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O Trabalho Sob Contrato: a Lei de 1879* Maria Liicia Lamounier (Mestre em Histéria — UNICAMP) RESUMO Este artigo lida com o significado da Lei de 1879, que’ regula o traba- tho na agriculture brasileira. A Au- tora expée a crise do sistema escra- vista e€ examina propostas para @ aboligéo. Ela também discute inte- resses regionais que procuraram re- organizar a mao-deobra nacional e analisa debates sobre a possibilidade de imigragdo chinesa para o Brasil. ABSTRACT This article deals with the signi- ficance of the 1879 law that regulates work in Brazilian agriculture. The author explains the crisis of the slavery system and examines propo- sals for abolition. She discusses also regional interests that tried to reorganize the national labour force and finally she analyses debates over the possibility of Chinese immigration to Brazil. Em dezembro de 1878 era aprovada pela Camara dos Deputa- dos, num clima de gravidade e urgéncia, uma nova Iei de locacéo de servicos. O texto extenso e minucioso regulamentava os contratos efetivados especificamente na agricultura, com trabalhadores nacio- nais, libertos ¢ estrangeiros, nas mais distintas condigdes dos sistemas de parceria agricola e pecuéria e locag&io de servicos. Cuidando prin- cipalmente das garantias necess4rias para 0 cumprimento dos con- *_ Este texto corresponde a uma versio reduzida do cap. III de nossa disserta- go “Formas da transi¢ao da escraviddo ao trabalho livre: a lei de locacho de servigos de 1879”, submetida 20 Departamento de Histéria da UNICAMP em margo de 1986, sob a orientaco do Prof, Dr. Michael M. Hall. A pesquisa contou com © apoio financeiro da FAPESP. | Rev. Bras. de Hist. |S. Paulo | v. 6 n° 12 | pp. 101-124 | mar./ago. 1986 | tratos, a nova lei de locag&o de servicos previa com acuidade as faltas e negligéncias dos contratantes e dispunha detalhadamente do processo e das penalidades competentes. Inovava em muitas de suas disposigdes instituindo novos moldes de relagdes entre os fazendeiros © seus trabalhadores. A grande novidade ficava, sem davida, por conta das disposigdes antigreves, as primeiras na legislag&o brasi- leira. Afinal, até entdo, quando os trabalhadores faziam as chama- das “paredes”, deviam ser processados individualmente, pois nao ha- via um dispositivo na legislago que permitisse process4-los cole- tivamente.’ Promulgada em inicios de 1879 e apelidada por seus contem- poraneos de Lei Sinimbu, esta lei de locagio de servigos pode ser considerada, em seu grau de complexidade, a primeira tentativa de intervengio do governo brasileiro na organizagio das relagdes de trabalho livre na agricultura. A intengdo visivel era cobrir o mais amplamente possfvel com a legislacfo as relacées de trabalho, “Qua- se um cédigo rural’, exclamaram varias vozes na época. Outra ini- ciativa do género, referente as relacdes de trabalho no campo, sé ocorreria na histéria brasileira quase um século depois, no inicio dos anos 1960. A aprovagio da nova lei de locacao de servicos deve ser com- preendida a partir dos marcos de uma politica mais geral imple- mentada para a extincfo da escrayatura. Desde a abolic&o do trffico nos idos de 1850, a perspectiva do término de relagdes baseadas na escraviddo afrontara muitos espiri- tos. Foi numa situagio de manifesto incémodo que aqueles mais precavidos tomaram a iniciativa de experimentar formas de relagdes alternativas utilizando o imigrante europeu e tipos varios de con- tratos de servigos. Anunciando os mais diversos moldes de relag6es para o trabalho livre, foram apresentados aos érgaéos competentes inGmeros projetos e sugestdes para uma alteragio na legislagio rela~ tiva A locaco de servicos. A preocupacio inicial centrava-se parti- cularmente ao trabalho dos estrangeiros e nas condicées do sistema de parceria. Estas tentativas de formalizagdo do novo espaco juri- dico que se conformava revelam a complexidade e o dinamismo des- ses primeiros anos de experiéncia com o trabalho livre. Apesar de o fim do trdfico ter colocado em questo a fonte principal de abastecimento de escravos, o fracasso dessas primeiras experiéncias com o trabalho livre ¢ o acirramento do trdfico inter- provincial concorreram, na década de 60, para um recrudescimento do uso do trabalho escravo. Com a Lei do Ventre Livre inicia-se uma nova era no modo de organizacio das relacdes de trabalho no Brasil. Pela primeira vez 102 © governo se vé comprometido com uma medida de intervencao direta no universo das relagdes entre senbores ¢ escravos, com o intuito explicito de substituir de modo “prudente e cauteloso” o tra- balho escravo pelo trabalho livre. As disposicdes aprovadas em se- tembro de 1871 ¢ os decretos que as seguiram marcaram nao s6 a data e a mancira pela qual se faria a extingdo da escravatura no pais, mas, simultaneamente, apontaram os moldes de organizacdo € controle de um mercado livre de trabalho? A partir das dicussdes e da aprovagio da Lei do Ventre Livre, Os projetos que visayam a regulamentar as relagdes baseadas na mio- de-obra livre nfo podiam mais ignorar as possibilidades que entéo se instituiram, Em meados dos anos 60, as propostas de uma legis- lagHo para a locagio de servicos adquiriram um novo significado e um contetido diverso. A preocupagio centrada de inicio nos estran- geitos se fixou a partir de entio, também e principalmente nos na- cionais, libertos e escravos. Ao final da década de 70, as discussées acaloradas sobre o modo de encaminhar o processo de transi¢fio ¢ solucionar o proble- ma da mio-de-obra revelaram pelo menos duas posigées em desa- cordo. De um lado, representando interesses de varias provincias, inclusive de S40 Paulo, fincavam-se aqueles que — confiando e exi- gindo a manutencao dos compromissos assumidos com a Lei do Ven- tre Livre, de uma abolicdo lenta, gradual e segura — reivindicavam uma legislaco mais rigorosa que combatesse, a aversio da populagio local ao trabalho, incentivando-a na disciplina e estabilidade, e ga- rantisse o trabalho dos libertos. Opunham-se 4 imigrac&o em larga escala, quer pelos custos que tal iniciativa representaria para os cofres do Império ou para eles mesmos, quer pelo descrédito que resultara das experiéncias anteriores. De outro lado, representando interesses do promissor ceste cafeeiro paulista, fincavam-se aqueles que, considerando arriscado depender do trabalho dos ex-escravos, € desconfiando da possivel colaboragio dos nacionais, propunham, preocupados também com o “branqueamento” da nacSo, a imigra- ao subvencionada de europeus. No emaranhado desse movimento, nada linear, antes conflituoso € contraditério, com tensdes entre os agentes ¢ interesses varios, da constituigéo ¢ organizagdo de um mercado de trabalho livre, 6 que foi aprovada no final com tanta “urgéncia” a nova lei de locacao de servigos. Sua discussio veio no bojo da politica implementada para a extingfio da escravatura em 1871 ¢ é dentro deste quadro que cabe analisa-la? Para melhor delinear o seu papel é necessério ponderar tanto sobre a selecao particular das experiéncias que the forneceram os fun- damentos, quanto as possibilidades de relagdes e, seus alvos, que 103 tal selegdo apontava. A nova lei de locagao de servicos trazia consigo instaurava como possibilidade um modo peculiar de encaminhamento uma carga grande de experiéncias passadas. Mas, ao mesmo tempo, do processo de formagao de um mercado de trabalho livre: os con- tratos de servigos de longo prazo a serem efetivados principalmente com nacionais ¢ libertos. No final dos anos 70, ainda se aventava, entre os fazendeiros, nos debates e nas propostas parlamentares, a possibilidade da imi- grag&o chinesa, em moldes menos “livres” do que a européia. Pois bem, a aprovacao da lei de locacéio de servigos e o crédito yotado para a missfo & China em 1879 revelam os planos que se delineavam como alternativas ao regime de trabalho escravo. 1. A Lei do Ventre Livre e a Lei de 1879 Desde as primeiras discussées dos projetos elaborados pelo Mar- qués de Sao Vicente no Conselho de Estado em 1866, para a refor- ma do elemento servil, 0 processo de encaminhamento da abolicfo eo modo de aco para a reorganizacfio do trabalho vinham sendo pensados conjuntamente. Afinal, como poderia ser preenchido o vazio deixado pela abolicio, principalmente se a sua soluc&o fosse simul- tinea e imediata? Quais as cautelas e providéncias pois que deve- riam ser observadas a fim de preservar a “ordem piblica” e os in- teresses da primeira industria? Para Nabuco de Aratijo, cuja participacio nas formulac6es e resolucdes definidas na ocasiio é notéria, uma abolicio imediata e simultinea “precipitaria o pais num abismo profundo e infinito”. “Como garantir a ordem piblica — dizia Nabuco — contra uma massa de dois milhées de individuos cujo primeiro impulso seria o abandono do lugar aonde suportou a escraviddo; para os quais a primeira prova de liberdade seria a vadiagGo? Como suprir o traba- Tho? Seria com os mesmos libertos? Quando muito tornando a si do entusiasmo dos primeiros dias, se prestassem ao servigo pelo salario, outros pela preguica e indoléncia seriam sempre vadios e vagabundos; outros naturalmente prefeririam os cémodos da cidade”.* A abolicio, segundo 0 Consetheiro, devia entéo ser gradual, num tempo relativamente longo, com uma direcfo previdente, de modo a respeitar a propriedade e sem causar abalos na agricultura. Contudo, uma abolig&o lenta e gradual nao satisfazia as esperangas do escravo € devia-se contar com a sua impaciéncia, com a predisposi¢fio para desordens ou insurreigdes parciais e para a inércia no trabalho — era preciso, portanto, tomar medidas para dominar a situagdo que possa vir depois da tei”, aconselhava Nabuco.* 104 Ora, os moldes em que Nabuco pensava as condigdes que po- deriam sobrevir com a lei e as suas sugest6es para a reorganizacao necesséria do trabalho tém para nossa discussdo um significado espe- cial. Principalmente se atentarmos para o fato de que configuravam um modo de encaminhamento da aboligdo entretecido a um modo de organizacao das relagdes de trabalho — e esse detalhe é funda- mental — que serfio os pontos de orientagio para Nabuco nas for- mulagdes do final da década de 70 para a lei de locacio de servicos. © projeto de Nabuco apresentado ao Conselho de Estado em 1868 para a Lei do Ventre Livre,’ dava amplas faculdades ao governo para todos os atos e providéncias que se fizessem necessarios para atender as conseqiiéncias desse lei; 0 novo influxo do trabalho livre, os perigos da vagabundagem, a flutuagéo social dos libertos e dos menores livres. A idéia do Conselheiro era promover a emancipacao substituindo as relagGes baseadas na escravidiéo por uma modalidade especial de trabalho livre, fundada nos “contratos de locacao de ser- vigos”. As formulagdes basicas e a linha geral do texto final da Lei do Ventre Livre foram apresentadas e discutidas a partir dos traba- Thos da comiss&o encarregada pelo Conselho de Estado, na qual a participagaio de Nabuco teve um papel decisivo. O texto redigido pela comissio de 1868, encampado pelo Conselho de Estado, sofreria alteragGes nos anos seguintes, mas é forgoso admitir que suas linhas gerais permanecem no texto da lei de 1871. Mas vejamos isto mais de perto, O projeto do Conselho de Estado redigido por Nabuco de Arau- jo em 1868 ¢ © projeto apresentado pela Comissio Teixeira Junior em agosto de 1870, na Camara dos Deputados, tracaram as linhas gerais da estrutura da Lei do Ventre Livre aproyada em 1871,” A Comissio Teixeira Junior dispensava uma atenciio muito es- pecial @ relacdo entre o senhor ¢ o nascido do “ventre livre”, acau- telando aquele para o melhor uso desse. Concedia aos proprietdtios © direito de utilizarem-se dos servigos dos menores até a idade de 21 anos, como indenizaco pelo énus da criagio; op¢io que poderia ser substituida por uma indenizac&éo do Estado. Ora, essa medida de dar ao senhor a preferéncia dos servigos dos libertos era considerada altamente favoravel 4 layoura: “Ter4 (a lavoura) trabalhadores acli- matados, conhecedores do lugar, e mais baratos do que outros, que o dono da fazenda, do engenho de agticar ou de qualquer estabeleci- mento agricola pudesse contratar. E a grande probabilidade € que quando chegarem aos 21 anos, muitos desses libertos permanecerfio espontaneamente na localidade e no servico a que esto acostumados desde a infincia; e assim continuard para o lavrador o suprimento de bracos livres”, A Comissao Teixeira Junior cuidava também das minticias para a matricula dos escravos existentes no Império, “a fim 105 de que, com perfeita seguranca, se possam calcular os efeitos e con- segiiéncias das medidas que tém de ser progressivamente decretadas” © desacreditada da imigrac&o européia, sugeria a importacio de tra- balhadores asidticos*® Um primeiro ponto que deve ser levado em conta, e que cons- tituira o elemento basico no qual foi imersa a lei de 28 de setembro, & 0 tempo: a aboligio nao poderia scr realizada de forma simultanea e imediata, mas gradual e lentamente. J4 ressaltamos que esta era a opinifio de Nabuco; e ser também a da Comissio Teixeira Junior, Esse tempo que reivindicavam no significava apenas uma atenciio & seguranga ¢ tranqitilidade do Império, apesar de os acontecimen- tos de S. Domingos ainda estarem vivos na meméria da época; mas, principalmente, era visto como o ingrediente necessério para que as relagdes na agricultura se adaptassem de forma satisfatéria as conse- qiiéncias da Ici. Nao visayam particularmente ao adiamento da abo- ligfio — “em tal assunto a inércia ou a hesitacdo seria tao fatal como a precipitagio” —, mas a preparacdo da solucdo lentamente, acautelando os interesses da lavoura. E isto bem 0 mostrou Ademir Gebara: “O fato é que a transicfo mais geral, para o trabalho livre, precisava ser alcancada sob firme controle, dando aos donos dos escravos tempo suficiente para ajustar suas fazendas as transforma- Ses que se propunham para o sistema de trabalho”? No que tange ao projeto do Conselho de Estado, os planos para @ organizacdo das relacdes que se seguiriam & lei estdo desenvolvidos basicamente no artigo 6%: os libertos em virtude da lei ficavam obri- gados a contratar seus servicos, durante cinco anos, sob pena de serem constrangidos a trabalhar nos estabelecimentos disciplinares que o go- verno era obrigado a criar. Estes estabelecimentos teriam como objeto ou trabalhos agricolas ou industriais relativos 4 agricultura; caso nao os houvesse no lugar, os libertos seriam aplicados ao servico de obras ptiblicas que o governo autorizasse. O constrangimento ao trabalho terminaria sempre que o liberto exibisse contrate de servico.” A Lei do Ventre Livre em 1871 nao faria uso das disposigdes acima que dizem respeito aos estabelecimentos disciplinares; todavia, seriam inclufdas aquelas que obrigavam o liberto a contratar-se. Estas autorizagdes para a criacdo de estabelecimentos discipli- nares tém no projeto do Conselho de Estado um significado muito especial, Além do artigo 6°, o artigo 8° € também inteiramente de- dicado a associagSes e estabelecimentos de educaciio e trabalho para os menores “vadios”. Joaquim Nabuco, interpretando as idéias de seu pai, aventou que a intengio de Nabuco era converter a escravidio numa espécie de colonato industrial sujeito 4 fiscalizagio do governo, “oa que era desde logo transformar a condic&o de escravo”, e que com estas autorizagdes o Conselheiro contemplava todas as necessi- dades a que o governo precisava atender, munindo-o de todas as faculdades para apressar, dirigir e organizar a emancipagéo e a transformac&o do trabalho escravo na locag&o de servicos, E a idéia de transformar a condico de escravo para a de “colono”, acres- cida de “sem prejuizo de propriedade, e sem abalo para a agricultu- ra”, era também a opiniio da Comissao Teixeira Junior." Ora, a chave principal para a associagio que pretendemos fazer est4 exatamente na importancia dos “contratos de servigos” naquilo que se pensava como uma forma de organizacio do trabalho livre. A emancipacdo dos escravos mediante tal expediente era a proposta do Conselho de Estado, da Comissio Teixeira Junior e seré tam- bém a da Lei do Ventre Livre mais tarde: “E outrossim permitido ao escravo, em fayor de sua liberdade, contratar com terceiro a presta~ g&o de futuros servigos por tempo que nfo exceda sete anos, me~ diante consentimento do senhor e aprovagio do Juiz de Orfaos.” E a proposta do Conselho de Estado nao sé autorizava a emancipacéo de escravos através de “contratos de servicos”, como também impu- nha aos libertos a ebrigagao de contratar-se; do mesmo modo que o faré a Lei do Ventre Liyre de 1871: “Em geral os escravos libertados em virtude desta Lei, ficam durante cinco anos sob a inspe¢io do governo. Eles sao obrigados a contratar seus servigos sob pena de serem constrangidos, se viverem vadios, a trabalhar nos estabeleci- mentos ptiblicos. Cessara, porém, o constrangimento do trabalho sem- pre que o liberto exibir contrato de servigo”. Alias, para Nabuco, essa providéncia relativa aos novos libertos devia ser tomada como uma medida geral, “a vista dos milhares de vagabundos e vadios na- cionais ¢ estrangeiros que inundam as nossas capitais ¢ ameacam a ordem ptblica”.!* A par dessas medidas de emancipagao mediante os “contratos de servicos”, sugeria-se que fosse feita uma revisio das leis que regu- lamentavam o trabalho livre, de modo a adapté-las 4s novas condi- gdes. E essa providéncia era evocada tanto por Nabuco de Araujo no Conselho de Estado quanto pela comissio Teixeira Junior: “Para rever e alterar a legislagao relativa 4 locagao de servicos dos es- trangeiros, aplicando a mesma legislacao, com lmitacées especiais, aos individuos que ficam livres ou libertos por virtude desta lei”. A lei de 1871 nao alteraria substancialmente aquelas proposi- ges de seus predecessores. A estratégia elaborada com a lei e og decretos que a seguiram permitiram, segundo Ademir Gebara, que se criasse um conjunto de possibilidades para se chegar 4 liberdade, mas todos eles controlades pelo senhor de escravos. Apés as emen- das verificadas na Camara dos Deputados, continuava permitido ao escravo contratar seus servicos e guardar suas economias em bene- ficio de sua alforria, mas para tal passava a ser exigido 0 consenti- mento do dono. O registro ¢ a classificagao dos. escravos permitia maior estabilidade e controle especial dos escrayos libertos, ¢ o Fundo de Emancipagao contribuia largamente para a submissio e aquiescéncia dos escravos ao projeto de emancipagiio gradualista, ja que com ele eram estabelecidos critérios preferenciais para a liber- dade, como a familia, 0 comportamento e outros. E dentro desta tentativa de controle © de “direcao previdente”, seja por parte dos proprietdrios de escravos ou do governo, como no caso de Nabuco, que podemos entender novo significado que adquire uma legislacao para a locacio de servigos a partir de meados da dé cada de 60. A apresentagio do projeto de Alencar Araripe para a locagiio de servigos dos nacionais, em 1869, é, nesse sentido, um fato deveras significativo; e foi em funciio das discussées gue ocorriam no Conselho de Estado e na Camara que o projeto seria protelado © 86 retomado em 1874, quando a politica estabelecida com a Lei do Ventre Livre j4 vinha sendo implementada. E também nfo foi sem razAo que 0 Ministério de 7 de Margo, presidido pelo Visconde do Rio Branco, mandou organizar por intermédio de Cardoso de Menezes um projeto para nacionais, estrangeiros, libertos e escravos, Sem chivida, ao longo da década de 70 as opgées para a substi- tuicdo do brago escravo passaram a ser mais freqiientemente ponde. radas. As opiniGes percorriam um leque variado: aborigenes; escravos alforriados, inclusive a geracao futura de ingénuos, nacionais, euro- peus ¢ chineses. Muitas vezes os mesmos argumentos utilizados para exaltar as qualidades de um ou outro trabalhador serviam de ins- trumentos para as criticas as mais ferozes. Mas o mote para a exal- taco ou as criticas era o mesmo, o trabalhador que se buscava devia corresponder a certas expectativas, entre as quais, a estabi- lidade (que englobava a disciplina e o cumprimento do contrato, ¢ no, caso dos estrangeiros, significava a recuperagiio segura do investi- mento inicial) .e os baixos saldrios. As niovas relacdes apontadas pela Lei do Ventre Livre coloca- vam em relevaneia os “contratos de servicos”, que constituiam a ga~ rantia do trabalho dos libertos ¢ a precaucSo contra a “vadiagem”. Alias, com a lei de 1871 arregimenta-se uma verdadeira caca aos “vadios” e aos “desgarrados do trabalho”. Num artigo da “Gazeta de Campinas”, cujo titulo nao era nenhum autro senao ‘Cacada”, o feito era exaltado: “E bom ir-se repetindo isto, a ver se estes des- garrados do trabalho vio se afeicoando a meios de vida mais adequa- dos com o organismo de uma sociedade moralizada”.” As sugestées para a repressio & ociosidade e para a criacéo de milicias agricolas, com nacionais e libertos, abundam tanto no norte quanto no sul do Império. “Quando a vadiacao for atacada em todos as seus redutos 108 — dizia um deputado do norte — na banca do jogo, nos sambas, na espionagem, no écio em suma, os intimeros bragos que hoje vivem a custa do que os outros produzem serio outros tantos elementos de produgio, constituiréo o grande nicleo de jornaleiros onde a grande layoura encontraré os bragos de que carece para fecundar © seu trabalho. Ao temor do castigo deve aliar-se a esperanga de uma recompense para os vadios que transformarem-se em homens labo- tiosos ¢ locarem seus servicos por um ntimero de anos @ grande da~ voura” '8 Ora, por ocasifio das discussdes ¢ aprovaciio da lei de locagdo de servigos em fins de 1878, nao se pode dizer que o processo de encaminhamento de transformagiio das relagdes na agricultura esti- vesse ocorrendo nos moldes que se previra em 1871. As manifesta- goes abolicionistas e a resisténcia dos escravos, com fugas e crimes, j4 questionavam nesta época 0 modo gradual e lento e mesmo seguro pelo qual se optara. As greves e rebeliées de colonos estrangeiros na Provincia de So Paulo tornavam desacreditada a imigraciio es- trangeira, nos moldes em que se fizera até entéo, como a solucaio pata a substituig&éo do trabalho escravo. Os fazendeiros se encontra- vam as voltas com processos de priséo de colonos para o cumpri- mento dos contratos, com a produtividade e seus investimentos i ciais abalados, além da queda dos pregos do café no mercado inter- nacional, E mais uma vez passava-se a cogitar da introdugao de tra- balhadores que funcionassem como intermedidrios entre o livre e o escravo, como medida transitéria, e os chineses voltaram a atrair a atenc&o. A nova lei de locag&o de servigos surgia entéo como uma panacéia para todos os males. Ela vinha com o intuito de garantir a estabilidade dos trabalhadores, os baixos saldrios, e com obrigagdes (e penalidades respectivas) para o cumprimento de longos contratos, e ainda com precaugdes contra as greves ou paralisacdes coletivas. A lei aprovada em fins de 1878 nfo s6 aproveitava a “nova era a que dera infcio a Lei do Ventre Livre” — como sugerira um sena- dor — como buscava restaurar os planos que a lei de 1871 deli- neara, Curiosamente, o propésito de se formar um mercado de trabalho livre baseado nos “contratos de servigos” que fora pensado com o projeto' do Conselho de Estado é 0 mesmo que agora encon- tramos na lei de locaciio de servigos. Evidentemente esta concordin- cia nao deve ser atribuida apenas 4 figura de Nabuco, o autor central das duas proposicées. A ligacdo basica a ser feita é entre a con- cordancia da politica implementada com a lei de 1871 e os “contra- tos de longo prazo” que a lei de locac&o de servicos colocava como possibilidade com a diferenca de que agora a proposta abarcava, além dos libertos, os nacionais e estrangeiros. A intengio visivel era cobrir o mais amplamente possivel com a legislacfio as relagoes de 109 trabalho, fossem os bragos libertos, nacionais, europeus, chineses ou escravos. O principal era que as relagdes se dessem num espago cujas demarcagées fossem explicitas ¢ garantidas pela “independén- cia” da lei; e que o espaco juridico instituido garantisse © restringisse @ organizagdo desse mercado de trabalho livre aos limites e direcao desejaveis, ou seja, 0 modo de encaminhamento da abolicao lento, gradual ¢ seguro, pelo qual se optara. E nessa questo é fundamental alertar-se para a ingeréncia maior do governo nos assuntos entre os agricultores e seus trabalhadores. Tratemos, pois, agora das possibilidades que a lei de Tocagaio de servigos instaurava como modo de encaminhamento do processo de formagao de um mercado de trabalho livre, baseado nos contratos de longo prazo. As condigdes diversas que esta legislag4o oferecia para os con- tratos de nacionais e estrangeiros revelam de modo exemplar os alvos que pretendia atingir e 0 tipo de relagdes que Thes era reserva- do. Apesar de Nabuco em seus discursos no Senado ter por vérias vezes ressaltado que a lei tinha como objetivo favorecer primordial- mente a imigracio estrangeira, pensamos que a intenc&o principal era muito mais facilitar e garantir com contratos os servicos dos nacionais, libertos ¢ estrangeiros fixados no pais ou que porventura para aqui se dirigissem.” Se atentarmos para os artigos da lei que dizem respeito aos ter- mos de contratos j4 existentes para estrangeiros, veremos que estes tiveram realmente minoradas as condigSes de seus contratos. Muitas cléusulas que antes constitufram o dote principal das queixas dos con- tratados foram praticamente reformuladas, como a transferéncia, a proibicdo da cobranga de juros sobre 0 débito inicial do locador, a petmissdo para o rompimento do contrato no primeiro més de chegada no Império, a permissao para o casamento fora da freguesia e outras. Por varias vezes, aventou-se na Camara e Senado que este abranda- mento poderia melhorar a imagem do pafs no estrangeiro, favore- cendo a imigracao. Contudo, nao julgamos que tenha sido este o motivo fundamental da incorporagao destas providéncias na lei. A nosso ver, as médidas atenuantes dos contratos foram sancionadas essencialmente como uma resposta necessdria as exigéncias dos co- lonos estrangeiros, como uma atengo aos momentos conflituosos, 4 experiéncia das greves e rebelides que assolaram as fazendas por toda a década de 70. Indubitavelmente, os artigos da lei referentes aos contratos com estrangeiros visayam a atender aos interesses imigran- tistas da Provincia de Sido Paulo. Porém, os problemas mais imedia, tos dos fazendeiros’ desta regidio, no que diz respeito 4 imigracfo, nao se ligavam estritamente a uma atracdo, mas antes se ligavam as garantias para o cumprimento dos contratos, 4 certeza dos servicos do brago importado, a recuperacdo segura dos investimentos iniciais. Enquanto os fazendeiros que se interessassem pela contratagio de estrangeiros tivessem que arcar com o Onus das passagens ¢ des- pesas, eles cuidariam primeiro de se rodear das garantias necessdrias para o bom éxito de seu investimento. E séo as garantias dos fazen- deiros para o cumprimento dos contratos aquelas que compdem a fisionomia mais marcante da lei, no que diz respeito aos estrangeiros. E isto bem o atestam, a minuciosidade dos capitulos sobre a matéria penal e o processo, o agravamento das penalidades ¢ os artigos anti- greves. Neste sentido, a lei providenciaya principalmente para que houvesse ordem e regularidade nos servigos contratados, assegurando a manutengao de um nivel razodvel de produtividade e a recuperacio em tempo previsto dos investimentos feitos. Decerto que as medidas atenuantes poderiam proporcionar uma imagem mais favordvel do pais no exterior. Mas as penas de prisdo © outras condicdes opressivas dos “famigerados” “contratos de ser- yigos” que a lei apontava bem cedo reformulariam qualquer opiniao mais otimista. Vale lembrar que, depois da aprovagdo da lei e du- rante a década de 80, com a imigracio subsidiada, foram numerosas as criticas e sugestées de reformulac6es da legislagdo principalmente naquilo que dizia respeito 4 matéria penal. E, significativamente, a lei seria revogada em 1890, antes de tudo por ser um obstdculo a imigracao! ; Desse modo, no que diz respeito aos estrangeiros, podemos afir- mar que a intencdo da lei nao era atrair uma corrente de imigracao européia mas, principalmente, fornecer aos fazendeiros as garantias necessdrias para 0 cumprimento dos contratos daqueles que aqui estivessem fixados ou daqueles que porventura para aqui se dirigis- sem. E, certamente, por esse lado atendia basicamente aos interesses € necessidades dos fazendeiros do oeste da Provincia de Sao Paulo, No entanto, se esta era uma preocupagio da lei, nfo era a mais especial. Garantir os contratos por um longo prazo com tra- balhadores nacionais e libertos, conciliando assim os interesses do norte de engenhos e do sul cafeicultor, constituiria a possibilidade apontada pela lei que melhor expressaria a correlacdo de forcas do momento final da década de 70. Apesar das qualidades pouco recomendaveis que freqiientemen- te thes eram atribufdas, como a “indoléncia” e a “vadiagem”, os na- cionais, em meados da década, passaram a ser uma esperanca para o “naufrégio” que viria com a abolicéo. A comisséo nomeada pela Camara dos Deputados, em 1875, para estudar os meios de auxiliar a lavoura, e que tinha entre seus membros o Sr. Cardoso de Menezes € 0 Visconde do Rio Branco, colocava-os como a salvacéo possivel Para as fazendas ¢ os engenhos: “Dispense o governo séria e eficaz proiecio aos fazendeiros e senhores de engenhos que conseguirem fixar populacao brasileira em seus estabelecimentos, ¢ tendo, para reger~ se uma boa lei de locagéo de servigos, ha de desenvolver-se a popula» ¢ao em largas proporcées, formando o mais importante, aproveitavel e barato pessoal da lavoura’ Nessa ocasiao, o norte do pais, desfalcado de méo-de-obra, com © tréfico interprovincial ¢ com a seca que carregava “levas e levas’ de retirantes para as dreas urbanas ou para outras regides do pais, © sem colocar muitas esperangas na promogio da imigragao européia, era o primeiro a pensar no trabalhador nacional. No Congresso Agri- cola em Recife em 1878, todos pareciam concordes que a solugéo para a mao-de-obra estava nos recursos do préprio pais, isto é, numa melhor distribuig&o da populag&o entre a cidade e campo, ou seja, uma legislacao eficiente que acabasse com os “vadios” e os fixasse nas regides dos engenhos.” No sul, nas fazendas de café, a situacio, embora diversa, fazia tio ou mais necessdria a possibilidade de se poder contar com o tra- balhador nacional. Com um grande contingente de escravas no setor produtivo, as conseqiiéncias de uma aholigéo iminente eram vistas como alarmantes. As experiéncias com a imigracio estrangeira ti- nham sido infrutiferas e as seqiielas de movimentos grevistas e rebe- lidées perturbaram a Provincia de So Paulo ao longo de toda a dé- cada, A fronteira agricola em expans&o exigia cada vez mais mao- de-obra, e ao contingente nativo disponivel juntavam-se as levas que a seca debandava dos sertdes nordestinos. Os retirantes chegados a Sio Paulo eram prontamente distribuidos por varios pontos da Pro- vincia e engajados nos servicos das fazendas.” Sem duvida, a lei de 1879 vinha com o intuito de restringir a limites definidos e previsiveis as relagdes com os trabalhadores na- cionais, oferecendo aos fazendeiros de café e proprietérios de enge- nhos as garantias necessdrias para o uso de seus sevicos e 0 cumpri- mento dos contratos. A diferenga dos prazos dos contratos para nacionais e para estrangeiros e os artigos referentes A renovacio do contrato, também diferentes para uns ¢ outros, indicam as condig&es gue eram reservadas para o trabalhador nacional: a obrigaciio de contratar os seus servicos por seis anos — periodo minimo, j4 que a renoyagao poderia ser requerida sem a expressa vontade do contra- tado — e penas de prisio para aqueles que nfo cumprissem as obri- gages ajustadas. De acordo com a lei de locacao de 1879, os libertos continua~ yam tendo o seu trabalho regulamentado pela Lei do Ventre Livre, que os colocava durante cinco anos sob a inspecio do governo ¢ com s19 a obrigacao de contratar-se caso vivessem “vadios”. O constrangimento ao trabalho cessaria com a exibicdo do contrato de servigo, que po- deria ser efetivado até por sete anos. Os “ingénuos” depois de 21 anos seriam regidos pela lei de locagdo de servigos. Entre as tentativas de reformulacao da legislagao nos anos seguintes, foram recorrentes as sugest6es de se aplicar aos libertos a lei para a locagio de servigos, principalmente os artigos referentes 4 matéria penal. Providencia~ va-se para que nfo houvesse perturbaciio ¢ desorganizacio dos ser~ vigos, greves, e propunha-se que, para os libertos, a pena de priséo nao tivesse limite de tempo.* 2. A imigragao chinesa e a Lei de 1879 O Decreto n? 2827, dispondo sobre 0 modo como deviam ser feitos os contratos de locacao de servigos, foi sancionado em 15 de margo de 1879. Em setembro do mesmo ano a Camara aprovava, numa ardente controvérsia, um crédito para uma missio especial & China, cujo intuito era estabelecer relagdes diplomaticas com o Ce- leste Império e promover a imigracio de chineses ao Brasil. Mero acaso? O projeto para a missdo especial 4 China fora idealizado por Cansansio de Sinimbu, nesta ocasido Ministro da Agricultura e Pre- sidente do Conselho de Ministros e cujas simpatias pela importacao de trabalhadores asidticos eram amplamente conhecidas. Sinimbu co- laborara também, reconhecidamente, para a elaboracio da lei sobre Os contratos de servicos. No entanto, a lei para a locag&o de servigos nao trazia nos seus termos nenhuma referéncia aos contratos com trabalhadores chineses; os “estrangeiros” de que tratava, nfo hd diivida, inclufam apenas os europeus. E verdade que, durante as discussdes da lei no Senado em mea- dos de 1877, houve quem se lembrasse dos chineses: “... se nés esperamos, como aqui nos disse o nobre ministro da agricultura, trabalhadores agricolas de fora, mas de procedéncia estranha as dou- trinas de nossa sociedade, € preciso ainda saber-se os termos em que se poderfio formular os respectivos contratos; e como desde j vamos aprovar uma lei sem saber a maneira porque devemos adquirir e contratar esses trabalhadores que tanto desejamos? Como, Sr. pre- sidente, sem que este negdécio esteja previamente resolvido, criarmos uma legislacao antecipada, que: talvez possa embaracar a celebracio daqueles contratos, ..”* Mas, por algum motivo, sua voz nao teve eco. O préprio Sinimbu, conclamado, por essa época, a comparecer nas discussdes e a opinar sobre os propdsitos do Ministério da Agri- cultura na questéo da imigraciio chinesa, naéo fez nenhum adendo ou observacao a respeito. Limitou-se a apoiar, em varios momentos do discurso de Nabuco, a defesa que este fazia sobre o seu projeto para a locag&o de servicos. Donde se conclui que a lei nao dizia Tespeito propriamente aos chineses. Eram medidas diversas. Contudo, apesar de diversas, os contetidos das medidas para a promocio da imigragio chinesa e para a locag&o de servigos nos reyelam as consondncias dos planos que se delineavam como alterna- tivas ao regime de trabalho escravo. A simultaneidade de uma e outra proposigaéo nao foi uma simples coincidéncia; alias, tampouco era inédita. Como sugestées emergiram juntas em quase todos os momentos em que o regime de trabalho escravo se sentiu abalado. Em meados da década de 50, assim como em 70, e depois em fins de 80, vozes obstinadas defenderiam a opiniaio de que, dentre os estrangeiros, os chineses ¢ os indianos eram os tmicos que se subme- teriam 4s condigdes de trabalho exigidos numa “transico do traba- Tho escravo ao trabalho livre”. Esta opinido se tornaria ainda mais corrente apds os fracassos das experiéncias do regime de parceria com europeus como meio transitério. E mais ferrenhamente estas vozes defenderiam que com uma “boa lei de locaciio de servicos” conseguir-se-ia obrigar ao trabalho o nacional, “indolente” e “per- dido por essas matas”, e garantir-se-ia o trabalho dos ex-escravos. No entanto, apesar das constantes lembrangas e das vérias pro- postas ao longo desses anos, com excecio de medidas dispersas, ne- nhum plano mais decisivo e direto para a promocio da imigracdo chinesa, ou para a locaciio de servicos, foi formulado antes de 1879. Uma “boa lei de locagdo de servigos” esperaria pela sua decretaciio quase quatro décadas, ja que a iltima, referente aos estrangeiros apenas, datava de 1857.” Os chineses, apesar das varias tentativas, nunca chegariam a ser introduzidos em grande escala no pats; tam- pouco o seriam depois de 1879, com o crédito aprovado e a misséo a caminho, Ora, desse modo, os anos finais da década de 70 tém a sua significaciio especial, pois permitiram que se vislumbrasse de modo mais efetivo nas duas medidas uma alternativa possivel para a “trans- sig&o do trabalho escravo ao trabalho livre”. As possibilidades de experimentaciio da alternativa seriam malo- grades pelos “outros tempos” que constituiriam a década seguinte No entanto, foi a composicfio das forcas politicas e sociais ao final de 70 que a forjou como um possivel. E, pelo menos por enquanto, para se ter uma idéia das experimentacdes que como planos se deli- neavam, é este 0 momento a que nossa reflexfio se deve ater.” Em julho de 1878, Sinimbu se reunia num congresso, com os agricultores, por ele mesmo convocados, no Rio de Janeiro. As sim- 114 patias do Ministro da Agricultura ¢ suas propostas de incentivo a imigracdo chinesa eram do conhecimento da ampla maioria dos con- gressistas. As vantagens e desyantagens do engajamento de trabalhadores asidticos foram, nesse ocasiao, mais uma vez exaustivamente ponde- tadas. Os congressistas especularam sobre os pareceres os mais di- yersos —- médicos, fisiolégicos, culturais, sociais e politicos etc. — para corroborar as suas posicdes. Desenterraram as discussées da Sociedade Auxiliadora da Indiistria Nacional dos anos 70 e busca- ram _os exemplos mais significativos da experiéncia pratica de outras Tegides, tais como EUA (Califérnia), Peru, Cuba, Ilhas Mauricias, Guianas, etc. Muitas das qualificagées atribufdas aos chineses seriam utilizadas tanto para apoiar posigdes favoréveis como para condenar qualquer tipo de iniciativa referente a esta imigragéo. O atributo tornava-se uma virtude ou um defeito em fungio da articulagio do argumento. Para uns o chinés “sdbrio, trabalhador, e que pede sa- lérios baratos” seria a solugZo para a emancipagio lenta e gradual que se desenrolava. Para outros, por estas mesmas qualidades, os chineses afastariam a imigracao européia, concorreriam com o traba- Ihador nacional ¢ se sujeitariam a uma “escravidéo mal disfarcada”, Dentre os congressistas que admitiam os chineses, quando argui- dos sobre 0 modo mais eficaz ¢ conveniente de suprir a falta de bragos, a maioria os recomendaya como “ensaio e medida transitéria para uma colonizacdo de ragas mais aperfeigoadas”, como “elemen- to de trabalho” ou “machina de trabalho”. “A’ comiss&o condena essa raga como elemento de populacdo (muito bem), mas diz que pode ser aceita na Javoura como meio de transi¢déo no elemento do traba- lho (Apoiados)” — declarava Campos Salles em nome da Comissao dos Lavradores de Sao Paulo. Ora, o caréter de “medida transitéria”, “machina de trabalho”, igualmente como ocorrera em 1870, constituiria o ponto fundamental da defesa da importago de chineses por aqueles que pleitearam o crédito para a missio ao Celeste Império em 1879 na Camara. Nessa ocasifo, interpelado sobre 0 modo da introdug&o ¢ aqui~ sigéo dos trabalhadores asidticos ¢ das condigées nas quais eles seriam estabelecidos no pais, Sinimbu observou que o Governo nao pretendia envolver-se propriamente no que dizia respeito aos con- tratos. O intento inicial, segundo o Ministro, era simplesmente re~ mover os embaracos que o Governo chinés pudesse opor 4 saida dos seus siiditos, e que ficava a cargo da jativa particular, prin- cipalmente dos fazendeiros, estabelecer por si mesma o modo de prover a imigracao. Porém, nfo deixava de sublinhar a distingfio ne~ cessdria, ou seja, que a imigrac&o chinesa era muito stil nio como elemento de colonizagdo, mas como “machina de trabalho.” E a 115 expressio “machina de trabalho” ficaria suficientemente esclarecida na fala de um outro parlamentar: “sem mulheres, sem familia, obe~ dientes, servis, que aceitem uma tarefa determinada e liguem-se a ela ‘sem resisténcia e sem reagfo”. Sem divida, essas concepgdes sobre o modo das relagées a serem estabelecidas com os chineses constituia, para os defensores da proposta, uma alternativa possivel e adequada as condigées, e s6 ai, de um perfodo transitério entre a escravidio e o trabalho livre. Esse ajustamento era franqueado basicamente pelas condigdes dos contratos de trabalho, aos quais se sujeitavam os chineses, no en- tender da época o melhor exemplo de sua conveniéncia, As providéncias para a elaboracdo dos contratos de trabalho com os chineses, contidas num decreto elaborado poucos anos antes, apon- tam os moldes das relagdes de trabalho que poderiam ser estabelecidas com estes trabalhadores. De acordo com o Decreto, a forma de pa- gamento, sua espécie e periodicidade, a qualidade e quantidade dos alimentos, o vestuério, o tratamento nas enfermidades ¢ o forneci- mento dos medicamentos necessdrios constituiriam obrigagdes do patrao. O ntimero de horas de trabalho didrio nfo excederia a dez (podendo-se eleyar a doze, mediante compensac&io), e os saldrios ficariam suspensos no caso de interromper-se 0 servico por motivo independente da vontade do patrao. O trabalhador ficava obrigado a renunciar ao direito de reclamar contra o saldrio estipulado, mes- mo que este fosse menor que o de outros jornaleiros livres ou escra- yos no Brasil, e s6 podia rescindir 0 contrato mediante pagamento prévio da indenizacio ao patrio. Do mesmo modo que as empresas de engajamento, 0 patrao possuia a faculdade de transferir 0 contrato a outra pessoa pelo tempo que faltasse, ou de alugar o servico do trabalhador nas mesmas condig6es estipuladas. O trabalhador ficava obrigado a fazer novo contrato se quisesse permanecer no Império, © no caso contrario, de retirar-se 4 sua custa. Os trabalhadores de- viam ser robustos, com menos de 45 anos, e especialmente habituados ao servico da lavoura. A protecfio dos trabalhadores asidticos e a garantia das obrigagdes ou direitos recfprocos dos trabalhadores e seus patrGes ou locatérios ficavam reguladas pela lei de 11 de outu- bro de 1837, ou por qualquer outra que se promulgasse." Nao raras vezes, esses moldes que se reservavam para as rela- ges com os chineses foram identificados pelos opositores da pro- posta como uma forma de “escraviddo disfargada”: “.., o pensa- mento do governo neste caso nado é mais do que a restauracao da escravidao, € a introducdo da escraviddo asidtica. Machina de tra- balho! Um trabalhador sem famflia, obediente, passivo, incapaz de resisténcia € 0 escravo.”? 116 No entanto, as condigdes especiais dos contratos dos chineses ndo cram o ponto chave para o qual se voltavam os argumentos da oposi¢ao. Nao era as condigSes mesmas dos contratos que se opunham. A imigragao chinesa era condendvel, segundo seus opositores, por ser chinesa, por constituir o perigo de “mongolizagio” do pais; com seus salarios baratos, os chineses podiam concorrer com o trabalhador nacional e pelas condigées dos contratos que firmavam afastariam a imigragao européia. Desse modo, néo podia ser admitida nem mesmo como uma tentativa entre outras, Para a oposigao, o liberto, © escravo ou o nacional podiam ser transformados em “servo de gleba” ou “colono”, mas nao o chinés. E propostas de se organi- zarem “milicias agricolas” com nacionais ¢ libertos de modo algum permitiam a criagéo de um “colonato chinés”. Contratos de locacao de. servigos cram aceitos e regulamentados para estrangeiros, nacio- nais, libertos e escravos, mas com chineses haveria o perigo de de- sencadear um poderoso e talvez “permanente” comércio com o tra- fico de chineses, com 0 que em pouco estaria estabelecida a “escra- vidao asiatica”, Ora, essas argumentagdes muitas vezes retéricas revelavam, no entanto, posigdes ¢ interesscs que, extrapolando o conteddo de ra- cismo que as permeava, compunham o quadro politico do final dos anos 70: o fracasso das experiéncias particulares com a imigracio européia, o abalo das condicées estabelecidas com a Lei do Ventre Livre, 0 movimento de resisténcia dos escravos, as divergéncias entre 0s interesses das provincias do norte ¢ do sul, a crescente influéncia dos interesses da Provincia de S40 Paulo nas decisdes governamentais, c, abarcando todos estes pontos, os modos possiveis e alternativos de organizagiio das relacdes de trabalho. Para aqueles que propunkam como aliernativa a imigracSo. chi- nesa, 0 descrédito da imigracio européia nos moldes até ent&o pra- ticados e a necessidade de restauracao dos planos formulados com a Lei do Ventre Livre, de uma abolicao lenta, gradual ¢ segura, cons- titufam sem diivida motivagdes importantes. Moreira de Barros, Mi- nistro dos Estrangeiros, e Sinimbu, da Agricultura, cuidavam fre- qlientemente de reafirmar que a Lei do Ventre Livre nfo seria alte~ rada: “... declaro solenemente que n&o hé de ser com o meu voto que se poderd fazer qualquer alteracao na lei de 28 de setem- bro”, repetia Sinimbu sempre que alguém se opunha & imigracao chinesa.# A proposta de imigracio chinesa foi por diversas vezes na CAémara acusada de possuir uma “cor local”: “Quem quer os chins €o sul”; “... a que ponto pode chegar o amor pela importaciio dos coolies, porque a lavoura de S. Paulo mostra queré-la a despeito de toda a evidéncia, que ela mesma confessa, dos funestos efeitos 117 para o nosso pafs, moral, fisica, econémica, social...”* Tanto Si- nimbu quanto Moreira de Barros eram, além de ministros, fazen- deiros de café em Sao Paulo; e, coincidéncia ou nao, os outros defensores de proposta na Camara eram paulistas. Segundo Bar~ tos, SAo Paulo necessitava dos chineses sobretudo como jormaleiros, pois os colonos estabelecidos com contratos somente para lim- par e colher café nfo eram suficientes para os outros manejos da fazenda, e que na falta de escravos os lavradores precisavam ter jornaleiros, dos quais pudessem dispor livremente para este fim. Reconhecia que nfo havia falta de bragos na Provincia de Sdo Paulo, mas que o seu potencial tinha um limite, devido as manu- missdes e 4 morte, Era necessério, portanto, nao sé preencher os claros que iam se formando, mas também “facilitar a aquisigéo de outros bragos que substituam os escravos no abandono que fazem das outras culturas pelo café”. As tentativas para a promogio da imigracfo chinesa porém, mais uma vez resultaram infrutfferas. Admite-se como causa funda- mental a forte oposic&o internacional. O cénsul chinés T. Kung Sing, mediador das negociagdes processadas, partiu precipitadamente do Brasil no final do ano de 1883, e alguns dias depois era dissolvida a Companhia Commercio e Imigragaio Chinesa.* A lei de locagiio de servigos e a experiéncia da missio 4 China revelaram os planos que se delineavam como alternativas ao traba- Tho escravo. Apesar dos alvos ¢ intercsses distintos, em 1879 as duas propostas s¢ mostraram como uma possil lade muito real ¢ muito bem conectada, A frustracio, o mal-sucedido vai se dar em “outros tempos”; a década de 80 era uma “nova era”. CONCLUSAO A virada para os anos 80 constituiu 0 momento privilegiado na definicgéo do modo de encaminhamento da abolicfo e da organizagio e estruturagio de um mercado de trabalho livre. Outros tempos ent&io se anunciaram. Tempos decisivos, marcados pela ascendéncia dos interesses da cafeicultura paulista nas decisdes governamentais, pela euforia abolicionista, pelo éxito da imigragfo subvencionada e pela generalizacfio de um sistema muito peculiar de trabalho, 0 co- lonato, Nestes novos tempos, a lei de 1879 e com ela um modo possivel de encaminhamento de uma solucfo para o problema de mao-de- obra nfo se atualizaria. Este fato, entretanto, sé se veria claramente definido a partir de meados da década, Até ent3o, o perfodo era 118 ainda de indefinigdes e as tentativas de solucionar o problema da méo-de-obra se mesclavam e se sobrepunham, A lei de locagaio aprovada em 1879, apesar de posta em execucio apenas parcialmente, 7 reyelou-se, aos olhos dos fazendeiros paulistas, lesiva aos seus interesses. Os artigos mais criticados eram o que reduzia & metade dos gastos com transportes e despesas de insta- lagio a divida a ser imposta aos trabalhadores contratados no es- trangeiro e 0 que proibia a cobranca de juros sobre tais quantias. Igualmente criticava-se a matéria penal, pois, recolhidos a prisdo, os imigrantes no s6 nao pagavam suas dividas como nao traba- Jhavam. Em meados de 1884, certamente em resposta as reclamagdes de entao, um projeto propondo alteragdes significativas na lei de loca- gio de 1879, retornava ao centro dos debates parlamentares. A idéia central do projeto, segundo um de seus autores, era aprovei- tar o trabalho do nacional e garantir a plena “liberdade” na realiza- gio do contrato e a completa eficdcia dos direitos dele derivados. A matéria penal, manifestamente mais rigorosa ao prever pena de Priséo com trabalho, era justificada: “A sanc&o penal é a tinica ga- tantia que pode segurar os direitos do locatdrio. O locador, que tem por capital o seu trabalho, no pode responder pela execugio do contrato senfo com © seu corpo, enquanto que o locatdrio garante © contrato com sua propriedade e os seus bens.”* O conteiido das discussées deixa no entanto entrever que cra outro o momento. As opiniées mostravam-se mais claramente definidas. A oposi¢io nfo recusava de todo a “locag&io de servigos”, mas exigia que a sua regulamentacao respeitasse as diferencas regionais. Criticava — em prol de uma maior liberdade nas transacées entre contratados e con- tratantes — o excesso de regulamentacées do projeto. A minucio- sidade da lei, que antes fora ressaltada como previdéncia, passou a ser censurada por “selar com circulos de ferro” os contratos ¢ por abranger disposicdes que deveriam ficar ao “arbitrio das partes con- tratantes”. A preocupagao maior se concentrava nas garantias da “fiberdade de trabalho”. Ora, nessa ocasifio, o éxito da imigrac&o italiana e o sistema de colonato j4 anunciam outros moldes no encaminhamento do pro- cesso de abolicio e¢ organizaciio de um mercado de trabalho livre na Provincia de Sio Paulo. A imigragfio em massa subvencionada garantia aos fazendeiros paulistas uma forca de trabalho abundante e barata. Solucionado o problema das dividas, a liberalizacfio dos contratos se apresentava como medida necessiria, nfo s6 pata a atracio de um nimero maior de imigrantes mas também, mediante © aumento da oferta e concorréncia livre num mercado de traba- Iho, a diminuig&o dos saldrios. As novas relagdes com os imigrantes 119 nao se harmonizavam com os “famigerados” “contratos de servigos” e, além do mais, tornavam dispens4vel a compulsao legal ao trabalho de nacionais ¢ libertos. As novas relagdes que se estabeleciam tor- naram a lei de locagio de seryigos inconveniente e mesmo desneces- séria: “... na provincia de Sao Paulo, a lei de 15 de margo de 1879 efetivamente s6 existe no papel.”” No entanto, se Séo Paulo buscava implementar a sua solugdo para o problema do trabalho com a imigragao subvencionada, as outras provincias buscavam com outras formulas as suas solugdes para o mesmo problema. E continuavam exigindo ¢ sugerindo os termos de uma “boa lei de locagio de servigos”. O abandono da legislagao certamente comprometia os moldes previstos de uma aboligio lenta, gradual ¢ segura. Ao final da década, os fazendeiros paulistas, cujo poder no Governo vinha crescendo decisivamente, conseguiram impor ao resto do pais a sua solugio para o problema do trabalho, Os interesses da Provincia cafeeira passam claramente a dar o tom do processo de mudangas desencadcado. A. lei de locagao de 1879 e, com ela, todas as outras leis de locagio de servigos seriam revogadas pelo Decreto n? 213 em 1890. A intengdo explicita do Decreto era favorecer a atragéo da imigracio e substituir os “vexatérios” contratos de loca- gio por “atos de pura convengdo, tendo por base o mituo con- sentimento, e elevando por esse modo o colono a categoria de parte contractante. . .”." O dinamismo da regiao cafeeira e a influéncia de seus repre- sentantes na politica governamental definiram a solucéo para 9 pro- blema do trabalho em Sao Paulo. As outras provincias continuariam na busca de suas solugdes, no entanto, a partir de entéo, francamente subordinadas a ou 4 margem do sucesso paulista. NOTAS 1 —O decteto aprovado em 15 de margo de 1879 compunha-se de 86 artigos, dispostos em sete capitulos, dos quais dois se referiam estritamente & matéria penal e As quesiZes de proceso. Compreendia a locacio de servicos propriamente dita, a parceria agricola ¢ a parceria pecuéria, ¢ estabelecia um tempo méximo de duragio do contrato: seis anos para brasileiros, cinco anos para estrangeiros e sete anos para libertos, prazo este jé estabelecido pela Lei de 28 de setembro de 1871. Previa como justas causas para o locatario (aquele que aluga os servigos de outrem) despedir o locador (aquele que alugar seus seryicos @ outrem), entre outras, embriaguez habitual, doenga prolongada, im- pericia, insubordinagéo. Prescreyia pena de prisio para os seguintes casos: © locador que, sem justa causa, ausentar-se, ou que permanecendo no estabe- 120 lecimento nao quiser trabalhar, ou que sublocar o prédio da parceria ou que © retiver a titulo de dominio, ou que dispuser do gado da parceria sem consen- timento. A prisio de 5 a 20 dias poderia ser resolvida pelo pagamento dos débitos; em caso de reincidéncia ou pelo fato de ausentar-se ou nfo querer trabalhar a prisfio teria o dobro do tempo da primeira ou o contrato seria cancelado. E, por fim, se a auséncia ou @ recusa a trabalhar fosse coletiva, “os infratores seriam detidos até o julgamento que, com urgéncia, promover- seia num s6 processo”. Coilegto das leis do Imperio do Brazil, 1879. Rio de Janeiro, Typ. Nacional, 1861-1880, vy. 1879. p. 11-20. 2—“... a lei de 1871 foi mais do que uma resposta coordenada a esta conjungfio de presses e acontecimentos. Também foi estratégia consciente, dirigida para lidar com o problema mais amplo de controlar ¢ disciplinar a organizagio do mercado de trabalho”. In GEBARA, Ademir, The transition from slavery to free labour market in Brazil: 1871-1888: slave legislation and the organization of the labour market. Tese de doutoramento, University of London, p. 107. 3 — A discussio do decreto de 1879 se inicia na década de 60, Em 1869, € apresentado na Camara dos Deputados por Alencar Araripe como projeto-de- Iei de n° 93. Em 1874, 6 enviado ao Senado de onde, reescrito por Nabuco de Aratijo, em 1877, sairia totalmente remodelado, Em fins de 1878 — Nabuco j4 era falecido ¢ quase todos cram noyos na Cimara — o projeto é, finalmente, ‘aprovado em Gnica sesso e sem nenhuma discusséo. (Para uma anélise deta- Ibada das discusses verificadas na Camara ¢ no Senado sobre a “locagio de servicos” e as condices de aprovacio da lei ver o cap. II de nossa dissertacdo.) 4 — RODRIGUES, José Honério (org.) Afas do Conselho de Estado, Senado Federal, 1973-1978, v. 6, p. 205 (grifo nosso). 5 — Ibidem, p. 207 (grifo nosso). 6 — Em abril de 1867, tendo em vista as discuss6es dos projetos de Pimenta Bueno, Marqués de Sao Vicente, no ano anterior, o Conselho de Estado nomeou uma comissio para cuidar da reforma do elemento servil. © projeto desta comissio redigido pelo seu presidente, Nabuco de Aratijo, foi apresentado e discutido no Conselho de Estado em 1868, e com poucas altera- Ges foi aprovado, tornando-se o projeto do Conselho, O texto do projeto da comisséo inicial e 0 parecer que 0 precede, onde esto expostas as raz6es para cada medida aceita ou rejeitada pela comissao foram publicados como Traba- tho sobre a Extingdo da Escravatura, Rio de Janeiro, Typ. Nacional, 1868. 7 — Ver o projeto de Nabuco em “Confronto dos Trabalhos do Conse- tho de Estado com a lei de 28 de setembro de 1871 a proposta primitiva do Governo”. Anexo in NABUCO, Joaquim. Um estadista do Império, 4 ed., Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1975, p. 1.071-1.092; e 0 projeto da Comisso Teixeira Juntor em Elemento servil. Parecer ¢ projeto de lei apresentado & Camara dos Srs. Deputados na sessio de 16 de agosto de 1870 pela Comissiio especial nomeada pela mesma Camara em 24 de maio de 1870. Rio de Janeiro, 1870, p. 165-199. 8 — Elemento servil, op. cit, p. 176 © p. 168 (grifo nosso). 9 — GEBARA, A. op. cit. p. 111, 10 — “Confronto in NABUCO, J. op. cit., p. 1.087-1,088. Corres- ponde ao art. 6°, §§ 18, 2°, 3° ¢ 4. 11 — NABUCO, J. op. cif, p, 1.090-1.091; e Elemento servil, op. cit. 12 — Lei Rio Branco, art. 4°, § 3°, in Collecgiio de leis do Império do Brasil de 1871, Rio de Janeiro, 1871. Tomo XXXI, parte I. (grifo nosso), 13 — Ibidem, art. 6°, § 5. 14 — RODRIGUES, J. H. (org), op. cit, p. 206, 121 15 — “Confronto...”. In NABUCO, J. op. cit., p. 1.091, of. art. 8°, § 2°, (grifo nosso). Para a opiniio da Comisso Teixeira Jdnior, yer Elemento servil, op. cit, p. 178, 16 — GEBARA, A. Op. cit., p. 120. Estas posigdes de Gebara © as so guintes so desenvolvidas no cap. Il, “1871”, de sua tese, op. cit., p. 83-138, 17 — A Gazeta de Campinas, 14 de novembro de 1872, p. 2. 18 — Anais da Camara dos Deputados. Sessio de 17 de setembro de 1879, p. 165 (grifo nosso). Criar as milicias agricolas com nacionais ¢ libertos era proposta defendida também por Domingos Jaguaribe, ver JAGUARIBE, Domingos. Algumas palavras sobre a emigragao. Meios praticos de colonizar. Sao Paulo, Typ. do “Diario”, 1877, p. 15. 19 — Senador Mendes de Almeida. Anais do Senado. Sessio de 5 de outubro de 1877, p. 141. 20 — Para Ademir Gebara a lei tinha o objetivo de tornar as condigdes do Império mais atrativas para os imigrantes europeus, oferecendo-lhes garan- tias de protegao legal. GEBARA, A. op. cit., p. 152. 2i — Methoramento da lavoura. Parecer da comissio de fazenda e co- missio especial nomeadas pela Camara dos Srs, Deputados para estudar os meios de auxiliar a lavoura nacional, ¢ apresentado a mesma Camara na sessdo de 20 de julho de 1875. Rio de Janeiro, 1875, p. 129 (grifo nosso). 22 — “Congresso Agricola de Pernambuco”. Anexo in Relatorio do Mi- nisterio da Agriculiura, Commercio e Obras Publicas, 1879. Rio de Janeiro, Imprensa Industrial, 1879, p. 5-6. 23 — Listas numerosas de retirantes so remetidas ao Agente de Coloni- zago em 1878, solicitando passagens e seu encaminhamento a diversos pontos da Provincia de Si Paulo, cf. Solicitagées de passagens ao Sr. Joaquim José do Rego Rangel, agente de Colonizacdo, 1878. Manuscritos, APESP. ordem 7215, lata 3. O trabalhador nacional, que a partir da década de 70 nfo se diferencia claramente do liberto, parece ter sido freqtientemente utilizado. nas fazendas de café em Sao Paulo. De acorde com o Relatorio do Ministerio da Agricultura, Commercio e Obras Publicas, 1875, Rio de Janeiro, Typ. Ameri- cana, 1875, p. 285-286, nas fazendas Sao Jeronymo e Cresciumal, do Bardo de Souza Queiroz, dentre 688 individuos, 339 eram brasileiros. E em 1879 0 nticleo de Santa Barbara, também do Bardo, contava com 250 brasileiros, num total de 304 individuos, cf. Relatorios do Ministerio da Agricultura, 1879, op. elt. p. 74-75. 24 — Projeto n° 241 de 1882, Anais da Camara dos Deputados. Sessiio de 19 de setembro de 1882, p, 45-46, 25 — Senador Mendes de Almeida. Anais do Senado, Sessfio de 4 de outubro de 1877, p. 110. 26 — Até 1879, acerca dos contratos de locagéo de servicos havia os titulos das OrdenagSes Philipinas, que tratavam dos contratos de servicos de criados ¢ contratos de parceria, algumas disposigdes do Cédigo Comercial re- lativas & locagéo de servigos propriamente mercantil e, finalmente, as leis de 13 de setembro de 1830, € 11 de outubro de 1837. 27 — Encontra-se uma exposigfo das tentativas anteriores para a promo- gio da imigrago chinesa no cap. III de nossa dissertagao, 28 — Congresso Agricola: Collecgao de Documentos, Rio de Janeiro, ‘Typ. Nacional, 1878, p. 189. De acordo com Peter Eisenberg, tais opinides nao se dividiam conforme as regides que estavam sendo representadas pelos congressistas. EISENBERG, Peter. “A mentalidade dos fazendeiros no Con- gresso Agricola de 1878”. In LAPA, José R. Amaral (org.) Modos de produgéo e realidade brasileira. Petrépolis, Vozes, 1980, p. 189. 29 — Anais da Camara dos Deputados, Sessio de 8 de outubro de 1879, p. 303-304, 30 — Sr. Manoel Pedro. Ibidem, p. 299. 31 — Decreto n2 4.547 de 9 de julho de 1870. Collecgao de leis do Im- perio do Brazil de 1870. Rio de Janeiro, Typ. Nacional, 1870, tomo I, p. 382 387. Estas condigdes estipuladas no decreto podem ser comparadas avs termos do contrato estabelecido entre “colonos” e engajadores para a Ilha de Cuba, ver “Cépia da traducio do Contracto que se costuma firmar entre o colono ¢ 0 engajador, da Companhia Asiatica de Havana”, in PINHEIRO, J. P, X. op, cit., p. 143-146. Ver também nesta mesma obra o “Termo do contracto feito pelo Agente Sampson e Tappan, em Cantéo, a 20 de dezembro de 1855”, p. 147- 149, ¢, ainda sobre as condigées des contratos com chineses, Demonstragao das’ conveniéncias ¢ vantagens & lavoura no Brasil pela intraducgao dos traba- Thadores asidticos (da China). Rio de Janeizo, Typ. de P. Braga ¢ Cia., 187. 32 — Anais da Camara dos Deputados. Sessio de 8 de outubro de 1879, P. 299-500 (grifo nosso). 33 — Idem, sesso de 31 de margo de 1879, p. 295. 34 — Idem, sessio de 1 de setembro de 1879, p. 302. 35 — Idem, sessio de t1 de setembro de 1879, p. 89. 36 — VIOTTI DA COSTA, Emilia. Da senzala & Colénia. 2* ed., Sao Paulo, Ciéncias Humanas, 1982, p. 128. 37 — O aviso circular de 8 de maio de 1880 enyiado aos presidentes de provincia declaraya que a lei podia ser cumprida, salvas as disposigdes dos ar- tigos 8, 25 e 31, cf. Anais da Camara dos Deputados. Sessio de 7 de julho de 1884, p. 42. O artigo 25 era o mais importante deles, pois, autorizaya o Go- yernd a marcar regulamentos para escrituragio do livro de contas, proceso, tempo ete., para as reclamagdes € contestacdes. 38 — Sr. Almeida Nogueira, Anais da Camara dos Deputados, Sesséo de 30 de junho de 1884, p, 245; 0 projeto n° 241 de 1882 est4 publicado em idem, sessdo de 19 de setembro de 1882, p. 45-46. 39 — A Immigracdo. Boletim n° 26, novembro de 1886, p. 1-2. 40 — Ver, por exemplo Representacéo Municipal de Barbacena em Anais da Camara dos Deputados. Sesséo de 10 de junho de 1887 ¢ da Cimara Mu- nicipal de Juiz de Fora, na sesso de 11 de junho de 1888. 40 — Ver Representacio da Bahia em Anais da Camara dos Deputados, sessiio de 14 de julho de 1884 e Representagdes de Conceigao da Boa Vista ¢ Mar de Espanha em idem, sessio de 19 de maio de 1884; ver também Re- presentaciio Municipal de Barbacena em idem, sessio de 10 de junho de 1887 e da CAmara Municipal de Juiz de Fora, na sessio de 11 de junho de 1888. 41 — Decreto n* 213 de 22 de feyereiro de 1890, Decisdes do Governo Provisério; aqui citado ef. O Direito (Revista de Legislacao, Doutrina ¢ Ju- risprudéncia), ano XVIII, 1890, y. 51. 19%

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