You are on page 1of 6

Prólogo

Zênia viveu à frente de seu tempo: foi a


corajosa mocinha que, aos dezesseis anos, saiu
sozinha – ainda que autorizada – da casa dos
pais, e, rompendo vários paradigmas que mol-
davam o comportamento das mulheres do iní-
cio da década de 40, foi tomar conta da própria
vida e cuidar de transformar seu grande sonho
em realidade: ela foi ser bailarina.
Dançou e dançou e dançou e, aos vinte
anos, se casou. E teve filhos e netos e bisnetos.
E hoje, essa senhora de 81 anos, desta vez fa-
zendo sua realidade materializar um sonho, es-
creve este livro, onde é (re)encontrada em seus
textos através das pegadas que eles vão deixan-
do, página após página: quem passou por ali só
pode ter sido a mulher arrojada que, mocinha,
pousava levemente sobre as suas sapatilhas de
pontas nos palcos por onde se apresentou, e,
hoje, sábia senhora, pisa firme e solidamente
em terreno conhecido: as relações amorosas
da mulher moderna (e, cá entre nós, de muitas
“pós-modernas” também).
Num mundo onde os livros de receita
estão perdendo de longe para os pratos conge-
lados, este livro, que se entrega nas mãos do
leitor como um depositário das experiências de
uma mulher bem vivida, chega a ser delicioso:
rescende aos antigos almanaques, onde se en-
contrava de tudo; onde sempre se achava o que
se procurava ou o que sequer imaginava que
existisse – assim como nossos relacionamentos.
Sem pretender ter sempre razão, ciente
– sábia que é – que os tempos são outros e, por-
tanto, outras são as pessoas, ela nos faz pensar
nos homens e mulheres que somos quando que-
remos ser um casal, e nos percalços que, entra
ano, sai ano, entra década, sai década, parece
serem sempre os mesmos. Daí a atualidade que
emerge tantas vezes de seus textos. Na era do
individualismo, dos restaurantes cujos pratos
são individuais, pensados para pessoas que se-
quer dividem gostos (que dirá vidas!), ficar jun-
to tornou-se ainda mais difícil. E aí aparece D.
Zênia, dando, sem receio de parecer anacrôni-
ca, pequenas e saborosas dicas de como se faz
– porque se fez durante muito tempo e há muito
tempo vem dando certo, ainda que se queira fa-
zer parecer que não – para lidar com situações
(in)comuns nos relacionamentos.

Maria Valéria Padilha Fernandes Rolim,


Educadora
Vocês estão no auge do amor

Ele chega quase de repente. Aproxima-


se de você como símbolo de todos os seus so-
nhos. Quando fala, suas palavras exprimem o
que você sempre desejou ouvir de um homem.
Lado a lado, parecem feitos um para o
outro e ninguém duvida disso. Ele é divorciado
e alguns anos mais velho que você. É a perfeição
em pessoa e tudo parece conspirar a favor des-
se amor. Ele propõe uma viagem pela Europa.
Na viagem, cavalheiro, delicado, ele é o compa-
nheiro perfeito. Paga suas despesas e ainda lhe
dá presentes. Você não tem dúvidas de que ele
encontrou, finalmente, a mulher da vida dele.
Deslumbrada, feliz, você só quer retribuir tanta
dedicação, tanto amor e tanta felicidade. Você
sorri com ternura e a sua resposta é uma lágri-
ma brilhante que mais parece uma estrela em
noite de lua nova.
Todo seu potencial de amor e sinceri-
dade você entrega a ele na mais sublime das
doações e pensa: enfim, encontrei a minha
alma gêmea.

24
Mas, o seu grande amor, de repente, sem
mais explicações, depois de um pequeno e fútil
desentendimento, pede o tal famigerado “tem-
po”. Você não acredita no que ouve, pois, ali à
sua frente, está um homem sério e determinado.
Parece querer dar rapidamente um fim a tudo,
como se nada tivesse acontecido entre vocês.
Você não acredita naquela cena, que mais pa-
rece um filme de terror. As lágrimas vertem dos
seus olhos como se o seu amor estivesse esca-
pando do seu coração pelos canais da desilusão.
Enfim, ele junta suas roupas, bate a porta e,
assim como chegou na sua vida, ele sai sem dar
maiores explicações.
Você acha que ele a deixou por outra?
Não tenha tanta certeza. Pode ser que sim, pode
ser que não. Na dúvida, siga o seu rumo. Chore,
sim, mas use toda a potência de sua força mo-
ral e levante-se. Lembre-se de que existem dores
muito piores.
Se você conquistou um homem que lhe
parecia perfeito, você é uma mulher fora do co-
mum: encontre outro.

25

You might also like