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some i anleed Ea ell ne) vIdOsO ley RA E(ofe\ 7h eXoe- Re ME BECO\ EL) ore i eo. E110 [ee mae Ela eiyey.c) (ello Xen plop mom ale | ee Cool aay Acetone ce) eee ea ee] NVICGILOS 4 HDSZLAIN | | % J ee onto] BLATT WIM to1e =) Eyelet) ) fea? a ABBY alo) COVEN MMM Hl) odie Pete eee ieee ENSUE ILI [ost Mell ose ie Coy EA: a ON oy ((erierere me) Beene ater ts [OVE Je Ua 210 Bi BPR eli ETahrfeliyo)}-[ale} TIDIANO MmiosonAcsnsateits COMO TOMAR DECISOES $ ‘Ao fazer escolhas, lidamos com nossa concep¢ao de mundo, da vida humana, das relacGes sociais e dos costumes POR JUVENAL SAVIAN FILHO joderia alguém, em nossos dias, atre- Poe nspondr dictamente 2 pergunta que da titulo a este artigo? Di- ficilmente, pois ela implica uma série de outras questbes que, por sua ver, podem receber respostas tio diferentes, que nao parece possivel esperar uma soluglo di- reta ¢ simples. Diante da dificuldade contempori- nea em encontrar um principio, ou um conjunto de principios, com base no qual se possa tomar boas decisdes, sio oferecidas muitas maneiras de discutir as escolhas. Por exemplo, partindo do pressuposto de que o bem-estar huma~ no é um valor em si mesmo, intrin- seco, alguns filésofos utilitaristas che- garam a pensar em um critério para tomiar decisbes considerando o maior quociente produzido de bem-estar: se ‘a agdo que produz o aumento de bem- estar de X puder causar o mal-estar de Y, entio X deve decidir nao praticar essa ago; mas, se 0 aumento de bem- estar de X nao causar a diminuigao do bem-estar de Y, entéo sua acdo seria boa ¢ justificavel. Nio é preciso ir adiante com ¢ssa ‘exemplificagio para levantar, jé de sai- da, algumas perguntas: 0 fato de mina agao nao prejudicar ninguém implica que ela seja necessariamente boa? Mui- tas vezes pensamos: “ok, nfo vou me preocupar com isso porque, afinal, no estou fazendo mal a ninguém’ Esse € um bom critério de escolha? 0 fato de cu nfo fazer mal a ninguém descarta a hhip6tese de que talvez faga mal a mim mesmo? Ou Natureza? De um outro ponto de vista, pode ser que minha ago seja ma cm si mesma; € quem me ga~ rante que a Natureza nao tem um modo de funcionar ou que a minha agio a esteja contrariando? ‘Atualmente, experimenta-se @ au- séneia de critérios para tomar decisbes porque no parece possivel falar de prin- Essa_transformagéo ipios universais {€OTIDIANO ESCOLHAS ORIENTADAS ‘adécada de 70, um pensodor americana chao Pichare McCormick procurou sintetizar em seu fio Ambiguity in Moral choice as dscussdes erm toma da escola more ou dda decsda Ele propuna Ses prinapios besicos para ‘a tomaca de decistes pondere as impli acées socio’s da decisda, isto 6, procure prevér, de olgum modo, suas consequéncias inertvets, oT o teste da “generalizobildade & maneira do imperat para se perguntar:0 que ‘aconteceria se 9 meu ato ora todos? refito 0 respeito das influércias cuts, cobservando 0 modo como elas interferem ras escolhas e decidfido quais costumes quer seguir ou nd, Aovrerco com os bedoria da experi. cia humana do passa refletindo, principatmen 36 mosonAcénciie Jor aan ito 6 fisofo@ tedogo Dovtor em Rozofia pela USP 05 conenago ea flsoha Marina ‘Cha bacharSfem teolog pel Univers Porica Sle ‘sana di Roma, s0b onentagio co tesloge Francisco Catto. te, por que alguns aspec- tos desso experiéncia foram inseridos nos leis (que so aprovadas pela fo social. Bem o interesse pessoa vezes egoistae nore tome a melhor decisdo. faca uso completo das herangas regio 505, artisticos,polticas etc porque elas podern Jluminar a cernpreensio quests ca vida anual E preciso notr que junto, qualquer um desses princes pode ser reo tiizade, pais, novamente surge a questdo:o que me impede de fazer 0 ‘mal Sera 0 receio de * {que minha ré ocd0 posso se repetir univer: mente? Ou, entdo, 0 evo a fz sa que 0 bem? Seria 0 esperanga também se repita? Que dizer que minha ago rio term um valor em si mesma? Ela € pensado fem fungdo openas de seus resultados priticos? Eaplino do Centre Ns dela Recherche Scientifque de Pars professor do Departarente de Fioso"a Econ Paulina de Meena (Unfesp), ca Universe ‘fo cae Tadeu eco Centro Unvestro Sto Camo ; O valor atribuido a vida humana impede-nos de praticar agdes que resultem no prejuizo de outro ser humano Natureza 0 que € 0 ser € 0 homem pas- sou a ser visto como 0 construtor de si mesmo, Isso ndo quer dizer que, para os antigos € medievais, o homem também no fosse visto desta maneira, mas, para esses pensadores, 0 homem aprendia com a Natureza a sua propria constru- Go. Os fildsofos modemos © contem- porineos, entietanto, abandonam essa cconfianga de que a raziio possa aprender com a Natureza a estrutura do mundo, € passam a afirmar que é a propria razao quem “constréi” 0 mundo. Enquanto os antigos e medievais buscavam descobrir © sentido da existéncia, 0s modemos e contemporaneos, em sua maioria, pas- sam a dizer que somos nés quem Ihe da- mos sentido. Ora, nesse contexto, ‘ago humana parecia mais compreensivel para os an- tigos, pois a decisio moral era.sempre tomada de acordo com 0 que se apret dia da anélise da Natureza ¢ dos costu- ‘mes humanos. Agora, na modernidade € contemporaneidade, 0 homem é visto como 0 construtor de seus valores. En- {o, se ele € o construtor, como justificar que um certo valor, construido por um individuo ou grupo, se imponha sobre ‘outros individuos ou grupos? Quando comega a discussio sobre costumes e opinides, percebe-se que todos cles.podem ser relativizados, caso nao fa- lem de um fundamento universal, seja ele qual for. Mas, falar de fundamento uni- versal é algo cada vez menos comum no pensamento contemporineo, Enquanto isso, 0 ato de "tomar decisbes” vai se tor- nando, cada vez mais, um ato individual, solitério, em que nem sempre ficam claros seus sentidos ou suas implicagdes. Costumes eindividuos Se um individuo disser que, para to- mar decisées, é preciso levar em conside- ragdo os costumes sociais; ele precisara esclarecer também 0 que sto costumes sociais ¢ como eles surgem, afinal, atu- almente, nem todos seguimos os mes- mos padroes de comportamento, ¢ vai ficando cada ver mais dificil conseguir classificar 0 “certo” ou 0 “errado”. Muitas vezes, ao tomar decisbes, € preciso levar em conta o respeito ai vida humana, que deve ser considerada um valor acima de quglquer outro, Essa mé- xima seria 0 que mantém 0 convivio so- cial, evitando, por exemplo, desde certas experiéncias cientificas com seres huma- nos até a discriminagao racial ou a jistiga pelas proprias maos. Em outras palavras, © valor atribuido & vida humana impe- de-nos de praticar agdes que resultem no prejuizo de outro ser humano. Assim, fica decidido nao agredir a vida humana, em nenhum nivel e sob nenhuma forma; © normalmente, para chegar a esta conclu- sio, € desnecessiria recorrer 2 qualquer Justificativa maior que legitime a proib ‘plo; basta lembrar que ela deve ser prote- sda, pois, como se diz, cada pessoa tem tum valor “por si mesmo” Assim, as deci- ses deveriam transparecer a valorizac? da vida humana, sob qualquer forma e em qualquer circunstncia. Mas, diante deste pensamento, como resistir & pergunta: de onde vem a af ‘magdo de que o ser humano tem um va- lor em si mesmo? E, se isso é verdadeiro, como entender, por exemplo, que um cientista pretenda levar adiante a tenta- tiva da clonagem humana? Seré que ele considera realmente a vida humana um uosonacéncatvts 37 iC Como entender que um cientista pretende levar adiante a tentativa da clonagem humana? Serd que ele considera a vida humana um valor em si mesmo ou apenas um meio para avancar em suas pesquisas? ‘valor em si mesmo ou apenas um meio ara avangar em suas pesquisas? E se cle a considera um valor em si mesmo, entdo por que nao respeita seus movi- mentos esponténeos, sem querer forgar 2 Natureza a reproduzir um ser que na- turalmente no iia nascer? Por outro lado, por que nao clonar 0 ser humano, se essa tentativa pode trazer resultados benéficos para a humanidade? Resu- mindo, por que condenar a clonagem? Mas, entdo, volta a pergunta: como se determina 0 valor da vida humana? Como saber o que ¢ a vida humana? No ‘momento em que o cientista deve esco- Ther se tenta fazer a clonagem ou no, como pode ele pensar e decidir? Tomando outro contexto: de que ponto de vista se pode condenar a es- colha nazista quando seus represen- antes decidiram pelo assassinato de .judeus, pobres, deficientes, homossexu- ais etc? Ou, ainda, como condend-los pelas experiéncias com seres humanos vivos (que, alids, sendo realistas, temos de reconhecer como a base de muitas das criagdes tecnocientificas de nossos ddias)? Como dizer que eles niio valoriza- ram a vida humana? Nao estavam eles em busca de uma raga perfeita? O fato de’a terem tomado como um meio para pesquisas médico-cientificas inviabiliza a afirmagao de que eles também a valo- avam por si mesma? Para radicalizar esses exemplos, po- demos recorrer a algo muito mais simples e proximo da vida difria. Pergunte-se: ‘eu exercito 0 respeito pela vida huma- nna quando me relaciono concretamente ‘com os individuos que fazem parte do cotidiano mais imediato da minha vida? Assim, devo refletir: com que concep- 20 de vida humana lido, por exemplo, quando fico impaciente no transito, com um motorista mais lento, ou quando nao respeito a prioridade dos pedestres ¢, inclusive, ultrapasso em lugares proi- bidos, expondo os outros ao perigo de uma colisdo, desde que, egoisticamente, ‘cu mesmo saia ileso? Como € possivel falar da valorizagao da vida humana em si mesma, num contexto deste? Tais exemplos podem multiplicar-se indefinidamente, sobretudo pensando na realidade brasileira, em que tan- to se fala do valor e da dignidade da pessoa humana, mas que, ao mesmo tempo, nio resolve nem atenua 0 apar- theid socioecondmico-cultural. Que tipo de “valorizagio da vida humana por si mesma” esti por trés desta organiza- ‘so social? Em sintese, tanto 0 nazista, como 0 cientista da clonagem, ou ainda ‘© motorista de transite - ndo importa qual cidaddo comum ~ lidam, mesmo sem saber, com uma certa opinidio do que seja a vida humana. Mesmo sem re- Aletir, pressupdem sempre uma forma de pensar, porque, na verdade, as decisées € atitudes implicam sempre a adesio 2 uma opinido ou a um costume. Por isso, cabe a pergunta: de onde nascem a idéias reproduzidas na maneira de se pensar e nas atitudes? Origem das opinides Se as decisdes sempre sto tomadas de acordo com algum costume ou algu- ‘ma opinilo, fica a pergunta: como sto claborados tais costumes e opinives ou maneiras de se pensar? Consideratido os exemplos dados acima, como julgar crrada ou mé a atitude mazista de pu- rificago do povo ariano, se 0s costu- ‘mes € opinides variam de acordo com 0 contexto, 0 lugar, a época ¢ 0 povo? Ou, Ievando em conta essa contextua- lizago, como ficar horrorizado com a tentativa de clonagem humana? 0 que nos dé o direito de considerar irracio- nal e maléfico um motorista egoista que expe seu vizinho a intimeros riscos, desde que cle mesmo se safe e se prote- Ja do perigo? Nao esta ele exercitando sua liberdade? Por que considerar que todas essas decisdes so exemplos de mas decisbes ou de decisbes equiivoca- das? 0 que nos permite considerar “er- ada a maneira de pensar do outro, ou ~errados” seus costumes? Uma possibilidade de refletir sobre esta problematica consistiria em recor- rer a pensadores do periodo moderna curopeu, entre os séculos XV € XVIII, que comegaram a construir um tipo de explicago para a vida social que desem- bocou na valorizagao cada vez maior dos poderes puiblicos, vistos como ins- tancias de organizagio e diregdo da vida cotidiana dos individuos. Acreditava-se ‘que os cidadaos acabariam por destruir- ‘se uns aos outros quando abandonados a sii mesmos, uma vez que se observa~ ria em cada um deles o instinto de pre~ servagio, mesmo a custa da destruicao do outro. 0 Estado surgiria, assim, para impedir essa luta autodestrutiva, formu lando leis ¢ representando certos valo- res € costumes, com base nos quais a pessoas deveriam pautar suas decisdes. ‘Aos poucos, chegou-se & conclusio de que 0 poder politico seria a tnica ins- ‘tancia na vida social que poderia usar legitimamente de violencia para coibir 0s individuos a agir de acordo com as convengies socizis. Nessa perspectiva, as opinides e cos- tumes que guiam as decisdes dos cida- dios seriam elaborados ou defendidos pelos seus representantes legais, 0s go- vernantes, 0 que significa que, no limi- te, 08 cidadios mesmos seriam os @u- tores de suas leis ¢ costumes, por meio do poder que cles préprios delegam. 0 governo cumpriria a sua fungéo, tendo ‘em vista algum modelo de bem-estar ou bem-viver que determinasse suas Icis © politicas, Entretanto, com 0 passar do tempo, a pritica mostrou que um go- vero niio precisa necessariamente ser guiado por nenhuma concepcao prévia, pois pode considerar, em sua ativida- ~ aa O que nos permite considerar “errada” a maneira de pensar do outro, ou “errados” seus costumes? osonAcincadeits 39 OTIDIANO Dependendo da motivagao do agente, 0 aborto sera visto como ruim ou bom de, que o pluralismo de va apropriado & plena autonomia racional de cada individuo dotado de poder de escolha, Além disso, hii que se pensar Influencia exercida pela economia de mercado, a qual determina, geralmente com mais forga do que a propria poli- tica, as opinides e agées dos ci Outros fatores, como as artes, a religido ‘a ciéncia ete também desempenham pa pel importante nessa determinagio, mas tal cee, atualmente, em menor escala do que o mercado, Para ser breve (assumindo 0 risco de reducionismo}, € possivel dizer que, no mundo ocidental atual - salvo 0 caso de algumas situacbes que ainda so consi: deradas obviamente mis - hi cada vez menos principios universais que guiam as decisbes e agdes dos individuos. Sem consenso Porém, nao é dificil enxergar 0 homicidio como algo abominavel, ¢ isso nos impede de fazer justiga com nossas préprias mios, delegando a0 Estado 0 poder de agir com violéncia para manter a ordem social. Todavia, no é to facil decidir, por exemplo, se abortar é bom ou nao. Dependendo da motivacao do agente, 0 aborto sera visto como obviamente ruim ou como obviamente bom. Mas, quais as razbes dessa obviedade? Assim, uma pessoa poder julgar abominavel 0 aborto, seja em qual circunstancia for, alegan do que d embrido ou a crianca, mesmo sem ter ainda nascido, ja é um sujeito de direitos (entre os quais, o direito A vida). Entretanto, uma outra pessoa poder dizer que 0 aborto & justifica- vel, por ser uma questao de saide da mulher. Assim, se o parto pOe em risco a vida da mae, nao haveria divida de que o aborto seria recomendavel, afi- nal, a vida adulta seria mais valoriza~ vel do que uma outra que ndo se sabe 0. Ou, entao, tendo se vai vingar ou 1 a certeza, por exemplo, de que 0 feto possui uma doenga congénita, por que no aborti-lo, a fim de que o casal tente conceber uma crianga saudavel? Nestes casos, cada um dos envol: vidos pode justificar-se, dizendo estar respeitando a vida, pois tanto 0 pri- meiro pode ser visto como um defen sor incansivel do direito a vida ¢ do respeita ao ritmo da Natureza, como 0 segundo pode ser visto como um de- fensor da vida da mulher, cuja preser- vacao seria mais itil do que a preser vagio da vida do feto, ou, ainda, como o terceiro, para quem a vida esta as- sociada a certo padrio de perfeigao fisica, nao vendo justificativa para 0 softimento gratuito de uma crianga. 0 governo, em meio a esse quadro de valores morais miltiplos, deve preser- var a tolerdneia mitua © garantir que, de algum modo, seus cidadios sejam ouvidos. Enquanto a maioria decide pela criminalizagio do aborto, este continuaré sendo proibido, mas, se um dia 0 aborto for descriminalizado (como jé acontece em varios paises do mundo}, ele deixara de ser proibido © serd respeitada a opinido dos que pen~ sam em seu favor. Mas, surge um pro- blema: como serd respeitado-o dircito dos que so contra o aborto? Alguém poderd responder: os que io contra o aborto, que no o fagam. Mas essa resposta, simples e direta, ndo resolve 0 problema moral de fundo, que consiste em saber se, em si mes- mo, 0 aborto é bom ou néo. Em termos Juridicos, se o embrido ou a crianga jé slo sujeitos de dircitos desde o ventre dda mae, como se podera tratar 0 aborto como uma mera questao de sade da mulher? Como alguém poder impedi- lo legalmente de nascer, se a vida seria um de seus direitos? A mulher, desse ponto de vista, tem direito & escolha? E como poder um governo contemplar todas essas tendéncias, representando- as em sua fungao de legislar © orga~ nizar a vida social? Basta dizer que o io da maioria de votos vénce na democracia? Isso tudo nos remete novamente a0 problema do fundamento da escolha com base em que podemos escolher? Respeito e tolerancia (0 mundo contempordneo parcce nio chegar a consensos universais em termos de ética € politica. Todas as tendéncias, cm principio, tém dircito a se manifestar © a ver-se representadas nos governos. Cada vez mais se ouvem formulas que traduzem, na prética, formas individua- ‘istas de pensamento, tais como “esse € ‘0 meu ponto de vista”, ou “isso & assim ppara mim”, entre outras expresses que pressupéem a impossibilidade de se che- ar a uma visio sistematica de um as- sunto ou a um consenso geval qualquer. ‘Assim, para entender, tolerar ¢ conviver fem paz com 0 outro, seria necessario respcitar a evidéncia de que ninguém ¢ obrigado a pensar de maneira semelhan- te a0 modo de pensar de outra pessoa. O que deve reger as acdes: © pensamento universal ou o individual? Certamente ¢ dbvia a importancia de ‘se respeitar incondicionalmente 0 pen samento alheio, mas, em termos de éti- ca ou moral, uma falta de debate pode levar & anulasdo da propria conviven- cia social. Se nao ha certos principios universais que regulem a vida do grupo, podemos terminar pela justificagao de que 0 pensamento individual, seja ele qual for, tem direito a manifestar-se e a produzir ago, Aparentemente, tal exi- géncia ¢ positiva, mas como consider la positiva quando se tratar, por exem- plo, de um skinhead que pretende ver respeitado seu direito de manifestagao? UOSOFASiinesBis A OTIDIANO Como Aristételes, pensadores da Antigiiidade ainda podem nos dizer muita coisa atual A mLcsorAcinice Alguém poderi d a pritica skinhead é ruim em si mesma er: € ébvio que porque se todos fossemos skinhead, aca- bariamos por nos destruir mutuamente. Mas, entao, volta a questi: o que ¢ algo “ruim" em si mesmo? Ou, 0 que & algo “bom” em si mesmo? Nossas leis, opi- rides ¢ costumes surgem apenas para evitar que nos destruamos mutuamente? Nao se deve falar de “valor da vida em si mesma?” Ou esse valor significa sim- plesmente a contencao da possibilidade de nossa autodestruig: vista, no seria necessirio contempl também nossa rela ou 0 planeta como um todo? A dificuldade de responder a essas questies parece vir do fato de que, no pensamento contemporinco, nao é pos: 0? Desse ponto de com a Natureza sivel falar de fundamento universal para a Btica oa Moral. Os filésofos dividem- se, cada qual com sua perspectiva, ¢ @ questo da fundamentagdo_ permanece aberta: se alguém fala de respeito a vida, pode-se perguntar pelo que sejaa vida; se alguém fala de natureza humana, pode- se perguntar pelo que seja a matureza humana; se alguém fala de fundamento divino, pode-se perguntar pelo que seja um fundamento divino, Nesse contexto, nem o relativismo se sustenta porque se percebem, na pritica, as conseqiiéncias negativas que um pensamento relativista pode implicar. Mas, se admitirmos isso, io teremos de voltar a refletir sobre principios universais? 0 problema esti em que a atividade da razdo que procu- re principios universais esta posta sob suspeita desde a modernidade. Estaria, entio, a racionalidade contemporinea diante de um beco sem saida? Exemplo de um filésofo antigo E interessante recomer ao exemplo de um filésofo antigo, como & 0 caso de Aristételes, para que, por contraposigo, se perceba como alguém tio distante de nés no tempo pode dizer ainda algo de atual Divergindo do platonismo, Aristé- teles, na Erica nicomaguéia, insiste na importincia da deciséo ou da escotha, Platao, a0 contrario, diria que sé ha decisto ou deliberagio quando nao ha ‘um competente que fale a verdade. Mas Aristoteles, procurando elaborar, como ele mesmo dizia, uma ética para homens afirma que a verdade, no campo pritico, se desco- e no para deuses ¢ mnimall bre por deliberagao. Mas esta deliberagao se di, sobre tudo, nos meios que se escolhem para atingir os fins desejados. Esses fins, ele reconheée, so muitas vezes determi nados pelo contexto em que se vive, 0s costumes etc, mas, mesmo assim, um in- dividuo pode ser considerado livre, mes- ‘mo submetendo-se a certos fins, porque pode escolher 0s meios para buscé-los ou para nao buscé-los. Assim, todos so agentes livres por- que podem escolher os meios a serem adotados na busca de algum fim. Nao € preciso dizer, como Kant, que os agentes adotam os fins como seus mesmo «uan= do no os elaboram por conta propria Contudo, preciso reconhecer que minha permanéncia nesse mundo implica uma série de determinagtes das quais nao ielusive no nivel das es posso escapar, ccolhas: ser livre nao € fazer o que se bem centende, mas ser capaz de determinar os rumos da propria existéncia, lidan- do com os intimeros condicionamentos ‘aos quais nos vernos submetidos. Numa palavra, no posso esquecer que exeT= $0 minha liberdade ao escolher ou nao (os meios que me levardo a obtenga0 de ‘um determinado fim. No inicio da cadeia causal que levard a um certo fim, reside exatamente o espaco onde eu decido es- colher 0 primeiro meio e exergo sobera- namente minha liberdade No limite, mit continuar um costume ou romper com le; continuar uma opiniao ou romper com ela, Para Aristételes, a decisao deve ser tomada por imitacao do prudente, ou seja, daquele que representa a sabedoria © € capaz de visar 0 meio-termo apro- priado a cada situagao. Ao dizer isso, 0 fildsofo grego admite que ha modos de vviver bem, de se alcangar a felicidade, No mundo contemporineo, além de no ser facil identificar 0 prudente sem perguntar “prudente sob qual ponto de vista?", a dispersdo do pensamento ocidental também tem dificuldadés em aceitar a idéia de principios universais fundamentados na natureza do cosmo e nna natureza humana, Por isso, intimeras filosofias tém procurado solugao para os ha decisio escolhers dilemas éticos atuais, rompendo, inclu- sive, com as proprias tradig6es filosofi- antigas. > Entretanio, problema da escolha com base em raz Talvez a ligo que @ comparagao entre modernos € antigos possa nos oferecer consiste em constatar que nenhum pro- blema ético parece realmente resolvido enquanto antes nio levarmos a sério algumas questées de base: mas, afinal, © que € o homem? E, afinal, o que € 0 cosmo? Enquanto isso, em meio & dis- persio contempordnea, devemos sempre ponderar em nossas decisdes e escolhas: que tipo de opinides e costumes preten~ demos reforgar no cotidiano e legar aos nossos descendentes? . Sessa aaneenaed Para leitoresiniclances BLINNIN TSU, EP Compéndio de éticas permanece. Prmaros Psi") 2003. HALIM Primeira {losofia. Sic Pa flosofa Sia Pale ‘igncia em confi Loyola, 2002 Braslerse. to Como fazer VON HILDEBRAND. HALL Comite a ‘escolhas morals ‘Aticudes éticas fun filosofia. Ss Pasex PaulerPauos, 1995 damentais. Sic Paves A200 CO\L: MARTINI. M. 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