You are on page 1of 5
PODER JUDICIARIO ESTADO DO ESPIRITO SANTO 4°, JUIZADO ESPECIAL CIVEL DE VITORIA Processo n° 347.2011.887078-6 is Requerente: FERNANDA FRIQUES MADEIRA DE FREITAS Requeridas: VRG LINHAS AEREAS S/A. e AMERICAN AIR LINES INC. SENTENCA. Vistos etc. Dispensado o relatério a teor do art. 38 da Lei n° 9.099/95. Inicialmente, nao ha preliminares a serem apreciadas, sendo que defiro a retificagéo do polo passivo da lide para VRG Linhas Aéreas S/A. © pedido autoral funda-se em indenizagéo por danos morais em virtude dos fatos relatados na pega de ingresso. No mérito a meu ver, deflui dos elementos probatérios carreados aos autos, dever prosperar a pretensdio exorada na exordial/reclamacao, devendo o valor do dano ser arbitrado com fulcro nos principios da tazoabilidade e proporcionalidade tendo em vista a extenséo do dano na forma do artigo 944 do CC. No caso em estudo a responsabilidade civil da ré 6 objetiva na forma do art. 927, paragrafo unico do CDC e artigo 14 do CDC, que dispée: “O fornecedor de servicos responde, independentemente da existéncia de culpa, pela reparagdo dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos a prestacgdo dos servigos, bem como por informagées insuficientes ou inadequadas sobre sua fruigdo e riscos". O paragrafo primeiro do art. 14 estabelece ainda: “O servigo é defeituoso quando nao fornece a seguranga que 0 consumidor dele pode esperar levando-se em consideracéo as circunstancias relevantes: | - 0 modo de seu fornecimento; II - O resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; Ill - a época em que foi fornecido.” Deste modo, a responsabilidade do fornecedor de servigos é objetiva, néo apurando, em principio, culpabilidade. Porém, a culpabilidade da ré esta presente no caso em exame, visto iinet Abib e Juiz de Dieeito que houve atraso dilargado para solugdo do problema da autora que fora submetida a espera de 24 horas para embarcar novamente, ficando durante 14 horas no aeroporto sem qualquer assisténcia ou informagao das requeridas. Dessa forma, caracterizado o dano e o nexo de causalidade entre a conduta da Requerida e o dano. Resta, pois apreciar a extensao do mesmo na forma da Lei. Primeiramente, decorre de tal evento, que ocorreu ferimento ao direito subjetivo do autor face aos fatos descritos. Assim, quanto ao dano moral, entendo que existe presungdo de sua ocorréncia em face dos fatos narrados pela parte autora na inicial, o que gera constrangimento exagerado, como também, ferimento a dignidade e depreciagdo pessoal do autor. E indenizdvel 0 dano moral, sem que tenha a norma constitucional condicionado a reparagao a existéncia de seqdelas somaticas. Desta forma, é indenizavel o dano puramente moral, sem condiciona-lo a qualquer prejuizo de ordem material pois a pectinia visa compensar o abalo sofrido pela vitima. Neste diapasdo, 0 passageiro ao comprar o seu bilhete de passagem formaliza um contrato de transporte com a outra parte, devendo a mesma encaminha-lo com total seguranca @ exatiddo ao seu ponto de chegada. No mais, Vejamos 0 atual entendimento jurisprudencial quanto ao dano moral presumido: “O dano simplesmente moral, sem repercuss4o no patriménio, nao ha como ser provado. Ele existe tio somente pela ofensa, e dela é presumido, sendo o bastante para justificar a indenizagado” (RT 681/163). Ainda neste sentido: " A jurisprudéncia desta corte (STJ) esté consolidada no sentido de que na concepgaéo moderna da reparagio do dano moral prevalece a orientagdéo de que a responsabilizagaéo do agente que se opera por forga do simples fato da violagaéo, de modo a tornar-se desnecessaria a prova do Prejuizo em concreto. " ( RSTJ 124/397). Reza ainda a jurisprudéncia em casos similares : APELAGAO CIVEL. ACAO DE INDENIZAGAO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. TRANSPORTE AEREO. APLICACAO DO CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. CANCELAMENTO DE. VOO. DANO MATERIAL COMPROVADO. DANO MORAL EXISTENTE. DEVER DE INDENIZAR. QUANTUM INDENIZATORIO FIXADO COM PROPORCIONALIDADE SENTENCA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. A relacdo juridica entre passageiro ¢ a companhia aérea amolda-se em tipica telago de consumo, porquanto esta se encaixa no conceito de fomecedor do art. 3° do CDC e aquele no de consumidor, previsto no art. 2° do mesmo cédigo. Assim, nao se pode admitir que o consumidor fique a mercé dos riscos da atividade do fornecedor, de modo que, vindo a sofrer prejuizos decorrentes de cancelamento de véo, deve ser ressarcido. Se os gastos decorrentes da situagao que ensejou o ajuizamento da agao indenizatoria estao devidamente comprovados, a condenacéo ao pagamento de danos ve rs one materiais é devida. inquestionavel que o cancelamento de véo gera diversos transtornos, como o desconforto e o aborrecimento de passar horas e horas no saguao do aeroporto, além de atrapalhar os planos da viagem, configurando dano moral. © quantum da indenizagdo por danos morais deve ser fixado com prudente arbitrio pelo juizo ou Tribunal, de forma que no seja tao elevado que venha a constituir em enriquecimento indevido do autor, nem irrisério a ponto de permitir a continuidade da pratica de atos de idéntica natureza. Recurso da requerida conhecido e improvido. (TJMS; AC-Or 2010.038290-3/0000-00; Campo Grande; Quarta Turma Civel; Rel. Des. Dorival Renato Pavan; DJEMS 15/03/2011; Pag. 27) PROVA. DOCUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL. TRANSPORTE AEREO. ATRASO NO EMBARQUE EM VIRTUDE DE CANCELAMENTO DO VOO. AUSENCIA DE JUNTADADO BILHETE PELO AUTOR, TRAZENDO AOS AUTOS APENAS O CARTAO DE EMBARQUE, QUE CONTEM O NOME DO _ USUARIO. IRRELEVANCIA, POR DISPOR A RE DO REGISTRO DOS PASSAGEIROS PREVISTOS PARA CADA VOO. PRELIMINAR DE CARENCIA DA ACAO AFASTADA. RESPONSABILIDADE CIVIL. TRANSPORTE AEREO. DANO MORAL. ATRASO NO EMBARQUE EM VIRTUDE DE CANCELAMENTO DO VOO. ESPERA_NO AEROPORTO PELO RECORRIDO DURANTE 24 __HORAS. PRESUNCAO DO DANO RECONHECIDA, UMA VEZ NAO DEMONSTRADAQUALQUER PROVIDENCIA PELA RECORRENTE PARA QUE O MESMO NAO OCORRESSE. CONDENACAO, IDO, EM 5.t “POINCARE, AFASTANDO-SE A ADOCAO DO DIREITO ESPECIAL DE SAQUE (DES) COMO CRITERIO DA REPARACAO, EM RAZAO DA NAO RATIFICACAO DOS PROTOCOLOS 3 E 4 DE MONTREAL. INDENIZATORIA PARCIALMENTE PROCEDENTE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO PARA ESSE FIM. TGB/LAnotacdo:Dano moral. Responsabilidade civil. Transporte aéreo internacional. Atraso de 24 horas, aguardando, o passageiro, no_saguao do aeroporto, Auséncia de provas de que o transportador tenha tomado as medidas do art, 20 da Convenc4o de Varsévia. Juizo da experiéncia fazendo reconhecer a presenga dodano e nao presungao de dano. Embargos de declaracdo rejeitados. SCF/mebg em 22.03.00 Recurso Especial n° 214.824. julg. 25.10.99. 4* Turma. Rel. Juiz Ruy Rosado de Aguiar. vu. publ. 29.11. (1° TACSP; ExSusp 754272-1; Terceira Camara de Férias; Rel. Juiz Itamar Gaino; Julg. 19/01/1998) APELACAO CIVEL. TRANSPORTE AEREO. CANCELAMENTO DE VOO. AUSENCIA DE PROVAS DA ALEGADA EXCLUDENTE:-DE RESPONSABILIDADE. Os documentos acostados aos autos, embora demonstrem que no dia previsto para o voo dos autores as condic¢des climaticas no eram favoraveis, nao indicam que no horario originariamente previsto tal situago persistia, ou que, ao menos, teria sido determinante para o cancelamento. Independentemente do motivo que levou ao atraso do véo, é dever da companhia aérea rf $F 00 ovate prestar as devidas informagdes aos passageiros, fornecendo-lhes assisténcia com hospedagem e alimentacao. Hipétese dos autos em que caracterizada a falha na prestacéo dos servicos. Danos morais configurados. Reduzido o valor fixado na origem. A unanimidade, deram parcial provimento ao apelo e, por maioria, negaram provimento ao recurso adesivo, vencido o des. Anténio Maria Rodrigues de freitas iserhard, que nado conheceu do recurso. (TJRS; AC 190607-77.2011.8.21.7000; Osério; Décima Primeira Camara Civel; Rel® Des* Katia Elenise Oliveira da Silva; Julg. 18/05/2011; DJERS 30/05/2011) CONSUMIDOR. ATRASO DO VOO. MAU TEMPO. FORGA MAIOR. AUSENCIA DE PROVAS QUANTO AO MAU TEMPO. NEXO CAUSAL. ENTRE AS CONDICOES CLIMATICAS DE OUTRO LOCAL E O ATRASO DO VOO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA EMPRESA. DANOS MORAIS CARACTERIZADOS. VALOR ADEQUADO AS CIRCUNSTANCIAS DO CASO. PRINCIPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. Condigées climaticas adversas constituem motivo de forga maior e excluem a responsabilidade da empresa pelo atraso do véo, entretanto, devem ser comprovadas. 2. Afastado 0 fortuito externo, a empresa aérea responde objetivamente pelos danos materiais e morais causados aos seus passageiros. 3. O valor da indenizag&o mostra-se justo e razoavel ao seu fim e adequado as circunsténcias do caso em exame. 4. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 5. Sentenga mantida por seus préprios e juridicos fundamentos, com Sumula de julgamento servindo de acérdao, na forma do artigo 46 da Lei n° 9.099/95. 6. Nos termos do artigo 55 da Lei dos Juizados Especiais (Lei n° 9.099/95), candeno a apelante no pagamento de custas processuais e honordrios advocaticios, estes fixados em 10% sobre o valor da condenacao. (TJDF; Rec. 2009.01.1.197841-8; Ac. 500.985; Segunda Turma Recursal dos Juizados Especiais Civeis e Criminais do Df; Rel. Juiz Asiel Henrique; DJDFTE 06/05/2011; Pag. 382) CONSUMIDOR. TRANSPORTE AEREO. ATRASO DE VOO POR CERCA DE 06 HORAS. ALEGAGAO DE MA CONDICAO CLIMATICA. AUSENCIA DE PROVAS. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA EMPRESA. DANOS MORAIS CARACTERIZADOS. VALOR ADEQUADO AS CIRCUNSTANCIAS DO CASO. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1._Condigées climaticas_adversas constituem motivo de forca maior e excluem a responsabilidade érea do véo. E1 tais condicé devel das Nao exoni ior de do Snus. a alega Ita de imy a al ndicao cli or se t consi ie facil ad idor. 2.Enseja indenizagao por danos morais 0 atraso de véo de cerca de 06 (seis) horas. O valor da indenizagéo atende aos crit da i razoabilidade e da proporcionalidade. 3.RECURSO CONHECIDO ‘f (22 = ao brane IMPROVIDO. 4.Decisao proferida na forma do artigo 46 da Lei n° 9.099/95, servindo a ementa como acérdo. 5.Nos termos do artigo 55 da Lei dos Juizados Especiais (Lei n° 9.099/95), condeno a apelante no pagamento de custas processuais e honorarios advocaticios, estes fixados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenagdo. (TJDF; Rec. 2010.07.1.006050-0; Ac. 497.104; Segunda Turma Recursal dos Juizados Especiais Civeis e Criminais do Df; Rel. Juiz Asie! Henrique; DJDFTE 18/04/2011; Pag. 227) Resta apurar o quantum. O arbitramento é o critério por exceléncia para indenizar o dano moral. Para apuragdo do valor se faz necessario verificagao das circunstancias em que ocorreu © evento danoso. A fixagdo do quantum deve atender as condigées das partes, & gravidade da lesdo, A sua repercussdo na esfera dos lesados e ao potencial econdémico social do lesante. Ainda seu propésito 6 o de penalizar o ofensor sem, contudo, promover o locupletamento ilicito do ofendido. No caso dos autos, a situacéo sofrida pelo autor, sem duvidas, trouxe-Ihes grande aborrecimento, humilhag&o e desconforto, abalando, assim, a sua honra subjetiva, e por isso deveré ser reparada proporcionalmente. Isto posto, levando em consideragio os fatores acima expendidos, as provas apresentadas no processo, o prejuizo moral presumido sofrido pela parte autora em face do ocorrido, a intensidade da culpa da requerida, © lapso de tempo em que a autora fora acomodada em outro vio, fixo a indenizagaéo em danos morais em R$ 2,500.00 (dois mil e auinhentos resis). tendo em vista os principies da razoabilidade ¢ ionali elo i lagégico mo! Icitranci é acées. d a idor. Do exposto, julgo procedente o pedido formulado na inicial para condenar as requeridas de forma soliddria no Pagamento do valor acima arbitrado a titulo de danos morais, com os acréscimos de lei ( juros e corregao monetaria) até 0 efetivo Pagamento a partir da protagao da presente sentenga. Julgo extinto 0 processo, com resolugdo de mérito, nos termos do art. 269, inc. | do CPC. Sem custas honordrios. PRI. Vit6ria, 30 de novembro de 2011. lo Abiguenem Abib Juiz de Direito

You might also like