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Colesso ANTROPOLOGIA SOCIAL Mlieor Gilberto Velo Gilberto Veths e Karine Kurcnie enano Vanna “Ti Rll Vihene HERMANO VIANNA O Mistério do SAMBA 5* edicdo. WAE. com SOPIADORA DA BAL: USUI ne ots 3 Jorge Zahar Eaitor "Eaitora UFR) « ‘onsrtiag bosasene slleira, Nunca me sent tio “brasileiro ese sentimento foi [mediatamentetransformado em material de pesquisa para © desenvolvimento da tse ‘Manifesto agu minha gratiao (e grande admiracto) pelo professor Howard §. Becker, meu drentador em solo norte Sinericano, que muito iflvenciou minke manera de pensar ‘Brasil ea antropologia Howie, como exge ser chamado por Sous alunos, tansformowse também au de meus melhares smigos. ‘Outro guia importante no periado em que passel na North western flo professor Paul Belin, que me introduzi nos Imistéros da etnomuscologia © da mbua, inebrante instr mento de percursdo africano. Tambem sou muito grate 208 Protessores, alunos funcionsrios do Departamento de So- Enologia da Northivesten University soqual quel vinculado insttucionalmente Virios amigos fizeramn todo opossve para que me sentsse fem casa nos Estados Unidos’ [alian, Erk, Mathew, Arta ‘Doug, Tun, Norman, Teta, Gara, Esther, Dianne. Com eles também debatt muitas das idelas que depois e tornaram ‘indamentas para esta obra. DDiversos outros amigos acompanharam de pero (maitas vveres sem ter conscienca disso) 0 desenvolvimento deste Itabatha no Brasil, contbuindo para seu resultado: Luiz, Barrio, Sexginho, Sandra, Silvia, Fausto, Caetano, Calinhos, Branco, Brito, Lau (vériog deles atuaram ate como meus {nformantes durante periodo em que eu anda pensava estat fazendo uma tee sobre o rock brasileiro), Muito devo a Re fins, que leu slgumas das primetras versdes do texto fez Eugesties que so poderio ser incorporadas integralmente eaves de outras pesquisas Finalmente, sou gato a meu orientador, professor Gilberto, Vetho, pelo estilo intelectual nfalivel, pelaamizade ingue- brantivel, pelos prazos inevitavelmente rigidos, pelos tlefo- zemas de madrugada (dez horas da mans para mim é ma- Barbosa influancion comporitores ervditon portapueses que também passaram a asinar suas modinias TE quando comesa 0 petiodo de “Itallanizasdo” (pois os compasitores portuguests geralmente estudavam na Talis) {2 modiahs, coma influsnca das opereta, também grandes Sessos na Lisbon da epoca, de Bellini e DonizotiE com ssa nova Toupagem que » modinha volte para o Beal ta ida pela corte do futuro dom Jodo VI) No Rio eem Salvador, nova modinha tora a influencar os musicosbrasiltros ¢ ssa por uma fae que Tinborto cham de "repopularizagae E renacionalizagio" [Tinkor3o, 1985: 19) Como jé possvel perceber ovaivem de inlucneias, inclusive nternacional nso [xperou pelo advento das meinseetonicos de comunicagt0 de masen,ou mesmo peln divalgagso dos primeitos discs, Bra ova moan em gvees miss de a Depois da proclamagio da independéncia, ¢ durante o reinado de dom Pedro 1,2 medinha ers pare integrante da vide ds nova corte, ou pelo menos da pare “sombra” desst ‘corte A marguesa de Santos, amante da impersdor, preter plo, sus intinidade e nas festas que dava em seu palcio Se So Cratdvdo,cantava modiahas e undus melancdicos ‘sompanhandovse como dedilnar nas ona do choros is frumento [o volta)” (Movi, 72-65) Aina segundo seu biggrafo Caton Mati os paderosos amsgos mais intima ‘marquess de Santos tambem se dedicnvam | misics popu Futhcno om Pare mec eins fe fg Mares oo ida Gepunde Caer Fry, 174 TOM, mamentncr pee compe {or Sgaand Neck. “spn preande de soph Hay” ietevec di dyno densi asi ‘populares naga ep sure te'0 sro Ue Caer Go {bbe nino vas nae raquentavon-na personalidades eminentes. Goncalves so eptad gral inimigo de Jose Boao, Jose Ce- thente Pereira [ministro do Império, ministo da Cucera e Snndot] eo cinego Janusrio da Cunha Barbosa [ebnego da Ciel Imperial, diretor da Imprenss Nacionale da Biboteca Pllc ato dos mais asiduos E nos sarauso clnego cost tna deixar de ldo» plitin para tear solo e canta modi has” (Maul, 6/41.) Em meados do século XIX, renovagio {ou 2 renacionl asia, come quet Tinhotia) da modinda teve 8 partlpagao te wiriossegmentos da sociedade brasileira. Come diz Gil bosto Feeyne: "A motinha (..) foi um agente masieal de un Feng beset, cantada, come foi, no Segundo Reinado, por tinea somdo piano no intertor das casas bres e burgess; pr outros, a0 som do vido, ao sereno ou 8 porta ate de palhogas” (Frey, 1974 107). Entretanto,o fendmeno que Imais contrat para essa renovagto da modinha fo a ite "ig de musics com ovens intelectual eeseritores roman {5 © principal Iocal desses encontros era a Spogratia do “ecto ¢ poeta tlato Francisco de Paula Brito” (Tinh, 198620), in Praga Const, hoje Praga Tiradentes, no Rio de Janet, eaentada por Machado de Assis, José de Alencar, Gongalves Dias, 0 misicoe poets (de ascendéncia ‘igana) Laurindo Rabel além de “iserumentistas das das ses populares (Tnhorde, 1986 21). Um encoateo entre inte lectuais e misicos populares que, como vimes, vai se repetir rns hstria do desenvolvimento do samba Em Vida e aba de Paul Brito, Bunice Ribeiro Gondim escreve que “toda a geragSo romantica efebv de 18391861 frequen thu a esa de Pals Bnto” (Gondim, 1965.59) Sua tipogratia fea paleo de uma ceunito de amigos (© iimigos) depols ‘hamada de Sociedade Petalgca (que vom de peta, ments) Machado de Assis que fol Upgrade Paula Brit, assim Aiserevew a Socedade ELITE SRASISIRAE MUSICA PORULAR a (> onde a ada a gente, politicos, 0 potas, 6 ‘idenergen costa ove orci anda: fe umigo ¢ curlose — onde se conversa de to, {ides sind de un ministo stem pirceta da dang fina da moda onde se dicta fo, desde od do peo Se vamteick ate dcuron do Marga de Pean, ‘ater campo neutro onde oesteante da ear {xContava como onselhere, onde o cantor alan Slatogavs com ex-mumstos (toda em Gondin, 1963 5 © folcorists Mello de Moraes Ftho acrescentaoutras lem- brangas a essa pi ctadas. ne lja de Paula Brito, o maestro Francis Manoel, ‘para descansar de suas composgoes si ‘rise de longo flego, punta em misca hymnos © lundils ‘aguele porte" (Moraet Fiho, 1904: 154). Como & possivel pereeber& partis desses depoimentos, o “campo neutro” da Hpograta ea na verdade Um terstrio de muodiagoes inter cltursis, posbiitande o encanto de grupas socais de vi rise procedéneiss. “A ewsténcia de individues que agem como mediadores cultura, ede espagos soias onde essas mediagbes to it plementadas, ¢ uma ideia fundamental para a andlise do Inistério do samba A cultura brasileira é uma cultura hetero: ‘ines, em que podemos notr “a coesisténca,Rarmoniosa ou ‘no, de uma phralidade de tradigtescujes bases podem ser ‘cupacionas tna religisas et.” (Velho, 1981: 16). Ae Terogeneidade cultural € uma das principae caracteistias da sviedades complxas, que podem set vistas como “pro- ‘Suto nunea acrbad da interacho e negociaglo da veaidade fetivadas por grupos ¢ mesmo individuos cujos interesses ‘Ho, em principio, potencalmente divergentes” (Velho, 1980 17), Nest stung sunge a possibilidade de constitugio da- {uilo que Gilberto Velho denomins “individualidade sing He" ou "individuaioagio radial COuanto mais expost ative otra experansas diver ‘Ncadayquanteonais iver de das contador e visor dle mundo contestant, quanto menos fechada for oa rede de rlagio no nivel de seu cotdiano, mais Imarcada sert sua sutopercepgio de inivdutuade ngulrWelhe, 1981 32) 2 ‘OMISTENO D0 Sax iss individuos “radia” e extremamente sngulszados podem elaborar projets que team somo objetivo lal {ep (etambem a intnsicacao 9 sergio neg) dasteceas eoutos tips de lags entre doo mals" os" que participa da heterogeneidade cultural das sacle aces complesan® ‘Um dos principss “sguntes mediadores” qu frequent: ‘ama spograis de Pauls Sits eso susie saico itr {aurindo Habel. Vale pena ctor guns cetaes Se sun ‘ogafia coma exemplo di posslighes de media cl tora em mendos do seo paseaco. ‘Segundo Mello de Morats Fb, no Livro Artists de meu tengo, acontecimento desi pasa fila de Laurindo abelo fia carta glade 13 de srl de 1718 que deportou ‘or cigonon portage para Bras Caurind nasteu no Rocia noo de Janeiro, em 1825, ¢tve ana infact pobre, tntentandotambem desde cedo “a poconcetosocal (que Sonia como mestgo rovadorigusro de bem divers roe (Moraes iho, 1905 145) Apesnt de seus "esblie lou", rm sto como um “rovador moreno ‘Eases preconcelfs forasn mus fortes ma juventude do que a maturiade de Lavrindo Se us da fat de er ear imped dese uni om" amor de juventade": al condigio Fasano for empecihn para son celebridades (tame ‘bm intlestat) entre a le imperil “entra seguir» ctr altar ser padre, mas acabou entrand paras Escola de Medici, Com ficldaies fina ‘erasparsconcarseucursono Ride Jaci fi comida pelo consetheroSalastiana Sovta ai termina seus cstudos Fete Fede ou pan Brea oa mi trabahou no hospital do Case, depois de Giga com seu hfe, ft transferido pars 0 Sul do pets Estudos, mudangase atvidades médias e elites rio 0 aastaram da poesia ea mica. elo cotrrig durant todo tse periodo sua fama de “nosso Bocage” a fesepalharse Por todo o pa 3, Mle ove su i dp meviat,cama de mein sory merino pote mom os Mello de Moraes Filho diz que a presenga do trovado? ‘igano ea requlsitada em maior “"sarsonde fama” realize dos maguela epeca no Rio le Janie. Eis aqui uina bow des ‘rigdo do que acontecis nesses “sas” Em geal depois de adeartads hors da ite, quand» isa i estidente as doneas fervam eos, Certo rmero de apreadoresapinnavae aa rot de Taurinde que, mene! «bard 4 wn dos Spon ds sal de anti cantava a0 volo seamentacs mens 2‘ bulgooslundar (Moraes Flo, 1D 1705) Outro musico da época que pode ser considerada tami uum mediador entre varios grupos soeais € Alenande Trove, dor, desrilo por Catulo da Pabao Ceazense como um “preto ‘magrinko' (Maul 3/42: 40) «por Mello de Moraes Filho come: tum “creoulinho (.) espero, sagaze habiioen” (Mores Tho, 1904: 155). Alexandce aprendeu “a pentear senoras” no clbeaireir de Frederico Res requentado por foae Caetano, pela familias Abrantes, asia, Parand-e Uruguay) que tem. bm fcava na atual Praga Tiradentes” perto da ipogcafa de Paula Brito. Sua fama coma cabeleieita logo se espalhou pela cidade e Alexandre camecou a ser requisitaco para peter, 4 domicilo, a imperati,» princesaTesbel ares, con essase baronesasalém das atizes Francesas qu no Rio se 'presentavamn. Mas os dotesaristicos de Alevandlre nao se restringiam aos penteados. Sua voz "mista de soprano. cor tealio”tombém conguistaro a cidade, antavedperas lianas modinhas braileiras, send que as dperas também exam companhadas 20 violSo que segundo Moraes Filho, Alexa Are "tangiaeximio”.C mesmo autor afrma gu" descom- nal Trovador assignalou uma época” (Moraes Filho, 1904 156). Tanto talento no oimpediu de mocrer na pobreza e er seu corpo enterrado em vals cami Entre outros misicos importantes daquela Spoca (de mes dos para 0 final do século XIX), lebrsios por Catulo da de hd doy Disa Cra & promise ene care ara ‘nleidere lca sedge mec ou ven inane indo Ceatense, podem citar 0 “morenos”Tinoc, Jodo Flas e Anaceto de Medeiros tambémn adeirado por Carlos nes —Freyre, 1974 108), 0 "negro" Eduardo das Neves © C'Sinho das Cioulas, descrita coma de "belezs apoline, evendo tl apeio ao fata de que "6 amava as exoulas” [Maul «/a 41). A pele escura dos mic nao parca ero poser de fasts lon da fama, por mais momentinea que foe, tanto 3 elite caviaca da época. Tampoueo 0 vies fl total mente afastago diy sara fomtarescarioeas, apes de toda 2S tendencia eeuropelzante do piano, A tc anti de Ca de Pt Canes unben pre mina alguns aspects la shiagso do msi poplar Exo media lard entre mundonatins dni, Sin versio bras, Faso avidade mediadoraperpossu 3 induc caioc. period no qual muitos sutores sen hin uns toll sepscagao ene aullura das elie ea eutur fopulat no oe ans Esse & por exemplo, 2 opnito de Feey Newel, par quem na i sopueopial, que vat die 19980 91s a tena dominant era dep um fin oo Sas algo, so Baal afiana” que ameasave sas preten Sts chilis. spesar de se tata de uma Ata bem inmaine tele! (leeell 1990.97) asatambem € opin de Monica Veloso, sue ecreve em As Halper popu nz Sie agar cas "a endeusemento do meds Gzatno parsiense € concomitante ao desprestigio das nesas tad [SSes (_) Mais do que nana culture popu ¢ientiada Sct negativism, ha medida en que no compacta com Salores és meoderidade” (Vllos, 1988-8/9) continua "Now alos da mods, nos cafes conerénias eri, releéncia ao natvo atinge 0 maximo de deegualicago™ ‘Welloso, 58h 17) Mas 00 lad dessa tendénia re-europe- Se como que Cilberto eye) aver até dominant no Jy’ Nol pr tpurtinar? exrao ea prone gue vida snus tance arn, 1) iodo subsistiam (nto se se vale a pena usar agi a idéia Te'resistdnca) «foram inventadas priticassociais que colo- favam em cena um outro ipo de flagio com os universos populares. ‘Cate nasce no Maran em 1863. Passou sua inna no interior o Ceara chegos a Rio, 30817 anos, com opal, que ere ourivesleltor de eissicos da iteraturs, sao rsicir fim Botafogo. Seu pal, Amancio, morreu em 1885, deixando CCitalo em precivia situagio fnanceira, sendo cbrigado 2 trabalhar como estvador na porto do Rio. Mesmo durante ssse periodo de estiva, ole jt cantava suas modinhas em “esidncia ce sbastados”-Foi num dessessaraus que Catulo conhecesoconselheito Gaspar da Sveira Martins que Pouco fempo depois convidou para morar em sua resdenia Ro Jardim Botinico e dar aulas de portugues para seus Silkos. fanto de Catulo comegau a conguistar mutes admiradores fa lite da cidade. Suae modiniasfaziam sucesso nas "reu ‘ise Ieso-musiais” na casa do senador Hermenogiido de Moras e nos saraus de Mello de Moraes Filho (que nessa pecs também “promovia desfles de recorstitigto de moti- ‘os folelricos, como a: “Pastorinhae’ «os ‘Reisados"™ — Maul, 5/42: 25, ‘Oxo sso importante dessa vrada de século foi 9 de Alberto Brandto, fequentado por Sivio Romero, Barbosa Rourigues, Mello de Moraes Fito e Rat] Villa-Lobos, sempre ‘compantado pelo filha Heitor, tio com 11 anos de Made. Segundo Vasco Matis, “eram noltadas memoraveisem que se teneantrvam bem representados todos os génezos musicals Alo Nordeste” (Maria, 1989: 26). Em plenafele cpu, 0 Rio tle Janeiro vivia ume "moda da reglonalizgio” que tomo conta da misica popular José Ramos Tinhorio interpreta fssim essn moda: em umn "gosto pelo extico nacional, que Aledo primeira ddcada do stcula XX 0 pabico dos slides comecoua cultivar, numa atitude que punha em moda 0 {ilérics (Tinhorso, 1986: 35) Catulo, como veremos, vai ftber se aprovettar muito bem do interesse que as coisas ortstase sertanejas despertavam. 5 Lemiremos gon prowinn don 0 fdre reo tava ‘end pao nos op sb stn e Ss emer. “ ‘omistemo 0 save Map antes de virar um “cantor sertanejo”, Ctulo ainda viveu seu momento de gloria como mestre das modihas nos {aloes carioces Segundo seu bidgeafo Carls Maul a consa- fracio se deu-em 1006, no slfo de Mello de Moraes Filho. O Ristoriada,pattico e jomalista Rocka Pombo publicou un tligo sabre certa noite, no Cerro de Mardi: quande Catulo prou de cantar "houve uma verdadeira explosto de delitio, Eo espoatines, tho ruidoss, tio vibrant, como se um form. dgvel tfto orafustasse naquele ambiente” (tado.em Maul, £/d2: 27). Depois disso, Catulo cantou para Ru Barbosa no Solar da Rua 0 Clemente ("Lemos Brito acentua que de seus [de Rut Barbosa hos desceram lgrimas” — Maul, s/42:33) em 1908 apresentow suas modinfas, zo volo, ne Institute Nacional de Mica, que era dixgido pelo macsto Alberto Nepomuceno, Ent 1914 Catulocantow no Palicio do Catete, ‘nile residenca do presidente da Replica a convite de Natt de Tetl, mulher do presidente Hermes da Ponseca, Em entrevista a Carlos Maul, Nair de Tee fez os sguintes comentires sobre seu enconto com Catule: “No Brasil da ‘quela epoca (~) 56 secantava em linguasestrangeiras, prin ‘Spalmente em fancts, italiano e alemao. Eu mesma s6 can tava nesses idiomas. Devo a Catulo a sugestao de cantar de preferénca na nossa Lingua.” E continua: "Ainda resdind poCetete esa dar uma audio exchisivamente minha com tangies e poeta ecompasitoresnossos De entre estes dest ‘que! Chiquinka Gonzaga” (Maul, 5/42: 69). Dona Naie eva {gera a0 izer que no Brasil "s se canta” ers Hingua esta Geir, talvez para se apresentar @ historia come pioneta Como vimes, em muitos saldes importantes do Rio deanezo ddaquela epoca se valorizavam e mult os cantares nacional ‘Nair de Tete certmente fot orajosn a0 cantar nitos racionais para convidados co Palscio do Catete Rut Barbos, ‘mesmo que chorou quando ouvis Catulo da Pando Cesren- Sse-em casa, nio perdeu a oportunidade de, nos jorals,con- ‘denar 9 ousadia de seus inimigos politicos! "nas recepgses Dresidenciaiso Corl fcnéexacutado com todas as honras de [nisica de Wagner eno se quer que a conacéncia deste pals Se revolte, que as nossas se envubescam e que a mocidade se 5" (Gtado em Efege, vol. 2 128). Nossas opines e esses fexageros devem ser contextualizados para nao serem toma os 20 pé da letra. Nem Rui Barbosa detestava a musica popularbrasileirs, como veremos, nem o governa Hermes da Fonseca foo primelro a inreduzir os itinas nacionats nos Palicioe (Rei de Ouro, primeizo rancho carnavalesco aria, fun- dado pelo tenenteHldric Jovino Perelraemy 1983 numa ten- tativa de reprodusieno Rio de Janeiro os fsteosbalanos n> dlemorow muito a se apresentar para elite governamental Em 1894 0 Rei de Ouro cantou em pleno tamara diante do presidente Floriano Penovo.O tenente Hilario nao se espare fava muito com tal plats: "Na Bahia, os ranchos fazer ‘erimnias na Praga do Palacio em comprimenta 20 governs ‘dor” (entrevista a9 jornalista Vagalume, realizada em 1831, ‘atada em Cabral, 19745), Porque fngir que esa intezayso ‘lite/cultura popular nto scontecia? Porque cizer que nossos {sicos populates eam simplesment reprimises ou despre {ados pela elite Brasileira? (Outeo aparenteexagera das "bemintencionados”defensores das “cok brasletras”, mais ou menos contemporineos da Dalle Gpoque,& dizer que o violSo desaparecera dos saldes arlocas pata dar lugar quase exclusive ae plane, que azo pankava principalmentesrias de operas salianas. Ess arg mentagio esté presente er, por exemplo, O tnt finde Po ‘arpa Guaresas romance Lima Barreto, publicndoem 1975 'A tragic historia de Policarpo comega com sm eapitslo iniulada "A ligio de vila0". Nele, 9 her do romance, © rajor Policarp, depois de adquirir “certeza”, consultando “nistoriadores, cromistas © filwotos" de que “a modinhs scompanhada pelo volo” seria" expresso postico-msical aracteristca da alma nacional” (Barreto, s/4 16}, resolve ter Sulas dagueleinstrumenta com o ovador Ricardo Corncio dos Outros. ‘Gua decisto nfo ¢ aprovada pelos viainhos suburbanos carccas, que exclamam: “Um homem tao sério metido em tais malandragens; "Um violao em casa to respeitsvel” O major “estava perdi, maluco, diam” A defesa de Poliar- po era nacionalst " preconceito superse que tode 0 ho- frm gue focs violgo dum desclasseado. A modinha € 3 thais genuina expeessio da poesia nacional © villa € 0 trstrumento que ela pede.” E para a defesa da modinka ita fatos hstoricos e autores estangeios: "Nes @ que femos sbandonado 0 género, mas le jvesteve em hong, Lisboa, ‘noseulopased, com PacreCaldas, que teve um audlteio Se tidal Beckford, sm inglés notte, muito elogia” (arreto, 5/12) (0 problems ¢ saber quem ¢ esse “as” que abandonou a ‘modinha. Na sequéncia do romance, algumas passagens sr- ‘em para elativizara impressao de que oVioldo ea modinha {e tod cultura poplar nacional) essem eaidoem desgrs- {rn Rio de Janeen daquela época.O propre Ri {G0des Outros nos éapresentade come “um arts for ea honrar as melfores familias do Mle, Pe {chucl [betas do subsrbio do Rio de Janeiro)” « “sua fama Js dhegava a Sso Cristy e em breve (ele oesperava) Bota Fogo le hairo privlegiade pela elite daquel éposa]convidé Tosa, pois os Jorma ft falavam ro stu nome e diseutiam 0 sleance de sua obra e'de sua poetica” Barreto, 3/416). ‘una festa na casa do general Albernaz, vizinho de Poli> corpo, ts apeesentages musicals mostram tim grande aprego Se jovens e velhos pelas “coises brasilias”, tanto que a “romenze alana” cantada ao piano pela “famosa fila. de LLbmos” (gue i ise formar no conserva) for recebiea ‘com fez, ao passo que o volto e as modinhas de Ricardo CCoragio dos Outros foram “sim trisnfo" Apesse de toda 9 teonia de Lima Barreto, podemos notar a descrigao de uma sccecade conraditria gue, “da boca para fora, pareia con denar a cultura popula carioca, mas que aplaudia essa mes ima cultura em sa vida cotdiana. Ou uma soiedade hetero [Eénes, om que 2 condenagio do brasileiro convivia com 0 Splauso a esse mesmo brasileiro, dependende da stuacto, da festa do grupo socal que estava sendo freqoentado. De lguma forma, © taeteria de Ricardo Coragae dos Outros Tembra muito a de Catulo da Pabsio Cearense Sé que Catala zealizou 9 Sono de Ricardo: conquistar Boratogo. LITE BRASILEIE E MESICA POPLAR ° [Antes dese apresntar no Caot,Catulo da Pinto Cen renee langata aus grandes te nordestins, estos em purcera com o vilonsts foto Perarnuce, como 2 toada Effects Caamngé (1912) e-0 coco Liar do seriao (913). 0 tronista Luis Edmund, novo O Ride nea de me ene, logis Catlo por rebar "a cango parca e popula, i penioda pele preconcsite desnaconalizador(etedo.em T- horde, 18638) ise tom nacionalista no 9s deve enganar# entrada em cena dos endticsritmos naionas lo siiicou nessa Shente une condenagio. das vogas estrangeras. Devernos lrsidera o sucesso “sertanj como tum dado 8 mals na Sthedade snsial da €goca Os virion tos earopeus © yofteanesianos nie defaram os sales para dae lugar 2 Enotes e cos Pelo const carnaval de 190 08 gran Sts Reesoe foram "gale pee, plea de Artur Canong ‘ts prnins da Mace, poeashabaner de JS. Avion; © Slo pate oii pols-ungu de Jose Soares Barbosa See peli wet medi, oleachula de Avllo” figuravam no Fepertoro fos “alsas,quaceihay xates chalice) ae ducas e hanes” (aleoea, 1960 143). Esa dversidade intemaional da masien poplar caravaless continuou a imperar por décadn ate csaabs ss consliarcomo 0 tno cearnaval spor exclerca” Aliso repertorio do carnal Sts anos 46 fl beande cada vex mae ecto Ineluindo do soc itmos “seamen” naclonais mas tab as noe dades do pop nortesmescano, coma pe @ chaeston Santo queen D6 o maior sesso do Caravalcarioea foi o onesiep Caste, do jamaican Sam Marshall, istrgado Shetnachtnba bras Tino, 1986-86) O interes pelo {aconal adv demos dadae com osnterese pels limos IRodismes internacional. Eprodutosmusialsde stare dos {ll interesses nfo eram exstmente novidade no Bal ‘lund, por exemple derivado do nitmos ds bat que dos extavee scans ma sun coreogeai eave {fone pare da dang espanhola denominad fandango” Fatoedo, 18651) Por vate de 84 com ainvenSodapokea ‘fo Bros (wane por stn de companhe Se teatro Fane [Ens surgu + foouo plcaiundu. Os primelessinis do Stanive tao carat de tang, poder ser encontades » ‘omstén0 D0 sascan ‘a década de 1870 no repertério dos grupos de chor carioas (O 'maxixe “represetio a versio naconalizeda da polca int [Bortada da Furops” (Tishordo, 1986: 58) ¢aeabou, deals ce Eonguistara elt brasileira, sendo reexportadacomo”adangs {do momento” para a Europa, fazendo grande sucesso sobre tudo em Paris. heterogenelade cultural do mundo atsico dessa epoca toznou possiveis acontecimentos coma est’ em 1892, na pega Titi yor tintin, a az espanbola Pepa Rulz aparece “vestida de Balana cantando ser tango! intitlado ‘Munguai” Tinhordo, 1986.71). O tango era na verdade un ‘maxixe,ensica que Valter infivénca deisva na invengo da samba, 'Até bem recentemente os grupos musicals nto se especia- lzavam au etmo dnico. As orgvestas que tcavatn eo vivo ina Radio Nacional até os anos 50 executavam sambss a0 lado {de mambos ou boleres,Os gripes de choro do final da sécalo XIX também tocavarn valsts a0 lado de maxiaes. As bandas {que animavam o carnaval sariocs do inicio deste secu tocn ‘Yam marcha, fox, maine ouda sertaneja Em 1912, 0 sucesso dda toada Cioels di Caxingd foi 0 grande que motivo formagio, no carnaval de 1913, do Grupo do Caran. Seus Intograntesdestilaam peas rus do Centrado Ro de janeiro com fantasia inspiradas no bando do cangaceiro nordesting ‘Antinlo Slvino & tocando um reperterio bastante eeleco, Desse grupo faziam parte Joie Pernambuco, Donga Pin jgiha, entre vérios: outros nomes jf iustees ma epocs 0 {Grupo do Caxanga ests ra orgem da sucesso de outro grupo. de Donga ¢ Ponguinha, 0 Ost Batts, que conguistow Kio 4e Janeiro apresentando-t0 sala de espera do ine Pals, na Cine, no final das anos 1. Essa histriaserd costae ‘om detalhes no capitulo dedicado sn nascimento do samba (Catulo da Paixio Cearense era um artista muito bern relacio nado. Amigo de politicos, escritoes, milondics, também ‘mantinhs contato\com mulsicos menes famasos 08 futures ‘nventores do samba (tanto que era eqientador da ease de “Tra Ciata,na Praga Onze um dos bergos da cultura sambista). Eire sews amigos sm dos mais gueides era weseritor Ato so Arnos, a quem fer 9 seguinte elogio. "Este mortal, que € ‘everas moral plas ebras que esceveu sobre a vida eo ‘costumes sertanejes, fol um de meus alores amigos. Avinos {lum adorador de tudo quanto ¢ brasileiro, A naturezs & enfetgava.Parecla que o seu sangue era a seiva de nosso paras” (@tad em Mas s/2- 4) DDonga também teve palaras carinses para se lembror de Afonso Arines, 2 falar — em depeimento anotado por ‘su filha Lypia dos Santos —sabre a "repablca” onde mors a, com Pixinguinha e Heitor dos Prazeres, ne Rua do Ria chuelo, Centra do Rio de Janeizo, no inicio des an 1 Enbora vendo um antigo padi (.) noe serinos Ice demos vaste por gente cms Catal da Pai ‘Genrense Oegrio Mariano, Baros Tigre, Hermes Fon tes, Medeiros de Albus ergue, Ednde Bitencour, Emilio de Nenese, Cotemberg Crus e © grande Dr ‘Monso Arinor de Nil Franco presidente ma cpa de ‘ademis Brandis e Letras Hie non apres fan {gue sempre nos convilava para audiet en sats. ‘encarta de otaogo ena sua fazer. no Tore bhdouro,ondeCatulo compass cangiosertanea Opin is mos ee com etado en Cabral 1978273). saa interago com miscus populazes (no caso de Pisin sha e Dongs, muito antes de eles se tornarem conesisos ome integrantes do Oto Batutas) €um aspecto pouco expl> ado da Blografis de Afonso Arnos. Os tents ecrtoe sobre ‘sua via, a brografia clissia de Testo de Athoyde (Athayle 1922) a blograia de Alonso Oliveira Mello (Mello, 1961) «2 introduco de seu sobrinho Afonso Arinos de Mello Faso {sss Obras completa (Franco, 1960), em se eferem aesses seus interesses. Mas as telagoes "musicals" de Alonso Arines ‘© colocam como uma espcce de precursor de wma atitude (esqulzofrenca,dirao alguns) dos intelectuais moderasts Brailes (incluindo equ: principalmente 0 “modernisma” de Gilberto Freyre),divicidos entre 0 costopolitema © 0 Interesse peas "coisas brasleras Estas das vertenes N80 precisam ser necessariamente conciiadas. Um intelectual ome Afanso Arinos pode ser pensedo metho, neo como um conciiadgr ot ceada de sintses ultras, mas como Ym iediadoe no senda de coloear em conta mundes eltrais bom diverss ou, pelo menos de ansitar per virins mands, dessando sone marcas em cada tm dele, nem que Fosse ¢ marca de tomé-os expostos go que vem “de fora” Qual outra Seria sua intensao a0 encenay, durante a Paimelra Guerra Mundial, um bumbaemeusboi no Teatro Muniipal de S80 Paulo (Carvatho, 1972 733) ou ao prepara, como surpresa pra os elegantes convidados do baile de encerramento de ‘ima série de conferncias sobre “lendas e tadigbe brasil ras" realizado em seu palacete paulistano, uma apresentagdo de cateot feta per “aukEntces” cabocles paulistas (even bo, 1952: 239) ‘Afonso Arinos.asceu em Paracat, Minas Gerais em 1868 Era filho do snador Virgo de Mello Franco, om nove anos le idade, mudou-e para Vila Boa do Anhanguera, endo pale Goiss Dela ssa em 1881, pare Sto Jato del Rey, ‘epois pars o Rio de Janeiro e depois pars S¥0 Paulo, onde fursou # Faculdade de Direito na mesma sarma de Paulo Prado, futuro autoe de Reto do Bras! © mllonsrio que vai finonclar metas das atvidades dos moderistas no Bras incluindo as vagens de Blaise Cendrars ao Ri>de Janeiro, 40 Paulo © Minas Geta, Os amigos de Afonso Arinostcavamh impressions, segundo Tristza de Athayde, com suns "ma: noasfadalges” Seu sabrinho Afonso Arnos de Mello Franco cle que el ea "elegant egastador” alam de ser um aoeelo ‘monarguista contra recemproclamada Reptilia, ‘De vols @ St Joto Dal Rey, depois de formado, Afonso Arnos comegou a exerever os contos que seriamn reumidos no livro el sett, marco inca do regionalism literiro Bras leo, Seu temaseram barguclns chapadbes, busi, descre- ‘ene, mama fentsiva de manterse fil Enguagem lal, ‘uma rego do Bras! que eambem seria explerads naiteraturs de Gulmaries Ross [Depois dessa dpoca em Sto Jogo Del Rey, ua vida se ‘ransformeu numa viagem constant entre © Rio de Janeiro, Paris, Sao Paulo, Belo lrizonte eo cerrado das reonder3¢ ITE BRASLEIA E MUSICA POPULAR s de Parca, En Pais 78 amigo do conde aE, da princesa isabel, do puncipe D. Luis No Rio, de Machado de Assis, hve Bila Coe Net, alm de frequent as redas msi {ale de Catlo, Dongae Poxingeinda. Em Paracas, passavs oes asampade com vague. isle de Athayde sais vida ea iteratura de Afonso Arinos como produto de uma “tendéncia conradtéria” ou Sb gio detuma “polrdade divengente” que € 0 conflto trite “cosmo” seg” (Athayde, 192246) Ease Serta um ama pasa de Alonso Arie, mas de fodsanacionalidade bras, "que @gerlmente 9 Ge todas a8 nacionalidades center” (Ahaye 1922 43), nso chega a ecorer & fEemunologis de Freud pars falar os refleces desse grande tiame tational na vida de individues como Afoneo Arinos: 12 luta de duasIibidos “s concupisctncia do grande mundo fh concupacenca ds peguena puta” (Athaje, 192249) Gals id en ett “Arnos vive no eange +o, ou melhor, em viagem, porgue senia em sus ore esa punto do desonhecd (Anayde, (pa 3) al tn [Ehnatitade lords gue Sprocursea fair um regionals Cueto gue leva Sr stesbes eos preconcetos” (Athayde, S025 23)" As mesinas preccupagdes de Gilberto Freyre, out Tegionlsta cosmepolls, como veremos mais diane. O ro- uo Frey once esas semethangas em artigo pubic Eo he ie Pornartace em 8/10/1928 Demodogue Ain ool na vida cata definitive {eentrvinsouespetada sum plscar decoreas com tim endergo gee junio euistse 0 nome de pesson mor oudecdnde desapecida Arie fl ot ‘Srtseemproirevir Sempre volta ap remetente para (hue ete avivaase um enderego palldamente exto = {Ufa Bo reretene era agua “pequena psa” que © plondn somo sntsaner de odo. E se pergunta: ‘Mas ni ser cata ou mngrama com enderego ead {oe rare pars vecagortum Bra com de je 23 Geepe 1878 val 79). Afonso Arinas tentou pensar todas essa contradgées entre ‘tapi’ € “coume”,estangedeo € natvO,AObre etic, O- -vimento da viagem e permanéncia da adigso, um pequeno livre, quase esquecido, lansado em 1900 e nttulado just. mene A unidaae da patria f com comentarios sbte esse IN {ue vou abr © proximo capitulo, iniclando uma disses Sobre o protlema da unidadee da diversidade na sociedade brasileira, problema que tem sido abordado, desde os anos 30, com # epgio pela unidade 3 AUNIDADE DA PATRIA Embora classificada como escrtorregionalists, Afonso As nos (coma Mais tarde Gilberto Freyre) nao pregavs um re {ionalizagio radical ono) Brasil Seu livro A wna da patria foi evcrto para exoreaae esse fantasina, L4 ests dito multe claramente’"o Brasil est ce al modo regioalizado qoe, pars {: provincas nto fiatem abwolutamente estannas umas 3¢ ‘utras€ preciso um grande esforgonosentide de frlilca-se 5 unidade moral da Patria” (Arinos, 1969 887) Seu ineresse pelas “coisas Srasileras” «pela cultura do pova estava liao Frese preoeupagio com » unidade, entre as “coisas Bras leis” misiea poplar ocupava wm higar especta esse grande eforgo anime e por assim dizer suber ieo fal ods ena '4gu na forma dos Mees. fenmarse a tama popular da nasa nactonaltiade com ‘ar lendar erage: comune, woando de Sula Norte fide Norte s Sul as sar ieador da congo popular (nas 195891, ‘Aine, como todo itinerant, nto valoizava o enraizamento ‘20 fechamento de comunidades brasileira em suas tacigoes regions, Admirava a mistura dessastradigies ge, em set ttsbatho “andi” e“subterranes v3! inventanoa niga {e brasileira, Por iso eloginea 0 baiano que tetbalNe Tos ‘lerais de Sto Paulo toa caxambu, o eearense que povos 3 Floresta Amazénica, o boiadelzo e o barqueiro que percor fem inceasantemente teriterio brailena.£ 10 pove e nA

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