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ete oicso se tor de Engenharia Legal e Meio Ambiente (Selma), 0 novo dire- tor do Instituto Nacional de riminalistica (INC) concretizou uma antiga aspiracao dos pen- tos criminais federais com for- macao em Engenharia Seguindo a tendancia de outros 6raaos de policia técni- co-cientifica, 0 novo setor agru- ard duas importantes areas pe- riciais: a Engenharia Legal ea Pe- ricia de Melo Ambiente. Estas duas areas, ainda que aparen- temente tao diversas, tim ole- mentos comuns A Engenharia Legal é talvez ‘a mais antiga das Ciéndias Foren- 3¢3, Segundo Moacyr Amaral Santos, as primeiras pericias em engenharia séo atribufdas acs antigos egipcios, que as realiza- vam para preparar as terres do- das pelos faraés aos stiditos. E, quando 0 rio Nilo despojava a guém de sua quota agréria, a pessoa lesada ia procurar a au- toridade, a quem dave parte do ocorrido. Era enviado a area, entio, um perito para que se obtivesse a medida da diminuigso do seu lote. Com isso poderia ser feita a proporcional reducao dos tributos s0- bre ele incidentes. Na Roma Antiga, de inicio, osjuizes eram, a rigor, os préprios peritos. Isto 6, se alguem tivesse um problema liga- do a medicao de terras, procurava um juiz que fosse “expert” na arte de me- di. De acordo com Alcintara Macha- do, em “O Exame Pericial no Direito Romano", a vistoria, exame ou inspe- 30 ocular comecou por ser ato pesso- al e exclusivo do juiz. No ultimo perio- do, porém, com o desenvolvimento das Causas € com a conseqiente especial za¢a0 do juiz, voltado mais para os es- tudos juridicos, a figura do perito co- ‘mecou a aparecer, freqiiente, por dele- gagao de poderes daquela autoridade. £ ate intuitivo pensar-se que os pri- meiros litigios se deram por disputas de uso ou propriedade da terra. Os primeiros perites engenheiros eram, Portanto, agrimensores. Com o desen- volvimento das ciéncias, foram naturais 03 processos de diversificacao e expeci- alizacio. A Engenharia comecou a cres- cer em diferentes ramos. As tradicio- nis engenharias civil, mecanica e elé- trica deram origem a engenharias mais especializadas, como a de tréfego, a de minas, a florestal, a de seguranca do trabalho, a cartogrsfica e, mais re- centemente, a engenharia de meio ambiente. Esta ultima tem como objetivo o aproveitamento racional dos recursos naturais, minimizando os danos ambientais e recompondo 0 meioam- biente, quendo necessério. Nela, en- genhairos travam interface com pro- fissionais de outras dreas, como bidlo- gos, gedlogos, veterinarios e meteoro- logistas. seguindo este enfoque, a Pe- rica de Meio Ambiente seria entso uma derivagao da Engenharia Legel, nao necessariamente exercidla por enge- heros. Um moderne conceito de Engenha- ria Legal seria, pois, “a aplicacao dos recursos e conhecimentos préprios da Engenharia, em todas as modalidades desta (construgao civil, minas, mecani ca, eletricidade, eletronica, etc), para esclarecimentos de interesse judicidrio”™ Este certamente, um conceito ainda excessivamente abrangente. ‘Observa-se, porém, que nao existe um consenso quanto aos limites de suas atribuigdes. Assim, passaremos 0 exemplificar 0 que se tem tradicional- mente atribuido & Engenharia Legal. No Direito Civil - Na esfera civel, 0 campo de atuacao é vastissimo. Segun- do 0 perito Sérgio Antonio Abu- nahman, as pericias na area civel si0 cabiveis nos seguintes tipos de acoes: 1. Ordinarias - Sao as mais abran- gontes e, por vezes, as de maior com- plexidade. Sao aquelas de indenizacao por vicios de construcéo ou danos cou- sados a terceiros, ¢ todas as demais que envolvam a participacao pecuniaria por ‘ocorréncia que implique uma verifice- «Ao & parecer técnico de Engenharia. 2. Vistorias, Cautelares (produgdes antecipadas de provas) ¢ Sumari simas - Muito comum, a antiga “visto- ria ad perpetuam rei memoriam” ocor- re em inumeras situagoes, como 0 pré- vio exame de iméveis lindeiros as vés- peras da instalagao de um canteiro de ‘obras, ou diante de um risco iminente, ‘ou mesmo 2 simples afericdo de um fenémeno que traduza negligéncia, Vicio ou mau uso da coisa. Nas suas ‘expressdes mais simples, podem se manifestar através de acées para ca- racterizar responsabilidade por infiltra- es em apartamentos, danos cause- dos a um imével pelo inquilino, colisao de veiculos ete. 3. Desapropriacoes - A fim de ob- ‘er a justa indenizacdo pela expropri ‘¢40 de um bem ~ feita pelo Poder Pt- blico, seu agente ou concessionario de servico piblico. 4, Renovatérias e Revisionais - Do advento da “Lai de Luvas", como era impropriamente chamado 0 Decreto- lei n. 24.150/34, originou-se a Acao Renovatoria. Nela, no periodo compre- ‘endido entre um ano e seis meses an- tes do termino do contrato de, no mi nimo, cinco anes, 0 inquilino requer em Juizo que este decrete a renova- 80 do contrato por igual periodo, Na ‘grande maioria dos casos, 0 locatério oferece um valor baixo e, reciproca- mente, 0 proprietario pede um valor alto, restando ao juiz a decisao, basea- 05, 0 perito engenheiro é solictado a avaliariméveissegundo precos de mer- cado referentes.a uma determinada época. 2. Levantamento de custos - Sao 0s casos em que, a fim dese datermi- nar © quanto foi gasto em um deter- minado empreendimento, é solicitada ‘205 peritos uma reconstituicao do or- amento, a partir de levantamentos in loco. 3. Constatagao de execucaode ser- vicos/verificacdo de quantitativos - Nestes casos, € necessério que 0 perito engenheiro compareca a0 local da obra-e [8 realize os exames, a fim de verificar se foram realmente executa- dos 0s servigos contratados. 4, Verificacao quanto 3 qualidade dos servicos executados- Segundo le- vantamentos in loco, os peritos deve- rao verificar se os servicos foram devi- damente executados, ou seja, se aten- dem aos padroes de qualidade estabe- lecidos pelo contrat ou mesmo aos padroes minimos exigiveis. 5, Confrontacao: precos contrata- dos x precos de mercado - 4 fim de averiguar suspeitas de superfatu- ramento, os peritos so eventualmen- te solicitados @ efetuar comparagoes entre 0s precos contratados e os pre- ‘605 praticados pelo mercado, segun- do uma determinada epoca Meméria institucional - A criacso do setor de Engenharia Legal © Melo ‘Ambiente serd, sem sombra de divi da, um marco na historia da Crimina- listica do Departamento de Policia Fe- eral, Com ele, os peritos criminals fe- derais engenheiros ~ que hoje somam aproximadamente 40 em todo 0 Brasil = possuirao um centro de referéncia e representatividade, oficial, em torno do qual poderao somar esforcos € cons- truir 0 que se poderia chamar de uma “meména institucional” Espera-se que esta “meméria” que se pretende construir possa, em um fu- turo préximo, libertar-nos da atual de- pendéncia das experiéncias e conheci- mentos individuals de cade pesto. Se houver o respectivo investimen- to de passoal e material, em alguns anos poderemos ter im banco de da- dos técnicos especificos de engenhe- ‘ia, que pocleré ser compartihado nao 50 pelos profissionais deste Departa- mento, mas por todos aqueles que l2- butam em prol da Justiga, seja nos de- ‘mais Institutos de Criminalistica, Tribu- rnais de Contas, Controladorias etc. Espera-se, com a criaco do Selma, que a Engenharia Legal da Policia Fe- deral consiga conhecer a si mesma, es- tudando os seus problemas e realizan- do continuamente auto-aferigoes do tipo: demanda de exames de Engenha- ria, produtividade por perito, tempo médio de espera de um laudo, eficién- cia dos laudos (valor probante), nume- ro étimo de paritas por equipe, custo médio de um laudo de engenharia etc Esta “memoria institucional” tera ainda como missio.acolher os futuros colegas, a0 oferecer-thes referéncia e ssugerir-Ihes solugSes para os problemas com que se defrontarao. Ela devera repassar para estes colegas tudo 0 que até hoje se aprendeu em termos d= pratica pericial, 0 "know-how", @ ma- heira mais eficiente de se trabalhar ~ no menor tempo, com melhor quali dade & maior produtividade. Sabe-se que a unido de esforgos faz ‘com que um mais um seja sempre mais que dois. A deciso de reunir alguns peritos com a missdo de constituir um novo Setor pode parecer uma resolu- do ainda timida, diante de um pro- blema que se agiganta, Mas é um pon- tapé inicial Ea proposta para que os engenhei- ros do INC sejam a "massa critica” de um projeto maior que, um dia, com certsza sera implementado. Neste dia, eles serao 0s gerencladores da infor- macio. O chefe do Selma serd, entao, © coordenador de todos os engenhe'- ros, Os peritos das diferentes modali dades de engenharia passarao a ser pecas de uma engrenagem, nso mais ‘a massa dispersa que foram atéontem. E 0 INC poderé exercer a sua natural ‘vocacao: ser um centro de exceléncia, de referéncia e de normatizacéo. Carles Andre Xavier Villela Perite Criminal Federal ~ SecrimiRS ‘Mestre em Engenaria ~ CoppelUFRI

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