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DOSSIE ) MAX WEBER A SOCIOLOGIA DE M a edigdo brasileira de A Etica Protestante e 0 “Espirito” do Capitalismo, a declaracio sobre o lugar que este livro ‘ocupa na histéria das ciéncias humanas ino poderia ser mais eategorica: a obra mais conhecida de Max Weber (1864- 1920) estaria para a sociologia assim como A origem das espécies, de Darwin, estaria para a biologia, ow A interpretacao dos sonhos, de Freud, para a psicandlise. Nao se trata, portanto, apenas de uma obra clissica, mas de uma obra institui- dora de uma disciplina. A totalidade da produgao intelectual de Weber, a0 definir toa parte do jargio conceitual ainda em uso na sociologia académica, como os conceitos de “tipo ideal”, “processos de racionalizagao”, "método compreensivo”, “estamentos”, forneceu de fato um dos pi- lares para a implementagdo aurénoma das 4 2 A atualidade de Max Weber no Brasil A nogéo de “patrimonialismo” continua a orientar parte significativa da reflexio sociolégica nacional Jessé de Souza 4 / Existe uma sociologia weberiana? A influéncia de Weber merece uma reflexdo sobre o emprego legitimo de expressdes como “weberianismo” Michel Misse cigncias sociais. Seu impacto é notério na produgio contempori- nea. Como lembra 0 sociélogo Michel Misse, que participa deste dossié, o que define uma obra verdadeiramente classica como a de Max Weber é exatamente o fato de se manter contemporinea. Sua zona de influéncia sobre os estudos relacionados ao pro- cesso de formacao da sociedade brasileira é enorme. Se lembrar mos de Raizes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, marco impressionante do pensamento brasileiro, as referéncias explicitas a Weber expressam ndo apenas a absorgao da tematica presente na Etica Protestante e 0 “Espirito” do Capitalismo, mas sobreta- do a incorporagio do método critico weberiano. Alguns comen- adores, como Pedro Meira Monteiro e Brasil Pinheiro Machado, chegam a sugerir que 0 contato com o trabalho de Weber durante a temporada de Sérgio Buarque na Alemanha foi absolutamente decisiva para a propria concepgao de Raizes do Brasil Neste dossié, CULT procura apresentar alguns dos temas mais, relevantes do pensamento de Weber, mas quer também avaliar em que medida sua obra é ainda capaz de determinar os rumos dos debates politicos e sociolégicos. Seu célebre estudo sobre as relagdes entre protestantismo e ascensio do capitalismo na mo- demnidade € apenas parte de um imenso projeto que infelizmente 5 l Trés temas Weberianos Burocracia, instituigées democraticas e a relagdo entre racionalidade e ética: temas fundamentais do debate politico brasileiro Fabio Wanderley Reis 5 Misica e Racionalismo em Weber De que maneira 0 estudo das técnicas musicais forneceu as bases para uma rigorosa sociologia da arte Leopoldo Waizbort X WEBER ainda é pouco conhecido, Nesse sentido, Jess Souza traz uma introdugio sobre a recepgao de Weber no Brasil pela nogao de “patrimonialismo”; Michel Misse, 20 questionar a pertinéncia conceitual de uma “escola weberiana”, aponta os des dobramentos do pensamento de Weber na sociologia contemporaine Wanderley Reis destaca tres temas webe rianos do debate politico atual; Leopoldo Waizbort tematiza o processo de racio: nalizacao da miisica no ocidente; Glauc Villas Boas explora as duas conferéncias sobre a ciéncia e a politica como vocaga € Alonso de Carvalho comenta a relagao entre Weber e educacao. O leitor tera em mos, com isso, um excelente guia de in troducio a um dos principais nomes das cigncias umanas e 4s principais conseqii- éncias de sua heranca no pensamento con- temporineo 5 8 Max Weber entre duas vocagdes Duas conferéncias manifestam a con- cepcao weberiana das potencialidades cefetivas da ciéncia e da politica Glaucia Villas Boas 6 2 Educagao moderna e o Brasil Bibliografia As idéias weberianas permitem a com- Principais livros escritos por Max Weber preensao da educacao brasileira sob a ‘com traducao em portugués perspectiva institucional ‘Alonso Bezerra de Carvalho | DOSSIE ) MAX WEBER A atualidade de Max Weber no Brasil | A nocao de “patrimonialismo” continua a orientar parte significativa da reflexao sociolégica nacional. No entanto, é preciso fundamentar um novo paradigma a luz | da prépria critica weberiana ax Weber é provavelmente © autor mais influente e conhecido no ambito das ciéncias sociais. Nao ape- nas a sociologia e a ciéncia politica mo- dernas 0 tém como autor central ¢ refe- réncia constante, mas também o direito, ‘economia, a administragao de empresas e até a filosofia mobilizam varias de suas interpretagdes e idéias. £ di imaginar um pensador contempordneo que nao tenha sido influenciado por suas idéias. Em Pierre Bourdicu ¢ Jiirgen Habermas, por exemplo, a influéncia € decisiva. Mas também no contexto brasileiro, Weber nao s6 é um dos autores mais citados nas teses académicas de ciéncias sociais entre 16s, mas também foi inspiragZo para a produgao do conceito mais influente, ainda hoje, da sociologia e da ciéncia politica brasileiras: a nogio - ambigua e equivoca, como teremos, mais adiante, cocasiao de explicitar - de patrimonialis- mo. O que explica tamanha influéncia? Sua influéncia diz respeito a especifi- cidade do que ele denominava de “ra- cionalismo ocidental”. “Racionalismo” significa a forma, culturalmente singu lar, de como uma civilizacdo especifica e, por extensio, também os individuos, que constituem sua forma de pensar ¢ agit a partir desses modelos culturais, inter preta o mundo. Isso implica, antes de 12 tudo, que nao existe definig sal” possivel acerca do que é “racional” ou do que seja “racionalidade”. A forma como a racionalidade vai ser definida em cada sociedade especifica depend, des- se modo, da matriz civilizacional a qual essa sociedade particular pertenga. Em relagdo a civilizagio ocidental moderna, Weber ird definir seu racionalismo expe cifico como sendo 0 do “racionalismo da dominagio do mundo”. Esse racionalis- mo difere de modo profundo, por exem- plo, dos racionalismos nio-ocidentais como o da “fuga do mundo”, tipico da sociedade de castas hindu, ou do raciona- lismo da “acomodagio a0 mundo” tipico dda sociedade tradicional chinesa. O ra- cionalismo da dominagio do mundo vai ser definido por uma “atitude instrumen- tal” em relagio a todas as trés dimensdes possiveis da agdo humana: ago no mun- do exterior, na natureza; no mundo so- cial; eno préprio mundo subjetivo, como meros “meios” para a consecugao de fins heterdnomos como poder e dinheiro, Weber logra transformar a percep¢ao de uma *racionalidade objetiva” que se impde aos sujeitos de modo independente de sua vontade, no fundamento mesmo de uma “sociologia compreensiva”, toda voltada a captar o “sentido subjetivo” das agdes humanas. E que, no “raciona- lismo moderno”, sio os pressupostos da “agio eficaz”, no sentido de efetivamente transformadora da realidade externa, que a tornam “compreensivel” para todos, permitindo a “evidéncia intersubjetiva” que garante a cientifcidade de proposi- gies e descrigdes da realidade. Mas Weber nao formula apenas a possibilidade de jungao cientifica dos as- pectos subjetivos e objetivos no contexto do “racionalismo da dominagao do mun- do”. Ele inspirou também, precisamente por ter captado a “ambigiiidade constitu- tiva” do racionalismo singular ao ociden- te, 0 dois diagndsticos mais importan- tes para a autocompreensio do ocidente até nossos dias: uma concepeao liberal, afirmativa ¢ triunfalista do racionalis- mo ocidental; e uma concepcao critica desse mesmo racionalismo, que procu- ra mostrar sua unidimensionalidade e superfcialidade. Para a versio liberal e afirmativa, Weber fornece, por um lado, sua an: da “revolugio simbolica” do protestan- tismo ascético, para ele a efetiva revolu- gio moderna, na medida em que trans- formou a “consciéncia” dos individuos, a partir dai a realidade externa, e nao 0 contrario, como na Revolugio Francesa, que termina em restauragao do poder mondrquico. E a figura do protestante aseético, dorado de vontade férrea e com as armas da disciplina e do autocontro- Je, quem cria o fundamen- to historico para a nocao do “sujeito moderna” e até ‘mesmo para a nocao moder- na de “personalidade” en- quanto entidade percebida como um todo unitério com fins e motivos conscientes e refletidos. Todas as verses apologéticas do “sujeito beral” (As vezes, com a c Patrimonialismo - Segundo Julien Freund, 0 patrimonia- lismo @ a forma ce comi- ro tradicional mais comum, ‘aproximando-se em alguns pontos da burocracia, pelo fato de também recusar a excegdo e manter a continui- dade institucional. Mas esse cconceito se opde & buro- cracia em outros aspectos. “A auttoridade nesse caso & fundamentalmente pessoal, independentemente de qual- ‘quer fim objetivamente ra- ional. O soberano & senhor, ‘endo magistrado; 0 poder the pertence em virtude de atrbutos pessoais; ndo he 6 conferido com base em, critrios exteriores e formals ‘que definam a fungo por ele ‘ocupada.” Assim, esse domi- nic ignora o sentido moderno dda fungéo da administrag30 burocratica, ntribuigio de Tocqueville, sujeito também tornado uni- dimensional e acritico) nutrem-se, quase sempre com fundamento empitico na hist6ria da pujanga econdmica e politica americana, em maior ou menor grau, da figura do pioneiro protestante weberiano. Por outro lado, é Weber quem recons- ‘r6i sistematicamente a logica de fun namento, tanto do mercado competitivo capitalista, quanto do Estado racional centralizado, de modo a percebé-los ‘como instituigbes cuja eficiéncia e “r nalidade” no teriam igual. Ainda que a perspectiva liberal apologética se restrin- ja a0 elogio do mercado, confluem, aqui, (08 aspectos subjetivos e objetivos (institu- ‘onais) que fundamentam, de modo con- vincente, a afirmacao do “dado”, ou seja, do mundo como ele. Mas Weber (c nisso reside sua atua- lidade extraordinéria) também percebia 0 lado sombrio do racionalismo ociden- 8 DOSSIE ) MAX WEBER tal. Se o pioneiro protestante ainda pos- suia perspectivas éticas na sua conduta, seu “filho” e, muito especialmente, seu “neto”, habitante do mundo seculariza- do, € percebido por Weber de modo bas- tante diferente. Para descrevé-lo, Weber lanca mao de dois “tipos ideas scja, de modelos abstratos, no caso, de modelos abstratos de condugio de vida individual, os quais se encontram sem- pre misturados em proparcées diversas nna realidade empirica conereta. Esses “tipos ideais”, que explicam o individuo tipico moderno para Weber, so, por um lado, o “especialista sem espirito”, que tudo sabe acerca do seu pequeno mun- do de atividade e nada sabe (nem quer saber) acerca de contextos mais amplos que determinam seu pequeno mundo, ¢, por outro lado, o “homem do prazer sem coragaio”, que tende a amesquinhar seu mundo sentimental e emotivo 4 busca de prazeres momentaneos ¢ imediatos. Sea primeira leitura fornece o estofo para a apologia liberal do mercado e do sujeito percebido como independente da sociedade e de valores supra-individuais, a segunda leitura marcou profundamente toda a reflexdo critica até nossos dias. A percepgio do individuo moderno como suporte das ilusdes da independéncia ab- soluta e da propria perfeigao narcisica, quando, na verdade, realiza, sem saber, todas as virtualidades de uma razao ins- trumental que termina em consumismo econformismo politico, esta na hase de todas as variagées influentes do assim chamado “marxismo ocidental”. Esse termo, denominagao ampla que se refere as perspectivas intelectuais que procura- ram unir 0 impulso critico do marxismo com a analise weberiana do racionalismo ocidental enquanto razio instrumental, foi a base de praticamente todas as con- cepgbes eriticas do século 20 “ Weber no Bra No Brasil, a influéncia do pensamento weberiano € dominada pela leitura libe- ral apologética. E de Weber que se retira a auroridade cientifica € a “palavra”, no sentido do “nome” e nao do “conceito cientifico”, para a legitimagao cientifica da nogdo central, ainda hoje, da sociolo- ia ¢ da ciéncia politica brasileira: a no- gio de “patrimonialismo”, para indicar tuma suposta ago parasitaria do Estado ede sua “elite” sobre a sociedade, Entre 16s, no entanto, esse conceito perde qualquer contextualizagao histérica, fun- damental no seu uso por Max Weber, ¢ passa a designar uma espécie de “mal de origem” da atuagao do Estado enquan- to tal em qualquer periodo histérico. Em Raymundo Faoro, por exemplo, que fez dessa nog seu mote investigativo — en- quanto na maioria dos intelectuais bra- sileiros ela é um pressuposto implicito, embora fundamental - a nogao de patri- monialismo carece de qualquer precisio histérica e conceitual. Historicamente, na visao de Faoro, existiria patrimonialismo desde 0 Portugal medieval, onde nao ha- via sequer a nocao de “soberania popu- lar” e, portanto, ndo havia a separacio entre bem privado (do rei) e bem pablico, ja que o rei e seus prepostos nao podiam “roubar” o que ja era dele de direito. Em segundo lugar, no Ambito de suas _generalizacoes sociolégicas, o patrimonia- lismo acaba se tomando, de forma impli- cita, em um equivalente funcional para a mera intervencao estatal. No decorrer do livro de Faoro, 0 conceito de patrimonia- lismo perde erescentemente qualquer vin- culo conereto, passando a ser substitutivo da mera nogio de intervencao do Estado, seja quando este é furiosamente tributario € dilapidador, por ocasiao da exploracio das minas no século 18, seja quando 0 mesmo € benignamente interventor, quan- do D. Joao eria, no inicio do século 19, as pré-condigées para 0 desenvolvimento do comércio e da economia monetéria, qua- druplicando a receita estatal e introduzin- do imtimeras melhorias piiblicas. A imprecisdo contamina até 0 central de “estamento”, uma suposta “elite” inerustada no Estado, que seria 0 suporte social do patrimonialismo. O ral “estamento” é composto, afinal, quem 0 suporta ¢ fundamenta? Os juizes, o pre- sidente, os burocratas? O que dizer do empresariado brasileiro, especialmente © paulista, que foi, no caso brasileiro, © principal beneficiario do processo de in- dustrializagao nacional financiado pelo Estado interventor desde Vargas? Ele também é parte do “estamento” estaral? 45 DOSSIE ) MAX Deveria ser, pois foi quem econbmica e socialmente mais ganhou com 0 suposto “Estado patrimonial” brasileiro ‘A quem interessa a idealizacao do mercado e a demonizacao do Estado? ‘Como fica, em vista disso, a falsa “oposigio entre mercado “idealizado” Estado “corrupto”? Ora, trata-se de um conceito que se refere a todos e a nin- guém ¢ pouco ou nada esclarece. Se 0 potencial cientifico ¢ esclarecedor dessa nogio € tendencialmente nulo, 0 mesmo nao pode ser dito de seu potencial ideolo- gico e politico. Ela “simplifica” e “distor- ce” a realidade social de diversas manei- ras ¢ sempre em um tinico sentido: aquele que simplifica e “idealiza” 0 mercado ¢ subjetiviza e “demoniza” o Estado. De weberiano, pelo menos, esse processo no tem nada. Vimos que a marca da rigue- za da reflexdo weberiana é precisamente perceber a ambigiiidade constitutiva des- sas instituigdes fundamentais do mundo moderno e, com isso, perceber a ambigiii- dade imanente ao proprio racionalismo ocidental. O mercado eria riquezas com ‘uma eficigneia singular, mas produz, si- multaneamente, desigualdades e injustica social de todo tipo. © Estado pode agit das mais diversas manciras, dependendo da correlacio de forgas politica que esteja no controle do poder de Estado. Como uma hipétese tio frégil, pode- se perguntar o leitor atento, conseguit ser até hoje o conceito central da refle xio brasileira, a tal ponto que é repe- tido, mesmo hoje, ndo s6 pela maioria dos intelectuais, na universidade ¢ fora dela, mas também pela midia e pelos ci- dadios comuns nos bares de esquina do Brasil afora? Se quisermos responder a essa questio “weberianamente” ~ 0 Max Weber critico que sempre se interessou pela forma como individuos e classes “legitimam” seus “interesses” materiais e ideais criando “racionalizagdes convin- centes” -, temos que perceber as necessi- dades e interesses que esse tipo de visio de mundo justifica. A quem interessa “demonizar” 0 Estado, pleitear o Estado minimo, criticar a incipiente assistén- cia social estatal, e, em suma, reduzir os interesses da sociedade aos interesses da reprodugao do mercado? Quaisquer que sejam os interesses em jogo, o tema do patrimonialismo, pre- cisamente por sua aparéncia de “critica radical”, dramatiza um conflito aparente falso, aquele entre mercado e Estado, sob o prego de deixar & sombra todas as contradigdes de uma sociedade que naturaliza desigualdades sociais abissais eum cotidiano de caréncia e exelusio. Na critica deste paradigma ultrapassado e superficial, e na construgio de outros mais adequados ¢ verdadeiramente criti cos, a tradigao critica que Weber também inspirou pode construir, também entre ‘nds, uma alternativa fundamental para a auto-reflexio dos brasileiros. F de se es- perar, como vemos, que as tradigdes que se alimentam da riqueza da obra desse pensador cada vez mais atual, ainda con- tinue a desempenhar, aqui ¢ alhures, uum papel nada desprezivel. @ Jessé de Souza é professor de sociologia da UFIF e organizador do livro A ‘Atualidade de Max Weber (Editora UNB), entre outros 6 Existe uma sociologia weberiana? Independentemente da resposta, a influéncia de Weber ultrapassou seus proprios calculos e merece uma reflexdo sobre 0 emprego legitimo de expresses como “weberianismo” mbora seja usual falar-se de uma sociologia *weberiana” € de socidlogos “weberianos”, ‘ou de uma escola “weberiana”, iio podemos aceitar rigorosamente esas classificagdes, a ndo ser quando se pretende demarcar uma tendéneia dominante, em certos autores e obras, da influéncia de conceitos e perspectivas desenvolvidas nos diferentes trabalhos de Max Weber. Mesmo assim, nio ha nada, nesse caso, comparivel, por exemplo, seja a apropriagao e desenvolvimento das teorias de Marx no marxismio, seja 4 apropriagdo e desenvolvimento das tcorias de Freud na psicandlise, Nao ha nada na obra de Weber que permita desenvolvimento similar ao marxismo a psicanalise, ¢ isso por duas razées: a) Weber no propde uma revolugio cientifica ou um deslocamento tedri co fundamental, um novo paradigma cientifico, e nem foram esses os efeitos epistemolégicos de sua obra, como, 20 contrario, parece acontecer com as obras de Marx e de Freud (tal, pelo menos, ‘como reivindicam marxistas ¢ psicana- listas). O proprio Weber condenava, no marxismo e na psicanilise, sua unilate- ralidade radical, que os langava, em seu entender, na metafisica e na disputa de pressupostos iiltimos que a ciéncia nao poderia responder; b) Weber reivindica a tradigio académica ¢ cientifica da pesquisa histérico-social de seu tempo, mesmo quando de sua contribuigao original para essa ciéncia, a sociologia, que também se desenvolve, inde- pendentemente de sua obra, ¢ a partir de outros paradigmas, em outros lugares. Ainda que proponha métodos e conceitos suficientemente abrangentes € rigorosos para entronizé-lo como fiordador de uma escola, sua obra ndo produziu influéncia des- sa maneira, mas de outra, mais difusa, ¢ também mais coerente com o sentido que a distinguia das demais. ‘Weber nao formou uma escola, como aconteceu com Marx e Freud, ‘Compreensao. ‘€ mesmo com Durkheim, Nao teve Entender 0 sentido discipulos diretos, com os quais ‘de um fendmeno, precisasse retificar constantemente rnéo a sua totalide- © desenvolvimento do seu proprio de, como aspiram paradigma. No entanto, é indubi- 08 flbsofos, e por tavel que no desenvolvimento da se a outros méto- sociologia, tal como vem se reali- dos de cognico, zando desde o inicio do século, a ‘como o naturalsta contribuigao weberiana € decisiva, eo cientiico, 580 fundamental mesmo, por demarcar (3 pontos de parti- um de seus principais paradigmas. da para 0 conceite Curiosamente, embora Durkheim de compreenséo. tenha uma posigao andloga a de Embora Weber nao ‘Weber por ter também contribuido tenha sido o primer com outro paradigma fundamental, ro autlizar 0 termo, € ao mesmo tempo divergente da ‘compreender domo dele, nao é usual falar-se atualmente metodo, a0 contr- de socidlogos “durkheimianos” ou rio do método expl- de uma sociologia “durkheimiana”, cativo, significa per- iss0 quando se sabe que a influén- ‘ceber a orientacéio cia de Durkheim foi mais sistema- de uma sequéncia tica que a de Weber, a ponto de ter de fatos socials. DOSSIE ) MAX WEBER existido uma “escola durkheimiana™ na Franga, 0 que nunca ocorreu com Weber, nem mesmo na Alemanha. ‘A influéncia da obra de Weber, em- bora crescente ainda quando ele estava vivo, nao era do tipo que possibilitas: se uma escola. Mesmo essa influén- cia foi drasticamente intertompida, na Alemanha, doze anos apés a sua morte, pela chegada dos nazistas ao poder. Suas principais obras, com excegao de A ética protestante, permaneceram esgotadas ¢ sem reedigdes durante quase vinte anos, c em grande parte espalhadas em revistas € periddicos de pouco acesso ao piblico nao-germanico. Apesar disso, sua influ- ncia foi decisiva em obras que foram publicadas antes da Segunda Guerra, al- gumas das quais vieram conformar gran- de parte do quadro atual da sociologia. Entre essas obras, basta citar Ideologia ¢ utopia, de Karl Mannheim; Historia e consciéncia de classe, de Georg Lukéess Estrutura de acao social, de Talcott Parsons; ¢ Fenomenologia do mundo so~ cial, de Alfred Schutz. 0 weberianismo como contra-senso Desde aqui ja se pode notar a abran- igéncia e 0 tipo de influéncia que a obra de Weber comegard a exercer, Nenhum desses trabalhos é “weberiano” e, no en- tanto, todos esto numa relacdo funda- ‘mental com a obra de Weber; em todos les, também, a posigio weberiana é pos- ta em situacio de interlocugao, de diflo- go com outros pensadores-chaves Lukes Mannheim, de modo diferente ¢ pesos desiguais, poem Weber em relagaio com Marx, ¢ dai destilam suas contribuigées riginais; Parsons pde Weber em relagao com Durkheim ¢ Pareto; Shutz colo- ca Weber em relagio com Husserl, Para cada uma dessas posigdes, enfatiza-se um aspecto da obra de Weber. Pode-se dizer que sio Webers diferentes os que saem dessas posigdes: um Weber subsumido ‘no marxismo hegeliano de Lukes; um Weber que retifica e modera Marx, na so- ciologia do conhecimento de Mannheim; um Weber fenomenoldgico, intuicionista, neo-idealista, na *sin- tese” de Shutz, No campo substantivo da influéncia, a abran- géncia e a variedade nao é menor. A Ftica protestante € 0 rosto mais badalado da influéncia, mas nio € nem a principal nem a mais duradoura, apesar de ter produzido um dos grandes veios polémicos do século, Weber trabalhou sobre campos extraor- dinariamente diversos ¢ sua influéncia acompanha essa diver- sidade, que vai do Diteito a Sociologia da Masica, da Historia Econémica & Sociologia das Religides, da Filosofia da Ciencia 4 Politica alema. Conceitos como “tipo ideal”, “ago social”, “compreensio”, “autoridade”, “dominagio”, “earisma”, “vo cacao”, “racionalidade”, “burocracia”, “estamentos”, “legi- timidade” © muitos outeos, estao inteiramente orientados, na sociologia contemporanca, pela influéncia de Weber. © peso das interpreraces pioneiras de Weber, em especial, pela sua influéncia sobre toda a sociologia académica mundial, aquela que veio da obra de Talcott Parsons, vem pasando por ampla reavaliagio critica ha quase cinco décadas. Os resultados dessa reavaliagio, que incluiu um renovado interesse dos marxistas pela sua obra, tém possibilitado — quase noventa anos aps a ‘sua morte ~ 0 conhecimento de um Weber muito mais profun- doe contemporanco do que as primeiras interpretagées pode- riam fazer suport. Nao é exagerado afirmar que sua influéncia, hoje, € comparativamente mais abrangente, mais sistematica € mais rigorosa do que em sua propria época ou qualquer outra, ndo obstante manter sua caracteristica de nao formar escola. O propalado “weberianismo” ¢ um contra-senso com a propria perspectiva cientifica de Weber, ¢ 0 proprio Weber testemunha contra esse equivoco: “Na cigncia, sabemos que as nossas rea~ lizagdes se tornarao antiquadas em dez, vinte, cingiienta anos. E esse o destino a que esti condicionada a ciéncia: é o sentido mesmo do trabalho cientifico... Toda realizagio cientifica sus- cita novas tperguntas’: pede para ser ‘ultrapassada’ e superada. Quem deseja secvir a ciéncia tem de resignar-se a ral fato” A influéneia de Weber, apesar disso, ultrapassou seus prOprios caleulos e merece uma rellexdo porque ¢ isso que ainda legitima co emprego de expresses como “weberianismo”. A cigneia social carrega a bendita maldigio filos6fica de sua origem: a politi- ea. E como a filosofia e a politica, o marxismo e a psicandlise, a sociologia precisa desenvolver-se renovando sempre suas rela- ‘gdes tedricas com seus pais-fundadores: a reinterpretagao das bras classicas acompanha ¢ indica esse desenvolvimento, tanto {quanto 0s avangos obtidos nos campos substantivos (empirico € tcérico). Nao é impossivel escrever-se uma historia da sociologia a partir da sucessio da reincerpretagies de seus classicos. Essas reinterpretagdes sio tio inesgotaveis quanto sua tendéncia para avangar para além do que estava originalmente escrito, conferin- do-lhe uma nova dimensio, s6 possivel pelo avango substantive efetivamente realizado. O que define uma obra como “cléssica” € exatamente isto: manter-se contemporanea. 8 A influéncia disseminada Talcott Parsons, cuja obra dominow a sociologia norte-americana por mais de duas décadas (1950-1960) ¢ exerceu ~e ainda exerce (embora declinante) ~ influéncia sobre toda a sociologia aca- démica mundial, travou contato com a obra de Weber ainda nos anos de 1930, na Alemanba. Sua tese de doutoramento versava sobre o conceito de capitalismo em Weber e Sombart, o que Ihe permitiu preparar o terreno te6rico sobre o qual desenvolveria, em 1937, uma original tentativa de sintese sociolégica, a primei ra elaboracao de sua teoria geral da agao. O livro, um grosso calhamaco de mil paginas, intitulado Estrutura da agao so- cial, dedicou quase um tergo dessas pagi nas a interpretagao parsoniana de Weber. No entanto, sua apropriagio de Weber caracteriza-se pela énfase posta sobre as normas e valores sociais, em fungao de sua preocupagio em construir as ha- ses de uma teoria da integragio social Se isso Ihe permitiu aproximar Weber de Durkheim muito mais facilmente do que 6 efetivamente possivel, facilitou, no entanto, uma apropriagao da obra de Weber, nos Estados Unidos, que além de incorreta e problematica, enfatizava excessivamente sua utilizagdo conserva- dora. No entanto, a influéncia de Weber smericana, até entdo na sociologia norte- pequena, pegou carona no funcior parsoniano ¢ cresceu, até que no final dos anos de 1960 a revisao interpretativa de suas contribuigdes comeyasse a ser feita, resgatando-o contra Parsons. Quanto a isso, 0 pioneiro foi C. Wright Mills, cuja obra reflete uma influéncia weberiana bastante diferente daquela encontravel em Parsons e sua escola, Se Parsons procurou aproximar Weber do funcionalismo durkheimiano, Wright Mills fez a aproximagao com a tradigao marxista, extraindo dai nio sé uma interpretacao, mas um efeito ~ em suas proprias obras ~ critico e politica- mente renovador. Mills foi praticamente uma voz isolada numa América conser- lismo vadora e exposta ao maniqueismo da guerra-fria, ¢ uma vor que se calou pre- cocemente (Mills morreu aos 47 anos, em 1961). Apesar disso, sua influéncia na renovagao anti-parsoniana da socio- ogia norte-americana dos anos de 1970 deveu-se, em grande parte, & extragao marxista de sua apropriacao de Weber, que Ihe permitiu enfatizar, ao contra- rio de Parsons, os conceitos de classe, de interesse ¢ de conflito. No entanto, a0 contrario daquele, Mills jamais tentou uma sistematizagao eonceitual que Ihe permitisse construir uma abordagem tio abrangente quanto a parsoniana. Por isso, sua contribuigao terminou confina- da a sua época. Lukacs, 0 grande pensador marxis- ta, freqitentou assiduamente 0 “Circulo de Heidelberg”, que se reuniu na casa de Weber por quase uma década. Nos dois tilkimos anos da vida de Weber, quando jd se tornara marxista, Lukacs, ainda sob sua influéncia, redige alguns dos tra- balhos que irio compor seu livro mais célebre. Além de abundantes referi aos trabalhos de Weber, Lukes promo- ve uma inusitada aproximagao marxista com a problematica weberiana da “racio- nalizagao”, cuja influéncia posterior n3 deve ser negligenciada. Mannheim, que foi chamado de “marxista burgués” ¢ de weberiano “marxista” (sic), esereveu suas principais obras entre a década de 1920 ea de 1940. Sua influéneia, particular- mente no campo da sociologia do conhe- cimento, é decisiva, e t30 mais quanto sua pretensao era a de construir uma ponte entre Weber e Marx que resolves- se algumas das antinomias postas por essa relagao. Sua influéncia sobre Mills permitiu a este se apartar da todo-pode- rosa interpretagao parsoniana de Weber. Do mesmo modo, sua obra permitiu aos funcionalistas manter uma porta aberta a0 marxismo (pelo menos nessa érea de “sociologia do conhecimento”), como no estudo de Robert K. Merton sobre socio- logia da ciéncia. 'No pos-guerra, a influéncia de Weber ee DOSSIE ) MAX WEBER se alastea na Europa ena América, Raymond Aron, na Franga, forja 0 con- ceito de “sociedade industrial” e ve apoia em Weber para criticar o marxismo. Ralf Dahrendorf, na Alemanha, sob forte influéncia weberiana, revisa 0 conceito de classe e, como Aron, substitui capita- lismo por “sociedade industrial”, para enfatizar a dimensio mais abrangente (principalmente politica) dos conflitos sociais do capitalismo tardio. A sociolo- gia inglesa renova-se com a influéncia de ‘Weber, principalmente nas obras de John Rex, J. Goldthorpe, David Lockwood, Frank Parkin e Anthony Giddens, Na Franga, Michel Crozier ¢ Alain Touraine estudam a burocracia e a classe trabalha- dora em aberto didlogo com as hipoteses weberianas, e Pierre Bourdieu reinterpre- ta Weber em seus trabalhos de sociologia da cultura Apesar da forte influéncia de Parsons, a sociologia norte-americana reencon- trou Weber de diversas maneiras, des- de 0 pés-guerra até agora. Obras mui- to importantes como as de Seymour M. Lipset, Reinhardt Bendix, Robert Bellah, Clifford Geertz, Randall Collins e S. Eisenstadt, entre outros, foram desenvol- vidas em constante recuperacao ¢ rein- terpretagao das hipéteses weberianas. Tendéncias que aparecem na época da Guerra Fria, como a sociologia fenome- nologica, a emometodologia, a sociologia radical, 0 interacionismo simbélico, reto- mam Weber exatamente aonde Parsons 0 havia recalcado: no seu “idealismo”, na suia “sociologia compreensiva” © nas mi: nuciosas questdes metodolégicas. Em compensago, 0 “materialismo” de Weber € recuperado pelo marxismo do pés-guerra, que antes Ihe havia reserva~ doa indiferenga dogmatica ou 0 ataque superficial. Essa indiferenga nao existira rnos classics do marxismo, mas tor- nou-se dominante no periodo stalinista. Kautsky, Bukhdrin, Rosa Luxemburgo, Gramsci, Lukes e Max Adler citam Weber ¢ quase sempre em apoio as suas proprias idéias. Mas 0 conhecimento da obra de Weber era infimo, se compara- do ao que os marxistas contemporane- ‘9s passam a ostentar a partir dos anos 1960. A influéncia de Weber na Escola de Frankfurt é reconhecida e bastan- te significativa, principalmente na obra de Habermas. A critica superficial foi abandonada ¢ o rigor com que muitos marxistas reavaliam a obra de Weber no fica nada a dever 20 ostentado pelos “weberianos” ‘Uma verdadeira historia das reinter- pretagdes de Weber e de suas disputas te- ria, agora, que descer ao campo tematico conceitual. Acompanhar a disputa dos ‘conceitos, a detecgio de suas ambigiiida- des originais, o aparecimento de novos problemas sobre os escombros de proble- mas que pareciam resolvidos, enfim, teria de ser uma hist6ria da constante reatua- lizagao de Weber, como a feita brilhante- mente por Wolfgang Schluter nas diltimas décadas. Aqui entrariam, por exemplo, a penetrante e nem sempre admitida in- fluéncia de Weber sobre as obras semi- nais de Norbert Elias ¢ Michel Foucault, apenas para citar dois nomes que conti- nuam em evidéncia. Naturalmente, isso nao pode ser feito aqui. De qualquer modo, sera feito por cada socidlogo, em sua area especifica de atuacio. Isto serd inevitavel sempre que se descobrir que 0 socidlogo “weberiano” se dedica a uma coisa “que na realidade jamais chega, ¢ jamais pode chegar, 20 fim”. pe ‘Michel Misse € professor de sociologia e coordenador do Nucieo de Estudos da CCidadania, Conflito e Vilencia Urbana, da UFR) Trés temas Weberianos Burocracia, instituicdes democraticas e a relacéo entre racionalidade e ética s4o alguns dos temas fundamentais do debate politico brasileiro da atualidade rés temas podem ser destacados em breve avaliagao das idéias de Max Weber na ética dos debates atuais, O primeiro é 0 da burocracia, a propésito da qual as idéias weberianas rendem a aparecer em certa literatura re- cente como resultando numa maquina ri- tualista, emperrada e estiipida, de acordo com 0 sentido coloquial que a expressio burocracia veio a adquirir, A ela é con- traposto um modelo “gerencial” supos- tamente Agil ¢ eficiente, Mas tende-se a esquecer de que, se quisermos democra- cia em qualquer sociedade minimamente complexa, a burocracia é indispensavel. Pois tragos como procedimentos meticu- losos, aplicagao de regras universalistas € impessoais e observancia da definigao apropriada de competéncias sao condicao de que se possa ter um Estado sensivel & autonomia e a igualdade dos cidadios e capaz de prestar contas de suas decisdes, e de que a flexibilidade na definigao poli- tica dos fins da agao estatal ndo redunde em arbitrio, E trivial, ao cabo, a reco- mendagao em favor de agilidade e eficién- cia gerencial: o desafio consiste em como combinar, se a atengio para a eficiéncia nao vai perder de vista a democracia, as formas classicas de administragao buro- critica com o empenho de agilidade onde quer que seja possivel. Se a eficiéncia su- poe fins dados para que se possa indagar a respeito da mobilizagao mais adequada dos meios disponiveis para alcangé-los, a democracia envolve antes de tudo jus- tamente a problematiza¢io dos fins, com reconhecimento de que hé fins mi plos e por vezes antagénicos, de concilia io necessariamente problemética e, em conseqiiéncia, de realizagio inevitavelmente morosa, em alguma medida. ‘Mas as conexdes entre democracia e burocracia tém desdobramentos mais complexos na sociologia Autoridade - Sao trés os ti: pos de autoridades: racional- legal, tradicional e a caris- matica. A autoridade do tipo racional 6, sobretudo, impes- soal elimitada, Sustenta-se politica de Weber. Em par ‘em normas legais @ na estru= ticular, a peculiar posigao tura administrativa e buroord- em favor de uma democra- tica para colocar em praia 0 cia plebiscitaria, em que poder emenado de seu repre- sentante, um presidente, por fexempio, como ooorre nas democracias. Em oposigao a este, a autoridade tradicional 6 sustontada pelo status @ por um direito tradicional na figu- rade algum individuo, como Lm rei, por exemple, ou n0 caso de sociedades indige- ‘nas em que 0 mais valho é 0 cchete da tribo. A autoridade ccarismatica vai sempre contra tum poder constitu e, nes se sentido, ¢ revolucionétro, Aaceitacao @ 0 apoio dele emanam de seus seguidores. liderangas carismaticas capazes de se dirigir com @xito as massas possam justamente prevalecer so- bre 0 espirito burocritico, embora devam ser contro- Jadas institucionalmente pelos poderes parlamentar ¢ judicidrio e manter-se em equilibrio com eles (deven- do mesmo emergir ¢ ama- durecer através da carreira parlamentar). Com isso se liga uma concepgao realis- ta dos partidos politicos, em que a idéia de “maqui- nas” politicas € aplicada Num segundo momento, 2 por Weber tanto a experi- dominagao carismatica pode éncia norte-americana do cconverter-se em dominacdo political boss pragmatico do tipo racional ou tradicional. 3 DOSSIE ) MAX WEBER € pouco escrupuloso que garante cargos prebendas & sua clientela (experiéncia ‘com respeito & qual a expressio se consa- grou) quanto ao que resulta, na Europa, da cleitoralizagao dos partidos socialistas em que Maurice Duverger viu 6 modelo dos partidos ideologicos de massas, Instituigdes democraticas e dominacao Outro tema é o da legitimidade de uma rclagio de dominagio, com desdo- bramentos para a questio das institui- Ges democriticas. O tratamento que Ihe da Weber envolve 0 empenho de conce ber a legitimidade em termos empiricos e realistas: trata-se da questo de até que ponto uma relacio desse tipo € caracteri~ zada pela crenca em sua legitimidade por parte daqueles que se acham submetidos a dominagio. O que ests envolvido é, portanto, um trago psicoldgico — as dis- posigdes ou motivagdes dos dominados — {que independe de qualquer pretensdo de avaliagao “objetiva” da legitimidade da relacio ou da ordem que nela se funda. Assim, uma relagio de dominagao ou or dem sociopolitica pode ser “legitima” de ‘mancira que nada tem a ver no apenas com a avaliagao que dela faria o obser- vador equipado deste ou daquele arsenal de instrumentos cognitivos ou categorias éticas, mas tampouco com a maior ou menor reflexividade ow racionalidade que porventura marque as disposicdes dos prdprios dominados ou sirva de funda- mento a elas Isso pode ser aproximado do que pro pide atualmente 2 abordagem de inspira~ io econdmica conhecida como “escolha racional”. Ela pretende basear a anélise no “realismo” do mero céleulo dos in- teresses e prescindir, portanto, de aten- tar para as normas no processo em que a democracia se implanta ¢ consolida: 0 simples jogo dos interesses eventualmente asseguraria de modo espontineo esse re- sultado benigno. Nio hi como aceitar tal ‘ese. Sem niormas efetivas que a mitiguem, a busca dos interesses, por si s6, pode ser feita de maneira pérfida (O. Williamson), produzindo a estabilidade perversa, que nis, brasileiros, conhecemos bem, em ‘que se chapinha no pantanal de in: ‘goes precarias, corrupcio e vale-tudo, Podemos ver, porém, que ha um impor tante ponto de contato entre Weber e os adeptos da escolha racional, o qual se relaciona com a postulagao da ocorréncia de certo automatismo: mum caso (esco~ Jha racional), esse automatismo, tratado como “equilibrio”, rem a ver coma di- namica do jogo dos interesses miiltiploss noutro caso (a legitimidace “empirica” de Weber), ele ocorre nas motivagdes dos atores politicos, tomadas como “dadas”, isto é, como independentes da operacio de uma racionalidade reflexiva. A con deracao da possibilidade dessa “racionali- dade reflexiva” leva 3 importante questio que surge em alguns trabalhos de Jiirgen Habermas: como se articulam analitica- mente o fato em si de que se produzam morivacdes apropriadas 3 estabilidade de uma ordem ou relagio de autoridade dada ca questao da racionalidade da pro- pria motivagio e da capacidade de uma justificagio para motivar racionalmente? Racionalidade e ética Dai se pode passar ao terceiro tema, © de racionalidade e ética, quanto ao qual as analises de Weber seguem sendo gran- demente influentes. Ele joga com a dis tingGo, presumivelmente relevante para questies éticas, entre “ago racional com espeito a fins” (agao “instrumental”, como querem alguns} ¢ “ago racional com respeito a valores”. Mas expoe-se a insuperaveis dificuldades conceituais. Em certa passagem de Economia e sociedade, em que Weber procura estabelecer o sig- nificado da “agao racional com respeito a valores”, lemos: “Exemplos de orien- tagio puramente racional com respeito a valores seriam as acdes de pessoas que, sem cogitar dos possiveis custos para si mesmas, agem para colocar em pratica suas conviccdes quanto a0 que Ihes pare ce exigir o dever, a honra, a busca da be- leza, a vocagao religiosa, a lealdade pes- soal ou a importancia de alguma ‘causa’, rndo importa em que consista(...) a agao racional com respeito a valores sempre enyolve ‘comandos’ ou ‘exigéncias’ que, na opiniao do ator, 0 vinculam ou obri- ‘gam. Somente nos easos em que a agao humana seja motivada pela observancia esses comandos incondicionais é que ela serd racional com respeito a valores. Note-se, em primeiro lugar, o claro sa- bor de irracionalidade que se associa com a idéia de uma agio orientada por “co- ‘mandos incondicionais”, que, apesar da nobreza das “causas” citadas por Weber, nos poe também no terreno do compor- tamento do fanativo. F facil perceber sentido em que, assim caracterizada, a agao racional com respeito a valores re presentaria um tipo de ago, mas é dificil perceher o sentido em que terfamos nela um tipo de agio racional. Além disso, a acdo racional com respeito a valores, que muitos tenderiam a ver como eticamen- te “superior” porque nela se iia “além” do carter instrumental da ago, opde-se nitidamente & ética que Weber designa como “ética da responsabilidade”, a qual tende a surgir, em Weber, como superior 8 “ética das conviogdes” ou “de fins di timos” (esta, sim, mais afim 3 afirmagio de “comandos incondicionais”). Em segundo lugar, o proprio Weber, no pardgrafo imediatamente seguinte, assinala que, “na perspectiva da acao racional com respeito a fins, a ago ra cional com respeito a valores é sempre inracional, acentuando-se tal carater & medida que o valor que a move se eleva a significagao de absoluto, porque a r flexao sobre as conseqiiéncias da aco é tanto menor quanto maior seja a aten~ ‘do concedida ao valor proprio do ato em seu cardter absolut”. Naturalmente, a clausula segundo a qual a irracionali- dade da acio referida a valores surgir “na perspectiva da agio racional com respeito a fins” ndo faz mais que reiterar 6 recurso ao fundamento problematico da distingao entre as duas racionalidades. Mas € evidente que a qualificacdo relati- va A absolutizagao da adesio aos valores tora impossivel pretender fazer dessa mesma adesao um critério que permita distinguir um tipo de ago racional como tal, A adesdo aos valores define a agio racional com respeito a valores, mas a intensificagdo da adesao torna agente menos capaz de refletir: como pretender que ele, neste caso, continue sendo igual- mente “racional” em qualquer sentido legitimo da expressio? Em outras pala vras, quanto mais se afirma 0 atributo que supostamente distingue a ago como um tipo de ago racional, menos racional la se torna, © que redunda num ilogismo patente. A qualificagao implica com ela- reza que a ago sera racional s6 se permi tir reflexdo, com destaque para a reflexio sobre suas conseqiiéncias, ou seja, se for equilibrada do ponto de vista (instrumen- tal) da relagdo entre meios e fins. Weber tem o grande mérito de evitar a contraposigao cortante (que se encon- tra contemporaneamente entre os que se filiam & escolha racional) entre 0 mundo da racionalidade ¢ 0 mundo das normas, especialmente ao fazer da afirmagao das grandes religides mundiais um aspecto 53 Dossié ) MAX WEBER importante do desenvolvimento do racio- nalismo ocidental. Mas a raiz da confu- so conceitual se encontra em que se, por um lado, ele procura distinguir os dois, tipos de acdo racional com base, em tima analise, em seu carater ético (maior ou menor apego a consideragdes relativas a conviegdes éticas ou morais), por outro lado procura, simetricamente, distinguir dois tipos de ética com hase, em tilkima anélise, na sua racionalidade... Pois a “ética das convicgdes” envolve, em nome da santidade das conviegbes morais, a ri- sider e a indisposico quanto a refletir € tratar de pesar e medir as conseqiiéncias ‘muordus), enquanto a *ética da respon- sabilidade” tem na disposicao reflexiva na atengZo para as conseqiiéncias sua caracteristica crucial. A inconsisténcia de ‘Weber a respeito se mostra de forma par- ticularmente aguda em certa passagem do conhecido ensaio “A politica como vor io”, na qual o homem “consciente da responsabilidade pelas conseqiiéncias” e que, nessa condicao, “age de acordo com a ética da responsabilidade”, € apresen- tado, imediatamente a seguir, a declarar: “Esta é a minha posigo; nao posso agir de outra forma”. Ora, tal declaracao nao enyolve sendo a manifestagio de uma conviegio moral. Ela corresponde, na verdade, & idéia do “soco na mesa” que 4s vezes cobramos de nossas liderangas politicas e que estabeleceria o limite mo- ral diante do qual se tornaria irrelevante ‘ou mesmo imprépria a disposicdo de, su- postamente em nome da responsabilidade e da atengao para as conseqiiéncias, agit de maneira “pragmatica” ou “realista”. A questo geral das relagdes entre ra- malidade e ética é sem diivida compli- cada. De toda forma, ha um claro ganho de entendimento se partimos de rec nhecer que toda racionalidade é inseru- mental: a nogio mesma de racionalidade envolve por forga a idéia da articulagao entre meios e fins, e a natureza dos fins ¢ irrelevante para a caracterizagio da racionalidade como tal. Naturalmente, isso nao resulta em dizer que os fins se equivalham. Fles podem ser os mais variados e surgir como mais ou menos desejaveis aos nossos olhos por razdes igualmente diversas, incluindo as de or- dem moral, filos6fica, estética ete, Mas nao ha como pretender que certos fins sejam intrinsecamente mais racionais do que outros (posigo a que leva com freqiiéncia a idéia de uma racionalidade “substantiva”), pois seu cardter menos ‘ou mais racional nao poder ser aponta- do senao por referéncia 4 sua condigio de meios mais ou menos eficazes para a realizagio de outros fins que eventual- ‘mente prezamos como “valores” mais altos. A propria eritica do teenocratismo e da sociedade tecnocritica, empreendi- da com ardor nas dentincias da raciona- lidade instrumental, nao pode prescindir da indicagao clara da condigao alterna- tiva a ser aleancada (do fim a ser busca- do}, bem como, se pretender ser conse- aliente, da especificacto dos caminhos (ou meios) pelos quais transitar para alcangé-la. Ressalte-se ainda que, as- sim entendido, o caréter instrumental da ago racional nada tem a ver com o fato de que se persigam, de maneira miope, objetivos de natureza abjetamente “in teresseira”, “material” ou “econdmica” em sentido convencional. A qualificagao de instrumental se aplica muito bem, a0 contrario, ao caso do agente com que nos familiarizamos na prépria sociologia religiosa weberiana: aquele que estabele- ce complexas hierarquias ou cadeias de fins ¢ meios ao perseguir um ideal moral de vida e talvez um ideal de morte, ou objetivos transcendentais ~ a0 ser fel a uma identidade reflexivamente assumida e realizar uma vocaga0. Fabio Wanderley Reis ¢ cientsta politico, professor emérito da UFMG, autor de ‘Mercado © utooia(Edusp) e Poftica eracionalidade (Editora UFMG), entre outros 54 Musica e Racionalismo em Weber De que maneira 0 estudo das tecnicas musicais forneceu as bases para uma rigorosa sociologia da arte onsiderando o ambiente social ¢ intelectual no qual viveu Max Weber, nio é de estranhar que ele tenha se interessado por miisica. Surpreendente, entretanto, € o fato de que, apés a sua morte, em 1920, sua esposa tenha publicado um texto seu sobre sociologia da musica ~ na ver- dade a formulagio inicial de uma almejada sociologia da arte -, aque havia sido rascunhado cerca de dez anos antes e permanecera inacabado. Esse texto, por um lado marco fundador da sociologia ‘da masica, 6, por outro, um texto capital na arquiterura da obra de Max Weber. E bem conhecida a perspectiva comparativa assumida por Max Weber em seus estudos mais importantes de sociologia hist6rica. Sua investigagao acerca da misica ocidental moderna esta inscrita ‘no amplo quadro analitico, conceitual e histérico de suas investi- gages sobre o racionalismo ocidental Isso significa que eompr tender a moderna misica do ocidente implica, em primeiro lugas, reconhecer sua peculiaridade - donde 0 procedimento comparati- yo, que possibilita realgar e evidenciar essa peculiaridade ~ e, em segundo lugar, reconhecer a multiplicidade de possibilidades de racionalizagao, ou seja, que € possivel racionalizar em intensidades e diregdes muito diferentes, e mesmo contradirérias (0 que, inclu- sive, ocorre amitide). Para formular em duas palavras: “ocidental” ¢ “racional” sio 1s verores de base do texto Os fiendamentos racionais e sociol6- gicos da misica, mas também de toda a sociologia historica sis- tematica de Weber. Além disso, uma terceira palavra emerge, no contexto dos questionamentos de Weber, justamente da intersec ddessas duas outras: “moderno”. Embora tudo isso se articule de modo bastante complexo na obra de Weber, a sociologia da mésica & lugar onde essa articulacao ¢ formulada de modo sintético. Isso signifiea que, por um lado, 0 texto é capital para a compreensio adequada da problematizagio de Weber acerca dessas trés pala ‘yras, mas, ao mesmo tempo, essa condensagio torna o texto por vezes vertiginoso. A essas dificuldades somam-se duas outras: como jo disse, o texto truturado, um tipo E apenas um ‘também de domina- rascumho, sem (Gao legal e racional redagio final, ‘Weber enxerga na que ficou na ‘administragao bu- gaveta sem ser rocrética uma das concluido, e origens do Estado por isso su ‘ocidental modem, linguagem ainda mais truncada do que a linguagem ja rnormalmente hostil de Weber. Alem disso, hi a especificidade da discussio empreen dida por Weber, que exige um certo conhe- cimento de teoria musical, de histéria da imiisica ocidental e dos estudos da nascente musicologia comparada, que posteriormen- te desaguou na etnomusicologia. Adentremos um pouco nessa sociolo- gia da mésica weberiana. Em uma discus- sao com Werner Sombart sobre “Técnica e cultura”, em 1910, Weber afirmava que ‘0 problema de base para uma investigagio de sociologia da arte é “a dependéncia do desenvolvimento de uma arte de seus meios téenicos”, Portanto, destacava uma corre- agio entre desenvolvimento de uma arte particular ¢ desenvolvimento dos meios técnicos que Ihe so proprios. A isso se soma a natureza dessa correlagio: a Weber interessa estabelecer relagies causais empi- ricas e hist6ricas. ‘Weber encaminha essa discussio & problematizacao através da relagio, qui para ele é capital, de “voligio artist — as DOSSIE 3 (Kunstwollen| ¢ meio réenico”, modo multifacetado, Em primeiro ly firmou; “Condigées de carter sociol6gi co, em parte de carater econdmico, possi- bilitam 0 desenvolvimento da orquestra de Haydn. Mas 0 pensamento que esta em sua base é sua propriedade mais pessoa \ re morivada tecnicamente ra & que a vo" ligao artistica gesta os meios técnicos para a soluedo de um problema”. Mas, por outro lado, Weber também entende que 0s meios téenicos determinam a voligio artistica; por outras palavras, indaga em que medi- dda um momento eminentemente técnica atua criativamente na arte, isto é, em que medida um meio téenico (ou um conjunto deles) propicia uma forma artistica partcu- lar e, muitas vezes, nova, Portanto, também apresenta a idéia do meio técnico como um motor do desenvolvimento historico ¢ empi- rico das artes. F preciso sublinhar que o encaminha- mento dado por Weber descarta uma rela- ‘sao causal univoca entre voligio artistica ¢ meio téenico; ao contrario, trata-se aqui de uma relagio de mao dupla. Assim, se a sociologia da arte e da misica investiga di ferentes manifestagoes artisticas, ela o faz nao haseada em uma voligao artistica de eada nos meios técnicos expresso, mas ba dessa expressio, Ou seja, é na im estigagio dos meios técnicos de expresso, que propi- n uma investigagao empirica, que Weber lastreia sua concepcéo de sociologia da arte. Por outro lado, uma investigagao que se ba seie exclusivamente na voligao artistica foge 0s dominios da sociologia, pois previsa se debrugar sobre um dominio que ests para além, ou aquém, do empitico. Com isso, evidencia-se a diferenciacio disciplinar que autonomizaria, no entender de Weber, uma sociologia de uma estética ~ esta dltima Jangaria mao de juizos de valor acerca das obras de arte ‘Os meios téenicos so postos a servigo da solugio de problemas artisticos bastante cconeretas, como se evidencia nos exemplos conhecidos dados por Weber (a abébada ra arquiretura, a divisio da oitava e suas conseqiiéncias na miisica, a perspectiva na pintura, a imprensa na literatura etc.): io, fem suas palavras, “meios racionais para ‘a solucao étima de um problema réenico particular”, Disso resulta que muitas trans- formagées artisticas so condicionadas pela téenica, Weber formula isso do seguin- te modo, abrindo espaco para uma socio logia empirica da arte: “Para uma conside- ago empitico-causal, a transformagio da réenica é justamente o momento de desen- volvimento da arte mais importante, geval ce verificavel”. ‘A misica como expressao decisiva do proceso de racionalizacao Se estamos preocupados com o proces- so de desenvolvimento da arte, entao a di- fercaciagao da dimensio técnica fornece Inase material, sobre a qual se pode investi- gar as determinagdes causais que conduzem tal proceso. Convém sublinhar que, para Weber, ¢ isso que interessa: um processo de desenvolvimento, por sua vez, marcado por uma especificidade. Max Weber compreen- dia isso como uma “individualidade hist6- rica”, ou, em suas palavras: “Um complexo de nexos na efetividade histérica que nos encadeamos conceitualmente em um todo sob o ponto de vista de sua significacao cul- tural”, Nesse sentido, a significagio eultur ral da misica ocidental moderna esti, para Max Weber, inextricavelmente ligada aque- le processo que ele denominou o “raciona- lismo ocidental moderno”. E por essa razio que, na célebre “Nota prévia” aos Escritos reunidos de sociologia da religizo, Weber destacou a importancia da misica como ‘uma dimensio fundamental do processo historico do racionalismo do ocidente ‘Como disse, Weber tem em vista uma “sociologia empitica da arte” €€ por essa razio que 0 enfoque centrado nos meios téenicos torna-se central. E, com isso, evi dencia-se 0 que inclusive se poderia deno- minar um certo “materialismo” da socio- logia da miisica de Weber. Exemplos desse quais Weber concentra sua investigagao de sociologia da miisica, que podem ser esque- maticamente assim citcunscritos: 1.0 material musical, que no Ambito de sua investigagio diz, sobretudo, respeito & construgio e divisio da oitava, a formagio dos intervalos e das escalas. "As bases materiais da produgio do som, isto é os instrumen- os musicais. 3. A notagio musical, e também outras formas de registro musi- cal, sobretudo o fondgrafo, ‘Com relagdo a cada um desses trés objetos e dominios de in- vestigacio pode-se indagar a respeito do “progresso” como uma categoria explicativa de um processo de desenvolvimento. E.é pre- ‘isamente por isso que Weber, em mais de uma ocasiao, deu-se a0 trabalho de clarificar que, em arte, pode-se falar de “progress” apenas como referido aos meios tecnicos, mas ndo como refer do a critérios valorativos da arte - uma arte “melhor” ou “pior”. Portanto, a sociologia da misica trata de investigar os meios tée- hicos ¢ seus desenvolvimentos, assim como suas influéncias na voligio artistica, como dominio empirico ¢ liberto de qualquer valoragio estétia. Esse ponto é absolutamente central, pois coma ‘exclusio da valoracao estética tornou-se possivel “fundar epistemo- Jogicamente um comparatismo transculeural ¢ trans-historico dos fatos artisticos”, como disse Phillipe Despoix. Portanto, a critica de exnocentrismo, muitas vezes dirigida a Weber, erra 0 alvo. ‘Uma das teses capitais de Weber € que, na arte, a racionalizagio se projeta sobre os préprios meios artisticos. Iso significa que a in- dagacao do sociélogo e historiador “empirico” serd sempre dirigida pela questdo de ser mais ou menos racionalizada, e racionalizada segundo tais ou quais crtérios; ou, dito por outras palavras, qual a intensidade da racionalizacao e qual a sua diregao. (Donde a pos- sivel tarefa de uma tipologia dos racionalismos.) Weber procurou demonstrat isso naqueles trés dominios indicados, mas, sobretudo, +o primeiro deles, indicando como o proprio material sonoto foi racionalizado de um modo determinado dentre varios possiveis, cul- minando, no ocidente, no temperamento igual. Desenvolvimentos posteriores desse processo de racionalizagto dos meios técnicos fo ram, por exemplo, a composi¢io com quartos de tom defendida por ‘lois Haba, e mesmo a construcao de pianos com esse recurso técni ‘co, assim como, e, sobretudo, as miisicas eletrdnica e eletroacistica, com suas novas possibilidades de producio e organizagio do som. ‘0s dominios da composicio contempordnea oferecem amplas possi- hilidades de investigacao, creio, no sentido desenvolvido por Weber. Por conta dessa investigacio sobre 0 processo de racionalizagaio nna misica, de cujos resultados um é a misica ocidental moderna, ‘Weber apresentou tuma investigago absolutamente modelar acerea do problema do racionalismo, problema esse que ele desdobrou em jologias historicae sistemética, sobretudo nos campos da ‘economia, politica e direto. F. isso que torna sua sociologia dda misica uma pedra de toque fundamental em seu pensamento, “eopoido Waizborté professor de socilogia da USP. Organizoue traduzi oe wo Os fundementos racionais e socotégicos da misica, de Max Weber (Edusp) DOSSIE ) MAX WEBER Max Weber entre duas vocacoes Duas conferéncias manifestam a concepcao weberiana, marcada pelas agitadas circunstancias de época, das potencialidades efetivas da ciéncia e da politica Tipo ideal - Contribuigdo impor- tante para consoli- dar a sociologia e o arcabougo tedrico_ a discipiina, o8 tipos ideais 20 fer- ramentas de andlise para compreender a sociedade a partir de seus elementos constitutivos como religiéo, economia, burveracia, capi- talismo,'e a partir da observagao de ‘aspectos cancre- tose histéricos. ‘S80 generalizagoes “puras” que o cien- tista social, por sua vez, utiliza na sua pesquisa dos fend- menos sociais. Para ‘Weber, como a total apreenséo da rea- lidade seria impos- sivel, 0 recurso aos tipos ideais toma-se indispensével c ainda hoje pairam davi- das sobre as datas em que ‘Max Weber pronunciou as conferéncias “Ciencia como vocagio” e “Politica como vocagio” — questionando-se se foram proferi- das em 1918 ou consecutivamente em 1917 ¢ 1918 — estudiosos de Weber concordam que as duas con- feréncias foram dirigidas aos jovens estudantes alemaes da Associngio dos Estudantes Livres da Baviera, que convidou o mestre e promoveu 08 dois eventos na Universidade de Munique. Hé também concordin- cia quanto ao fato de que “Ciéncia ‘como vocaga0” nao deveria integrar 0s estudos metodolégicos de Max ‘Weber, nem “Politica como voca- a0” sua obra politica. Pelo con- tetido muito proximo das circuns- tincias em que foram proferidas, as conferéncias seriam textos sobre ‘questdes da cultura moderna: a cia ea politica. ‘Ao comentar “Ciéncia como jo” em palestra realizada na rsidade de Heidelberg em 1994, Friedrich Tenbruck afirma que a conferéncia “nao foi escrita para especia- listas e trata menos de ciéncia do que da situagao espiritual das pessoas em uma ci- vilizagio fundada na eiéncia. A conferén- cia diz respeito & compreensio do homem moderno que deseja ganhar clareza sobre sie seu tempo”. Talver. por isso a lingua- ‘gem viva que distingue o texto prenda tanto a atengao do leitor € 0 recompense, diz Tennbruck. ‘Allinguagem viva de que fala ‘Tenbruck era bem diferente daquela que ‘Weber usava em seus artigos ¢ livros aca- démicos e, também, em palestras ¢ con- feréncias dirigidas ao piblico académico politico, Wolfgang Schluchter aventa a hipstese de que as conferéncias “sio textos filosoficos que pretenderam levar 605 ouvintes e, logo, 05 leitores a reconhe- cer fatos e encorajar a auto-teflexdio, a fim de ganhé-los para esforgos respon- saveis dirigidos para uma causa realis- ta”. A questdo estaria definitivamente associada as circunstancias hist6ricas ¢ 4 posigio de Weber quanto & construgio da nagao alema, que propugnava por um estado nacional moderno dependente da prontidao dos individuos de se engajar em tarefas que exigiam auto-remiincia e distanciamento. Fatos historicos relevantes haviam modificado o destino politico e geopolit: co da Europa naqueles anos. O Segundo Império alemao sofrera uma grave uma derrota militar, enquanto a Revolugio de Outubco fora vitoriosa na Riissia; des- fizeram-se as monarguias e os impérios austro-hingaro, germano e turco-otoma- no, Pode-se imaginar o impacto desses acontecimentos, especialmente entre 0s estudantes profundamente envolvidos ‘com a guerra, com suas carreiras e pro- jetos de vida. Karl Lawith, que era um deles, e ouviu Weber, escreve, em suas memérias, que as formulacoes do soci logo expressavam uma vida dedicada a0 conhecimento e & experiéncia, parecen- do por isso que vinham diretamente de dentro, enquanto a autoridade da per- sonalidade de Weber Ihes atribuia uma poderosa urgéncia. A maneira arguta de formular as questdes combinava-se com a recusa a solugdes faceis. E embora Weber no deixasse sequer um fio de esperanga, “qualquer um que 0 ouvisse sentia que no coracao daquela razaio clara repousa- va uma profunda e sincera humanidade”. Nem todos certamente concordam com a generosidade de Lowith. Os tragos comuns as duas conferén- cias nao as configuram enquanto uma unidade. “Ciéncia como vocagio” des- tacou-se e teve recepgio bem diferente da conferéncia “Politica como vocagao”. ‘Causou grande impacto, nao s6 aos ou vintes, como aos leitores, depois de sua publicago em 1919, provocando uma polémica apaixonada da qual fizeram parte Emnst Robert Curtius, Erich von Kahler e Arthur Salz, que eram do circulo de Stefan George, Ernst Troeltsch, Max Scheler e Heinrich Rickert, cujo tema era © papel da ciéneia no mundo moderno. O ccerne do debate dizia respeito & necessi- dade de reafirmar uma unidade para a ciéncia e abandonar 0 relativismo frouxo de Max Weber, que pregava o politefsmo ea batatha dos deuses Participacao na vida politica Durante os anos da Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918, Weber ressur- ge na cena piiblica como orador politico ¢ volta, ao final daquele perfodo, ao pro- fessorado na Universidade de Munique. Tinha 50 anos quando 0 conflito co- megou. Aderiu imediatamente 4 guer- rae como nao podia ir para a frente de baralha, apresentou-se para servir nas forcas armadas, tendo recebido 0 posto de oficial de disciplina da Comissio de Hospitais Militares do Corpo de Reservas em Heidelberg. Trabalhou alguns meses nna organizagio dos hospitais e em segui- da absorveu-se inteiramente na sua pes- quisa sobre as religides mundiais. Voltou a0 escritério para escrever sobre a ética econdmica das religides, focalizando 0 confucionismo, o budismo e o hinduismo. Paralelamente comecou 0 esbogo do que mais tarde se tornaria 0 livro Econontia e sociedade (1922). Contudo, nao conseguia mais ficar apenas na mesa de trabalho. Ao mesmo tempo em que escrevia e buscava mate- rial para suas pesquisas, participava da vida politica. A primeira vex.que falou em publico depois de suas sucessivas cri- ses depressivas foi em Nuremberg para ‘0 Comité Alemao Nacional para uma Paz Honrosa. Dai em diante fez varias conferéncias, tanto de carater eminen- temente politico como também para a sociedade alema de sociologia e outras instituigdes académicas. Finalmente, foi convidado para ocupar uma cétedra na Universidade de Viena ¢, poucos meses depois, para a Universidade de Munique. Acabou aceitando 0 segundo convite. As conferéncias “Ciéncia como vocagao” € “Politica como vocagao” foram feitas jus- tamente nesse perfodo entre os convites sua decisio de ocupar uma cétedra na Universidade de Munique. Weber tomou uma posigao clara con- tra o pacifismo, a anexacio de territ6rios 0 pangermanismo. Karl Jaspers o cha- mou de nationaler deutscher. Sua ade- sio a favor da construgio de um estado nacional alemio nao impediu que tomas- seo partido da Monarquia até a fuga de Guilherme II. Somente com o fim do Segundo Império e do governo mondrqui- co & que Weber adere ao regime demo- erético. Tomou parte ativa na negociagao 0 Dossié ) MAX WEBER dos tratados de paz ¢ na reforma parla- mentar, reabrindo paulatinamente seu dialogo com a juventude académica. Desde o final do século 19, mas, so- brerudo, nos anos de guerra ¢ reorgani- zagio da Alemanha apés 0 conflito, uma associagio de estudantes ~ a Associagio Livre dos Estudantes ~ desempenhow tum lugar de destaque na vida politica. Essa associagao lutava contra as tradi- nais sociedades de estudantes que se fundavam em cédigos de honra ¢ cujos ‘membros tinham uma posigio pr legiada dentro das universidades. A Associagao Livre dos Estudantes levan- tara a bandeira da democratizagio do acesso a universidade e 0 fim dos privilé- ios. Considerava a universidade 0 locus privilegiado para a educagao académi- ca e autoformagio. Foram combatidos ‘eacusados de serem a favor dos judeus, socialistas e comunistas. Finalmente, a Associagao deu origem a varios dife- rentes grupos de estudantes, inclusive a Associagio dos Estudantes Livres da Baviera, que fez a Weber 0 convite para Ihes falar sobre ciéncia como vocagao. Weber era filiado a uma das anti- gas sociedades de estudantes chama~ da Allemania, Passou a fazer parte dela nos meses em que estudou Direito € Economia Politica na Universidade de Heidelberg em 1912. Nos anos de 1917 € 1918, contudo, manifestou-se veemente- ‘mente contra essas sociedades, que ainda se baseavam no duelo como forma de resolugio de conflitos. Em sua conferén- cia “Estudantes e politica”, esclareceu que o sistema de exclusividade proprio daquelas sociedades, baseado no direi- to ao duelo era do tipo que tornava a democratizacio da universidade impos- sivel, levando a um falso entendimento da posigao dos estudantes. Considerou as sociedades incompativeis com a nova forma de governo republicano, democré- tico e parlamentar que estava surgindo na Alemanha. Solicitou o seu desligamento da Allemania. “Cigncia como Vocagio” foi, portan- oo to, proferida aos estudantes em um con- texto de mudancas politicas e sociais pro- fundas, ¢ de rompimento de Weber com seus “aliados” da Allemania. Como conciliar humanismo e especializagdo na universidade Acuado diante da volta 20 mundo académico ou ao mundo da politica, 0 que deveria Weber dizer aos jovens estu- dantes alemfes naquela ocasido ¢ 0 que pode interessar nos dias de hoje? Qual sentido da conferéncia “Ciéncia como vocagiio”? Para Wolfgang Schluchter, “Ciencia como vocagio” tem trés expressdes-cha~ ve: dever vacacional, auto-limitacio € personalidade. Max Weber quer mostrar 208 estudantes que o trabalho intelectu- al enquanto profissao significa uma vida cheia de remtincia e nao de reconcilia~ gio. O que mais eausou mal-estar entre Os estudantes, segundo o autor, teria sido cética das ages profissionais. Elas nao poderiam estar mescladas com ideais, sobretuclo com ideais de ordem politica. Profissio como autolimitagdo era a men- sagem que Weber queria transmitir aos estudantes. Com o intuito de provar a base secular das profissdes, Weber associa profissdo e rentincia a um terceiro ter~ mo — personalidade. Ele havia criticado © termo personalidade pelo seu carter romantico e naturalista através do qual se procurava definir ou buscar 0 espaco sagrado de uma pessoa de maneira difusa c indiferenciada nas profundezas vegeta- tivas da vida pessoal. Nao acredirava que as personalidades eram caracteristicas de génios, e recusava a idéia romantica € esteticista de personalidade que a define ‘como a busca de experiéncia direta ¢ mo- delagem de uma vida como se fosse uma obra de arte. Mas, se era assim, por que diz entéo que somente os jovens que tém personalidade poderdo sobreviver com ddignidade nos meios universitarios? Para Weber, personalidade seria wma relagao constante e intrinseca com certos valores e sentidos da vida que uma pes- soa pode alcancar no desenrolar do seu destino, um processo que é a0 mesmo tempo Bildung (formacio). Ascetismo ¢ individualismo humanista sao valores que expressam 0 mais proximo que se pode dizer desse conceito de personalidade: 1) a personalidade é ascética porque esta voltada para uma agio continua ¢ regular necesséria para 0 servigo de uma causa; 2) humanista porque o encadeamento das ages se dirige para valores dltimos;e 3) individualista porque exige escolha que provoca um conjunto de decisdes. Se es- sas condicdes so satisfeitas, a pessoa cria personalidade, pois descobre qual é sew demanio interior e passa a obedecer a ele satisfazendo as demandas do dia-a-dia. ‘Tenbruck, contudo, n&o compartilha dessa interpretag3o. Para ele é impor- tante observar que, em 1917, a palavra Beruf nao tinha ainda o sentido exclusi- vo de profissio, porém “significa ainda 6 preenchimento de uma vida interior € no meramente os meios externos neces- satios para viver e ter sucesso”. Na reali- dade, Weber acredita que a ciéncia como vocagiio exigia uma vocagio interna. O fundamento da conferéncia, no que diz respeito a ciéncia como profissio/voca- gio, encontra-se em A ética protestante €.0 “espirito” do capitalismo (1905). No livro, Weber demonstra como no protes- tantismo o trabalho (Arbeit) perde 0 ¢s- tigma de obrigagao para a sobrevivencia € passa a significar profissao (Beruf), uma vez que Deus chama o crente para servit sua obra no mundo. Para Tennbruck, contudo, a época de Max Weber, a uni- versidade alema estava passando por transformagdes que concerniam a espe- cializagao, divisto das disciplinas, pes- quisas empiricas ligadas ao desenvolvi- mento € ao progresso dos meios de vida Para fazer frente as mudangas, a ciénci torna-se um importante Beruf, uma pro- fissio que o cientista abraga apenas se tiver sido “chamado” intimamente, ‘Além disso, Tenbruck chama a aten- io para o fato de que, na virada do sé- culo, a crenga na ciéncia estava abalada. Na Franca, os escri- tos de Renan ¢ Bergson davam provas do questionamento da ciéncia. Para que futuro leva a ciéncia? Na Alemanba, diz ele, permanecia 0 ideal da Bildung durch Wissenschaft (formagio através da ciéncia), apesar dos duros golpes que 0s portadores dessa posigdo recebiam, sobretudo no ambito das cigncias do espirito. A critica a ciéncia veio com Nietszche, que combateu 0 2 racionalismo e 0 intelectualismo, porém, diferentemente de seus contemporineos franceses, teria proposto uma nova ciéncia, tuma inyersio dos valores ¢ confiava essa missio aos jovens. ‘Mas o cerne da conferéncia estaria ainda na pergunta “qual co sentido da ciéncia?”. Weber teria expressado dramaticamen- te, segundo Tenbruck, sua divida radical com relagao ao senti- do da ciéncia, A ciencia exigia o fim das ilusies de sentido, uma ‘yez que estava intimamente ligada ao progresso € 0 progresso no tinha fim; renovava-se nele mesmo. Quem ajuiza que Weber teria simplesmente feito um elogio a uma cigncia livre de valo- res estava enganado, Fle nao havia restringido a ciéncia a um meto exercicio empirico, fortalecendo seu carter racional. O que estava em jogo agora era de fato o sentido da ciéncia. Para Tenbruck, a cigncia, na acepgao de Weber, nao oferece sentido nem a vida pessoal, nem ao mundo. A conferéncia trazia mais perguntas do que respostas. Em “Ciéncia como vocagao”, Weber questiona mais uma vez ‘0 surgimento da profissio e da especializagio no mundo da cultu- ra ¢ de uma ciéncia livre de valores. Como combinar a formaca0 (Bildung) com os rigores limites de uma especializagio no am- hito das universidades? Essa questo perpassa 0 seu pensamento ce sua obra, Quanto a “novidade” do tom dramético com que se refere ao problema, isto sim talvez possa ser compreendido pela diivida de Weber em voltar para 0 mundo académico para 0 qual muitas vezes dizia que nao era “talhado”, ou dirigir 0 sentido de seu dever para a agio politica, sabendo de seu insucesso como homem politico, desligado dos partidos e defensor da ética da responsabilidade que nao empolgou os politicos nem tampouco 0s estudantes que o ouviram na Universidade de Munique. Glaucia Villas Boas & professora de sociologia da UFRI e autora do livro A recep¢ao da sociolagia alema no Brasil (Topbooks) a DOSSIE ) MAX WEBER Educacao moderna e o Brasil As idéias weberianas permitem a compreensdo da educacdo brasileira sob a perspectiva institucional pois exprime as caracteristicas singulares do nosso processo de formacao ‘Agao social - Toda ago que leva em conta comporta- mentos ¢ reacées das pessoas de ‘acordo com o am- biente e suas nor ‘mas ¢ costumes co- tidianos exempifica goes desse géne- "0, que Weber divide em quatro tipes:ra- cionais,instrumen- tals, aletivas e tra- dicionais. Racionais 80 aquelas em que individuo leva ern ‘conta seus valores endo ponsa nas conseqiéncias, ‘nem nos meios para atingir 0 objetivo, Instrumental é 0 ‘oposto desta titi- mma. AS afetivas so tomadas de acor- do com a emogao, para expressar sen- timentos pessoais. E, por utimo, 2s tra- dicionais sao apoia- das na tradigao de

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