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Dirigindo-se a artistas iniciantes experientes, ele questiona Quer fazer aquele tipo de que os letores se lembram? O tipo de histéria em que eles continuardo pensando por horas ou mesmo dias depois de terem ldo? Voce quer criar quacrinhos que puxem o lito para o mundo da historia? Uma experiéncia de leitura t30 absoluta que no pareca que voce Ié, mas sim ‘que esté 14? (McCLOUD, 2008, p.1) (Grifos do autor) Suas questdes lembram as preocupagées lobatianas, que serao dis- cutidas adiante, quando 0 escritor de Taubaté confidencia a um amigo o de- sejo de escrever livros em que as criangas morassem. Todo artista deseja que sua arte tenha admiradores. No mercado cultural que se senvolveu nd mundo ocidental desde o século XIX, todo artista quer que sua arte seja comprada e que muitos 0 fagam (Os quadrinhes sao arte, no uma arte de recepedo contemplativa, mas uma arte intimamente ligada a sociedade capitalista que Ihe deu origem. Uma ios (2001), Canelini propée que consumir determinados bens simbélicos implica a construgao de uma rede de pertencimento geradora de processos identitarios especificos. Os jovens estdo delimitando seus territérios, a partir das identidades simbélicas que engendram para si, das relacdes sociais que estabelecem. No mundo jovem e no mundo adulto de agora, 0 consumo é uma pratica cultural, que viabiliza essa delimitacao, por identificacdo entre consumidores e objetos consumidos. arte para ter consumidores. Em Consumidores e ci la A arte, em cujo escopo insiro, claro, a literatura e os quadrinhos (e a literatura em quadrinhos!), é necessaria ao homem, tanto quanto a comi- da (lembrem-se da musica ‘Comida"), como bem de consumo imediato constante, e que deve ser acessivel a todos. Mas a literatura classica, a obra machadiana, por exemplo, poderia, na forma original, suprir essa fome con- temporanea? 2 “Agante no quer s6 comidal A gente quer eomidal Divers8o e ate... misica “Comida’, do {grupo Teas, composta em 1987 pelo poeta Armaldo Antunes. 166 RICIA KATIA DA COSTA PINA— Pai pelos Tita: culo XVIII somente e gosto e co dono mer piiblico att apés a che Os mercado da literatur inexistente leitorado d ressado ni poderiam « para comp Nas te, a litera E da déce literario, q eletranicos Nes a caréncia papel, pod pode ser c sob a tradi Os mentérios, ligadas da mente ace como educ rede de co i SOHNIGWATD Wa VuNUVYaLTT (erty ‘6661 ‘OTSW) “eis Buin no o4no}98e un ap eidoD eajoUs ‘uy wn ‘co5p un ap opdinne e eyaut apes ep ewesBoud wn “ung wn 9p em © ejnuniso ogsinoqsi ap opeuss wn ‘ua in © znpuo> feu! ap eioou Bun [~] euisoui 15 & eyuaUllie snb owNsuCD ap apad euin aoajaqeise anb o ‘sejaueuied 2 Sonje|od ‘sieuuoyul Sezopeonpe OUIOD opuente ‘sosouewinu sleui Zan eped sleloos sojuewiBas © siansseoe aUeW -z|dwee ogs sojnpoid sess3 ‘oueuiBeum @ je21 Weyoauos jaw ep sepebi, ~soqul seuiBed se owoo Weg ‘AY. ep Sagdenje siewiap se 2 smoys ‘SoUPIUaU! -noop ‘sopeuas So ‘olpes ap SeuieiBoud so ‘sauu|y $0 “soyuUpeNd SO ‘OH OP SAQSIaA wa JaNb ‘OJAI ap eUO} JeUOIDIPER e Gos Janb ‘seysinas ap seoueg seu sleuoisoWicld segsien We epesduios 48s epod no ‘s0}x9) soxjno eued syuy WOD ‘opejndwoo op e[=} eu Epil 188 apod ‘jaded op esivaid eu afoy esnjeroy! e :,epiwiog, eoisnul eu epeyuode e1ougied & UL aS anb 9 eISILUNSUOD 9 od!69|oUDa} ‘CONEIpI OsienIUN BssEN, ‘18 Syoog-2 ‘saLe|njed ‘JoU/a}U) ‘SCIUOH|E|® so6o/ woo sesopiuinsucs sop ogduaye e Jejndsip e nodauico anb “oueJ=| ossaidui! 0 eved as-nosijdwios oesenys @ ‘e10Be 912 066) ep epeoep ep 3 ‘sol0p|uinsuoo snas AJ eB WiOd seINdsIp e |ISeIG OU NoSewOD esNzesOy!| E ‘=} -uawiepewxoide 'g9 e1ed 0961 @P ‘XX 01N99s Op Sepedgp SELUNIN SEN e}-eiduioo exed No) e}-9] e1ed oso190 oduia} ap sodsip wetiapod ‘onb sajanbe exed ojueullusjarlue oWod see siewep 2 esnjessy| EU opessel -2U! 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Os rizomas se estabelecem na produgao € no con- sumo de bens culturais hoje. E isso afeta diferenciados segmentos socials, Dessa forma, a leitura se respalda em comportamentos culturais e padres de gosto socialmente legitimados. "Voce tem sede de que?/Vocé tem fome de que’ Antunes e 0 grupo mu sical do qual foi vocalista provocaram os adolescentes e jovens adultos da época com esses versos que chegam em boa hora para a reflexéo que venho propon- do. De que nossas criangas e jovens tém sede e fome? Dos classicos literarios, que traduzem uma distingdo social de matiz burgués, cujo trabalho escolar atribui ‘aos educandos uma posi¢ao de necesséria ‘vidéncia’, para aleancarem 0 misté- rio daquilo que o autor quis dizer e que o professor precisa ouvir? Nem as distantes autoridades educacionais filiadas 20 Governo Federal acreditam nisso. A tradigdo artistica, literaria, cultural deve ser passada para as. novas geragées, é claro. E nossos jovens tém, sim, fome e sede de lazer pro- dutivo e conhecimento prazeroso. Mas como escapar as armadilhas coercitivas do Curriculo, da Escola? A arte dos quadrinhos é uma interessante alternativa. No entanto, Waldomiro Vergueiro alerta: 0 uso das HQ depende de uma mediagao eficiente. Os professores, principais mediadores, precisam ser instrumentalizados para que conhegam a linguagem quadrinistica e as de- mais linguagens com as quais lidamos hoje, para que possam trabalhar suas especificidades em sala de aula: (Os quadrinhos néo podem ser vistos como uma espécie de panacéia que aten- de a todo e qualquer objetivo educacional, como se eles possuissem alguma ca- racteristica magica capaz de transformar pedra em ouro. Pelo contrario, deve-se buscar a integragae des quadrinhos a outras produces das indistrias editorial, televisiva, radiofénica, cinematografica etc., tratando todos como formas cam plementares e no camo inimigas ou adversarias na atengao dos estudantes. (VERGUEIRO, 2009, p.27) O interessante € que o professor possa abordar diferentes linguagens no processo de formaco do estudante como leitor, dissolvendo a hierarqui- zago tradicional, que confere ao literério lugar de destaque, numa perspec- tiva de preservacdo de leituras canénicas, absolutamente desinteressantes para as criangas e os jovens hoje. Diégenes Buenos Aires de Carvalho dis- cute o fato de a Escola homogeneizar 0 conhecimento literario, tendo coma PATRICIA KATIA DA COSTA PINA— param como salad ensinc pode pais, « titima: phic n José res, pi XX, at que d merce goes: produ invest binary quer} que n do pe literar mater algun’ © pot semp tage i SOHNTUCYTD Wa Vunuv¥aLrt— SEpaJ8A Se 101!9| weno! 2 oUsnbad oe JelouNUe ep jaded o wisduino segdey -depe sessep seynui ‘spepljeuluo eu e epepiyelio eu wispied seje cidwas weu @ osueul 9 odeidepe ep sody sassap jelous ogd.esul ep jelouaod © ‘coIpouied op Jopeiduios 0 e1ed ,epulq, ap aisedse euin oes 'sezen sewinbje @ jewiol ap seoueg we sepesucoue Jas wapod ‘JanjwinsuoD slew 9 jeLeyeU! © ‘Nous oysna wn We) sagdipe Se ‘sosed o1ls0/8} oU 8 oMaWLId ON, (eo1uow ep euuny @ Aeusiq sozjssef) seaissejo Seues2y| sueBeuosied Jenin exed ‘o\dwaxe Jod ‘sepeiBesuoo squeyut sueBeuosied op -uesn ‘sooiGgjopesiew 2 sooioBepad ‘soonsiye sassazoju! so wesnysiul and Se ‘wi Jod "gy ‘sei09 sejad ‘o5es) ojad Jenb ‘soyed sep ojveuIAoW ojed Janb ‘opaiue ou opuliepeyu! ‘eseq-o}xo} Op wWesseisyul say) anb soyed se WeUIq -uioo 2 weuolsejas © seiopeidepe sop epepineuo eu ejuewesuetul Wersenu 2] 0 wiaznpod -a1 siod ‘ayuoy-elgo e JImysqns ,wapod, ‘e|Usweonepip ‘nb sejenbe :se05 -eqdepe ap sody sexy ejueweoiseq eH “SeUuO) Sequarayip qos sfoy opesieu! anb se ey ‘jeul6uio ogSnpaid eu warayra\u! oonod @ yeuBiaqu ou wesuooue as se/3 “seLEJeW segdeidepe sep ednoo as ouny 2183, ‘ogSeBinwp ap ossacoid nas 2 sagSeai|gnd sens woo siGune welesep enb SalOplwNSUCD So Saju OpUEDO|e ‘ONG ap sOYDIU WsOMISUOD SeIONDS Se XK o]na9s op Jeu o apsap ‘seaIUIQUODe No SeuEMUAp! ‘seonJod sagisenb Jod ‘sed -0113] 2p soayjoedse sodrufi e es-weIBulp soajpoued so opuenb ‘eously ap esor 9 SISSW @p OpeyDe Op SoU SOU CWOD “}XX OINDES Op edUEWLIO! 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No segundo caso, as edig6es sao desiumbrantes. Desde a capa, pas- sando pela escolha do papel, pela paleta de cores, pela liberdade criadora dos adaptadores, os selos editoriais que mais investem na literatura em qua- drinhos deixam os olhos do consumidor em festa. O problema é que essas edigdes esgotam rapidamente e so caras, comparadas as descritas acima. Os autores oitocentistas, que formam o canone literario brasileiro, so aqueles cujas obras apresentam mais adaptagées. E a questo colocada aci- ma: 0 leitor de hoje tem as habilidades necessérias para a leitura necessa- riamente intima e solitaria de Iracema, de Alencar, ou de “A Cartomante”, de Machado de Assis? O leitor contemporaneo lé com os protocolos de leitura do ambiente virtual ou midiatico. A arte dos quadrinhos tem uma linguagem bem mais proxima desse leitor do que a arte literaria. Assim, a quadrinizag&o desses cléssicos, ndo s6 oitocentistas, mas novecentistas também, pode aproximé-los do novo publi- G0. Mas é importante ressaltar: nem os quadrinhos substituem a obra-fonte, nem precisam copié-la totalmente, nem sao um mero degrau para chegar a ela. Aliteratura é uma arte, a literatura em quadrinhos é outra arte. As imagens abaixo representam bastante bem 0 carater artistico da linguagem quadrinistica e o proceso de reinvencdo proprio das adaptagées, co qual Ihes confere, sim, natureza artistica independente: =N | Se (FEVEREIRO; SPERL; SPERL, 2006 p.11) 0 PATRICIA KATIA DA COSTA PINA= As conto ma arte final Quadrinh sabe que € se apai ele, emp mente, cc At tana fore € envolvé contada ¢ pela TV,1 imagem j ot parte inici nas suge gulares d: (p.12)~i realgande Camilo. A casado a: cial signifi sop eorjgGew! ogduariayut ess3 “ogdies) ep elep! @ opersosse onleoytuBis [2/0 -uajod win soy] 0 e1ed 19jSUOD ‘a}UO}-219O & SeyUeUALAd seine|ed se OpeseD ‘anb 0 ‘Jesate| 9 OWED ap 0 ‘jeIUON) 2 Ile Bp 4eYJo 0 anb 9 eduaueyp y ‘O}WED loo 211090 owsewi 0 ‘soyjo snas sjuatujediouud ‘eyy ep OISo1 o opued|eas ‘aylelep oueld wa sepinqsucs weloj sejayuIA se ‘awitKD o WenuIsU! ~ (Z4"d) owed equaseudas anb e 9 (11"d) ex equeseudas anb e — eprenbse ep sexein6 -ueja1 sejayuin senp se ‘ouRsepueP JoWe op ceSeuNSyuco eN ‘opuabns seu -ade ‘epure opeinByuoo ayuawiejexe lo} Ogu OLa\INPE o ‘awiNjon op je!oIU eyed eu ogise Sepedeisep SeJeYUIA Se :210}/3] EYLIW 2 40}!9] New ‘WentesqQ c2jee} esse suduino seun{ weGew © 9 e1nejed & WeHepod “J0W!e] Op epepisolund e ‘9s |s sod ‘enowi BU ‘AL lad ‘ewiaul ojad ‘onjea} ojad “esnexay| efad "e10Je sojndas epejuoda1 @ epe|uoD Og} ‘esoiowe oBdIeN © 'IXX olNags OUaId We sey “ewe! 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A relacdo palavra-imagem se torna, nesse contexto, poderosa Nos dois quadros, 0 close faz do leitor um cumplice, revela a vida interior das per- sonagens e indicia o ponto de vista dos artistas que procedem a quadrinizagao. ‘Alem disso, a perfeicao das linhas que definem os limites das vinhetas dao verossimilhanga ao narrado, colocando o leitor numa posicao privilegiada de observador que conhece e domina a trama, tanto quanto os adaptadores {Jas linhas que demarcam o contomo das imagens, formando os quadtinhos, também possuem funeao informativa. Linhas continuas, solidas, envolvendo as imagens, indicam que a aco retratada ocorre num momento real, presente verossimil, portanto. (VERGUEIRO, 2009b, p38) Esse recurso artistico usado pelos quadrinistas reforga a cumplicidade com 0 Ieitor e 0 “conquista” para o mundo do impresso. Guiado pelo olhar de fora que prende a aco nessas linhas da “verdade’, o leitor jovem ganha seguranga no percurso da leitura Paulo Ramos, em epigrafe que encima o capitulo terceiro deste li- vro, define a peculiaridade e relevancia da linguagem hibrida dos quadrinhos, para hes dar o lugar de arte na contemporaneidade. A intimidade entre verbal e ndo-verbal caracteriza a linguagem dos quacrinhos e Ihe confere grande potencial no processo de formagao do gosto pela leitura e criagao de habili- dades milltiplas para ler. No espaco simbdlico das artes, as hierarquizagées valorativas aca- baram por privilegiar umas linguagens em detrimento de outras, isso numa perspectiva tradicional. Dessa forma, durante cerca de um século, no reino do impresso imperava a palavra literaria como Arte. Imagem era algo menor. HQ (Histéria em Quadrinhos), entdo, nem arte era Nos titimos anos, mais precisamente nas duas tilimas décadas, os PCN e o PNBE transformaram a HQ em instrumento politico oficial de forma- 0 de leitores (VERGUEIRO, 2009a, p.11-12), atribuindo-the valor pedagégico @ artistico. A LDB de 20 de dezembro de 1996 pede que 0 trabalho dos pro- fessores de diferentes disciplinas em sala de aula inclua linguagens variadas. Isso indicia que as autoridades educacionais brasileiras incorporaram a suas agées a compreensdo de que cada arte tem uma linguagem propria jo maiores ou e que essas linguagens podem ter pontos comuns, mas n&o wn paTRICIA K (OSTA PINA— me ma ten est ron tive Se (ig'd ‘e002 ‘mazzvno) jeuoisoesiaqul anbiod "esuap webenduy ewin woo sepi| ap sesade ‘coyjgnd o wios opSejad B eziIgelA anb o ‘e/ougel a1 ap sieuayew aiqos eyjeqen ejsiuupenb' © “eeugiodwiajuco esoinoejedsa epepainos @ sjuowieonuo epuodsel OH © *eoneUUoyed weBenBury ‘stesnyjno seoijeid sepepquep! opuejuaseides 2 opunsjsucs ‘soyeoues wiso3|9qese juajnasip 2 ogiuido wieud ‘seioya] wewu0y SoyuUpeNb so Seperep EH (we'd ‘e602 ‘OISNOWAN) oxdeIndod ep sepewed se sepoq 8uNe ered soyuupend ula seuotsiy Sep [e;aUa}od 0 eDUapIND OSS) pny, “sIeID/aWOD Soinpo.d ap apepioyand no oeSebjinaip op suy woo owed ‘oveUTURy=.IUe Bp "OL “Goweulan » ogseonpe ap sepepieuy wo eles “seuewny s=pepine No SexDy—s “Setuarojp s10t sou souunpenb sop wieGen6ul| ep opSezIIn ap sojduiaxe ZemUCD “tia jpaissod 9 opunw op sasjed $0 Sopo} aqeuieojeid we and J8z1p o8-2p0d sojuawedinbe sesn e ‘exiang apues9 epunbas, e ayueinp ‘sopepjos soe seulsua e1ed ‘ojduwiaxa 10d ‘sopesn opis opusy ‘sent -eonpe saodeaiide wesenn soyuupenb so “apnwusnn{ e e eluejUl e wosedwos -409 9p sun6je Jod sopeuepuoa 2 sopesnde anb epure "eILlewIEDUOISIH sole|oose salaqes sosienip Sop dues e WeLEISe ‘soyuupenb so anb ap ogddaoued e exed equode ‘ope| cuino Jog “waugioduisy -uoo apepijerpiuunjnu ep ema] e e1ed Sopeyligey ‘SCoN}O Seuoy!e] ap OBE 90} opuapod ‘Is anus seiouewy +10) © Bed ‘ejuauMe|UaWie|dUtod ‘INgUIL no sauolew eudoud wa) wese1odioz sepeuen < -oid sop ot co|B9Bepec -PULIO} 8P | so ‘'sepes: oust 06} outal ou * euinu oss: -e0e ~yaeu ep apuel6 2 jequan 241 ‘soyuupe | aI89P. eyued Wi seyjo 013° apepioiid se opuone ‘SouUUpe seiopex. epeibair seeuuin vopdezu fed sep ‘esosepc -osse ay -2qU 0st seysiu Na adaptagao de O pagador de promessas, de Dias Gomes, Eloar Guazzelli estabelece uma intersecedo visual entre a situacao de Zé-do-Burro ea de Jesus Cristo: na pega do dramaturgo baiano, ha constantes sugestées, dadas pelo Padre e por outras personagens, no sentido de que o camponés estaria tentando igualar-se a Cristo num processo de dupla heresia, pois se ligou simultaneamente ao Catolicismo e ao Candomblé. O adaptador utilizou- -se da natureza performatica da linguagem quadrinistica — as vinhetas que la- deiam o quadro central, onde vem representado 0 desalento de Zé-do-Burro, se assemelham aos quadros representativos da Via Sacra, que ornamentam as paredes de muitas Igrejas. Ao fundo da vinheta central, surgem pequenas imagens do sofrimento de Cristo. As cores, tons de roxo, preto € cinza, re- metem as cores usadas pela Igreja Catdlica no periodo em que se “revive” a perseguigao e morte de Cristo. Guazzelli estabelece uma relacao visual com a Historia Sacra, exatamente com a parte dessa historia que é de dominio pliblico, agenciando os saberes dos leitores de hoje, a partir de materiais de referéncia ressignificados. A obra-fonte nao foi reproduzida nessa adaptagao, foi relida, reinventada. Quando as autoridades educacionais brasileiras inseriram os quadri- nhos nos PCN e no PNBE, promoveram um aquecimento do mercado edito- rial, que investiu em peso em selos e colegdes de HQ, tanto no Ambito das adaptacées literarias, como no das quadrinizagées de contetides historicos, culturais, cientificos. E preciso repetir q\ e mesmo sendo uma visada positiva, 0 interesse oficial pelos quadrinhos sempre o colocam a servico de... A servi- 0 da literatura, da producdo de textos, da histéria, das ciéncias ete. Acresce que esse repentino aumento da oferta de quadrinhos pode banalizar seu potencial artistico e educativo. Mais uma vez, caberé ao profes- sor conhecer sua linguagem e avaliar a pertinéncia dos volumes que chegam s estantes das livrarias fisicas e virtuais aos borbotées, ‘A preocupacdo governamental com as competéncias leitoras de nos- sos estudantes responde, na verdade, @ uma inguietagao que veio dominan- do os docentes e pesquisadores desde que houve uma percepedo de que pouces tinham acesso aos bens culturais impressos, e deles usufruiam, muitos permaneciam excluidos dessa relacao de consumo e prazer. Tal cons- tatacdo acarretou outra: por conta dessa alienago cultural, o pais ndo tinha massa critica capaz de reagir coletivamente a acdes autoritarias e coercitivas ua PATRICIA KATIA DA COSTA PINA dos ¢ escol tra-es finda geste mistu mos, nhos epienbsa @ e18¢ eyaup op ey 198 anap esnyo}v‘sieqUEUO SoyULpend “s~DUEW Sop OSE ON aquaiged 0 eJeu! anb culouwiayus op eUO}SiY Vy ‘TeuoIoeoNpy e[e9S3 ep ‘SoU pend we eula|iseig eunjesyr, au9s e ered ‘(109) senSupoy opuewey © (soyuasap 2 o1jayos) eyse|iA oosoues4 sod e1194 ‘sissy ep opeyDeW ep ‘01 -Jeuliajuz ©, o1U09 Op oESe;depe Ep Eperiodai 10} ewioe WeBeEW Y (124 'pps ‘sanoriaoy ‘HON ‘9]@ CJUawesuad WeoIpul Sepeyjuad seyUI| Jod waBINs anb so ‘soyUoS weoyluBis WanNU ap BUC) Wa sag[eq So ‘o|dWexe Jod ‘sieloadse sopeoyIU bis wiazeny soysiqes snes © segjeq so enb wegles anb ‘wigquie} ‘ouesseoau 3 “eANeueU Wepso & 9 esse ‘oxieg ered eWiID ep “eyouIp e eed epsonbse ep {SIeIUAPIN OH SEP 0SeD OU ‘sep 19s Wanep (Soupenb)seIsYUIA se anb Jeqes westoaid $913 “weal anb o woo sBeseqUl Jepod esed sieuoype @ sies;ne sei -g1enS@ Se JeUIWIOp Westoeid OH ep SaioYa| Souenbad so ‘epepseA EN jenBiuy senno sejue) 9 01180) 0 ‘ewAUID @ wIED wequie} ey owi09 WISSy “equoWa|UapIN9 “eunye19y @ wOD suNUOD So}UOd SOHN BH -sonteneu sojueuia[s so s2yuasaidas e1ed soudoid sowsiuesaui esn anb ‘ew “ougine weBenGuy ewn ap WEZO6 ‘sIe} owloo "3 ‘soyUUpend ops soyUUpeND ‘soyuupenb sop esnyay y wie ‘sou -24 ojNed EULIYe OOD “ELEJSW| e OWOD ‘see SeNINO Ep SOWeWE!9 EUMISI anb “epuqiy ‘eudoud weBenSu ewin we} soyuupend so ‘aye oWiog 1d sasejoase sauoysa6 slewep 2 salossajoid so ayuawennepelB ‘ogseziaqesle ap osse0cid o epuy ‘anb epsep ‘euoje6uuqo apepuejoose ep sags se Sepo} WA “219 ejoDse-e -xe eunyia] ep apepauioyeBuigo ep ‘ojnaysiN9 Ou esny!a) ep OF ogdeonpe ep owo) we euI6 solew oededno: osseidu 0 2 eSUELO e anus ojUAWEysEje Wn Ww Jesu! ep ‘sejoose de ‘sje18 sowie wa SIENpwpul SoYaLIp Sop seAnic yun suo 2 ‘we anb 2 -ueult -sou € weBe -s9j01 apod -yues Ans ‘soouc sep 0 -oupe ~upenl ‘oedey ap sie owwjuuc woo |e e ony sae seuen eqs ‘oung -p| ant -noziy as sjox ‘sguod ‘sais: oung- Je0}3 2 patrdo, como reagio aos abusos sofridos, 6 recontada com fidelidade a0 texto original, mas, pelo efeito dos tragos e dos baldes, bem como das cores escolhidas, o terror é intensificado para o leitor, o que transforma o original & 9 mostra como produto de uma interago entre ele e os adaptadores. Os leitores de quadrinhos devem entender a importancia das cores, até mesmo se o volume lido estiver em preto-e-branco. O rosto das perso- agens, com suas marcas de emocao, indicadas pelas sobrancelhas € pela boca, é fundamental para a interagao com a obra. Portanto, mesmo que se di- rijam a criangas, os quadrinhos trazem uma complexidade que ndo minimiza a competéncia de seu piblico, antes a ampliicam e desenvolver, por conta dos variados estimulos e desafios que propéem. PATRICIA KATIA DA COSTA TINA

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