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ee INDICE Prefécio 11 Introdugéo 19 caprituto 1 O Valor na Linguagem 21 capituto 2 OValor_em Mi ios Contextos Cientificos 27 SEGUNDA PARTE © VALOR EM PSICOLOGIA capitvero 1 Valor e Conceitos Afins 49. capiruro 2 Classificacdo dos Valores 59 caviruro 3 Q Valor Subentendido 65 carizuLo 4 0 Valor em Diversas Teorias Psicolégicas 77 uizos de Valor 99 cariruLo s Instrumentos de Medida do Valor 105 caritunro Valor_e Inteligéneia 113 caritoLo 5 apénvice 1 Anélise das Relagoes Entre Valores Profissionais, Aptidio Intelectual, Nivel Shslo: Econémico e Sexo 123 Apixpice 2 si sernis 14" Apixpice 8 Bibliogratia 157 Materlal com direitos autorais A Cecilia, Marcia, Silvia e Eliane, com desculpas pelo tempo que lhes roubei. Ao Leonardo. Dedico, também, este trabalho aos Irmios Maristas. Ascese, espirito hu- manistico, devotamento impar 4 juven- tude, desinteresse e sinceridade, esta foi a atmosfera que me proporciona- ram durante anos os educadores ma- ristas aos quais o Brasil ainda nio sabe o que deve. PREFACIO! O homem moderno, herdeiro da bimilenaria civilizagio crista que 0 impregnava até a medula dos ossos das aragens do sobre- natural, foi caracterizado como “palmilhando ecaminhos que nao o levam a lugar algum’, como um ser trepidante e esva- ziado pela tecnologia. Este mesmo homem assiste, estremu- nhado, ao disparo dos foguetes interplanetarios, vé um dos seus pisar na lua e dé procuragio aos meios de comunicagio de massa para que raciocinem por ele. A realidade aplastadora dos triunfos da ciéncia, traduzida praticamente nos mais variados artigos e aparelhos que au- mentam seu prazer ¢ velocidade, faz com que o ser humano veja, com nostalgia, ficarem para tras, envolvidos numa névoa cada vez mais espessa, as crengas e os valores que o acalen- taram durante séculos. E a mais grave, parece-nos, é nao saber quem deve ser colocado nos altares solitérios dos quais foram destronados os tradicionais ocupantes. Diriamos que o tempo em que vivemos é 0 do triunfo do concreto, Conseguiu a tecnologia traduzir a ciéncia pura, os principios e os sistemas em artigos de uso quotidiana que se véem, comem e gozam, Nada mais natural que, por um pro- 1. Este trabalho ¢ a primeira parte de wma tese de doutoramento apresentada em 1973 ao Instituto de Psicologia da Universidade de Siio Paulo, Estas circunstineias explicam as referencias ocasionais A pes- quisa apresentada na 2,9 parte da tese original, [lt] cesso irracional de associagdes, por um condicionamento, di- riam os comportamentistas, 0 homem tenha igualado valores a sonoléncia e ineficiéncia enquanto ciéncia passa a significar atividade, eficiéneia e valor. Segundo o hipotético editor na obra de W. Koehler The place of value in a world of facts h& algo errade com a ciéncia, “Se perguntarmos aos pesqui- sadores e cientistas sociais se as guerras, desempregos e ou- tros problemas sao causados por forgas histéricas andnimas ou erros de agentes responsaveis, vém eles com distingdes entre fatos e valores, Cada cientista tem sua horta bem cuidada e nada enxerga além destes limites. O resto do mundo nfo thes interessa”. Adverte 0 mesmo “editor”: “Se os professores nao cuidarem (...) outros apareceriio e serio seguidos quaisquer que sejam suas explicagées ¢ leis” (Koehler, 1938, pags. 8 e 4). * Talvez a consciéncia deste problema, desta defasagem entre mundo dos fatos ¢ o dos valores, nos tenha levado A escolha do tema presente, embora conscientes de nao podermos con- tribuir notavelmente para sua elucidagao tedrica, a fazer antes de filésofos que de cientistas. Nossa principal contribuigao seré uma anilise ¢ discussio das relagées entre o valor, num contexto muito menos ambicioso, e certas variaveis classieas, j4 sobejamente reconhecidas como fontes de variagio. Somente nesta perspectiva menos pretensiosa, dirio muitos, é que algo de novo e sélido pode ser executado, Os altos vos ds raizes ontoldgicas, mui adequados aos tedlogos com pele de ovelhas e aes metafisicos, “poctas que erraram de vocagio”, conforme a ja célebre e injusta observagdo, nada trazem senao terminologia confusa, imprecisio de objetives ¢ quejandos produtos dos quais a Psicologia cientifica deve desinfetar-se pois a ela sé interessa “o que esti dentro da pele” confarme observagio comum nos arraiais positivistas mais radicais. Recusamo-nos a endossar a truculenta e tosca divisio da tarefa do compreender, repartindo-a entre o filésofo e o ci- entista, aquele confiando a anddina ocupagio dos porqués, [BR] dos significados, ¢ a este, a ponderosa tarefa do como, quando, onde, do controle ¢ da predicao, Ao nosso ver ainda nao fo- ram definitivamente elucidadas as inter-relagdes destes dois tipos de tarefa, E claro que, por uma questio de divisio de trabalho, por uma questao de metodologia, jA houve uma di- visio da tarefa do compreender. Esta divisio é, parece-nos, convencional, proviséria, pois na unidade da pessoa coexistem as duas ordens de preocupagées. Cremos poder discernir neste paradoxo, diviséo artificial numa unidade natural, mais um exemplo das clissicas dicotomias com as quais se debate o espirito humano. Dicotomia e contradic¢io entre 0 tedrico ¢ o pratico, entre a ordem do conhecimento e a da realidade, o materialismo e o espiritualismo, a teorizagdo S-R e a cogni- tiva, o entender e @ compreender, andlise e intuigio, Lem- bremos que para Zenio de Eléia 0 movimento era matemati- camente impossivel (Klimke, 1947 pg. 27; Thonnard, 1968 pg; 19-21). Estas sio dicotomias ou paradoxos, sob um ponto de vista esttico ou analitico que congela, por assim dizer, as continuas interagées e mostra-nos uma secgio transversal inerte da realidade. Sob o ponto de vista dindmico resolvem-se algumas contra- digdes, Outras parecem persistir e sido fruto talvez do instru- mento com que abordamos a realidade. Suzuki, 0 mestre da doutrina Zen, a este propésito escreve: “O intelecto interfere e rompe a experiéncia, a fim de tornd-la acessivel ao trata- mento intelectual, 0 que significa uma discriminagio ou bi- furcagiio. O sentimento original de identidade se perde e o intelecto pode ter a sua maneira caracteristica de dividir a realidade em partes separadas (apud Allport, 1966 pg. 473). Esta especie de “desconfianga” da inteligéncia est clara- mente expressa por Rogers (Rogers, 1970, pg. 33) em seu livro Tornar-se Pessoa quando afirma: “Quando sinto que uma ati- vidade é boa e que vale a pena prossegui-la, devo prossegui-la. Por outras palavras, aprendi que minha apreciagao total “or- ganismica” de uma situagio é mais digna de confianga do que o meu intelecto”. Nio é muita pretensio querer que a [8] linguagem dos homens traduza o fluxo das naturezas sob o fenédmeno? pretendemos continuar, pois reconhecemos nossa insu- ficiéneia até no expressar este problema que nos preocupa. Esperamos, no entanto, que nosso trabalho, como um todo, desperte a atengdo, dos que dele porventura vierem a tomar conhecimento, para este tépico que, apesar de acérrimos, emocionais e mio emocionais debates? ainda, como frisamos acima, nao foi alijado da Psicologia, nem de qualquer outra ciéncia e pode ser tratado a partir de consideragées sérias, nao diria frias, e objetivas, num contexto de ciéncia, de filo- sofia e sobretudo num contexto de pessoas para a solugdo de cujos problemas a Psicologia procura contribuir. Agradecemos aos que deram sua contribuigao maiéutica a este trabalho; ao Dr. Arrigo Leonardo Angelini, que apesar de suas miltiplas atividades sempre achou tempo suficiente para uma clarividente orientagio; aos docentes do Departa- mento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade, do Instituto de Psicologia da Universidade de Sao Paulo, sobretudo aos Drs. Romeu de M. Almeida e Geraldina P. Witter, que nos contatos formais e informais muito enriqueceram nosso trabalho por suas criticas, acrésci- mos e sugestées. Fizeram-nos desconfiar muitas vezes que “havia no céu e na terra muito mais coisas do que o sonhara nossa filosofia 5, Nas anilises estatisticas fomes regiamente servidos pelas ponderagdes do Dr. José Severo de Camargo Pereira, pro- fessor no Instituto de Matematica e Estatistica da Universi- dade de Sao Paulo; no tratamento dos dados foi-nos indis- pensavel a participagao do Centro de Computagio Eletré- nica da Universidade de Sao Paulo. Ao Dr, Candido Lima da Silva Dias, Diretor do Instituto de Matematica e Estatisti- Vide Koestler (1969, pg. 17-34) 3. There are more things in heaven and earth, Horatio, than are dreamt of in your philosophy (Shakespeare, Hamlet, I, 5). [14] ca da Universidade de Sao Paulo, por ter-nos autorizado a utilizar as facilidades do computador 3501, nosso agradeci- mento, assim como ao Sr. Routo Terada por suas sugestées. Somos também gratos pelo trabalho de eficiente intermediario entre nds e a maquina desempenhado com todo brilho de sua inteligéncia jovem por José Reginaldo Prandi. A todos os colegas de trabalho da Faculdade de Filosofia, Ciéncias ¢ Letras de Santo André ¢ do Instituto Municipal de Ensino Superior de Sao Caetano do Sul, agradego a colaboragao, muitas vezes informal, 0 esclarecimento de corredor, o contato, as vezes apressado, mas sempre profieuo. As nossas ex-as: tentes Marilena Pereira de Mello ¢ Dalva Fumis por sua participagiio nos estudos de coeréncia dos sujeitos no Inven- tario de Valores Profissionais e As nossas atuais assistentes Maria Aparecida Oliveira Silva, Neusa Maria Bassi, Aleide B. Crespi, Sueli Caratim de Lima e Olivério Rubini por sua participagao, que de muito aliviaram nossos encargos, muito obrigado. A primeira impressio, mimeografada, deste trabalho foi muito facilitada pela colaboragao financeira oferecida pela Fundagio Santo André, entidade mantenedora da Faculdade de Filosofia, Ciéncias e Letras de Santo André. Ao professor Anténio de Souza Teixeira Janior, diretor da mesma Facul- dade e ao senhor doutor Durval Anibal Daniel, presidente da Fundagio Santo André, assim como aos senhores curadores da mesma Fundagao, expressamos aqui nosso agradecimento. Sdo Paulo, julho de 1972 Antonio PascHoaL Ropotro AGATTI PRIMEIRA PARTE O Valor Fora da Psicologia INTRODUGAO Para o ser humano a tarefa de situar-se no ambiente em que vive 6 sobremaneira importante, pois esta atividade preli- minar orienta quanto ao rumo da agao; regula Oo ouSar € re- permite adequagie e economia de reagdo assim como transforma © comportamento de aleatério em planejado. No dominio cientifico no menes importante é a adogio de um esquema referencial, verdadeiras coordenadas cartesianas do pensamento, que ajudam a diferenciar entre os conceitos e seus afins; permitem-nos ilagGes Idgicas ¢ a coordenagio de idéias em sistemas. E com a finalidade de bem situar o conceito fundamental deste trabalho que vamos expor suas nmiltiplas acepgdes, pois este conceito nao tem compreensio claramente delimitada. Em outras palavras, é passivel de varias definigdes, é rico de determinagées latentes que surgem quando analisado sob diversos prismas. Na Filosofia moderna provocou o ressurgi- mento de todos os problemas clissicos e de varias teorias que tentaram desyendar sua natureza. Em Economia, 0 encontra- mos. Figura com destaque em Sociologia e Antropologia. Em ica, seu significado aparece em novos con- Nio somente este conceito é diferente de ciéncia para ciéncia como, dentro de cada uma delas, ha divergéncia de opinides quanto & sua natureza, objetividade ou subjetivida- [19 ] «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. CAPITULO O VALOR NA LINGUAGEM alor vem de valere, que significa ser forte, ter boa satide, Vale! é uma expressio latina para formular um voto de boa satide, Pode corresponder ao nosso: Passe bem! Valetudo, valetudinis — significa satide, Em ale- mao diz-se — Wert, dai Wertheorie ou teoria dos valores. Em inglés, value. Valore, valeur, respectivamente em italiano c francés. No francés antigo nio havia a palavra valeur mas vaillance que signi reiro, 0 qual é distinto de coragem (Espasa-Calpes, verbet valor). Significa, também, proeza guerreira, riquezas das quais se dispéem ou qualidades que se possuem. Valor significa coragem, valentia (Ferreira, 1961). Dai, um valoroso capitio. ao preco de alguma coisa, o valor guer- Segundo Freire (s/data py. 5132) valor significa prego, valia, estimagio, valentia, coragem. Para Aulette (1958, pg. 4218) valor é resignagio, paciéncia: a Providéncia infun- dia-nos valor, e sofremos sem murmurar a fome (THereulano). ntre outras fontes de ‘oe, Traité de Valeurs, de, ‘ a foi-nos de grande utilid referencias que serdo oportunamente citadas: 1951, [21 ] Em Portugal, valor significa: grau de aproveitamento escolar do aluno; termo que junto a um niimero gradua a qualifica- cio de um exame escolar: obteve dezesseis valores. Valor é. também, definido como “grau de utilidade ou aptidiio das coisas para satisfazer as necessidades, proporcionar bem-estar ou deleite”. Percebe-se nesta definigao uma énfase no aspecto objetivo: a coisa tem o poder de satisfazer. O aspecto psico- légico também esta implicite quando se menciona a. satis- fagio das necessidades. Nestoutra definigio a énfase é no aspecto agressivo: “Valor é a qualidade da alma que leva a cometer grandes empresas e a enfrentar os perigos sem medo”- Ainda referindo-nos a pessoas dizemos que tém valor se sio capazes e se empregam adequadamente suas capacidades, Por outra, uma pessoa de valor tem dom ou capacidade e mérito. Em Gramitica referem-se os especialistas a valores das si- labas que sio a quantidade (silabas longas e breves) e a qualidade (sflabas orais ou puras ¢ nasais). Valor lingiifstico refere-se ao valor dos termos, isto 6, 4 forga de seu sign:fi- cado, Freire neste contexto define valor como: significagaio rigorosa de um termo. Valor, qualidade ¢ virtude sao termos empregados em sen- tidos vizinhos. Em Direito, usa-se a expressao: na qualidade de... Qualidade de uma coisa é 0 que lhe pertence, o que a de- fine e a faz o que é Coisa sem valor é aquela na qual nao se reconhece sua esséncia constitutiva por ter perdido suas qualidades, Tornou-se, entao, irreconhecivel ou corrompida- £ 0 caso do espelho que nao mais refletisse, do leao medroso no famoso filme: O magico de Oz, Nos Evangelhos (Mateus e Lucas) lemos: “Se o sal perder o sabor (a virtude) com que lhe sera restitufdo o sabor? Para nada mais serve senio para ser langado fora e caleado pelos homens”. A qualidade é estatica, 0 que a coisa 6, em oposigao a vir- tude que é dindmica, 0 que a coisa pode fazer. Exemplo: a virtude do veneno, a virtude de uma erva medicinal. [ 22 J «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. CAPITULO O VALOR EM VARIOS CONTEXTOS CIENT{FICOS Ne Matematica, fala-se em valor de uma varia- vel, de uma funcio, de uma grandeza, valor absoluto ou médulo, valor numérico de uma expressio anali- tica (série de simbolos indicando uma totalidade de operagdes matemiticas conhecidas que sio executadas numa seqiiéncia definida sobre nimeros ¢ letras as quais designam quantida- des constantes ou varidveis (Piskunov, s/data, pg. 21). Em Fisica, fala-se em valor eficaz de uma grandeza periddica que é: a raiz quadrada do valor médio dos quadrados dos valo- res instantaneos, tomados num ciclo (Ferreira, 1961). No Co- mércio, usam-se as expressdes: Valor em caugio: cliusula de endosso pignoraticio; 9 titulo assim endossado; valor mobi- lidrio: designagio geral dos eréditos por dinheiro, ou eoisa mével, agoes, obrigagées, titulos negocidveis ete. Em Medicina, fala-se do valor semiolégico que é a signi- ficagio relativa dos varios sintomas colhidos numa observagéo clinica. Em Musica, o valor das notas é quanto devem durar as notas ou os siléncios em um espago de tempo dado, medido [ 27 J «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. coletivos e regras. 4) os comportamentos coletivos com certa regularidade mas que se desenrolam fora dos aparelhos orga- nizados. 5) as tramas dos papéis sociais. 6) as atitudes cole- tivas. 7) os simbolos sociais, 8) os comportamentos coletivos efervescentes, inovadores e criadores. 9) as idéias ¢ valores coletivos que estéo por detras de todos os fendmenos mencio- nados precedentemente, Por exemplo, a luta de classes é uma luta de valores. As idéias de uma coletividade por se dizerem eternas e evidentes impedem a renovagao. Os valores re tem aos comportamentos inovadores e criadores, A Sociologia, embora defrontando com idéias e valores, no tem que re- solver problemas filoséficos. Nao tem que afirmar sua obje- tividade ou desmascara-los como projegio ou epifendmenos. Sé deve constatar um fato, Um certo nimero de idéias e va- lores j4 estio numa perspectiva sociolégica porque sé podem ser experimentados, vividos, afirmados, conhecidos mediante intervengio de atos coletivos. Em resumo, 0 socidlogo nao tem que preocupar-se com saber se as idéias e valores sio irredutiveis aos atos coletivos que os acompanham e reali- zam, se sio produtos deles ou se sio apenas elementos do real. O que interessa ao socidlogo é 0 fato de que entre as diversas camadas da realidade social ha uma, a das idéias e valores, que esta integrada, como todas as outras camadas, no fendmeno social total ¢ que se encontra em relagées dialéticas com ele e com tedos os outros planos, Cuvillier (1963, pg. 73) define o valor social como uma caracteristica que possui um conteride empirico acessivel aos membros de um certo grupo social e um significado em re- lagao ao qual é ou pode ser objeto de atividade. Em Antropologia, é valiosa a contribuigao de Linton (Lin- ton, 1954, pg. 145-169) que define o valor como qualquer coisa que produz reagio emocional de aproximagao ou de esquiva ou, mais adiante, valor é qualquer coisa que produz reagées semelhantes de escolha, Distingue valores instrumen- tais e conceituais e exemplific: -se a un determinada «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. Ha universais culturais porque ha necessidades universais. Logo, na avaliagio das instituigées deve-se sempre mencio- nar 0 contexto cultural. A andlise comparativa de culturas deve levar em consideragio as fungées. Todos os valores sio relatives ao contexto sécio-cultural. O tmico valor abso- luto é o de sobrevivéncia. Todos os outros sao meios para este fim. No entanto em sua obra “Freedom and Civi lization”, Malinowski denuncia a tirania totalitdria apesar de sua po- sigfo de que a liberdade humana é fungao da cultura. Dis- tinguiu pressdes intrinsecas e pressdes arbitririas (abuso do poder), postulando valores transculturais com validade para julgar sistemas sociais. Melhor exemplo nio hd na Antropo- logia contempordnea de disparidade entre teoria e pritica sob condigées criticas. Na perspectiva socioldgica de Radcliffe-Brown os valores morais e religiosos sio produtos da vida social e devem ser entendidos em termos de suas fungdes na promogio da so- lidariedade e do bem-estar de uma sociedade. Conciliar posigses como: respeitar as culturas nativas com © problema de valores validos transculturalmente é dificil, mas crenga em valores transculturais, em normas racionais e ideais dos quais os homens podem aproximar no tempo embora nio realizé-los plenamente seja compativel com uma norma de tolerancia para com as diferengas culturais, Ha Ocasides em que o mal e a injustiga que requerem correcio sio mais dbvios que o mal possivel que pode advir de predi- legdes etnocéntricas. Mantenho que estudos comparativos de culturas e seus valores sio indispensaveis se a antropologia quiser aproxi- mar-se de seus objetivos como ciéncia do homem... se a antropologia quiser atingir 0 estigio de fazer generalizagdes significativas a respeito das condigdes do processo cultural ¢ dos valores da civilizag&io, ent&éo, estudos comparatives das culturas e de seus valores deverao ser feitos para que se de- monstrem normas racionais capazes de realizagio universal. [ 85 J «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. pressupostos filos6ficos basicos usados por este povo na con- ceptualizagio dos dados brutos de sua experiéncia. Schaden (1965, pg. 261-277) é bastante incisivo em rela- ¢io ao valor em Antropologia. Diz o citado autor: “Entretanto também aqui (campo da experimentagao em Antropologia) se ha de invocar a responsabilidade moral do cientista, que sem mais nada faria os homens de cobaias, Ciéncia humana sem étiea, nfo é ciéncia. A rigorosa e incondicional obediéncia a este principio (ético) ha de ser sempre o ponto de partida para a determinagio de qualquer alvo tedrico ou de aplicagao, que se queira colimar (pg. 262). ... @ antropdlogo pode ou deve ser moralista? A resposta depende da missio social que o pesquisador enquanto cidadio esteja disposto a aceitar e se considere capaz de exercer... --+ mais importante é 0 problema dos valores culturais na investigagao antropolégica... que sejam passiveis de anidlise cientifica... nfio parece ser posto em divida, Falta apenas claborar um método adequado a seu estudo”,® Os trés tiltimos autores citados: Bidney, Northrop e Scha- den expenderam consideragées de outra ordem que as per- mitidas pelos dados antropolégicos per se. Resumimos seus argumentos esperando ter ampliado sob nova luz o proble- ma do valor, Apés esta visio d vol d’oiseau sobre imensas regides com as quais confessamos pouca familiaridade, entrevimos apenas © que nossa percepgio enviesada permitiu. Como diz Kaplan (1969, cap. 10), nenhuma percepcio hu- mana é imaculada e a nossa teve o vezo de olhar seletiva- mente sob a influéncia do valor. £ uma questo de juizo de valor como veremos em outra secgio. Passemos a considerar o valor em filosofia, 8. Sumarissima foi nossa apresentagdo do valor em Antropologia mas nfo poderfamos terminar sem mencionar os trabalhos de F, R. Kluck- hohn-Murray-Schneider, 1965 pg. 447-469). [ 88 ] carituLo 3 O VALOR EM FILOSOFIA O estudo dos valores em Filosofia recebeu o no- me de Axiologia. Segundo Lavelle foi a partir da obra de W. M. Urban: Valuation, its nature and laws, que este termo se difundiu em a linguagem filoséfica. A pa- lavra axios, em grego, si : 0 que é precioso, digno de ser estimado (Lavelle, op. cif., pg. 24). Nao se pode negar a extraordindria importincia que se d4 modernamente ao tema do valor. Esta preeminéncia mos- tra uma mudanga de orientagio no modo de o homem consi- derar 0 mundo. Ele era um expectador. Houve uma evolugio das idéias sobre o papel do homem no universo ¢ sobre o significado da condigao e da acgéo humanas. As filosofias antigas eram filosofias do ser, cosmocéntricas. O ser era a medida de todas as coisas, e a moral, por exem- plo, estava sob a dependéncia da metafisica. O bem era ape- nas a plena realizagéo do ser. Hoje em dia, a consideragéo do valor obriga o homem a perguntar-se sobre a existéncia nao sobre a representagéo. O valor exprime uma espécie de primazia do querer, niio do inteligir. O valor nfo pode sex transformado em conhecimento. A Axiologia é como uma me- [ 39] tafisica da sensibilidade e do querer. A inteligéncia conhece, nio avalia. Poderiamos perguntar-nos por que o problema do valor é importante no pensamento moderno. A explicagéo é multipla. Em primeiro lugar, dirlamos que ha na sociedade moderna uma preponderdncia do econdmico sobre o politico e natu- ralmente surge a questio sobre se um é redutivel ao outro. Em segundo lugar, houve uma renovagao da reflexio que cedeu A ciéncia a representagio do mundo e prefere per- guntar-se sobre o significado do ser e da vida, Em terceiro lugar, concomitantemente ao espantoso progresso material, ci- entifico e tecnolégico, assistiu o mundo as duas grandes he- catombes que foram as duas guerras mundiais e que geraram angustia, medo e preocupacio. Naturalmente houve uma inda- gagao do valor das obras, das estruturas, da vida humana em geral. O descalabro moral que tanto impressiona nos paises altamente desenvolvidos leva os lideres a acentuar 0 apego a uma hierarquia de valores. Nixon (1971) por exemple, aler- tou a nagio americana em relagio 4 decadéncia moral que se reflete... “num ceticismo geral entre jovens diante dos va- lores tradicionais da nagio”. Jaworski (1971), presidente da Ordem dos Advogados dos E.U.A., afirmou: “A falta de res- peito a lei estd crescendo como um tumor canceroso. E se a tendéncia & super-reagio nao for mantida dentro dos limites, entée o regime autoritarista caira sobre nds, queiramos ov nao”, Jaworski acrescentou que a fungio da lei é¢ “manter um equilibrio, sempre aferido, entre as restrigdes necessdrias aos poderes do governo e o exercicio necessirio dos poderes do governo”. A preocupagio com o valor, apesar de nao ter sido tio dominante em todas as épocas da histéria da Filosofia, é tao antiga quanto esta. Vemos este conceito subjacente nas filo- sofias da India, do Ira e da China. A filosofia grega era centralizada no ser. O bem era apenas a plena realizagio do ser. Mas j4 no aristotelismo as nogdes de finalidade, poténcia € ato introduzem em seu sistema algo andlogo a nogao con- [ 40 ] tempordinea do valor. No sistema de Spinoza nio tem lugar a nog&o de valor. A realidade ¢ a unica medida da perfeigao. Imperfeiggo é um menor grau de realidade. O ser é a medida do valor. Para Descartes a idéia de perfeigao reduz-se & idéia de ser, Perfeigio é quantidade de ser. Para Leibniz, 9 melhor dos mundos possiveis 6 o que contém o méximo de ser. O mundo que existe nfo ¢ o unico logicamente possivel mas é o melhor. Foram, por conseguinte, consideragées de valor que determinaram a criagio. & uma necessidade moral que faz prevalecer © mundo realmente criado. Nao ha uma necessida- de légica. O mundo poderia ser diferente do que 6. Mas nossa filosofia dos valores 6 uma heranga da reyolugao critica de Kant, o qual rejeita a possibilidade da Ontologia e, Por conseguinte, nossa capacidade de conhecer o ser profundo das coisas. O ser néo é mais o fundamento das nossas apre- ciagdes, De Kant originou-se a idéia de que o valor é o que deve ser, 9 que merece ser mas nao é. O divéreio entre o ser e o dever-ser prepara 0 advento do humanismo axioldgico dos contempordineos. Com Nietzsche, o humanismo dos va- lores rompe com o intelectualismo tradicional e o mundo dos valores nao se filia 4 razio como em Kant mas depende da vontade de poder, liberdade soberana que faz surgir 0 mundo dos valores. Como Protdgoras, ele diz: o homem é a medida de todas as coisas: das que sio, enquanto sao; das que nao so, enquanto nio sio (Brehier, 1962, pg. 279). O super-homem nietzschiano procura ultrapassar-se, elevar- se acima de seus valores antigos “até que tuas préprias es- trelas estejam abaixo de ti’. Aparece aqui a nogio existen- cialista da transcendéncia; nio a superagio do homem pelos valores mas, ao contrario, uma superagio dos homens e de si mesmo pelo préprio homem. Discute-se acaloradamente sobre a objetividade ou subje- tividade dos valores, A fenomenologia, procurando salvaguar- dar a especificidade dos mesmos e manter igualmente a dis- tancia a Ontologia e a Psicologia, surge como um positivismo [ 41 ] «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. um pedago de metal. Uma fechadura sem chave nao cumpre sua fungio: E da adaptagéo das suas estruturas que nasce valor positive, E do obstaculo que impede uma adaptagio que se procura que nasce o valor negativo. & por isso que o valor depende do objeto pois sem ele a relagao de comple- mentaridade poderia nao se estabelecer. Para Morente (1966, pg. 294) os valores nfo so coisas nem elementos das coisas ¢ nem por isso sao subjetividade. O agradivel nao é necessariamente valor e o valor nem sempre é agradavel. A virtude é diffeil (subjetividade) mas ¢ melhor que o vicio, Continuando em seu tratamento dos valores Mo- rente procura precisar-Ihe as propriedades e afirma que: 1. Os valores nfo sio mais valem, Sua esséncia é valer. 2. Se algo vale nfo é indiferente; dai sua segunda propriedade: a néo-indiferenga. 8. O valor é qualidade, isto é, adere a algo, é objeto nio-independente. N&o é ser em si (ens in se) mas ser em outro (ens in alio). Exemplo: o belo se realiza na tela, a justiga no homem justo, O valor supde um suporte de valor. Que é suporte de valor? Um objeto é suporte do valor quando sua estrutura é complementar da minha, num dado momento em que cada uma das duas estruturas encontra seu acaba- mento na outra. Para que o sujeito possa ser objeto de com- plementaridade deve ser inacabado, Aquilo que o completa é © suporte de valor. O pio para mim é suporte de valor, en- quanto me alimenta, Ha relagio de complementaridade entre o objeto e eu. Retomando o autor supracitado, Morente, afirma este que a quarta caracteristica do valor é ser irreal, isto 6, nfo é res ou coisa. Fica bem exemplificada esta propriedade quando se lembra o valor justiga. O valor nao é real pois o real tem causa e produz efeito; nem é ideal pois o ideal tem funda- mento e conseqiiéneia. Os valores nfo siio ideais pois niio se demonstram mas mostram-se. Sio estranhos ao tempo, ao es- pago, e ao numero, Ndo se pode dizer que este quadro é duas vezes mais lindo que o outro. 4. Os valores tém pola- ridade: valor e desvalor ou contravalor. Assim, o contravalor [ 4 ] «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. Parsons est4 atribuindo aos valores também cardter motiva- cional. Neles estéo presentes os dois aspectos; o catéctico (mo- tivacional, propriamente dito) e o cognitivo, Katz e Stotland (1959, pg. 428) assim contrastam atitude, valor e ideologia: uma atitude pode ser definida como uma tendéncia ou predisposigao para avaliar um objeto ou seu simbolo. Estas atitudes (pg. 482) sao freqiientemente organi- zadas em estruturas maiores chamadas sistemas de valor, O termo ideologia 6, muitas vezes, usado para designar um con- junto organizado de crengas ¢ valores que justificam a po- sigfo de um grupo ow instituigao mas, ao passo que ideologia é um conceito relativamente impessoal, o sistema de valores refere-se 4 organizagio individual das préprias atitudes. Incidentalmente, poderiamos lembrar que nesta sentenga valores ¢ atitudes mudaram de posigdo, O valor, segundo os autores citados, se compée de atitudes. Antes disséramos que as atitudes supdem o valor, Os mesmos autores (pg. 445) lembram a coeréneia que existe num sistema de valores. As atitudes contidas dentro deste sistema reforgam-se umas As outras em seus aspectos cognitivos afetivos e comportamentais. Assim, a pessoa com um sistema etnocéntrico de valor pode atribuir qualidades in- desejéveis a outros grupos, pode praticar discriminagaio e ra- cionalizagio. & mais provavel que haja discrepdncia entre sistemas de valores que discrepincias dentro de um tnico sis- tema, Relembremos aqui o conceito de personalidade pro- posto por Lecky (j4 citado 4 pagina 84) segundo o qual a personalidade é uma organizagio de valores que sio sentidos como coerentes uns com os outros, Esta organizagio explicaria a menor probabilidade de cisio do sistema de valores. Até este ponto de nossa secgao, consideramos varias posi- Ges que chamarfamos de, para usar um rétulo geral, cogni- tivistas. O que é valor numa perspectiva comportamentista mais radical? [ 89 ] «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. ambiente. No primeiro caso, também, hé um vetor mas loca- lizado e pessoal, como no caso seguinte: a pessoa x precisa de minha ajuda (h4 uma incompletude que se percebe) mas nao sou obrigado a dar-lha. Nao h4 um dever. O dever é impessoal, E estabelecido por exigéncia objetiva, Distingui- mos entre preferéncia pessoal ou aversio e certo ou errado. Uma coisa é desejar um objeto externo e outra é ter a expe- riéncia do dever. O dever tem cardter disposicional, isto 6, mantém-se invaridvel, dentro de limites, como é 0 caso do no mataras que sé excepcionalmente pode ser, por assim di- zer, abrogado: legitima defesa, guerra etc. Hd pessoas que nao tém o que se poderia chamar “a constancia do dever”. Estas pessoas sentem o vetor atual com toda sua forga mas © que estd Jonge 6 sentido com menor forga: Sei que devo ir ao dentista mas nio me animo (sei que vou sofrer no fu- turo, mas prefiro), Sie propriedades do dever: ser impessoal, ser disposicional e ter validade interpessoal, isto 6, vale para todos. Antes de procurar distinguir dever de valor, Heider pro- cura situar alguns conceitos auxiliares, além de definir valor. Valor pode ser a propriedade de um ser (x tem yalores) ou pode ser uma classe de seres (x é um valor). Valor est ligado com agdes de modos menos especificos gue dever. Valor e gostar de pertencem ao dominio da po- tencialidade, Dever e querer pertencem & dimensio da forga ou campo de forga. Referem-se a um processo atual assim como 0 gozo e a percepcdo sio processos atuais. Heider cita a este respeito uma distingao de Andras Angyal paralela 4 sua. Angyal distingue valéncia e relevancia e define valéncia como cardter atraente ou repulsive de algo e que implica na exis- téncia de um campo de forga“, Para Angyal este conceito 41. Gostaria de frisar que entre os teéricos mais sistematicos a ter- minologia é, tanto quanto possivel, coerente e que, portanto, devemos ter cuidado quando comparamos o mesmo termo usado por diferentes tedricos, No caso presente, o termo valéncia pertence ao sentido I de valor (quando menciona o cariter repulsivo ou atraente de algo) e ao sentido II (quando menciona o campo de fora). Portanto, numa camparagio superficial, serlamos induzides em erro, [ 93 ] «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. CAPITULO JUIZOS DE VALOR Pa com a qual defrontamos bastante ve- zes e que carece de colocagao mais precisa é a de juizo de valor. Ha referéncias pejorativas, neutras ou positivas a respeito deste tipo de jufzo, Poderiamos dizer que ha jufzos de valor sobre os juizos de valor. Morente ao tratar da ontologia dos valores distingue juizos de existéncia de juizos de valor. Os primeiros enunciam o que a coisa é, enunciam predicados, atributos que pertencem ao ser dessa coisa. Jufzo de valor enuncia, acerca de uma coisa, algo que nao acrescenta nem tira nada do cabedal exis- tencial e essencial da coisa. Se digo que uma coisa é justa ou injusta, justo e injusto nao se referem 4 realidade da agio, conclui o autor, Paul Cesari (1957, pg. 5) que atribui a distingio entre juizo de valor e juizo de realidade a Durkheim, nao opie os dois tipos de juizos e procura precisar as relagées entre valor e realidade, Apés dar varios exemplos de um e outro tipo defende a tese de que ha continuidade entre os dois tipos, sobretudo em certos casos. Por exemplo, quando digo: hoje © dia esté bom, estou me referindo a certas condigdes obje- [ 99 ] «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. pudemos depreender de diversos contextos psicolégicos. Em seguida apresentaremos uma sugestio concreta, Em relagio ao primeiro ponto dizemos que juizo de valor é uma pro- posicio que 1°) exprime uma apreciacio subjetiva com fun- damento afetivo, Este sentido é de Piéron e esté implicito nas citagdes de Thorndike, Cesari e Kaplan. E antes um sentido pejorative pois indica interferéncia na objetividade. Por exem- plo, se um administrador legislar baseado em seus preconcei- tos dizemos que suas leis traem a influéncia de valores; 2°) indica como as coisas se aproximam, embora de um modo in- definido, de algum padrao abstrato tide como norma. Quando Allport diz que cardter é personalidade valorizada e perso- nalidade, cardter nao valorizado (Allport, 1966, pg, 54) esta neste contexto pois costumamoés acrescentar os adjetivos bom ou mau a car&ter, isto 6, estamos dizendo implicitamente como se aproxima do padrao abstrato de bondade ou maldade*. 3°) exprime uma conformidade que deve existir entre uma acdo e uma norma. Quando digo que nfo se devem usar armas bacteriolégicas, que se deve erradicar um mal, estou emitindo um juizo de valor neste sentido. 4°) supde um critério nfo defensivel pelo método cientifico no sentido estrito. Por exemplo, quando digo que a pessoa nao deve ser tomada co- mo um meio ou que a pessoa é algo que merece todo o respeito estou fazendo um juizo de valor neste sentido. Com efeito, no posso justificar pelos métodos cientificos stricta sensu porque devo considerar a tal ponto a personalidade. Neste quarto sentido o juizo de valor supde a filosofia de modo geral, a ética de modo especial e/ou a teologia reve- Jada, A partir destas consideragdes tiramos duas conseqiiéncias: 1°) Embora haja juizos de valor dificeis de serem distin- guidos de juizos de realidade, ha jufzos de valor no sentido 46. Rotter (1967, pg. 150-154) lembra esta acepedo de julzo de valor ao mencionar os trés conceitos de valor implicitos na pritica psi- coterapéutica, { 103 J «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. Spranger significava o amor sob qualquer forma: conjugal, familiar, filantrépico ou religioso. Na edigio de 1951 do “Study of Values”, o valor social refere-se ao amor altruista ou filantropia. Shorr (1958, pg. 266) criticou o Estudo de Valores, de Allport-Vernon-Lindzey, dizendo que a escolha forgada leva a resultados indefensdveis. Um sujeito neste instrumento niio poderia ter escores altos em todos os valores ou baixo ou médio em todos (ou outra combinagaio) conforme esta téenica e de fato tal poderia ser 0 caso individual. O autor propée-se medir a intensidade de impulso do valor e nao apenas sua importancia relativa. Os valores considerados foram apenas os seguintes: tedrico, econdmico, politico, estético e social. A critica de Gorlow (1967, pg. 1115) é feita sob um dife- rente Angulo, A posigao do autor é a de que a medida dos valores precisa considerar aqueles que sio derivados empiri- camente para uma dada populagaio, O Estudo de Valores de Allport-Vernon-Lindzey nao é, provavelmente, uma descrigio adequada do sistema de valores para o qual tem sido admi- nistrado, Neste artigo, o autor relata, também, o desenvolvi- mento de um novo instrumento para medi-los, As escalas a que se chegou foram: 1. Afiliativa-romantica; 2. status-segu- ranga; 8, intelectual-humanista; 4, individualismo... 5. pas- sivo nao exigente; 6, escoteiro; 7, Don Juan“, 2°. Outro conhecido instrumento é 0 Edwards Preference Schedule cujas quinze variiveis sao as quinze necessidades apresentadas por Murray em Exploration in Personality (Mur- ray, 1938), Berrien (1966, pg. 129) por exemplo, comparou os valores de universitdrios japoneses e americanos usando este instru- mento, 47. Releva notar que diversos instrumentos, como este de Gorlow, por exemplo, su outras classificacdes de valores que as citadas em outro capitulo deste trabalho (Vide paginas 59 a 64), [ 107 ] «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. valores: lideranga, conforto, criatividade (planos novos) es- pecialidade (ser um especialista), teonologia (contribuir com algum aparelho novo) prestigio, servigo (servir os outros), dinheiro ¢ independéncia. Pittel (1966, pg. 22-35) procurou rever e avaliar as ten- tativas de mensuragio dos valores morais, Segundo ele, os instrumentos de medida so fracos por varias razGes entre as quais: 1, h4 pressupostos duvidosos a respeito da relagiio entre valor moral e comportamento moral; 2. valores sao tra- tados em contextos nao realistas 3, falta de padronizagao; 4. ha erros metodolégicos e conceituais. Apresenta um breve histérico das tentativas de medigao de valores morais ¢ conceitos relacionados. A primeira destas tentativas data, segundo ele, de 1894. Sido mencionados impli- cita ou explicitamente quase 50 testes das mais diversos tipos somente para avaliar este tipo de valor, Rosenthal opGe-se 4 opiniio de Mowrer de que as fungdes do superego e os valores nado podem ser influenciados pela psicoterapia. Pelo contrario, diz 0 autor, o paciente aprende a aceitar os valores morais do terapeuta, Valores, como os encontrados no Estudo de Valores de Allport-Vernon-Lindzey nie sio influenciados sistematicamente pela psicoterapia por- que na neurose ou seu tratamento nao sao relevantes. Em seguida, menciona um estudo de valores feito por ele mesmo chamado amostra Q de valores morais. Consiste em 60 sentengas a respeito de trés dreas de comportamento: sexo, agressiio e autoridade. Outros instrumentos referem-se de modo particular ao tra- balho ou profisséo. £ o caso do Inventério de Valores Protis- sionais do qual falaremos mais detalhadamente na segunda parte deste trabalho. Antes, porém, facamos um breve levantamento de pesqui- sas que também procuraram, como a nossa, relacionar uma varidvel cognitiva e outra motivacional. [ 111 ] «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. os cientistas criativos, entre os arquitetos criativos, ¢ entre os matematicos criativos, os valores maiores foram o teérico e estético. A aparente contradigio entre alto escore em valor teérico e valor estético & assim compreendida pelo autor “(..) pa- rece que a pessoa criativa tem a capacidade para tolerar a tensao, que valores fortes e opostos criam nele, e em seus es- forcos criativos efetua alguma reconciliagdo entre eles. Para as pessoas verdadciramente criadoras, nio é suficiente que problemas sejam resolvides (...) a solugio deve ser ele- gante. Elas procuram verdade e beleza.” Datta (1965, pg. 57-58) reparou que os individuos criativos ou bem-dotados tém notas maiores em valor teérico e esté- tico no Estudo de Valores Allport-Vernon-Lindzey que os me- nos dotados. Estes individuos resolvem o conflito entre estas duas orientagGes. Guilford critica a interpretagao de que se pode pressupor conflito de valor a partir da preferéncia por escalas “supostas como negativamente correlacionadas visto que nas escalas de escolha forgada ha um mimero maior de intercorrelagées negativas do que positivas entre as dimensdes (apud Datta, idem, ibidem) 5°. O autor, baseado numa amostra de sujeitos, nio eminentes, questiona a tese do conflito e encontrou correlagdes positivas quando procedeu a corregdes levando em conta a corregio do viés devido & escolha forgada, O r 0,38 foi significante. Pang (1967, pg. 650) emitiu a hipdtese de que os indi- viduos com notas altas em criatividade teriam notas maiores em valor e em percepgio extra-sensorial, Os resultados, no entanto, foram os seguintes: 1) as notas altas em criatividade correspondiam notas menores em conformidade e mais altas em independéncia; 2) os individuos com nota baixa em criatividade tiveram nota alta em conformidade e baixa em independéncia. 50. Voja-se também Travers, 1964, pg. 159-160. [ 116 } «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. COMENTARIOS FINAIS Percorremos um longo caminho. Consideramos o valor fora da Psicologia, citando contextos muito variados, Em seguida, vimos o valor em Psicologia. Procuramos conceitua-lo, dis- tingui-lo de outros conceitos e classificd-lo, Vimos, em seguida, como esta sempre presente e como, a respeito, pensam auto- res de tomo, Completamos nossa pesquisa bibliografica ana- lisando a expressio juizo de valor, levantando um rol de instrumentos que procuram medi-lo e vimos como foi rela- cionado com processes mentais superiores, sobretude a apti- dao intelectual. Antes, porém, de prosseguirmos, gostariamos de tecer ainda uns comentdrios sobre o que denominamos: valor subentendido e que constitui, talvez, a ténica de toda a primeira parte. G. Myrdal, ao referir-se & influéncia dos valores em Cién- cias Sociais, nao toma o valor somente no sentido de ter que (do dever) mas também no sentido de influéncias emo- cionais, preferéncias, comodismo, resisténcia & mudanga etc. Vimos que a expressiio: juizos de valor é altamente am- bigua. Por um lado refere-se 4 iniludivel contingéncia de nfo sermos, em nossos juizos, totalmente objetivos, de sermos influenciades de modo irracional e nao analisado por fatores alheios aos realmente relevantes, Por outro, signi- fica uma referéncia a um padrao de avaliagio respeitivel mas externo a ciéncia, Como ja frisamos se dissermos que [ 121 ] «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. qiientes, estudos de correlagao e outros semelhantes nos quais omitimos referéncias ao que é causa ¢ ao que é efeito ou & natureza do fenémeno considerado. Simplesmente pesqui- samos a relagio temporal ou funcional entre certos antece- dentes, concomitantes e conseqiientes, Estes estudos levam- nos a conclusdes de certo valor preditivo de modo que tipos de comportamentos podem ser inferidos a partir de certas varidveis. Estabelece-se assim uma rede nomoldgica de se- gunda qualidade, diriamos. Com esta expresso, queremos dizer: conseguimos relacionar fatos, principios e conceitos quanto mais nio seja, por seu aspecto correlacional, temporal ou de precedéncia, concomitincia ou seqiiéncia, E o que tentaremos fazer nesta segunda parte em que procuraremos relacionar a aptiddo intelectual, conforme medida pelas Ma- trizes Progressivas de Raven, que é um fator cognitivo, com valor que é fator antes conativo, motivacional ou disposicio- nal, Consideraremos, njo o valor em geral, mas uma classe definida de valores, os valores profissionais. Por esta espécie de valores entendemos os aspectos de uma profissio, ocupa- gio ou trabalho que atraem, que sao objeto de nossa prefe- réncia ete, Vé-se que sao valores no sentido I conforme nossa classificagio, apresentada na primeira parte deste tra- balho, Precisando ainda mais, afirmamos que nos propomos um duplo objetivo: a) baseados nas pesquisas citadas no final da primeira parte e em outras consideragées tedricas langa- mos as seguintes hipéteses que nos propomos testar: Hé uma relagio positiva entre inteligéncia ou aptiddo intelectual e os seguintes valores; Estética, Independéncia, Lideranga, Sucesso e Realizacéo, Estimulagio Intelectual, Criatividade, Prestigio, Dinheiro e Variedade, Explicaremos, posteriormente, ao tratarmos do Inventério de Valores Profissionais (IVP), © que entendemos por cada um destes valores, 2) estudar sistematicamente as relag6es possiveis entre Inteligéncia e os seguintes valores: Altruismo, Satisfagio Prépria, Seguranga, Ambiente, Colegas e Profissio Paterna. Examinaremos, tam- [ 125 ] «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. as seguintes escolas secundarias: Instituto de Educagke Se- nador Paulo Egidio, Instituto de Educagao Albino Cesar, Colégio Estadual Professor Americo de Moura (para os su- jeitos da classe média baixa); Instituto Mackenzie, Liceu Eduardo Prado, Colégio Paes Leme, Colégio Bandeirante (para os sujeitos da classe média alta), Eram alunos de segundas e terceiras séries ginasiais. Foram escolhidos estes dois estratos sociais e omitidos sutros pois esperava-se que nestes niveis seria menor a mo- bilidade geografica, o que possibilitaria um eventual segui- mento dos sujeitos. Além disso, temos dois grupos de sujeitos com estilos de vida familiar nitidamente diferentes. A classe média baixa é constituida de trabalhadores manuais qualifi- cados ou semiqualificados, empregados em escritérios em postos subalternos, pequenos comerciantes ete. Todos tinham um nivel de escolaridade formal pouco avangado. Na classe média alta, encontramos pessoas em posig6es-chave na in- chistria, no coméreio, nos escritérios e repartigdes publicas. Ai também se enquadram os profissionais liberais. O nivel sédcio-econémico foi determinado de um modo eperacional® através de um procedimento desenvolvido por Robert J, Havighurst especialmente para pesquisas intercul- turais. Duas varidveis sio fundamentais na determinagio deste nivel: a profisséo e o nivel educacional do pai. Determina-se a posigao da profissio do pai e seu nivel educacional numa escala de seis pontos. Os valores obtidos sio ponderados 8. Este ponto de vista, como se sabe, foi objeto de grandes con- trovérsias, Os seguintes autores apresentam pontos de vista nfo coin- cidentes sobre o operacionalismo em Psicologia: Naess (1965, pg. 59-63); Ansbacher (1965, pg. 545-346); Wolman (1968, pg, 597-598); Chaplin ¢ Krawiee (1968, pg. 78); Lathrop (1969, pg. 23-27). Varias pesquisas foram conduzidas no Brasil usando-se este critério de determinacio do nivel sécio-econdmico: Angelini e Witter, 1965; Angelini e Witter, 1966; Angelini, Rosamilha e Witter, 1967; Witter, 1967; Lomonaco, 1970; Agatti e Lomonaco, 1971. Veja-se, também, Hutchinson, 1960, pg. 19-51. [ 132 ] «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. D) Instrumentos Os sujeitos desta amostra, visto serem parcialmente os mes- mos que os da pesquisa intercultural mencionada, foram submetidos a numerosos instrumentos mas os que nos interes- sam sio trés: o Questiondrio Demografico, 0 Teste das Ma- trizes Progressivas de Raven e 0 Inventdrio de Valores Pro- fissionais. O primeiro instrumento j4 foi mencionado precedentemente (Vide pagina 135), Poderiamos acrescentar que nos forneceu, entre outros dados, além dos j4 mencionados, os seguintes: local de nascimento dos sujeitos e dos pais, posigao na cons- telagio familiar, mobilidade escolar, repeténcia escolar, e aspiragio educacional. Estes dados, no entanto, ndo foram explorados por nds, embora tenham sido de utilidade na pesquisa intercultural a que nos referimos, O Teste das Matrizes Progressivas de Raven (Raven, 1950 e Raven, 1950a) foi o instrumento selecionado para medida da aptidio intelectual e j4 foi objeto de varias pesquisas em nosso meio (Angelini, Rosamilha e Almeida, 1966; Agatti e Lomaco, 1971). Destacamos a primeira publicagéo pois nela os autores apresentaram normas brasileiras para este teste. Sabe-se que o Teste das Matrizes Progressivas de Raven supde e pretende medir o fator g. Alids é considerado, pelo menos pelos psicdlogos ingleses, como a melhor medida deste fator. Segundo Anastasi (1965, pg. 306) este teste tem sido objeto de muitas erfticas. No entanto muitas investigagdes publica- das apresentam dados significativos. A pesquisa sobre o Ra- vem tem continuado com grande intensidade, sobretudo nos Estados Unidos, onde tem sido cada vez mais valorizado. Os coeficientes de precisio do teste pelo método do reteste va- iam entre 0,70 e 0,90. Conforme Pichot (1949, pg. 67-69) [ 187 ] «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. © par 17 foi invertido ao aparecer no par 79. O par 81 foi invertido ao aparecer no par 92, O par 58 foi invertido ao aparecer no par 64. Como esclarecimento, vejamos 0 que ocorreu com a pri- meira inversao: O par 9 era o seguinte: a) ocupagao que lhe dé certeza de estar sempre empregado; b) ocupagio na qual voeé possa ganhar muito dinheiro. O par 98, por sua vez, foi assim apre- sentado aos sujeitos: a) ocupagiio na qual vocé possa ganhar muito dinheiro; b) ocupagao que Ihe dé a certeza de estar sempre empregado, Percebe-se que, se o sujeito responder a esmo, escolhera, provavelmente, a no par 9 e no par 98 0 que indica incoe- ia My réne O Inventario de Valores Profissionais é um instrumento que nao foi ainda muito pesquisado visto ser relativamente novo no campo da Psicometria, Em conseqiiéncia, hi poucos estu- dos a respeito de sua precisio. Vamos relatar dois. O primeiro deles foi relatado por Lawrence (1971, pg. 10) segundo o qual os coeficientes de precisao teste-reteste cal- culados com os dados de uma amostra de 67 criangas de 10 anos de Austin, que foram novamente submetidas a este teste apés um intervalo de oito semanas, variaram entre .45 e .79. A correlagio geral em todas as escalas para cada sujeito usan- do-se a correlagao de postos de Spearman foi de .79. Os re- sultados constam da tabela 2. 14, Lembramos que foi a partir de um estudo individual desta ‘coeréncia que eliminamos varios sujeitos de nossa amostra original. [ 141 ] «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. TABELA 5 Coeficientes de precisiio do Estudo de Valores de Allport- -Vernon-Lindzey pelo método da reaplicagio Forma revista Forma antiga | Forma antiga Lomés 3 meses | 3 meses ebro | rr: Bcondmico [ 92 [ 9 | tl * an 90 | 8h | m7 | 50 39 * Politico | 76 55 Raigioso a | 87) BO feréneias ou aversées que identifieam uma pessoa como mem- bro de um grupo ocupacional sao aspectos muito estaveis de sua personalidade.” Cita, em seguida, dados de seguimento de alunos de faculdade retestados muitos anos apés. Na ta- bela 6, encontramos as correlagdes médias obtidas por Strong através do uso do método do teste-reteste. Freeman (1962, pg. 591) relata coeficiente de precisio no inventario vocacional de Kuder variando de 0,80 a 0,95 sendo a média 0,90. Coeficiente de precisio teste-reteste apds inter- valos de 1 a 4 anos variaram de 0,50 a 0,80 para homens e 0,60 a 0,80 para mulheres. Pesquisas posteriores poderao estudar mais detalhadamente este aspecto importante em nosso teste, mesmo em idades inferiores As implicadas nos estudos citados. Para finalizar dirlamos, 4 guisa de sumdrio, que o Inven- tirio de Valores Profissionais é razoavelmente preciso e que, portanto, podemos confiar nos seus resultados. Além disso, { 45] 10-V.F. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. 2 — Estética — Houve o efeito principal sexo. Este efeito foi devido antes aos grupos extremos de inteligéncia que aos grupos intermediarios e caracterizou mais a classe baixa que a alta, 8 = Independéncia — Houve diferenga significante entre 0 grupo inferior e superior, Confirmagéo parcial da hipétese, pelo menos em relag&o aos grupos extremos. Houve o efeito principal nivel sécio-econdmico, a favor da classe média alta. Interagio ABC: Na classe média baixa, quanto mais inteli- gente a menina mais valoriza a independéncia ao passo que na classe média alta, quanto mais inteligente 6 menino mais aprecia este valor. 4 — Lideranga — As meninas mais inteligentes apreciam me- nos o valor lideranga que suas colegas menos dotadas. No grupo superior de inteligéncia as meninas apreciam este valor menos que os rapazes. 5 — Sucesso ¢ Realizagéo — Nio houve nenhum efeito prin- cipal nem interagdes significantes, Todos os grupos tiveram escores muitos altos. 6 — Satisfagao Prdépria — Nao houve nenhum efeito prin pal. Houve interagio ABC; na classe média baixa as meni- nas quanto mais inteligentes mais valorizam este valor pro- fissional, Interagio significativa. A média das meninas é maior na classe média baixa e o inverse ocorreu na classe média alta. 7 — Estimulag@o Intelectual — Nao houve efeito principal. Honve interagdes BC e ABC. Na classe média baixa os me- ninos valorizaram mais este aspecto do trabalho que as meni- nas ao passo que na classe média alta as meninas apreciaram mais este valor, As meninas de classe alta, quanto mais inteli- gentes mais apreciaram o valor profissional em tela. [ 150 ] «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. “a medida dos interesses vocacionais tem sido de importancia pratica no aconselhamento e selecio; forneceu hipéteses re- levantes e produtivas na psicologia ocupacional e nas teorias de personalidade”. Kerlinger (1964, pg. 487) emite a opiniio, com a qual concordamos, segundo a qual, infelizmente, o assunto dos valores nao tem sido objeto de muita investigagio cientifica em detrimento da medida dos mesmos. Nio hé davida, no entanto, que os valores educacionais ¢ ocupacionais serio @ foco de muito mais trabalho tedrico e empirico na préxima década visto que os cientistas sociais se estio dando conta de que os valores sio determinantes importantes do comportamento individual e grupal. Somos da opinifo se- gundo a qual, do mesmo modo que as pesquisas de Bruner e outros mostraram a influéncia dos valores sobre um aspecto cognitivo, outras pesquisas deveriam ser feitas relacionando estes dois aspectos, Ousamos esperar que relagdes mais subs- tanciais poderio ser obtidas a partir de uma metodologia mais adequada ao objeto, De passagem seja dito que esta metodologia poderia nfo ser baseada em Psicometria mas em outras abordagens. A unidade da personalidade, axioma fundamental da Psicologia, é a razio teérica desta nossa ex- pectativa. Insistimos em que novas pesquisas sobre o valor sejam levadas a cabo pois este tema se nos afigura como tio rico de implicagoes tedricas que talvez se possa erigir uma Psicologia Geral alicergada sobre 9 mesmo. Seria uma Psico- logia sob o prisma do valor, Ousamos recomendar este em- preendimento grandioso aos pesquisadores, doublés de fild- sofos, em nossa especialidade, Finalizando, embora nossa pesquisa tenha tratado formal- mente o valor no sentido de preferéncia, isto é, num sentido psicolégico estrito Ievantamos na introdugio e no correr da primeira parte o problema mais geral do valor, Por isso nos sentimos autorizados a fazer uns comentarios finais a partir de nossa premissa de que a divisio entre a ordem filoséfica e a chamada cientifica 6 uma divisio convencional, uma di- visio de tarefas porque no fundo existe uma sé ordem que & [ 155 ] «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. «a You have either reached a page thatis unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. 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