You are on page 1of 1

BASYS-S+OPTI CM

C MY
YKK ADX-24-2401

Editora: Ana Paula Macedo //


anapaula.df@dabr.com.br
3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155

24 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 24 de janeiro de 2010

Ambientalista viaja
sozinho pelo São Francisco
e faz levantamento
ambiental do rio

» GISELA CABRAL do registrado em milhares de fotos, horas de fil- cação ambiental às populações ribeirinhas, que
magem e muitas páginas escritas. O material foi acabam jogando lixo e dejetos na água. Essas
ercorrer toda a extensão do São Francis- publicado em um blog na internet pelo próprio pessoas não imaginam que a situação é ruim

P co a bordo de uma simples canoa. A mis-


são — movida pela vontade de conhecer
a fundo cada detalhe do famoso rio, que
banha nada menos do que cinco estados brasi-
leiros — pode parecer impossível, mas o am-
Figueiredo, que recebeu patrocínio para alimen-
tação e para a câmera fotográfica que utilizou.
Durante os mais de três meses de aventura,
ele iniciava o dia por volta das 4h, remava por
até 10 horas e só parava no fim da tarde, para se
para elas e para o planeta”, explica Figueiredo.
Indústrias e grandes agricultores também lan-
çam resíduos no rio, como agrotóxicos utiliza-
dos nas lavouras.

bientalista João Carlos Figueiredo, 60 anos, alimentar e descansar. Ele conta que teve o pri- Características próprias
não só a realizou, como transformou a aven- vilégio de observar belas paisagens e encontrar
tura solitária em alerta para a sociedade so- gente simples e hospitaleira, além de conhecer Os contrastes encontrados ao longo do per-
bre a situação de um ecossistema que neces- iniciativas bem-sucedidas de preservação do curso também chamaram a atenção de Figueire-
sita de cuidados. rio. Porém, a expedição revelou trechos onde a do. Apesar de o curso d’água ser o mesmo, ele
A jornada, iniciada em setembro passa- poluição e o desrespeito à natureza eram visí- aponta que cada região apresenta características
do, durou 99 dias. Figueiredo percorreu 2,5 veis. “A destruição das matas ciliares fez com próprias. “Em Alagoas, por exemplo, predomina
mil quilômetros munido apenas de itens que barrancos enormes desmoronassem e pro- a plantação de coco. Num trecho próximo a Pia-
básicos de sobrevivência, com exceção de vocassem o fenômeno do assoreamento no rio. çabuçu, cheio de curvas, conheci um verdadeiro
um aparelho de GPS para localização e Isso sem contar com o grave problema do desa- paraíso ecológico, repleto de animais. Parecia
câmeras de fotografia e vídeo. O ambien- parecimento da fauna nativa”, afirma. um oásis”, conta. Trechos próximos a Sergipe,
talista pode ver de perto a situação da De acordo com o viajante, já no início do rio é onde predominam plantações bem cuidadas e
fauna e da flora do rio — considerado o possível sentir o cheiro do esgoto.“A situação vai diversificadas, também não passaram desperce-
mais importante caminho de ligação se agravando à medida que povoados maiores bidas. Além disso, segundo ele, é impossível falar
das regiões Sudeste e Centro-Oeste vão surgindo. Depois de Três Maria (MG), por do Rio São Francisco sem mencionar a obra de
com a Nordeste —, além das condi- exemplo, há o esgoto que vem de Belo Horizon- transposição implantada pelo governo, devido
ções de vida das populações que vi- te (MG) e desce pelo Rio das Velhas, um dos ao agravamento da crise do abastecimento hí-
vem às margens do Velho Chico. Tu- afluentes do São Francisco. Também falta edu- drico do Nordeste, em 1999. Porém, o tema ain-
da divide opiniões, pois é considerado por mui-
tos uma agressão ao ecossistema.
A previsão é que seja concluída a implantação
de um conjunto de canais, adutoras, túneis, esta-
ções de bombeamento e reservatórios feito a par-
tir dos dois eixos que saem do rio, entre as barra-
gens de Sobradinho e Itaparica, na Bahia. “A
transposição tem de ser vista sobre dois pontos
de vista: o ambiental e o social. O grande proble-
ma, na minha opinião, é que a água do rio está
sendo levada para abastecer outros lugares e po-
de descobrir outros que também necessitam de
ajuda”, avalia Figueiredo, que agora trabalha na
compilação das informações coletadas ao longo
dos três meses em que passou no rio para o lan-
çamento de um livro.

www.correiobraziliense.com.br

Ouça entrevista com o ambientalista


João Carlos Figueiredo

CM
C YK
MY K

You might also like