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z Glow Langan Sap PARECER JURIDICO EMENT/ PROCESSO PENAL. DELAGAO PREMIADA. LEI Ne 12.850/2013. QUEBRA DE ACORDO DE DELACAO PREMIADA, IMPOSSIBILIDADE DE NOVO ACORDO. 1. CONSULTA Cuida-se de consulta formulada pelo ilustre e conceituado advogado José Luis Oliveira Lima do Escritério de advocacia Oliveira Lima, Hungria, Dall’Acqua e Furrier Advogados, na condicao de defensor do acusado Erton Medeiros Fonseca na acdo penal n2 5083360-51.2014.404.7000 em tramite perante a Justica Federal do Parana, integrante da denominada Operaco Lavajato. A consulta formulada em especial pela recente publicacio do livro, “A “delacio” ou colaboracdo premiada: uma andlise do instituto pela interpretacao da lei” de minha autoria, contém as seguintes indagacées: 1. Pode o agente colaborador, que teve seu acordo de colaboragao premiada quebrado em processo criminal anterior, por decisiio judicial, a pedido do Ministério Publico Federal, celebrar com este novo acordo tendo em vista 0 acordo anteriormente rescindido ou quebrado? 2. O colaborador Alberto Youssef quebrou 0 acordo de delacao firmado no processo n® 0002414-32.2004.404.7000, que resultou em sua condenacao nos autos do processo n° 5035707-53.2014.404, 7090 (caso Banestado). 0 novo acordo agora formalizado resultante da “nen Operaco Lavajato poderia % Mor w Langer “yy ser firmado? Seria esse novo acordo valido e eficaz no seu contetido e nas suas consequéncias legais? Juntamente com a consulta, foram disponibilizados pelo Consulente os eventos processuais necessarios para a elaboragao do presente parecer juridico. No referido trabalho, ja havia feito as seguintes consideracées: “A “delacéo premiada”, @ denominacio popular da chamada colabora¢do premiada instituida pela Lei n° 12.8501, de 2 de agosto de 2013, e fruto de progressiva formalizagio pelos magistrados de competéncia criminal ao longo de varios anos no trato da criminalidade organizada, tanto na rea federal quanto na justica estadual com inspiragéo no direito comparado. Para esse efeito, os juizes foram elaborando conceitos e procedimentos a partir das necessidades da prética processual que permitissem a adocio de colaboracao negociada entre acusacao e defesa a respeito de condutas criminosas ou ilicitos penais de acentuada gravidade, praticados por organizacao criminosa ou através dela. Essa colaborac30, como meio de obten¢ao de elementos de prova, tem por propésito promover a répida apuragao dos ilicitos e de modo célere a aplicac3o das punigdes correspondentes em face de condutas de dificil comprovagao. Nesse aspecto, vale conferir recente julgado do Supremo Tribunal Federal no HC 90.688-PR (Rel. Lewandowski, 1? T, DJe 25.04.2008, maioria, “II — Sigilo do acordo de delacdo que, por definicéio, ndo‘pode ser quebrado”) a respeito do pretendido direito a acesso ao teor do acordo de delacao premiada. Nessa ocasido a Corte fixou entendimento de no constituir esse documento meio de prova mas meio de obtenctio dela assim ndo se submetendo necessariamente a0 contraditério ou ampla defesa, podendo manter-se sobre ele 0 sigilo as demais partes (no envolvidas no acordo) ou interessados, enquanto conveniente para a instrugéo ou até que a lei o dispense. Na lei, a disciplina da colaboragdo premiada esta incluida em um capitulo (Se¢do | Capitulo II), sujeita assim, pela técnica legislativa, aos principios gerais dessa normativa os quais estabelecem conceitos-base de natureza material como organizacao criminosa, investigaco criminal, condutas tipicas e penalizagdo correspondentes, e disposi¢des de ordem processual importantes a serem respeitadas na interpretacéio respectiva. Tais balizas so relevantes pois elas indicam os limites da aplicacio dos institutos da lei que so excepcionais cuja disciplina, por essa raz3o, tem contornos claramente restritos restritivos, especialmente na perspectiva intertemporal No que respeita 4 colaboragio premiada, diversas disposigdes legais a seguir mencionadas, anteriores a esta lei nova e relacionadas com o tema, em maior ou menor grau disciplinaram modalidades de colaboracdo,por parte do réu ou acusado ao longo dos ultimos anos. Gilon Langan A jp A Lei n2. 7.492/86 (crimes contra o sistema financeiro) foi @ que por primeiro disciplinou 0 tema no art. 25 e § 22 (..."nos crimes previstos nesta lei, cometidos em quadrilha ou coautoria, 0 coautor ou participe que através de confissio espontanea revelar a autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa tera a sua pena reduzida de um a dois tercos”). A Lei n®. 8.072/90 (crimes hediondos) dispés no art. 8° e § Unico (“o participante e o associado que denunciar a autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, tera a pena reduzida de um a dois tercos”). A Lei n®. 8.137/90 (crimes tributarios) estabeleceu no art. 16, § Unico (“nos crimes previstos nesta lei, cometidos em quadrilha ou coautoria, 0 coautor ou participe que através de confissdo espontanea revelar a autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa tera a sua pena reduzida de um a dois ter¢os”). A Lei n®. 9.034/95 que trata das organizacées criminosas, hoje revogada pela Lei n? 12.850/2013, disse no art. 62 (“nos crimes praticados em organizaco criminosa, a pena serd reduzida de um a dois tercos, quando a colaboracio espontanea do agente levar ao esclarecimento de infragdes penais e sua autoria”). Na presente Lei n? 12.850/2013, que manteve de modo geral a normativa especifica — a qual, por isso, pode servir como soe outras regras 4 paradigma hermenéutico para a aplicac r | Chan Langa - “Uy assemelhadas — levou em conta especialmente a organizaco criminosa como pressuposto imprescindivel de aplica¢3o desse regime de “delacéio’. Em todas as hipdteses legais antes enumeradas de criminalidade organizada, por tal raz3o, devera ser observada a oportunidade e alcance da colaboracio e seus efeitos relativamente a cada qual dos delitos nelas previstos, mas, no que respeita ao procedimento de colaboracao premiada deverd ser observado 0 rito préprio da lei nova, respectivamente os arts. 4° a 82 da Lei n° 12.850/2013 com incidéncia imediata no que respeita aos aspectos processuais e nos de carter material para os delitos praticados sob sua vigéncia (i.¢. de 19.09.2013 em diante). Vale sublinhar essa circunstancia, decisiva para a boa aplicacao da lei nova. As normas de natureza processual ou procedimental incidem de imediato e aos processos em andamento, em qualquer estagio que se encontrem, dai por diante disciplinando-os. As regras que de qualquer forma impliquem em restric3o ou supressdo de direito, todavia, nao podem retroagir sobre qualquer deles quando jé realizado ou constituido, seja de ordem material ou processual uma vez completos e gerando seus efeitos regulares. £ o que ressai do disposto no art. 5%, XXXVI e XL (este, por extenséio, no que respeita penalidades se mais graves). De tudo pode ser extraida a conclusdo preliminar geral de que a delagéo ou colaboragio premiadayAgora disciplinada E Glan Langer , “Yep pela lei nova, pode ser aplicada em todas as situagdes das leis anteriores, observados os seus respectivos pressupostos, para cada qual delito e regime de colabora¢ao, mas tendo presente a disciplina da lei atual quando mais benéfica e mais compativel com os principios constitucionais de ampla defesa, contraditério € devido processo legal Nessa linha de compreensdo, a delac3o ou colaboracao constitui incidente processual especial (prévio ou propriamente incidental) com regime e objeto préprios de cujo sistema, como se vera, podem surgir igualmente decorréncias especiais relevantes em particular pelo momento de exercicio e conteddo das revelacées. A observacao relativa 8 autonomia do incidente de delacdo premiada tem sua razdo de ser pelas consequéncias importantes. Como a lei permite a colaboraco premiada em qualquer fase da persecucéo penal, admite logicamente todas as suas decorréncias processuais e de direito material penal, algumas de modo excepcional, mas outras particularmente “subversivas” da técnica processual e dos principios que a regulam, Para se ter uma ideia, a delac3o premiada pode dar-se apés a sentenca de mérito (antes ou depois do transito em julgado, mas sobretudo depois) e pode acarretar, por exemplo, © perdao judicial, a redugo da pena imposta, ou a substituiggo dela, mesmo em face de deliberagdes processuais consolidadas Y ou de precluso ou contra ato judicial coberto por garantias / 6 Chan Longare Sip constitucionais e legais. No parece invencivel esse obstdculo formal tanto em respeito ao principio da verdade real quanto da Possivel flexibilizacao de padrées de interpretago em favor do réu ou investigado, 0 que igualmente no ofende a esséncia da Constituic0, mas provoca uma extrema relativizagio da coisa julgada. Por tais razées, revela-se compativel com o sistema processual penal e de direito penal admitir-se, por via da dela¢éo premiada (observados todos os rigores da lei obviamente), a alteracéo da coisa julgada, do ato juridico perfeito, da situacéo juridica constituida em beneficio do réu inobstante prestando reveréncia a verdade formal com a qual se compromete. E certo que essa novidade, em termos de processo penal, constitui um fenémeno excepcional e, como tal, deve receber interpretacio restritiva, mas nao se deve recusé-lo 86 por suposta colisdo com os padrées tradi jonais. Cabe aqui, ao contrario, a compreensdo abrangente dos valores constitucionais mais caros ao avanco civilizatorio e a dignidade da pessoa humana, um e outro marcos de uma modalidade até entdo imprevista de justica verdadeira e socialmente eficiente, em que o dever legal de penalizar o réu pode ceder ante os interesses da sociedade e do bem publico. Desse modo, 0 regime de delagiio ou colaboracéo premiada refere-se a esse universo definido, ndo sendo extensivel a situagées fora dos limites do citado conjunto legislativo, tendo em conta expressamente os limites de cada qual lei e 0 padrao da lei nova, quando e se aplicéyél as demais a Cilen Langue - Uy disciplinas. Por essa razo, as diferentes figuras legais, que tem seu regime préprio, no que for compativel podem, ou ndo, ter subsidio na lei nova cabendo analisar cada caso. Este instituto de direito processual penal consolidou-se sistematizou seu processamento também & base de Precedentes jurisprudenciais em casos concretos nas instancias ordindrias, a maioria experimentados no ambito federal nas varas federais de lavagem de dinheiro onde foram elaborados e aperfeicoados procedimentos, clausulas e os termos de acordo, ainda antes da lei nova alguns dos quais foram por ela incorporados.” 2. FUNDAMENTACAO E CONCLUSOES © tema da consulta face aos termos da nova lei é inédito. uma questo que estd sendo apresentada pioneiramente ao judiciério, que sobre 0 assunto especifico ainda ndo se manifestou. Nao ha decisdes judiciais, nenhuma jurisprudéncia sobre o tema, e na doutrina ainda se constitui uma zona cinzenta. A elucidagdo desses temas seré feita necessariamente pelo judicidrio, pelo Ministério Publico, pela defesa e pelos doutrinadores. Todos estdo “navegando em mares nunca dantes navegados”. tiradas. Algumas consideragdes e conclusées, no entanto, podem ser Sobre esses novos institutos esto se debrucando concomitantemente todas as instancias do judiciario, desde7% primeiro grau até p Gian Longa OS jh © Supremo Tribunal Federal, passando as vezes pelos Tribunais de Apelago e pelo Superior Tribunal de Justica. Trata-se de uma competéncia concorrente de jurisdic6es, dependendo do foro dos investigados/réus colaboradores, onde a andlise destas questées esta sendo feita. De inicio, cumpre observar os requisitos necessdrios para que um acordo de colaboracdo premiada seja vilido e eficaz. A colaboracéo premiada esté inserida no Ambito da Lei n® 12.850 de 2013, que “define organizagdo criminosa e dispée sobre a investigacGo criminal, os meios de obtengéo da prova, infragdes penais correlatas e 0 procedimento criminat”. O termo do acordo devera ser elaborado por escrito e conter, conforme previsdo do artigo 62 da referida lei: Art. 6° © termo de acordo da colaboracdio premiada deverd ser feito por escrito e conter: |- 0 relato da colaboraco e seus possiveis resultados; Il - as condigées da proposta do Ministério Publico ou do delegado de policia; Ill- a declaracao de aceitacdo do colaborador e de seu defensor; IV - as assinaturas do representante do Ministério Publico ou do delegado de policia, do colaborador e de seu defenso V - a especificacdo das medidas de prote¢do ao colaborador e sua familia, quando necessé a Up Além disso, 0 artigo 72 determina que o pedido de Claw Langue homologacio do acordo deve contar informacées “pormenorizadas da colaboragéo”. Art. 720 pedido de homologacio do acordo sera sigilosamente distribuido, contendo apenas informacdes que n&o possam identificar 0 colaborador e o seu objeto. § 1° As informacées pormenorizadas da colabora¢so serso dirigidas diretamente ao juiz a que recair a distribuicdo, que decidir no prazo de 48 (quarenta e oito) horas. 0 relato da colaboraco prestada pelo acusado observara os requisitos da voluntariedade e efetividade. Nao ha uma forma predeterminada Para este relato. Todavia, deve ser detalhado e preciso, contendo todas as circunstancias e condicées em que se deu a colaborac3o, bem como demonstrar que as condicdes da lei foram atendidas. Nao hd previsio na lei de um padrdo de avaliacdo da voluntariedade e efetividade, tais requisitos devem ser construidos a partir dos resultados obtidos nos fatos concretos do caso. A efetividade pode ser apurada pelo relato da colaboracao e seus resultados, que ficard a critério do Ministério PUblico e da Autoridade Policial fazerem 0 juizo de valor. © relato_da_colaboracio_ndo_pode, em nenhuma_hipétese, omitir_informagées ou reservar para outro momento_a revelacéo de dados existentes, pois o cumprimento da proposta e os beneficios acordados ao colaborador tém como pressuposto 0 acordo homologado, da qual obviamente © relato é parte integrante. 10 Chon Langan Sep © relato dos fatos e a proposta do acordo constituem o Primeiro momento do acordo e o termo 6 sua consolidacdo da homologacso judicial. Portando, pela légica da lei, a proposta constitui o primeiro momento do acordo, ndo podendo mais haver qualquer omisso de informagio a respeito dos fatos envolvidos. Além desses requisitos formais, 0 caput do artigo 42 da Lei n® 12.850/13 estabelece outros requisitos para a legitimidade do acordo de colaboragao: Art. 42 O juiz poder, a requerimento das partes, conceder o perdao judicial, reduzir em até 2/3 (dois tercos) a pena privativa de liberdade ou substitui-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigagdo e com o processo criminal, desde que dessa colaboracdo advenha um ou mais dos seguintes resultados: | - a identificagdo dos demais coautores e participes da organizacdo criminosa e das infracdes penais por eles praticadas; |l- a revelacao da estrutura hierdrquica e da divisio de tarefas da organizaco criminosa; lil -a prevencao de infragdes penais decorrentes das atividades da organizacao criminosa; IV - a recuperago total ou parcial do produto ou do proveito das infra¢es penais praticadas pela organizacao criminosa; V - a localizacdo de eventual vitima com a sua iritegridade fisica preservada. uw Z Chen Langare OS jp § 1° Em qualquer caso, a concesséo do beneficio levard em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstancias, a gravidade e a repercusséio social do fato criminoso e a eficdcia da colaboragio. 0 § 1° do referido artigo estabelece os elementos que devem ser levados em consideracao para a concessao do beneficio: (1) a personalidade do colaborador; (2) a natureza; (3) as circunstancias; (4) a gravidade e a Tepercussao social do fato criminoso; e (5) a eficdcia da colaboragao. Para bem responder os termos gerais da consulta é preciso adentrar nos termos do acordo, e no que ocasionou a quebra. £ imprescindivel analisar as origens da quebra e os efeitos desta a terceiros interessados. Para tanto, necessdrio se faz que se adentre no iter processual. © acordo de delacao feito na denominada Operacao Lavajato decorre de fatos relatados em acordo anterior no denominado caso Banestado firmado pelas mesmas partes em 16/12/2003 e posteriormente decretada a sua quebra por decisdo judicial. No relatério constante da sentenca condenatéria, pronuncia-se © juizo quanto 8 quebra do acordo da seguinte maneira: “(..) 5. Posteriormente, o acordo foi considerado_quebrado pela_surgimento de _provas, em cognicéo suméria, de_que Alberto Youssef teria, em_violacéo ao acordo, voltado_a delinquir. Apds a quebra do acordo de delacdo premiada, este Juizo decretou, a pedido do MPF, a prisdo preventiva de Alberto ode 23/08/2014 no proceso 7 Youssef. em dec 2 (jilgn Leengare ip 2009.7000019131-5 (deciséo de 23/05/2014 naqueles autos, c6pia no evento 1, auto2). (.) 53. De todo modo, em vista das alegacées, este julgador, nos autos préprios, da delacio premiada, proferiu 0 seguinte despacho: ‘Trata-se de processo com 0 acordo de delacéo premiada do MPF com Alberto Youssef. Na esteira dos indicios da retomada das atividades criminais de Alberto Youssef na assim denominada Operacdo Lavajato, os autos foram desarquivados pelo despacho de fl. 1.556. Abri vistas ao MPF por 10 dias para se manifestar. 0 MPF peticionou no sentido de que o acordo deveria ser considerado quebrado. A Defesa de Alberto Youssef foi entéio intimada do despacho por fox e por telefone para se manifestar (fl. 1.602). Deixou transcorrer 0 prazo in albis. Assim, declarei 0 acordo quebrado nos termos da decistio de fis. 1.604-1.606. (...)” (Grifo nosso) A sentenca condenatéria proferida na aco anterior est datada de dezessete de setembro de dois mil e quatorze. Observa-se que a celebraco do novo acordo de colaboracdo, agora efetivado no inquérito da Operacdo Lavajato, foi firmada em vinte e quatro de setembro de dois mil e quatorze. Frise-se, sete dias apés a prolacdo da sentenca onde consta a quebra do acordo anterior. Os fatos esto intimamente ligados e muito préximos no tempo. Segundo a sentenca proferida nos autos do processo n® 5035707-53.2014.404.7000, 0 acordo de entao foi quebrado pelo “surgimento 13 Cte Langa CS ppp de provas, em cognicéio suméria, de que Alberto Youssef teria, em violagtio ao acordo, voltado a delinquir’. Esta decisao foi proferida atendendo requer ento expresso do Ministério Publico Federal. Cbserva-se do que se extrai da decisio condenataria: “(..) 27. Condig&o necessaria da manutencdo do acordo consistia no afastamento de Alberto Youssef da pratica de novos crimes, inclusive do mercado de cambio negro. 28. Entretanto, em decorréncia dos fatos revelados pela assim denominada Operacao Lavalato, o acordo foi, a pedido do MPF, declarado quebrado por este Juizo (decisio de 06/05/2014 no processo 2004.7000002414-0, evento 29, out9), voltando este feito a tramitar. 29. Sobre os fatos verificados na Operacao Lavajato, o relato constante na decisdo judicial de 24/02/2014 deste Juizo No processo 5001446-62.2014.404.7000 (c6pia no evento 29, out) é suficiente neste feito. Em sintese, na assim denominada Operacdo Lavajato, foram colhidas provas, em cogni¢éo suméria, de que o ora acusado dedicar-se-ia habitual e profissionalmente a lavagem de dinheiro e igualmente & corrupc3o de agentes puiblicos, entre eles parlamentares federais, estes com processos j4 desmembrados no Supremo Tribunal Federal. (...)” Ressalta-se do teor da sentenga (itens 28 e 29), que a quebra do acordo se deu por meio de fatos revelados na Operag3 Lavajato, que o 4 Claw Langue ip colaborador voltou a praticar crimes se dedicando “habitual e profissionalmente 4 lavagem de dinheiro e igualmente a corrupgéo de agentes publicos”. A quebra do acordo é referida por diversas vezes ao longo da sentenca (itens 5 e 28, 33, 35, 51, 52, 82, 83, 96, 101, 199 e 212). Quando da aplicago da pena, assim se pronunciou o juizo: “(..) 199. Alberto Youssef, conforme histérico relatado_nos itens 15-29, retro, que inclui confissées de diversos crimes na colaboracdo firmada e ainda condenacio criminal transitada em iulgado_(acio_penal_2004.7000006806-4), 6 um_criminoso profissional. Teve sua grande chance de abandonar 0 mundo do crime_com_o acordo de colaboraco_premiada,_mas_a desperdicou, como indicam os fatos que levaram a rescisio do acordo. Valor negativamente, portanto, os antecedentes ea personalidade do condenado. Nao se trata aqui de etiqueté-lo, mas de reconhecer seu profundo envolvimento na atividade criminal. 0 crime de corrupgao trouxe prejuizo consideravel ao Banco Banestado. O empréstimo a Jabur Toyopar de USD 1.500.000,00 no foi pago, remanescendo inadimplente o valor de USD 1.300.000,00 desde 29/03/1999, cf. item 125, retro. O crime de corrup¢do, além de figurar como causa do empréstimo, gerou distorcées no processo democritico eleitoral, j4 que a vantagem indevida, de cerca de USD 130.000,00, foi desviada como recurso ndo-contabilizado para a campanha eleitoral, o que eleva a gravidade do crime. Reputo esta consequéncia extremamente grave pois a afetacio do processo democratico eleitoral viola 0 Ca comunidade a 15 Chan Langere jp um sistema politico livre da influéncia do crime. Os valores Pagos como vantagem indevida, de cerca de USD 130.000,00, s80 também significativos, distanciando o crime de um caso de Pequena corrup¢ao. Também circunstancialmente relevante o Pagamento de propina com dinheiro sujo. As demais vetoriais sdo neutras. Presentes pelo menos quatro vetoriais negativas, dos antecedentes (com pelo menos uma condenacdo criminal transitada_em julgado), personalidade voltada para o crime, consequéncias (valor do empréstimo inadimplido com grave Prejuizo a institui¢go publica e afetago da lisura do processo eleitoral) e circunstdncias dos crimes (valor elevado da propina e utilizagéo de dinheiro sujo para o pagamento), reputo necessrio_pena__elevada_considerando__especialmente_& condicdo do condenado de criminoso profissional e que, tendo tido todas as condicées de deixar a atividade criminal, preferiu quebrar 0 acordo de delacao premiada, reputo necessaria pena bem acima da minima. Para o crime de corrup¢So, entre um minimo de um ano e maximo de oito anos, cf. redacéo vigente ao tempo do fato e anterior a Lei n.° 10.763/2003, reputo adequada pena bem acima do minimo, de trés anos e seis meses de reclusdo. () 202. Nao _reconheco os beneficios da_colaboracéo premiada. Como apontado nos item 28 e afirmado pelo MPF, o condenado quebrou o acordo da forma mais basica, omitindo informacées relevantes na época do acordo, especialmente a continuidade da pratica de crimes com o ex-Deputado Federal José Janene e retornando a prética delitiva. Além disso, os beneficios ja foram concedidos, sem possibilidéde de retorno a / 16 tye c Yen Langan Sip situa¢ao anterior, na a¢ao penal 2004.7000006806-4, tendo na ocasiéo recebido e cumprido pena bem inferior ao que recomendaria a sua culpabilidade. (...)” (Grifo nosso) Algumas consideracdes devem ser feitas no tocante ao teor dos trechos acima transcritos. A sentenga, ao apreciar as condigées pessoais do colaborador, foi rigorosa, basta observar o seguinte trecho nela constante a respeito do colaborador: “Teve sua grande chance de abandonar 0 mundo do crime com 0 acordo de colaboragao premiada, mas a desperdicou, como indicam os fatos que levaram 4 resciséo do acordo”. © novo acordo agora firmado pelo MPF com o colaborador, decorre das investigacdes da Operacao Lavalato, trazendo dentre outras, as seguintes cldusulas: (..) Clausula 52. Considerando os _antecedentes_e a personalidade do COLABORADOR, bem como a gravidade dos fatos por ele _praticados ea _repercuss3o_social_do fato criminoso, uma _vés_cumpridas integralmente_as_condicées impostas neste _acordo para o recebimento dos beneficios e desde que efetivamente sejam obtidos os resultados previstos Nos incisos |, Il Ille IV, do atr. 42, da Lei Federal n° 12.850/2013, © Ministério Publicos Federal (MPF) propde ao acusado, nos feitos acima especificados e naqueles que sero instaurados em decorréncia dos fatos revelados por intermédio da presente colaboracao, os seguintes beneficios legais, cumulativamente: (.) § 12. Transcorrido 0 prazo de 10 (dez) anos sem a pritica de fato pelo COLABORADOR que justifique a recisdo deste acordo, 7 Glen Langun 2 voltarso a fluir os prazos prescricionais de todos os Procedimentos suspensos nos termos do inciso Il, até a extingSo da punibilidade. § 2°. Ocorrendo quebra ou recisio do acordo imputdvel ao COLABORADOR, voltaréo_a_fluir_todas_as_acdes_penais, inquéritos e procedimentos investigatérios suspensos. Cldusula 10. Nos termos da cléusula 6° retro, e também como parametro para a avaliacao dos resultados deste acordo, nos termos da cldusula 5°, § 62, o colaborador se obriga, sem malicia ou reserva mentais, a: (4) i) afastar-se__de suas _atividades _criminosas, especificamente no vindo a contribuir, de qualquer forma, com as atividades da organizacdo criminosa investigada. (.) Cldusula 20. Em caso de recisio do acordo por responsabilidade do —colaborador, —este._~—_—perdera automaticamente direito aos beneficios que Ihe forem concedidos em virtude da cooperacdo com o Ministério Publico Federal. (...) (Grifo nosso) A clausula 52, que se destina a aplicacdo dos beneficios, é omissa em relagao 4 quebra do acordo originario. Nao obstante, a verificaco dos requisitos necessdrios para a celebrag3o do acordo, em especial aos beneficios decorrentes (antecedentes, personalidade do colaborador, gravidade dos fatos por ele praticados e repercussao social do fato criminoso), deveria ocorrer no primeiro momento, antes da assinatura_do acordo_com_o colaborador, como condi¢So essencial de sua valida 18 Gn ar Gy Dessa forma, no caso em exame, houve omisséo do Ministério Publico Federal em relacio a rescisio de acordo de delacéo premiada formalizada nos autos do proceso n? 0002414-32.2004.404.7000. No ha, sequer, uma mengao a quebra do acordo pela pratica de crime posterior, ou seja, a0 descumprimento da condicio necesséria para a formulacéio do acordo e consequente obtencao de beneficios. Como jé exposto, um dos requisitos previsto no artigo 42 da Lei n® 12.850/13 é a personalidade do colaborador. No caso ora em exame, resta evidenciado que 0 colaborador n&o preenche esse requisito, deduzido da propria sentenga que o condena, que aferiu negativamente sua personalidade e antecedentes criminais. Consta do relatério da sentenca condenatéria antes aludida, que o Ministério Publico Federal em sede de alegacées finais pleiteou a condenaco do colaborador e, inclusive, requereu que “as vetoriais do art. 59 do CP devem ser consideradas desfavordveis ao acusado, considerando sua elevada reprovabilidade” (item 10). © préprio acordante, Ministério Publico Federal, requereu a decretagao da quebra do acordo de delacao no processo anterior. Apesar disso, firma novo acordo com 0 colaborador inconfidvel sete dias depois da data em que foi proferida a sentenca condenatéria. Os fatos que versam sobre 0 novo acordo estao ligados aos anteriores. No acordo ora em exame no ha referéncia & quebra do acordo de delacao, dele nao fazendo menc¢ao 0 Ministério Publico Federal. Apenas e 7 tao somente na cléusula 32 é feita mengao ao acordo antérior. y 19 bon Langare Sipps Cléusula 32. 0 COLABORADOR esta sendo processado nos autos 5025687-03.2014.404.4000, 5025699-17.2014.404.7000, $026212-82.2014.404.7000, 5047229-77.2014.404.7000, 5049898-06.2014.404.7000, 5035110-84.2014.404.7000 e 5035707-53.2014.404.7000, bem como investigado em diversos procedimentos, todos em tramite perante a 132 Vara Federal Criminal da Subsecdo Judiciéria de Curitiba, pela pratica de crimes contra o sistema financeiro, crimes de corrup¢ao, crimes de peculato, crimes de lavagem de dinheiro e de organizago Criminosa, dentre outros, de modo que o objeto do presente acordo abrange tais efeitos e aqueles contemplados no acordo anterior. © acorde de colaboracéo tem disciplina peculiar, nao necessariamente relacionada com a instrucio no inquérito ou a aco penal subsequente. Até porque, independe da atuacao judicial, que de resto se reduz a homologacio do termo e apenas no que diz respeito a liberdade, espontaneidade, das declaragdes, mas vocacionada a uma finalidade publica de interesse da sociedade e do Estado de esclarecimento da criminalidade organizada. Resulta disso, apesar das possiveis facilidades ou vantagens que © investigado possa desfrutar em troca das informagdes que oferecer, induvidosa a aco do colaborador de entregar todas as informacdes relacionadas com os limites da delac&o premiada adyédemente estabelecidas entre as partes, no que o juiz no interfere 20 y Gen Leugare SS jh Também é certo que aceitas as condigées entre as partes, sio elas irreversiveis ou 0 acordo estar, ou seré logicamente rompido, quebrado, revogado ou rescindido, formalmente ou automaticamente. A lei deu como pressuposto légico a sinceridade da intencéio das Partes de comprometerem-se com os limites da colaboracio sem reservas. Principalmente porque, a institui¢So desse mecanismo processual tem enorme Fepercusséo sobre os diferentes momentos do processo ou do inquérito, e Particularmente sobre o regime de execugo penal e terceiros interessados e/ou atingidos pelo acordo. Ora, essa revolucéo no regime e prova de dimensées imprevistas no processo tradicional deve ser absorvida_com cautela_e racionalidade para que nao se destrua o devido processo legal assim como preserve a capacidade estatal de reacdo ao delito. Como ja mencionado no trabalho que escrevi: ‘0 termo de acordo haverd de conter também as condicdes da proposta do Ministério Publico ou da autoridade policial (art, 68, _inciso_ Il), _minuciosamente _descritas, sendo, ortanto, condicées relacionadas aos limites _da_colaboracio_e da voluntariedade_e efetividade, isto 6, da extensio e profundidade das declaragées em relacio as vantagens oferecidas 0 que constitui importante fator de avaliago dos resultados e da prdpria colaboracao. A descrico no pode omitir condicSes, circunstancias ou elementos considerados, ou porque os dados omitidos ou nao indicados perderdo valor 21 X\ torn Langa c ip judicial ou porque nao poderao ser revelados posteriormente a homologacao, ao menos como revelaco oriunda da delacio.” Ainda ali sustento que: “as condic6es propostas devem ser claras e objetivas de modo a evitar incompreensées ou duvidas que, existindo, repercutirGo 0 _julzo de homologacéo uma vez que _vinculam todos os membros do MP que venham a atuar no caso. Recorde-se também que 0 ato de homologagéio, conquanto em principio meramente formal, como todo ato judicial que de alguma forma produz efeitos juridicos poderé ser submetido a discussdo em recurso cabivel, tanto nas insténcias ordinérias, quanto na via excepcional. Embora néo se sujeite, nesta ultima via, @ apreciagao do contetido, pode ser examinada pela racionalidade ¢ relacdo léaica entre relato e resultados, entre condicées e colaboracéo, pois todos esses aspectos podem refletir-se_na fixacdo da pena e em terceiros prejudicados e, assim, submeter- s€ ao exame via de habeas-corpus a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdicdo.” Esse principio da confianca processual_decorre_da_natureza limites e conseauéncias (para o processo, principalmente) do acordo. Portanto, exclui_necessariamente qualquer hipétese de abuso de direito, desvio de Motivacéo, supress3o ou omisso de informacées, sendo intolerdvel qualquer conduta, medida ou providéncia que de qualquersorte implique em violacdo da credibilidade de seus termos. f 22 Chan Langan ji Esse rigor, se justifica naturalmente pela circunstancia dbvia de que a negociacéo pelo Ministério Publico envolve diretamente o interesse da Sociedade — e se estabelece em seu nome ~ de tal forma que 0 interesse publico, sendo inegocidvel, néo_admite a mais minima corrupcio de seus direitos. Assim, possivel afirmar que a colaboracdo premiada constitui direito da parte nas condicdes avancadas, mas é também um direito subjetivo puiblico da sociedade recusa-lo quando se revela incompativel, desproporcional qu inconveniente ao interesse da sociedade. qu inconveniente ao interesse da sociedade. A existéncia de acordo anterior por qualquer forma nao cumprido ou descumprido constitui impeditivo ético e légico para novo acordo, salvo se a retratacéo integral com afirmac3o e total cumprimento dos compromissos anteriores se realizar ou integralizar comprovadamente antes da nova proposta. E assim deve ser mesmo quando néo ha relacéio entre os fatos apurados nas duas situacbes. Com mais razdo, se entre eles existir algum tipo ou modo de relacao de autoria, de prova ou de finalidade delituosa, como ocorre No caso ora em exame. Segundo teor constante na sentenca que condenou o colaborador, a resciséo do acordo se deu em decorréncia de provas de que voltara a cometer crimes, colhidas na denominada Operacao Lavajato, operacao esta que resultou no novo acordo de dela¢3o premiada A justificagdo mostra-se imperiosa. Primeiro porque a delacéo premiada é excec3o especial ao Processo penal devendo assim ser interpretada semppe restritivamente, Glen Laugre VS jh evitando que a excecéo se transforme em regra; segundo, porque é inconcebivel que se estabeleca com um investigado faltoso nova colaboracéo se da anterior restaram duividas ou insinceridade capazes de revelar auséncia de confianca nos resultados e, sobretudo, se indicios ou evidencias de burla ou fraude em prejuizo da justica publica, ou em suma do interesse da sociedade, podendo na nova colaboracio arrisca-se o interesse puiblico a nova falta De qualquer sorte, a fundamentacao da proposta ministerial ¢ os demais requisitos legais da nova oferta ao colaborador com déficit de Confianca, mentiroso ou omisso de acordo anterior, devem ser particularmente detalhados com a minticia das possiveis ressalvas em relacéo as vantagens e b6nus ao investigado, além de instituicéo de clusula expressa e precisa quanto a0 atendimento dos compromissos da colaboracao anterior n3o_cumprida ou descumprida antes de qualquer nova vantagem. E certo quer a lei das organizacées criminosas nao estabelece essa vedacdo. Nesse sentido, j4 me pronunciei no trabalho de minha autoria: “a lei n&o cogita da rescisio do acordo, em tese possivel enquanto ato bilateral de convergéncia de vontades. Cabe, entretanto, alguma reflexdo. E inegavel que a homologaco Pressupde, documentos, depoimentos, apuracées (anexos) que a lei exige para reconhecer como valida e legitimada a delacdo premiada, fora do que no haveré espaco para a homologacaio e menos ainda para os efeitos da delacSo regularmente completada. Para a homologacao, pois, é necessario ter reunida a robusta demonstragao dos resultados que a lei elenca e, entdo, 9 ato judicial de homologacdo — sem cogitar de juizo f- 24 ye aon Lingen Sy sobre 0 contevido — diré que _o acordo observou os termos formais da lei para os efeitos processuais designados.” Surge, porém, do sistema um conjunto de preceitos que leva a essa conclusdo. Na Lei Anticorrupco (Lei n® 12.846/2011), por exemplo, esté Prevista uma moratoria (artigo 16, § 82), durante trés anos para novo acordo se © acordo de leniéncia néo foi cumprido, o que importa em vedacio total, embora limitada. Salienta-se, por oportuno, que essa lei embora inserida no ambito civil e administrativo tem clara conotacao dos conceitos, tipificacdo de fatos ilicito e sangdes inerentes ao direito penal. Na Lei do CADE (Lei n° 12.529/2011) igualmente se prevé uma san¢do temporaria para o caso de descumprimento do acordo com base no artigo 86, § 12. Essas duas leis se referem expressamente a possibilidade de descumprimento de acordo com graves consequéncias, embora ali denominados acordo de leniéncia. Na Ultima lei, esta possibilidade e consequente restricao, aplica-se também a pessoa fisica, além da juridica. Esses breves precedentes legais que, todavia, integram um bloco de repressdo aos crimes ou faltas administrativas relacionadas com improbidade, corrupcao e fraudes de toda a ordem, apesar de sumérios, tem entre si um parentesco muito préximo indicando que a inspiracdo legislativa sempre foi de impor san¢8es ao acordante que ndo honra as propostas e os compromissos, podendo ser mais ou menos rigorosas. Note-se que a Lei Anticorrupeo (Lei n° 12.846) 6 de 12 de agosto de 2013, um dia antes da edicSo da Lei da Organizac3o Criminosa (Lei n? 12.850), de 2 de agosto de 2013. A denominada lei do CADE (Lei n? 12.529) é de 30 de novembro de 2011. i 25 Clan Lougyon yap Portanto, a contemporaneidade das leis é evidente. E, assim, a inspiracdo legislativa néo_poderia ser diferente quanto 4 implementacdo da sancao ao acordante infiel Tanto a Lei do CADE quanto a Lei Anticorrupcao sao leis que versam sobre pessoas juridicas, em especial de direito privado (empresas). © sistema legal brasileiro preserva, sempre que possivel, a Sobrevivencia econémica da empresa, cabendo ressaltar os institutos — civis/empresariais — da faléncia e da recuperacdo judicial. A Lei n® 12.850 & lei penal, tipifica crimes, penas e procedimentos enderecados a pessoa fisica, nao cogitando de novo acordo de colaboracao premiada, caso o anterior tenha sido quebrado, no por omissio, mas por impossibilidade logica de fazé-lo. € a deducio logica da intengdo do sistema normativo em que esta integrado. E nem poderia ser de outra forma, posto que a disposi¢o de negociar vantagens em troca de informacées nao equivale a contrato ou negocio juridico civil. Pelo contrdrio, como favor legal excepcional onde_em quaisquer_circunstancias_deverd _prevalecer_o interesse_ptiblico ou _o da Sociedade (a justica ptiblica). Uma vez quebrada a confianca no hd mecanismo juridico ou processual capaz de restabeleci A colaboracéo premiada se dirige ao processo penal — Provavelmente a mais seria restri¢do que uma pessoa pode sofrer, pois afeta sua liberdade de ir e vir ~a burla, a fraude, 0 engodo, o descumprimento ou nao cumprimento em qualquer tempo das clausulas do acordo/de colaboracao 26 Cohan Langa Sey premiada afetam a credibilidade das informacées, com risco manifesto de vantagem indevida do colaborador, gritante ofensa terceiros prejudicados e violacao direta dos principios constitucionais da ampla defesa, do contraditério e do devido processo legal. Em suma, 0 pressuposto natural e légico da colaboracSo que Ihe confere a juridicidade compativel e justifica a excepcionalidade processual é que a confianca e sinceridade sejam absolutas. Aliés, a prépria ocorréncia de outro delito de mesma ou diferente espécie do anteriormente objeto de colaboracdo, mesmo inteiramente satisfeita, deixa entrever um déficit de acordabilidade, uma vez que & insito a qualquer acordo de colaborac3o a implicita manifestacio de nio reincidéncia Embora a colaboracdo premiada nao constitua uma declaracdo ou compromisso moral de ndo delinquir, ou de arrependimento, é evidente que © acordante ao propor-se facilitar 0 descobrimento e apuracdo dos crimes que assim vem a reconhecer, confessando-os, naturalmente repassa ao processo esta ideia. Quem reconhece a falta e volta a praticd-la, se nao estiver doente ou incapacitado, ndo pode esperar do ordenamento juridico e principalmente do processo penal qualquer transigéncia ou tolerancia de modo que a colabora¢ao nao poder ser admitida e ao juiz nesse caso cabe nao homologé-la. Nessa linha, revela-se essencial que a disposic3o das partes na delac3o premiada seja absolutamente sincera e eticamente resporisdvel, donde 7 Clan Longan jyp inevitavelmente surtird para o processo e para a investigacdo de modo geral a certeza da confiabilidade das apuragées, ou na sua falta a imprestabilidade do rocesso se Portanto a nova colaboracéo mostra-se imprestdvel por auséncia de requisito subjetivo - a credibilidade do colaborador - e requisito formal - omissio de informacées importantes no termo do acordo -, consequentemente, todos os atos e provas dela advindas também serdo imprestaveis. Diante disso, a colaboracdo nao teve o requisito de validade verificado e sua eficacia resta prejudicada. Por todo 0 explanado, respondendo a primeira indagacdo da consulta, tendo havido decistio de quebra de acordo em colaboracio anterior pelo mesmo colaborador, ndo poder ser feito novo acordo, diante da auséncia de sua credibilidade, requisito essencial para o instituto da colaboracao premiada. Pelas mesmas razées, no tocante a segunda indagagdo, nao é valido e eficaz 0 novo acordo, como também quaisquer atos dele decorrente. Eo parecer. Brasilia, 9 de marco de 2015. Zl Lf Z - sits EANGARO DIPP (/— onB/RS 5.112 / 28

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