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Isometrias Elon Lages Lima a Sociedade Brasileira de Matematica Copyright ©, 1996 by Elon Lages Lima Colecao do PROFESSOR DE MATEMATICA: 1. Logaritmos - Blon Lages Lima 2, Andlise Conabinatéria e Probabilidade - Augusto C. Morgado, Joao Boseo Pitombeira de Carvalho, Paulo Cezar Pinto Carvalho e Pedro Fernandez 8. Medida e Forma em Geometria - Blon Lages Lima 4. Meu Professor de Matemdtica e outras Historias - Elon Lages Lima 5, Coordenadas no Plano - Elon Lages Lima 6. Trigonomuetria, Nimeros Complexes - Manfredo P. do Carmo, Augusto C. ‘Morgado, Bduarde Wagner (Notas Histéricas de Joao Bosco Pitom- beira) 7. Coordenadas no Fspaga - Elon Lages Lime 8, Progressdes e Matemditica Financeira - Augusto C. Morgado, Eduardo Wagner e Sheila . Zani 9, Consirucdes Geométricas - Eduardo Wagner (colaboracao de José Paulo Q. Carneiro) 10, Introductlo & Geometria Espaciat - Paulo Cezar Pinto Carvalho LL Geometrta Euelidiana Plana - Joao Lucas Marques Barbosa 12, Isometrias - Elon Lages Lima Capa: Rodolfo Capeto Tiustragoes: Tina Velho Diagramago, composisio e fotolitogiatbwesno_J2. (GRAPTEX Comunicagao Visual Rio de Janeiro, Tel, 512.5726 Pax. 274.9944 web site: hip:/ /wiow grapees.com.br e-mail: home@graftex.com.br Prefacio O presente texto constitui o conteado bisico de um curso que lecionei para professores revnidos na aprazivel La Cumbre, Provincia de Cérdoba, Argentina, em novembro de 1995. Seu objetivo é o de classificar as isometrias (transformacées que preservam a distancia euclidiana) e analisar as compostas dessas transformagies. Esse estudo é feito sucessivamente na reta, no plano e no espago. Nas diferentes dimensves, 0 desenvelvimento do assunto segue a mesma ordem de idéias. Isto permite uma adaptagio gradual a complexidade crescente e, 20 mesmo tempo, simplifica alguns argumentos mediante 0 uso de resultados anslogos jé provados em dimensdes mais baixas. © ponto de vista adotado nesta exposicio é predominantemente (mas nio exclusivamente) sintético. Em cada cago (reta, plano e espago) ¢ dada uma breve explicagio de como o assunto pode ser tratado também mediante 0 uso de coordenadas. Além disso, coordenadas so utilizadas para mostrar, de modo rapido, que reflexoes ndo resultam de movimentos sem recorrer a um ambiente com uma dimensao a mais. Minhas justificativas para a divulgagdo destas notas so a simplicidade da exposigao, a raridade de publicagies sobre © assunto (especialmente no caso tri-dimensional) e, principalmente, 0 tratamento que apresento para as isometrias préprias, como conseqiiéncias de movimentos no plano ou no espago, conforme 0 caso. Acho que essa abordagem corresponde mais fielmente & nossa intuigao e simplifica consideravelmente a exposigdo, tornando-a mais geométrica e natural. Para finalizar, 6 com grande prazer que registra meus agradecimentos a Juan Carlos Dalmasso e a Norma Fietrocola pelo convite, pela hospitalidade e por todas as gentilezas com que me brindaram. Rio de Janeiro, dezembro de 1995 Elon Lages Lima Contetido 1. Isometrias na reta 1 2. Usando coordenadas na reta 8 3. Orientagéio na reta 10 Exercicios 11 4, Isometrias no plano 13 5. Isometrias proprias e impréprias no plano 30 6. Composigao de isometrias no plano 35 7. Usando coordenadas no plano 42 Exereicios 47 8. Isometrias no espace 52 9, Isometrias préprias ¢ impréprias no espaco 65 10. Classificagdo das isometrias do espago 72 11. Composigiio de isometrias no espago 80 12, Usando coordenadas no espago 87 Exercicios 92 1 Isometrias na Reta Seja r uma reta. Todo ponto A ¢ + determina em r duas semi-retas opostas 61, 02. Tem-se oj Uo = re 0; Maz = {A}. Diz-se que Aé a origem dessas duas semi-retas. o, °, A Figura Dados 3 pontos distintos A, B, C sobre a reta r, diz-se que C esta entre Ae B quando A e B pertencem a semi-retas distintas (logo opostas) de origem C. A Cc B Figura 2 segmento de reta AB 6, por definigao, 0 conjunto dos pontos de r situados entre A e B, mais 0s pontos A e B. Quando C ¢ AB diz-se que A e B estio do mesmo lado de C. Admitimos que foi fixada uma unidade de comprimento e in- dicamos com AB o comprimento do segmento de reta AB. Escre- veremos também (A,B) em vez de AB e diremos que se trata da disténcia do ponto A ao ponte B. Tem-se sempre AB20, com AB = 0 se, e somente se, A = B. 2 bsomotras ma Rate Vale AB = AT + CB se, e somente se, C ¢ AB. Caso seja C ¢ AB, vale AB = AC — BC ou AB = BC — AC, conforme AC>BC ou ACKBC, Ac OB A BC c oA B Figura 3 Podemos resumir dizendo que AB = AC + CB quando C esta entre Ae B e AB = |AC — BC| quando C ¢ AB. ‘Numa semi-reta de origem A existe, para cada nimero real d > 0, um anico ponto X tal que AX = d. Segue-se que, sobre uma retar, existem exatamente dois pontos Xo, X; situados a uma distancia d > 0 de um ponto dado A € r: um em cada semi-reta de origem A. Tem-se XoX) = XA + AX) = d+ d = 2d e A chama-se 0 ponto médio do segmento XoX; . Quando A é o ponte médio do segmento de reta XoX1, diz-se que X; 6 0 simétrico de Xo relativamente a A. O simétrico de A relativamente a A 6, por convengdo, 0 préprio ponto A. Assim, Yé o simétriea de X relativamente a A quando d{¥,A) = d{X,A) > 0 ‘ou ent&o quando X = ¥ =A. Figura 4 Uma isometria da reta r na reta s é uma fungio T:r + s que preserva a distancia entre pontos. Mais precisamente, se dois pontos quaisquer X,Y € + séo transformados por T nos pontos X’=TiX)e Y’=T(Y) ems, entao X°V" A 4. Toda isometria T:r 3 s é uma fungdo bijetiva, cuja inversa This réainda uma isometria. Com efeito, dados X,Y € r, ponhamos X’ = T{X} e ¥’ = TLY). laometriae na Rate 3 Entaéo XY 3 XV>0 > XW =XY>0 5 NZY. Logo T é injetiva. Para provar que T é sobrejetiva, tomemos um Ponto arbitrério Y € s e mostremos que existe X ¢ r tal que T(X} = Y. Para isso, tomemos um ponto qualquer A € r e ponha- mos A’ = T/A), Seja d = A’V a distancia de A’ ao ponto Y. Se for d = 0 entao A’ = Ye A é 0 ponto X procurado. Se d > 0, exis- tom dois pontos Xo, X; em r, situados a distancia d do ponto A. Sendo injetiva, a isometria T transforma Xp e X; nos dois tinicos pontos de s situados a distancia d do ponte A’. Como um destes 6 Y, segue-se que se tem T(Xq] = You T(Xi) = Y. Figura s Finalmente, dados X,Y € s, temos X = T(Xo), ¥ = T(Yo], onde Xo = TUX) e Yo = THY). Entio A(X, ¥) = d(T(Xo}, T(Yo}) = d(Xo, Yo) = a(T- 100, T (YD), Jogo T!:s +6 uma isometzia. . Evidentemente, a funcao composta de duas isometrias é ainda uma isometria. 2. Aimagem do segmento de reta XY c + por uma isometria T:r 4 sé 0 seumento de rela X'Y’ C s, onde X! =T(X}e Y’ Com efeito, dado o ponto Z 0. Hd duas possibilidades: ou A” 4 A ou A” = A. No primeiro caso, A’ é 0 ponto médio do segmento AAV" logo T coincide com a translagdo Ta 4’ nos pontos distintos A © A’, portanto T = Tas’, em virtude de 4. No segundo caso, se chamarmos de M o ponto médio do segmento AA’, veremos que a(T(M), A’) = d(M,A) = d(M, A’) = a(TiM),A") = diT(M),A), logo T/M) € 0 ponto médio de AA’, ou seja, T(M) = M. Assim T coincide, nos dois pontos distintos A e M, com a reflexio Rx em torno do ponte M. Segue-se de 4 que T = Rm. . 2 Usando Coordenadas na Reta Para introduzir um sistema de coordenadas na reta + tomamos um ponto © € r, que chamaremos de origem, e escothemos uma das semi-retas de r determinadas por O, a qual chamamos de semi-reta positiva. Com isso estabelecemos uma correspondéncia biunfvoca f: + R entre a reta reo conjunto R dos mimeros reais. Acada ponto X € rcorresponde 90 numero real f(X) = x, chamadoa_ coordenada do ponto X, definide do seguinte modo: se X pertence A semi-reta positiva entao x = f{X] = d(X,O)}. Caso contrario, x = f(X} = —d(X, 0}. Evidentemente, a origem © tem coordenada £(0) =0. A correspondéncia biunivoca f:r + R permite que substitua- mos, em alguns raciocinios, o ponto X da reta r pelo nimero x que €a sua coordenada. Nesta ordem de idéias, uma transformacao ‘T:r = r pode ser pensada como uma fungdo real t:R + R. Se x € HR 6a coordenada do ponto X € r entao r(x) é a coordenada de T(x). Por exemplo se a é a coordenada do ponto A € r, a reflexio Razr 3 rcorresponde a fungio 94: + R, dada por po(x) = 2a—x. Com efeito, como A é 0 ponte médio do segmento cujos extre- mos so X ¢ Ra(X}, sta coordenada a é a média aritmética a = [x+palxil/2 entre a coordenada x do ponto X e a coordenada pa(x) do ponto Ra(X). Segue-se imediatamente desta igualdade que Palx) = 2a—x. A férmula pq(x) = 2a — x mostra imediatamente que ea(x) = x & x% = ae que pa(pa(x)} = x para todo x € R, ou seja, que A € 0 unico ponto fixo da reflexdo Ra e que Ra = (Ra)~'. Quanto a sands Coorderadasraeta 9 ‘translagdo Ta t + 7, se aed so respectivamente as coordenadas de A eB, com b = a+, entao a translagao Tay:t — t eorresponde a fungao ty: — R, dada por ta(x) = x + d. Com efeito, para todo ponto X € r, sejam X’ = Tag(X] ex, x’ respectivamente as coorde- nadas de X e X’. Entio 0 ponte médio do segmento AX’ coincide com 0 ponto médio do segmento BX. Em termos de coordenadas, isto significa que 3(a + x’) = }(a + d +x), ou seja, x’ =x +d. O ndmero d = b — a chama-se a coordenada do vetor AB. Mais uma vez, vemos que a translagdo Tas: -) r nflo depende ‘especificamente dos pontos A e B mas apenas do vetor AB. Note ainda que (Tag)! =Twa- 3 Orientagao na Reta Orientar uma reta r significa escolher um sentido de percurso em re chamé-lo de positivo. O sentido oposto sera denominado nega- tivo, Para dar consisténcia e significado matemitico a essa nogdo intuitiva de “sentido de percurso”, diremos que um sentido de per- curso em t 6 dado por uma semi-reta oC r. Duas semi-retas o' ¢ o” em r definem 0 mesmo sentido de percurso quando uma delas esta contida na outra. o o o” oo” semi-retas de mesmo sentido semizetas de sentidos opestos Figura 14 ‘Um par ordenado (A, 8) de pontos distintos da reta r também serve para orientar a reta tr. Com efeito esse par determina a semi-reta AB, de origem A, que contém o ponto B. O sentido de percurso A — Bé, por definigdo, aquele definido pela semi-reta AB, de origem A. Como ja observamos antes, dados os pares (A,B) e (C,D), a afirmagao de que os pontos médios dos segmentos AD e BC coincidem equivale a dizer que AB = CD e que os sentidos A—BeC—D saoo mesmo. Uma reta na qual foi fixado um sentido de percurso (ou seja, uma reta orientada) chama-se umeizo. Graficamente, esse sentido de percurso ¢ indicado com uma seta. ‘rientayiona Reta 11 r —_-—— Figura 12—Um eixo. Diz-se que uma isometria T:r — r preserva orientacdo (ou 6 prépria) quando, dado qualquer par ordenado (X, ¥} de pontos de t, a sentido de percurso X — Y coincide com 0 sentido X’ — Y’, onde X’ = T(X) e Y' = T(Y). Caso contrario, diz-se que T inuerte orientagao (ou que ¢ imprépria). Como se vé facilmente, a identidade e as translagées sio iso- metrias que pereservam orientagéo enquanto que as reflexdes i vertem. r a at x y xX oy x ¥ M x Y uma translagao uma reflexdo Figura 13 Evidentemente, a composigao de isometrias respeita as se- guintes regras: (propria) (propria) = propria (propria) 0 (imprépria) = imprépria (Gmprépria) o (imprépria) = prépria (imprépria) o (prépria) = imprépria Assim 6 claro que a composigéo de duas reflexbes dé como re- sultado uma translago ou a identidade, enquanto que a composta de uma reflexdo com uma translag4o, em qualquer ordem, é uma reflexfo. EXERCICIOS As isometrias nos exercicios de 1 a 10 tém lugar todas na mesma retar. 12 Odentagéo na Reta Taso Tac = Tacs Taso Top = Tepe Tap. Re oTas= Rm, M = ponto médio do segmento AB. Rao Tap= Rn, N= ponto médio de AA’, Tag(A’) =A. Como determinar Ryo Tyg com P,Q € r arbitrarios? TanoRa=Rm, M = ponto médio de AB. Determine, em geral, Tego Ra €, em particular, Tao Ra. PNP He wp a RpoRa = Trg. Determine Pe Q. 9 RaoRa=(RpoRa)'. 10. Toda isometria T:r + r é uma reflexéo ou se exprime como composta de duas reflexdes. Examine a composta de trés reflexdes. 11, Sejam A,B € re A’,B’ © s tais que AB — AB’. Prove que existe uma isometria T: r — s tal que T(A) = A’ e T(B) = B’. 4 Isometrias no Plano Continuamos admitindo fixada uma unidade de comprimento e indicando com dA, B] ou AB a distancia do ponto A ao ponto B no plano I', ou seja, o comprimento de segmento de reta AB. Lembramos que o ponto C pertence ao segmento de reta AB se, e somente se, (A,B) = a(A, C) + a(C,B). ‘Uma isometria entre os planos Tle TI’ 6 uma fungao T: 11 + 11 que preserva distancias. Isto significa que, para quaisquer pontos X,Y € 1, pondo X! = T(x) e Y= T(Y), tem-se d(X’,¥) = d(X%Y). ‘Toda isometria 7:11 + TI’ é uma fungao injetiva pois X#Y > dX,Y)>0 > AX, Y) =diXY) >0 > x ZY. ‘Uma isometria 6 também sobrejetiva. Isto sera provado a seguir. & Toda isometria T:11 + TI' transforma retas em retas. Com efeito, seja r < Tl uma reta. Tomemos dois pontos dis- tintos A eB em r, ponhamos A’ = T(A), B’ = T(B) e chamemos de v a reta no plano I’ que passa por A’ e B’. Dado qualquer X € r, um dos trés pontos A, B e X esta entre os outros dois. Digamos que B esteja entre A e X, ou seja, que B € AX. (Os outros dois ca- 808 sdo tratados analogamente.) Entiio AX = AB + BX logo, pondo X! = T(X), vem A’X’ = A’B’+ BYX portant B’ pertence ao segmento A’X!, Assim os pontos A’, BY e X’ so colineares. Isto mostra que Xer > X’ er. Logoa restrigdo de T a r é uma isometria en- tre rer’, Como toda isometria entre retas é sobrejetiva, tem-se 14 Ioometras o Pane Tiry=r . r x T —_ B A T lie Figura 14 9. Uma isometria T:11 TV transforma retas perpendiculares em retas perpendiculares. . Tr. 4 1 Figura 15, Com efeito, dadas as retas perpendiculares r e s em Il, consi- deremos: 0 ponto A de interserao de r e s, dois pontos Be C em +, equidistantes de A, ¢ um ponto qualquer D sobre s. A isome- tria T transforma a mediana AD do triangulo isdsceles BCD na mediana A’D’ do tridngulo iséaceles B’C’D’, logo A’D’ 6 perpendi- cular a B’C’, ou soja, ” 6 perpendicular a s’. . 10. Toda isometria T:11 + TI é uma bijecéo, euja inversa TOhIV 116 ainda wma isometria, toanetias no Plane 15 Com efeito, ja vimos que T ¢ injetiva. Para provar a sobrejeti- vidade, tomamos um ponto arbitrério X’ € 11’ e procuramos deter- sminar um ponto X € TT tal que T(X) = X’. Para isso, tragamos uma reta qualquer t em TT. A imagem de r por T é uma reta 1 no plano TTSeX’ € 1’ entao, por definigdo de imagem, existe um ponto X € t tal que T(X) = X’. Caso contrario, seja s’ a perpendicular baixada de X’ sobre r. Chamemos de Y’ 0 ponto de intersegao de 1’ com s', Como Y' € 1’, existe Y € r tal que T(Y) = Y. Seja s a reta perpendicular at passando por Y. A imagem de s pela isometria T é perpendicular a r’ e contém Y’. Logo T(s) = s’. Como X’ € s’, existe X € S tal que T(x) =X’, . Figura 16 E evidente que se T:l — Il e S:Il’ + 11" sao isometrias entre planos entdo 2 composta $ oT: IT -> IT” é também uma isometzia. O exemplo mais ébvio de isometria 6 a fungao identidade 1:11 > TI, Vejamowagora alguns outros. EXEMPLO 3. (Simetria em torno de um ponto.) Tomemos um ponto Anoplano, A simetria em torno de A é a fangao Sq:1T — TT assim definida: $q(A) = A e, para X # A, Sa(X) = X’ 6 0 simétrica de X relativamente a A. Noutras palavras, A é 0 ponto médio do segmento de reta XX’. Para ver que Sq é uma isometria, basta ver 16 eansris na Plano A Y x Figura 17 que, dados X, Y € TI, 0s triangulos AXY ¢ AX'Y! sao congruen- tas, pois AX = AX’, AY = AY’ e os Angulos XAY, X'AY’ so opostos pelo vértice. Logo Xi xv. EXEMPLO 4. (Reflexdo em torno de uma reta.) Seja t uma reta no plano M1. A reflexdo em torna da reta t 6 a fungdo k,:T1 > TT assim definida: R,(X) = X para todo X € re, para X ¢ 1, Ry(X) =X! é tal que a mediatriz do segmento XX’ é a retar. Noutras palavras, seja Y 0 pé da perpendicular baixada de X sobre r. Entao Y 6 0 ponto médio do segmento XX', Figura 18 Para provar que R, 6 uma isometria, consideramos dois casos. Primeiro: X e Y estao do mesmo lado da reta t no plano Ti. Entao ‘tragamos 08 segmentos XA e X‘A’, paralelos ar, com A e A’ sobre YY’. Os tridingulos retfingulos XAY e X’A’Y' tém os catetos com 0 mesmo comprimento logo o mesmo ocorre com suas hipotenusas, isto 6, XY = XV. tsomstrasso Pane 17 Figura 19 Segundo caso: Xe Y estdo em lados opostos da reta r. Sejam A B os pontos de intersepao de XY e XX’ com a reta r. Os trifngulos retangulos ABX e ABX’ tém o cateto AB em comum e BX = BX’. ‘Logo suas hipotenusas tem o mesmo comprimento: AX = AX’. Analogamente, AY = AY’. Assim os tridngulos AXX’ e AYV’ siio isésceles, portanto suas medianas sio bissetrizes: a = a e B = 6. Por outra lado, « = g’ como angulos apostos pelo vértice. Figuea 20 __ Entao a+ «’ = 6 + 6’. Como 6 + fs’ 60 suplemento do angulo XAY’, segue-se que a +0’ também 6, logo X’, A e Y’ siio colineares. Portanto XY = KA + AW = KA+AY 18 omens wo Pine Os pontos fixos da reflexdo R,: IT — TI so os pontos da reta r. Para todo X € TI tem-se R-(Rr(X)) = X, logo R, oR, = identidade, ou seja, (Ry) "= R.. ‘Um fato geométrico importante a respeito da reflexiio R,:11 — TI 6 que ola transforma o triangulo ABC num tridngulo A’B’C’ no qual 0 sentido de rotagao dos vértices A’ = B’ — C’ € 0 oposto do sentido A+ BC. Cy" Figura21 Esta observagao de caréter intuitive, que seré tornada mate- maticamente precisa mais tarde, significa que a reflexio em torno de uma reta é uma isometria “imprépria’”, que inverts a orientagao no plano. EXEMPLO 5. (Transiagéo.) Sejam A, B pontos distintos do plano TI, Atranslagdo Tay TI > TT é a fungao assim definida: dado X € TI, sua imagem X' = T,3(X) 6 0 quarto vértice do paralelogramo que tem AB e AX como lados. mametica no Piase 19 Esta definigso de Ta3(X) se aplica apenas quando A, Be Xnao so colineares. Se X pertence a reta AB, sua imagem X’ = Tau(X} (j6 foi definida quando estudamos as isometrias da rete. Qualquer ‘que seja a posigdo de X no plano TI, sua imagem X! = Tan(Xj fica inteiramente caracterizada pelo fato de que o8 segmentos de reta AX! e BX tém 0 mesmo ponto médio M. Assim, se quisermos cons- truir X’ geometricamente a partir de A, B e X tomamos 0 ponto médio M do segumento BX e prolongamos o segmento AM até X’ de modo que MX’ = AM. Figura 23. & importante observar que, na defini¢ao de Tag, é essencial levar em conta a ordem em que sao mencionados 08 pontos A ¢ B. A translagao Ty, é diferente de Tan. Na realidade, como se vé facilmente, tem-se Tya = (Tag)”'. Mencionaremos o segmento de reta orientado AB para significar que o ponto A foi tomado como origem e 0 ponto B como extremidade. O segmento orientado BA (oposto de AB) tem B como origem e A como extremidade. Salientemos que a translagao Ta1.ndo possui pontos fixos. Na realidade, para todo ponto X € TI, com T(X) = X’, tem-se d(X, X) = (A,B). Para mostrar que a translaco Tap:TT > TI é uma isometria, tomemos dois pontos arbitrérios X,Y ¢ Tf e suas imagens xX’ =TaalX), Y= TanlY). Se a reta r que contém X e Y é paralela ou igual a reta s que contém AB entdo Tag, restrita a r, é a translaeao Txx:1 — r, logo 4(X’, ¥") = d{X,Y). Se r no 6 paralela nem igual a s entdo XX’ e YY’ so lados opostos de um paralelogramo, logo 0 meso ocorre com XY e X’Y’. Segue-se que d(X’, ¥") = d(X, Y}. 20 Isamottas no Plane Figura 24 ‘A nogdo de translagio esta intimamente relacionada com o conceito de vetor (do Latim “vehere“ = transportar). Na realidade, podemos definir os vetores do plano a partir das translagies. Di- remos que dois segmentos orientados AB e CD, no plano TT, so equipolentes quando Tax = Ten. Isto corresponde a definigdo tra- dicional pois Tag = Tep £¢, ¢ somente se, as segmentos AB e CD sdo paralelos, tém o mesmo comprimento e o mesmo sentido (ou seja, se, e somente se, 08 pontos médios de AD e BC coincidem). Em seguida, diremos que 0 vetor v — AB, de origem A e extre- midade B, é 0 conjunto dos segmentos orientados equipolentes a AB, Entdo podemos escrever T, em vez de Tage dizer que T, é a translagdo de vetor v. Dados o segmento orientado AB e o ponte P no plano TI, existe tum Gnico ponto Q em TI tal que os segmentos orientados AB e PQ sao equipolentes, isto 6, PQ = AB =v. Q 6 0 quarto vértice do o paralelogramo que tem AB e AP como lados. Escreve-se Q = P+v e diz-se que o vetor v = AB transportou 0 ponto P para a posigiio Q, Naturalmente, Q = Tan(P} = TP). Vetores no plano TI podem ser somados. Dados os vetores u ev, com u = AB, toma-se um ponto Q tal que BQ = ve piese utv=AQ, Alternativamente, podemos tomar C tal que AC =v e definir u +v = AD, onde D € 0 quarto vértice do paralelogramo que tem AC e AB como lados. E conveniente introduzir 0 vetor nulo (ou vetor zero) indicado com 0, pondo 0 = AA (vetor para o qual a origem coincide com a extremidade). Isto corresponde a incluir a fung&o identidade como translago: Tp = identidade. Observe que Ty 0 Ty = Tyo Tu = Tuy: Por definigéo, se v = AB, escreve-se -v = BA. Entéo Wy = ‘Além de somados, os vetores podem também ser multiplicados por ntimeras reais. Dados o vetor v = AB e o ntimero real t > 0, 0 produta de t por v 60 vetor tv = AB, onde B, 60 ponto da semi-reta AB tal que AB;/AB = t. Se t < 0, poe-se tv = —|tve set tem-se 0-v =0=AA. EXEMPLO 6. (Rofacéo.) Sejam O um ponto tomado no plano Il e a = AOB um Angulo de vértice 0. A rotagdo de Angulo « em torno do ponto 0 é a fungao po, II + 11 assim definida: 90,(0) = Oe, para todo ponto X # O emTI, po,alX) = X’ 60 panto do plano MT tal que a(X,0) = d(X’,0), XOX’ =a © 0 “sentido de rotacdo” de A para B é 0 mesmo de X para x’. A condigio XOX’ = « significa, em termos geométricos, que se OA = OB = OX = OX’ entao AB = XX’. A exigéncia de que o sentido de rotagéo de X para X" seja o mesmo que 0 sentido de A para B é clara intuitivamente e pode ser formulada em termos precisos dizendo-se que os angulos Figura 2a eortrin Plae BOX e AGX’ tém a mesma bissetriz. Dados os pontos X,Y € TT, diferentes de , sejam X’ ¢ Y' suas imagens pela rotacdo Po... Com og angulos X’GY e XGY’ tém a mesma bissetriz, segue-se que XOY = X'OY’, Sendo OX = OX’ e GY = OY’, conclufmos que os tridngulos XOY e X’OY’ so congruentes (caso LAL). Logo XY = XY, ou seja, po,«6 uma isometria, cujo nico ponte fixo 6 0. Quando 0 Angulo « = AGB é raso, ou seja, quando OA e OB so semi-retas opostas, a rotagdo oo, coincide com a simetria So, em torno da ponto O. (Exemplo 3.) OBSERVACAO: A fim de que a rota¢fo p,q, de centro O e angulo « = AGB, esteja bem definida, é necessario que a ordem das semi- retas OA e OB seja levada em conta: OA é a primeira e OB é a segunda, Diz-se entéo que « = AOB 6 um dngulo orientado. Ele 6 considerado diferente do Angulo orientado —« = BOA. Na realidade tem-se Po,-a™ (Po,a)', como se vé facilmente. EXEMPLO/7. (Reflexdo com destizamento.) Sejam v = AB um vetor nao-nulo e r uma reta parelela a v no plano I. R09 Figura 20 A reflexéo com deslizamento, determinada pelo vetor v e pela retar, 6a isometria T = T,oR,: 11 — T, obtida fazendo a translacio T, seguir-se a reflexao R,. A reflexao com deslizamento, como a translagdo T, , no possui ponto fixo. 24 teotras ne Plane OBSERVAGAO. Levando em conta que v é paralelo a r, mostra-se facilmente que To R- = Rr 9 Tw. 11. Se uma isometria T:Tl — 1 possui trés pontos fixos ndo coli- neares entéo | = identidade. Com efeito, sejam A, B e C pontos ndo colineares no plano M1, tais que T(A) = A, T(B) = Be T(C) = C. Considere as retas r = AB es=AC. Aimagem da reta t pela isometria T 6 a reta que passa pelos pontos T(A] = Ae T(B) = B. Logo T(r) = r. Assim, a restrigaio ‘T|r 6 uma isometria da reta r, com dois pontos fixos distintos A eB. Por 8, tem-se T(X) = X para todo X € r. Analogamente se vé que T(Y] = Y para todo ponte Y € s. Seja agora Z um ponto qualquer do plano TI. Fagamos passar por Z uma reta t que corta +e s respectivamente nos pontos X e Y. Como T(X) = X e T(Y) = Y, concluimos que T deixa fixos todos os pontos da reta t. Em particular, T(Z) = Z. Sendo Z um ponto arbitrério de TT, resulta que T = identidade, 12. Sejam S,T:IT — TV’ isometrias. Se existirem em 11 trés pontos ndo-colineares A, Be C tais que S(A) = T(A), S(B) = T(B) e S{C) = T(C), tent-se $ =, isto é, $(X} = TIX) para toda X ¢ TI. Com efeito, nas condigées acima a isometria S-10 T:T1 3 TT deixa fixos os pontos A, Be C, logo S~!o T = identidade, donde S=T. treme ne Plane 13. Se uma isometria T:11 — 11 possui dois pontos fixos distintos entdo ou T é a identidade ow ¢ a reflexdéo em torno da reta que contém. esses pontos, Com efoito, sejam A # B pontos de Il tais que T(A) = Ae T(B} = B. Entao T deixa fixos todos os pontos da reta r = AB. Fixemos um ponto C no plano TI, fora da reta r. Se T(C) = C entao T = identidade porque tem trés pontos fixos ndo-colineares: A, B eC. Se, entretanto, for C’ = T(C) # C entao, como AC = AC ¢ BC = BC’, a reta r 6 a mediatriz do segmento CC’ portanto c c Figura 31 C/ =R,(C). Portanto T coincide, nos pontos nao-colineares A, Be C, com a reflexo em torne de R, logo T = R-. 14, Sejam $,T:11 + IV’ isometrias. Se existem em Mi dois pontos distintos A, B fais que S(A) = T(A) ¢ S(B) = TiB) entao ow § =T ou $ =ToRy, onde R,:Tl 11 €a reflextio em torno da reta t = AB. Com efeito, T-! 0 $:11 + Ti é uma isometria com dois pontos fixos distintos A e B. Logo, ou T-'o S = identidade (e T = S) ou entao T-'oS = Ry, donde S = To Ry OBSERVACAO: Como se vé facilmente, pondo s = T(r) tem-se To Ry =ReoT. 15. Existem apenas quatro tipos de isometrias 1:11 + TI do plano 28 tcometras wo Plane T1, além da fungéo identidade, a saber: translagéo, rotagao, reflextio © reflexéio com deslizamento. Com efeita, seja T:Tl — Tl uma isometria diferente da iden- tidade. Existe um ponto A ¢ II tal que A’ = T(A) # A. Seja A” = T(A’). Evidentemente AVA” = AA’ > 0. Ha trés casos a considerar. PRIMEIRO CASO: A, A’ e A" sao nao-colineares. Figura 32 Aimagem do triangulo AA’A" pela isometria T 6 um triangulo que tem A’ e A” como vértices. Como os lados desse triangulo tém medidas iguais as dos lados de AA‘A”, existem duas posigées possiveis, B, e Bz, para o seu terceiro vértice, conforme ele e 0 ponto A estejam ou nao do mesmo lado da reta A’A”. Na primeira x x Ne B, + 6 Figura 33 hipétese, o ponto By = T(A”) forma com A, A’ ¢ A” a poligonal con- ‘someting a0 Plano 27 yexa AA’A'B), na qual os lados tém a mesma medida e os angulos ‘A’ e A? séo iguais, logo cla pode ser inscrita numa circunferéncia de raio OA, cujo centro O é 0 ponto de encontro das mediatrizes dos segmentos AA’, A'A” @ A”B,, Seja O" = 1(0}. Entao, como OA = OA’ = OA", temos O'A’ = OYA” = 0B), logo O’ pertence as mediatrizes dos segmentos A’A” @ AB) , donde O' = O. Assim, se considerarmos a rotacao p de centro O e angulo AGA’, teremos 9A) = A’ = TIA), p(A”) = A” = TIA @ [A”] = Br = TIA”). Segue-se entao de 12 que T = p é uma rotagiio. ‘Na segunda hipétese temos um paralelogramo no qual AA’ e AB: so lados opostos e A'A” & uma diagonal. Figura sé Segue-se que os pontos médios M, P e N desses trés segmentos esto sobre uma reta r. Se considerarmos a isometri composta da translagao Tn com a reflexdio em torno de r, vermos que Se T coincidem nos pontos nao-colineares A, A’ ¢ A”, logo T = 5, em virtnde de 12. Conclufmos ent&o que T é uma reflexdo com deslizamento, Isto encerra a discussao do Primeiro Caso. SEGUNDO CASO: A, A’ e A” sao pontos distintos e colineares. Como AA’ = AVA”, vernos que A’ é 0 ponto médio do segmento AA”. A reta 1, que contém os trés pontos dados, é transformada em si mesma pela isometria 1. Além disso T coincide, nos pontos AeA’ com a translacdo Taait + 1, Segue-se de 4 que, em todos os pontos de r, T coincide com esta translagéo. Consideremos um ponto B fora da reta r. = TwnoR,, 2B tsametias 00 Pano Figura 35 O tridngulo AA’B 6 transformado pela isometria T noutro trifngulo qne tem A’ e A” como vértices Iados com as mesmas medidas que os de AA'B. Existem duas posigbes possiveis, By ¢ B2, para o tereeiro vértice desse tridangulo, conforme ele e B este- jam do mesmo lado on em lados opostos da reta r. Na primeira hipétese, AB e A’B) edo lados opostos de um paralelogramo logo, considerando a translagao Taa TT em torno do ponto M, com Angulo de 180°, nos pontos nao-colineares A, B e M, logo T =p. Portanto, neste terceiro caso, T é uma translagio ou uma rotagio de 180° (simetria em torno de um ponto).. 5 Isometrias Proprias e Imprdéprias no Plano Uma translagdo 7-1 > TT e uma refiexdo R-II -+ TT transformam 0 mesmo trifngulo ABC c TT nos tridmgulos A’B’C’ e AiBiCy. E intuitivamente plausivel que se pode passar continuamente de Figura 37 ABC para A’B‘C’ mas, sem sair do plano, nao é possivel deslocar ABC até AiB:C;. Esta observacao estabelece a distingao entre uma isometria propria e uma imprépria. Vejamos os fatos de modo preciso. Um movimento no plano MT & uma colegio de isometrias HyTl = Tl, uma para cada mimero real t € [0,1], tal que Ho = identidade e, para cada ponto P é 1 fixado, o ponto H.(P) varia continuamente em fungao de t, quando t vai de 0 a1. tometrios Preis Impréprins 0 Plano 31 ‘Uma isometria T:1 - 1 chama-se prépria quando existe um movimento H,:TI + TT, 0 Tl sé movimentos que terminam em S~' e I~! respectivamente. 17. Sejam $,T:11 > Tl isometrias. Se uma delas ¢ prépria ea outra é imprépria entéo a composta $0 T:Tl + 11¢ imprépria, Com efeito, digamos que S seja prépria. Se a composta S oT fosse propria entao T = $~!o ($ oT) seria prépria, por 16. EXEMPLO 11. (As reflexdes com deslizamento sdo improprias.) Isto resulta imediatamente de 17. 18, Acomposta SoT:TI — Ide duas isometrias impréprias é uma isometria propria, Para provar este fato, usaremos os seguintes lemas: LEMA 1. Dados A,B, C,D © Ficom AB = CD, existe uma isometria propria UTI > Wtal que U(A) = Ce UB) =D. Figura 40 DEMONSTRAGAO DOLEMA 1: A translacao Tac: I — M1 transforma AB no segmento CB’, que faz o angulo a = B‘CD com CD. A rotagao p = 9c, leva B’ em D e deixa C fixo. Logo, a composta U-= po Tace uma isometria propria (por 16 e pelos Exemplos 8 ¢ 9) tal que U(A) = Ce U(B) = D. (Se B’ = D, nao ha necessidade de considerar 9.) LEMA 2. Se S:1 = T1é uma isometria imprépria entio, para toda 34 tsomatvag PriptasoUrprtptas no Plana reflexdo Ry:Il + 1, as isometrias compastas $ 0 R, e Ry oS so préprias. DEMONSTRACAO DO LEMA 2: Seja ABC um triangulo cujos vérti- ces A B pertencem a reta r. Consideremos 0 ponto D = R,(C). Sejam ainda A’ = S(A), B’ = $(B), C’ = $(C), D’ = S(DJ er’ = Sir). Figura 41 E claro que So R, leva os pontos A e B respectivamente em A’ eB’ mas transforma C em D’e D em C’. Pelo Lema 1, existe uma isometria propria U:IT + TT tal que U(A) = A’ e U(B) = B’. Como A’ e B’ séo equidistantes de D’ e C’, a reta r’ 6 a mediatriz do segmento C’D’. Como r 6 a mediatriz de CD e U é uma isome- tria, segue-se que U leva CD em C’D’, Em particular, U(C) = C’ ou U(C] = D’. Se fasse U(C} = C’, teriamos U = Se U seria imprépria. Entdo deve ser U(C) = D’ e daf U = S oR, De modo andlogo se mostra que Ro $ é propria. Para encerrar a demonstragao de 18 basta tomar uma reflexio arbitraria 8 e lembrar que Ro R = identidade, Logo SeT = SoRo RoT=(SoR}e(ReT] = composta de duas isometrias préprias, pelo Lema 2. Portanto Sc t € propria, em virtude de 16. 6 Composi¢ao de Isometrias no Plano A isometria $ = To, composta da translagiio T = Tag: + Teom a rotagao 9 = p0,9:T1 + 116 propria, pois Te 9 0 sdo. Assim, ou $ 6 uma rotagao ou é uma translagao. Na realidade, porém, esta Ultima possibilidade munca ocorre. Com efeito, se S fosse uma translago entao para quaisquer pontos X, Y em Ii, com X’ = S(X) @ Y’ = S(¥), 08 segmentos XX’ e YY’ seriam equipolentes mas isto nao 6 verdade quando § = Tas po,x. Basta tomar X tal que P1X}O = AB, logo X = Tanlo(X)) = 00 Figura 42 ¥ =O. (Ge o = 180°, tem-se XX’ = --YV".) Seria natural mostrar de maneira mais positiva que a isome- tria composta § = Tap Po,«:11 + 11 é uma rotagdo construindo geometricamente 0 centro da mesma e verificando que o angulo da rotagao S ¢ ainda igual a a. Isto se faz assim: sem perda de generalidade, podemos supor que O € o ponto médio do segmento ‘36 CompesicSo de Isometsias we Piano AB. Pp B s « o r Poa(P)=Q A Figuea 43 Por Ae B tracamos respectivamente as retas re s, perpendicu- lares a AB. Em seguida, tomamas Q cre P € s tais que OP = OQ. € POQ = a. Entao Q = p(P) e S(P) = Tas(Q) = P, logo P é 0 centro da rotagdo S. Além disso, $(O) = Tag(O) = 0 é tal que OPO’ = a, logo é 0 Angulo da rotagéo p. Se for « — 180°, vé-se facilmente que B € o centro da rotacao S, a qual é também de 180°, Outro exemplo interessante 6 a composigiio R, © R, de duas reflexdes. Evidentemente, se s = t temos R, oR; = identidade. Supo- nhamos agora que re s sejam retas paralelas. Para determinar acomposta R, oR, neste caso, tomamos um ponto A € re um ponto 2. 8 Figura 44 B € 5 tal que AB seja perpendicular a reas. Ponhamos v = AB. Entao R; R, coincide com T>, em todos os pontos da reta re da reta s’ = R,(s). Logo Rs oR, = Tay. (CampocteSo de Isonetriat ws tana 37 Em seguida, sejam re s retas concorrentes, com o ponto 0 em comum, Lembremos uma definiggo: 0 4ngulo da reta r para a reta s Figura 45 6 0 angulo orientado ndo-obtuso « = AOB, onde A Ere B Es. Neste caso, 0 Angulo de s para r é BOA = — ‘Observemos que se 0 aingulo de + para s é # eo Angulo de s para t é B entio o Angulo der para t é a +B. Posta esta definiggo, afirmamos que R, 0 Rr = Po,2«00 Seja, a composta das duas refiexdes R, e R, (nesta ordem) é a rotagao de centro Ge Angulo igual ao dobro do angulo de r para s. Com efeito, R, oR, coincide com a rotagdio pc,2.m todos os pontos X € r eem todos os pontos Y € s', onde s’ = R,(s). Figura 48 ‘38 ComposigSo de Isomatiat ne Plane A igualdade R, o R- = Tzy, vélida quando r e s séo paralelas, pode também ser lida da direita para a esquerda, Ela nos diz entdo que toda translagdo T, pode exprimir-se como a composta de duas reflexdes em torno de retas paralelas situadas uma da outra uma distancia igual a metade do comprimento do vetor v. Essas retas podem ser tomadas em qualquer parte do plano, desde que mantenham essa distancia, que sejam perpendiculares a v ¢ que o sentido do vetor v seja da reta r para a reta s. Analogemente, podemos escrever 90,4 = Rs © Ry € dizer que toda rotagao do plano pode ser exprossa como a composta de duas reflexes em torno de retas que se cortam no centro da rotagao e formam entre si um angulo igual & metade do angulo da rotagao. A composigao R, oR, deve ser tomada na ordem certa, de modo que a seja 0 dobro do Angulo da reta r para a reta s (e nao de s para 7), Uma dessas retas pode ser tomada arbitrariamente, desde que passe por 0 Analisemos agora a composigao de duas rotagdes do plano. Em primeiro lugar, se as rotagées po, & po. tém © mesmo centro O, é evidente que Po,<° 20.8 = 0,69 Po,a= PO,arp- (Aqui convencionamos que Po,«+9= identidade quando « + B = 360°.) Consideremos, em seguida, 0 caso de duas rotag6es Po, Po",5 de centros distintos © e O’. Seja ra reta OO’, Tomemos a reta s, passando por O, tal que o angulo de r para s sejaa/2, eareta t, pas- sando por O', de modo que o angulo de ¢ para r seja 6/2. Hé duas possibilidades, conforme s e t sejam concorrentes ou paralelas Figura 47 Composign de omer as Plano 39 (ou, equivalentemente, conforme « # —3 ou « = —B). Sesetse encontram no ponto O", escrevemos Powa=ReoRr Porp=Rro Re, donde 90,49 Por,p= Rs OR, oR, Ry = RRs. Ora, R, 0 Rr 6 a rotagdo em torno de O” com angulo igual ao dobro do éngulo da reta t para a reta s, o qual é igual a (a +B)/2. Assim R, oR, 6a rotagSo em torno de O” com Angulo «+B, ou sei PO, a? PO'.B = PO”, a+8 Analogamente se vé que 90',82 PO,a= POM a+ onde 0" 6 0 simétrico de ©” em relagao & reta r. Caso aa retas s e t sejam paralelas, pondo po,« = Rs 0 Ry & Por.a = RoR; ver 90,09 Pov.g = R, o Ry como antes, mas agora R,o Ry 6a translagao Ty., onde v = AB 6 0 vetor perpendicular a set,comA€TeB€ s, Entéo 00,20 pu’,p= Tiv- Por outro lado, Por, 2 PO,.= R-2y, como se vé facilmente. Portanto, a composta de duas rotagies do plano com centros distintos e dngulos «, 8 pade ser uma rotagéio com um terceiro centro de angulo « + 8 ou pode ser uma translapdo, caso se tenha B = —a. (8 importante lembrar que, para efeito de rotages B = —a é0 mesmo que a + f = 360°.) ‘A composigio de rotagdes pode ser usada para provar 0 se- guinte teorema, atribuido a Napoledo Bonaparte. Sobre cada lado de um triéngulo arbitrario ABC construamos um tridngulo equi- latero. Sejam O, P ¢ Q 08 centros desses tridngulos equildteros. O teorema de Napoledo diz que o tridngulo OPQ é equilétero. Para provar esta afirmagdo, consideremas as ratagies po, pp, Po, com os centros indicados, e Angulos orientados AOB, 40 Conpenigio te iemetres v0 Pans SY BPC e CGA respectivamente, todos medindo 120°, com po(A) = B, 97(B) = Ce pa{C) =A. Aisometria 99° 9p 2 00 deixa fixo 0 ponto A. Pelo que vimos acima, 0 composta pp © po € a rotagaio de 240° 0. P x Figure 49 cujo centro X é tal que os dingulos XOP ¢ POX medem 60°. Logo o tridngulo OPX 6 equildtero. Como o angulo da rotagéo pg mais 0 Angulo de pp © po somam 360°, segue-se também do que foi visto acima que, se as rotagdes pq ¢ pp po tiverem centros distintos, a composta pg ° pp ° po seré uma translagéo. Ora, uma translagao nao tem ponta fixo e sabemos que (pg ° pp© po)(A) = A. Logo o centro X da rotago ppo po coincide com 0 centro Q da rotago pa. Portanto OPQ é um tridngulo equilétero. Conposigis de ometrias 0 Plaza 41 Para interessantes aplicagdes das isometrias no plano a pro- blemas de desenho geométrico, veja o livro“Construgées Geométri- cas,” por Eduardo Wagner. (Colegio do Professor de Matematica, S.B.M., 1993.) 7 Usando Coordenadas no Plano ‘Um dos métodos mais difundidos no estudo da Geometria é 0 método das coordenadas, que leva & Geometria Analitica. Mostra- remos agora como ele pode ser empregada para abordar questies referentes a isometrias no plano, Uma amostra jé foi dada quando provamos que as reflexdes siio isometrias impréprias. Um sistema de coordenadas é introduzido no plano II quando se toma um par de eixos perpendicular OX e OY, com a origem comum 0. OX chama-se o eixo das abcissas e OY o eixo das orde- nadas. Os pontos de OX e OY possuem coordenadas, como vimos na Segao 2. Lembremos que a notagao R? representa 0 conjunto dos pares ordenados (x, y) de mimeros reais. A escolha dos eixos OX e OY permite definir uma bijegao IT R? que associa a cada panto Pe Tlopar (x,y) € R’, onde x (a adcissa de P) é a coordenada do pé da perpendicular baixada de P sobre OX enquanto y (a ordenada de P) 6 pé da perpendicular baixada de P sobre o eixo OY. Assim, uma vez fixado o par de eixo OX e OY, os pontos do plano TT podem ser representados por pares ordenados de mimeros reais e, de fato, escreveremos simplesmente P = (x,y) para signi- fiear que x 6 a abcissa e y € a ordenada do ponto P. Nestas condigdes, dada uma isometria T:IT — TI, se 0 ponto X! = (x’,y') = T(X) € imagem por T do ponto X = (x,y), é natural indagar de que modo as coordenadas x’ ¢ y’ de X’ se exprimem em fangdo das coordenadas xe y de X. Vejamnos alguns exemplos. Seja R,:Tl — TT a reflexfio em torno da reta + < II. Podemos ‘tomar no plano IT um sistema de coordenadas no qual o eixo das abeissas coincida com a reta r. Entdo, para cada ponto X = (x,y), ‘tomos R-(X] =X’ = (x',y'), onde x’ =x ey’ = -y. Este sistema de Figura 51 coordenadas ¢ particularmente bem adaptado para estudar a re- flexio R;. Por exemplo, levando em conta a expressiio A(X, ¥) = Or — un)? + fx — wo)? para a disténcia entre os pontos X = [x1,x2) e Y = (yi,y2) do plano, € obvio que a distancia entre os pontos Ry(X] = (1, —*2) € R-(Y) = (yr, —y2) 6 igual a d{X, Y), logo concluimos facilmente que R, 6 uma isometria. 4A sande Cenrdonndos na Placa Suponhamos entretanto que nao se tenha liberdade para es- colher o sistema de eixos, o qual jé foi fixado, e que a equacao da reta r nesse sistema é y = ax, ou seja, que os pontos de r sho aqueles cujas coordenadas sao (x, ax). Como determinar as coordenadas x’, y’ do ponto X' ~ R,(X) em fungao das coordenadas x,y do ponto X? Comega-se observando que 0 ponto médio do segmento XX’, cujas coordenadas so 1 fixtx) ec Hutu, pertence a reta r, logo y + y’ = a(x+x'). Em seguida observamos que o segmento de reta XX’, euja inclinagdo é (y’ — y)/(x’ — x), € perpendicular a reta r, cuja inelinagao 6 a. Logo (y’ —y)}/(x‘ — x! —1/a. Temos entao as duas equagdes de onde tiramos imediatamente as expressdes de x! ¢ y!: ¥= bet By 2a yoda Trat®— Fad Ueande Coordenades ua Plane 45 Estas férmulas permitem localizar 0 ponto X’ = (x/,y/) = R,(X) imagem do ponto X = (x,y) pela reflexdo R, em torno da reta r, quando a equagio desta reta é y = ax. Podemos ainda lembrar um pouco de Trigonometria e dar novo aspecto as formulas acima, Sabe-se que a inclinagdo a da reta ré a tangente trigonométrica do dngulo « que ela forma com o eixo das abcissas: a = tg a, Sdo também conhecidas as expresses de cas 2axe wen 2ex em firngao de a= tg a: ae og = 28 Teal? ROR TT GE Tato nos dé para a reflexio em torno de r as equagses eos 20 = x y Estas equagées fornecem as coordenadas (x’, y’} do ponto X’ = R,(X) quando X = (x,y), a reta r passa pela origem e forma um Angulo com o eixo das abcissas. Consideremos em seguida a rotagio p = po, II 4 TI, de Angulo a, em torno do ponto 0. Tomemos um sistema de coor- denadas em TT que tenha 0 ponto O como origem e consideremos X c08 2x + y sen 2oe x sen 2a.~ y cos 2c e/2 Figura 53 ainda uma reta r, passando pela origem e formando um Angulo 2/2 com 0 cixo das abcissas. (Mais precisamente, a/2 é 0 Angulo

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