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TEORIA dos PRINCIPIOS Humberto Avila “0 Hux, como diva @ José Récio, ame o Longe ¢ as miagens, os abismos, as lorries, 0 deserts. Quando a alma no & pequena ~ do Récio a0 Prsson ~ gritamos © maravilhoso “Wo veu por a: s6 vou por onde me guiam meus préprios passos’. E isso “eu disse ao Hstenva “te liv & um eaminha os tes proprios pesss’, E um Tivro pessoalmente dee. ~Dai ter 60 tomado a incitiva de dizer a0 Huswento que gostata imensamente de esorevero preficio deste livro, porque, assim, indietamente,participo da substancial contribuigdo que ele ta a0 pansamentajuridico. Estar ao seu lado, iso mie enobrece imelectusimente.”| (Do “Preficia”, para a I eligi bresilera, do Di: Enos Gest, Professor Tiular le Diveito Ecomimico da Universidade de Sto Pawo, “Ministre do Supremo Tribunal Federal) %(.) a presente obm eurcteriza-se por seu perfil nitidamente independents pela = inaidde da sua coaceppdo,(.) 0 aulor dosenvolve, aduzindo crtériosadicionas, uma Proposa pégria ediferciada para 2 dstingdo ene regras eprnciios. ..) “Por esse motivo, desejo ao livro que cle seja recepcionado na discussie alemna sobre a Teoria do Direito com 0 interessec 2 ressonéncia 10 quis faz jus.” (Do “Preficio", da edict lend, do De Dr. re, mull, Cexus- Buns Cases, Professor Tiular de Direio Chul ¢ de Metodologia da Cigncia do Direito dda Universidade ce Minique/Ateraniia & Dowtor “Howorts Causa pelas Universidade de Lishoa, ‘Autonanva de Madr, Atenas e Graz) “Apesar de haver livros sobre regras,¢ apesar de © papel das principios juridicos er sido um foco da teria do direito desde Dworkin, estava fallandoum sérioestudo sistem. tico sobre 0 que soos principio jurdicas, de onde eles vém, como els sto idemtifieedas «como precisemente eles inleragern com oatras fates na diseussto jurficae na aplica- ‘lo do dieio. © indispensive ivro do Professor Avn preenche essa lacuna cor rigor, profundidadee crilvidade,e deve tomar-s leur obigatéria para todos os imteressados em ilerpretagdoe argumesiayo jridias, (CApresemtagao”, da ecto inglesa, do Professor Farce Scuaeen Joins F Kennedy Schoo! of Goverantent, Universidade de Hare" ™* 1 d | | H 4 a 9 a ca Laer WTIaY TEORIA dos PRINCIPIOS da definicao 4 aplicacdo dos principios juridicos puerta) aan) UMBERTO AVILA Humberto Avila TEORIA DOS PRINCIPIOS da definigao 4 aplicagéo dos principios juridicos HH edigao, revista MALHEIROS (003083) 2 NORMAS DE PRIMEIRO GRAU: PRINCIPIOS E REGRAS 24 Distinges prelininares: 2.1 Testo « nora ~ 2.1.2 Desertgdo, ‘concirugdo ¢ reeonsirugéo. 2.2 Panorama da evolugdo da dstincdo, nine priveiptos rere. 2.3 Crvrios de distingo ere principios © repras: 24 Critirlo do “cardter hipatéuicascondictonal”: 2.3.4.1 Consido ~ 23.1.2 Alisa ertica ~ 23.2 Crtéro do "mode final de eplicagio”: 2.32.1 Canterida ~ 2.3.2.2 Andlise critica ~ 2.3.3 Crité= tio do *canfira narmativo": 23.3.1 Comeida ~ 23.2.2 Anélice evi fico. 24 Proposta de dissoctogth etre prncinioseregras: 24.1 Far damentox: 2.4 It Dizsosiugdo justificante ~ 2.4.1.2 Dissociagdo abs trata ~ 24.1.3 Dissociagae heuristic ~ 2.4.1.4 Dissacingdo emt a teruativas inelusivas ~ 24.2 Critvios de dssociugdos 24.2.1 Crit riod nanuresa do comportamanto prescrito ~ 2.42.9 Critério da na~ turcza da jusificngGo exigida ~ 2.4.23 Criério da medida de conm- ‘buigie ara a decisio ~ 24.24 Quadro exquemético ~ 2.4.3 Propos- tue corcetna! dar regras ¢ dos privcipios ~ 24.4 Andlise do 080 n= ‘consistoute cla dsitiedofroca entre regras« prinipios ~ 24.5 Andi= se do uso incousistente da sting forte emre regrase priscipos — 2:46 Direirizes parm a undtise dos principiox: 246.4 Especificagdo dos fins 0 vino: quanto owas espectfico for © fim, mencs con Irolivet ser sua realzagdo ~ 24.6.2 Pesgusa de easox poradigma- ‘cor que possom inicar este procesyo de esclarecinenta das condi- des que compoent 0 estado ideal de coisas a ser busca polos com ‘portanientos neeestérias & sua realizordo ~ 2.4.6.3 Exome, nesses (ass, das sinilaridades copazes de possibllitar @ consiimigda de “grupos de casos que giren em torno da solugao de um mesnio proble- ina central ~ 2.4.6.4 Verifieacdo da exsténca de erérios copazes de possibile delimitorda de quats so os beus juridicos gue com ‘pcm 0 esta ideal de coisas de quais 300.0 comportaneitos con Sderados necesséries & ua realizagdo = 2.46.5 Realizagio do per- 3%” TEORIA DOS PNCinios ‘curso inverso: descabertos 0 etade de coisas ¢ 03 comportaments necessdrios di sua promogio. torna-se necesairis a verificgo ts cexisténcia de outros casos que deveriamn tar sido decides com hase to proveipio en anilise ~ 24.7 Exeaplo do principio da moraldade = 248 Bficdcia dos prineipios: 248.1 Eficdcio interna: 24.8..1 Conteido ~ 2481.2 Efiecta inrena diveta ~ 248.13 Eficia ine Jorma inirera ~ 2.4.8.2 Bficticia externa: 2.48.2.1 Couretida — 24.2. Bfcdcia esteena objctiva ~ 24,8.23 Efiedcia ever st deriva ~ 249 Efedeia das regres! 24.9.1 Ghcdcia inneraa; 249.1. ‘Bficcia tera dircia ~24.9.1.2 Efiedeta interna trdirera~ 24.9.2 Eficacia esiemur 24:9.2.1 Eficdcia seltiva ~ 24.92.2 Efledcla ar- gumentativa~ 2.49.3 Superabilidade das regres: 2493.1 Jusifoa tea da obediécia u regras 24.9.2. Condgdes de sperabilidae, 21 Distingdes pretiminares 21d Texto-e norma Normas nto so textos nem o conjunto deles, mas os sentidos construidos a partir da interpretagao sistematica de textos normativos. Dai se afirmar que os dispositivos se constituem no objeto da interpre- taglo; ¢ as normas, no seu resultado.’ O importante & que ndo existe correspondéncia enire norma ¢ dispositivo, no sentido de que sempre que houver um dispositive haverd uma norma, ou sempre que houver uma norma deverd haver um dispositivo que Ihe sirva de suporte. Em alguns casos hé norma mas nfo hi dispositive. Quais s8o os dispositives que prevéem os principios da seguranca juridica e da cer- teza do Direito? Nenhum. Entéo hé normas, mesmo sem dispositivos especificos que hes déem suporte fisico. Em outros casos hi dispositivo mas nti hé norma. Qual norma pode ser construida a partir do enunciado constitucional que prevé a protecdo de Deus? Nenhuma. Entdo, hé dispositivos 2 partir dos quais, info € construida norma alguma. Em outras hipéteses hé apenas um dispositivo, a partir do qual se constréi mais de uma norma. Bom exemplo é o exame do enunciado preseritivo que exige [ei para a partir do qual pode-se chegar ao principio da legalidade, 20 principio da tipicidade, a proibi¢do de regulamentos independentes ¢ & proibigio de delegagio normativa, Outro exemplo ilusirativo é a declaragtio de 1. Riccardo Guastini, Teoria e Dogatica delle Fowl, p. '6, ¢ Dalle Fonsi alle Norme, pp. 20 ¢ 58 NORMAS DE PRIMLIRO GRAU:PRINCIPIOS | REORAS. at inconstitucionalidade parcial sem redugio de texto: o Supremo Tribu- nal Federal, ao proceder a0 exame de constitucionalidade das normas, investiga os varios sentidos que compdem o significado de determina do dispositive, declarando, sem mexer no texto, a inconstitucionalida- de daqueles que so incompativeis com a Constituigao Federal. O dis- positive fica mantido, mas as normas construidas a partir dele, e que 380 incompativeis com a Constituigio Federal, sto declaradas nulas Entao ha dispositivos a partir dos quais se pode constrvit mais de uma norma, Noutros casos hi mais de um dispositive, mas a partir deles s6 & construida uma norma, Pelo cxame dos dispositives que garantem a legalidade, a iretroatividade e a anterioridade chega-se ao principio da seguranca juridica. Dessa forma, pode haver mais de um dispositivo e set construida uma 36 norma, Eo que isso quer dizer? Significa que ndo ha correspondéncia bi- Uuniveca entre dispositive € norma ~ isto é, onde houver um no terd obrigatoriamente de haver o outro. 2.1.2 Descrigio, consirugdo e reconsirugito Essas consideragdes que apontam para a desvineulagio entre 0 texto e seus sentidos também conduzem i conclusio de que a fungao dda Ciencia do Dircito nao pode ser considerada como mera deserigzo do significado, quer na perspectiva da comunicago de uma informa- $40 ou conhecimento a respeito de um texto, quer naquela da intengdo do seu autor, De um lado, a compreensdo do significado como 0 conteido con- ceptwal de um texto pressupac a existéncia de um significado intrinse- co que independa do uso ou da interpretagao. Isso, porém, ndo ocorre, pois 0 significado nao ¢ algo incorporado ao contetido das palavras, mas algo que depende precisamonte de seu uso e interpretago, como ‘somprovam as modificagdes de sentidos dos termos no tempo ¢ no es ago e as controvérsias doutrindrias a respeito de qual o sentido mais adequado que se deve atribuir a um texto legal. Por outro lado, # con- ‘eepdo que-aproxima o significado da intengao do legislador pressupse a existéncia de um autor determinado ¢ de uma vontade univoca funda- dora do texto. Isso, no entanto, também no sucede, pois 0 processo te- agislativo qualifica-se justamente como um processo complexo que niio se submete a um autor individual, nem a uma vontade especifica, Sendo assim, a interpretago no se caracteriza como um ato de deserigzo de tum significado previamente dado, mas como um ato de decisao que 2 TRORIA DOS PRINCIDIOS constitu a significagao ¢ os sentidos de um texto A questiio nuclear dis- so tudo esta no fato de que o intérptete nZo atribui “o” significado core to aos termos legais. Ble to-s6 constréi exemplos de use da linguagem cu versbes de signilicado —sentidos ~ ja que a linguagem nunca é algo pré-dado, mas algo que se concretiza no uso ou, melhor, como uso. Essas considerages levam ao entendimento de que a atividade do intérprote — quer julgador, quer cientista ~ nao consiste em meramente deserever o significado previamente existente dos dispositivos, Sua ati- vyidade consiste em constituir esses significados.’ Em razao disso, tam- bbém nto é plausivel aceilar a idéia de que a aplicagde do Dircito envolve tuma atividade de subsungo entre conceitos prontos antes mesmo do cesso de aplicngao ; re ava, contlagdo de que os Senos S80 consiruids plo in Lézprete no processo de inlerpretagao no deve levar & conclusio de que ndo ha significado algum antes do término desse processo de inter- prelagio. Afirmar que o significado deponde do uso nao & o mesmo ‘que sustentar que ele sé surja com o use especifico ¢ individual. Isso porque hi tragos de significado minimos incorporados ao uso ordin rio ou técnico da linguagem, Wittgenstein refere-se aos jogos de lin- sguagem; ha sentidos que preexistem ao processo particular de inter- prelagdo, na medida em que resultam de estereétipos de conteiidos jé existentes nia comunicagio lingilistiea geral.° Heidegger menciona 0 enguanto hermenéutico: hi estruturas de compreensao existentes de antemo ou a priori, que permitem a compreensdo minima de cada sen- tenga sob certo ponto de vista ja incorporado 20 uso comum da Tingua- 2. Ricard Gustin, “nrptaton tsp de omen Pl An sek (re) meet ef De 9.9 rede Mile, Wars Rech ” Spactivisondioh und Reson in wited Eg. Fredrik Mile Seter Neumann ors) Retort ur Bachem stu e- lice fe Bend Seat Hew, ps Sone Hera, Rechte as Specht om Eup Wigs te Rectar 290. “es Rote Crm, Ennio e Dic obra Inerpretedoiecto do Dirt, ep, 90 82 Pale de Bares Cora, Cvs de Dio Thbucie, v8 " Sos Roberto Gri, Ens. 9p. 82685; Arr Kaufran Angie ed nr der Sache pp 3768 Dis pare Bate Sie ‘ker Hermonenti 2.38 . 6. Lady enc, Tad Lice lion — nearer Paste cas.» 26%; Ais alo, ean ind dato Treats the Dane Pere Aton of eget Dagon 9.13 "NORMAS DE PRIMEIRO GRA PRINCIPIOS RREGRAS 3 gem." Miguel Reale faz-uso da condigdo a priori intersubjetiva: h& con- digdes esttuturais preexiscentes no processo de cogni¢d0, que fazem. Com que 0 sujeito interprete algo anterior que se Ihe apresenta para ser interpretado.” Pade-se, com isso, afirmar que o uso comunitério da lin- guagein constitu’ algumas condigdes de uso da propria linguagem. Como lembra Aamio, termes como “vida”, “morte”, “mae”, “antes”, “depois”, apresentam significados inrersubjerivadas, que nio peecisan, toda nova situagSo, ser fundamentados. Eles funcionam como condi- ‘bes dadas da comunicagdo.” Seria impossivel e agui nem seria o lugar para discutir profundamente © antagonismo entre 0 objetivismo ¢ 0 ° Com base na jutisprudén- cia do Tribunal Constitucional Alemzo, Alexy demonstra a relagto de tensio ocorrente no caso de colisio enire os principios: nesse caso, a solugdo nao se resolve com a determinago imediata da prevaléncia de um principio sobre oulro, mas é estabclecida em Fungo da ponderagdo entre 08 prineipios colidentes, em fun¢&o da qual um deles, em deter- tminadas circunstancias concrelas,recebe a prevaléneia2” Os prineipios, portanto, possuem apenas uma dimensdo de peso e nio determinam ag cconsequneias normativas de forma direta, ao contririo das regras* 36 a aplicagio dos principios dante dos casos concretos que 0$ concre- tiza mediante regras de colisao. Por isso, a aplicagio de um prineipio deve ser vista sempre com uma cliusula de reserva, a ser assim definida: “Se no caso concreto um outro principio nao obtiver maior peso”: E 25, Ronald workin, Taking Rights Seriously, 68 of rules?", The Phitasophy of Lan, p48. 26, Renald Dworkin, Zing Rights Seriously, 6 isp. 26 25, Robert Alexy, "Zum Begrif'des Rechisprinzips”, Argumentation un Her ‘meneutth in der Jurisprudens, Recistheorie, Separaia UBS. 26, Robert Aiexy, "Zum Begriff des Rechisprinzips”, Argumentarian und Hlor= ‘meneuth in der Surisprudenc, Rechisthoorie, Separsia 189 6 83. Rechy, Fermanf Diskirs, p. 177; “Rechisregein und Rechisprinzipien”. Archives Rechts und Sozial- hitasophie, Separata 25/19 e ss: "Rechissysiom utd prakliche Vemun®", Reclt, Vernmp, Diskurs, pp. 216-217; e Theorie der Grunrechte, 2 ed, pp. 77 © 33. + P-26,€Is awa system 27, Robert Alexy, "Reehtsregein und Recktsprinzipien”, Archives Rechts und Soztalphilosophie, Separata 25/17 28. der, p. 18. 29, Wem, bide, Fo ‘TKEORIA Dos PRINCIPIOS dizer © mesmo; a ponderagao dos principios conflitantes é resalvida mediante a criagdo de regras de prevaléncia, o que faz com que os prin- cipios, desse modo, sejam aplicados também ao modo tudo ow nada (illes-oder-Niclis).? fissa espécie de tensio eo modo como cla € re~ solvida € 0 que distingue os prineipios das regras: enguanto no contfito cnire regeas & preciso verificar se a regra csta dentro ou fora de determ nada ordem juridica (problema do dentro ou fora), 0 confite entre pri cipios jase situa no interior desta mesmna orciein (reorema dla colisdo)." Dai a definigao de prineipios como deveres de otimizacdo aplicd- veis om vérios graus segundo as possibilidades normiativas ¢ faticas: normativas, porque a aplicagdo dos principios depende dos prineipios fe regras que a cles se contrapdem; fiticas, porque o conteiide dos prine‘pios como normas de conduta sé pode ser determinado quando diante dos fatos. Com as regras aconteve algo diverso, “De outro lado regras sio narmas, que podem ou niio podem ser realizadas. Quando ‘uma regra vale, ento € determinado fazer exatarente 0 que ela exige, nada mais e nada menos." As regras juridicas, coma o afirmado, so rnormas cujas premissas so, ou no, ditetamente preenchidas, e no caso de colisio sera a contradigfo solucionada seja pela introduedo de uma excepio 4 regra, de modo a exeluir o conflit, seja pela decretagao de invalidade de uma das regras envolvidas.” A distingdo entre principios e regras ~ segundo Alexy ~ néo pode ser baseada no mode tudo ot nada de aplicagao proposto por Dworkin, mas deve resumir-se, sobreludo, a dois fatores: diferenge quanto a co- isdo, na medida em que os principios colidentes apenas tém sua reali- ago normativa limitada reciprocamente, 20 contratio das regras, cuja colisto é solucionada com a declaracdo de invalidade de uma delas ou com a nbertura de uma excegdo que exclua a antinomia; diferenga quanto & obrigagio que instiuem, j4 que as regras instituem obriga- es absolutas, nao superadas por normas contraposias, enquanto os prin- 30, Robert Alexy, Theorie der Grundrechte, 2 ed, pp. $0 € 83, e “Zum Be- crit’ das Rechisprineips”, Argimentarion wad Hermencut in der Jurispruce Reclustheorie, Separaia 1/70. ‘31, Robert Alexy, “Rechusregeln und Rechisprinzipion”, relives Rechts und Sozialphilosophie, Separata 25/19, ¢"Zum Begriff des Reehtsprinzips", Argument {ation ane Hermetvewik i der Jurisprudenz, Rechtstheoric, Separaa 1/70 32. Robert Alexy, “Rechtsregeln und Rechisprinzipien”, Archives Rechis wid Sociaiphilosophie, Separata 25721. 33, Rabert Aleny, “Rechissystem und prakiische Vermunll”, Recht, Vernuni Dishurs, p. 216-217, € Theorie der Grundrechte, 2 etl, p. 7, NORMAS DE PRIMEIRO GRAL: PRINCIPIOS E REGRAS 2» cipios instituem ebrigagdes prima facie, va medida em que podem ser superadas ou derrogadas emt fungi dos outros principias colidentes:* Essa evolugio doutrinaria, além de indicar que hi distingdes fra- cas (Esser, Larenz, Canaris) e fortes (Dworkin, Alexy) entre prineipios e regras, demonstra que 0s critérios usualmente empregados para a dis- 16a0 sd0 05 seguintes: Em primeiro lugar, ha 0 eritério do eardier hipotético-condicio- nat, que se fundamenta no Tato de as regras possuirem uma hipétese e uma conseqiigncia que predeterminam a decis’o, sendo aplicadas ao modo se, evo, enquanto os principios apenas indicam o fundamento «ser utilizado pelo aplicador para fituramente encontrar a regra para o caso conereto, Dworkin afirma: "Se os fatos estipulados por uma regra ‘ecorrem, entfio ou a regra é vatida, em cujo caso a resposta que cla fornece deve ser aceita, ou ela nfo €, em cujo caso ela em nada contri- bui para a decisio”.¥ Caminho nao muito diverso também é seguido por Alexy quando define as regras como normas cujas premissas so, 4 ndo, diretamente preenchidas.* Em segindo lugar, hi 0 critério do modo final de aplicagao, que se sustenta no ato de as regras serem aplicadas de modo absoluto fido ‘or nada, a0 paso que 0s principios sto aplicados de modo gradual ‘mais on nrenos. Em rerceiro lugar, 0 eritério do relacionameito normativo, que se fandamenta na idéia de a antinomia entre as regras consubstanciar ver dadeiro conflivo, soluciondvel com a declaragio de invalidade de uma das regeas ou com a criagto de uma excesao, ao passo que o relaciona- mento entre 05 prinofpios consiste num imbricamento, solucionavel me- diante ponderagao que atribua uma dimensio de peso a cada um deles. Em quarto lugar, hd. critério do fancamento uxiolégico, que con sidera os principios, a0 contririo das regras, como fundamentos axio- \égicos para a decisio a ser tomada. Todos esses critérios de distingdo sao importantes, pois apontam para quolidades dignas de serem examinadas pela Cigncia do Direito. Isso nfo nos impede, porém, de investigar mados de aperfeigoamento 34, Robert Alexy, “Rechisregeln und Reehtspeinzipien”, Archives Rechts wnd Sozielphilosophie, Separaia 25/20. 35. Ronald Dworkin, Takings Rights Seriously, 6, p. 26: "I the facts male ‘ipolates are given, then either the rue is valid, in which case the answer it supplies ‘must be accepted, oF i isnot, in which ease it conlrbunes nothing tothe decision”, 36. *Rechtssysiem und praktische Vemunf, Recht, Verumaf, Drskurs, pp. 216217, ¢ Theorie der Grundrochie, 2 ed. p. 77. 0 “TeORIA Dos PRINCIIOS esses critérios de distingdo, no no sentido de desprezar sua importan- cia e, muito menos ainds, ds negar 0 miérto das obras que os examina- rami mas, em vez disso, naquele de confirmar sua valia pela forma mais adequada para demonstrar consideragdo ¢ respeito cienlificos: a critica. 23° Critérios de distingto entre principios e regras 231 Critério do “candter hipotético-condicional 23.11 Conteido Segundo alguns autores, os principios poderiam ser distinguidos das regras pelo carder hipotérico-condicional, pois, pata cles, a8 re- _Bfas possuem uma hipdtese ¢ uma conseqiiéncia que predeterminam a decisto, sendo aplicadas a0 modo se, endo; os prineipios apenas indi- cam 0 fundamento a ser utilizado pelo aplicador para, futuramente, en- ‘ontrar a regra aplicavel ao caso concrelo, Esser definiu os principios como normas que estabelecem funda- mentos para que determinado mandamenta seja encontrado, enquanto, para cle, as regras determinam a prépria decisto.” Larenz definiu os principios como normas de grande relevaneia para o ordenamento ju dlico, na medida em que estabelecem Fondamentos normativos para a interpretagao ¢ aplicago do Dieito, deles decorrendo, direta ou indi- retamente, normas de comportamento.”* 2.3.1.2 Anilise critica O critério diferenciador referente ao cancter hiporético-condicional € relevante na medida em que permite verifiear que as renras possuem uum elemento frontalmente descritivo, a6 passo que os principios apenas estabelecem uma dizetriz, Esse critério nao &, porém, infenso a critica. Em primeiro tgar porque esse eritério ¢ impreciso. Com efeito, embora sejacorrata a afirmagio de que os principios indicam um pri- eiro passo direcionador de outros passos para a obtengao ulterior da regra, essa distingto no fornece fundamentos que indiquem o que sig- nifica dar um primeira passo para encontrar a regea. Assim enunciado, esse critério de distingdo ainda contribui para que o aplicador compreen- da a regra como, desde ja, fornecendo o rltino pusso para a descoberta 237. Josef Esser, Grumdsate nd Nort # tity. 51 - 38, Katl Lorenz, Richtiges Reel, p. 26, ¢ Methodenleire der Rechiswisson- schoft 6 08,474, NORMAS DE PRIMEHRO GRAU: PRINCIPIOS EREGRAS a do contetido normativo. Isso, no entanto, ndo é verdadeiro, na medida em que © contetido normative de qualquer norma = quer reg, quot Principio — depende de possibilidades normativas ¢ Fiticas a serem ve. fiffeadas mo processo mesmo de aplicago. Assim, o tiltino passo nie & dado pelo dispositive nem pelo significado preliminar da norma, mos pela decisao interpretativa, como seré adiante aprofimdado. Em segundo lugar porque a existéncia de uma hipétese de inci- déncia & quesido de formulagto lingiistca e, por isso, nto pode ser

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