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é fe a e a a a s % re & 6 2 a a ares melo (orgs.): rérion so: ‘werle Pe toe ee Se eee tie? Sect hes Seen ere ee eee ey Pe een cn eee ee erecta tis alos por mio da delberagto dos cid eee Pe ts eS St ni. Pen ernest eee Ce et Serr Te Pree Scone ee ee ae ee ae erat eee eens ee a Seen ee eon ee os tima tem de derivar da deliberagio pica certs ee ee ee a ce eee eee Set te ers Pro one ea eee ae eee ee eos oe nt cera DEMOCRACIA DELIBERATIVA organizacao e traducao: Denilson Luis Werle Rarion Soares Melo esfera publica oan tesicensclieete oe ‘Desc debate So alo Spay an Pl 207 ISIN 7es.c0ss 005 Ov et dicate pgs eas ex 200 209 4 Tha Democraca Dues do Nace Ds Demorceds CHIRAP viele wo pro tema APESP "hoa paca dns verge pnPtr ong at Pa ne at Et eon i een WS BoM ety Thomas Chitin, The Cher nv Fae [Edict fon Her Kap er eon, Ae Pawo bce vis {nics arcades Dern 2 Tora Pia, Tere d Dic ‘Dogme rd, 3. Deo Connacoral Eada de Do Lyon a ats, ile (ocr) Wet De late Bs Rep "Wor, Caro (2) Ml Rs Sos EV CEMRAD Nacho Diss e Dem Coordenagio Bditori Paulo Tedescan Less: Mator aitores: Denilson Lai Werle La Repa ‘Mauricio Cardoso Keinert avin Soares Melo Revisio: Paola Morello Editoragio clerOniea: Microar ~Com,Editoraio Hernia Lida (Caps: Tana Geatll Machado @esera pais wowesferapublicscitorial.com br © desta ego itra Singular iors Singuae ‘Rua Jost Nobrega Barbosa n® 100 CEP 02336.080~Suo Palo SP “TedFox (11) 3862-1242 vwrweditorasingularcom.br ‘Sngular@editoresingulacom be APRESENTAGAO ‘Denison Las Werle Raron Soares lo... Pore LEGITIMIDADE E DELIBERACAO POLITICA Berard Mat or dene or dibs reli Unanimidade e maiot it ct Avontade dos individ, AA vontade de todos~a dliberagio de todos Paraismo politico e mercado. (0 proce dliberstvo. SOBRE UM MODELO DELIRERATIVO DE LEGITIMIDADE DEMOCRATICA Sela Bei on a a Legitimidade democratica eens pblicos a Um modelo deliberstiv de democraca 30 -Apreensbesiberas acerca da democracia deliberative 9 Dititoshisics e democacia deliberativ.an 6 Democraca deliberative econstiucionalisig a Assuspeitas feminists acerca da democrci dlierativa. m ‘Adesconianga instuconalista acerca da democracia dliberatv, % ATMPORTANCIA DA DELIBERAGKO PUBLICA, ‘Thomas Ona a “Tes ipos de valor da delibengio snes BE "THs teses sobre a importincs da dlberagio publica na demacraclassvcccs 4 (© valor instrumental da deliberaso. Tas Por que deiberago pia per we ¢ apenas ali nsirumentalment °0 ‘Uma abordagem mista do valor da deliberagiopblica a) ‘cone igdineeses ea north er ie oo 96 Deliberagte como um context de jusificagio politica. 100 Problemas de coerénca ma conespe30 jase enema wor CConsenso aco erazoabildade a eeseeeeet ion gre muoracoo fn stag alan 1 Oapelod neces Seeeeesees i C00 Boerne peeese iis PROCEDIMENTO ESUBSTANCIA NA DEMOCRACIA DELIBERATIVA Joshua Coen a us ‘Substanca, procedimento e pluralism... us iberdsdes antiga e moderna ne Democracadeliberitiva ea “Ths princpios nnn nen ‘Adetocacia realizado. zs Coneluso, ae AIDEIA DE RAZAO POBLICA REVISITADA a 1. Aida de rzs0 palin 2.0 contedo da rrs0 pli. ene 3. Religtoerazao publica na democraca 4:Avisioampla da cultura politica pablica.nnnnemvnsooncovorren 5 Sobre a fai como parte da esrutra basco cea 6. Questes sobre a azo plea enn aaa Exon aati a Pore (COMO AS PESSOAS PODEM CRIAR AS LEIS? UMA CRITICA A DEMOCRACIA DELIBERATIVA. Frank Michela ne a 2 1 Construindo 6 pensameato pol todo IL Uma concepqtoepistémica de democracafrtementenormativ. TV=0 problema do tere nn V—Democracia validad, (0 MERCADO B O FORUM TRES VARIAQOES NA TEORIA POLITICA TP BET nn bn = [AGREGACAO B DELIBERAGAO: SOBRE A POSSIBILIDADE DA LEGHTIMIDADE. DEMOCRATICA Tack Kaight Jas Jos. one 1. Agrepaqio sv 2 Delibeagtoo argumento padi = a B.A deliberagdo plas remannsonecorenen ‘4 Conclusio: dieuldades para a teria democrtin, DELIBERACKO F DOMINAGAO IDBOLOGICA Adlm PEROT nn = DELIBERAGAO, F 0 QUE MAIS? Michal Wile ae BIOGRAFIAS 195, 195, am ass 256 292 287 a a 239 313 APRESENTACAO Denilson Luis Werle Riirion Soares Melo (Odebatecontemporineo sobreaimportincia eossentidosdademocracia ‘como princfpio de legitimagao das praticase insttuigdes politicas gerou uma diversidadedetearias pollticas que,a despeito de suasdiferencas,fornecemuma ampla argumentaglo que reconhece a centralidade do conceito de deliberasao publica para explicar e compreender a dindmica dos conflitos ea formagao de acordos politicas em sociedades democriticas. O objetivo da coletinea aqui proposta é apresentar alguns dos principais ensaios sobre o conceito de demo- ‘racia deliberativa, micleo do que jé pode ser considerado uma nova vertente na teoria democritica contemporinea. As questBes que orientam os artigos desta coletinea esto vinculadas predominantemente a0 problema da melhor forma de organizagao do poder politica eao dos fundamentos da legitimidade do exercicio desse poder em sociedades complexase plurais. [As teorias democréticas hegemdnicas a0 longo do século XX ~ desde 0 elitismo democrético até as formulagbes mais recentes da teoria da escolha racional—tém afirmado que 0 poder politico deve ser organizado por meio de insttuigBes que artculem os interesses privados de individuos ou de grupos com o bem comum ou interessegeral da comunidade politica por meio de mecanismos de agregagao de preferéncias, especialmente por meio do voto. Indo além disso, mas sem desprezar os procedimentos formais de organizacao do poder politico ~regra da maioria,eleiges periddicas, divisio de poderes— asconcepybes de democracia deliberativaafirmam que os processos de tomada de decisio tem de estar fundamentadosna deliberacao doscidadiosem foruns pliblicos amplos de debate e negociagio. Portanto, as prticas einsttuigdes Chtambém Goeth ¥.S.P;NabreM (orgs) Partcpap edliteao:teriademocrétcae ‘experitnisinttuionas no Bra cantempordea Sto Paul, Bd 34,2008 9 ‘Democracia Dliberstiva pis idéias normativas ¢ suas vantagens para resolver questdes controversas Propriasassociedades democriticasmodernas,taiscomooconflitodevalores ‘ede interesses,o reconhecimento das diferensas ou o problema da tirania da ‘maioria.A democracia deliberativa também érelevante para pensarmosnovos desenhos institucionais no contexto de sociedades complexas, Levandoemcontaoprolena dejsifaraimportinca ddeliberago publica Thomas hristan em verde erpretaroprocedmentodelnenteo ideal como fone de justfcat pls, sgumenta ques dlirne nto temumvaloremsismasfencionacomoum ler excaamentetsrunes alauetem po ald garanirs quaad ds deci tm na democraci. 0 importante considera aiguldade preuponts no novo de ergo pablcacretrar dase alorininseo. qu cts fades exigncas por usin Anconsderarosdesfoqco fod plralsmo impo foruliode uma tora da demoracia deter oario de esis Cohen usone iia deque sob oconstangimentodet lta sifienercorrersumavico putamen procedmentaldademocacia Ns tmadicreng dro atonenng una concepaoproedimertaldedemocrac deliberate uns concrete substan artigo procira defender uma vitoquecombisoxprecpenes de um plurals rzoéel com una concpgo substantia de donor considerando esta como o resultado de um modelo deliberativo. : Preocopa6cs emethantesencontram-s nas fled de John Rei na medi em que dtende dia de que o principoncnormasoereide por ma concep pola de justia devem poder er jacdon pubic sete, uma ezqueseencontem apoadas a rari public dosideion de ums democraciaconstucional Arena €acataceritcadcumpove demorrlico poser aio dees cidaos duels quecompatilion statsdacidadania igs Enquant principio iberldslptinidade conto en uma forma de argue plea sobre valores Pits compart Ihados,reaiada em frunsepor ators epetcos-epardefornecer todos uma use comum publcimenefastfcsl parson pine mc orene aolugto deconfitos em tno de quests politica fundamerras © conjunto de textos criti "se com o arti icos inicia-se com o artigo de Frank I. Michelman, que, num nivel mais abstrato e filos6fico, argumenta que o 0 _Apreentagto {deal da democracia deliberativa, ainda que fosse desejavel do ponto de vista, 4a justiga, nfo seria um ideal que poderia ser realizado num nivel pratico. Do ponto de vista conceitual, o autor vé uma circularidade entre direitos fundamentais e soberania popular que nto poderia ser resolvida no nfvel ‘puramente normativo, De um lado, as pessoas criam os direitos no processo de deliberasio politica; de outro, o inicio deste processo jd pressupdea exis- téncia de direitos. A solucio tem de se dar, entao, no ambito pragmitico. Se apritica continuada de formulagio deleis ésempre autocritica,entao temos deaceitar as duas partes do dilema na pratica: hé uma continua revisio nao 6 dos contetidos, mas também dos proprios procedimentos formais da doliberagao e autodeterminagio dos cidadaos. Ascrticas de Jon Elster e de Jack Knight e James Johnson fundamentam- se numa comparagio ¢ anilise critica tanto das concepsdes agregativas de democracia, préprias das teorias da escolha racional, quanto das concepgdes de democracia deliberativa, Elster faz, por um lado, uma andlise critica dos pressupostos principais da teoria da escolha racional(e social), argumentan- do que esta tende a confundir o forum publico de deliberacao politica com @ lgica do mercado, o que acabaria por colocar a politica sob a égide exclusiva da racionalidade instrumental e estratégica, Por outro, critica as concepges excessivamente normativas e republicanas de democracia deliberativa que tendem a negligenciaras dimens6es instrumentais estratégicas da politica. argumento de Elster consiste em demonstrar 0 caréter mais complexo da po- litica democratica, defendendo a idéia de que a politica democratica¢ publica ‘emsua esséncia c instrumental em seus propésitos. Com isso, oartigo de Elster presenta duas idéias-chave de uma concepsaio deliberativa de democracia: a) ‘quea deliberagéo politica exige que 0s cidadios transcendam o auto-interesse privado do mercado e se orientem pelos interesses pablicos do forum b) mas sem que a deliberasdo politica perca de vista seu propésito instrumental de produzir um resultado efetiv. ‘Oartigo de Knight e Johnson torna ainda mais explicita anecessidade de ‘uma reconciliagao entre agregagio e deiberagdo, razdo instrumental e razio iiblica. argumento dos autores consiste em mostrar que seria mais rutifero, tanto do ponto de vista te6rico-analitico quanto critico normativo,reconhecer as limitagbes ¢ considerar a necesséria complementaridade entre concepgoes agregativaseeconcepedesdeliberativas de democracia. Nessesentido,dlefendem uma concepgo de deliberacao politica maismodesta e menos exigentedo ponto evista normativo. Argumentandoa partirdo ponto de vista“mais ealista"dateoriadaescolha racional, Adam Przeworskicriticaas eoriasda democtacia deliberativapor nio Jevarem em conta as patologias da deliberagao: nem sempre a transformacio das preferéncias ea pritica de deliberagao levam a resultados justos. HA que se considerar a possibilidade da dominagao ideolégica, quando um individuo Elevado a adotar crencas heterOnomas que sio contrarias ao seu interesse e, inclusive, a0 préprio bem comum, E, por dltimo, dentro do espirito da critica comunitarista 4 democracia liberal, Michael Walzer prope também a necessidade de aliviar as exigéncias ormativas ¢ a aposta nas virtudes da deliberacio, alertando para o fato de {que a agdo politica democritica exige um tipo de engsjamento que envolve {ntimeras atividades que ndo apenas vio além da deliberagao, como tambémn clase opvem, O presente livro ¢fruto de discussbes e pesquisas realizadas entre 2000 ¢ 2004 na nha “Democracia Deliberativa” do Niicleo Direito e Democracia do CEBRAP e vinculado ao projeto temtico da FAPESPMoral, politica edieito: ‘uma investigagao a partir da obra de Jigen Habermas” ee Parte I LEGITIMIDADE E DELIBERAGAO POLITICA Bernard Manin Esbogo de uma teoria da deliberagao politica As controvérsias tedricas que a nosao da justica social provoca hoje vio além do quadrotradicional dos debates sobre os respectivos papéisdo mercado ‘edo Estadona distribuigio de riqueza.' Osargumentos principais que tém sido propostos procuram, com efeito, defini regrassociaiscapazes de proporcionar acordounanime dos individuos.A forma maisradical deliberalismo sustenta, gue a protegio contra a coerso arbitréria 60 tinico objetivo comum de todos ‘os seres humanos vivendo em sociedade. A liberdade dos individuos éidentif cada com sua seguranca: protegido da coergi0 dos outros, todo individuo pode livremente almejar a felicidade tal como a entende, determinar suas prOprias _metas e tentarrealizé-las, a0 menos enquanto o exercicio de sua liberdade nao invadira liberdade de seus companheiros. Assim, seguranga 0 tnico principio polticoaceitavel;enquantotodososindividuos tém metasconeretas diferentes, todos esperam perseguirsuas préprias metas em paz. Seas regras promulgadas pelas autoridades politicas limitam.-se a garantir a liberdade entendida dessa ‘maneira,elas podem ser universais,ese aplicamaa todosde modo idéntico, por quealliberdade € o unico aspecto em que todos os individuos sio estritamente idénticos, Defato,sempre que os poderes politicos tentam,alémdoqueconcerne {aseguranca, tomar osindividuos substancialmentemelhoresouafetar,mesmo ‘quem pequeno grau, a situaglo material de um ou outro grupo considerado "ste artigo nto protend exporuma teoria completa dadeliberaso polities procurs apenas _mortracpor que deliberassemvezde pretender unaniidede temdeserabasedequalquer {cori da legtimidade,Portant,lgumasquestbes qe teora da dliberao politica pode fundamentarndo serio watadas aqui (por exemplo.adeterminasio de porque uma questo temsidosucientemente deliberda),coutrs serio respondidasapenasem termes arplos (porexzmplo.a definigo de"publce univers). 5 Democraci Deliberatia Se ee {ais regras nto podem obtero consentimento de todos. Por isso 0 objetivo de cree ie Francie Jeghtimo, 0 quelimita suas fungées para garantirasegurangainternacenterng corte ngane em De qualquer maneira, este argumento leva a uma objegao mai fo leva a uma objegao maior. O libe- ralismo assume que cada individuo tem o direito de perseguir seus objetivos * 0 liberalism radical derivou de Kant com boat razbes. Kant afrnou que felicidad cage et saat *tzaleptmide, Api Uber pode cntiaeparno dco paric apo Tenement ‘erat anette sri eee cane eee Pte snes Tren anette abi anthacxtemaqos sermon cma Kanth ‘writings, ed. Hans Reiss (Cambridge, MA: Cambridge University Pres, 1970) p. 73 4." septs rectrmscrteneane tn ‘ln aaa Semmens resect es cet rs fe dapeto materia davontade que emp incr por sus ves detornar une tuners” Kant,“The contest of faculties” Kant political writings ed. Hans Reiss (Cambridge, ‘MA; Cambridge University Press, 1970), p 183-184, Bee gules staat a at Pen gery yg Zeliingcenpestbcarme emer Pest podria cirabuvodeurncertolmitede pobre. Contd oes diamente Fiennes cen dantteneeeyeere eta ae Centar meee 0 bem-estar no suporta leis universais). A posig mais moc e Sciknsadaremmare eid 16 emnard Manin Legitimidade edliberags polticn mente, protegido contra a interferéncia dos outros. Mas, para aqueles individuos euja renda e situagao encontram-se abaixo de um certo minimo, esse dieitosimplesmente perde seu significado. No Estado minimo algamas pessoas nso podem tentar realizar seus objtivos.O universalismo que foi visa docntio nao faialcancadosele s6 éalcangado, a0 menos aproximadamente,se aceitarmos a promullgacdo deregras que nao sio universaisem suas plicagoes, ‘equeobjetivam especificamente o bem-estar decertascategoriassociaisseque, portanto, no podem ordenar um acordo universal De toda forma, pode-setentar demonstraro carter racional ¢ salmente aceitvel de uma teoria da justiga que basa a agdes do Estado em fungBes mais ampliadas que as do Estado minimo, Rawls tentou fazer iso.*Ele tentaprovar que, assumindo que ndividuos racionaisesperande formar uma sociedade stoindiferentes unsaos outrose desconhecemaposicio que ocupam na sociedade que eles ajudam a estabelecer, € possivel deduzir, nfo obstante, «que tas individuos ém de acetar dois principios de justca, sendo 0 segundo aquele que justifica uma certa mancira de se distribui a riqueza.® Nao hi ne~ ‘cessidade de examinara demonstragio de Rawls em detalhe.O que importa é seu objetivo. Se seu processo de dedusao estivercorreto,os dois principios que propdeseguem-senecessariamenteda racionalidade dos ndividuoslocalizados ‘na posigio original. Taisprineipios podem, entdo,ao menos abstratamente,ser base do acordo universal ‘Contudo, jd se argumentou convincentemente que o segundo pr (desigualdades seriam arranjadas de tal forma a conceder maiores beneficios ‘pio “John Ras theory of tice (Cambridge, MA: Belknap Pres of Harvard Unversity Press, 1971). > Emnenhumsentdos reionlidadeassumidaaguiimplicearaconalidadesubstancil dosfins. [Ao contriio, Rawls assume quc todos os ndviduos tm diferentes objeivos entre os quaisé impose etabelce quaker hierarguia objet A idela deracionalidade de Ralsimplica simplesmente qu o vets tém objetvoscoerentes (ou, ais preisamenteprefetncias ‘oerntes) eesti ator calcula op ncioe nevessirio para reais dessesobetivos Eta ‘a defniggo deraconalidae comum ascitncas soci (Rais A thar oft, p13). © Osdoisprineipos de justica soos seguntes: (4) "Cada pessoa tem drt igual mas apa erdade bisa compativel com uma ibe sade similar paraox outros" (Ras, A theory ofa, 60). (b)"Asdesigualdade soci eonomicasdevem safer dus condicoe:devem existe} paraomsiorbenefcio posivel dos membrosimaidesfortanadose2) devemservinuladas !posgbesecargorabertsatodossob conigies de igualdade eqittvade oportuniads” (Rawls A theory oft p83), 7 Democrecia Deliberative ‘40s menios favorecidos) nao pode ser rigorosamente deduzido dos elementos da stuaséo original Hl, com efeito, uma assimetra significativa entre os mas osmenos privilegiados. O segundo grupo ¢ favorecido em lugar do primeito, ‘Todavia, seas pessoas preferem isso, porque tendema adotar, implicitamente sem submeté-las a razdes, o ponto de vista dos menos favorecidos.’O uni. ‘ersalismo almejado nao foi obtido porque o segundo principio estéapoiado ‘num ponto de vista particular ao invés do ponto de vista universal do individuo, zacional.Dequalquerforma,o segundoprincipionaoprecisariaseratingidopor talctiticase Rawls estivesseaptoa reconhecer queaadogdo do pontode vista dos menos favorecidos, na medida em que nao absolutamenteracional,é,contudo, parcialmente justficivel. Maselendo podereconhecertal possiilidade porque seu objetivo é deduzir uma concepcao da justiga estritamente universal Em facedessas alhas einconsisténcias, pde-seficartentadoa.ejetar toda Premissa eum projeto quese esforga por defini umaconcepgaode ustigaque roduzira, ao menos em principio, ‘um acordo unénime entre seres racionais, Astesesdo liberalismo radical, como aquelas de Rawls, onsistem,defato, num «sforso para realizar um programa baseado no acordo undnime.O trabalho de Rawls expressa esse objetivo com uma clareza particular, assim como no caso os liberais radicais. Rawls afirma explicitamente que espera dar sua teoria uma base certa eestével. Bla deveapoiar-seem um “ponto arquimediano”? isto 6 em ume posigio sobre a qual todos podem estar unanimemente de acordo, considerada necesséria por todos."A posicio original écaracterizada de tal for. ‘maquea unanimidade possfvel” Parajustficar sua escolha da unanimidade, actescenta“A tradigdofilos6fica, em sua maior parte, incluindo o intuicionis, 2mo assum que hi alguma perspectiva apropriada de onde podemos esperer tuma tnanimidade em questOes morais,ao menos entre pessoas racionais com informagées similares e suficientes?” © projetode bascara legitimidade politica na unanimidade nao pode ser ‘ejeitadosimplesmente em razao de que isso parece,a primeira vista irealista, pois parece derivar necessariamente dos principios fundamentaisdoindividua, {ismo moderno, Pr natureza, todo individuoé livre e igual a qualquer outro. Nfohédiferencaessencial ou hierarquia natural entreindividuosparajustficar [Norick, Amari state and utopia p. 189-197 Rawls theory ofa p. 263 Ras A theory fst, p28, Rav A theory oft 263, emard Manin —Legiimidae edeberast polis ‘tmopranipofndumenataniniladcspenst susp Unanimidadeemaioria Astoriasiberaisdjustigatentam esponderaperguna: Comopodcmos exter wma ode pole vocal based na vote os indo Desde princpoopensmentodemocrticomodero tem sido confront com 0 mesmo problema porque, tal como o liberalismo, também se baseia tes prncpos do individualism, Tl fa laramente observe por meio das diferengas entre os pontos de vista liberal e democritico, Ambos chegam mesma conclusio: na esfera politica, € unanimidade que prové os princpios, di egtimidade Contd, maior ds ois democrtas no derpto sens eine mastambm liad fide Dessaforms poem introduzir um principio detomada de decis4o mais realist do queo da unani- ridade,a sabe o principio da maria, Todavia,os meios de que dspem para rsconcia o prncpo de tomada dvi (pela maori) com opeinepio de Legimidde (pla unanimidade) sinha ras fortemente d exgincia pela unanimidadeem sua concepsio do queem qualquer pensamento polit baseado no individualismo. 19 ‘Democraca Deliberstiva © pensamento de ies aresenta um novel i seta um note exemple dee proses. Siey8 fim que os homens to ives por natura Quando foneom ae Cerner sors poten porn init Panquetostanpostciccoinogie ne Pike (qc co smn) deren Sorbonne “dissolucao da uniao social. Por sua vez, tomna-se absolutamente necessirioreconhecertodasostragosda ontadecomumonde quet que a pluralidade sejaestabelecida pela comunidade como decisiva”" Oargumento de Sieyts indica como a exigé -omo a exigéncia de unanimidade resulta do postulado original (que a vontade individual étinica fonte de obrigacdo "mane Sis Verse mena exon dont repre extn dn eens dela Prono Aiparen 1789 (bar) a beysemeiaconbestoconm oar dopa ‘tel Ties Ee econo omdslideresdaeroigorancesinaimporseacrsor ce poli feqenemente abesinas Det roecmenteums dsp a importers do orero repre snaccenopcamete eect da Fan eda Aleman conserve Pogue amar puedes table ey Publcada dda Rovio Pane, dvem er conutadaremsonedion agents ‘Sieyes, Viees sur les moyens d’exécution, ci Sis Mess moped Emmanuel iy, rine del Costin fi sition frie Pari 791). " Sieyts, Préliminaire...p.38. Sie Yule mopesd ein 20 ee Bernard Manin —Legitimidade e deliberaio politica Jegitima); mas isso também aumenta a extrema dificuldade de reconcilir este principio delegitimidade comasnecessidadespraticas da vida politica, tornando cessencial ecorrer’ maioria. Decertaforma,talsolugio transubstancia maioria emunanimidade:amaioriando éidénticad unanimidade,mastemosdeencon- trar“todos os tragos” da tiltima na primeira. A maior fem de ser considerada cquivalente unanimidade, Com isso,a tnanimidede permanece a fonte verdadeira da legitimidade. Avontadeda maioriatorna-selegitima quando ela foram conferidostodosos atributos da vontade undnime, Obviamente € possivel objetar que diferenga entrea vontade da maioria ea vontade de todos ¢ um fato empiricamentein- controverso. ingenuidade do argumento de Sieyés ndo pode ocultar tal ato. Sieyés simplesmente apresenta a transfiguragao da vontade da maioria numa vontade undnime como uma necessidade pritica, da qual tnicajustificagio€ anecessidade de um principio realsta de tomada de decisio. Esse movimento ‘permanece completamente sem relagao como restante do argumento; oprin- cipio da maioria €uma simples necessidade de fato sem ligagio racionalcomo principio da legitimidade. F mera convencio conveniente. Rousseau também confia na tnanimidade como sendo a nica fonte verdadeira delegitimidade, nao obstantea teoria proposta em O contrata social sediferencie, em muitos aspectos essenciais, da teoria de Sieyes Isto € particu- larmente verdadeiro com respeito & questo da representagao, que Rousseau rejcita e Sieyes justfca,Além disso, Rousseau oferece uma solucio diferente para o problema apresentado pela exigéncia de unanimidade. Mas os termos do problema sio os mesmos. A tinica fonte legitima da obrigacao politica €a vontade dos individuos. Obedecendo & vontade comum, cada pessoa esté na verdade obedecendo a si prépria, Portanto, a vontade geral tem igualmente a vontade unnime como uma questio de principio. ‘Como js sabe, Rousseau distingue entrea vontade geral ea vontade de todos. Masa diferenga entre os dois é eramentea distngao entre o principio a pritica. E empiricamente possivel que todos os individuos nao tenham concordado com o que veioa se a vontade geral, mas em principio eles estio nnecessariamente de acordo. “Quanto mais oacordo prevalece nas assembléias, quer dizer, quanto mais as opinioes seaproximam da unanimidade, mais pre- valecea vontade geal.” A vontade geal é,em principio,a vontade de todos os ® Jean-Jacques Rowsteas, Du conta soi Livro V,Cap2, Oauvrescompltes ed. 8. Gagnebin €eM Raymond (Paris: Gallimard), vol lp. 438 21 Democrcia Deliberstiva ‘membros da sociedade; caso contrério, seria impossivel entender como pode- iam permanecer livres obedecer somente a simesmos,enquantocontinam submetidosa vontade gera. Se surge desacordo, ealgumas pessoas ndo concor- dam como que foi decididoisso acontece porque aqueles que descordaram na vverdade ndo entenderam a questio que thes fora colocada.“A firme vontadede todos os membros do Estado equivale a vontade geral. Pelo seu exercicio cles so cidadaos, livres. Quando uma lei € proposta numa assembléia popular, ‘quese pergunta aclesndo éexatamente seaprovam ou reeitam.a proposta,mas antes seesta se conforma vontade geral,que étambéma eles. Cada pessoa a0 votar expressa sua opinio sobre a matéria, ea vontade geral éentao deduzida pela contagem de votos.Por ess razdo, quando prevalece uma opinito contrd- +a minha, isso prova simplesmente que eu estava errado, eo que pensei sera vontadegeral,ndoera”!*A opiniao daminoria é,conseqilentemente,nada mais do que uma opiniao errOnea sobrea vontade geral. Mas temos que reconhcer também queds pessoas ndo foi perguntadoo queelasqueriam, masapenaso que elas acreditayam sera vontade eral, A unanimidade nio é mais exigida, porém tal resultado foi obtido ao custo de uma ébvia contradigao com 0s prineipios apresentados no inicio de O contrato social. Asiléias tanto de Rousseau quanto de Sieyés emonstram com exemplar clareza a forga da exigencia por unanimidade no pensamento democritico,¢ as dificuldades em que se incorre quando se tentareconcilié-la com um prin usseau quer dar énfase aqui ao carter moral da decisdo. ms Jean equ Roun Dicuss eon dade certament justia oui de ini a importincis de ua esata em vor de apenas politique, Orns completes, vol p. 246 Rousseau, Du contrat sail Livro Cap. 3.371, 4 Leghimidadee diversi politi nas sociedadesinfluenciam a maior, o nteresse comum se modifica,eencontra ‘oponentes.A unanimidadendo reinamais,a vontade geralndo émaisavontade de todos, surgem contradigdes e debates, eo melhor ponto de vista ndo é mais, aceito sem disputas" A existncia das partes nao €a tinica causa paraalarme;a ‘mera comunicagao entre cidadaos éconsiderada perigosa. Que perigo Rousseat espera evitar? A resposta encontra-se na passagem do Discours sur "économie politiquecitadaacima, Rousseau quer mostrar quea vontade piblicaestésempre certa,excetose as pessoas so “secuzidas por interessesespeciais, que certs p soasastutas, por meio deinfluénciasede elogiiéncia,articulam para substituira ‘vontadegeral, Entioa deliberagao piiblica difereda vontade geral.Ademocracia, ateniense no poderia colocar-secontra mim, porque Atenasnio foidefato uma democracia, massim umaaristocracia muito tirdnica, governada por eruditose oradores”*© quepodemosexcluirde uma democracia sao osefeitos da retorica ‘eos poderes de persuasio que alguns individuos exercem sobre outros. ‘Umonidadoso exame dos textos de Rousseau mostra razao real paraseu. Aesejo deexcluiras partes, um desejo muitas ezes notado pelos comentadores. ‘Ao contrério do que erroneamente se supde, tal desejo nao resulta deum certo ponto de vista pré-totalitério, mas resulta sim profundamente do fato de que (95 individuos em Rousseau supSem jé saber o que querem quando vio a uma assembleia publica para decidirem comum. Hes jé determinaram sua vontade, detal maneira que qualquer ato de persuasio empreendido pelos outros poderia, apenas corromper sua vontade e oprimi-la. Poderia se objetar que, em vez de deliberarem coletivamente, os cidadaos de Rousseau deliberam apenas dentro desi mesmos, no segredo de seus coragGes, Certos textos podem levar alguém tal interpretagao. Nao obstante, tal interpretagio poderia ser falsa porque, falando estritamente, quando todos decidem por todos, a escolha se torna absolutamente simples, e no ha nada incerto. "Sempre que homens reunidos juntamente se considerarem como um corpo singular, terdo apenas uma tinica ‘vontade, dedicada a preservacao da comunidade e do bem-estargeral. Entdo, todas as ages do Estado podem ser vigorosas simples, suas maximas claras uminosas, Nao havers interesses confusosecontraditérios,obem pablico poders serevidenteem toda parte,edemandarsapenasbom senso paraser percebido.A. ‘paz, atunio,agualdadesdo inimigosdassutilezas polticas’” O queéevidente, Rousseau, Du contrat soca Livro IV, Cap. 1.438. % Rousseas, Discourse eeoomie pobitiqu,p.246,0 rio me. 2 Rousseay Du contrat soil Livro 1V,Cap. 1p. 437,0gefo meu. 25 Democraia Delbert simples chuminoso ndo necessita ser deliberado, no sentido forte do termo. Ao Sonttariovadeliberago énecesériaparaoqueéincerto,quandoharazdes para {ecit deumamaneira,mastambém razdesparadecidie de outra mancira “Os sueltos de nossa deliberagdo sto aqueles que nos surgem com possibilidades alterativas; sobre coisas que nfo poderiam te sidoe no podem agora ou no futaro ser diferentes do que sio, ninguém que as considera por esss natorere perdeseutemponadeliberagio"™ Oscidadios dademocracia de Rousseauinio

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