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2. @ crise contemporénea estd vtvenciandio a eclostio de precip fregtertes ¢ continuas, desde quando deu seus p: Sinais cle esgotamento, que séio freqitente (e equivooadamer ¢aracterizados como crise do fordiemo e do keynesianisino, DIMENSOES-DA CRISE ESTRUTURAL DO CAPITAL A.crise do taylorismo ¢ do fordismo como expressio fanoméanica da crise ostrutural Apis um longo perfodo de acumulagao de capitais, que ocorreu: durante 9 apogeu do fordismo ¢ da fase keynesiana, o capitalismno, jo inieto dos anos 70, comegou a dar sinals de um quadro cujos tragos mats evidentes foram: 1) queda da taxa de Iucro, dada, centre outros elementos cen sais, pelo aumento do preeo da forca de trabalho, conquistade © periodo pos-45 e pela intensiflespao di pie objetivavam o centrale social dea pr ‘os levou a uma redugao des capital, acentuando a tendencia decres: 2) 0 esyatamento do padrao de acumulayaa taylorista/fordista de dugao estrutural do capital), dado pela incapacidade de responder a retracao do consumo que se acentuava. Na yerdade, tratava-se de uma retracdo em resposta 20 desemprago estrutural que entdo 9) hipertrofia da esfera fnanceia, que gan mia frente aos cxpitais produtivos, o que també! da propria crise estrutural do capital e seu sist [a era expressao 1a dle prochugao, ‘Tvetarel mals adiante desor panto, coial para o entendimento da crise dos anos 70, 29 colocando-se o capital financeiro coma um campo prioritario para a especulacio, na nova fase do process cle internacionalizacao: 4) a maior concentragao de capitais gracas as fusdes entre as empresas monopolistas © oligopolistas: 5) a crise da welfare state ou do “Estado do bem-estar soctal” ¢ dos seus mecanismos de fimcionamento, acarretando a crise fiseal ado capitalista ¢ a necessidade de retragio dos gastos ptibli- sua transferénela para o capital privado; ineremento acentuado das privatizacies. tendéncia generali- zara as elestegula cdes ¢ A flextbillzacdo do proceso pro vo, dos mereados € da forca de trabalho, cntre tantos outros cle- menitos contiigentes que exprimtam esse novo quadro critica. (ver Chesnais, 1996: 69 ¢ 84 A sintese de Robert Erenner oferece uum bom diagnéstieo da ext sei cla eneontra “suas raizes profundas numa crise secular de pr dutividade que resultou do excesso constante de capacidade € de ‘oduedo do setor manufaiuireiro internacional. Em primeira lugar, ande deslocamento da capital para as finangas foi a conseqiién. Ja incapacidade da economia real, especialmente das indtis Ge transformagao, de proporcionar una taxa cle Iuero adequada, As- sim, o surgimento de excesso de caparidade e de producas. acarre- tando perda de Iucratividade nas indUstrias de transformagao a partir do final da década de (960, fol a raiz do crescimente acelera- nanceito a partir do final da década de 1970. (...) AS s da estagnacdo e da crise alual estéo na compressao das I eros do setor manufatureiro que se originow no exceseo de capa dade © de produgao que cra em st a expressao da acirrada competicao internaciona‘” (Brenner, 1999: 12-3), E acrescenta: A partir da segunda metade des anos 1960, produteres de eustos meno- res [Alemanha e especialmente Japiol expandicam rapidaments sua pre dlugao (..) reduzindo as fatias do mercado ¢ (axes de lero de-seus x- vais. O resultado foi © excesso de capacidade ¢ de produgia fabril, ex- ppresso ma menor lucratividace agregada no setor manufatureiro das eco- nomias do G-7 came uta tod ‘a grande queda de Iucratividade Estados Unidos, Alemanha, Japao ¢ capitalista adiantada ‘como tum todo ~ © sua Incepacidade de recuperagao ~ a responsavel pela j Meszaros [1995, e¢ pectalmientecapitulos 14, 18 ¢ 16) comaem Chesnais ncontrar ura tadlagrafin da crise estrutural do capital. qu aqul etn seus contornos mals govais, Ver fembémn Brenner 11889). 0 set ico edeser.volvimento mals detalhado, daciaa sua enorme ear plexidace, eseaparn aos objetivs de nossa presente invest gacao, 30 reduc secular das taxas de esiagaagio econémica de longa lime ay ‘parur| do colapso da ordem de Bretton Woods entre 1971 €1973, balsas taxas de acumulacgo de capital acarretaram indices bal- iwidade: nivels reduzidos de pt de ermseimento da produgae eda pr creselmento da predutividade redundavam ex monto salartal. © erescente desemprego res produgie © do investimento” idem : 13). era a expresedo fenomeénica de um qua Bla exprimia, em seu significado mais profundo, uma erise estru tual de captial, onde se destacava a tendéncia decrescente da taxa de lucro, decorrente dos elementos acima menctonacos, Era tam- bém a manifestacdo. conforme indiquei anteriormente, tanto do sen- ido desinutivo da ldgiea do capital, presente na intensificagde da letele fencéncia deerescente do valor de uso das metcadorias, quanto da incontrolabilidade do sistema de metabolismo social do capital Com 0 desencadeamento de sua crise estriitural, comegava tam- bém a desmoronar © mecanismo de “regulagdo" que vigorou, du saute 0 pos guerra, em yarlos paises capitalistas avancados, espe clalmente da Europa. Coma resposta A sua propria crise, inielourse um processa de yeorganizacao do capital e de seu sistema ideolagico 6 politica ce dominagav, cujos contornos mals evidentes Coram 0 adventa do nee lberalismo, com a privatizacao do Estado, a desregulamentacao dos direitos do trabalho ¢ a cesmontagem do setor procuiivo estatal, da qual a ers Thatcher-Reagan fol expreseaa mais forte; a guiu também um Intenso processo de reestruiuragde da producto e do trabatho, com vistas a dotar 6 capital do instrumental necessario para tentar repor os patamares de expansAo anteriores. Nas palavras de Holloway: Ista naa ¢ autre, dorinayao de classe relativamente estivel. Aparece corte ccondimica, que se expressa na queda da taxa de luero. Sea nucies, entreianto, @ mareado pelo fracasso de um padréo de dominacdo esta. belecide (..J, Para o capital a crise somente pode eneantear sta reso- lugao através da lita, mecliants © estabclecimenta da autoridade © atta ves de ane diel! busca de noves padroes ie deminagae, [Ver Holloway, 1987: 132 & seg) ‘Tita Don polemics om lomo daa foxes de Brenner (apresentarion em The Bcanamioy 1u.n1229, mal.-jan de 1999) encontra. eer 199: 8-52) e-em Foster (1099: $2.97) 31 Base periods caracterizou-se também ~ € isso € decisive — por uma ofersiva generalizada do capital e do Estado contra a classe trabalhadora e contra as condigées vigentes durante a fase de apo- gen do fordismo, Além das manifestagces a que acima me refer, esse fovo quadro critico tina um de seus polos centrals localtzado no rotor Hnanceire, que ganhava autonomia (ainda que relaliva) dentro fas complexas (nler-relagdes existentes entre a Liberacto © @ (nunclializagao dos capitais € do processo produtivo, Tudo isso num conario caracterizado pela desregulamentacdo ¢ expansao dos capl- fais, do comércio, da tecnologis, das condicoes de trabalho ¢ em- prego, Como vimes antertormente, a propria recessao ¢ crise lo pro- Hutivo possibilitava e incentivava a expansic dos capitals Rnanceiros especulativos. ‘ima ver encerrado o cielo expansionista do pos-guerra, pres biou-se, entao, a completa desregulamentagao dos capitals prov ves bransnacionais, além da forte expansao ¢ Iiberalizagéo dos cap! {aie financsiros. As novas téenicas de gerenciamento da forga de trabalho, somadas 4 liberag&o romercial ¢ as novas formas de do- minio teeno-cientifice, acentuaram o earater centralizador Eiseriminador ¢ destrutivo dese proceso, que tem como nticleo Central os paises capitalistas avancades, particularmente a sust triade Compost pelos EUA € o Nafta, a Alemianha a frente da Unigo Euro- pila e 0 Japao lderando os paises asidticos, com o primeira bloro exercendo 6 papel de comando ‘Gora excegao desses nticleas centrais, esse processo de rearga~ nizagao do capital também na comportava a ineorporacae daque- jes que ndo se encontravam no centro da economia capitalisia, como a maioria dos paises de industrialtzacao intermnediaria, sem falas dos Glos mais débeis dentre os paises do Terceire Mundo. Ou, melhor fizendo, incarporava-os (emo so exemplos os denominades “no Vos paises industrializados", dos quais destacam-se os astéticos), porém numa posigdo dle total subardinacéo ¢ dependencia, A rees- {ruturagao produtiva no interior cesses paises det-se nos marcos de uma condigao subalterna. ‘A crise tcve dimensdes tao fortes que, depots de desestruturar grande parte do Terceiro Munda ¢ eluminar os paises pés-capttetistas do Leste Europen, ela afetou também o centro do sistema global de produgao do capital. Na déeada de 80, por exemplo, cla afelou espe Halmente nos EUA, que entao perdiam a batalha da competttividade tecnologica para 0 Japao. (Ver Kurz, 1982; 203 ¢ seg.) ‘A partir clos anos 90, entretanto, com a recuperayao dos patame- jes produtivos e a expansio dos BUA, essa crise, dado 0 carater jnundializado do capital, passou também a atingir intensamente 0 lapao e os paises aslatices, que vivenciaam, na segunda metade des 32 anos 90, enorme dimensdo critica, E quanto mais se avanga ma a ettigaa tatercapitalista, quemo mais sc descavolve a tecnologia soncorrencial em uma dada rego cu conjunto de paises, quanto mals ce eeeraaidem ae capitals financeiros dos paises imperialistas, mator ee ibsmontagem ¢ a desestruturagéio daqueles que esto (varios ou mesino exeluidos dese processo, ou ainda que nAo © quem acompanhs-to, quer pela auséncia de base interna sélida, como se lonia dee pequenoe paises aslaticos, quer porque nao consegueln a impanbia® 4 intensidade do clin tecnolégico hoje vivenclado, que iMuibem & controlado pelos paises da triade. Sa0 crescentes os exem- soo de paises excludes clesse movimento de reposicto dos capttals rodutivos ¢ Ananceiros e do pacrao tecnolégico necessirio, 0 que Rrasreta repercussoes profuncas no interior desses paises, particu iSomente no que diz respeilo ao desemprego « & precarzacdo da ca humana de trabalho. ‘eaea logica destrativa, ao reconfigurar ¢ recompor a divisio in- ternational do sistema do caplial, traz como resultado a desmon- {agem ce resides intelras que estéo, pouco a pouco, Sendo elimina. see do cendrio industrial e pradutivo, derrotadas pela desigual con~ eS enom mundial. A erise experimentada pelos paises eslaticos como Hong Kong, Taiwan, Cmgapura, indonesia, Filipins, Malésia, entre tantos outros. quase sempre deccrrente de sua condigao, de paises pequense, soventes de mercado ‘interno e totalmente dependentes re eluents para se desenvalverem. Num patamar mais complext- flea e dilerenciado, tambern encontrames o Japao ea Coréia do Sul, que, depois de um grande salto industrial ¢ teen Vivengiando ese quadro critics, estendide tambén aqueles paises qe ate tecentemente cram chemados de “tigres astaticas" Portanto, em meio a tanta destruigao de forcas produtivas, da natureza e do meio ambiente, ha tambera, em escala mus neao destrativa contra a forea humana de trabalho, que tem enor- wes cunlingentes precarizadoe ou mesmo 4 margiem da pracesso produtivo, elevando a intensidade clos niveis de desempreso estru- I Apesar de signifieative avanco tecnologico encantrede (que poderla possibllitar, em escala mundial, urma real redugao da jor: Fada oud tempo de trabalho), pode-se presenciar em varlos pai- Ses, como a Inglaterra ¢ 0 Japao, para citar paises do centro do Sistema, uma politica de prelongamento da jornadta de wabalho. ita petom, portato, se fsplaniados para pa @ maior jornada dz trabalho dentre os patses da 1@ia, € 0 Japao, se ja ndo hastasse sua histérica jorna: da prolongada de trabalho, vem tentado, por meio de proposta do governo ¢ dos empresarios, aumenta-la ainda mais, como receitua- ida da crise, Pela propria logiea que conduz essas tendénetas (que, em verda. do, sao respostas do capital 4 sua crise esinuturah, acentuam-se 0 elementos destrutivos, Quanto mais aumentam a compatitividade € Aconcorréncia inter-capitals, mais nefastas sio suas conseqiiéncias, das quais duas sao partie graves: a destruigéo efou pre carizagao, scm paralelos em toda & ia, da forga humana que trabalna € @ degradacao crescente do meio ambiente, na rela- lo metabélica entre homem, tecnolagia ¢ natureza, condivzida pela logica eoctetal voltada prioritariamente para a pr dorias ¢ para 9 processo de valorizagaa do capt enfatizadd 1 9 capital. no ereseente do incremento tecnalégico, como modalidade para aumen ra produtividade, também “neocssariamente Implica crises, ¢x- ploracao, px lesemprego, destruicao do meio ambiente e di itas formas destrutivas (Carcheti, 1997: 73) f doesirutural, precartzaeéo do trabalho.de | mmoderempiado ¢ desthuiche da natiicza cy esCala globalZaae tor- (naranrse-tragos aan Copituto I AS RESPOSTAS DO CAPITAL A SUA CRISE ESTRUTURAL A reestruturagio produtiva e suas repereussdes no processo de trabalho reestruturagao produ. Cot state arteriormonte mas décadas, sobretudo no inicio dos anos 70, o capitalisina vitr l se frente a win qui leo acerituado. O entendimento dos ele- ° / , mentos constitutivos essenciais dessa crise & de grande complex ( a dade, uma vez que nesse mesmo periodo ocorreram mutagées {n- ¢ "3 - 4 tensas, ecandmicas, socials, eper- e no idedrve, na subjettvitade © nos valores constitutivos da i classe-qive-bvedo-trabalho, Ti de ardens dive iat Af ole I Pel. no pos 89, asim cons wang comme hem a rine do projeto exie des — | ‘T Ver iambén Davis, Hirach © Stack, 1997: 4.10, e Cantor. 199: 167-200. 34 c, entre tantas outras consegiléntias, fosse tinplementaco um © £2 amplo proceso de re sua A ragao do seu ciclo reprodus {on fortemente 0 mundo do trebsita, Embora a crise esimuural de fase determinagées mais profundas, a respesta captatista f¢ procurou enfienté-la tao-soments na sua superficie, (o fenomenica, isto é, reestrutura-la sem transformar os pilares essencials do modo de producao eapitailsta, Tratava-se, en- ao, para as forcas da Ordem, de reestruturar 0 padrao produtiva) esthaturado sobre 0 binomio taylorisino « fordisme, precaranda, desse . repor 08 patamares de acumulacao existentes no period 2 anterior, especialmente no pés-48, utilizando-se, como veremos, de 10vds © Lethos mecanismos de acumulagde. Dado que 5 lutas anteriores entre 0 tiveram seu apoge' a ‘haTho, que instawragao de recer sua resposta para sua manifestacao mais visi Fol exatam terior do pacirao de-acumutagao (en: do alternativas que conferissem 10 do padrao taylorista ¢ fordista anterior para as 2S mas de acumulayao nexwitzada, es do taylorismo/fordismo e do compromisso social- taylortsino, Yo procesiso de trabalho, que vigorou na grancle indristria, ac ‘aticamente de todo sécule XX, sobretudo a partir da segun. da década, baseava-se na producao em massa de mercadorias, que se estruturava a partir de uma produc&o mais homogeneizada e enor: fastria_autorno! a taylorista ¢ 30 sta, grande parle da produgao necessiria para a fabricaptio de y intemamenie, recorrendo-se apenas ce ma- indaria ao farnecimento exter, ao setor de autonecas, fio também raclonallzar ao maximo as operacdes reali- zacas pelos Uabalhadores, @ao, reduzindo.o tempo e aumentando 0 rtno de trabalho, visando icacdo das formas de exploracao, ® padrao produlivo estristurou-se com hase no trabalho parcelar’ facia, ia decomposigao das tarefaa, que reduala a agdo opera — Conjunto repetitivo de atividades cuje somatoria resuliava no trabalho coletlvo produtor dos vetculos, Paralelamente a perda de des- treza do labor operatio anterior, esse processo de desantropomorizagao do irabalho ¢ sua conversao em apéficlice da maqu 1 vam 0 capital de malor intensicade na extragao da sobre! mais-valla extraida extenstuamente, pelo protongamento da trabalho e do acréscimo da sta dimensao absolute, inten odo prevalecente a sua extragio twtensiva, dada pela di vinculos entre as agdes Indivicuais das quai ligagoes, dando o ritmo eo tempo necessario: piss expandinde-se principio para toda a industria automo- (ios CUA e depois para praticamente todo o proceso indus od bs pransuraae pateed napioalatin © Seoroeus Cerebus ona oe | pansio para grande parte do sctor de servigas, Implantou-s> uma sistematica baseada na acumulacao mntensiva, uma producao em | ada por operarios predominantemente semiqualificados, jesenvelvimento eo opertiriomassa (mass or tivo das grandes empresas verticalizadas c fort onforme Amin, 1996: 9, Gounet, 1981! 37- ‘bdrm, come eaberioa, axpraseio noe peices pbs om gran ‘de medida, como Iole casa da URSS, extraturarata seu munda produltive vilizar- do-se de clementoe do tayloriome 0 de fordiame, | 37 | = | introdupao dla organizaedo-clentifica taylorista do trabalho na Indiistria automobilistica ¢ sua fuis4o com o fordlismo acabaram por representar @ forma mats avangada da racionalizagao capitalista de processo cle trabalho ao longo de varlas décadas do sécule XX, sen- ilo somente entre 0 final dos anos 60 € inicio dos anos 70 que esse padréo produtivo, estrufturalmente comprometico, comegou a dar i- ais de esgotamento. Pode-se dizer que junta com 0 processo de trabalho taylorista/ fordista erigiv-se, particularmente durante 6 pos-guerra, um siste~ ma de "compromiaso” e de “regulagdo" que, lnitado a uma parcela dos patses capitalistas avangados, ofereceu a llusao de que 0 siste ma de metabolismo social do capital pudlesse ser efetiva, duractoura e definitivamente controlado, regulade e fundado num compromise entre capital e trabalho mediado pelo Bstadi Na verdade, esse "compromisso” era resultado de varlos clemen- tos mediatamente posteriores a crise de 30 e da gestagao da poli- tiea keynesiana que sucedeu. Resultado, por um lado, da “propria Jogica’ do desenvolvimento anterior do capitalismo” ¢, por outro, do “equilibrio relative na relagao de forga entre burguesia c prole- tariado, que se instaurou ao fim de decénios de lutas". Mas esse compromisse era dotado de um sentido também itusério, visto que Se por um lado sancionava uma fase da relagdo de forgas entre ca- pital ¢ trabalho, por outro ele nao fol a consequencia de discus- soes em torno de uma pauta claramente estabelecida. Essas dis- cussées ocorreram posteriormente, “para ocupar o ‘espaco! aberto pelo compromisso, para gerir suas conseaditncias ¢ estabelecer seus detalhamentos” (Bibr, 1991: 39-0), E tinham como elementos 1 de intermediacao os sindicatos € paztidos politicos, lores organtzacionals ¢ institucionafs que se colocavam tantes oflclais dos trabalhadores do patronato, jo elemento aparentemente “arbitral”, mas que de fato zelava pelos interesses gerais do capital, cuidando da sua im- plementacao e aceitacdo pelas entidades representantes do capital © do trabalho. Sob a slternariefa partidaria, ora com a social-democracia ora com os partidos diretamente burguieses, esse “compromisso" procu: reva delimitar o campo da luta de classes, onde se buscava a ob- tengao dos elements constitutives do welfare state cm troca do abandono, pelos trabalhadores, do seu projeto historico-societal (idem: 40-1), Uma forma de scetabilidade fandada no “compromis- po” que implementava ganhos scciais ¢ seguridade social para as trabalhadores dos paises centrais, deside que a temdtica do socials: mo fesse relegada a wn futuro a perder de vista, Além disso, esse “compromisso” tina como sustentacao a enorme exploracée do tra- a8 " balho realizada nes paises do chamado Terceiro Mundo, que esta- {vam totalmente excliidos desse “compromise” sooial-democrata, 5 Por meio desses mecanismes de “compromiisso" fel se verificando \ durante 0 fordisno 0 proceso de itegracao do movimento operario soctal-clemocritico, particularmente dos ses organismos de represen- fapae-Tnstitucional e polities, o que acabou por converté-lo numa es- écle de engrenagem da poder eajitalsla] O “compromisso fordistas dew origem progressivamente 4 subordinacao des organismos institucionalizados, sindicais e politicos, da era da pre’ al-democritica, convertendo esses onganismos ein gestores do precesso global de reproducao do capital (dew 48-9). Pela estrategia de mtegrapao, ainda segundo a caracterizacao de Alain Bihr, o proletariado europeu., por meto dos organismos que assumiam sur representacdo, linha como eixo de sua pauta politi ca a agao pela melhoria das condigtes salarlats, de trabalho e de seguridade social, requerendo de Estado condigoes que garantis- -servassem essas conguistas que resultayam do “compra- ‘Mas, de outra parte, por melo de sua integragile, 9 movi- inenlo operarto progsessivamente se (ransfortnou em estructura me diadora do comando do capital sobre o proletariado, Foi desse mado que, durante o perioda ferdista. os organismos sindieais e politi- cos tentaram canalizar a conflitualidade do proletariaco, propon- do €/ou impendo-Ihe objeuvos ¢ saidas compativels com os termos: do dito compromisso, combatendo violentamente toda tentativa de transbordamento desse compromisso” (idem: 50) © movimento operario de extragao soctal-demscrala, atrelad ao pacto com o capital, mediado pelo Estado, fol responsavel tambem pela expansao © propagacao da concepeio esiatista no interior do movimento operario: “A idéia de que a conguista do poder do Bsta- do permite, se nao a libertagdo do dominio do capital, pclo menos uma redugao de seu peso, recebeu grande reforpe no contexto so- cio-institucional do fordismo”. Desse modo, itemente confir- mavarse ¢ fortalecia-se a tese cla “legitimidade do estatismo, preserite no projeto ¢ na estratégia do modelo social-democrata do me to operario® (Idem; 50-51), Tudo isso o levou “a fortalecer em seu selo um fetichismo de Estado", atribuindo ao poder politico estatal uum sentido *coletivo", arbitral ¢ cle exterioricade fronte 20 capital ¢ trabalho (idem: 52 ¢ 89). Integrados pelos organismos sindicats ¢ politicos social-democra- tas, que exerciam a representacao do (ow sobre) os trabalhacores “ao translormar a negecingaa em finalidade exelusiva de sua p ea ao instrumentaliza-la’ como mecanismo do comande capi {a sobre o proletariado, o compromisso fordista aceniuou os aspec- fos mais detestaveis dessa organizacao. Assim. por que supée uma 39 Gelinican: s6 os responsdvels s dade e um profissionalismo cre: |. praties siste- métiea da negociagao lencias A separe- edo entre a base ¢ clipula inerentes a essa organizacao, a auto- Incdo conseqtiente das do das organizaghes entre empresa por empresa ou ramo por ramo" (idem: 52/59) Esse proceso zegmentos importantes do proleta- Hlado europe “um acréscimo da dependéncia tanto. prética quanto ideol6gica, em relacao ao Estado, sob a forma do famoso ‘Isstado-pro- widiéncia'. Dentro da moldura do fordismo, efeito, esse Pstado re- proletariado, a garantia de ral’, com clusdo e garante 0 respeita das convenc direta ou indiretamente o ‘saldrio indizet com que se desenvolvesse “um fe seus ideais democraticos (inclusive no que A edueagao & cpansdo e vigencla do welfare siate, entretanto, deu. jas manifestacdes de esgotamento da fase de “regulaeaio” keynesiana, as quais nos referimes anterior. mente, houve a ocorréncia de outro cer decistvo para a crise dlismo; 0 ressurnimente de agoes ofensivas do mundo do traba: fiente transhordariento dat uta de classes, fal do8 anos 60 ¢ ificta- das amos 70, deui-se a explosao ariado da era ‘entrado no espaco 2 perdido a identidade cultural da era artesanal © dos oficlos, esse operairio havia se ressoctalizado de modo relativamente "homogeneizado",!" quer pela parcelizacdo da Ingle Gs fanco anteeres, pots 6 ‘suit qualieagao, extrato s0otat, gener, raga, te ee, 840 rapos presentes Ro murelo Go raballa descle 40 industria ista/fordista, pela perda da destreza anterior ou ain. da pela desqualificacde repetitiva de suas atividacles, alem das Tor mas de 6 billtou 2 forma de sociabilidade industr 3 ‘pases para a construcaa de uma nova identidade € dé urna jgncia de classe. Se 0 operdriormassa foi a base confrontacéo, da quail forart forte expresso os movimentes pelo cor role social da precugie ccorridas no final dos anos 60 (idem: 60-2): (© processo de proletarizagao € massificagao 0 yigéncia do taylorismo/fordismo mostrou-se, portal 15 60 as agdes dos trabalhadores atingiram seu juestionande os pilares constitutives da sociabi- larmente no que cencerne ao controle so: ial da produgdo. Com agées que nae pouparam nenhuma das for- macaes capitalisias desenvolvidas © anunciavam os limites histéri- “a for uma ver- No final dos a1 fordistas cle prodsicao, epiceriire das prineipats : 63-4), O taylorismo/fe ‘siflcada do operario-mass¢ trabalho) ¢ consumo [que exaltava o Jado “indivi intenstficava os pontos de saturacéo do “compromisso® fordista, Acres- 41 go, do aumento (la contradicdo essencial existente no proceaso de frtaggo de valores. que subordina estruturatnente o trabaltio ao capt fie alga modo esse processo pode ser “suportavel pela primers (o40 do operdio-massa, para quem as vantagens do fordismo com, nsavam © PF2G0' a pagar pelo seit acesso, Mas certamente cove nto e090 da segunda geracao, Formada nos marces do p smo, ela nao Se encontrava dloposta a ‘pe-tler sua vida pare gan ita trocar 0 trabalho © uma existencia desprovide de entice, pelo = crescirento de seu ‘poder tle compra’ privando-ce de ser yor aimacedente de fer. Em suuma, a satistazes Hionisso fordista, azsumido pela geragto 0 poicote € 8 \ssumlam smo, da fuga do trabalho, da turnover, da mndipao de trabalho ago-operario, ate as formas colet!. je agao visunddo a conquista do poder sobre 0 proceso le tra ror meio de greves pa jo (mareados polo ua 0 tempo/ritmo . formapan de gestiondrias, chegando lo controle do capital ¢ & defesa do controle social da lo poder operairio (idem: 65) Ao entre elementos constitutive alem do esgo- festagao contin. a (C40 As Lutas das trabalhadores, el nbs exprimiam clescontentamento em rélaga ia do movimento operdrio, predo aggo do jou sobre o) mundo do tra adapiaxi-se 20 prolet a. sua atom fravarese incapazes de ineorporar afettvemente 9 mevimento das bee ses socials de trabalhacdores, dado que sentido mais genérico, cram respaldadoras do capital, col freqiientemente, contra os movimentas soel: Na formulagdo de Bibr: "Foi entao essciiciali contra as organizazces sindicals © paliticas const ‘social-democrata do movimento operario que as l epoca se desenvolveram, Ademais, essas modelo em seu conjunte, Ao afirmar a", essas agées do mundo do trabalho ides emancipatérias da auto-atividade E, desse modo, op digces, ao exercerem um con res nas déradas de 1960 © cram capazes de lever 0 revolucionario até um nivel multe mais © que estava no oe bilidade efetiva do co ais clo processso prod cesso de desenvolvime pO Social produtivo ~ , essas agdes do 43 mundo capitalista, no centro e também cm scus pélos subordina- ‘60-70, retemavam ¢ davam enorme vilalidade © de controle social do trabalho sem o capil _ {Mészaros, 1986:96-7). ‘Betas acées, entretanto, encontraram limites que nao puceram transeender, Primeiro, era dificil desmontar uma estruturagao orgs ca consclidada durante décadas © que ti- tariado. A Insta cos trabalhadores, se te no espaco produ denunciando a organtzacao taylorista ¢ fordista do traba GUinensbes da divisdo social bferarquizeda que subordina o trabalho: fo capital, nao conseguiu se converter num projeto societal hegeménico contrario a0 capital. Como diz Alain Bil (199 . a contestagao co p ao poder fora do trabalho", mados “novos movimentos soc! mentos ecolégicos, urbanos, antinucleares, ferr juais, entre tantos outros. Do mesmo mado, a confltrualidade taita cowrgente ndo conseguiu consolidar formas de organizac: temativas, capazes de se contrapor eos sindicatos ¢ aos pa tradicionais, As praticas auto-organizativas acabaram por o« Ii fane microcésmnico da empresa: ou dos locais de trabalho, ¢ Cousegulram eriar mecanismos capazes de Thes dar longevidade "or nao conseguir superar cssas limitagSes, apesar de stia radiea- i. 2 agao dos trabalhadores enfraqueccu-se € refluit, nite sendo F de ue eontrapor hegemonicamente & sociabilidade do captial, Sua ‘auto organizaeao, entretanto, “perturbou serlamente 0 ‘onramento do capitalism”, censtituindo-se num dos elementes ais da eclosao da crise dos anos 70 (Bernardo, 1996:19), O enarme ‘entio s¢ iniciava, constituiti-se Ja numna patrnct- ‘Aconfrentaeao abertado mundo do trabalho, que \clals otadas de maior radicalidacle no interior do fabri. E respondia, ‘ag necessidades da propria intercap) ‘conteto gue as forgas do capital conseguiram reor Jo noves problemas ¢ desafios para o mund f@ partir de entae em condigdes bastante ‘que se segully, com novos s processos de trabalho, recuperou ter que haviam aldo propeatas pela classe traballadora.(..)| Os trabalha- Gores ttuham se mostrado capazes de controlar diretamente 120 86 © movimento reivindicatorio mas o proprte “emostiaram, em stima, que nde possiiem apenas uma forgs bre famerito das empresas 44 ta, sende dotados também de inteligé capactdade or- ganlzaclonal. Os eapitalistar compraenderam entéo que, em vez de se lmitara explorar a forge de trabalho muscular dos trabalhador “qualgu Wa e€-mantendo-os eliclausurades nas compartimeniacdes estrita orismo do fordismo, podtam mul-r* tipliear seu Iuero explor Tmaginagéo, 08 speragao, (lus as viFtsalldad implantando a teyotsmo, a qualidade total e outras técnica tae. (..) O taylorisme consilwit a técnica de gesise adequads a situacgo em que eada um dos agentes conhecia a de trabalho imedlato. (..) Com efelto, néo podendo aprovettar econom- ba de eacala humana - J que cada trabalhador se limitava am tim- ‘co Uipe de operagao ~, casas empresas Uiveram de se neentrar nas economias de escala materials, Sucede, porém, que ss econontias de eriais tém rendimenios deerescentes ea partir de um dado jenelickse convertem-te em custas. A reeuperacao da eapact- date de auco-organtag: festada pelos trabathaderes permitin ace capitalistas superar esse impasse, Um trabalhador que ractodna no ato 10 ¢ conhece mais dos processes tecnolégicos e ezonémicos Com a derrota cao, estavam dadas entao as. ~Tetomada do processo de reestrut 16 caquele efetivaco pelo taylorismo e pelo fordismno. 45, Capitulo IV O TOYOTISMO E AS NOVAS FORMAS DE ACUMULACAO DE CAPITAL Fras no contest asima eerdo que o chamado toyotismo e a era da Soules 0 flexivel emergiram: no Otidente. © quadro contingente como acta expressao de uma crise estrutural do cap até os dias atuais e fez com que, entre tantas ouitras eonseqien- clas, © capi turagao, visanco recuperar do seu Implementasse um vastissimo proceso de reestru- io reprodutive e, a mestno tempo, repor seu projeto de dominacao societal, abalado pela con- frontagao e conflitualidade do trabalho, que, camo vimos, quest naram alguns dos pilazes da sociabilldade do capital e de seus me~ canismos de controle social. da constitui¢ao das formas de ae 0 flexive ayango tecnologi jagrou, entao, varias transformagoes no‘proprio pra- sizing, das formas de gestae organizacional, do , dos modelos allernativos ao binorio tayloristo/ fordismo, onde se destaca especialmente 0 “toyotisme” ou o modelo 47 | | jundas do trabalho, acabaram por suscitar a resposta do capital 4 sua crise estrutural, se ao cont 4a hecemonia nas exerplo, no plano ideoldico, por meie 19 fragmentacor que fa Gatra as formas de solidastedade e de atuacio colett a Ellen Woed, trata-se da fase em que transformagdes vneas na prociugao ¢ nos mercados, as rmudangas nte associadas ao termo "pos-modernismo", estariam, jormande um momento de maturacdo & univers muito mais do que um jo da *moder- wodernidade” (Woed, 1997: 580-540) fadas os anos 70 ¢ em grande tedida ainda entretanta, gerado mais dissensdo que consenso, Se selas seriam respansivels pela instaurarao de antzagao industrial e de relactonamento entre mais favoravel quando comparada ao "uma ver que possibilitaram 0 advento de um als quadtiicacla, partieipatwo, multifuncto dente, jor reallzagao no espago do 5 sm com 6 texto ce Gabel ¢ P lores, que, mais ou menos proxiaos A tese iefendem as chamadas “caracteristicas “mais aprogriada 2 uma interacaa entre Hale Lraballio ¢, nesse sentido, superadera das contradlicoes tivas da sociedade capitalisia, ‘os, as mudangas encontradas nao eamninh eyotizaedo da industria’, mas sin fav existentes, que nao configura- ® do trabalho. Ac con- trabalhador da especializagdo fle? reallzadas, esp “nova organizacao do trabalho”, abordag: pessivel identificar tréa jores de problemas”: “primeiro, a uuilidade da dicotoraa .peclalizacda flexivel: segunda, a inca- ios do proceso de reestrutura- 9 fato de ser iden- ballaa, come cles 5 . ‘Ag contrano, sin sido possivel constatar exe! jensificacéo clo trabalho onde o sistema just t ‘2 “nova ortedoxia’, forgando os empregadores ao ‘ale mudancas ‘mento ck sendo revista pelas novas pesquisas que mostram ten- retande, como conseq a Iho qualificado, Mais ainda, tem hav escala ¢ das formas de acumulacao intenstve; teses defensoras do "pos-fordismo" superestimaram @ am- diz respeito ao tra jagéio da producao que as iudancas no tnas exprimem uma continua transformagio d ‘ho, atinginda sobretuclo as formas de ges- ‘as levando freqtientemente 4 intensifica~ edo do trabalho (idem: 175-6)."° ‘Ainda que proximos desse enfoque criti curam acentuar tanto os elementos d prod rater essenciaimente capilalisia do teristics @ nova tdivisdo de merendos, 0 desemprogo, a divisio global do. trabalho, o capital volatil, o fechamento de unidades, a Feorganizagao financeira ¢ teenoldgica”, entre tantas mutacoes que maream essa nova fase ca proclucia capitalista (Harvey, 1996: 363 © que, sugestivamente, Juan J, Castillo disse scr pela expres: a de um processo de llofiizagdo organtzativa, com eliminaan, transferencia, terceirizacdo ¢ enxugamento de unidades produtivas (Castillo, 1996: 68, ¢ 1996a). Minha reflexéo Lem mator afinidade com essa linhagem: as tu- tacoes ém curso sao expressio da reorganizacdo do capital com vis- tas a retomada do seu patamar de acumulagéo e ao seu projeto glo- bal de dominagao, E é nesse sentido que o processe de acumulacaa fexivel, com bi 18 exemplos da California, Norte da Italia, Sue~ cia, Alemanha, entre tantos outros que se sucederam. bem como as distintas manifesiagées do toyotismo ou o modelo japonés, clevem ser objeto de reflexio critica, Comecemos pela questgo da “qualida- de total", para posteriormente retomarmos a reflexao sobre a lofilizacdo organizativa da "empresa enxuta’ A falicia da “qualidade total” soba viggncia da taxa de Uutilizagéio decrescente do valor de uso das mercadarias Um primeiro elemento diz respeito A temstica da qualidade nos pracessos produtivos, Na fase de intensificagdo da taxa de utilize: ste decreacente elo vator de uso das mercacortas (Meszaros, 1995 cap. 15 © 16), necessaria para a reposieao do proc ao do capital, a falacia da qualidade total, tao d do empresarist moderno', na empresa enact da cra da restr turagdo produtiva, torna-se evidente: quanto mats “qualidade to tal” os produtos devem ter, menor deve ser seu tempo de duracéc, A necessidade imperiosa de reduzir o tempo de vida Gtil dos pro tos, visando aumentar a velocidade do cireuito produtive © des- se medo ampliar « velocidade da produgao de valores de traca, faz com que a “qualidade total’ seja, na maior parte das vezes. a invé- lucro, @ aparéncia ou 0 aprimoramento do supérfiu, tuma vee que 98 produtos devern durar pouco e t si¢ao égil no mer: cado. A “qualidade otal 1880, 120 pode se contrapor a taxa de utilizacao decrescente co valor de uso das mercardorias, mas deve adequar-se ao sistema de metabolisma socieeconémico do capital afetando dese mado tanto a produgao de bens © servigos como as instalagdes © maquinarias ca propria forca humana de trabalho adem: 575) ‘Como 0 capital tem tima tendéneia expansionistaintrinseca no seu sistema produtiva, a “qualidade total” deve torriar-se intelramente 50 compativel com a légiea da produgéio destrulioc, Por isso, em sett sen- tido e tencéncias mals gerafs, a modo de pradugao capitalists conver. te-se em inimigo da durabilidade dos produtas: ele deve inchisive desencorajar € mesmo inviabilizar as praticas produtivas orientacias para a durabilidade, o que o leva a subverter deliberacamente sua qualideds (idem: 648-9), A “qualidade total” torna-se, ela tambern, a negacao da durabiiidade das mereadorias, Quanto mais “qualidade” as mercadorias aparentam (¢ aqui a aparéncia fae a diferenga), menor tempo de duragao elas devem efetivainente ter. Desperdicio e destrutividace acabam sendo os seus tracos determinantes. Desse modo, 0 apregoade desenvolvimente das processos de “qua lidadle total" converte-se na expresedo fenoménica, trwelucrat, spe rentee supécflua de um mecanisino produtivo que tem como um dos seus pilares mats importantes a taxa decrescente do valor de uso clas mercadlorias, como condicao para a repredugae ampliada do capital € seus Imperativos expanstenistas, Nao falamos aqui somente dos fast foods (do qual 0 Me Donalds @ exemplar}, que despejam toncladas de descartavels no lixo, apoe tam lanche produzido sob o ritmo sertexdo ¢ fordizacto, de qualidade mats que sofrivel, Poderiamos lembrar o tempo iédio de vida urtl estimada para os automévets modernos e mundials, cuja durabili- dade ¢ cada. vez mals reduzida. A indiistria cle computadores, conforme mencionamos anterior- mente, mostra-se, pela importancka no mundo produtivo contempo- raneo, exemplar dessa tendéncia depreciativa e decrescente do va. lor de uso das mercadorias. Lim sistema de soflweres torna-se ob- soleto desatualizado em tempo bastante reduzido, Jevando 0 con sumider a sua substituicéo, pols os novos sistemas nao sao conipativeis com os anteriores. As empresas, etn face da necessida Ge de redtzir o tempo entre produgio ¢ consumo, diinda pela intensa competicdo existente entre clas, incentivam ao limite essa tendén. cla destiutiva do valor de uso das mercadorias. Precisando acom- panhar @ competitividade existente em seu setor, eria-se urna ¢a que se intensifica, e da qual a ‘qualidade total" esta total prisfoneira. Mais que isso, cla se torna mecanismo Intsinseco de seu funcionamento © funcionalidade. Com a reduead des ciclos de vida littl dos produtos, 08 capitais nao ttm outra opedo; para sua sobre vivincia, sendo inovar ou carrer 0 riseo de ser ultrapassados pi empresas concorrentes, conforme o exemplo da empresa trans. nacional de computadores Hewlett Packard, que com 2 “inovacaor constante de seu sistema camputacional reduzin enormemente 0 tempo de vida titil dos produtos (Ver Kenacy, 1997: 92). A produ 40 de computadores é, por Isso, um exempio da vigencla da let de 1 tendéncia decrescente do valor de uso das mereadorias, entre tantos outros que pederiamos citar. ‘Clara que aqui ndo se esta questionando o efetivo avango tecno- cientilica, quando pautado pelos reais Imperatives humano-sccietals, mas sim a logica de um sistema de metabolismo do capital que con- verte em deseartavel, supérflua ¢ desperdigado aguilo que deveria scr prescrvado, tanto para o atendimento efetivo dos valores de so Sociais quanto para evitar uma destrulgao incontrolavel ¢ degradante da netureza, da relag2o metabolica entre homem ¢ natureza. Isso sem menelonar 6 enorme proceso de destruigao da forga humana de trabalso, causada pelo processo de liqftlizacdo organizativa da ‘empresa enxuter’ {A liofilizagao organizacional e do trabalho na fabrica toyotizada: ‘as novas formas de intensiticacao do trabalho Tentanda reter seus tragos constitutives mais gerais, & possi- vel dizer que 0 padrao de acumutacao jlextvel articula um conjunto de elementos de continuldade e de descontinuidade que acabam por confermar alge relativamente distinto da padrao taylorista/fordista de acumulacao, Ele se fundamenta num padrao produtivo organt- zaclonal ¢ tecnologicamente avancado, resultado da introdugao de teenioas de gestao da forca de trabalho proprias da fase informa: clonel, bem como da introdugio ampliada dos computacores-no proceso prodlutive © de scrvigos, Desenvolve-se em wma estnatu- ra produtiva mais flexivel, recorrendo freqientemente & descon- centragdo produtiva, 2s empresas terceirizadas etc, Utlliza-se de ovas técnieas de gestdo da forga ¢e trabalho. do trabalho em equi: das "células de produgao’, dos “times de trabalho", dos grupos ‘émi-auténomos’, além de requerer, ap iienos uo plano discursivo, participagio manipuladora © que preserva, Goes do trabalho alienado © estrenhado'”. © “trabalho poltvalente”. “multifuncional, “qualificado"'®, combinado com uma estrutura mais horizontalizada e integrada entre diversas empresas, Inclust: ., tem como finalidade recugao do .s empresan lerceirizad: po de trabalho, ‘Wyeranuincs 1508 pp. SAE SIGE 121-38, * ifieagao do trabalho", que mutta oso fz afforar ¢ sentide falaclaso da "qu ibpica do auie de (ea forma de unin raaaifestngio ral ‘Uo processe de produpao. A qu pital mae vezes objotavam de foto Shier dow trabathadores, que devers entresar sta subjet elaenigiaas bresas prete! ce a disposi 52 Dé fato, trata-se de um processo de organizacao do trabalho cuxja finalldade eseenclal, real, é a tntensifieardo das condiedes de explora edo da forca de irabat'w, reduzinéo mute ou eliminando tanto o taba Tho ¢mprodutivo, que nao cria valor, quanto suas formas assemethadas, (pecialmente nas atividades de mamutengao, acompanhamento. pegdo de qualidade, fungdea que passaram a ser diretamente ineor- poradis ao trabalhador produtiva. Reengenharia, lean production, tecun. work, elim de postos de trabalho, aumento da produtividade, qualidade total, fazem parte do fdearto (e da pratica) cotidiana da “fa- rica moderna’, Se-no apegeu do taylorismo/fordismo a pujanga de uma empresa mensurava-se pelo ntimero de operiirios que nela exer~ atividade de trabalho, pode-se dizer que na era da acumula- Te da empresa eroaita” merece destaque., e sao citadas iplos a ser seguldes, aquclas empresas que dispdem de me: nor contingente ce forga de trabalho e que epesar disso {em malores ices de produtividade. ‘Algumas das repereussdes dessas mutagdes no processo produti- yo lem resultados tmediatos no mundo do trabalho: desregula mentagao enorme dos direitos do trabalho, que sao eliminados coil~ dianamente em quase todas as partes do mundo onde ha producao industrial ¢ de servigos; aumento da fragimentagao no interior da classe trabalhadora; precarizagao ¢ tercelrizagéa da forea humana que tra- ballia: destruigao do sindicalismo de classe © sua conversdo num sindicalismo décil, de parcerla (partnersitip), ou mesmo em um “eindicalismo de empresa" (Ver Kelly, 1996: 95-8) entre experiénetas do captial quc se diferenciavam do bindmio taylorismo/fordismo, pode-se dizer que o “tayotismo” ou 0 “nedelo Japonés" encontrou maior repercuss4o, quando comparado ao exern- lo stieco, & experiéneia do norte da Italia [Ferceira Italia), A experién- Cla dos BUA (Vale do Siicio) ¢ da Alernanha, entre outras. © sistema incustrial Japonés, a partir dos anos 70, teve grande iipacto no mundo ocidental, quando se mostrou para 9s paises avangados como uma opgao possivel para a superacao capitalista da crise. Naturalmente, a *transferibilidade" do toyotisme carect: para sua implantacao no Ocidente, das inevitavels adapragoes as singularidades e particularidades de cada pais, Seu desenko orga- nizacional, seu avango teenolbgieo; su2 capacicade de exiragaa in- tensificada do trabalho, bem como a combinagae de trabalho em equipe, 0s mecanismos de envolvimento, 0 controle sinical, cram vistos pelos capitais do Ocidente como uma via possivel de supera- ‘gio da crise de zeumulacio. E fel nesse contexto que s¢ presenciou a expansiio para 0 Oct dente da via Japonesa ce consotitagao do captealismo mdustrial, Nas palavras de Sayer. o impacto do modelo japonés: 53 intensifiecurse no final dos anos 70, depois de uma década de redusco lol a performance expartadora: tornow elaro que 0 que existia ‘mas um sistema de organtzarao da producdo (novadio te integrado (Sayer, 1986: 50- ohnismo, de Ohno, engenheire que o criou na no via japonesa de expanséo e consolidagao da ca’ nopolisa tridustral, ¢ uma forma de organtzagéo da tra- ; muito rapida- se propa encla do fordismo b € uma produao mus \gencias mals individualzaclas do mercado corsumicor, diseren- ciando-se da produgéo em sérfe e de massa do taylorisme/fordismo. Por isso sua produgao ¢ variada ¢ bastante heteragénea, ao contré- rio da homogeneldade forcista; 2) fundanienta-se no trabalho operario em equipe, com rtedade de fungdes, rampendo com o carater parcelar ti forclisio; ‘a producao se gstrutura nun processo pr possibilita ao operarlo operar stmullaneamenie varias méqui Toyota, em média até 5 maquinas), alterando-se a relacao indquina na qual se baseava o taylorisme /fordismo: 2) tem como principio o just i1 tin, © melhor aproveitamento possivel do tempo de produrio; :nciona segundo o sistema de kanban, placas ou comando para reposietio de pegas ¢ de estoque. No estogues $20 minimos quando comparados ao fordism 6) as empresas do complexo produtivo toyotista, izontalizada, ao cont teroeirizadas, iém uma estrutura verticalidade fordista, Enquanto na 75% da producae era realizada ne seu interior, a fabri responsavel por somente 25% da produgao, tendencla que vents: tensificando ainda mais. Essa ultima prioriza o que é central em sua Sobre © toyetiomo, Gounel, (S07. 1992 « 1901; Teague, leiiyo, 1995; Takleni, 1982; Coriat, 192; Sayer; 1980 ¢ Kas 54. espectalidade no processo produttivo (a chamada *teoria do foi tyansfere a “tercelros” grande parte do que antes era produzido dentro de seu espaco produtivo. Essa horizonialtzacao estende-s= as subcontratadas, as firmas “tercelrizadas”, acarretando a expansao das méiodos e procedimentos para toda a rede de fomececiores. Desse modo, flexibilizacao, terceirizagio, subcontratagae, CCQ, controle de quall- dade total, Kanban, just i time, kaizen, tam work, eliminacao clo des- : alisino de empresa, entre tan- a. um espago ampliado do process fos outros pontos, sfio produtive: organiza os ido grupos de trabalhadores que sao i diseutir seu trabalho ¢ desempenho, com dutividacle das empresas, convertendo-se 1 ypriar-se do savo dos trabelhaderes das grandes empresas (cerca de 25 2 30% da populacao trabalnacora, onde se presenciava a exelusdodas mullie- res), além de ganhos salariai de produtividade. © “emprego vit ponés que trabalha nas filbrieas Inserldes nesse dace do emprego, sendo que aos $5 anos 0 trabalbador é deslocado para outro trabalho menos relevante, na complexe de atividades existentes na mesma empresa. Imente na experiéacta d trabalhadior operava 20 mesmo tempo varias maquinas e depois na im- portacao das téenicas dle gestao dos supermercados cos RUA, que de- ram origem ao kanban, o toyotisme também ofereceu uma resposta & finance ndo a produyao sem aumentar o contingente de trabalhadores, A partir do momento «nplia para © conjunta das empresas Japone- sap, seu resultado fol a retomada de um patamar de producao que Ievou o Japao, num eurtissimo perio irodutl- vidade € indices de aeumulacaa cay A raclonalizagaa do proceso pr disefplinamento da dade de rizou a ne Japan e sé Be Oaldante, a= COOe tern Teperclendo das en dades dos paises em que s4a Implementados idacien «singh 55 0 wabatho em equipe, a transferénela das responsabilidades de ela: boragdo ¢ controle da qualidade da produgéo, anterlormente reall = pela gerénccia clentifica e agora interiorizadas na propria ago ‘hadores, den crigem ao management by siress (Gounet, jostrou o cldssico depotmento de Satochi Kamata, ia ‘Toyota Motor Company, cmpreendida em seu ituiedo, nao é tanto para economizar trabalha mas, mais nar trabalhadorss, Por exemplo, s¢ 33% dos ‘may 1 tomna-fe desneces: ten cesae € sored de om Toyota mostra gu sm "rent na aut rodugd, Todo 0 emo eee abe tom a eran dow rabaadores da i endo nserd come denperd To 02 ie ado a produgao (Kamats, 1982; 189). © processo de produgao de tipo toyotista, por meio des team work, _ oreaceo do traanho, quer Fe vermeth@aparece, ¢ ir o ritmo produlivo. A apropriacag da introducao de ‘o para 6 cap! cuperagaa da sua rentabili Coriat, 1992; 60; Ati ines: 27-6) De modo que, similarmente ao forclismo vige culo XX, mas seg: ido um receituario difere uum nove patamar de intensificac © 4 proposta do governo japones, recente. iente elaborada, conforme ja indicamos, "€ de aumentar 9 limite da jornada de trabalho (de 9 para 10 horas) e a jornada semanal de rabalho (de 48 para 52 horas) n clare exemplo do que op, elt.) im como as formas pelas wballho e do cresci- teremos, "ao € exploragao da forga de trabalho no universo co teyotismo, rutura preservando dentro dz: neimero recluzido de trabalhacores mals qu © envolvidos com o seu idedrio, bem como exnplianclo 6 conjunt tuante € flexivel de trabalhadores com o aumento das horas-extras, da tereeirizacao no interior ¢ fora das empresas, da contratacao de trabalhadores temporarios ele., opgées estas que sto diferenciadas em funesia das condi |. Quanta mais o wabalho se distancia das empresas pri sua precarizagao, Por isso os trabalhadores dla Toy “de 2.300 horas por ano enquanto os trabal subsontratadas chegamn a trabalher 2.800 h ‘A transferibilidade do tayot mostrou-se, portanto, de enorme interesse para o capital ocidental, em erise desde o inicio dos anos 70. Claro que sua adaptabilidade, ern maior ou menor eseala, estava necessariarente cond singularidades © particularidades de cada pais, no que lanto as condigdes econamices, socials, politicas, ideologicas, quanto como a insereao desses paises ria divisao internacional do trabalho, 08 seus respectivas movimentos sindicals, As candighes do merea- do de trabalho, entre tantos outros pontos presentes quando da in- corporagao (de elem no, ‘Como enfatizam Costa ¢ Garant, enquanto o modelo japonés implementow 9 “emprego vit: ra ura parcela de si se trabalhadora (80%, segundo os autores), algo muito diverso ocorre Ic, onde a seguranga no exprego aparece com énifase mutto mals restrita € limitada, mesmo nas empresas de capital japones estabelecidas na Burepa, "Com efelto, a seguranga no emprego no € acetta por 1% cas empresas. Ela é rel mais aceita no Reino Unido (18% das firas instaladas dei fle trabalhiam cerea lores das. empres: 88), Os datos olerecidos sclos autores os levam ar a Japonizacao" no continente europe: ). 0 processo de ocldentalizacao dle toyotismo mescla, portanto, elementos presentes ho Japao com praticas existetes nos novos paises receptores, de- endo dai wn processo diferenciado, particularizade e mesmo sire vizado cle adaptagtio desse recettudrio. Avigéncia do ncoliberalismo, ou de politicas sob sue influéncta, propiciou condigaes em grande medida favoravels a adaptacao life Tenciada de elementos do toyotismo no Ocidente, Sentlo.o processo de reestruturacao produtiva do eapital a base material de prajeto tdeo- fico neoilberal,”? a esivutura soba qual s¢ erige o tedrio e a prag- ssdle fins dos anos cnoctne destaqui mtexto que a General Motors, em meados de 70, i ta introduzindo dos ciow se} culos de sicos con! © agravamento da to etm que a GM resolveu objetivo de enfrentar a expansao Japonesa na mercado norte~ cano, A empresa investiu na robelizacao de sua iia de recursos, com 0 amer- € informatizacéo avancadas, irleagao, da subcontratagao, operan. io mais direto com o co: ‘ariugao dos veictilos com as conformacées midor permitia 8 cltadas, além de e1 tmia Automobil | | imento dessa experiencia, a GM asso- ea Suzuki, ¢ em 1983 realizou uma lizagao de alta tecnologia: sua Implantagao mostr xa do que parecla, apresentando imumeros pontos defletentes, além de freqdenttemente demonstrar inadequacéo entre a tecnologia avangada ea forea de trabalho, apesarde sua qualificegao, ndo consegulu. adaptar-se ao novo modelo. O projeto de imnplantagao de uma allamente tecnologizada foi, entao, abandan a Investir mais recursos na melhor q) da sua forga de trabalho, do trabalho humane \ecet ntauxa tnirackuzir robes & tecnologia avanca- das, sem a equivalente qualificacds e preparacco de sua forca de trae. tho. As transformagées humanas ¢ organizacionais devem caminhar as mutagées lecnolégicas. Data de 1987 a. dade foi transferir para os tr lade, 0 bom atendimenta acs consurni- na fol posteriormente, 9, estendido para suas unidades na Duropa. do dessa politica da Gi ie uma fatia em icano, 0 que nao Ihe garanthi ie faika lucrativa. No mereado europen, entretanto, sua presen ressiva, estando A frente da Ford tieo ¢, propagando-se também para 0 setor Industrial em seral e para varios ramos do setor de servigos, tanto nos paises cen. quanto nos de industriclizagao intermedidria, Nao poderia ser rente na Ingl onde a experimento de tipe toyotista asso- 6, vigente no Reino Unido desde a derrota do Labour Party em 1979, & sobre essa experiencia que vamos dis: correr na parte seguinte. 59

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