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CLASSICOS CULTRIX DAS LEIS Tradugio, introdugao e notas por OTAVIO T. DE BRITO | | { | 2 EDITORA GULTRIX Sio Paid” eee LIVRO PRIMEIRO Atico: — Reconhego, além, 9 bosque e, aqui, 0 carvalho de Arpino, que tantas vézes imaginel ao ler Mano". ‘Se exis. te mesmo Esse carvalho ¢ éste, sem diivida, pois & bem velho. Quinto: — Mas claro, querido Atico; Sle existe ¢ exis- fird sempre, uma vez que foi plantado por um génio; a ér- yore que mais dura nao é a cultivada pelos esforgos do agri. cultor e sim aquela que & semeada pelos versos do poeta: Atico: — Que queres dizer, Quinto? Que plantam os poe- tas? Parece-me que, com o pretexto de louvar teu invite, estés elogiando a ti mesmo?, Quinto: — Pode ser, Mas seja como fér, enquanto hou- ver uma literatura latina, aqui nao faltard um ‘carvalho digno de ser chamado de Mério, e éste, Segundo disse Cévola? te, Jando do MAwio de meu itmio, “envelhecers por séculos ini merdvels". Ou acreditas, por acaso, que uma oliveira eterns Se conserva na acrépole de tua Atenas, ¢ que alta e fle. xlvel palmeira que © Ulisses de Homero diz ter visto em Delos’ € ainda aquela mesma que nos mostram hoje? Em certos lugares h4 muitas coisas que subsistem mais tempo, Pela forga da tradigio do que pela da natureza. Digamos, Pols, que éste 6 0 carvalho catregado de bolétas de onde Sutrora voou “a ruiva mensageira de Jiipiter, de maravilhoso aspecto”. E, ainda quando as intempéries e os anos tive. tem destruido, haveré neste lugar, mesmo assim, um ear. valho a que chamario o carvalho de Mario. Atico: — Nao duvido, Mas j n&o me dirijo mais a ti, © si ao poeta mesmo. Plantaste éste carvalho com teus ver. w 33 i 0s, ou tomaste de alguma fonte os feitos que em tua obra so atribufdos a Mario? Marco: — Responderei, Atico. “Mas, antes, responde-me tu mesmo, & certo que Rémulo, passeando néo longe de tua casa, apés 0 seu desaparecimento, disse a Préculo Julio que era um deus chamado Quirino e mandou que se Ihe edificasse um templo neste lugar? * E certo, ainda, que Aquilfo raptou Oritia em Atenas, nfo longe, mais uma vez, de tua antiga casa?*, Pelo menos & 0 que diz a tradigio. Atico: — A titulo de que, perguntas tudo isso? Marco: — Por nada, a nfo ser para que néo te detenhas em investigagées muito apuradas de fatos que se transmitem dessa forma. Atico: — Mas queremos saber se muitas coisas que se encontram no MAnio sfo fictfcias ou reais. E muitos sio os ‘que, em se tratando de fatos recentes e de um habitante de ‘Arpino, exigem de ti a verdade, ‘Marco; — Asseguro-te que nfio quero.ser tido como men- tiroso. Mas essas pessoas a que te referes, meu caro Tito, nio dio provas de bom senso exigindo, em tais ocorréncias, nfo a verdade do poeta, mas sim a do testemunho. Sem di- vida sao os mesmos que acreditaram que Numa palestrou com Egério e que Tarquinio recebeu de uma 4guia o capuz sacer- dotal.* Quinto: — Compreendo que queres dizer com isto, mew info, que as leis que se devem observar na histéria nfo se aplicam & poesia.‘ ‘Marco: ~ Exatamente, uma vez que, na primeira, 0 tinico critério deve ser a verdade, enquanto que, na segunda, visa- mos principalmente ao deleite. Assim mesmo, existe tanto em Herédoto’, o pai da Histéria, como em Teopompo®, ini ‘mera lendas. Atico: — Surge agora a oportunidade que estava esperan- do, ¢ nao vou perdéla. Marco: — Que oportunidade, Tito? 34 Atico: — Hé muito tempo que te pedem, 3 gem de ti, a composigio de wrt Ee, tena Gus se te dadinses dum tabatho ee oe POs, ian rificada. Vejo, e tu mesmo ob- Serre vitias vézes, em minha presenga, que a Historia mio fepresentada em nossa literatura. Mas estés muito bem habilitado a cultivicla pois, conforme tua prépria opine vase de um género adequado a um orador., Por conse. gute padines que te lances 20 tabalho 6 dadigues 0 tem 0 a uma atividade que tem sido ignorada fligenciada pelos nosso: compatriotas, Pots, Sends ne ans G0* pontifices maximos, que sio a coisa mais frida do mun, ©. $6 abordas Fabio, Caio, cujo nome esti. sempre em teas bios, Piso", Finio' on Vendnio™, ainda que ad- mitamos existir mais valor num que noutro, quem pode ser mais pobre que ésses todos? E verdade que’ Célio Antips, * contemporineo de Fanio, alcangou uma projeco um pouco maior, e ainda que Bossuindo um vigor ristico © és- Pero, sem briho nem elegincia, péde servir de adverténcia is demais no sentido de que eserevessem melhor, Mas, eis que 9 sueederam Gélio, Ciédio ", Asdlio™, que nada’ tem ém comum com Céllio, a nao ser o fato de lembrarem ainda mals a pobreza e a ignorincia dos antigos. E para que men. cionar Mécer'*. cuja loquacidade oferece alguma Usutilezs Foren do inspirada nas rieas fontes dos gregos, mas copiads iguns manuais latinos? Quanto a seus discursos, estio Sheios de hipérboles inte ake exageros que chegam & im- lack. Sine s seu amigo, superou com facilidade a to- Inéditos cane tadores, a no ser que haja alguns ainda tos, stbre os quais nao podemos emitir opisizo, "Mes hunea foi tido em conta de orador pelos de tra hierarquia GyCome historiador, alimenta ideais ‘infantis, parecendo ter sea aso sates pegs pe iat rcten le imitar, @, se 0 conseguisse, teria assim mesm) fi. ado muito longe ‘da perfeigéo. Desta forma, esse teeta Ps 35 te pertence e todos esperam que a executes. A nio ser que Quinto pense de modo diferente, Quinto: — Claro que nfo, j& discutimos virias vézes ésse assunto; hd, porém, uma pequena discordancia entre nés. Atico: — Qual? i Quinto: — A respeito de que Epoca deve comeyar a nar ragio. Acho que deveria comegar pelas origens, pois a his- téria désse periodo foi narrada de forma tal que ningaém a Ié Mas dle insiste em falar de sew préprio tempo, a fim de tratar dos acontecimentos de que participou. Atico: — Sou mais favorsvel & sua opinido, Os fastos de nossos dias estio repleos de fetos importantes, Assim ale terd a oportunidade de glorificar a conduta de nosso querido amigo Cneu Pompeu e de tratar do memorivel ¢ inesquecivel ano de seu consulado; prefiro que trate disto do que — como se diz — de Remo ¢ Rémulo™, Marco: — De hi muito, Atico, que compreendo que exi- gem de mim ésse trabalho, © no me negaria a esorevélo se tivesse o tempo disponivel e a liberdade, pois uma emprésa de tal mont nfo pode ser levada a efeito em meio a ativi- dades absorventes ¢ com 0 espfrito preocupado. preciso que se esteja, ao mesmo tempo, sem preocupagées ¢ sem afa- zeres. Atico: — Que dizes? Para as demais obras que escteves- in: Se Suess Cos ae mimero do que qualquer um de nés — quando tiveste tempo livre? farco: ~ Hi, as vézes, alguns momentos que nos so- bran ore ise parte, nio 05 deixo que se desperdicem Por exemplo, se me so concedidos alguns dias de férias no campo, procure acomodar a duragio désse tempo 0 que quero escrever. Mas a obra histérica no pode ser executada sem tum Scio pré-estabelecido e muito menos ser terminada em tem- po reduzido, Por outro lado, quando comego uma coisa, no me agrada passar para outra; afigura-se-me mais dificil reto- mar uma tarefa interrompida que acabar de uma vez uma tarefa jé iniciada, 36 Atico: — Tudo isto gue dizes mostra que necesitas de ween bteade-ou de qualquer outra missao semelhente, que te deize livre e tranqitlo 35, Eu contava mais com o descanso que nos Porloaa a idade avangads, pols que ato me coger mar assento de conselheiro, como. faziam ‘NOssos antepassa- dos, dando consultas, cumprindo as gratas © hones ate, gasies de um velhice que néo seria inerte. Assim, posers edicar todo o tempo que quisesse, nao s6 ao trabalho que me pedes, mas também a muitos outros, mais fecundo! ¢ "ne *6i0 que ninguém aceite tua desculpa e que funce termines tua carreira de orador. Principalmente %, quando mudaste de estilo e adataste nova forma de de, giténcia; assim como teu amigo Réscio, ao ‘aproximar-se Maas pakcempanhamento das flautas, tu também, dia @ dis Vals abandonando os aparatos que te eram familines, pon: {2 de hoje um discurso teu muito pouco se afastar da actenn Gade filoséfica. Como ésse estilo nao. parece incompativel que safes rare estas condigées, no hé motivo algum para ue sejas obrigado a abandonar 9 fro. Quinto: — E eu, de minha parte, julgava que nosso; con- Gidadios te veriam com agrado se te dedicassea ao mister we 87 Breceitos que conduzem a saivagio ou & fama, como poderd ainda induzi-los a virtude, afasti-los do vicio, consdlar os aflitos ¢ imortalizar em monumentos etenos os feitos e os ditos dos heréis ¢ dos sibios, junto a ignominia dos malvados, Ensas slo as miltplas © grandes faculdades quo descobrem no homem 0s que desejam conhecer-se a si mesmos; © a sabe- doria é que a3 produz e educa, i Atico: — O teu elogio da sabedoria é digno e certo. Mas @ propésito de que tu a elogias? ~ Marco: — Em primeiro lugar, Pompénio, ela se relaciona com a matéria de que vamos tratar ¢ a que pretendemos dar uma hierarquia; pois no teré hierarquia se nao a tiver tam- bém sua fonte. Em segundo lugar, fago éste elogio com prazer e, espero, com razio, porque n&o posso omitir uma sabedoria a cujo estudo me dedico e ao qual devo tudo 0 que sou,, seja 0 que for. Atico: — Fizeste-o com retidao, justiga e devogio e, come bem o dizes, assim deveria ser feito. LIVRO SEGUNDO Atico: — J& passeamos bastante e ints abordar uma par- fee nae fs eMposigéo. Queres, entio, que mudemos de lugar, indo até a Ilha do Fibreno (suponho que assim se cha- ma o outro rio) para terminar a conversa sentados ld? Marco: — De acbrdo. Este é precisamente o lugar que s6i adotar com 0 maior prazer para refletir, escrever ou ler. Atico: — Estou aqui pela primeira vez e nfo posso can- sarme do lugar. Desprezo agora as luxuosas casas de cam- Bo; os pisos de mérmore e os tetos trabalhados. Como nio tir déstes cursos d’gua 20s quais denominam Nilo e Euri- po, depois de haver visto o que estou vendo? Por isso, assim como tu te referias inteiramente & Natureza, quando ha pouco falavas da Lei e do Direito, do mesmo modo eu enso que a Netureza impera nas coisas que apetecemos para lar repouso € prazer ao nosso espirito. Antes eu-acrediava {que nesta zona ni havia mais que rochas e penhastos, ¢ teus iscursos ¢ teus versos me Ievaram a cxé-lo; logo, me pare- cia estranho que éste lugar te agradasse tanto. Porém, agora, 20 contririo, © que me parece estranho & que possas ir & ou- tra parte, quando te afastas de Roma, Marco: — Realmente, quando posso afastar-me por vie rios dias, especialmente nesta época do ano, venho ‘desfrus far dos encantos © do ar puro desta paisagem, porém, isto acontece poucas véres. Ademais, aqui tenho outro motivo de prazer que nada significa para’ ti Atico: — Qual & Marco: — Vou dizer. Esta é minha verdadeira patria e a de meu irmio, aqui se realizam nossas ceriménias familia. Fes, aqui viveu nossa raga, aqui subsistem muitas recordagées do nossos antepassados. Que mais queres? Vés esta casa de i 61 ‘campo em seu estado atual, aumentada por nosso pai, que, por "causa do sun md sudo ‘aqui morou quase tde sua vida, estudando, Mas, te direi que nasci neste mesmo lugar, no tempo do meu avd, quando a casa era ainda modesta, de acbrdo com os antigos costumes e parecida com a de Curio na Sabina‘. Por isso experimento em minha alma um sen- timento inexplicével que, sem dévida, ¢ 0 motiva de minha preferéncia por éste lugar. Assim se diz. daquele /homem tio sébio que mais valia sactificar sua imortalidade ‘do que re- nnunciar.a rever Itaca. — Creio, efetivamente, que af tens uma razio ex- eames ai preferir vir cé e ter amor a éste lugar. Eu mes- mo, confesso-te, estou me sentindo cada vez mais amigo des- ta casa e déste lar no qual nasceste e te eriaste. Hé algo misterioso na emogio que nos provocem os lugares onde es- to as recordagdes daqueles que amamos e admiramos. sm que na minha querida Atenas nfo sio tantas as ane sapertanies © ss pans ‘obras de arte antiga que me deliciam, como a recordacéo dos grandes homens e a visio dos lugares onde costumavam morar, sentar discutir; e também tenho muito interésse em visitar seus sepuleros. Por isso, daqui por diante, olharei com mais simpatia o lugar do teu nascimento. Marco: — Entio alegro-me de haver-te mostrado 0 que quase posso chamar de men berco, it I ido. Atico: :— E eu alegro-me muito de havé-lo conbeci Mas, que querias dizer quando afirmatte h& pouco que éste lugar (¢ entendo que se trate de Arpino) é tua verdadeira pitria? Tens, por acaso, duas patrias? Nao temos uma sé pitria comum?” Ou dirias tu qile a pétria do sibio Cato *° nfo foi Roma e sim Tiisculo. Marco: — Eu digo que Catio © todos os cidadsos dos smuniefpios tém duas pitrias, uma natural e outra legal. Assim x exemplo, Catio, oriundo de Tiseulo, tinha dizeito & ci Soacs Gera, mete gan, ale Gumdias per nasci- mento ¢ romano por lei, teve uma pitria de cariter terri- torial outra de cariter juridico. Outro exemplo: teus que- 6 ridos aticos, antes da vem que Teseu thes ordenou abendonassom seis eanpor 70 aoa, ee gue mam sty, eram por sua vez membros da sociedade local © cidadios da Atica. Da mesma forme acreditamos perten- cer, a0 mesmo tempo, 4 patria onde nascemos ¢ a que nos adotou. “Porém, ext nosso amor devemos day jrefeie ela cujo nome — a repiblica — implica na ida de ume cidade comum; devemnos marvé: por ela, dedicar-nos inteira. mente a ela, pornos a seu servico e, de certo modo, consa. grarlhe todos os nossos bens. Porém, a pétria que nos ser. viu de bergo nos parece quase tio doce quanto a que nos adotou. Por isso no negarei jamais que esta é minha patria, mesmo sendo menor que a outra e inclufda nela. E, do mes. mo modo, todo habitante dos municipios tem duas cidades, se bem que ambas formem uma s6 cidade. Atico: — Entio Pompeu tinha razio quando, num pleito 20 qual defendia Ampio* contigo, disse, na minha presen- $4 que o Estado romano deveria experimentar 0 maior a} decimento por éste municipio, de onde haviam vindo dois de seus salvadores. Por isso, sinto-me, agora, disposto a ad- nitir também que o lugar de teu naseimento é tua pitria, mas, j& estamos na ilha ¢ ndo h4 lugar mais agraddvel. ‘Corta como uma espada as 4guas do Fibreno, dividindo-3§ em duas artes iguais que, depois de banBiar seus lados, afluem mais abaixo e voltam a reunir-se; assim a corrente deixa um es- Pago tio limitado, que é apenas suficiente para uma pequena palestra. Parece que teve 0 propésito de nos preparar um lugar para nossas discussées, antes de langar-se ‘de imediato no Litis, onde abandona seu nome mais eseuro — como quem Penetra numa familia patricia —, refrescando consideravel- mente suas Aguas. Conheco muitos arroios e, sem divida, nunca achei nenhum mais frio que éste, a ponto de nio me Bhever @ prové-lo com o pé, como faz Séerates na Fedro de to, jn lfareo: "Assim & porém, suponho qie éste Liris nada deica a desejar ao teu Tiamis de Epiro, a que tio a middo se refere Quinto, Quinto: — Tens raxio, Nao ereias que existe algo mo- Thor que 0 Amalteo e os olmos de nosso ‘Atico*®. Porn so 63 Sarroat assim vos parece, poderiamos sentar aqui na sombra e vol. tar & nossa discussdo, no ponto onde deixamos ontem, ‘Marco: — Fazes bem em pedir-me, Quinto. Eu tinha a esperanga de haver escapado, mas vej que no me perdoa- rés a menor parte de minha’ divide. . Quinto: — Comeca, pois; dedicamos a ti todo o dia. ‘Marco: —“O canto das musas comega por Jépiter”, como digo no inicio de minha tradugio do poema de Arato*=, - Quinto: — A que vem a citagio? Marco: — Neste caso devemos tomar nosso ponto de par- tida em Jipiter e nos demais imortais. Quinto: — Muito bem, inmio, assim & que deve ser feito. Marco: — Vejamos, pois, uma vez mais, e antes de pas- sar ao estudo das leis particulares, em que consiste a auto- ridade e a indole da lei. Como devemos relacionar téda nossa legislagio, seria perigoso deixar-se enganar casualmente por erros de vocabulério e desconhecer a racionalidade da notma sobre cuja base estabeleceremos as regras juridicas. Quinto: — De acérdo. Tens af um bom método. Marco: — Parece-me entio que, na opiniio dos mais eminentes sfbios, a lei nfo ¢ 0 produto da inteligéncia hu. mana, nem da vontade popular, mas algo eterno que rege 0 universo por meio de sibios mandatos stbias proibigoes, Logo — como costumavam dizer — esta lei que é, por sua ‘vez, a primeira ¢ a iltima, identifica-se com a mente divina, enquanto esta trabalha racionalmente, dando ou tirando im. ako tédas as coisas. Portanto, é legitimo celebrar uma Ei que ¢ 0 presente dos deuses 20 genero humano e que é a razdo © a inteligéncia do sibio que, no entanto, é capaz de mandar e proibir. Quinto: — J& tocaste neste. ponto varias vézes. Porém, antes de abordar o tema das leis populares, faz-nos 0 favor de demonstrar a autoridade desta lei celestial para proteger- receba iniclagio alguma, salvo nos tistéti sregos faa segundo © costume. “ “Que 0s sacrilégios imperdogveis sejam considerados como impiedades © que os demais sejam red - inpiedaes © qu ais sejam redimidos pelos sacerda. “Que nos jogos piiblicos, onde se tticam, sejam corri- das de carros, pe livres, 0 canto ea mist de tan ou de flauta, a alegria mantenha.se moderada © se associe as homenagens dos deuses. ive #8 conserve o que hié de melhor 10s sites antigo. “ 2ue com excegio dos sacerdotes da Mie do Monte Hae sdmento nas festas legeis, nao se faga eelets de Gus zaauéle que haja roubado ou arrancado algum ob- ito sagrado, ou colocad 0, sej io sara "8 cilocado s0b a protegdo do santutio, soja 05 deuses castigam perjirio, com a destruigéo, of ho- mens, com a infémig, PH, — “Que 05 pontifices eastiguem o incesto com «pena md “Que o impio nfo se atreva aplacar dédin cblera dos deuses, —_ = le (Que os votos recebam um cumprimento eserupul Ve 2 violagio do direto traga um castigo, SPU sit one MingUeM consagre um campo e que se imponham Himites & consagragio do ouro, da prata edo matty Que os ritos privados se mantenham eternamente “Que se declarem santos os direitos dos deuses Manes, que se reconhega a divindade dos bons defuntos @ se teria, vam 0s gastos funerdrios." Atico: — Acabas de completar uma logislagio que é im- Pressionantemente sucinta. A mim, putes, seas que tua constituigao religiosa pouco difere das leis de Nums ¢ de nossas tradigdes, 1 Marco: — Nao vimos em meu tratado da Repiblica que, segundo demonstrou Cipiio, nosso antigo Estado foi o me. Thor de todos? Logo, nao achas necessério dar ao melhor Estado as leis que Ihe correspondem? Atico; — Naturalmente, sim. Marco: — Pois bem, deves esperar leis que conservem Sito tipo melhor de Estado. E hoje, se eu chegisse a. pro- por algumas que agora néo existem ou munca existiram entre és, nem por isso deirariam de aproximar-se. dos costumes de nossos ‘antepassados que, entio, tinham férca da lei. Atico: — Defende, por favor, estas tuas leis, de modo que eu posse dar a palavra de aprovaci Marco: — Que dizes, Atico? Nao as votarés se nao 0 fizer? Atico: — Se néo o fizeres niio votarei nenhuma dispo- siioMimportante; quanto as demais, porém, deixarej a teu critério, se assim 0 desej Quinto: — Sou da mesma opiniao. Marco: — Cuidado que pode ser demais| Atico: — Oxalé que sejal Nio temos nada de melhor a fazer. Marco: ~ Minha lei manda aproximarse dos deuses com alma pura. Digo alma porque ela exprime tudo. Isto nao inclui @ pureza corporal, porém, 6 preciso entender que, em vista da superioridade da alma sdbre 0 corpo, se se observa @ pureza corporal, com muito mais razio deve-se conser- vat a da alma. Pois a impureza do corpo pode ser elimi. nada por ablugdes e por uma espera de alguns dias; entretan. to, a mancha espiritual nao deseparece ‘com 0 tempo ¢ nao hd correntes de Agua capazes de limpé-las. Manda'se ofere. cer piedade mio riquezas para significar que a retidao é agradavel a Deus ¢ que 0 luxo deve ser evitado. Queremos, com feito, que entre os homens a pobreza seja igual a ri: jueza; entio, por que manté-la longe dos deuses, introduzin- lo © luxo nas ceriminias religiosas? Por outro lado, o que ‘menos pode agradar a Deus sio as disposigées que impedom 2 Dizse que 0 proprio Deus castigars, ¢ mio o juiz humano, im o temor a uma pena atual parece dar maior O, calto dos deuses particulares, sejam no- Je, Lorasteiros, dé origem a confusdo na religifo e into. duz rituais desconhecides por mossos sacerdotes Co pois render culto a0s deusts conhecides pelos antepassados, 05 mesmos observaram esta lei. Crelo que deve haven santudrios nas cidades e no sigo os mages da Pérsia que, se- izem, i ia de atear fogo aos Ses e wnds mesmos trabalhamos melhor com 0 propésito de fomentar a piedade para com os deuses; quisemos t8 los nas cidades onde habitamos. ‘Esta opinizo, pois, produz for- Ras religiosas que sio tteis para os Estados. "Disse sanito ‘bem Pitégoras, homem de tanta cultura “ que nunca a pie- ide ¢ a relgtio infuem tanto nos animos chmo quande fa. Gemos culto 20s deuses; também disse ‘Tales, ofmais aati dos Sete Sabios , que os homens devem crer que tule quan- to tém diante da vista esta cheio de deuses. Assim, serao. mais Puros, como se tivessem estado nos santudrioy mais re. servados. Diz-se, com efeito, qué os deuses sao visivels any clhos © néo sé ao espirito. ' Pela mesma rac, firma see Tegra de estabelecer bosques sagrados no campo. Nao hé, mee bouco, motivo de desprezar a religiio dos Lares, que Pes tm dos antepassados, e que senhores ¢ eseravos ‘prati- Guam a mesma propriedade e a pouca distancia da ‘casa, Conservar os rituis da familia e dos antepassados significa sonieryas uma religito que quase nos foi transmitide’ pelos roprios deuses, pois que os tempos antigos estavam Dns Berto das deuses. A lei que prescreve o culto dos homens sio divinas, Também convém divinizar virtudes humanas fade anteligéncia, a piedade, o valor e a boa fé. Em Roma, tbdas estas virtudes tém seus templos consagrados olicat mente, para que seus possuidores (que sio s homens 73 de bem) acreditem que éstes deuses residam em suas almas, ‘Ao contrério, of atenienses agiram muito mal, quando, uma vez expiado © crime cometido no caso de Cilio, ¢ por ini. lative de. Epiménides de Creta, edficaram um santusrio 4 afronta ¢ a imprudéncia. Devem-se, pois, divinizar as virtu- des, nio os vicios. O velho altar da Febre, sObre o Pala. tino e o da m4 Fortuna, sdbre o Esquilino, devem expropriar- ~Se ¢ todos os deplordveis monumentos déste tipo’ devem su- primir-se. € preciso inventar nomes de deuses, mais vale recorrer a Vica Pota (que vem de Vencer e Poder) ou a Stata (que vem de estar de R6) ou a sobrenomes como os de Jupiter Stator ® e Invencivel, ou, ainda, a nomes de coi- sas agradiveis, como a Saiide, a Honra, a Riqueza ou a Vi. tira ", posto que a expectativa dos ‘acontecimentos fava- révels levanta os ‘inimos, Colatino" teve razio em edificar ‘um templo 4 Esperanca. "Podemos divinizar a Sorte hodiema (pois vale tolor os dias), a Fortuna ocasional, que se refere icularmente ao azar, ou a Fortuna que nos acompanha de ‘o nascimentto. .. ra, vemo regime das festas © dos dias feriados, que mas suspender 05 pleitos e as disputas entre os. ho. mens livres e as tarefas e os trabalhos entre os escravos; a distribuigio déstes dias no ano deve favorecer ao cumpri- mento dos trabalhos agricolas. Para obter no tempo devido os grfos os animals rectmnascidos de que se necessitam 10s sacrificios ‘requeridos por lei, & preciso observar cuida dosamente a rogra das intercalagdes; éste. sistema, introdu. ido pelo stbio Numa, foi destruido por nogligéncia dos pon- tifices que vieram depois. ‘Tampouco deve-se mudar a regu- Jamentacio pela qual 0s pontifices e os arispices decidem que a vitima he de ser sacrficada e quais os deuses préprios phra 0s adultos, para os lactentes, para os machos ¢ para at fé. meas. A regra de que haja viros sacerdotes para todos os Aeuses © certos sacerdotes para eertos deuses possbilitar, a atividade dos jurisconsultos ¢ a realizagdo. das cerimbniss religiosas. Quanto & Vesta, que conhecemos sob um nome rego (pois conservamds quase exatamente a_palavra gee, Fear traduzila*),. como protege algo que, de certo modo, €00 lar da cidade, as seis virgens devem astegurar seu culto, 74 A el seguinte importa, no sé a religiao, mas, também, dade ispondo que ndo devem realizar. foams pabna ee tgH2 Privada sem o coneuro des que foram ptblicamente designados para. presidir ay eeue bn, religiosis. 0 fato, pois, de que 6 povo sempre neweste as conselho ¢ da autoridade dos aristocratas & um fator de coe Sie politica. A distribuigao dos sacerdotes mio deira de lado nenhum tipo de religiio legitima. Com efeito, alguns se dedicam a apariguar os deuses; sio os que preside sen ‘ménias solenes do culto; outros a interpretar as predigses des profetas, mesmo que com o propésito de interpreté-las em Sande mimero, 0 que nfo terminaria nunca, ov de permity ue as predigées, piblicamente reconhecidas, possam ver ec, miuadas por pestoas alheias ao Colégio. No ‘Estado, porter faitelto de maior importincia e de maior prestigio &o dor dugures, 20 qual esté ligada a autoridade.® ‘Nas digo isso Ponte ou mesmo sou dugure, mas porque se deve opinat Giim. Pos, em matéria juridica, que pode ser superiar ao direito de adiar ow dissolver comidice bn assemb'Gias mar- cadas ou iniciadas por ordem dos magistrados otgdoe ig maior imptrio ou de maior poder? Pode haver algo mas in eeraate que 0 ato de um sé dugure que, ao pronunciar as palavras “outro dia” Pode aver um poder mais grandioso que o de obrigar os sGnsules a abandonar sua magistratura? “Ou um poder mare Tobritivel que o de dar ou negar o direito de revnir 0 pove ou @ plebe? Que diremos do direito de anular uma lei une, gularmente apresentada, como se féz por decreto do Colégio, fom respeito a lei Ticia, ou por consetho do cénsul ¢ ugure Filipe sbbre a leis Livia "Pe pode aprovar, sem a auto- idade dos dugures, um ato do magistrado nas vonsy utara ou militar? Alico: ~ J& vejo e acredito que aqui temos grandes atri- buigées. No Colégio, Pordin, hd sérias discussaes entre Mar- celo © Apio, dois excelentes éugures, cujay obras oe cates 8 nas mios*®, © primeiro aceita a idéia de que os auspicios foram inventados para bem do Estado, entretanto, © outro considera que a Ciéncia poderia chegar a ser quase divina- téria. Quero conhecer tua opiniéo a respeito, ‘Masco: — Minha opinigo? Greio que a adivinhaggo (ou a mantikén, como dizem os gregos) existe realmente e inclui aquela nossa ciéncia que se baseia nas aves e ontros signos parecidos, Se admitirmos, pols, que os deuses existem, que govemam 0 mundo por meio de sua inteliggncia, que pro- tegem 2 Humanidade e que nos podem mostrar sinais rela tivos do futuro, nfo encontro razio alguma para negar a existéncia da adivinhagio. Agora estas suposigGes sio corre- tas. Logo, a conseqiiéncia a que aspiro resulta necessaria- mente delas. Ademais, hé muitos exemplos, no s6 em n0ss0 pais (onde abundam), mas, também, em todos os reinos, todos 0s povos e tédas as nagbes, para provar que inimeras coisas anunciadas pelos Sugures resultaram extradrdinaria- mente certas. Pollo, Melempo, Aufiaro, Caleas e Helena niio seriam, pois, tio famosos; tantos povos, como os frigios, 0s lica6nios, os cilfcios e, sobretudo, os pisidios nao teriam conservado até hoje a arte divinatéria se o tempo nio nos houvesse demonstrado sua exatido. E nosso Rémulo nio Ihaveria recorrido aos auspicios para fundar Roma, a recor- dacdo de Alto Navi nfo teria durado tantos anos se todos astes adivinhos nfo houvessem dito muitas coisas de modo estranho, mas de aedrdo com a verdade. Nao hi divide, porém, de que esta cincia e esta arte dos dugures j4 desa- pareceram, por efeito dos séculos e da negligéncia. Por isso, nao estou de acérdo com Marcelo, quando nega que nosso Colégio nunca as haje possufdo, mas, tampouco, compartilho da opiniio de Apio quando sustenta que éste Colégio as pos- sui ainda. Parece-me que, entre n0ssos antepassados, a cién- cia dos dugures desempenhava um duplo papel: as vézes era empregada para resolver difieuldades politicas e, muito & mide, para aconselhar uma norma de conduta. Atico: — Francamente, creio que tens razio, e adiro, por completo, & tua teoria, Vai, porém, adiante, 76 Marco: — Seguirei, pois, ¢ tao brevemente quanto possa. Agora. chegamos ao diteito de guerra. Minha lel requer que, no inicio, na seqiéncia e no fim da guerra, prevalegam o Direito © a boa f, ¢ estabelece, ademais, intérpretes piiblicos déste regulamento. Quanto as préticas’religiosas dos. anis- po cee € purificagdes, creio que a prépria lei 6 Atico: — De acdrdo, pois todos éstes assuntos esto re- lacionados com as ceriménias religiasas. Marco: — O que vem depois, porém, nio sei, Tito, como © aprovarés ou como o reprovarei. Atico: — De que se trata? there t727! ~ Dos snerificios noturnos, realizados pelas mu- eres. Atico: — Estou, porém, de acérdo, sobretudo tendo em vista a excegio, que dé tua prépria lei, em favor do sacri- ficio solene e piblico, Marco: — Que sera de Taco, de teus eumélpidas @ dés. tes augustos misiérios se suprimimos as coriménias notumas? Estamos, pois, dando leis, no s6 20 povo romano, mas a todos os povos bons e estiveis. ae Atico: — Creio que excetuas os mistérios nos quais nos iniciamos. Marco: — Sem divida, excetuo-os. Pois, entre as mui- tas instituigdes excelentes ¢ divinas que tua’ Atenas imagi- now ¢ introduziu na vida humana, a mim parece que nenhuina é melhor que estes mistérioss pois, arrancando-nos da vida selvagem @ bérbara, nos poliram e suavizaram com vistas a uma existéncia digna do homem. Nas chamadas inicia. $0es, encontramos, com efeito, verdadeiros principios de vida ¢ recebemos normas, nao sé para viver na alegria, mas, tam- ‘bém, para morrer com maior esperanca. O que me desagra- de, porém, nos rituais noturnos, sio as liberdades a que se permitem os poetas ebmicos. Se Roma houvesse conhecido ‘@ mesma licenciosidade, a que extremos néo haveria ch © individuo que assistiu, com propésites libidinosos, a° um ~ 7 sacriffcio onde nao se tolerava sequer a presenga de olhos indiscretos? Atico: — Muito bem; propée esta lei para Roma, porém nfo nos tira as nossas. Marco: — Volto, pois, ao nosso assunto. Devens em- jenhar-nos em cons je @ reputactio das mulheres es- ioe sob a protego todos os allow e da clara fuz do dia, fazendo que as iniciagses no culto de Ceres se realizem do modo praticado em Koma. Neste assunto a severidade de nossos antepassados fica demonstrada pelas antigas decisdes do Senado, no que se refere as Bacanais, assim como pelos tribunais especiticos ¢ pelas decisdes judiciais que, entio, instituram os cOnsules com o auxilio de um exército. E nossa dureza no parecerd excessiva se recordarmos que, em plena Grécia, o tebano Pagondas proibiu tédas as ceriménias noturnas, por meio de uma lei eterna. Quanto a Aristéfanes, © poeta mais divertido da antiga comédia, combateu de tal maneira os deuses novos e as ceriménias de seus cultos, quey em sua obra, vemos Sabécio e varios outros deuses peregri- nos, submetides a julgamentos e expulsos da cidade. Que 0 sacerdote pitblico livre do temor os ofensores involuntérios depois de ordenar a devida expiagao, porém condene ¢ con- sidere ‘mpia a ousadia dos que admitirem rituais infames no culto. Em vista da divisto dos jogos piblicos entre tea- trais ¢ circenses, praticaram-se no circo 0 exercicio fisico, a corrida, o pugilato e a luta, assim como as corridas de ca- valos, até chegér a uma vitbria decisiva; 0 teatro, entretan- to, dedicar-se-4 20 canto, 4 miisica de lira ¢ flauta, porém sempre com a moderagio prescrita por lei. Acredito, efeti- vamente, como Plato, que nada atinge mais facilmente as almas temas e brandas do que os diferentes sons do canto, dos quais se pode apenas dizer quanto vale seu poder para 6 bem ou para o mal". Exaltam, pois, os lamentos e fazem lamentar 05 exaltados, provocam 'o relaxamento e inspiram a tensio. Por isso, em muitas cidades gregas existin a ‘preo- cupagéo de conservar 0 tom antigo das vozes; seus costumes abrandaram-se na mesma medida em que se abrandaram os cantos, seja, como acreditam alguns, porque se deixaram se- 8 duzir pela suavidade e pelo encanto corruptor desta misica, ou porque outros vicios alteraram sua austeridade, madenda 0s ouvidos e as almas até provocar a mudanga dos cantos, Assim ¢ que o mais sébio'e, sem divide slguma, 0. mais culto dos gregos teme esta corrupsao, negando a. possibili, dade de mudanga das leis musica sem 2 conerpontonte at teracio das Jeis piblicas. A men ver, nio hé motivo de te. méla tanto, nem motivo de desprezé-la de todo. Vemos, Bes, aos 2 pbs, que antes estava satisfeito com a agra- livel soveridade dos ritmos de Livio e Névio", nao. pode, agora, dela desfrutar sem mexer 0 colo ¢ os olhor a0 come pisso déstes ritmos. A antiga Grécia condenava,rigorora. mente éstes abusos, prevendo, de Jonge, que 2 conupgio penetraria gradativamente nas almas dos cidadios e, rapa: 20 mau gesto e as mAs teorias, provocaria a queda repentina de todos'os Estados; parece, ao menos, que a austera Lace. deménia mandou romper as cordas que Timéteo havia adi- cionado as sete da lim tradicional ®, A lei diz, depois, que se deve conservar 0 que hé de melhor nos rituals sintigés. Quando, pois, os atenienses con- sultaram a Apolo Pitio para ‘saber a que cerimOnias religi. sas tinham que dar preleréncia, o ordculo declaroes “aque: Jas que praticavam vossos antepassados”, e quando voltalam 8 insist, dizendo que os costurhes ancestrals eram modifi cados constantemente ¢ perguntando qual déles devia ‘ser o preferido, o deus respondeu: “o melhor". E, com efeito, te- Mos que © mais antigo, isto , 0 mais proximo de Deus, também 0 melhor. Suprimimos téda a coleta de fundos. sal. vo aquela que se faz durante uns dias em favor da mie do Monte Ida; pois esta pritica fomenta a superstigio e esvazia as casas. Prevé.se um castigo para 0 sacrilégio, ¢ mio s6 para aquéle que rouba algo sagtado, mas para aguéle que ‘abe trai qualquer coisa colocada sob a protegio do. santuério Hoje, pois, tais depésitos costumam ser feitos em muitos templos. Diz-se que Alexandre deixou assim dinheito em Cilicia, no santudrio de Soli, € que o famoso ateniense Clis- tenes confiow os dotes de suas filhas a Juno e Samos, por. que sentia temor pelo futuro de sua sorte’, Nao hé por que entrar em mats detalhes sdbre os perjirios ¢ os incestas Que a = 79 08 {mpios ndo se atrevam a fazer presentes a0s deuses para aptcigut-ls. Que esnitem Patior que mos profbe duvidar das disposigses divinas, dado que nko pode haver homem bom que receba presentes de um mau"! Sbbre o cumprimento dos votos, diz-se bastante na lei.. € uma promessa que nos obriga diante de Deus. 0 castigo Jmptsto por um crime contra rego néo admie justa re- clamagio. Tenho, acaso, que recordar aqui os exémplos dés- tes criminosos de que esto cheias as tragédias? Prefiro in. Vocar 0s que temos & vista. Sem davida, temo dar assim @ impressio de que me considero superior sorte humana, porém come falo convosco nada calarei, esperando que mi, has palavras sejam agraddveis aos deuses imortais, mesmo gue més para os homens. Na época de meu destérro, por obra criminosa de cidadaos perversos, yiolaram-se todos* os direitos religiosos, insultaram-se os nossos Lares familiares ¢, em seu lugar, edificouse um templo de licenciosidade, en. quanto se expulsava dos santuérios 0 homem que os havia salvo. Agora, vé por um momento como terminou o assun. to, sem necessidade de citar ninguém. Eu, apesar do con- fisco e da perda de meus bens, nfo pude tolerar que os fmpios profanassem a deusa protetora da Urbe ¢ a trasla. dei da minha casa até a de seu pai, conseguindo para mim a aprovagio do Senado, da Itilin ¢ de todos. o§ povos por aver salvo a pitria. Que coisa mais gloriosa pode acon- tecer a um homem? Porém, alguns daqueles cujos crimes profanaram e aviltaram a religiio, encontram-se dispersos e derrotados; © os instigadores principais déstes atentados. os mais sacrilegos de todos, no s6 padeceram em vida todas as formas de ignom{nia ¢ de desonra, mas ainda nao tiveram sequer sepultura e exéquias regulares *, Quinto: — Sci, meu irmao, e dou aos deuses as devidas gragas. Freqiientemente, porém, vemos que as coisas termi- nam de um modo diferente. Marco: — Quinto, temos idéias erradas sdbre 0 castigo divino, deisamo-nos enganar por opinides populares e neo ‘conseguimos perceber a verdade. As misérias da Humant. dade sio para nés a morte, a dor fisica, a angistin e 2g pe. 80 nas judiciais; tudo o que, nio ne; a ace vida humana ¢ afige mumerosos homens de tees? 0 eats eee tum duro castigo, um castigo interior e imenso, ‘lem destes conseqiiéncias. Aquéles homens que nunca haviam sido ini. migos meus, nem da pftria, vimos corroendo.se altenada. 0, de temor e remorso, ¢ qualquer coisa terror ¢ as vézes pelo a certos tribunais que corrompendo os Pose oe -me. Nao prosseguirei; sobretudo, depois de haver obtido mais castigos Hue os reclamadon 6 direi, em resumo, que 0 castigo humano oferece duplo aspec- {o: atormenta as almas dos vivos e dé tio m4 fama aos mor. tor que sua ruina parece legitimada pelo julgamento e ale- Bria dos vivos. Que nio se consagrem os campos. Estou de acbrdo com Platio que, se me permite traduzilo, diz mais ou menos seguinte: “A terra, pols, como o lar das casas, esth conta. Brida a todos os deuses. Logo, ninguém deve consagréla Pela segunda vez. © ouro ea prata despertam a inveja, uando figuram nas cidades, nas casas particulares © nos ten, ples. © marfim, extraido de um corpo sem vida, néo é um dom digno para um Deus. © bronze ¢ o ferrd'sa0 instiu- mentos de guerra e néo convém “a um templo, Assim con- Sagrai nos santudrios piiblicos um objeto qualquer de ma. deira (feito, porém, de uma s6 madeira), ou também de pe- dia; se se trata de um tecido, 0 trabalho necessétio para Sua fabricagio niio deve superar o de uma mulher durmnte um més. A cir branea é a mais adequada para um deus, gm todos os casos, porém, especialmente, no caso de um te cido; deve-se evitar as tinturas, salvo nas insignias militares, 0s sacrificios mais divines sio as aves e demais imagens rea. Uzadas por um s6 pintor em um sé dia Que tBdas as ovtras divas se conformem com éstes exemplos.” Tals si0 a8 Sxigéncias de Plato". Nao dou, porém, uma definigao tio fattta das minhas, pois me deixo vencer pelas riquenas dos homens os recursos da época. Suspeito que a agricultura Se tomaria mais perectvel se a supersticao interviesse no cul. tivo e no trato do campo. 81 Atico: — Jf entendo éste ponto. Falta examinar a per- petuidade dos rituais funerdrios e 0 direito dos Manes. ‘Marco: — Pompéniol Que meméria a tua. Eu os ha- via . Atico: — Assim creio, porém ea lembro especialmen- te proponho sua discussio porque estiio relaciogados com © Direito Pontificio e com 0 Direito Civil. : Marco: — £ certo. Hi sbbre éste ponto uma quantidade de consultas e de escritos, obras de gente muito sagaz. De ‘minha parte, neste discurso, cada vez que a diseussi0 nos leve a um capitulo particular do Direito, examinarei o me- Thor que possa o capitulo correspondente a0 nosso Direito Civil.” Nao o farei, porém, com o propésito de indicar a fonte desta segio do Direito, e, assim, tOda inteligéncia um pouco gil poderd, facilmente, resolver os casos ou proble- mas novos que se apresentarem, conhecendo os principios de que deriva a solugio. Os jurisconsultos, entretanto, tra- tam de nos dar a impressio errada de que sabem coisas mais numerosas.¢ dificeis do que sio na realidade. Ou, mais pro- vavelmente, ignoram © modo de ensinar, pois, apenas conhe- cer alguma coisa nfo é arte; temos, também, que saber en- siné-la. Por isso, costumam dividir até o infinito 0 que cons- titui um conhecimento Gnico, como fizeram, neste caso = ticular — e com quanto exagéro! — os dois Cévolas, ambos ntifices e grandes autoridades em Dircito. Assim dizia o Iho de Public: Freqiientemente ouvi repetit meu pai que in pode ser bom pontifice se nfo conhece o Direito Givil. Mas, & preciso conhecé-lo todo? Por qué? Que im- porta 20 pontitice saber s6bre o direito das paredes, dos canais e de outras coisas que no estio vineuladas a religiao? E éste xiltimo direito, em que consiste? Reduz-se, creio eu, ao problema dos rituais, dos votos, dos feriados, dos sepul- eros e a outros semelhantes. Entéo, néo hi por que exa- gerar tanto a importancia destas questées; quando sao, na realidade, de pouca importincia, salvo a dos rituais, que ‘ocupa lugar de maior relévo © se resume em uma s6 frase: devem conservar-se sempre; logo, as familias devem trans- mitti-los, ou, como se diz em minha lei, os rituais devem set 82 Perpétuos. Essas disposigdes foram estabelecidas por auto- tidade dos pontifices. Para evitar que, com a morte do pai de famflia, morra a recordagio dos rituais, quisse encare- gar déles 05 que herdaram a fortuna déste pai. Uma vez assentado dito princfpio (que basta para conhecer a ma. ‘téria), surgem questdes inumerdveis, que enchem os livros dos juriseonsultos, Bei &stes querem saber a quem corres- ponde a obrigasio dos rituais. Hé motivos excelentes em fa- Yor dos herdetres, porque ninguém ocupa mais adequadamen. te o lugar do defunto, “Depois, vem o legatério que, por m do testamento, recebe uma parte equivalente a de vodos os herdeiros, que é também regular e conforme o objetivo alme- fado. "Em terceiro lugar, se nao hé herdeiro, o que adqui- lu, por prescrigdo, a maior parte dos bens do defunto. Em Quarto lugar, se ninguém adquiriu nada desta forma, © ore- dor que retenha a maior parte dos bens. Por fim, 0 devedor do defunto que ndo saldou sua divida © que, por iss0, se considera adquirente da mesma quantidade. Isto 6 9 que aprendemes de Cévola, porém, néo é 0 que estabeleceram nosos antepassados, que diziam 0 seguinte: hé trés manei- tas de se ser obrigado aos rituais, como herdeiro, como le- Salério da maior parte ou como legatério que haja tomado s6 ‘uma porcao desta maior parte. Mas, sigamos 0 pontifice. Vé- -se que tudo depende de um s6 principio: os pontifices querem que 0s ritos sejam inseparéveis dos bens e que as mesmas essoas se encarreguem das festas e das ceriménias. ‘Também ensinam os Cévolas que, em caso de uma patticipacio dos bens, e suponda que o testamento nio haja_previsto neabu- ma dedugio, se os legatirios tomam menos que a parte cor respondente a0 conjunto dos herdeiros, néo devem estar obri- gades aos rituais. Sdbre 0 mesmo ponto sua interpretagio € diferente, quando se trata de uma doagio; pois, hes oe, 86 & vilido o gue tenha sido aprovado pelo pai de familia sob cuja autoridade esté 0 doador, e nio o é que techa sido realizado sem o consentimento do. pai ou sem sua rati- ficagdo, Este assunto dé origem a varios pequenos proble- mas ¢ quem nio os entenda poder resolvé-los facilmente por si mesmo, referindo-se ao principio fundamental. Por exem- lo, na hipétese de um legatério ter tomado menos para si = ~ 83 ue a mndente 20 conjunto dos herdeiros. do de- fino, para evtar& obnigagio Gor suai, so mals unde, oa do seus proprios herdeiros redlamar a parte a que éle havia renunciado, e se a parte assim reclamada formar, com @ anteriormente Tecebida, uma quantidade superior & ixada a0 conjunto dos herdeiros, aquéle que reclamou esta parte arcaria com a obrigagao dos rituais, com exclusio de seus co-herdeiros. Mais ainda: no caso de que um legatério receba mais do que the é permitido aceitar sem se encarre- das ceriménias religiosas, os pontifices Ihe aconselham fear 95 herdeiros testemunhas de sua abrigacdo (de entre- ‘Ihe 0 legado), de modo que a sucessio se encontre livre le nus e que tudo aconteca como se o legado nfo houvesse sido feito. “Sébre éste potito e muitos outros, pergunto aos Gévolas, os maiores pontifices e, nao nego, homens do maior talento: por que tratais de atrair o Direito Civil para 0 Di- reito Pontificio? Pois, por meio de vossa ciéncia de civilis- tas, de certo modo, estais eliminando 0 Direito Pontificio. O vinculo entre os rituais e a heranga do dinheiro baseia.se na autoridade dos pontifices, nao na lei. Logo, se se limitassem a ser pontifices, a autoridade pontificia permaneceria intac- mas, sendo, ao mesmo tempo, eminentes peritos em Di- reito Givil, aproveitam esta ciéncia para aniquilar aquela autoridade. “Pablio Cévola e Tibério Coruncdinio", assim como 0s demais pontifices méximos, julgaram conveniente impor a obrigacio dos rituais aos que tomassem uma parte igual a0 do. conjunto dos herdeiros. isto se baseia 0 Dir {© Ponti, Que o agregou a0 Direito Civil? Uma di posicao engenhosa do testador que, ao realizar a partilha de seus bens, féz uma deducdo de cem sestércios, e assim se descobriu ‘um modo de liberar os bens legados do péso dos rituais. E, se o testador nio quis tomar esta prcsausio, aqui esté 0 mesmo Micio, por sua vez jurisconsulto e pon: tifice, que convida o legatérie a tomar menos do que se deixa 20 conjunto dos herdeiros. Antes se dizia: qualquer que seja a parte que hajas tomado, estés obrigado; agora, porém, o livram dos rituals. E nao 6 uma idéia de acérdo ‘com 0 Direito Pontificio, mas uma inspirago civilista, que consiste em sugerir 20 legatério que libere de sua obrigagio 84 © herdeiro testamentério, em troca de um pagaménto em di- nheiro; pois, assim, tudo acontece como s¢ 0 legado nio s¢ feito; o legatério firma um contrato por um mon- tante equivaleate a0 de seu legado, de tal maneira que a quantidade lhe corresponda em virtude de uma obrigagéo contratual e nio lhe traga a carga dos rituais, Passo, agora, ao direito dos Manes, sdbiamente institui- do ¢ religiosamente observado por nossos antepassados. Qui- seram oferecer sacriffcios aos mortos no més de fevereiro, que era, entio, o filtimo do ano, ainda que Décimo Bruto — segundo escreve Sisena — costumasse fazé-lo em dezembro. Ao buscar a causa desta particularidade, descobri a razio pela qual Bruto se havia afastado da tradigao (e vejo que Sisena 2 ignora). Pois, acho inacreditével que Bruto nao haja que- rido observar a norma estabelecida pelos antepassados, sen- do homem tio culto © muito amigo de Accio. Creio mais, que adotava o més de dezembro por ser 0 iiltimo do ano, como faziam os antepassados a respeito de fevereiro. FE tam- bém, a seu ver, a piedade exigia que se sacrificassem aos mortos as vitimas maiores, E tio grande o respeito religioso pelos sepuleros, que 4 opiniao geral considera criminoso sepultar os mortos sem os rituais adequados ¢ fora do lugar atribultlo ao-cla corres- pondente, como no pasado decidiu Aulo Torquato, a pro- pésite do cla dos Popilios. As festas denicais, cujo nome vem da idéia de morte ~ porque se celebram em honra dos mortos —, € os outros dias de descanso, que se dedicam aos deuses do céu, nao se chamariam festas se nossos antepassa- dos nao houvessem querido divinizar aquéles que abandona- ram esta vida, © direito faz cair estas festas nos dias em que nao hé celebragses piblicas ou privadas, e téda a estru- ura do Direito Pontificio na matéria revela a importincia déste culto € destas ceriménias. Nao tenho por que expor em detalhe quanto duram os rituais funerérios nas familias, como so sacrificam carneiros aos Lares, de que maneira se Joga terra sSbre 0 asso cortado, quais so as Obrigacées juri- dicas relativas ao suino e em que momento um tumulo co- mega a ser um sepulero religiosamente consagrado, Porém, a meu ver, 0 tipo mais antigo de sepultura é aquéle que, ~ 85 segundo Xenofonte, empregou-se para Ciro", pois 0 corpo 6 devolvido a terra ¢ coloca-se de tal modo que parece co- berto pelo manto de sua mie. Diz a tradigao que foi de acérdo com éste ritual, como que em um sepulero, que esté enterrado a pouca distincia do altar da Fonte —, 0 nosso Rei Numa sabemos que até hoje o cl dos Gomé'ios recorren a éste procedimento. Sila, depois de sua vit6ria, f&z dispersar pelo Rio Anio os restos de Gaio Mario, que havia sido enter- rado, no que se deixou levar por um édio que demonstrou que ua sabedoria nfo estava A altura de su palato, ey talvec, por temor a um destino semelhante, éle foi o primeiro dos Cornélios a pedir a cremagao de seu corpo. Diz Enio sobre 0 Africano *: “Aqui jaz aquéle que...” E com razSo; pois se chamam “jacentes” os enterrados. Nao hé, porém, sepul- cro enquanto nie se realizem os rituais e enquanto nfo se sacrifique © suino. Quanto ao térmo “inumados”, que hoje se usa comrentemente para designar todos os sepultados, es- tava reservado eniio kquelet sbbre os quals se Jogava’ ter: ra para cobri-los. © Direito Pontificio confirma a existén- cia déste costume, pois, antes do momento em que se joga terra s6bre 0 osso (cortado), 0 lugar da cremagio néo apre- senta nenhum cardter religioso, Mas, uma vez jogada a terra, diz-se que 0 morto esth inumado, o lugar chama-se sepulero e esté amparado por uma multidéo de direitos religiosos. Por isso, se alguém morre ém um navi e se, em seguida, 6 atirado ao mar, Péblio Mitcio declara que sua familia festé pura, pois que 0 oss nfo descansa sdbre a terra; 0 herdeiro, porém, est sujeito a obrigagso do suino, dos 3 dias ferzados edo. sacrifiio. expiatérlo por meio do suino. Se a pessoa morre afogada no mar, a norma é a mesma, salvo 0 artigo da expiagio e dos dias feriados. Atico: — Vejo em que consistem as regras do Direito pontificio; quisera, porém, saber o que dizem as leis. Marco: — Pouca coisa,.Tito, ¢ nada, creio eu, que jé nio conhegas, As leis, porém, no se referem tanto A religizo como a0 direito dos sepulcros. O morto — dizem as XIE ‘Tébuas — nao deve ser sepultado nem queimado dentro dos limites da Urbe. Sem divida, a iiltima disposicéo tem que 86 ver com 0 riseo de ineéndio, ¢ o aditamento “nem quei- mado", indica que o verbo “sepultar” nao se aplica ao morto incinerado, mas ao morto inumado. x Atico: Pani como a © caso dos homens ilus- receberam ‘uma Ng gases ra na Urbe, posteriormente Marco: — Greio, Tito, que pertencem a duas catego- fiat: 0s que antes desta lei merecdram semelhante distnge, como Publfeola ou Tuberio, cujos descendentes conservaram © mesmo privilégio, os que, como Gaio Fabricio", merece- ram que se infringisse a lei em sua honra. Ao lado da lei, porém, que profbe sepultar na Urbe, hé um decreto do Co- Kégio dos pontifices que declara ilegal a instalagio de um sepulero em luger pitblico. Conheceis 0 templo da Hoar, mais além da porta Colina; ali, segundo a tradigéo, exis- tiu wm altar perto do qual encontraram uma limina que razia a seguinte inscrigéo: Hononrs, e por isso consagrou- iste templo a Honra. ois bem, neste lugar achavarnse m tos sepuleros que foram desenterrados, € 0 Colégio decidiu gue um lugar pablico nao podia estar sujeito as obrigacoes la religiio privada. As XIE Tabuas contém outras dispasi- gOes para reduzir os gastos e as lamentagées nos funerais; esto quase traduzidos das leis de Sélon. “Nad Tagais nada mais” — dizem —; “nao destruifeis a pira com © machado.” E jf comheceis 0 que segue: pois desde orianga tinhamos de aprender ¢ recitar as XII Tébuas, 0 que ninguém faz agora. Limtam os gastos “a trés véus, uma tinica purpura e dez flautistas”, e suprimem as lamentagdés: “Que as mulheres nao pintem as sobrancelhas nem fagam um lessus nos fune- rais.” Os antigos intérpretes, Sexto Elio e Litcio Acilio, con- fessam no entender em que consiste éste léssus, porém sus- peitam que se trata de certa espécie de vestimenta funera- Tis. Liccio Elio™ acredita que o lessus 6 uma espécie de queixume ligubre, de acérdo com o significado da mesma patvra..o que me parece mais: provavel, pois que, em uma de Sélon, encontramos uma proibigio idéntica. Tédas tas regras sio dignas de elogio e se aplicam por igialaos 2s°@ a plebe; pois & perfeitamente natural que as diferen- 8 de destino desaparegam na morte. Do mesmo modo, as 7 XII Tébuas suprimiram os outros gastos funeririos que con- tribuem para aumentar o luto. Assim dizem: “Nao recolhais 05 0850s do morto para fazer-lhe mais tarde exéquias"; con- tudo, excetua-se 0 caso de um morto na ‘ou durante uma viagem. Hi, também, disposigdes. quais as ungdes pelos escravos ¢ t8da expécie de banquetes funeririos ficam proibidas, e justamente proibidas, o que prova que exis ram éstes costumes. Nio insisto no texto que condena “as aspersées suntuosas, as grandes coroas ¢ os altares incensa- dos". Porém, a lei significa que os mortos tém direito a insignias honorificas, desde que dispde que uma coroa, pré- mio ao valor, pode colocar-se sem fraude, no 36 na frente daquele que a mereceu, mas, também, na de seu pai. Quan- to 0 uso, que, sem divida, era muito freqiiente, de fazer varias exéquias 2 uma s6 pessoa e de preparar virios leitos funerérios, a lei também o profbe. Outra lei ordenava néo empregar o ouro; porém, vé com que humanidade se fazia a seguinte excecio: “Se os dentes do defunto tém ligagdes de ouro & permitido, sem fraude, sepulté-lo ou queimé-lo com elas.” Vés, daf, que o texto nao: confunde sepultura com cremagio. Existera, ademais, duas leis sObre os sepuleros, uma para proteger os edificios que pertencem aos particulares e outra para cuidar dos préprios sepuleros. Pois, quando se protbe elevar uma nova pira ou cavar uma nova fossa crematéria, a menos de sessenta pés de uma casa alheia, sem a per- missfio de seu dono, 20 que parece & para evitar os incéndios. E quando se profbe “adquirir por prescrigio a possessio do foro" (isto é do vestibulo da tumba), "ou da fossa crema- t6ria” € para preservar o direito dos sepulcros, Estas _séo as disposigées que encontramos nas XII T4buas e sio todas de acdrdo com 2 Natureza, que 6 a norma da Lei. © mais tem sé um carter consuetudingrio; assim, & preciso anunciar (© funeral se cai numa época de jogos; seu diretor deve re. werer os servigos de um bedel € de litores; © elogio dos defuntos que desempenharem cttgos honorilices deve ser pronunciado em assembléia piblica, e 20 elogio sucederio cantos com acompanhamento de flautas, as quais se chamam 88 “andsias', que & também a palavra grega para os cantos fi nebres. Atico: — Alegra-me saber que nossas leis ajustam-se a Natureza, e gosto muito da sabedoria de nossos antepassaios Fala-nos, porém, da moderagao em matéria de sepuleres, como em outros assuntos. Marco: — Teu pedido é legitimo. Vistes, pois, creio eu, ‘a que extremos pode che; ee chee doeeia ten exem- 2 da tumba de Caio Figulo®. Nossos antepassados nos leram muitas provas de sua pouca propensio a0: gastos dés- te tipo. Pois, segundo os intérpretes de nossas leis, o texto que exclui o luxo'e 0 luto das disposigées relativas ao direi- to funerdrio, significa, antes de tudo, um desejo de pér ebro 3 magnifictnca dos Sepuleros, “Os mais sibios legsiadores io devculdaram éste ponto. Assim -em Atenss, subistiu 0 costume de inumar o corpo na terra, costume que, segundo dizem, vem de Gecrbpio™, "Os pareates eumptiam tom 0 rito © jogavam a terra, depois do que esta era semeada; € assim 0 morto estava colocado como que no seio e no regaco de sua'mie; enquanto 0 solo, purificado por ésees grios’ de. volvia-se aos vivos. Em seguida, celebravam-se banquetes, de que participavam os parentes coroados com fldres ¢ onde se pronunciava 0 elogio do morto, se algo’ elogiéso huvesse a dizer (pois a mentira seria um sacri Isto assinalava @ fim das ceriménias, Mais tarde, porém, segundo esereve Demétrio Falério'™, quando se iniciou a moda das exéquias suptuosas ¢ das lamentag&es ruidosas, uma lei de Sdlon su- primiu-as. Esta lei reapareceu quase nos mesmos ténmos, r obra de nossos dectaviros, na décima TAbua, pois, a re: féencia aos trés véus e aos demais detalhes so de Sélon; ¢ acérca das lamentacées foram usadas suas préprias pala. vas: "Que as mulheres nfo. pintem as sobrancelhas ‘nem fagam um lessus nos funerais.” " Quanto aos sepuleros, Solon limita-se a “proibir que se destrua ou que se coloque néles 6 corpo de um estranho” e'a prover uh castigo pare quem “viol, derrube ou quebre um timulo (pois suponho' que 6 0 que corresponde a palavra tumbon), um monumento ‘Ou uma ‘coluna”. Um poco mais tarde, porém, em vista de enorme tamanho dos sepuleros, que hoje se vé ainda no ~ 2 Cerimico, uta {ei proibiu “ievantar uni sepuicra qué requeresse ‘0 trabalho de mais de dez homens durante ‘trés dias; tampouco permitia adomé-lo com um teto ou ins. talar bustos (dos que se chamam “hermas”), ¢ a5 elogios do morto s6 se autorizaram nas exéquias piblicas e por meio de ‘um personagem oficialmente designado para isso. Também se limitou © niimero dos assistentes, homens © mulheres, com 0 ito de reduzir os.lamentos, pois quanto maic a quantidade de individuos, mais tende a aumentar a tris- teza. Por. isso, Pitaco rofbe assstr aos funerais de pes- soa que perteacem a outra familia. Porém, 0 proprio De- snétrd dla que = magnificéncia das exéquias ¢ fast resceu até alcancar um nivel quase semelhante a0 que exis- te na Roma atual; ¢ éle, pessoalmente, lutou contra ste cos. tume. Pois, como sabeis, dle foi mio s6 um varéo muito eulto, mas também um cidadio muito ilustrado em matéria politica ¢ muito h4bil na arte de administrar 0 Estado. Assim & que reprimiu 0 luxo recorendo a castigos e também a dis- igGes acérea do tempo em que se celebram as exéquias; Uscitim quo os funerais se fasten antes dy onesie A ale se deve uma regulamentacio que fixa os limites dos novos sepulcros, pois sObre 0 timulo de terra nfo permitin nenhu. ama construgéo, salvo uma pequena coluna de trés bragadas de altura, ou ainda uma mesa e um pequeno jaro. E para controlar a aplicagéo da lei criou um magistrado especial. Estas, pois, so as leis de teus amigos atenienses. Inter- roguemos, porém; a Platio. Encarrega os intérpretes da re- ligido da tarefa de definir as xegras funerdrias (costume que ‘existe também entre nés) e propée o seguinte acérea dos sepuleros: profbe transformar em sepulero a menor parcela de campo cultivado, ou ainda cultivavel, e opta por apra- veitar ao méximo os campos que, por sta natureza, podem receber os restos dos mortos, sem perigo para os vivos; pois ninguém, vivo ou morto, deve reduzir 0 tamanho da terra lutiva que, como uma mae, nos propicia alimento. Prof- e, ademais, levantar monumentos cuja altura exija 0 tra. ‘Balho de mais de cinco homens durante cinco dias, ou co Jocar Hpides cuja dimensio excede 0 espago necesshrio para ceonter 0 elogio do morto, supondo um elogio em quatro ver- 90 & {5 hetbicos, dos que Bnio chama versos “argos” "Assn, teremos também a opiniéo autorizada déste grande homem gm matéria de sepulcros. “Ademais, fixa os gaitos funerdrios Suze tma ¢ cinco minas, de aobrdo com o censo. Ed surgem estas famosas consideragses acérca da imortali da alma, do descanso final que espera os bons, mais aléia da tone ads, ciges que padecem os fmpios.” Grelo que ja ‘tens tédas as explicagdes relativas 4 religifo. Quinto: — Assim é, meu irmao. Nao Poupaste os deta- Thes. “ Deves, porém, continuar, __ Marco: — ei, pois; e, desde que sois tdo amé- ree eans insists, tratarei determiner meu discurso hoje Pane aproveltando um dia tio calmo, Porque recordo que Flatéo também pronunciou todo seu discurso sbbre as ie dentro dos limites de um s6 dia de verso. Logo, imitends:. falarei dos magistrados, jé que, uma vez constitulda, «vol gito, ndo 4 nada mais importante para o conservagio do _cite%: — Fala, entio, e segue 0 plano pelo qual come- saste,

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