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18 A energética dos agroecossistemas Acenergia é um componente bisico dos ecossistemas e da biosfera como um todo. Fundamentalmente, os ecossistemas captam e transfor- mam energia. A energia flui constantemente numa mesma diregdo através dos ecossistemas. Ela entra como energia solar e é convertida por organis- ‘mos fotossintetizadores (plantas e algas) em energia potencial, a qual é armazenada em ligagdes quimicas de moléculas orginicas ou biomas- sa. Sempre que esta energia potencial é colhida por organismos para realizar trabalho (isto é, crescer, mover-se, reproduzir-se), a maior parte é transformada em energia térmica, que ndo esté mais disponivel para trabalho ou transformagio adicional ~ ela é perdida do ecossistema. A agricultura, em esséncia, é a manipulagdo humana da captagdo ¢ fluxo de energia em ecossistemas. Os seres humanos usam agroecossiste- mas para converter a energia solar em formas particulares de biomassa — formas que podem ser usadas como alimento, ragdo, fibra e combustivel, Todos os agroecossistemas — dos simples plantios e colheitas lo- calizados da agricultura primitiva até os agroecossistemas intensamen- te alterados de hoje —requerem um aporte de energia humana, além da- quela oferecida pelo Sol. Este aporte € necessério, em parte, devido & remogdo pesada de energia dos agroecossistemas na forma de material colhido. Mas ele também é necessério porque um agroecossistema deve, até certo ponto, desviar-se e opor-se aos processos naturais. Os seres humanos devem intervir de varias maneiras — manejar plantas adventi- cias e herbivoros, irrigar, cultivar o solo, e assim por diante — e fazer isso requer trabalho. A “modernizacdo” agricola das diltimas décadas tem sido basica- mente um processo de colocacao de quantidades cada vez maiores de energia na agricultura, para aumentar o rendimento. Mas a maior parte 509 desse aporte de energia adicional vem, diretamente ou indiretamente, de combustiveis f6sseis nao renovaveis. Além disso, o retomo do in- vestimento de energia na agricultura convencional nao é favordvel: em muitas culturas, investimos mais energia do que conseguimos de volta como alimento. Nossa forma de agricultura com uso intensivo de ener- gia, portanto, ndo pode ser sustentével no futuro, sem que ocorram mu- ddangas fundamentais. Energia e as leis da termodinamica Um exame dos fluxos de energia e insumos na agricultura requer um conhecimento basico da energiae das leis fisicas que a governam, Primeiro, o que é energia? Energia é mais comumente definida comaa capacidade de realizar trabalho. O trabalho ocorre quando uma forga age, percorrendo uma determinada distancia a partir de seu ponto de aplicagdo. Quando a energia est realmente realizando trabalho, ela é chamada de energia cinética. Existe energia cinética, por exemplo, em uma enxada cavando ou um arado sulcando, e também nas ondas lumi- nosas do Sol. Outra forma de energia 6 energia potencial, que é aener- gia em repouso capaz de realizar trabalho. Quando a energia cinética realiza um trabalho, parte dela pode ser armazenada como energia po- tencial. A energia nas ligagdes quimicas da biomassa é uma forma de energia potencial. No mundo fisico e em ecossistemas, a energia move-se constante- mente de um lugar para outro e muda de forma. Como isso ocorre é des- crito por duas leis da termodinamica. De acordo com a primeira lei da termodindmica, a energia nfo é cridda nem destrufda, no importando que transferéncias ou transformagées ocorram. A energia muda de uma forma para outra quando se move de um lugar para outro ou é usada para realizar trabalho, ¢ toda ela pode ser contabilizada. Por exemplo, a energia térmica e a energia luminosa criadas pela queima de lenha (mais a energia potencial dos produtos resultantes) é igual & energia potencial da lenha e oxigénio antes de queimarem. ‘A segunda lei da termodinamica afirma que, quando a energia € transferida ou transformada, parte dela é convertida em uma forma que nio-pode mais ser passada adiante e no fica disponivel para realizar trabalho. Esta forma degradada de energia € calor, que é simplesmente 510 o movimento desorganizado de moléculas. A segunda lei da termodina- mica significa que sempre ha uma tendéncia ria dirego de maior desor- dem, ou entropia, Para opor-se & entropia — para criar ordem, em outras palavras -, € necessdrio gastar energia. O efeito da segunda lei pode ser visto claramente em um ecos- sistema natural: & medida que energia € transferida de um organismo para outro na forma de alimento, grande parte dela é degradada em calor pela atividade metabélica, com um aumento liquido de entro- pia. Num outro sentido, os sistemas biolégicos nao parecem ajustar- se & segunda lei da termodinamica, porque s4o capazes de criar or- dem a partir da desordem. Eles so capazes de fazer isso, contudo, por causa do constante aporte energético de fora do sistema, na for- ma de energia solar. Uma andlise dos fluxos de energia em qualquer sistema requer medir 0 uso da energia. Muitas unidades estéo dispontveis para isto. Neste capitulo, usaremos quilocalorias (kcal) como a unidade preferi- da, por ser a que melhor relaciona a nutri¢o humana com aportes de energia para a produgdo de alimentos. Outras unidades e seus equiva- lentes estdo relacionadas na tabela 18.1. Tabela 18.1 Unidades de medida de energia Unidade Definigao quivalentes Calor (cal) (Quantidade de calor necessiria para clevar (0,001 keal 1g (Im) de éguaem Ca 15°C 4187 joule Quilocaloria(Keal) _Quantidade de calor necesséria pars clevar 1000 eal ik de Agua em 1°C a 15°C 4187joule 3,968 Bu Unidade Témica --_Quantidade de calor necesséria para elevar Britanica (BTU) uma librade égua.em 1°F 252eal 0.252 Keal Joule (Quantidade de trabalho despendida 20 mover-se0.252cal uumodjeto porumadistinciade Imcontrauma _0,000252keal forgade 1 newion Captagio da energia solar © ponto de partida do fluxo de energia através de ecossistemas € agroecossistemas 6 0 Sol. A energia emitida pelo Sol écaptada por plan- tase convertida em energia quimica armazenada, através do processo Ge fotossintese, discutido nos capitulos 3 e 4. A energia acumulada pe- tas plantas através da fotossintese € chamada de produsdo prindria, porque ela 6a primeira e mais bisica forma de armazenamento de ener. giaem um ecossistema. A energia restant arespiragio necesséria para manter as plantas € a producio primériaLiquia (PPL) e permane- pe como biomassa armazenada. Através da agricultura, podemos con- entrar esta energia armazenada em biomassa, que pode ser colhida e sutilizada no consumo direto ou como forragem para animais que, por sua vez, podem ser consumidos ou usados para realizar trabalhos. ‘As plantas variam na eficiéncia com que captam a energia solar © aconvertem em biomassa armazenada. Essa variagio € 0 resultado Sie diferengas na morfologia das plantas (isto €, érea foliar), eficién- cia fotossintética e fisiologia. Ela também depende das condigoes em ue a planta é cultivada. As plantas agricolas S40 das mais eficsontes was, mesmo neste caso, a eficiéncia de sua conversio da luz solar em piomassa raramente excede a 1% (uma eficiéncia de 1% significa que 116 da energia solar que alcanga a planta é convertida em biomass®), ‘O milho, considerado uma das culturas para al imentagao e forra- gem mais produtivas por unidade de drea, pode fornecer até 15.000kg/ Pavsafra de biomassa seca, dividida proporcionalmente entre gr80s, Golmo e folhas. Esta biomassa representa cerca de 0,5% da energia Solar que aleanga a érea do milho durante 0 ano (ou cerca de 19% da juz solar que aleanca o milho durante a estagio de cultivo). Uma safra de batatas rende 40,000kg/ha de tubérculos frescos (o equivalente *700Kg/ha de matéria seca), e tem uma eficiéncia de conversio de cerca de 0,4%. O trigo, com tm rendimento de gros de 2.700kg/ha e Se materia seca de 6.750kg/ha, tem uma eficiéncia de conversdo de Corea de 0.2%. A eficiéncia de conversio da cana-de-agticar em &re- as tropicals — cerca de 4,0% - é uma das mais altas que se conheve ‘Embora sejam relativamente baixas, ainda so muitas vezes maio- res do que a eficiéncia média de converséo da vegetagdo natural macy ra, que € estimada em cerca de 0,1% (Pimentel colaboradores, 1978) Devemos também levar em consideragio 0 fato de que uma pequent 10 parte da biomassa da vegetacdo natural esté disponivel para consumo humano, enquanto uma grande parte da energia armazenada nas, espéci- es agricolas pode ser consumida. 3.0 1.07 % de radiagao solar que atinge (\ a superficie anualmente, sendo ‘convertida em biomass 0.5, Vegetacao Trigo natural (média) Figura 18.1 Efcicia da converso de enegia solar em biomass Dados de Pimentel colar ‘oradores (1978), Pimentel ecolaboradores (1990); Ludlow (1985). ‘Uma vez que boa parte do alimento consumido nos paises desen- volvidos nao € biomassa vegetal, mas biomassa animal, devemos exa- tninar também a eficiéncia de conversio da energia da matéria vegetal ‘em came ou leite, A produgo de biomassa animal a partir de biomassa ‘vegetal é ineficiente, porque os animais perdem muita energia metabo- fica para a manutenco e respiragdo. ’A andlise desta conversao é normalmente feita em termos do con- teiido de energia de proteina na biomassa animal, ja que 0 leite ¢ 8 car- ne sfo produzidos principalmente por sua protefna. Animais confina- dos precisam de 20 a 120 unidades de energia de alimento vegetal para cada unidade de energia de protefna, dependendo do animal e do siste- tna de produgo, Isto equivale a uma eficiéncia minima de 0.8% e mé- 513 xima de 5%. Se essas eficiéncias de conversdo forem combinadas com ‘as da produgo da rago consumida, a ineficiéncia dos sistemas de pro- dugio animal torna-se evidente. Como exemplo, os produtos vegetais nentam o gado confinado contém cerca de 0,5% da energia solar que atingiu as plantas, e a proteina na came de gado consumida contém 0,8% da energia que estava na rao, rendendo uma eficiéncia total de apenas 0,004% ‘O rebanho a campo deve ser considerado de forma um pouco dife- rente, jé que consegue pastar em terras que podem nao ser apropriadas para outras formas de agricultura e consome forragem diretamente de um ecossistema natural ou sistemas de pastagem com baixa demanda de energia. Eles podem transformar a energia contida em biomassa que os humanos niio podem consumir diretamente. Aportes de energia na produgao de alimentos Embora toda a energia contida no alimento que consumimos ori- ginalmente venha do Sol, precisa-se de energia adicional para pro- duzi-lo no contexto de um agroecossistema. Essa energia adicional vem na forma de trabalho humano, animal e feito por méquinas. A energia é também exigida para a produgio de maquinas, ferramen- tas, sementes e fertilizantes, para prover irrigagiio, para processar 0 alimento e para transporté-lo ao mercado. Devemos examinar todos esses insumos energéticos para entender os custos de energia da pro- dugo agricola e para desenvolver uma base para seu uso mais sus- tentavel na agricultura. E util, antes de mais nada, fazer a distingao entre os diferentes ti- pos de aportes de energia na agricuiltura. A distin¢o principal ocome entre aportes de energia da radiago solar, chamados aportes ecolégi- cos de energia, ¢ aqueles derivados de fontes humanas, chamados de aportes culturais de energia. Os aportes culturais de energia podem ser divididos em aportes biolégicos ¢ industriais. Os aportes biol6gi- cos provém diretamente de organismos ¢ incluem o trabalho humano, trabalho animal e esterco; os aportes industriais de energia so deriva- dos de combustiveis f6sseis, fissio radioativa ¢ fontes geotérmicas € hidrogréficas. 514 racenteadas para aumeatar a produgio de rentos aumentamn 0 custo energetic Para Fontes de ener pans SSimroe Engen coayaecse a at xual hacroscancs eee aie rege ste note eooge ca cences sncnrsecaes A energia cultural bioldgica ea industrial Figura 183-Tiposde pores de coeur. an rae stema (sendo uma forma de insumo huma- podism tanto vir de fora de um determinado agroccossist fo extemo) ou ser derivadas de fontesintemnas ao sistem. E importante notar que, embora estejamos referindo-nos a todas es- sas fontes de energia como “aportes”, a energia cultural biol6gica e a in- dustrial podem ser derivadas de fontes que esto dentro de um determina- do agroecossistema, 0 que, portanto, nfo as tomaria num aporte no senti- do em que estamos usando o termo. Tais “insumos internos” de energia incluem 0 trabalho de residentes nas unidades agricolas, 0 esterco de ani- mais da unidade e a energia dos moinhos ou turbinas edlicas af presentes. APORTE CULTURAL DE ENERGIA E PRODUCAO COLHIDA Do ponto de vista da sustentabilidade, o aspecto-chave do fluxo de energia em agroecossistemas € a forma como a energia cultural € usada para direcionar a conversio de energia ecol6gica em biomassa. Quanto maior o esforgo sobre o ambiente para modificar os processos naturais para a produgao de alimentos, maior a quantidade de energia cultural exigida. A energia € necesséria para manter um sistema com baixa diversidade, para limitar a interferéncia e para modificar as con- digdes fisicas e quimicas do sistema, a fim de manter crescimento & desenvolvimento 6timos dos organismos cultivados. ‘~ Aportes maiores de energia cultural possibilitam produtividade mais alta, Porém, nfo existe uma relagio de um para um entre esses dois fatores. 516 Quando 0 aporte de energia cultural € mt mento” de energia cultural frequentemente é minimo, Como oque sai agroecossistema pode ser medido em termos de energia, podemos avaliar aeficiéncia do uso no agroecossistema com um simples indice: a quantida- de de energia contida na biomassa colhida em relagiio & quantidade de ener- gia cultural exigida para produzi-la. Em todos os agroecossistemas, esse {ndice varia desde um em que sai muito mais energia do que entra, até outro no qual os aportes de energia so maiores do que a saida. ‘Agroecossistemas nao mecanizados (isto é, agricultura de rogado ou pastoreio), que usam somente energi \égica na forma de trabalho humano, so capazes de proporcionar retornos que variam de 5 a quase 40 calorias de energia de alimento para cada caloria de energi cultural investida, Sistemas de cultivo permanente usando trago animal tém um aporte de energia cultural mais alto, mas, como esse investimento maior de energia possibilita rendimentos mais altos, tais sistemas ainda tém retomos favordveis sobre o seu investimento de energia cultural Em agroecossistemas mecanizados, no entanto, aportes muito altos de energia cultural industrial substituem a maior parte da energia cultural biolégica, possibilitando altos niveis de rendimento, mas reduzindo mui- to aeficiéncia do uso de energia. Na produc de gros como milho, tri- {20 € arroz, esses agroecossistemas podem render 1 a 3 calorias de ener- gia de alimento por caloria de energia cultural, Na produgdo mecanizada de frutas e hortaligas, 0 retomno de energia é, no méximo, igual 20 seu investimento e, na maioria dos casos, menor. Para a produgiio de alimen- ‘essa proporgio €, na maior parte dos casos, ainda menos favo- rvel. Para a produgio de came bovina nos Estados Unidos, cerca de 5 calorias de energia cultural so necessérias para cada caloria obtida. ‘Uma vez que os alimentos animais so valorizados mais pelo con- tetido de protefna do que pelo contetido total de energia, também deve- mos considerar a eficiéncia da energia para sua produgo em termos da energia da protefna desses alimentos comparada com a energia da ra- 0 consumida pelos animais. Nesses termos, cada caloria de protefna do leite, carne de porco e came bovina de confinamento requer entre 30 € 80 calorias de energia para ser produzida. Para comparar, uma calo- ria de proteina vegetal pode ser produzida com apenas 3 calorias de energia cultural (no caso de proteina de gros). Mesmo a produgdo de proteina vegetal concentrada (isto é, tofu de soja) néio gasta mais do que 20 calorias de energia por caloria de protefna. si7 Os dados apresentados na figura 18.4 reforgam nossa afirmago de que a exigéncia de energia cultural na agricultura esta intimamente relacionada com o nivel de modificagdo dos processos de ecossiste- mas naturais. Os custos so pequenos quando se deixa a estrutura bsi- ca do ecossistema intacta. Quando determinadas modificagdes menores so feitas, aumentando a abundancia de uma espécie cultivada espectfi- ca que interessa, mais energia cultural é necesséria, mas o retorno ain- da favordvel. Porém, quando um ecossistema natural complexo é subs- tituido por uma monocultura cultivada, com uma forma de vida muito diferente daquela das espécies nativas — como é 0 caso do algodio irri- gado nas terras anteriormente dridas, com vegetagao arbustiva, do vale ocidental de San Joaquin, Calif6rnia -, os custos de energia cultural aumentam de forma acentuada. Quando 0 objetivo também é aumentar 0 nivel de captago de energia solar (produtividade) acima daquele mos- trado pelo sistema natural anterior, os niveis de energia cultural exigi- dos podem ser muito altos Aros rigad, Tania (no rmecanzaco) TA esc eer oe cin Ata <3:1 0 fo wocasencs Mosse Pi orsecte recrazsa core, >3:1(EE) Ettaole Unce, []i:3 Produ mecaniza de boca, Estas Unidos Produgto macanizada da morangos, Estados Unidos [jas Pretrtodecareboira evmentmacs|_|15 40:1 20:1 1 4:20 Cele de enor lmentciaaeis do eneria cra invetsa Figura 18.4 - Comparaglo dos retomas de inv mas. As barras que se esten aporte; as baras di racruz, México. Neste agro- trap maior da copa supe- evossistema, ocafé su Flor das drvores nativas. Pel A figura 18.6 oferece uma outra perspectiva dos custos relativos de energiae de beneficios energéticos em diferentes tipos de agroecos- ‘sistemas, Embora 0 uso de uma grande quantidade de energia cultural possibilite que agroecossistemas convencionais sejam mais produtivos que outros, tais sistemas nao tém um bom retorno de seu investimento de energia. E possivel a producio de alimentos com maior eficiéncia energética se diminyirmos os aportes de energia cultural industrial, au- ‘mentarmos 0 investimento de energia cultural biol6gica e mudarmos a forma como a energia cultural é usada. porte de energia Salda de energia ccm mics [EE] ———— ]] once I—— conc (| [Ey Energia eccisaica LO Ereraia cultural BE Enercia cutral bilica BEBE crercia cata ndusti sara 18.6 - Tamanho eelativo aproximado de aportes e saidas de energia em quatro tipos de Sistemas, O tamanho teal do aporte de energia ecolégica para cada sistema é muito maior do que ‘S mostrado, Note-se que, para a agrcultura mecanizada moderna, a saida total de energiaé menor ‘do.queoaporte de energia cultural; esta disparidade ¢ feqientemente maior do que a mostada a USODA ENERGIA CULTURAL BIOLOGICA ‘A energia cultural biol6gica qualquer aporte de energia de fonte biolégica que esteja sob controle humano — isso inclui o trabalho uma no, o trabalho de animais e qualquer atividade ou subproduto biol6gico controlado pelos seres humanos. Algumas das diferentes formas de ener- 520 gia cultural biol6gica, com seus valores energéticos aproximados, s40 apresentadas na tabela 18.2. Tabela 18.2 Contesdo energético de diversos tipos de aporte de energia cultural biol6gica & agricultura eee ‘Tipo deapore Valorenergtico, “Trabalho humano pesado (impar com um facto) 400 Soke ‘Trabalho humano eve (iigirum trator) 175.200keahr ‘Trabalho de animal grande de tragdo 2.400kcaVor SSemente produzida localmente 4.000Kcag Esterco de vaca 161tkcabeg Exterog de poreo 2408kcalhs Composto comercial 2000Keakg Lodo de biodigestor L.730keal Lndodebiodinese Dados de Coxe Atkins (1979); Pimentel (1984); Zhengfang (1994), A nergia cultural bis 6 renovével na medida em que deriva da energia dos alimentos, cuja fonte primeira é a energia solar. A ener- gia cultural biol6gica também é eficiente em facilitar a produgdo de bi- ‘omassa coletavel. Como vimos anteriormente, agroecossistemas que dependem principalmente de energia cultural biolégica sto capazes de obter a melhor relagio entre safda e entrada de energia. O trabalho humano tem sido o insumo-chave de energia cultural na agricultura desde o seu inicio e, em muitas partes do mundo, atualmen- te, continua a ser o insumo energético principal, juntamente com 0 tra- alho animal. Em sistemas de agricultura de rogado, por exemplo, 0 tra- alho humano € praticamente a dnica forma de energia adicionada, além da energia captada através de fotossintese. Nesses sistemas, as altas relagdes de energia de alimento produzidas para energia cultural inves- tida, de 10:1 2 40:1, so um reflexo da eficiéncia do trabalho humano para dirigir a conversio de energia solar em material de colheita (Ra- ppaport, 1971; Pimentel, 1980). Como exemplo, 0 orgamento energéti co para uma cultura de rocado tradicional ou cultivo de milho com que ‘mada, no México, é mostrado na figura 18.7. 521 Produgao de semetes Prerade maces \ oman en “eapanohumere ‘Acero ol de ners cturt 853.6782 Figura 18.7 - Aportes de eneria cultural mma plantaco tradicional de milo de rogao, no México. ‘A proporsio: de encrgia alimenticia em relacdoenergia cultural intzoduzids neste sste- maéde 12,5 te o machado e a cnxada (usados pas limpare plantar sementes) exigiram ‘um aporte de energia cultura industrial. Dados de Pimentel (1984), Muitos outros tipos de sistemas de produgiio de alimentos nao me- canizados, tradicionais, em que a energia ica € 0 insumo principal, tém um retorno muito favorével sobre seu investimento em energia cultural. Em agroecossistemas pastoris, nos quais pastoreio € a lida com animais sio as principais atividades humanas, e os animais obtém sua energia de alimento da vegetacdo natural, a quantidade de cenergia de alimento produzida por energia cultural investida varia de 3:1 a 10:1. Mesmo sistemas de cultivo intensivo, no mecanizados, ‘mantém um balango energético positivo. Os sistemas de produgdo de arroz, em partes do sudeste da Asia, por exemplo, so capazes de ga- até 38 calorias de energia de alimento por cada caloria de energia cultural investida. © valor energético do trabalho humano, nesses sistemas, € calcu- Jado medindo-se quantas calorias de alimento uma pessoa queima en- ‘quanto trabalha. Embora essa técnica oferega bons dados basicos, no Teva em consideragao uma diversidade de outros fatores. Pode-se tam- bém considerar a energia necessdria para produzir 0 alimento e que € ‘metabolizada enquanto se trabalha, e a energia necesséria para prover todas as outras necessidades basicas dos trabalhadores humanos quan- do eles nao estio trabalhando. Tais adigdes aumentariam 0 valor ener- 522 visicas das Jirva como insumo ener- gético do trabalho humano. Por outs pessoas devem ser providas, quer seu traball ético agriculture, quer no, e elas precisam de alimento mesmo quando em repouso. Nesta perspectiva, 0 custo iergético do trabalho humano poderia ser reduzido, considerando-se somente a energia de a extra necessdria para a realizagio do trabalho agricola. ‘Em muitos agroecossistemas que dependem principalmente de ener- sia cultural biol6gica, os animais desempentiam um importante papel no cultivo do solo, transporte de materiais, conversio de biomassa em ester co, € produgao de alimentos ricos em prot ‘animais aumentou consideravelmente na agricultura quando comegou2.ocor- rer transigo de cultivo de rogado para agricultura permanente, Figura 18.8 Arado tracionado por bis, preparando a rea par plan Eau. A maior parte da energia neste sistema vem de fontes locals senovdveis Embora 0 uso de trabalho animal aumente 0 aporte de energia cultural biol6gica total e baixe 0 indice da energia colhida para o de energia investida para aproximadamente 3:1, ele: a) permite a agri- cultura permanente ao invés da de rogado, b) aumenta a drea que pode 523 ser plantada, ¢) produz esterco para enriquecer 0 solo, ¢ d) permite Sbter carne, leite e produtos animais. Além disso, os animais conso- trem a biomassa que nao pode ser usada diretamente pelos seres hu- nanos, o que baixa seu custo energético relativo. Um exemplo da eft Ciencia energética da produgao de milho com uso de tragao animal pode ser visto na figura 18.9 ‘A energia cultural biol6gica é um componente importante da agricultura sustentével. Os aportes de energia dos seres humanos ¢ de animais so geralmente renovaveis, pois favorecem a transfor- magio de grande parte da energia solar em energia de alimento, que pode ser colhida, O uso do trabalho humane e animal tira vantagem fa primeira lei da termodindmica, alterando os processos de ecos- Sistemas naturais, para concentrar a energia em produtos vi ainda obedecendo a segunda lei, sempre retornando a aportes ¢co- Tonicos de energia do Sol, a fim de manter 0 agroecossistema a lon, go prazo. Quando se faz uma andlise ecolégica da energia cultural bioldgica, deve-se lembrar que esta forma de energia € mais do que um custo econdmico para a agricultura — ela é parte integrante de um proceso de produgao sustentével. Produgtode — Produgdo ge eepeiments— sementes “Taba humene ‘Trabano 16050) ‘conti energetco és conan 3.312 Socata Figura 189 - Apones de eneria clara em um sistema de produto rodicional de mie Got Figur bao animal Nese sistema, a razio de sida de energiaalmentici Fers soo Geese tral de 41, A engi da clara de cobetura plantas de pousio a SPD Soe gs solo no ct inclica nos cleats. Os esteroos amas rfomades 00 0 sacra sade de energia dos bois. Dados 6e Coxe Atkins (1979), Pimestel (1980) 524 USO DA ENERGIA CULTURAL INDUSTRIAL Desde que a agricultura comegou a ser mecanizada, 0 uso de ener- gia de fontes culturais industriais aumentou drasticamente. A mecat Gao e a energia cultural industrial aumentaram sensivelmente a prod

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