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Como miisico amador pritico o que chamaria uma auto-musicoterapia com efeitos que avalio como muito positivos. Irei assim apresentar uma pequena e certamente incompleta reflexio — 0 tema imenso— sobre a importancia que a expresso = entendida como a manifestagio, ¢ a exteriorizagio do comportamento, do sentimento do ser humano ~ pode ter em processos educativos ou terapéuticos. 1. INTRODUCGAO O primeiro aspecto que eu quero realgar € que vao maus os tem- pos para a nossa expresso. Id nifo nos expressamos, ja nem nos ouvimos uns aos outros. A expressiio deixou de ser uma caracteristica e um atributo pessoal. Passou antes a ser entendida como um negécio, uma excenwicidade, um hobby que colocamos ao lado da nossa vida verdadeira. Pagamos para alugar espagos e contratamos pessoas que nos ajudam a redescobrir 0 que incompreensivelmente perdemos e de que mesmo nos envergonhamos. A nossa capacidade de criar e de nos expressarmos. Deixamos de nos ouvir a n6s proprios, empanturramo-nos com a informagiio, comunicamos superficialmente, agimos pressionados por circunstncias, pensamos pouco e mal. Negligenciamos e amputamos mesmo de nés a parte que seria a mais criativa, a mais leve, a mais humana e certamente a mais auténtica, Assumimos uma unidimensionalidade que exilou a nossa criatividade e que nos aprisionou as expresses mais Ifdimas (no nosso ser). Para 16s tudo nos € mais fécil (falar com um colega nz Nova Zelindia, enviar um documento para um fax montado num antomével algures no Sahara) do que parar, elaborarmos o que somos e expressarmo- -nos. Correm pois maus tempos para a expresso humana. Reduzimos a nossa expressfio ao seu estado mais pobre que erradamente designamos por “expressio mais simples”. Dizer “forga de expresso” tornou-se um real eufemismo dado que as nossas express6es mais vigorosas nfo passam de acidentes passageiros mais motivados pela defesa que pela convicgao. A nossa linguagem verbal padronizou-se ¢ leva-nos a usar repetidamente as palavras e as imagens dos outros, das anedotas, da publicidade, da superficialidade e dos lugares comuns. A linguagem escrita reduziu-se & mais estrita funcionalidade. A epistolografia, os didrios, os “nossos” textos foram remetidos para as inconsciéncias juvenis. A Tinguagem corporal tornou-se uma caricatura, Reduzimos a expressiio do nosso corpo a movimentos vazios de sentido, intiteis, € mesmo com uma elevada dose de masoquismo, Ritwalizamos 0 corpo (fazemos aerébica, karaté, gindstica, corremos obcessivamente mas quase nunca dangamos nunca representamos, afugentamos dos nossos corpos 0 prazer, 0 écio € a aventura). Vestimos 0 nosso corpo de villgaridade e s6 saimos dela para 0 converter num cabide da criatividade dos outros, submetemo-nos A moda e as modas. Aarte convertemo-la numa espécie de voyeurismo, Quanto mais a arte dos chamados artistas contemporaneous se toma mais acutilante ¢ provocat6ria (talvez para nos atingir), mais reforgamos a nossa couraga de cognigio, de relativismo e de indiferenga. Conseguimos assim neutralizd-los através da negligéncia ou do ridiculo. Apreciamos no entanto a escrita, o corpo € a arte dos outros se isso nos puder assegurar que podemos fazé-lo sem nos comprometer e “saltar fora” no momento em que nos apetecer. Jé ae ¥ RBares dizia que hi duas espécies de mtisica — a mtisica pritica (que ele define como a miisica que qualquer pessoa pratica seja amador ou profissional) ea mica ouvida (o prazer do sof). A muisica prética perde todos os dias terreno a favor dos CD. Quantas cescolas de miisica hé em Lisboa. quantas lojas de misica? Fazemos como 0 Chico Buarque: vemos a banda passar mas nfio tocamos. Como dizia Natélia Correia ‘‘jé nfio nos parecemos connosco quando estamos s6s” porque nos amputamos, nos desfiguramos € porque nfo respeitamos tudo o que somos. Corremos atrés de modelos que nos encantam mas que ndo conseguimos cumpric, deixamos aumentar o fosso entre os consumidores ¢ os cultores da expressio artistica ou simplesmente recreativa. Perdemos espontaneidade, controlo sobre a nossa vida e reduzimos a nossa criatividade a nossa expressividade a um conjunto de manias ¢ teimosias a que chamamos eufemisticamente a nossa maneira de ser. Vio maus os tempos para a nossa expressfio. ‘Trocamos a nossa criatividade e expressividade por qué? Para alguns por uma religidio. O sociélogo Max Weber dizia que “a disciplina da religito, implicou a domesticagio do corpo e da domesticagao do corpo se institucionalizou ¢ cristalizou a mtisica”. Para outros, trocamos a nossa criatividade e expressividade em nome de um modelo de desenvolvimento econémico ¢ social (da “produtividade”) que curiosamente nos deveria tornar mais felizes, mais humanos e mais criativos. Para outros ainda, trocamos a nossa criatividade no sentido da assungiio profunda dos nossos pensamentos ¢ dos nossos sentimentos, por um prato de lentilhas isto € por uma negligéncia, por uma pressa sem sentido ¢ pelo encandeamento por um quotidiano que todos os dias anoitece e arrefece. O CORPO E A EXPRESSAO Penso que Max Weber tem razio quando situa na domesticagio do corpo a causa principal para a domesticagdo de toda a criatividade e da expressividade. Controlada a expresso verbal escrita por intimeros index, por inquisig6es, por maldigées, por cfnones, por declarag6es de impiedade; feito este controlo do que se escreve € do que se 18, resta controlar 0 corpo, discipliné-lo, enquadré-lo, envergonhé-lo, escondé-lo, ignoré-lo, castigé-to. Na verdade os zelosos vigilantes da sociedade judaico-crist aperceberam-se rapidamente que 0 controlo do escrito e do verbal nfio € senio uma parte do controlo total. O corpo também pensa, tem os seus valores, as suas prioridades e mesmo calado 0 corpo fala ¢ nem sempre diz o que € coincidente ou conveniente. O corpo tem também a sua expressiio ¢ a sua linguagem como nos dizem Greimas e Kristeva. A linguagem do corpo nfio s6 complementa mas frequentemente aperfeigoa ¢ potencia a expresso verbal. A expressiio através da linguagem oral ¢ escrita usufrui de um estatato privilegiado face a todas as outras formas de expressio: € mais precisa, mais sensfvel, mais dictil, mais objectiva e complexa. Para muitos estudiosos do desenvolvimento humano a linguagem verbal € a capacidade central que distingue ohomem dos animais. Com tanto privilégio e versatilidade a linguagem oral e escrita ofuscou e fez esquecer a importincia da linguagem corporal ou da expressiio no verbal. E deve dizer-se que 0 corpo niio merecia esta subalternizagio, A expresso ndio verbal tem insubstituiveis num proceso de comunicagio completo ¢ complexo. Algumas das caracterfsticas da linguagem nfo verbal situam-se em campos nfo cobertos pela linguagem verbal e aperfeigoam-na sensivelmente. Quatro caracteristicas distinguem estas duas Tinguagens; a) a Precedéncia — O corpo € a primeira linguagem b) a Permanéncia — O corpo fala mesmo quando néio emitimos qualquer som ©) a Expressividade ~ O nosso corpo fala mesmo independentemente do que queremos que ele diga isto do controlo que temos sobre ele 4) a Visibilidade - O corpo evidencia, mostra, 0 nosso comportamento cognitivo, Por exemplo identificagio das etapas dos “ertos” ¢ das suas causas 6 muito mais visivel na aprendizagem ey motora do que num processo cujo “output” seja exclusivamente cognitivo. A anflise da expresso do corpo (posturas, da expressio facial, da cinésia e da proxémia) entendido como o estudo sobre como a pessoa estrutura inconscientemente o seu espago~a distincia en- tre as pessoas na interacgo didria, a organizagdo do espago nas suas casas ¢ edificios e finalmente a organizagiio das cidades onde vivern (Hall, 1995), mostra-nos por exemplo a importancia decisiva que a linguagem pode ter na interacgGo humana (ver Galloway € Kristeva). Podemos assim dizer que o “corpo junta o que as palavras espalham” € que a linguagem da expresso do corpo é uma linguagem frequentemente mais anténtica. Por exemplo quantas vezes as reacgdes psico-somiticas que originam as mais variadas patologias nos alertam para o facto do corpo ter uma autonomia que nio € dependente das palavras ou mesmo da linguagem enquanto forma de racionalizagio. Trabalhos feitos por exemplo com mulheres frigidas ou homens impotentes mostram frequentemente um sofisticado uso da linguagem verbal no que respeita As causas, manifestag6es ou circunstincias da patologia, sofisticagiio que, no entanto ni € suficiente (serd necessSria?) para encontrar respostas para o problema, EXPRESSAO E TERAPIA Na relagdo de ajuda seja ela ao nivel educacional ou ao nivel terapéutico o agente da intervencio guia-se inevitavelmnte pelos sinais do seu aluno ou paciente. O tipo de sinais expressivos ou a sua niio existéncia € a base sob a qual a relagio de ajuda se constr6i edesenvolve. E aqui nao é posstvel ignorara expresso nio verbal (pelo desenho, pela pintura, pela mimica, pela dramatizagio, pela masica mas também pela imobilidade, pela contracco, pela inexpressividade, pelo siléncio). A terapia pode desempenhar varias fungdes, Destas realgaria duas: ) Pode ajudar a pessoa a identificar o problema b) Pode ajudar a pessoa a encontrar alternativas de solugdo 20 Tanto uma como outra so processos extremamente dolorosos € complexos para quem est realmente em situagdes de sofrimento, de desvalorizagio ¢ de desestruturagiio. Por isso 0 professor ou terapeuta tem de abordar a pessoa com a delicadeza de um convidado e com a empatia de um cimplice. Frequentemente a linguagem se mostra insuficiente ou mesmo incapaz, bloqueada para expressar a dor, a separagiio, o insucesso nas suas miiltiplas formas. Outro aspecto critico da relagdo de ajuda refere-se a gestdo da distfincia entre o terapeuta e o cliente, 4 semelhanga de um texto que nléo vernos nem muito longe nem demasiado perto, a relagdo do terapeuta deve ser empdtica mas suficientemente distanciada para Ihe permitir ser flexivel na compreensao da situaglo. A expressiio do terapeuta e do paciente siio as bases sobre as quais esta esti de espago — isto é da empatia e da distanciagio — se vai afinar. Assim a utilizagio de formas de expressiio nio verbal pode ser decisiva a dois niveis. Em primeiro lugar por proporcionar um meio inédito ou pouco habitual de expresso —este ineditismo pode convidar a uma expresstio mais auténtica, mais espontinea ainda que talvez menos organizada das causas ¢ das manifestagdes dos problemas. Em segundo lugar 0 facto das expresses no verbais serem concretas, pressupde a realizagio, pressupbe o projecto de uma tarefa, pressupde um prinofpio, um meio ¢ um fim. Enfim pressupde a visibilidade permitindo dar ao paciente uma base material de anilise, um projecto ¢ uma realizagio. Dé-lhe um objecto criado por si sobre 0 qual pode agir, que pode modificar. Devolve-Ihe a expresso que € 0 mesmo que dizer que lhe devolve uma parte de si préprio. 4, A MUSICA COMO LINGUAGEM NAO-VERBAL Ea mésica? Que contribuigdo poderd ela dar para a reeducagao para a terapia? Apesar de nfo ser musicoterapeuta a tentagio para alinhavar algumas reflexdes € demasiado grande. Comegaria com uma citagZo de Platiio no longinquo — ou talvez no — séc. V antes de Cristo: an F “A misica foi-nos dada por causa da harmonia. E a harmonia, que tem movimentos semelhantes &s revolugdes da nossa alma, foi-nos dada pelas musas ndo como uma ajuda para 0s nossos prazeres irracionais (como agora se cré) mas como uma ajuda para a revolugdo intima da alma, quando esta pesdeu a sua harmonia ¢ para apoiar a restauragZo da sua ordem € a reconciliar consigo propria.” O que se realga neste texto € quea misica é mais que um simples prazer sensorial: 6 entendida uma representagio do nosso psiquismo {que pode apoiar e contribuir para restaurar a sua ordem ¢ a sua harmonia. Ha 2500 anos Platiio conhecia jd as propriedades terapéuticas da miisica. Plato traca aqui um paralelo entre o que é opsiquismo e a miisica. Piaget defendeu que a afectividade € como a energia do sistema cognitivo; uma energia talvez menos organizada que a cognigdo — que se socorre de estruturas Légicas — mas de importincia capital para 0 nosso funcionamento psiquico. ‘Também em grande medida a miisica é um sistema que ainda que organizado carece de sentidos precisos. Esté pois na posigiio ideal para se transmutar, para por a sua organizagao & disposigdo de quem a queira, Isto ja sabiam os politicos (basta que miisicas sio promovidas e também exiladas por diversos sistemas concordantes na misica mas antagénicos napolitica) mas é preciso que os professores eos terapeutas também osaibam e saibam como usar na educagio, na reeducagdo e na terapia este potencial. Na indefinigio semiética da musica reside também curiosamente. 1 sua forga ea sua magia, A midsica oferece uma estrutura muito menos determinada € portanto muito mais compreensivel que a Jinguagem falada. Toda a misica popular europeia nos parece fa- miliar enquanto as numerosas linguas se nos afiguram incompreens(veis... A miisica tem uma mensagem definida quando tem uma letra—a restante é uma mera sugestiio que acolhe a nossa nostal gia, a nossa saudade, a nossa alegria ou os nossos sentimentos épicos. Por isso a misica nos € to perene ¢ tio universal porque nos da espago para pintarmos as nossas imagens, desenharmos os nossos fantasmas € sonhos, para imaginarmos os nossos herdis ‘para arrastar © nosso corpo numa danga. Por isso a misica — a miisica que provém do corpo & semelhanga de toda a expresso ~ teconcilia-nos conosco, ampara € organiza o nosso devaneio, acorda prazeres, sugere 0 que nés fomos e dé-nos a vor ao que queremos ser. E esta a generosidade da misica feita de ndo imposigéo, mas da disponibilidade para ser a nossa voz mais fntima e mais verdadeira, “Solta a mésica que hd em ti” ouvimos dizer quando nos querem convidar a comprar algo. E se soltissemos? E se cantdssemos? E se dangiissemos? E se tocdssemos? E se soltissemos a misica dos outros? BIBLIOGRAFIA Hall, E:T (1963) “A system fo the metaton of proxenic behavior”, American Antropologit 65: (©), 1003-1025. Greimas, Aleta. “Pratiques et Languages Gesuele", Marcel Didier et Larousse, sk Chanan, M. (1994) "Masca Praties”, Verso, London. a JACOB REVIVER A ORACAO ATRAVES DA MUSICA Chava Sekeles OD.IM.T. na reabilitag’io de um cantor com lesio cerebral.

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