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BIBLIOTECA DE FILOSOFIA E HISTORIA DAS CIENCIAS. MICHEL FOUCAULT Vola? IS HISTORIA Conlenaone: DA SEXUALIDADE, 1 Gullhon de Albuguergue 2 © Raierts shade O USO DOS PRAZERES Tradugio de Maria Thereza da Costa Albuquerque Revisio Técnica de José Augusto Guilhon Albuquerque 87 Edigao graal —_ © fans Galina 1988 Copa Feranda Goes Resid: Henige Taapolky Produ grfies Orinda Ferns (CPL-Bia. Casogste-mfoie Sintizto Navona ds Ears de Lis, oven Miche 1926-1984 8th Hit da emalide 20 wo ds prazetesMicha Foucal, tao de Maria Theres dn Costa Abogerge rvs. tia de Jost Angst Gaion Abate is de asi: Es Gra, 1984 (ote de Flown ein ds Cais, v.15) “Tint de: Hstie del sexili 2: Pug de pair ibiversfia 1, Seraldade —Histra 2 Secuslidade — Teoria Tita, © Uso dos pacers I Sse epps01.4179 0668 30181701 Dinos gun pla EDIGOES GRAAL Lda ‘ua Hennenegid de Bars, 31-8 Gli, de eo, RS ‘CEP. 20241 Ta @n2sam que se reserve propia desta tad. 1998 Inpro mal) Pitd Bra SUMARIO INTRODUCAO 7 1. Modificacdes 9 2. As formas de problematizaglo 17 3. Moral pritica dest 26 1 ~ A PROBLEMATIZACAO MORAL DOS PRAZERES 31 Aphrodisia 38 2 Cheste $1 3 Entrateia 60 4 Liverdade e verdade 73 DIETETICA 87 Do regime em geval 91 ‘A dicta dos praveres 100, Riscose pengos 107 Orato, 0 dinpéngio, a morte 114 0 t 2 3 ECONOMICA 127 1A sabedoria do casamento 129 2 Acasa de Isbmaco 137 53. Teds poltcas da temperanca - 149 WV = EROTICA 165, Uma relagio problemitiea 167 2 A'honra de um rapaz 181 5. 0 objeto do praset 190 ¥ — 0 VERDADEIRO AMOR 199 CONCLUSAO. 215 INDICE DOS TEXTOS CITADOs 223, INTRODUCAO MODIFICACOES Esta série de pesquisas surge mais ta uma forma intiramente diferente Eis por qué. las nfo deveriam set uma hittria dos comporta- rmentos nem ma hstria das representagbes, Mas uma historia da ‘Sewualidade™ a5 aspas tem sua importncia, Meu propésito no era ‘o de reconsrut uma historia das condutas ¢ das prtias sexuais de scordo com suas formas sucessvas, sua evolugdoe difusdo, Também ‘do era minha intengdo analisat at ieias (intficas,relgiosas ou f Toséfias) através das quais foram representados esses comportamen- tos. Gostara, niialmente, de me deer na nogdo to cotiiana eto ‘ecente de “sexualidude" tomar distanciamento em telagho a ela, com- formar sua evidénci familar, analsar 0 contexto tesco e prtico 20 {qual ela € associada, O proprio termo "sexualidade™ surgiu tadia ‘rent, no infeo do Séeulo XIX. E um fato que no deve ter subest do que eu previra€ de ‘mado nem supernterpretado, Ele assinala algo diferente de um em fejamento de vocabuléri, mas ndo marca, evidentement, a brusca femergéncia daguilo aque se etre suma,tratava-se de ver de que maneia, nas socedades ocdentais mo. ernes,constituse uma “experienc! seins me oe io ne impos de conkecimentos bastante diversos,¢ que re articla ‘um stems de regan coeres. © projete sia, portato, ode ama Istria da sexuaidade enguanto experiencia ac Entenderios poe Perini corrlagd, noma cultura, etre campos Je saber pos de ‘ormaigade¢ formas de subjetnidde Flr assim da sexuaidade mplcria sfatarae de um equema de pensamento que era eno correte: fazer da sexualdade un var ‘amt espe gue, els are, sat manta, formas Mt Feamente singulures, porque ste o eet dos Jo, € 8 fazer com que a forma geral da interdgdo d& contas do que Pode haver de historic na sexual ra, sobre os dois primeirs pontos ‘que empreendianteriormente~e)a.a propésito da medi. ‘age da psiguatia jaa proposito do poder puniivae das prtias dsciplinaes~ dewsme os instrumentos dos quasnecesitava:aandise as pitas discursivas permita seguir a formacdo dos saberes,esca- ‘pando uo dilema entre clncia edeologa; a aalise das relacbes depo Uke ede sts ecnologis permitia focalizilas como estratéps aber lus, escapando a alterraiva entre um poder concebida como damming: {lo ou derunciado como simulacro. Em compensacdo, oestudo dos mados pelos qua os ndividuos so levados se reconhececem como sujeltosseauais me colocava di fuldades bem matores. A noeio de desejo ou a de sujeio deseante constitu endo, endo uma tora, pelo menos um tema Leoico ge- falmente aceito, A prépria aeetuedo parecia etranha: com eleito, era ‘se lema que se encontrava, segundo certas variants, no centro da ‘eoria clisica da sexualidade, como também nas concepedes que bus favam dela apartarse era ele ambém que parcia tr sido herdado, ng Século XIX eno Seculo XX, de uma longa traiclo erst. A expe: ‘enc ds sexualidade pode muito bem se dstng is Uric singular, da expergncta crs da “carne's mas elas parecer snnbus dominadas pelo priacpio do -"homem de dsejo™-Em todo ex So. pareia dif! analisar a formacao e o desenvolvimento da expe 0 incia da sexualidade a partir do Século XVII, sem fazer a propésito ‘do deseo e do sujelto desjant, um trabalho histericoe reo, Sem tempreender, portanto, uma "genealogia". Com isso, no me retire @ azer uma historia das concepgdes sueessivas do deseo, da concuis Enc. ou da libido, mas use, esta geneslogi, de que maneia os indwiduon foram leva {ora exercer, sobre eles mesmo esbre os outros, uma hermendatics ‘do deco 8 qual ocomportamento sexual dessesindwiduon sm uv ds dev ocaso, som no entanto constitu Seu dominio exclusiva. Em ‘erumo, para compreender de que maneia 0 iniduo modern po- Gia areca experizncia dele mesmo enquanto sjeto de uma “sexual- dade" seri ndopensivel iting prvamente a mancia pea sl tlranie seulos,¢ omer ocdental fora levado ae Yesonhcer com Seto de desea ‘Um deslocamento terico me parece neesiro para anasto cue freqdetemente era dexinado como progress dos conhecimes {os cleme levaa interrogate sobre a formas de pris Uscurs ‘argue arculavam o saber E fot precsotambem um desloamento tao que reqdenementsedsceve como mane. les levara interrogate sabretuso sobre ‘eacees malls 5 estraegian Aerts ea tenia aconas que a tealam o exerci dos podees Pera agora que seria preciso em. presnder um treo deslocamento fim deanlsaroquee designndo {ino " sujelovsconvinna pesca gus so formas a modal des da reac consgo arin das guaisondviduo se consti es ‘econhecs como sujlto, Apdso estado dos jogos de verdadeconside- fades ene =a partir do etemplo de um certo nimera de ens Smpiricas nos Seslos XVI e XVII poseriormente 30 eto dos Jopos de verdude em ffeensn a relacSer de poder a parirdo exer: po do patie portvas outro trabalho parva se impo estoda 0: Jor de verde na rlacio dew para sie constituiao dest mesmo omg sujt. tomando como eapag de relrencisecampo de invst facio aquilo que poderachemarse “Nngria do homem de dese" ‘Eniretano, ou lao que empreener est genealogia me aa tava muito de meu projeo prmitva, Devi escolher ou mater 0 plas so vabeeeldo fazndo-o scompanhar de um rips exame WSF poor ene allio partido que optet 30 pensar que. afinal de cont {iguilo 3 que me slenho ~# que me alive desde tanlos anos ea tareta de evidencar alguns elementos que possam servi para uma historia da Serdade Lima Historia que no sera aguela do que poderiahaver de ‘eidudeiro nos conbeciotentos: mas uma anlise ds “jogos de verde {IC™ dos jogos ene 0 verdadeira eo falso,airaves dos quis o er s¢ ‘consti historcamente como experiencia, sto & como podendo ede ‘endo ser pesado. Atraves de quas jogos de verdade o homem se di Sea ser propo pear quando se petesbe coma louco, quand se ‘tha como Joeste, quando refete sobre si como ser vio, ser Taante set rabalhador, quando eles ulge ese pune enguanto criminoso? ‘através de quls jogos de verdade o ser humano se reconheceu como Nomem de deseja? Pereceusme que, colocando assim essa questo € tcntundo clabori-la a prapdsito de um perodo tio afastado dos meus horiontes, outrorafamitares,abandonava, sem divida, o plano pre rendido mas estaria mas proximo da interrogacdo que desde hi muito tenipo me esforco em colocar. Ainda que esa abordagem exigse de min guns anos suplementares de trabalho. Certamente que ha ‘hes nese Tongo devios mas tinha um motivo e pateseuame tren COnirado nese pesquisa um certo provelto tedrco ‘Os rscos? Bram os de retardar © desorganizar 0 programs de publica previsto. Agradevo Aqueles que segura os taetos e os Uesvios de meu trabalho ~penso nas ouvintes da Collége de France © $queles quertiverum a puciencia de esperar o temo dese trabalho primeiro lugar. Pierre Nora. Quanto agueles pura quem esforgarse Eomegr e ecomecir,experimentar.enganar-s,retomar to de cima {rai e ainda encootear eis de estar a cada paso. aqueles para ‘Quem. em sums. trabulhar mantendo-s em revervaeinguietago equ Sie demisio, pa bem, &evidente que no somos do mesmo plane © perigo era também o de abordar documentos por rim mal co- ecidon Corso riseo de submetéos, sem me dat coma, a formas ‘de anise ou # modos de questionamento que, vindos de outros ga ‘res no hes convinham: 0s livtos de P. Brown os de P. Hadote, em ‘irs oetide, seus pareceres eas conversagdes que mantivemos. me Toram de grande vali, Tambem, cori o rise, inversamente, de per ser. no esforco para te failarzar com 0s textos untigos, of das ‘lensed steed, rs pone nai ‘ears am oe tom a pr sem dvds corttava Sa stn cede, nerog 40 emo ‘Spas secs gue non ast tng de um peste om oe tee ‘Soaigem esos, csronmade gue peomenc pete dee das 2 ‘questdes que queria colocar; H. Dreyfus e P. Rabinow em Berkeley, Permitirmeme, por meio de suas reflexdes, suas quests. e graces & ua exigenia, um trabalho de reformulagtotericae metodolpica. F Want deu-me consshos preciosos. Pr Veyneajudourme constantemente no decorrerdeses anos. Ele sabe o que € pesquisr o verdadero, como historiador de verdade; mas tumbem sonhect 0 labirinto em que se entra quando se quer fazer 2 histira dos jogos entre o verdadero eo fls; ele ¢ daqueles,raros hojeem dis, que acelam enffentar a pergo, para todo e qualquer pen- amento, ques questio da historia da verdade tra consigo. Seria di MT Sesreve uu tica sobre eas pia ‘Quanto 20 motivo que me impulsonou foi muito simples alguns, espero, ese motivo poderd ser suiciete por ele mesmo furiosidade ~ em todo caso, Unica espécie de curosidade que vale a pena ser pratcada com um pouco de obstinagio: no aqusla que pro ora assimilar o que convem conhecer, mas a que permite separu-se ‘desi mesmo. De que valeria a obstinatao do saber se ele asepurasse Sena x aquisigio dos conhecmentos endo, de cera mancira, © tno Guano postive, o descaminho daquele que Conbece? Existem momen~ tos na vida onde a quedo de saber se se pode pensar dierentemente tho que se pensa« pererberdiferentemente do que sev, €indispenss- Sel para continua olhar ov a rellett Talvez me digarh que esses jo- tos consgo mesma tem que permanecer os bastidores,e que no mic imo ele farem parte destes abalhos de preparacdo que desapare- {em por si sor partir do momento em que produzem seus efeitos ‘Maso que hlosofurhojeem dia quero dae. aatividade osdfia ~ Sendo trabalho etic do pensamento sobre o proprio pensamento? Sendo consist em tear saber de que maneira eat onde seria poss- ‘vel pensurdiferentemente em vez de leptimar 0 que jis abe? Existe Sempre algo de ris6rio no dzcursoflosico quando ele quer. do e%- {enor faer sli para os outros, dizer Ies onde ests a sua verdade e de ‘Ge maneirsenchntrisia, ou quando pretende demonstra-se por pos tiidade ingenua: mus € seu dieito explorat © que pode set mudado, bo seu proprio pensamento, sravés do exerelsio dem saber que Ihe € ‘hrunho, O "ensuio™ = que € Aecessirio entender como expenincia ‘modificudora de sino jogo da verdade, eno como apropriagio sim Diicadora de outem para fins de comunicacio-€ 0 corpo vivo da f- Tosofia, ee, pelo menos ela fot ainda hoje o que era outrore, ou ej, uma “asese" um exerceio dew, no pensamento. ‘0s estudas que se seguem, assim como outros que aneriormente empreendh, aio estudos de historia pelos campos gue ratam e pelas {elerencas que sssumem: mas nao sBo rabalhos de “hstoriador”O ‘Que nlo quer diver que ele resumar ou sintetizem o trabalho feito Por outros ees S20 se quisermos encari-ls do pont de vista de sua a ragmética” ~ 0 protocolo de um exerccio que fo longo, hesitate, © aque feqentemente preisou se retomar e se corrgi. Um exerciio fi ‘osafieo: sua urticulagdo foi a de saber em que medida 0 trabalho de pensar sua propria historia pode liberar 0 pensamento dagulo que ele pena silenciosamente,e permite pensar diferentemente “Tera eu azdo em corte esses 18c05? Nao cabe a mim dié-to, Sei apenas que, deslocando assim o tema e os balizamentos eonolbgicos ‘de meu estudo, encontrealgum proveito teri: forme posivel pro cedera duas generalizagdes que me permitiram. ao mesmo tempo, i {uielo num hovizonte mais empl e precisar melhor seu metodo ¢ Seu objeto ‘Ao retornar assim, da época moderna, através do cristianismo, até Antighidade pareceusme que ndo se poderia evitarcolocar uma {uestio 40 mesmo tempo muito simples e gral: POrqUE.COMPORAE “mento sexual. as aividade eos prazeres ate relacionados. si ob/10 ve este cuidado Eco que, pelo me hos em ertes momentos, em certassociedades ou em certos grupos, parece mais importante do que aatengdo moral que se presta a outeos fampos.ndo abstante essencais na vida individual ou eoletivascomo 45 condutas alimentares ou arealizcio dos deveres cvicos? Sei que Sere cleat erie cant ie ie onhecer que 0 cuidado® tic a espeto da conduta seal no esti ‘Sempre, em sua intesidade ou em suas formas, em rlagao diets com © sistema de interdigdes ocorre Feqiemtemente que a preoeupacio ‘oral sea forte, Ik onde precisumente ndo ha abrigaio nem provb- ‘ho. Em suma, interdigho € uma coiss a problematizagio moral & Sta. Portnt.paeceume que a queso Que Severn serir eho feo loner pear de varie em suas fora cm sve imensidade? or que problema , afinal,¢estaatrefa ‘tina historia d persuvento po poco stra dos compen tent ds representa: Stn an conde as gun. mano “prosematusa®o gue ee €r¢ mundo no deal sve Mata cola neues mato gr eo0 clo rep epreco latina, pareceurme que essa problemaizagio esta rela onada'a um conjunto de prticas que, certament,tveram uma im Aine att on ata ne, ec ns emp uw portincia considerivel em nosis sociedades:€ 9 que se poderia cha: Ima "artes da exsténca'” Deve-e entender. com ss, praca rele 4s evoluntiras através das quai os homens ndo somente se fxam ‘egas de conduta, como também procuram se transformar. modi ‘seem eu er singular fazer desua vida uma obra que sea port ‘dora de certo valores eséicos eresponda a certs eritrios de est. seis "ates de existncia esas “Teemicas des”, perderam, sem dv «da, uma certs parte de sua importincia ede sua autonomia quando, ola o ertanismo, forum integradas no eetisio deur poder puto Fale. mais tarde. em praticas de ipo educative, médica ou pscolopco. De qualquer modo, deversea, sem divida, fazer © refer lone histria dessasesteias da existenciae desasteenologias desi. Ji hd sigur tempo que Burekhirdtsubliahou sua importinea na epoca do Renawcimento: mas sua sobrevvdncia, sus histra edesenvolimento ‘io param a1 Em todo caso, pareceu-me que o estudo da problemat- Zasio do comportamento secual na Antiguidade podia se? considera. 4e come um capitulo um dos primeios capitulos~ dessa historia ge ral day "écnieas de 3 Tal é ona dessesesforgs fetos fim de mudar-se a manera 4e ver, pata modiiaro horizonte daquilo que se conhece e para ten- tur dstaneiatse um pouco. Levam eles, efetivamente, a pensar dife ‘entemente! Talver tenham, no maximo, permiido pensar diferent. ‘mente o qe j se pensavae perezber o que se fez segundo um angulo Aiferenteesob uma luz mais nia, Acreditavase tomar distancia eno fenlantofctse na vertial de mesmo. A Viagem rejuvenese as coisas envelhece & felagdo consgo, Parece-me que seia melhor perceber “ora de que manira, um tanto cegamente, por meio de fragmentos Scesvose diferentes, eu me condua nessa empreitada de urna hist es soles om moma tae a Cee cae pe (taalioeeic protean te wih, a kingingien ao trabalho oem See eens ‘ete fro de 8. GREENBLATT, Resisone Sfechong, 1980. Is ‘mostrar. agora, de que maneira, na Antgdidade, eres sexuais foram problem ves de prdicas des, pondo tm jogo os erterios de uma "esttica da existénc Eis a raadespelas quais recente tod 0 estado sobre a genealo- ia do homem de dese, desde a Antighidadeclssica at os prmeiros culos do etistianismo. Segul uma distibuigho cronolgica simples tim primeire volume, O uso dos prazeres, & dedicado & maneia pela {Qual saividade sexual for problematizada pelos flsofose pelos me ‘icos, na cultura grga clasica, no Seeulo IV 8. C.; O eudado de si ‘dedcado a ein problematizagdo nos textos gregose latinos nos dos Primeirs sévulor de nossa era nalment, 45 confuses da carne tra tam da formacio da doutrina eda pastoral da carne. Em relagdo aos 80 na maior parte textos "presi 'textor qu, qualquer que sea sus Forma (dscuso,ailogo, tratado,coletines de precios, carts, ee.) {8m como objetivo principal propor regras de conduta.S0 recorerel 0s textos tebricoe sobre a doutrina do prazet ou das paixGes pare ‘Contra exclarecimentos.O campo que analisre €constituido por tx. torque pretendem estabelecerregas, dar opinises,conslhos, para se ‘comportar como convén: textos "patios" que sfo eles proprio, ob- jet de "pritca” na medida em que eram feos para seem lidos, laprendidos, meditados,sllizados, postos a prova visavam, no final ‘des conta, constituir a armadura da condutacotiiana. O pape des- se texto er ode sefem operadores que permitiam as iniviguosin- terropare sobre sua propria conduta, velar por ea, formiclae con- Formats, eles proprios, como sueto tcc: em suma, ees patiipam ‘Ge uma fungio “etopoctea” para tunspor oma expresso que seen sontra em Plutarco ‘Mas, como essa anise do homem de desejoseencontra no ponto de interseogd entre uma arqueologia das problematzagoes e urna e- as de si gostaia de deter-me, antes de comecar, justiicar as formas de "problematizgdo” que ‘onsite, indicat o Que se pode entender por “priica des € exp ‘ar atraves de que paradoxosecifculdades ui evado a substitu uma histria dos sistemas de moral feta a partir ds nteedigbes, por uma historia da problematiacdes fis, feita a partir das prticas de 5 AS FORMAS DE PROBLEMATIZACAO ‘Suponhamos que acitemos por um momento categoras to ge- ‘ais como as de "paganismo”. de “eristianismo”, de "mor "moral sexual. Suponhamos que perBuntemas em que pontos ral sexual do ctisanismo” opbsse,0 mais nitidamente, "moral e- ual do paganitmo antigo": proibici do incest, dominacto mascul- ‘hs sujelgdo da mulher? Sem divida no serdo essas us resposas di das: conecete a extensio ¢ a constincia dessesfendmenos sob suas ‘Variadas formas. Mais provavelmente, propor-s-iam outros pontos ‘Se dferenciagdo,O valor do proprio ato sexual 0 crsianismo o tenia “sociado 40 mal, 10 pecado, queda, & mort, ao passo que @ Ant [Ebidade teri dotado de signfieagbes postvas. A delimitagdo do. pareeto leptimo: 0 crtianismo, dferentemente do que se passava has sociedadespregas ou romanas, so teria aeito no casamento mo- nogimico eno interior desea conjugalidade, Ihe teria imposto 0 prinei- pio de uma finaldade exclsivamente proctiadora. A desqualifieacao us selagdes entre individuos do mesmo sexo: 0 cisianismo as teria fexcluldo rgorosamete, a0 passo que a Grecia as tera exltado = ¢ Roma, aceta = pelo menos entre homens. A esses rs pontos de opo= ‘cio maior, poder ia actesceataro ato valor morale espiritua que ccistinisino, dferentemente da moral pagd, tera arbuldo & abst néncis rigorosa, 3 castidade permanente e 4 virgindade. Em sum. ‘Sobre todos esses pontos que foram consigerados durante tanto ter po. somo tio importantes = natuteza do ato sexual, idelidade mono [itvia,relagdes homosseruas,castidade-, parece que os Anigoste- fam so um tanto indferentes, e que nada disso teria atraido muito ‘su uleneao, em consituldo para cles problemas muito agudos, "7 (ra isso ni € exato:¢ poder seia mostré-lofacilmente, Poder se-a comprovirlofeaaltande as reprodugbesdiretas a continuida: des murtoesreitae que se pode constatar entre a primeiras doutrinas {tis ea fllosofia moral da Antiguidade-o primero grande texto Aedicado 8 pratica sexual na vida de casado ~ 0 capitulo X do live do Pedagogo de Clemente de Alexandra ~apbia-e num cetto numero de referencias 4s Escrturas mas também num conjunto de principos e de preceitos dtetament (omados 4 ilosofia papa 4 en~ ontramos alt uma certasrsociagdo entreaaivdade sexual eo mal reeta de uma monogemia proctiadore, a condenagio das relagbes de Inesmo'sexo, a exaltagio 3 continéncia. Nao € 49 numa escalhist6- Fist hem mais longa, poderse-a acompanhar a permanénca de t= mas. nguietagdes eexipencis, que sem duvida mafearam seca rst a moral ds sociedades europeies modernas, mas que i estavar ca ramente presentes no cerne do peasamento prego Ou Ereco-romano. Eis aqui Sveros teslemunhos a-expresio de um medo, um modelo Se comportamento. a imager de uma atitude desquaiifcada, um fexemplo de abstinénc 1 Un medo (0 jovens com ums perda de men “cartegam em todos os habi tos do corpo a marca da eaducidadee da vehi: eles se tornam rela ido, estipidos, prostrados,curvads, inca pazes de qualquer coisa, com iez pid, branca, efeminads, sem ape- Tite em calor os membros pesados, ss pernas dormentes, uma exte- tn fragueza, cafim, numa palavra,quase que totalmente perdidos. ser para muitos, uma via para paalsia: de f= fo. como s poteneit nervosa no Seria atingida sea naureza est et {raquecida no principio tegenerador e na propria fonte da vida”™ sat doenga "em si mesma vergonhosa" € "peigost no que leva 40 tmarsemo, nociva&oedade na medida em que st opde i propagacio ‘Go epece: pore ela em todos os axpectos. ante de uma ifinide ‘de de male, exipe sooorT0s urgentes™ 5. ARETE, erage de cies hrong 3:Na ‘uct Rene Soman cu agen spite mane (p18). "Amore ‘Silat ages tite enero de oem ue em ee oe Blom {htm omer Oeerage ~ Apropensmn sen dal 6 Reconeces favimente, ness est, as obseses que a mein «ex pedugogi alimentaram,s parte dos Sculos XVI e XVIII, em tr ‘no do pro dispendio seal - aqueleonde nie existe fecundidade nem parceir o esgolamento progessivo do orgaismo, a morte do indi {Towa destrugdo de sustragse Halmente, 0 dano eausado a toda humanidad, foram, repularmente, a0 fongo de uma heratursloguay Promtakos para iyucles que abusassem de seu sexo, Fans meds in ‘ido parece ter consttido a heranes "natralisa” e "een Sit no pensamento meuicd ro esl da epoca - de um texto escrito por um médica grego. Arete hn primeira svulo de nons er, Desse temor d incetive fe for desregrado, de produzr na vida do individu os mas nocivos feitos, encontrarseo muitos testemunhos na mesma epoca: Sori ‘nus por exemplo,consigerava que a lividade sewal Serta, em qual ‘duerhipStese, menos favorvel sade do que a pura e simples abs. {encio eu virgindace. Mais ceo ands, 4 medicna na dado ins tenis conslhos de prudéncia ede economia no uso dos pruzeres se ‘ais: evar seu uso inlempestivo, levar em conta as condighes nak “Guus kes suo praticados emer a sa propria violencia 08 erro de Teime. Algunschepam a dizer que nao se deve praticrlos "a no set ‘que te quer prejodicarse as proprio". Medo muito antigo por con seuinte 2, Umm exquema de comportamento onhsese 9 maneira pe qual So Francisco de Sales exortava vitude conjugal: paras pessoa easadas ele oerecia um espetho natu ‘al propandosthe © modelo do eefante «dos belos costumes que de tmonsirava com sus esposs, O clefante “ndo passa de um grande an Ina enretanto, £0 mals digno que vive sobre a terrae gue possui ‘ais Senso. Ele nunca troca de femea, eama termamente aula que ‘scolheue com a qual no entanto, so acasala a cada Us anos, 50 ‘mente por cinco dis, eo secretamente que jamais alguém o vit esse ‘stor enfretanto ele € visto no sexto ia quando, ates de qualquer ou matreaci ee sencomeync Avago mosis ut ons 0 tea coisa, vai diretamente ao si no qual lava todo 0 corpo, alo que ‘endo de modo slgum tetorar 40 seu bando Sem antes purfcarse. Nao temos ai belas ehonesasdisposigdes™! Ora esse mesmo texto € tama variaedo de um tema que To ransmitido por uma longa teidicbo (straves de Aldrovunds, Gessner, Vincent de Beauvais eo famoso PRI ‘ols sua formulacio jas enconteaem Pini que 3 Inrodudo d Vida Devora segue bem de perto."E por pudor que os eefantes 80 se acisalam em segredo. A Temeas6se dena cobra cada dois anos. oma se dir, durante cinco dias de cada ano, no mais no seato dia ‘esse Dunham no ro. © 0c reinem ao bando pss obanho. Ele ni0 onhesem o adultrio... Pliniondo pretendia,certamente propor lum esquema to explicitamente didatio como o de Sd0 Francisco de Seles: entretant, referia-se a um madelo de conduta visivelmente loriado. Isso nfo significa que & delidade recproca dos cbnjuges t= nha sido um imperaivogeralmenterecebido e accilo pelos prego eo- ‘manos. Mas ea constitula um ensinamento dado com insistencia em fertascortentes ilosofias, como a estoiise tardio; constitu tar bem um comportamento aprecado como manifesacio de wirtude. de farmers da slma ede dominio de si, Louvavi-se Cato 0 Jovem, que ra idade em gue decdiu se casar, ndo haviatido ainda relagio com ‘mulher alguma melhor ainda, Lelus, que “em toda a sua longa vid 56 se apronimou de uma mulher a primeira e Unica com quem se a- Sou" Poderse-ia volar ainda fas longe na defnicdo esse modelo ‘Ge conjuglidadereciprocae i. Nicocles, no discurso que the atsbui Tsoerates, mostra toda a importéncia morale politica que ele di 3 Fato de "ado ter tido, a pari de seu casamento,relagio sexual com ‘ura pessoa sno set sua mulher" Ena sua cidade ideal, Aristeles ‘Quer due sea cnsiderada como “ago desonrosa (eissodemaneia absolut esem eteegio") a elacdo do marido com uma ovtra mulher ‘oudu esposs com um outro homem. Afielidade™ sexu do marido Som rlagio' su expos lgitima no era exgida pels leis nem pelos Soxtumen ni deiniva de se, contudo, ums questo ques calocavae Uma forma de austeridade a que certos moralisas eonferiam grande ‘aloe 4. ARANCOIS DE SALES, fart we ae HL 3 3, Uma imagem Nos textos do Século XIX existe um pefi-tipo do homostexual ‘ou do inverido sus gestos, sua postura, a maneia pela qual ele se en- Feta, seu coquetsmo, como tambem a Torta eas exprestOes de feu ross, sua anatomia, « morfologia feminina de todo seu corpo Ta em, regularmente, pate dessa desrigdo desqualiieadora: @ qual Fefere, 0 mesmo tempo, ao tema de uma inversio dos papeis sexusise 40 principio de um ex I dessa ofense& naturera: seria de screditarse,diaiam, que a propria natureza se fez cumplice da menti= fa texual’ Deversse ta, sem divide, estabelecer alongs historia desea imagem (4 qual puderam cortesponder comportamentos efetivos, través de um complxo jogo de induc e desafo). Lerseia, na inter- Sidade to vivamentenegativa dese exteredipo a difculdade secular, fem nossassociedades, para integrar os dis fendmencs, ais, diferen: tes, que so a inversio dos papel sexuais ea rlagio entre individuos do mesmo sexo. Ora essa imagem, com a aura repulsva que a envol- ‘ve, percores culos el jd extava muito mtidamentedelineada nai \eraturagreco-omana da €poca imperil. Enconea-e no peril do Ef: Feminaws sragado pelo autor de uma Physlognomons anna J0 Sé- ‘culo IV: na deserigao dos padres de Atatgatis, dos quas zmba Apu leu nas Metamorfose:” na simbolizagio que Dion de Prusa prope do dain da intemperanca, numa de suas conferencias sobre a mot {quia na evocacto fogaz dos pequenos ret6ricos todos perfumados € nearacolados que Epiteto interpela ne fundo de sua sala ¢ aos quais pergunta se sio homens ou mulheres" Poderse'ia ver esa imagem {mbem no retrata di juventude decadente tal como'a vé Sener, © Retorico. com grande repugninci, a0 seu dor "A paislo doentia de cantare dancarenche v alma de nossosefeminados: ondul os cx: belos.tornura vor sufcientemente tne pars igular scarica dss vo- ‘es femininas, valzar com us mulheres atraves Ga lasidio de atte: ex estudarse em perguirges muito obscenss. eso ideal de nossos “idokecenter—- Enfraguccidose enervados desde 0 nascimento, een ssn permanecem. sempre pronto a sacar 0 pudor dos OUIOS Sm ‘Se acupar cont 0 seu proprio” Porem, esse perfil, com seus tragon seni, @ inde mats antigo, O primo dacurso de Socrates no 10 APULEL slump vi 263." 12 Epicrere! tavern He SENCOUE LE METEUK mney, L rt, x a adr a le fa slsdo quando tepieende o amor que tem 208 rape ‘es isios, educidor na dscaders da sombre, aos de maul Sense alerecon”Etumbém com ese rages gut Agalon aparece nav ‘eamofones te pad, face cunhoadss, vor de mulher roupas Se “Kato, rede to ponts do su triogsot ve pergunta sem er ‘Rete exi na prwenga eum home ou de uname” Sra nex to ver sum cundehasio do amor pelos rapes ou dagilo ue, em fer chamamos de rgSes homesesuas enietantas€ exer Feconbectr ao ceo Je sprasagdesfortementenegativan propio SEcrovawpeioe phen da acto rehome sum cmos stra repupnanc a respeto de tadoo ave padese matcat un enn Ui viuntaria ss prestigtse a marcos do papel WO domino daw Sores masculinoy pode mu bem ser lve a Anigidide ree Em todo ano ber us do qe o fol mas socedades europe moe. fu no rst Ouida ntetanto, qu Bem cedo se ve marca mens feagesneptvar foras de esquire Qe se prolong pot ‘mut tempo. 4. Um modelo de abstencto (© herd virtuoso que & capaz de se desviar do prazer, como uma tentagio na qual ele sabe ndo cai, ¢ uma figura familiar 20 erstianis- ‘mo, com fol correnteaideia de que essa renincia€ capaz de dr aces: so. uma experinci esiritual da verdade edo amor, a qual seria ex ‘uida pea stividade sexual. Mas ¢igualmenteconbecida da Antgt- ‘dade pagi a figura desis atletas da temperanga que so suficiene- iments senhores de sede suas concupiscncias pata fenuncar 20 pr Ter senuil Bem antes disso, a Gréca conheceu e hontou modelos amo o de Apoldnio de Tana, um taumaturgo, que uma ver fez voto ‘decystidude que, por toda vida, muna mas teve roles sexuais.”| Dara ulgune, essa extrema vctude era matea visivel do dominio que txeroium sabre eles propriose, portanto, do poder que eam dignos de {ssumir sobre os outros. assim, Ages de Xenofonte alo somente “no tocava nagueles que nio the inepiravam desejo" come tambem stg renunciava a bejaro rapas a quem arava tomava cuidado para ‘Sualojarse nos templos ov nos logareswsiveis "para que todos pudes- sem ser testemunhas de sua temperanca". Porém, para outeos ssa bstencioestava ligadadirtamente a uma forma de sabederia que os olocavaimediatamente em contato com algum elemento superior & hatureza humana. ques Java aeeso a0 proprio ser da verdad: tl ‘ru 0 caso do Socrates do Banguete do qual todos queria se aprox ‘mar, do qual tos se enamoravam, de cuja sabedora todos buseavam Se aproptia ~sabedora exes que se manifesava se experimentava, |uslament, pel fato de que ele proprio era capaz de no tocar a be lesa provocadora de Alcebiaden”" A temdtca de uma telaglo ene 8 bstingncia sexual eo acewo & verdade j estavafortemente marca: oe Enleetanto, & preciso nio esperar demasiado dessus ceferéncias Nao se poderia dels inferr que a moral sexual do cstanismo ea do paganismo formem continuidade. Diersos temas, principios e nagbet podem perfltamente se enconrar num e noutf: no postuery, no en- tanto, @ mesmo lugere 9 meso valorem ambos, Sdrates ado € um padre do deserto lutando contra a tentagdo, « Nicocies nso ¢ nenhim Iarido erst: o rso de Aritofanes dante de Agatontravestda tem Ihuito pouco aver com a desguaificacio do invertido que mais tae se encontraré no dscurso médico. Alem diss, € precio ter em mente ‘Gus [gta 2 pastoral ere ieram valero principio de uma moral ujos preavtoseram constntivos eevjo cance era universal (0 que no exeluia as dfereneas de prescrigio relativas ao staus dos ind ‘Suos. nem a exsdncia de movimentosaseticos com sus proprias as piragBes), Em compensagio, no pensamento antigo, as exigenclas de {steidade ado eram organizadae mime moral uniicads,cocrent. “utortiiae imposa a todos da mesma maneir; elas eram, antes de mais nada, um suplemento, como que um "exo" em relagio 4 moral ‘eeitacorrentemente; alm dss, elas se apresentavam em “Tooos ie- persos"-eesestinham origem em diferentes movimentosHilesoicos ‘u rligiosos:e encontravam seu meio de desenvolvimento em mili Pos prupos: propunham, mais do queimpunham, estilo de moders ‘lo ou de rigor cada qual com sua sionomi particular. «austeridade Prtapiriea nao era a dos esticos que. por sa vee, era hem diferente Aula ecomendada por Epicuro.E preciso no conelue desis pow ‘is aprosimaghes que puderam ser esbogadas que s moral est do Sexo estava, de certs forma, "pre-formada” no pensamento antigo: deve-se antes considers que. bem cedo,narelexdo moral da Anvight thie. formouse um temdticn~ uma quadrtemica™ — da auster- 1 XENOPUON, Asien 6 B dade sexual em toro ea propésito david do corpo, da insituicdo do feasamento, das relapdes entre homens e da existéncia de sabedoria. E tsa temtica atraves de istitigdes, de conjuntos de preceitos, de r= {eréncias tedricasextemamente diversas ea despeito de muitos tema ‘nejamentos,guatdou, alravés do tempo, uma cara consncia: como se houvese, desde a Anighidade, quatro pontos de problematizagio @ parte dos quais se eformulva, incessantemente ~ e segundo esque thas freqdentemente diferentes ~,ocuidado com a auseridade sex (Ora, € preciso notat que eises temas de austeridade nfo coinci- iam com a8 delimitagdes que as grandes interdgbes soca, cvs 08 ‘eligioas, podiam trga. Poder-seia pensar, com efeto, que Id onde 1 prices fo mas undanentas onde ws arinees so mals jas € que, de uma forma gel, as moras desenvolvem a5 ma Insistentesexigincias de asteridade: 0 caso pode se produzi;e2 tbria do erstanimo ou da Eutopa moderna, sem davida, dariam exemplos disso.” Entretanto, parece que tal nfo fi o caso na Anti ‘dade, Em primeito lugar, sso aparece muito claramente na dssimetria. bem particular a toda essa refleio moral sobre o comportamento $e- uals mulheres slo adstritas, em gral (salvo aliberdade que um sta- ‘us, como o de cores, pode hes dar, a obrigacbesextemamente es ‘tas; contudo, ndo € Bs mulheres que essa moral € enderegada; no sho sous devees, nem suat obrigagdes que al sdolembrados, justice. ‘dor ou desenvolvidos. Trat-se de uma moral de homens: uma moral pensuda, eserit, ensinada por homens eenderecada a honiens, viden- femente lives, ConseqUentemente, moral vinl onde as mulberes $6 parecem a titulo de objetos ou no miximo como parceiras is quais convém formar, educa evigiar, quando as tem sob seu pode, e dat ‘uss, a0 contrano, € preciso abster-se quando esto 300 0 poder de {um outro (pai, mari, tutor). Ai ext, sem davida, um dos pontos mais notaves dessa refexdo moral: ela 20 lenta define um campo de ‘ondita um dominio de pra vlidas ~ segundo as modulagoesne- ‘tsdriae~ para os dos sos; ela ¢ uma elaboragdo da conduta maseo- lin feta do ponto de vista dos omen e para dar forma sua condu- Methor ainda: esa refledo moral nio se dirge ao homens com refertcia a condutes que poderiam dizer respeito a algumas inter ‘hes reconhecidas por todos. tolenemente lembadas nos codigos, 1 tse spn gta deraine dma mete 6 cue ‘Shmuel aoe suumare Ue render ta pastoral cr uma conse ‘STUMUSi actor a ace met rat ta casa na eee ‘Sande Medal ©. DUB. Leche ifm pre.) costumes ou prescricdesreligioss. Ela se drige a eles a reepeito das ondutas em que, justamente, eles devem fazer oto de seu dete, de ‘eu poder de Suu autoridade de sua lberdade: nas pratieas dos p eres que ndo sio condenados, numa vida de casamento onder 0 txereico de um poder marital, nenhuma regra nem costume impede © hhomem deter relades sexuaisextraconjugais, em relagBes com 08 a. Dazes que. pelo menos dentrde certs limites, sto admitidas, corten- feve ale mesmo valorzadas. € precio entender esses temas da auster- dade sexual ndo como uma traduclo ov um comentri de proibigdes Drofundsseessenciis, mas como elaboracdo eexiizagio de urna a Uidude no exercicio de seu poder e na pratca de sua iberdade ( que mio quer dizer que ess temdtia da austeridade sexual no reprsente algo mais do que um refinamento sem conseqUncia e uma tspeculaco sem vinculo com qualquer preacopagio precisa. Ao con Iraro, fei ver que cada ume dssar grandes figuras da aus ‘sexu erliciona com um exo Sexo, coms questo da esposa como pacer privleiada, no jogo Entre a instituted familie eo vinculo que ela ea; relagho com 9 seu Proprio sexo, com a questo dos patcetos qe nele se pode ecalher © problema do ajustamento entre papel socials epapessexuas nal ‘mente. relacio com a verdade, onde ecoloca a questo das condicbes Spiritus que permitem ter acesso 8 sabedora Parecenme, assim), que haveria que operar todo um reentramen- to, Emer de busearasinterdigdes de base que se escondem ou sea festa nas exigencas da austridade sexual, era preciso pegutsar partir de quae regives da experiencia, e 206 ue formas, o comport ‘ent sexual foi problematizado, tornandot objeto de cuidado, ele ‘nto para refetzo, materia para estilzaglo. Mats precisament, era Drecso perzuntar-se por que justamente os quato grandes dominios Se relagdes onde parecia que'o homem lite, nas socedades antigss, teria podido desenvolve sua atvidade sem encontrar maiores proib. cies forum objeto de uma problematizago intensa da prica sexual. Por que foi i, a proposito do corpo, da espos, dos rapes e da ver dade, que a prtca dos prazres fo quesionada? Por que a inerter. tia da atividade sesual nessastelagSestornowse objeto de inquita {o, de debate e de teflexdo? Por que eses ein da experéneia cot. ‘iana deram lugar a um pensamento que buscava a ratelaguo do com portamento sexual sua moderacdo, sua conformacdo ea efiniedo de lum estilo austero na pati dos ps {amento sexual, na medida em gue implicava exes diferentes tpos de relacdo, fol objeto de refed como dominio de experiencia mora 2s MORAL E PRATICA DE SI A fim de responder a esa questo & necessriointroduzi lgumas considerates. de método, ou, mais precsumente, convém se ite fir sobre objeto proposto quando seempreende oestud das formas transformagdes Je uma "moral™ CConacese 4 ambigUidade dessa plavea, Por “moral” entendese um conjunto de valores erepras de acio propostas aos indviduos € 408 grupos por intermédio de aparelhos preseritivos diversos, como ‘orem sera furla, a insituigdes eddeaivas, a grjas, et. Aconte {Ge desuisregrate valores serem bem explictamente formulados numa ‘outrina cosrente enum ensnamtent explicto. Mas acontce tambem ‘elas stem iansmitidas de manelra disse, longe de formarem um Sonjuio tema, contre um ogo complex de eemenos fue se compensim, se corrigem, se anulam e™ coos poatos. pet Undo, asim compromintos ou ecapatoras, Com esas reservas pode. fe chamar "codigo moral" esse conjunto preserve. Porém, por "mo- fal” entende-seigualmente 0 comportamento real dos individues em Felugdo as repr valores que Ihes so propostos: designase assim a ‘maneira pela qual eles se submeter mais ou menos completamente a tim principio de conduta; pela qual eles obedecem ou resister aura ‘overdo ov a uma presrigho, pele qual eles respeitam ou nepligen ‘amt um eonjunto de valores: oestudo dese aspecto da moral deve de- Terminat de que mancira, «com que mangens de vaiagdo ude wans- resto, os individuos ov 0 grupos se conduzem em teferéncia 2 um Sema preseritivo que ¢ explita go implitamente dado em sua cul {tra edo qual eles tom oma conscgnela mais ou menos laa. Chame- twas eve nivel de fendmencs 4 "moralidade dos comportamentor % Mas nio €0 isso. Com efeito, uma coisa é uma repradecondut utes 3 conduta que se pode medita essa repr. Mas, outta coisa ain fa £4 maneira pela quale necssirio "eondusitse” into € 4 maneira pela qual se deve constiuira ss mesmo como sujeto moral, agindo em Feferzncia wos elementos prescrtivos que constituem o cOdigo. Dado tm eédigo de aco, epurd um determinado tipo de acbes (que se pode defini por seu rau de conformidade ou de divergencia em relagdo s ‘esse cdo). exisem diferentes maneias de "se conduzir™ moralmen- te diferentes mann, para individuo que age, de opera lo sm Plesmente como agente, mas sim como sujeto moral dss agio, Sejo Lim cddigo de presengdiessenuais Que delermina pare os dois cSnjuges Uma fidelidade conjugal esta e siete, stim como a permanence de uma vontade procriadara: mesmo nesse quadro( rgoroso. have. 1 vias maneias de praicar essa austerdade, viras maneiris de "set fe". Esas ferences podem dizer respelo vation pont, las concernem ao que Se podetia chamar determina da subs: ‘ela dca sto 6.4 manera pela qual oindviduo deve constitu tal parte dele mesmo como materia principal de sua conduta moral As fim. pode-se ter como essencial da pritica de fidelidadeo esto res [eto dasinterdgbes e das abrigacdes aos propris aos que se reais Ms pode também er como essencul du fdeidude © dominio dos dessin, o combate obstinado que se tem contea ees @ Torcu com 3 ‘qual se wae revs ds tentagdeso que consi, entdo.0 conietde da Aidt € essa vigilincia e essa lua: os movimentos contzaditérios ‘brah. muito mats que os proprio aos em sua efetivagao.€ que se Fo, nesah condiges, a materia da praca moral. Podes, ainda er ‘somo eseneal da pratica de fidelidade a intensidade, a continuidade, 5 roviproeidade dow sentiments que se experiment plo cOnjuge es ‘alidade da relagio que liga, em permanéncs. 0 Gols esposos ‘Av diferengay podem. assim. ze respeito 30 modo de sujet iso 4 muaneirs pel ql oininiduo estabelace su relaglo im exe regta'e se reconheee como ligado 3 obrigagio de pola em pratt. Pocese, por exemple. pratict st fidelidade conjugal ese submeter Drevsts ques impoe por recoahscerse como parte do grupo soci {ue asec ques prolama abertamente, © que dels onsets 0 hi Dito senciows poréin, pode-se também pratieila por consierurse herdeiro de win adic esprtual, a qual se tem a responsabiide de prescrvsr ou de fazer revier; como tamer se pode eeret ess ‘elklade respondendo a um apelo, propondo-se como exemplo Ov bhuscndo da 3 vida pessoal uma forma que corresponds een de expend, balers, nubrers ou perio. Existem também difereneas possiveis nas formas d elaboracd bo raha eieo que se efetua sobre si mexmo, ndo somente par {ornar seu proprio omportamento conforme ua egru dada, mas n também pura tentar se transformer asi mesmo em sueito moral de sua [bdpria conduta, Dessa forma a asteridade sexual pode er prtieads Por meio deur longo trabalho de aprendizagem, de memorizacio. de {similagdo de um conjunto sstemstco de precios e araves de umn ‘controle regular da conduta, destinado a medir a exatido com que Splicam essa regras pode-e praticila sob forme de uma renuncia brasc global e defnitiva aos prazeres: como também sob a forma de Umm combate permanent, cuje peipicas~ até os fracassos pessage- fos = podem (er sentido e valor: ela pode também ser exercda aravés ‘de uma decifagio to cuidada, permanente edetalhada quanto possi ‘el dos movimentos do deseo, sob todas as formas, mesmo aquelat ‘mais obscura sob as quas ee se oculta, Finalmente, outras diferencas dizem respeito a0 que se poder ‘chamat eleologia do sujeto moral pois uma ago no & moral somen- {gem si mesma ena sua singulardade: el 0 € também por sua inser: {oe pelo lugar que ocupa no coajunto de uma conduta ela ¢ um ele- Menlo eum aspecto dessa conduta,e marca uma etapa em sua dura- lo e um progress eventual em sua continuidade. Uma agio moral {ended sua propria realizagio: alm diss, ela visa, através desea real ‘acio,« constitigio de uma conduta moral que leva oindviduo, nfo Simplesmente weBes sempre conformes aos valores e 3 regras, mas lumbém a um certo modo de se caracteristco do sujeito moral E cxistem muita diferencas. posiveis nese ponto: a fideidade conjugal ‘pode dizer rerpeito @ uma conduta moral que eva a um dominio des ‘cad ves mais completo; ela pode ser uma conduta moral que marifes- tuum distanciamento repenino e radical a respeto do mundo; ela pode tender uma tranahlidade perfeita da alma, a uma total insens bildade 4s aitaes das pales, ow a uma purificacio que assegura 2 sulvaglo apds a morte e's imoralidade bem-aventurada ‘Em suma, para ser dita "moral" ma agdo nfo deve se reduzi 2 tum ato ou uma série de stot conformes a uma regra lei ou valor. & ‘verdade que toda aedo moral comporta uma rlacio a rel em que se ‘fetus. c uma relacio 20 codigo a que ge refere; mas ela impli bbim cima cera relagio asi; essa relagdo no €simplesmente clincia desi, mas constituigdo de s enquanto {ual oindividuecitcunscreve a parte dele mesmo que constitu o obje- {0 dessa pritica moral, define sua posicdo em rlacio ao preceto que {espeita estabelece paras um cero modo de tet Que vale como rex lizagdo moral dele mesmo: pars tl beer se, conrolase plese & prova, apefeioa-se, wansformase ‘io existe ago morai parcular que a se refiraunidade de uma conduta moral nem conduta moral que no implique a consiuicio ‘desi mesmo como sujeto moral nem tampoueo consttuglo dose {to moral sem "modos de subjetivagio", sem uma “asetiea” ou sem Fy as de si” que as apoiem. A agdo moral ¢indissocivel dessas formas de atvidades sobre si, formas essas que ndo sdo menos diferen- {es de uma moral a outra do que os sistemas de valores, de repras ede imerdgdes.| Essas dstingdesndo devemn ter somente efits tebicos. Eas ttm tamblm suas conseqGncias para andlisehstrica. Quem user fa- tera historia de uma "moral" deve levar em conta diferentes realida- ‘es que essa palavra engloba, Historia das "moralidades™- aquela que festuda em que medida as ages de tas individuos ou tis grupos sio oaformes ou alo ds rgras e 408 valores que slo propostas por sife- Fentesinstdncias. Historia dos "eddigos", 1 que analea os eerentes sistemas de regras valores que vigoram numa determinada Sociedade ‘ou num grupo dado, ax insténcias ow apareihos de coergdo que ies {io vigénea, eas formas tomadas por sua muliplicidad, suas diver ‘éncias ou sus contradicbes. E finulmente, historia da manera pela ‘Gul os ndividvorsio ehamados ase constitir como sjeitos de Con- Solus aos prazetes": dessa forma terseia dm meio de pds pro- ‘ve "com mais cuidados do que quando se pte &prova o uro peo fo- £0. para Saber se eles resistem 3s seduedes, se guntdam a decenia em Aualguercircunstancia, se sho os fs puardides desi mesmos eda mir ‘en cues ligBes receberam™. Nas Leis ele chepa ale a sonhar com tma droga que ainda foi inventada ela faria qualquer coisa pare ‘er asustadora ion olhos daquele que a tvesee absorvio. eetta possivelserve-e ela a fim dese exeritarna coragem: tanto 95, se pensar que "no se deve deiarse ver antes de estar bem treinado", {Quanto tm grupo, e mesmo em pUblico, "com mumeroros convivas™ pura mostrar que se & capar de dominar "a inevtivel perturbaglo da bebida" €50b esse modelo artificial deal que os banguetes podem Ik EP MATON tan an b Aga tbs ees acai ne Si es line enna end Ta" XENOPHON, Rephiqu a Lectemomeat Ses me om 70 ser scstos« organizador como espéces de prowas de temperanc istoreles ise moma frane que mosra 9 ciculanidade ere & ‘prendzagem moral e1 vitae que se aprenée"E se afstando dos rcres que ve pode fornarsetemperante: mas € quando se chegn& fEmperane te mers poe tema dos parr anos outrarardo para expicar porque aa existe uma arte ccpecica do exertion, et 4 deve wo fato de que 0 domino Gate o domino dos outros sip considerados como tendo a mesma fbema: i que se deve govern asi mesmo como Se governaa propria {ist da mania como se desempenh opp papel nies ese que formacio das vindées pstoase parucularmete da Entvret no sets dierent, por tuera, da formagio que permite SObresuinse sobre os outros addon e dig os. A mesma aprendh {gem deve orm apes de nade ede poder Assegurar a directo de ‘Sexe, exter gztao da propia casa, parteipar Go governo da uae wo res press dg meamo tipo. A Eroninca de Renofonte ‘mostra bem. en sss tres ate, a contnvidade,o Bomorfismo, a8 Sim como u sores cronolgies dem nstauracdo na exstencss de tm iduidue-O joven CotSbulo airs que dl pare dune ele € cx fur dese dominate de alo masse dear leva por seus deseos © rae Terese Socrates lembrache que estes so como serials sobre os {uns convem masters sutoridade) portant ehegado 0 momento fur cle Jac casa ede assepurar com sun esposs a dies da casa: € xo governo domestice~entendigo como getto de um inlenor ee: Ploracio Je um dominio, manatencio ou desenvolvimento do pat Tonio: Xenofone far roar vans vere qe le consti quando ‘Momtee Je de dedcarse como convem, um noliel prepara fricae moval para quem quer exercer seus devetescvcos mar su {utordade plbia,¢ assumir tare de comando. De modo ge iodo o que serie paras edueaga politica do homie enguanto eds tip ihe'serouea tambem para creretar a vrude eInersamente: oF ss nto. Aer mad far ar pati Homa re rtm um papel deerpenhar na eidadee com feleho aos outros SLTaSO tem gue uulzar procedimentos diferentes: aginst es ro fas deveshenciasa musta ea aprendiagem dos itmos wise vigor Sos. pratea da cca e das arma 0 euidado em se apresentar bem em Puig ga do en fr vom gone ree exo anes d respi qu ete para com 0 outa = Lado 89, 2 mee tno empoformacig Go home que ser ll pata cidade, exerci Tora daqucle gue gut se dominar #simesna. Ao evar as provas n

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