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PEDOLOGIA: CONCEITO, METODO E APLICACGES Natureza, objeto e método da Pedologia Etimologicamente, Pedologie & nome erudito construfdo pela adigio de PEDON (lugar ou solo onde se pisa) a LOGOS (discurso ou razio); Pe- don, por sua vez, viria do indoeuropen PED (pé) Assim, Pedologia setia o discurso do solo; hé hoje em dia uma polémica aberta em torno do significa do da palavra: na década de 1920 foi fundada a Sociedade Intemacional de Ciéncin do Solo, 0 que implicitamente guindaria a Pedologia ao status de Citncia. E a discussio ¢ seberse se haveria parale- Jamente a Ciéncia da Agua, a Ciéncia do Ar, jé que é accita a existéncia da Ciéncia da Terra. Evi- dentemente, nio se entrard nessa discussio, mas sim mostranse-é qual @ posigdo do solo (€ de seu estudo) dentre as Ciéncias Naturais, bem como a utilidade de seu estudo, Na introduso a0 curso de Pedologia na ORSTOM (Office de la Recherche Scientifique et Technique d'Outre-Mer, Franca), 0 Professor G. AUBERT fornecia uma definigdo de solo como “a massa de elementos agregados, geralmente friaveis, que encontrase na superficie da parte emersa da crosta terrestre, resultante das agdes da atmosfera ¢ biosfera sobre a litosfera, durante um tempo de terminado. Essa definigio mostra que a Pedologia tem um objeto proprio de estudo, 0 solo, que apresenta ca- racteristicas proprias que o distingue dos outros ele- mentos da natureza. O estudo dessas caracteristicas constitue a parte descritiva ou estética da Pedolo- gia. &) José Pereira de Queiroz Neto (**) Mas, 0 solo adquire essas caracteristicas atra- vés de certas agies. O estudo dessas ages, que envolvem na realidade outros elementos da. paise- ‘gem, indica que um dos objetivos do conhecimento dos solos € a pesquisa dos processos ¢ mecanismos que Ihe deram origem: essa parte constituiria a Pe- dologia dindmica ou evolutiva Essas preliminares permitem situar as linhas gerais do trabalho (e do discurso) pedolégico: 1, Pedologia descritiva: o estudo do soto ini- ciase no campo, pela observaciio das caracteristi cas morfoldgicas proprias (morphe: gr. forma), se- guide das tentativas de medicéo dessas caracteris- ticas (morfomettia), que prosseguem no laboratério através de andlises de virios tipos ¢ modalidades (quimicas, fisicas, biolbgicas, mineral6gicas, etc.) E claro que, de ecordo com a definicio inicial de solo, faz parte ainda da Pedologia descritiva a ob- servagdo ¢ 0 registro dos agentes causais pela sua formagio ¢ evolucio: agentes atmosféricos ¢ biosfé- ricos, sem esquecer a descriglo da situago ou po- sigfo ccupada pelo solo na paisagem ¢ da parte da Iitosfera com a qual se relaciona (tochas © posi topografica dentro do relévo). Uma consequié importante de Podologia descritiva 6 a caracteriza ‘eo dos diversos tipos de solo que ocorrem na pai sagem (de onde advem a nogio de tipo ou facies), bem como a definigio da distribuicdo espacial & do espago ocupado por cada um: € dessa nocio, por (@) — Recebide para publieacio em 20/03/82. (*) — Profesor Titular do Dept? de Geogratia — F.R.LCH. — USP. 96 tanto, que detiva © mapeamento dos solos. Este constitue, em iiltima anélise, a constatagio ¢ 0 in- ventétio dos diferentes tipos de solos (ou facies) existentes mum espaco determinado, 2. Pedologia dindmica (ou evolutiva): @ par tir das caracteristicas morfolgicas, da morfome- tria do solo, adicionada & caracterizaggo dos agen- tes causais, procurase definir os processos © me- canismos responséveis pela sua formagio ¢ evolu- fo. Essa interpretagdo fenomenolégica dos proces sos ¢ mecanismos, muitas vezes chamada de Podo génese, adquire um carater indutivo, pois parte da cobservacdo, estabelece hipéteses, passa pela ex- perimentagao © atinge a generalizacao Vétios aspectos da Pedologia, ultimamente, tem recebido particular atengo dos pesquisadores. Por exemplo, a mineralogia dos soles que represcn- tarla 0 saldo atual dos processos e mecanismos de alteraggo das rochas; a biologia ou microbioiogia dos solos, por ser uma das principais responséveis pela ciclagem dos elementos nutrientes; a micro- morfologia dos solos, estudo efetuado ao microscé- pio, € que procura caracterisar a constituiggo ¢ 0 arranjo dos componentes dos soles, ete. 2. Solo —~ constituinte do bidtopo Os constituintes do bidtopo — solo, égua e ar — sao 0s elementos da litosfera, hidrosfera e at- mosfera. © solo, na realidade, constitue o clemento central dessa relacdo, verdadcira interface entre os tres grandes dominios, com a biosfera. A constata- ¢0 desse fato mostra claramente o ertificiatismo de toda e qualquer separagio dos dominios do co- nhecimento: 0 conhecimento de um € fundamental para 0 conhecimento de outro. Os constituintes fisieos do solo, em volume, so os seguintes: — elementos minerais 45% — matérias orginicas = 5% — fgue 23% —ar = 25% Nesse edleulo nfo entram os organismos vives, por representarem, em volume, uma quantidade muito Pequena. Sua importincia, no entanto, é to gran de que alguns autores conceituam o solo como um meio de cultura onde vivem organismos. A composicio tedrica do solo, exposta acima, ‘mostra claramenic sua posi¢go de interface. Assim, por encontrarse na superficie da parte emersa da ctosta terrestre, conforme a definigao, constituindo- -se numa espécie de limite entre a litosfera, atmos fora, hidtosfera © biosfera, esse limite nfo se faz segundo linhas definidas, mas € representado pe- las interpenetragdes que ocorrem dentro do. solo: este contem elementos de cada um dos dominios, que interagem entre si e sio responsaveis pelos pro- cesc0s © mecdnismos da dinémica pedolégica. © estudo do solo, como componente do bi6- topo, nfo pode ser realizado isoladamente, mas sim como a sede ov 0 local onde ocorrem os processos dindmicos que regem as relagdes entre a litesfera, at- mosfera, hidrosfera biosfera, O ar do solo, ou a pedo-atmosfera, esté em contacto com a atmosfera © dela recebe influéneias, por outro Jado condicio- na a atividade biol6gica do interior do solo (raizes dos vegetsis superiores, macrofauna, microorganis- ‘mos); da mesma forma a égua do solo, que prove em tltima andlise da dgua atmosférica (precipite goes) © constitue o agente das intimeras reag6es (alteracdo dos minetais, trocas de elementos com os seres vivos, ete.) © 0 vefculo de niimeras migra- ges (lixiviagdo, transiocagSes, ete.) que podem atingir os lengSis fredticos, ¢ representa, assim, mais, ‘que a ponte com a hidrosfcra, um componente desta. Por fim, a5 matérias orgénicas sio adicionadas ao solo pela atividade bioldgica, tanto externa a ele como no seu interior; certos elementos da atmos- fera sio fixados por esse provesso (nitrogénio), « manutengo de equiltbrios ¢ ciclos de nutrientes passam pela matéria orginica do solo; esta, ainda, € sede de importantes reagdes que condicionam 0 comportamento do solo. £ talver sua posi¢io na parte superficial da erosta, que faga com que o estudo do solo seja comumente integrado a0 da litosfera, ¢ que the con- fere suas earacterfsticas mais importantes: 0s ele- mentos minerais vepresentam a parcela mais impor- tante da fracdo sélida. [A defini¢éo de solo, aprescatada no infcio, in- dica que cle s6 poderd ocorrer onde exista ativida- de biolégioa. Assim, da parte emersa da crosta, cle 85 vai aparecer onde: — nao haja cobertura permanente de gelo (115% da superficie texcestre); —— haja agua suficiente para manter atividade biolégicas (8,5% de desertos nfo hé ati vidade biol6gica) . © solo ocupa, portanto, cerea de 80% da parte emersa da crosta Ainda por definigao, 0 solo provem das ages da atmosfera e biosfera sobre a litosfera. Essas ages so englobadas conceitualmente no intempe- rismo, que provoca alteragSes no substrato geols- gico, dando origem ao solo, Este herda, assim, eer tas caracteristieas das rochas que lhe dao origem. Como um dos constituintes do biGtopo, © solo condiciona © crescimento vegetal, exercendo pelo menos dois pupeis: funciona como meio de susten- taco fisica, por onde penetram as rafzes que per mite a fixagio das plantes, e como o fomecedor (ou intermedidrio) de elementos essenciais para suas vidas. Um exemplo clissico de experiéneia para a determinago dos principios fundamentais da vida € encontrado no ensaio de VAN HELMONT, rea- lizado na primeira metede do século XVII. Em- pregou um vaso com terra, pesando exatamente 100 kg, ¢ nele plantou um pequeno arbusto; © con- junto foi colocado em condigées que impedissem 7 “contaminag6es” atmosféricas, recebendo dgua de chuva, entio considerada pura. Apés 5 anos, VAN HELMONT pesou cuidadosamente a planta, que apresentou um aumento de peso de 90 kg, © 0 ve so de terra, que mostrava uma diminuigao de apenas 50 2 60 g de peso. Desse ensaio, retirou 0 autor duas conelusies prineipais: 1, a perda de peso do vaso (cerca de 0,05%, despresivel segundo ele), comesponderia a eros experimentais, por exemplo va pe sagem 2. © aumento de peso da planta devewse a agua ¢ ar obsorvidos Enquanto a segunda conclusdo pode ser consi- derada genericamente correta (a maior parte do pe s0 vivo dos vegetais € constitufda por dgua, © a maior parte da matéria sélida provem da assimt- lagi do CO atmosiérico através da fotosfntese), a plimeita € incoreta. Sabese hoje que hé uma quinzena de elementos essenciais para a vide das plantas, dos quais se conhece a funcio, além de alguns outros cujo papel ainda ¢ rezcavelmente obs curo. Esses clementos so fornecidos pelo solo, através de trocas com as rafzes, num processo bas- tante complieado, porém quantitativamente € em re- Jago 20 peso vivo das plantas, em proporyées pe- quenas: corresponde, “grosso modo”, aos 0.05% da experiéncia de VAN HELMONT. ‘A partir de dois exemplos esqueméticos, é possivel mostrar 0 papel exercido pelo solo, no contexto dos elementos do biétopo, como fornece- dor (intermediério ou mesmo regulador) de agua © nutrientes Na figura 1 acha-se esquematizado 0 que pode ser chamado de ciclo hidroldgico na natureza. O equilibrio deve ser total, entre as entradas de égua no sistema, a partir da hidrosfera, © as saidas a partir do escoamento superficial ou drenagem. Se assim nfio fosse, assistiriamos ou a0 absixamento 98, dos oveanos, em caso de déficit, ou sua elevacio, em caso de superavit. © solo constituem elemen- to de extrema importincia, pois recebe @ maior car ga de Sgua das chuvas, & responsivel pelo seu ar mazenamento para fornecimento as plantas (sim- bolisado pela evapotranspiragdo ET) © regula o abastecimento dos leng¥is freéticos que desembo- cam (ou dio origem) aos cursos dégua (drenagem intema do solo D) Na figura 2 foi esquematizado o bslango anual do ciclo biolégico dos nutricntes, com excepgio daqueles retirados diretamente da atmosfera, e sob vvegetacio de floresta tropical. Dos quatro “reser vatérios” de nutrientes, a biomassa reptesentada pe- Ja parte aérea dos vegetsis constitue, incgavelmente, © mais importante. Aqui também & possfvel fazer- se a ressalva de que para mantor a biomassa aérea, € nevessério haver um equilibrio entre os aportes de nutricntes ao solo (N) ea observagdo através das raizes (Ab). Se @ biomassa constitue 0 pricipal reservatério, 0 solo representa um fator importante do processo, j& que cle € 0 ponto de passagem © © fomecedor dos nuttientes que abastecem as plane tas © que serdo exportados pela drenagem interna Esse papel € ressaltado se atentarmos qué a liteira (constituida pelos restos de organismos depositados nna superficie do solo) ¢ as ratzes também so in- tegrantes do solo. 3. 0 solo e 0 homem © solo é um recurso natural utilisado pelo ho- mem. Sob esse aspecto, softe formas de uso con- correntes entre si, que podem ser esquematizadas ‘como segue: Formas de uso concorrentes: meio de produ 0 X espaco 1 — Meio de produgdo de bens: — como elemento do bistopo: solo — seres vivos (vegeiais © animais) — aptopriagio = producio agropecué: ria florestal — como elemento da litosfera: solo = potencial mineral — apropriagio = produgao mineral 2 — Espago para assentamento permanente: — para atividades no produtivas: a. atividades isoladas nfo produtivas @ no’ superpostas: edificagdes, vias de circulagio, ete; b. atividedes agrupadas em superposi- ‘gGes._complexas: — na superficie: edificagses, vias de co municagio, te. — em profundidade: vias de cireulacao (tu: cis, galeries, condutos, etc.); — para atividades produtivas: usinas, fé bricas, com as mesmas caracteristicas cima Como se pereebe, 86 no primeiro nivel da pro- duo de bens o solo entra como elemento do bié- topo, pela apropriagio que € feita para uso agro- -pastorl e floresial. E é s6 nesse nivel, além disso, que © solo assume © papel de recurso renovavel Ou conservével. ‘Sob todos os outros aspectos, « utilizagio (ou © us0) do solo degrada-o irreversivelmente, 0 que acarreta inclusive modificagdes sensiveis © impor. tantes em todo o comportamento © dindmica das paisagens. Continuando na linha de apresentar solo como um elemento do bidtopo, justificese exem- plificar as relagdes entre 0 solo ¢ o homem a par- tir das alividades ligadas & agricultura. (© primcizo embate da agdo do homem dé diretamente sobre a vegetacio original, que 6 des- truida © substituida por novas formas de associ do vegetal ou, pelo menos, 6 modificada; para es- 5a substituigio, o solo passa a ser afetado direta- mente através do trabalho mecdnico (aragles, gra- deagies, semeaduras, etc.). Em conjunto, essas ‘ages afetam a organizacio (estrutura) do solo, com serias repercussdes sobre 0 comportamento hidri- co, modificando as relacoes infiltragao da égua X erosio, isto 6, 0 balango dgua e ar. A destruicéo da coberiura vegetal original, c sua substituigtio por noves formas, modifica completaments 0 balango dos nutrientes; em primeito Iugar, 0 reservatério Biomassa aérea 6 diminuido (is vezes deasticamen te) provocando desarranjo no ciclo dos nutrientes; fem segundo lugar, a dinfmica das novas formas de associagéio vegetal 6 diferente da original, nor ‘imalmente em intensidades muito mais francas. Hi, entdo, uma perda global do potencial de fertilidade. Na figura 5 acham-se representados alguns da- dos sobre solos sob floresta natural ¢ solos cultiva- dos da Amazénia, dados esses contidos em relat6- rios do RADAM. Mostram certas consequéncias do uso da terra: — diminnigao do carbono total (C % ), que 6 empregado para estimar a quantidade de matéria organica; a diminuigéo do teor de matéria orgh provoca modificagSes da estratura (organizagdo) da camada supercifial, com reflexos negntives sobre @ relago infiltragio © escoamento superficial; — diminuisao do valor T, que serve para ava liar a capacidade de retenggo de nutrientes pelo solo; essa diminuicho € consequéncia, sobretudo, da perda de matéria orginica, ¢ mostra que a des- truigo do xevestimento florestal original acarreta uma piora nas condigics de abastecimento de nu- taientes as plantas; 99 — dimimuigio do valor S, que avalia a quan- tidade atual de nutrientes dispontveis, ainda conse- quéncia da perda de matéria orginica, porém aqui adicionada da perda acarretada pela exportaggo de produios agricolas ou pecusrios, pelo aumento da drenagem interna (lixiviago) € do escoamento st- perficial (erosio). © quadro 1, construfdo @ partir de dados ex: perimentais obtidos no Instituto Agronémico, mos- tra os efeitos do manejo sobre a estrutura do solo (organizacio) ¢ algumas relagdes com 0 comporta- mento das plantas: — ha uma nitida degradagdo da estrutura com © aumento da intensidade de manejo, manifestada pela diminuigao do trabalho médio dos agregados ¢, principalmente, pela diminuigdo da estabilidade n’égua; isso indica, por exemplo, que hf uma ten- dencia & diminuigio do tamanho de agregados, 50- bretudo na estacio chuvosa, com consequéncias di- elas sobre 0 abastecimento de égua as plantas — 0 milho cultivado em vasos contendo agre- gados de diferentes tamanhos, indica variagSes de comportamento, relacionados as condigdes fisicas imperantes: 1. abastecimento em agua — no inicio da ex- perincia, os agregados maiores mostraram-se mais favordveis, igualando-se a partir do 20° dia; além disso, 0 vaso 2-1 mm apresentou problemas de dre nagem, que manifestouse cleramente como um ex cesso de dgua prejudicial a partir do 34° dia; com exeepgio dos primeiros dias, © até 0 45° dia, os agregedos menores propiciaram melhor abasteci- mento; isso permitin maior desenvolvimento da pat- te aérea até o final da experiéncias 2. penetragdo de raizes © formacao do sistema radicular: os agregados menores mostraram-se me- nos favoriveis, indicando constituir um meio mais compacto que dificultou 0 crescimento das raizess (os agregados médios foram os mais favordveis ¢ os 100 maiores, inclusive, sinda mostravar evolugéo da parte aérea até o final da experiéneia, ao contrétio dos outros. N&o foi possivel levar essa experiéncia alé 0 final previsto, devido ao surgimento de problemas durante sua execucéo (inclusive 0 assinalado para © vaso 2-1 mma), porém ela indica que quanto mais pulverisado © solo, menos favordveis serio as con- digdes de crescimento vegetal Finalmente, 0 quadro 4, também construido com dados experimentais do Instituto Agronémico, mostra que © aumento da intensidade de manejo do solo, combinado & diminuigéo da densidade da parte aérea da vegetagdo, provoca um aumento con siderével do escoamento superficial e das perdas de terra por erosio. 4. Consideracées finais A guisa de conclusio, qual scria a moral da hhist6ria? Para que serve 2 Pedologia? Apenas a partir dos aspectos apresentados, & possivel ressaltar a importincia do conhecimento correto do solo, para que se possa pensar em for- mas de manejo adequadas. Esse conhecimento, de acordo com a metodologia empregada pela Pedo- logia, tem seu inicio nas observagdes de campo, na mensuragdo das caracterfsticas observadas (tanto no campo como no laboratério), no estudo paralelo dos outros elementos do bi6topo e do ecstopo, cons- tituindo a Pedologia descritiva. A. Pedologia dinimica, ainda a partir dos exemplos apresentados, procura interpretar 0s pro cessos © mecinismos, passando pela experimentacao. Esta no s6 serve de teste para comprovar hipdte- ses, como comstitue a base para as generalizag6es Ja ha uma quentidade significativa de estudos © pesquisas, no mundo todo e no Brasil, a respeito do comportamento din&mico dos solos e das conse- quéncias acarretadas pelo seu uso. No entanto, sio finda muito restritos os estudos ¢ pesquisas sobre (8 aspectos cconémicos (¢ sobretudo sociais) das degradagdes causades pelos diferentes tipos de ma nejo. Apesar disso, € possfvel estabelecer o seguinte quadro hipotético, a partir do que se conhece: 1.Agricultura tradicional — detiniéa comu- mente como de baixa (2) produtividade, com as se- guintes caracteristicas: — tipo genérico de manejo: fogo — pequenas parcelas — policultura ¢ ou rotagio de cultura — pousio © ou adubacio orgtuiea = menor inc déncia de crosio, menor perda de nutrientes, menor modificagéo das caracteristicas do solo; — energia empregada: fontes locais devido 20 emprego de instrumentos simples; © pequeno tra balho meefinico do sok — baixa incidéncia de inimigos (pragas e mo- Iéstias) — auséneia ou baixa intensidade de em prego de agrotéxicos. 2. Agricultura moderna — definida como de elevada (?) produtividade, com as seguintes carac- teristi — tipo genérico de manejo: sementes selecio- nadas — grandes parcelas — monocultura — cul- tura continua — adubaco mineral (quimica) — trabalho mecfnico intenso = maior incidéncia da eroséo, maior perda de nutrientes e maiores modifi- cages das caracterfsticas do solos — energia empregada: fontes externas (ener sis importada) necessérias para movimentar as mé- quinas © 0s equipamentos complexos; — elevada incidéncia de inimigos (pragas e moléstias) devido & enorme concentragio de hospe deiros e fontes de alimento = intensa aplicagio de agrot6xicos. Esse quadso hipotético mostra, de forma bas- tante clara, as Tinhas de pesquisa que devem ser asseguradas, no sentido de procurar as altemativas para a solugfo de problemas relacionados com 0 uso do solo. 101 ‘Tratase de assunto que esté na ordem do dia, dentro da classe agronémica, originando polémica da mais alta importincia e da qual, com certeza, sairfo resultados que norteario, no futuro, as 1& nnicas de manejo do solo. Quatro 1 Infludneia de diversos tipos de uso do solo (Podzblico Vermelho Amarslo Orlo) sobre © tamanho © a cstabili= dade de agregados — Fstagio Experimental de Monte ‘Alegre do Sul (adaptado de Queiroz Neto © Croimann, 1966) ‘Tipos de uso Agregado —stabilidede n'igua mdio = 2mm 2 am mm % % Ecalipto 225 873 27 Pomar 235 81,6 186 Miho 228 316 A Quadro 2 Influéncia do tamanho de agresados no crestimento da parte aérea © sistema radicular do milo — Estagio Experimental de Monte Alegre do Sul. Podzdlico Vermelbo Amarelo Oro (adaptado de Crohmann e Queitos Neto, 1966). Tamanho Peso da Desenvolvi- dos 229 dia. 459 din 709 dia parte afrea_mento/raizes agrepados ca 4 as 2 7 z médio muito a us 45 50 8 25 grande 2 B 0 7 45 1 srande 1 9 8 6 65 4 -pequeno Quadro 3 Valores médios de erosio e escoamento superficial para diferentes tipos de cobertura vegetal do FstaJo de Sio Paulo, para uma precipitagio anual calculada de 1.300 ‘mm (organizado a partir de dados de Marques, Bertosi fe Barreto, 1961) Coberturas vegeta Perdas Coeficiente de de terra escoamento Tiha/ano —% das chuvas Floresta 0,008 on Pastagem 04 or café og ai Batata doce, milo, filfo 5-10 235 Milho, cana, soja, batata 10-20 598 Algodio, arroz, amendoim 20-30 7515 smandioes, feigo 30-40 104s BIBLIOGRAFIA AUBERT, G, ¢ BOULAINE, J. (1967) — La Pédolosie, Paris, Presses Universitaire de France, Col. “Que Sais-Te” mn. 352, 126 p. BUCKMAN, H.O. ¢ BRADY, M.C. (1968) — Natureza © propriedades do solo. Livrarie Freitas Bastos S.A. GROBMANN, F. ¢ QUEIROZ NETO, J.P. 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