ma- ianhense Ranunvo Lopzs, asseverando que “o Maranhéo é nordestino-amazinico”, diz que “a mata hilgia termina precisamente, a leste, junto As vérzeas da baixada Maranhense no vale do Mearim, no trecho do Tocantins ¢ no 1ebérdo do cha- padao que separa o vale déste rio do Araguaia”, afirmando que “o limite é nf- tido, a Yimica excegio das matas intermediarias, que se estendem entre 0 Mearim eo Itapecwu ® Este grande co- nhecedor da geo- grafia maanhense e autor de obras clis- sicas sobre a geo- grafia e etnografia do Maranhio, pro- curando, também, delimitar 0 Ambito da floresta amazé- nica neste estado, tece _consideragées quanto ao aspecto © & composigio flo- TE 85 — cide de inpretre erntdoy a margem aire dp rio vstica da Hiléia eanting 8 enue pata grails are aera MeMEdeS enti do. tenrt6rio maranhense, € sf u- dando, ao mesmo tempo, as formas de transig&o observadas entre ela e as formagées vegetais caracteristicas do Nordeste e do Centro-Oeste Na sua excelente obra O Torrao Maranhense a ésse respeito escreveu: “Entra na zona oeste maranhense, co- hiindo larga parte do territério até um limite que, coincidindo aproximada- mente com o do clima amazénico, se pode fixar no médio Mearim E’ a flo- iesta virgem, caracteristica do clima equatorial Menos entremeados, menos compactas, as matas maranhenses sao similes um pouco atenuadas da grande Hiléia Podemos classific4-las numa categoria peri-hiloeica Foto aérea do autor — CNG v0 © grande botinico e fitogedgrafo A. J Samraro, por sua vez, informa que “a flora amazénica no Brasil nao se reshinge 4 Amaz6nia, isto é, ao territério “Coxna Maros na sun Corografla de Golds — acrescenta éste autor ~ é na eachooira de Santo ‘au, no rio Tocantins, comeca a vegetagiio caraeteristion do vale do Amazonas" (Op cit, p 1) % Ramune Loree — 0 Tondo Mavanhense, pp 62 € 63 Pay TL — Janelro-Margo de 1953 2 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA do Acre e aos estados do Amazonas e Pari estende-se até as cabeceiras dos afluentes do Amazonas nos estados de Mato Grosso e Goias e penetra o estado do Maranhiio até Imperatriz e provavelmente os médios Pindaré e Grajait” Ainda quanto évea de predominio da floresta amazénica em tenitério ma- ranhense temos também as observagées do gedgrafo Sévio FROIs Anrev, outro abalizado conhecedor da geogiafia regional déste estado do Meio-Noxte™. Confinando a mata amazdnica ao oeste do estado e corielacionando a sna ocorréncia com o prolongamento da planicie amazénica nessa parte do Maia- nhéo, diz éste autor, baseado num mapa que acompanha um trabalho de Car- vora Canvautto (O Sertdo) estender-se a mata amazdnica “do Grajat as nas- centes do Pindaré e um pouco além” Este limite, chama a atengio éste auto, “deve ser acolhido porque foi esbogado por um perfeito conhecedor da regitio Verifiea-se que aquéle trecho, outrora referido como campo, ¢ ocupado pela mata equatorial Em tese publicada nos Anais do IX Congresso Brasileiro de Geografia intitulada “O Mearim como 1io limitiofe de uma 1egitio geografica”, a profes sta Rrra Aues pa Strva, observando que sdmente a oeste do rio Mearim ocor- rem espécies botdnicas tipicas da flora amazdnica, diz. ser éste rio “tipicamente amazénico na sua maigem esquerda” °S, Compiovando esta asseigao, informa: “Quem observa as matas maranhenses, estudando-se desde as margens do Gu- 1upi as do Parnaiba, numa extenstio de 6 giaus ou sejam céica de setecentos qui- lometios, ter oportunidade de veuificar a diferenca de esséncias que ela vai apiesentando Do lado ocidental para o oriental, encontram-se a paxitiba, a castanha, a copaiba, 0 cumaru, 0 crayo, a seringa até as terras que formam a bacia do Mearim, & margem esquerda, a0 passo que da margem direita, passa-se a encontrar plantas de carter xexdtilo ¢ os espécimes propriamente amazdnicos desaparecem por encanto. Nao mais castanheiros ou seringueiras do Cain, nao mais cumaru ou cravos do alto Grajati © panorama comega a ser oub0 Os campos baixos sio de menor extensio e os tesos numerosos” *? O flagrante contiaste vegetativo existente entre as maigens ditcita e es- querda do rio Mearim, jé tinha sido notado por Sitvio Fadi Awrev que, em seu livro Na Terra das Palmeiras, escrevera, hé 20 anos atis: “No rio Meaim, a zona de caatingas aparece acima de Pedreiras, perto de Angelim; téda a margem. direita do rio ja é plena regio tfpica de caatinga, enquanto na maigem esqueida, °% Qs torvitérios federnis do Amps, do Rio Branco © do Guaporé todos amazinicos, foram consti- tuides, com partes desmembradas: © psimeio do estedo do Paré, © segundo, do estado do Amazonas, © 0 iltimo dos estados do Amazonas e do Mato Grosso Op cit, p 33 % As matas ao sul dos carapos da. baizads amazbnieo, quanta néo cheguem a sepresentar n verdadeia pu eserove FROis Awney devem sor filadss a9 tipo nea da Hyloea Sio formagées bids com muitos representantes tipioas da flora amnzOniea encontrando-se, mesmo, om alguns trechos a Hevea Inasitiensiy Tnfelizmente aqui ela jd nfo encontra o pesfeito habitat e as tentativas feitas par © seu aproveitamento, ao que nos consta, foram mais ou mencs malogradas Palmeisss da Hyloea como gat (Buterve) sfio comuns; a baunilha & até hoje objeto de exploragio © as mudeicas de lei poderiam representar uma rendosa atividade se a iso nile so opusesse a dificuldade de transporte ‘As matas do Turi e do Mameagumé so tidas como portadoras de excelentes esstncias florestais Em alguns trechos halos hi verdadeizos igapés como no vale amazinico As matas, em sex eonjunto, ropresentam umn faixa no limite da baixada e cedem 0 terreno nos campos do planalto do interior i fem zona mais sea" (Observagées sdbre a Guiana Mavanhense, pp 29 © 40) S Fnéis Anmev — Na Terra das Palmeias, p50 & Op cit, p 516 ™ Op cit, » 515 BNO — omos s¥moy, ap waren oor (sopnsis9 sodmvo 2 eonpyoop-rmse . -OpUapusteg “SuHUDIOL OL OP DIaLsP webiDU » ‘ouNOIND 2p >DPPIO spuigqns-soyou) opyun.e, op Ins OP voIds2 opdeseBea v asuazuOY O P10 2H = 90 a Marco de 1953 Pég 18 — Janetro- ™ REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA Ancia do 1io, a flora das serras ainda tem acentuado caater hidré- ‘As informagées que acabamos de cotejar, informagées dadas, de mancira to pormenorizada e incisiva por verdadeiros conhecedores da geografia regio- nal da vegetagio ¢ da flora maranhenses, pois, oriundas de varios autores, con- cordam geralmente umas com as outias, sio confirmadas pelas recentemente for- necidas pelo Dr Ricarvo Lemos Fré1s, botinico do Instituto Agionémico do Norte, que acaba de comprovar a ocoriéncia de certas espécies da flora ama- zonica no Masanhao, apresentando em um cartograma (Fig 83), a distibui- Gio das espécies por éle estudadas Como resultado désses estudos, R. L Fréis é também de opiniio que a regitio amaz6nica “penetia o estado do Maranhiio, por assim dizer, como limite geogrifico, ao leste, o rio Mearim, cujo cmso em quase tdda a sua extensio se reveste de aspectos puramente amazinicos exceto os extemos do mesmo com transigdo para o litoal, em sua parte inferior, e transigdo para a flora do Brasil Central, em seu extremo superior”, concluindo que, baseado em seus estudos a “Amazénia Maranhense pode ser ragada dentro do estado de modo tio inequt- voco que, sem eslérgo, qualquer pessoa, mesmo pouco dada a tais assuntos, po- dev& reconhecer facilmente ésse engastamento natual ao qual nos repoitamos Quanto a area coberta no Maranhiio pela flora amazénica, fator que Ihe imprime 0 cate: “amazénico”, da chamada Amazénia Maranhense, diz éste botanico: “Devemos salientar que, dentio dos quilémebos que compreendem a fea do estado do Maranhao, quase 50% constitem 0 que se pode chamar de Amazénia Maranhense I portanto esta a melhor poigio floxistiea do estado do M ou limia da AmazOnia, 0 que se pode identifica. através dos varios aspectos i > 301 yanhio natu bem ressaltantes ja & primeira vista’ Os limites apresentados pelos autores em aprégo concoidam grosso modo, com os que obtivemos através da interpretagao das fotogiafias adreas de que dis pusemos °, para identificar a floresta amazénica em tenitério maianhense. Em nossos vos de reconhecimento (de Imperatriz ao rio Grajat), pudemos, no entanto, verificar a presenga da mata amazOnica nas bacias dos formadores do iio Buniticupu (afluente do Pindaé), no vale do Alto Pindaé (na alta do paralelo de 5°15’), onde o sobevoamos transversalmente éste vale, sdbie o divisor Gmupi-Tocantins e nas vertentes meridionais da serra do Gmupi, ao norte do Tocantins Nestas regides a floresta densa (e que naquela ocasiio — més de julho — apiesentava grande nfimero de ipés, amarelos e 10x0s, de copas intehamente floridas) cobie, relevos tabulares (chapadas) muito dissecados, ostentando es- caipas aleantiladas de atenito vermelho ¢ reveste as encostas di entre éles existentes, bem como as encostas dos serotes tounados por Pindaré-Tocantins e 'Tocantins- stes chapadées, ciistas aparentemente monoclinais Nos divisor 29 Op cit, p 51 46. Yer, para maior minieia, o anexo n° 2, na segunda parte do presente trabalho, a monogratia A Amoziinia’ Maranhonse, de autora do botinico RL. Fnéts especialmente esaita por solicitagi part servir de texto explicatiso do sou mapa inédito da ocorrénica deal famazanica do estado do Marmbso mas espdeles da flora Dispusemos sdutente de poucas finns fotogiafndas, io podendo ser feito neste estado a ldentifieneio da vegetagio em vérias éreas limttrofes da floresta amazdniea (ver eartostama da fig 2) Pig 74 — Janelro-Moreo de 1959 AREA DE OCORRENCIA DA PLORESTA AMAZONICA “DO — o1mog syNOL 9p Tax9e O10 sopvsi99 soduioa 2 (sony: simanjjossnt svjpu (susguno0g, op ostiany{n ‘oywund O11 Op DIN uss sopm) 29198 9p no jusjounD 2p sysopion D “arustunanw Ine OP mUoUON/oHe — Le “Sit ee Janetro-Maxgo de 1953 Pag 15 6 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA Gurupi, onde estio as “senas” da Desordem e do Guiupi, sao freqiientes morros de forma cénica, com pequeno tépo tabular (auténticas butte-temoins), teste- munhos dos nfveis dos chapadées dissecados, todos cobertos de mata Nestas matas vimos muitas copas de aivores sem félhas ¢ regular ntimero de palmeitas com 0 aspecto de babagu: pidximo ao 1io Tocantins aumenta o niumeio destas palmeiias, sempre espalhadas na floresta A. presenga do babagu nas matas do alto Pindaé e do Al- to Mearim é um in- dicio da transi¢&o flo- uistica amazénica pa- 1a a noidestina, isto 6 da vegetagio hi- chdfila para vegeta- gio xerdfita ou se- mi-xer6fita”®, Enbe Impaatriz © Giajait a vegetacio dominante é consti- tuida ora por mar Pig 88 — Depressées fechadas, de forma circula, com tagos no sen chas de formagdes Focantins (Sista near Bo" mate, ancl | A maigent aneita, do To aubéeas com srvores inironnonse, 0 i Lajeado. Halse de\aninas earae's 210 eneee Ge segulay alta, tuonco fino e copas quase totalmente desprovidas de folhas( nfo pademos identifica do ar estas informagdes apesar de pensarmos tatar-se de ceiadées ou caatingas altas) ota cenados ralos Ao lon- go dos cusos d’égua mais impoutantes estos em- pic presente matas-gale- rias pouco densas e de as- pecto fiancamente semi deciduo, (matas-séeas po- bies ¢ sem exuberancia). Nas manchas das forma- Ges aibéreas cadas, ha giande oconen- cia de palmeitas babacu, altas e frondosas, cuja con- Sn ee Pe Bila ge Raat tiny items de Gatde demos nota: nos trechos jucas (eerrttdnio, maranhense) co ro’ Tocantins, a0. kent em que este tipo de veye- Gesplaas’ das duores eas" conas om leque das) palmcbas tagio ivi derrubado e quei- Mote actea do autor — ONG mado, para peqenas plan- nao identiti- 2% Sugunda Fnois Annee esta palmeit “ocupa a zona de transieho entie a grande mata equatorial fas terras mais sons ane fa mosteum 0 tipo novdestino"” (Op cit, p 51) Pg 16 — Juneiro-Marco ae 1953 AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA n tagdes™, como dbservamos no trecho compreendido entie Imperatriz. e as cabe- ceiras do cérrego do Cacau, no chapadao divisor Pindaré-Tocantins (conhecido pelo nome de “serra”! da Desoidem) coberto de campo cerrado e cerradée: Em resumo, ao Mara- nhao, a floresta amazénica cobre téda a porgio no- ioeste e oeste do estado e parte da sua regiao cen- tial abiangendo as bacias dos rios Gmupi, Turiagu, Pindaré, os vales médios e inferior do rio Grajati e a poigéo ocidental do vale médio do Mearim, confi- nando ao noite do estado, de maneita extremamente imptecisa, com as campi- Fig 90 — Mate decidua com palmetra vadag Noten-se as nas inunddveis da “Baixa- ‘tre slas as paimas vigosas € brittantes do babagu (ohapee da Maranhense” e com a °* °* "2M? 495 forme eae) indares emt terrtiorio chamada “Zona dos Co- Foto aérea do autor — CNG cais” O seu limite orien- tal em tenitério maranhense deve ser 0 rio Mearim, a partir, aptoximadamente, da altma do paralelo de 5°, para jusante; o seu limite meridional poderd ser estabelecido por uma linha sinuosa que liga a cidade de Imperatriz, Aquele 1i0, no ponto em que o mesmo é cortado pelo referido paralelo. CALCULO DA AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA NO BRASIL De acéido com a delimitagao por nés apresentada, a Area do territério na- cional onde ocorie, de mancira contfnua e descontinua, a floresta amazénica, pode ser estimada em 4 161 482km* correspondente a 48,87% da drea total do Brasil. ‘Ao que sabemos, os tinicos cdlculos, também estimativos, existentes da diea de ocorréncia dentro das nossas fronteiras, da floresta amazénica, sio os de Gonzaca DE Campos (1911)'* e de Pauto F. Sousa (1945)#"", O primeiro estimou esta érea em cerca de 8000000 km®, ¢, 6 ultimo, em 3.500 000 km*, respectivamente, 87,81 e 41,11% da 4rea do territério brasileiro. 10. Sobre a extraordiniria resistencia do babagu ao fogo eserove Fnéis Annce: “O cocal com sua grande capacidade de reprodugio, tende a ocupar uma frea cada ver maior, de modo que homem, na defesa do espago pata as rogas, Huta contra a invasio das pindovas Em quase t6das fas rogas se véem tocos de palmeisa chamuseada pelo fogo ow pindovas trotando agui © acoli, entre a mandioca, o arrez eo algedio” (bd, p 55) Pindova & nom reqionalmente dado is jovens pelmefras babagu 32 Estas setras “info passam de chapadas pouco mais altas que o terreno cireuavizinho" (Ibd, p 5) we Gowzaca ve Castwos — Mapa florestal do Brasil, p 17 Bt PavLo De Sousa — The Brasition Forests, in F, Verdoom, “Plants and Plant Science in Latin America”, p14 Pag. 77 — Janelro-Margo de 1953 7% REVISTA BRASILEIRA DH GROGRAFIA Da drea que obtivemos, nao foram deduzidas as superticies campesties ow de vegetagio atbustiva ¢ abérea nfo florestais, onde também ocone a flo- testa amazénica, ¢ encontiadas nos estados de Mato Grosso, Goias, Para e Ma- ranbio, bem como nos tenitérios do Amapa, Rio Bianco e Guaporé ‘Tais Areas de ocoréncia mista da flovesta amazénica, somariam cérca de 499391 km*, ow sejam 12,06% da dea total de ocoi1éucia, predominante € mista, da mata hileiana, acima apresentada A faea de oconéneia da floesta amazénica nos estados onde séo encon- trados os seus limites meridionais © orientais, sfio as seguintes: Ke %s/ a drea do estado Mato Grosso 544 612 43,40 Goids 15 683 2,51 Maanhio 150 850 45,93 Ao lado da zona limitrote das penetiagdes mais meridionais e orientais da mata amazénica em nosso tenitério, hé extensas areas nas quais esta foresta também ocone descontinua — oa sob a forma de matas-galerias (faixas de con- tomos ¢ laguas varidiveis), ora formando giandes inanchas como nas matas de depressdes e de cabeceiras, em meio a formagées niio florestais (como, p ev, cenadées, cenados e outias tomas de tansic&o ene a mata e 0 campo) FLORESTA AMAZOMICA Area total lmereas NIDADE FEDERADA (Km2) , &% sobre 3 i 9% sobre a Deorrencia | area total da | OPMMEnCIa | sre total da predominante | 22 tla mista fan, i) federada wD erada Ane 152 694 152 588 100,00 ~ = Amapé 337 908 101 494 7391) 35 925.) 26M Amazones 1593 281] 1 570 476 om19 | 22 150 139 Golds 622 912 295 O47 | 12-698 @) 2003 Guaponé 242 903 2 550 stis| 49 618 @) 241 Mmanhio 332 174 7 900 wn! 35 975) 10383 Mato Grosso 1 254 921 313 715 25,00 | 141 350 (6) 1126 Pard 1299 483 ] 1-086 273, 831) 130-453.) i000 Rio Branco 230 60 120 391 cate 36,38 (0) Incanto 9 non dou eugeoy ox Tits atlatien amautuio: — (2) Telia 8 exons cunts wo ios Labo Hab tio Arsiz enter ties Turve © Shasta fesion o-Ps, os Jitas do eatromororte goimoy onde 2 insti snsazonra & encontrice em ves enevetts ¢ dens, eH tio as exe cer Frais o ernidoy (4) Inca 2 dnews tn Meatis das chapertis les Datseis e dos Paads-Novis, dos eunps de Cut Toman ils ado ee vate do sa Gagonds —~ Cr Tenino a anus devout wsea (loves © eampetee, ea Buea Marulonen sa al io esl eat ey thas Pisa ¢ Senin — (0) Taslndo a rons de verstugin mista do woreee nora Als eatado tinuinda sé, Xingas—~ (7) Tneliedes zonas de vagoaeao mista Wo stone vo estas (Sere Ne Car ihn do Navy sa Brive Aaosnae er vestente wate fo Wale dn tens, — (9) Dyed. ag tons ewe cm too then ¢ ses aes Wein © Ms me silo A diferenga entre a area tesultante da delimitagio agora feita pelo Conselho Nacional de Geogiatia ¢ a diea comespondente aos limites da duea de ovonéu- cia da floresta araazénica elaboada pelo C N G em 1942 (que pertazin 3.447 110 km, equivalent a 40.48% da Aiea total do Brasil), ¢ de, aproximada- mente, 714 372 km* Desta maneiza, a atual delimitagio veio conigi, de muito, a até entio adotada pelo Consciho, a qual, como tddas as delimitagSes ante- riores, havia sido tagada a custa de vagas inlormagées ¢ das mais variadas con jeetuias Pig 78 — Janehio-Maigo de 1953 AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA 7” Salientamos que os valores das areas aqui representadas sao estimados, sendo 0 resultado de medidas planimétricas das ocorréncias até agora conhe- cidas, cujas delimitagdes siio, todavia, ainda acentuadamente esquematicas e muito imprecisas. Esclaecemos ainda que no cdlculo da éiea de ocoméncia da floresta ama- zonica, ora apresentado, estio abrangidos os trechos desta grande mata jé de- vastados para a agricultura, pecudria e pela industria madeireina (sdbie 0 que ja existem estimativas do Instituto Nacional do Pinho), nao se limitando apenas a0 cémputo das atuais reservas florestais da Amazénia, cuja delimitagao Wavren A Ecter esboga em seu cartograma que aqui 1eproduzimos 1% Fig 91 — Cartograma das grandes reservas florestais de terras devolutas existentes em 1961, segundo Waueun A “Houn Revelando as fotografias areas (por nés utilizadas para a organizacio dos mapas fitofisiondmieos que acompanham o presente tabalho) as ‘reas floestais, devastadas com os objetivos econémicos acima mencionados — e representadas por campos de cultma, capoeias © pastos artificiais —, chamamos a atengio para a utilidade destas aerofotos no mapeamento e cilculo das nossas reseivas 48 Nesta sua tentative de dclimitagfo Besim sestringe demasiadamonte a yea da mata hilelana sinda no devastada no Maranhio, bem como, a estende por s6bre todo o grande chapndio dos Parecis, no estado de Mato Grosso e no tersitério do Cuaporé (W A Rourn — “Pioblemas agrivios do Brasil”, Boletim Carioce de Geogvafia, ano IV, ns 2, 3.6 4, p 43) Pag 79 — Janetro-Margo de 1953, REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA bia- io de todo 0 tenit én, ite na Amazénia como tamb io sdment florestais, sileno Assim, a regio amazénica ou Hildia, detinida pela trea de oconéneia da sua floresta tipica, é, aproximadamente, 87,94% flovestal e 12,06% nao flo- restal_e campestie ENCIA DA IE OCORK MUNICIPIOS ABRANGIDOS PELA AREA DI FLORESTA AMAZONICA. a exes apitulo que se acham inteiamente ou em patte in- Destinando-se 0 presente tabalho & delimitagio da regio onde seu cutado 0 que determina o artigo 199 da Constituig: aptesentamos no ¢ ao, ipios a fo dos munici iio d segninte a relag a hileiana, a ou descontinua, da florest , continu: énci: cluidos na grea de oco 5 5 8 4 g $ x i Pig 80 —- Janelro-Marco de 1953 MUNICIPIOS DO ESTADO DE GOIAS ABRANGIDOS PELA AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA. ITAGUATINS TOCANTINOPOLIS FILADELFIA Fig Pig 81 — Janeito-Marco de 1953 RBG a REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA MUNICIPIOS DO ESTADO DO MARANHAO ABRANGIDOS PELA AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA cuRURUPU + SANTA HELENA BEQUMEO| GUMARAES ALCANTARA + SRO Luts = KO BENTO, + CALARIO 10. SAO VICENTE FERRER 1 MATA, 12+ PENALVA 19+ CAJARI 1 - ROSARIO 18. FTAPICURU- Maria Fie 94 cujos limites meridionais e orientais foram, como ja tivemos ocasiao de salien- tar, escolhidos pela Camara Federal de Deputados, om seu projeto de lei, n° 267-C-1948, para delimitar a Amazdnia Brasileira, Pag 82 — Janeico-Margo de 1953 AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA a3 Com o auxilio desta relacio, pode-se prontamente saber quais os municfpios brasileiros que se acham total ou parcialmente inclufdos na regiio amazdnica (definida esta segundo 0 critério do Ambito da sua floresta tipica) e nos quais deverd ser levado a efeito o plano de valorizagdo econdmica de acérdo com 0 estabelecido por aquéle artigo da Constituigio Ilustram esta relagéo cartogramas parciais da réde municipal dos estados de Mato Grosso, Goids e Matanhao (Figs. 98, 94 ¢ 95) que mostiam os muni- cipios cortados pela linha limftiofe da drea de ocorréncia da mata amazénica nessas unidades federadas, bem como, os municipios que esto totalmente in- cluidos nesta rea PRINCIPAIS CARACTERISTICAS DEMOGRAFICAS E ECONOMICAS DA AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA A frea do territério nacional onde ocorre a floresta hileiana, tinha, em 1950 uma populacgio de 2571436 habitantes, representando ésse contingente demognafico 5,226 da populagao brasileia naquele ano Sua densidade popu- lacional era, entio, de 0,6 hab/km? Segundo ste ciitério, as Areas consideradas amazénicas das 9 unidades federadas abrangidas pela Hiléia, abrigavam em 1950, respectivamente as se- guintes populagdes absolutas: Aae bce eeees 114 785 hab. Amapt.. 20. ue. ee 87477.” Auer ee it 000k Goids . Loe. 52608” Guaporé ... 37935 ” Maranhiao . 741.028” Mato Grosso U3 145 ” Part . 1123973” Rio Branco . 18116 ” TOTAL 2751436 ” correspondendo éstes totais A soma das populagdes absolutas dos municipios in- teiramente ou em parte inclufdos na area de ocoréncia da floresta amazénica. ‘A densidade de populacao (0,6 hab/km®) desta grande drea nao é unifor- memente distribuida Muito pelo contrério: sdmente em duas zonas — a Bra- gantina, no leste paraense (10 a 50 hab/km*) e a da Baixada Maranhense (10 a 23 hab/km*) — 6 encontrada wma relativa concentragio populacional que, apesar de fraca, constitui vivo contraste dentro do impressionante vazio demo- mdfico (de densidade de 0,5 e menos hab/km*) que caracteriza a Amazonia, como se pode verificar pelo cartograma das isaritmas de densidade de popu- lagio da drea de ocorréncia da floresta amaz6nica, organizado com os 1esul- tados do recenseamento de 1950 (Fig. 95). Nesse ano, Belém e Manaus abri- gavam, juntas 1/6 da populagio de téda esta Aiea. A extrema diluigio da po- pulagio rural da Amazénia motiva a sua notéria escassez em mio de obra, um dos fatdres negativos mais sensiveis da economia regional. Apresentamos a seguir a relagio dos municfpios inclufdos, com todos os seus territérios ou com parte dos mesmos, nesta Area, bem como, suas respectivas fueas, populagdes © densidades demograficas Pég 83 — Janelro-Margo de 1953 REVISTA BRASILEIRA DB GEOGRAFIA MUNICiPIOS Poputago | Area (Km2) | Hablkm2 HSTADO DO AMAZONAS 1 Banestos son 122 833 04 2 Banehinha 8 706 7 3TT 115 3) Benjamina Constant 138 76 644 035 4 Béea do Acre 14 287 22 500 068 5 Baba 18 656 145 88 03 & Canutama 10 4 102 995 020 7 Garauasi 16 2 70 583 0B 8 Comi 16 526 a 028 9 Codaiss 14 800 25 15 O58 10 Bnepé 2 873 55 633 ost 3 Bonte Boa 14 637 71 354 ot 12 Humaité 12-790 344i 037 13 taquatiais 30 102 13.1 231 14 Htapirange 3 688, 19-998 038 15 Lares 21 988, 106 284 o2L 18 Manaeapure 27 350 37 998 072 YW Manaus 130 620 74 508 18 18 Manicoeé 20 503 5y 278 035 19 Maus 15 128 50 0 025 20. Pavintins 25 602 16 758 1,58 BL So Paulo de Olivenga 37 66 954 025 22 Tels 10 321 a7 AT 047 23 Vaupis 14 one 164 165 0,08 24 Unveard 3672 a on0 2 Trueuitube 7307 3.02 200 TOTAL 514099 | 1 588 281, 0,32 ESTADO DO PARA 1 Abactetube 36 587 1 082 2 Acai 20 007 15 017 3 Aind 16 13 5 50 4 Alonguot 1647 22 855 5 Almeirim 5256 67 200 a Alas 7 669 282 070 7 Aneji 8 210 7286 8 Ananindeus 38 303 a 9 Anhanga 649 480 10 Avmida 7038 2 45 i Atation 677 13 388 12 Brito 4801 471 38 Baveatona 13176 08 4 Belim 254 M9 mu 15 Bragange 57 888 117 16 Breves 93th i Buia 18 Camo 19° Capanoma 20° Capi A Castanhal 22 Chaves 23 Conesigio do Anaguaia 24 Cimalinbo 25 Cunugé 26 Fue 37 Guam 28 Cunmpé 12.410 29 BsmapiAgu 35 370 20 gatapeMi 18 816 BI Inhangapi 4610 32 iia 13 658 383° Utsituba 10 862 Pig 84 — Jonelro-Mareo de 1953 AREA DE OCORRENCIA DA FLORESTA AMAZONICA 85 MuniciPios Populagéo Area (Km2) | Hab/Km2 ESTADO DO PARA 34 Ttupiranga 2 901 15 045, 9 35 Joao Coelho 10 710 698 15,34 36 duruti 12 003 10 067 1,25 37 Marabé 11 130 59 742 19 38 Maracank 16 351 1 088 15,60 39 Maapanim 15 948 or 17,30 49 Mocajuba 6 613 78T 8 41 Moju 33-153 11 606 113 42° Monto Aloge 14 695, 2 700 053 43° Muand 10 846 3-337 325, 44 Nova Timbotoua 14 801 1197 1237 45 Obidos 16 088 28 408 O37 46 niximins 12 209 47 Omém 13-423 48 Ponta do Pedras us 49 Poitel n 472 50 Porto de Mas 4 952 51 Prainha 4530 52 Salindpolis 14 109 53 Santaaém 60 229 5k Sto Castano de Odivelas 9 931 55 So Sebastito da Boa Vista 6 748 56 Bowe a7 419 57 Tuowul 2 48 23-768 19 893 17 312 115 1133] 120 10 0,93 ESTADO DO MARANHAO 1 Aledntata 1 168 2 Anajatubs 925 3) Avail 1301 4 Bacabal 4-301 5 Boquimao on 8 Cajapis 1028 7 Cajati 702 8 Cindido Mendes 13 5987 9 Canutapaa 10 269 14 44 10 Cunmupu 33 816 3-365 1 Grajat 33 111 29 348 12° Guimariies 2 002 2719 13 Impaabis, 14 084 5 14 Ipixuna 29 605 15 Itapecwu-Mirim 31 379 16 Matinha 11 987 17 Mongio 6 030 18 Pedreitas 59 475 19 Ponalvn 12 878 20° Porimitim nm Dt Pindané-Minim 10 936 368 22 Pinheivo 39 256 3 60 23° Rosivio 2 886 1 940) 4 Santa Helena 7 409 2383 25 Sao Bento 2 366 765 28 Sao Lule 119 785 857 27 Sao Vieonts Fer 27 293 1798 28 Twiagu 12-890 8 430 29 Viana 2 827 818 30° Vitstia do Mearim 29 678 7-068 TOTAL TA 028 147 100 Pég 85 — Janeiro-Marco de 1953 8 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA MUNIciPIOS Populagéo | Area (Km2) | Habjkm2 STADO DE MATO GROSSO 1 Aviguanst 2038 | us 790 oot 2 Brora do Bugrea Farr 17 20 18 3 Baia do Gagas 6 628, 179 507 08 4 Cireres 19 262 40 905 | 047 5 Cuiaba 56 204 1S) 563 a3 6 Diamantino 6 169 138 833 08 7 Nato Grosso | 298 67 0.05 8 Rositio Ocste | 16 883 28 878 0.59 TOTAL 113-145 789 186 a4 STADO DR Gols 1 Atay 412 8 208 2 Riadeta 13 258 4 oi 3 dtaguatina 6 410 7510 4 Tocantinspolis 28 750 7460 TOTAL 52 608 a7 519 ERRIPORIO DO ACRE 1 Basia 7 808 420 2 Counita do Su 21 71 0,50 3 Reis i407 on 4 Rio Braneo 8 246 15 5 Sona Madueita 18 085 a & Tmauact i ama O88 7 Xapwni 087 124 TOTAL 114 155 182 589 4475 TERRITORIO DO AMAPA 1 Amapi { 39.978 | 022 2 Macapa 27168 076 3 Masago 44 221 on 4 Oinpoque 28 346 a2 TOTAL 135 908 0,28 RITORIO DO GUAPORE 1 Guajaag Mivim q 88 $88 ot 2 Pirto Velho 27 4 15 097 a8 TOTAL | 36 935 242 983 05 TERRITORIO DO RIO BRANCO 1 Boa Vista 167 131 oy 2 Catrimtni 73 529 ot TOTAL 230 660 088 Pig 86 — Janeizo-Maico de 1958

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