You are on page 1of 12
A MECANICA DOS SOLOS NA TECNICA DE FUNDAGSES Milton Vargas Escola Politécnica U. S. P., Instituto de Pesquisas Tecnolégicas de Séo Poulo SUMARIO Como Relator da Secgio destinada a Fundagées do Congresso da ABMS, em Pérto Alegre, 0 autor procurou apresentar sucintamen. te 0 estado atual das conhecimentos de Mecdnica dos Solos na Engenha. Tia de Fundagées. Dividiu o assunto em quatro partes: Recalques das Fundacdes Diretas; Capacidade de Carga das Fundagées Diretas: Cor. relagiio entre Estrutura e seus Recalques ¢ Fundagdes por Estacas. Na primeira parte tratou primeiramente dos problemas de aden- samento das camadas argilosas subjacentes as fundagdes, dividindo.os em dois grupos: os correspondentes as argilas normalmente adensadns e os das argilas pré-adensadas. Em segundo tugar abordou os proble. mas da deformacao de tipo plistico das camadas do solo sob a acao das pressdes aplicadas, referindo-se principalmente ao caso de fun. dagées sébre areia, Na segunda parte fez uma comparagéo entre o que se conhece experimentalmente sébre a capacidade de carga de fundagées sbre argila ¢ as teorias correspondentes, chegando & conclusiio de que ha acérdo entre a teoria e ésse caso particular, pouco se conhecend sébre 4 concordancia entre uma e outra em outros casos. Quanto ao problema de correlacdo entre estruturas ¢ os recalques de suas fundagées, 0 autor eriticou principalmente 0 emprégo do cocfi. ciente de recalque como uma constante nas teorias que procuram es. tabelecer aquela correlagio e indicou uma forma em que se torna pos: sivel com os conhecimentos atuais ‘levar adiante tais cdlculos. Finalmente abordando 0 problema das fundagies por estacas 0 autor referiu-se principalmente ao congressu realizado em Paris em ju. tho de 1.952, sobre éste assunto particular ¢ que constituin como que uma tomada de conciéncia do problema no seu estado atual. Referiu-se av Jato de que o problema envolve questoes de equilibrio plastico-elistico de solos, ainda no resolvidos teéricamente. SUMMARY 4s reporter for the Section of the Conference on Foundation En- gineering problems, the author presented a summary of the present A MECANICA DOS SOLOS E AS FUNDACOES state of the development of Soil Mechanics applied to Foundation En- gineering. He divided the subject into four parts: Settlement of Shallow Foundations; Bearing Capacity of Shallow Foundations; Cor- relation between Settlement and Structures; and Pile Foundations. In the first part, the problems of consolidation of clayey layers underneath shallow foundation were approached both for the case of normally consolidated clays and precompressed clays. Then the pro- blems of plastic deformation of soil under the action of applied pressu- res were examined, mainly for the case of a foundation on sand. dn the second part the author made a comparison between what is experimentally known on the bearing capacity of shallow founda- tions on clays and the corresponding theories, concluding that there is an agreement between theory and practice in this particular field but litle is known about other cases. As far as the problem of correlation belween structures and settlements of their foundations is concerned, the author criticized mainly the use of the modulus of sub-grade reaction as a constant in the theo- ries which try to correlate settlement and structure characteristics and showed a way through which it is possible to make such computation in the present state of knowledge on the subject. Finally approaching the problems of pile foundations the author mentioned mainly the conference held in Paris during July, 1952 on this particular subject, and which has featured the present state of the same subject. The author mentioned, then, the fact that the problem involves questions of elasto-plastic equilibrium of soils, so far not solved theoretically. Na incumbéncia de relatar os trabalhos déste Congresro referentes a Fundagées, sinto-me na obrigagéo de sumariar, em primeiro lugar, 0 desenvolvimento aleangado atualmente pela Mecanica dos Solos, nessa técnica. Creio que seria de nosso maior interésse uma vista de olhos sdbre seu desenovivimento no Brasil; mas, como por um lado, 2 nossa engenharia nao é independente da estrangeira e, por outro. ha nesse Con- gresso uma contribuic&o inestimavel dos nossos convidados estrangei- Tos, sera necessario situarmo-nos, pelo menos num primeiro momento, numa perspectiva universal, embora isto possa vir trazer uma suspeigo de petulancia da parte désse vosso Relator. Para bem da simplicidade dividiremos os assuntos correlatos 4 téc- nica de Fundagdes em quatro grupos. No primeiro colocaremos os pertinentes aos recalques das fundagdes diretas rasas ou profundas. no segundo os correlacionados com capacidade de carga das fundagdes di- retas; no terceiro a correlagdo entre estruturas © recalques e, final- mente, num quarto grupo os problemas relativos a estacas. 8 ANAIS DO I C.B.M.S. —~ VOL. 1 I) RECALQUES DAS FUNDACOES DIRETAS. Come sabemos os recalques das fundagdes diretas so. principal- mente devidos: 1) ao adensamento das camadas argilosas subjacentes 4 fundacio; 2) a deformagio de tipo plastico das camadas do solo sob a agio das pressdes aplicadas. O fenémeno do adensamento das camadas argilosas foi dos pri- meiros a serem estudados e esclarecidos matematicamente na Mecani ca dos Solos. Desde a «Teoria do Adensamento», publicada por Ter- zaghi e Frohlich, passando pela extensio da teoria ao caso tri-dimer sional feita por Carrillo e Baron, até a solugéo de uma série de casos particulares em que contribuiram entre nds, Icarahy da Silveira ¢ entre 0s europeus, principalmente Mandel, a teoria do adensamento chegou a um estado de desenvolvimento teérico muito superior ao dos outros eapitulos da Mecanica dos Solos, Quanto & verificagdo dessa teoria com os resultados de observa: ges de campo, temos a distinguir dois casos: 1) quanto as argilas mo- les; 2) quanto as argilas pré-adensadas. No caro das argilas motes ou médias a literatura é farta de documentagéo em que as observagdes dos recalques totais confirmaram ou mostraram que éles séo maiores que os calculados e em que os tempos de recalques calculados sio apro- ages grosseiras dos observados, Na realidade, parece muito mais frequente que os tempos de recalques reais so mais curtos que os catculados, Parece ser téda a diferenca residente na dificuldade em obter-se para o ediculo um coeficiente de permeabilidade do solo que represente realmente a permeabilidade do macico terroso no seu todo. Sao classicos dessas conclusdes as analises de recalques de edificios em Boston. feitos em tese de doutoramento, por Rutledge: as compa: ragées entre recalques calculados e observados no Egipto, feita por Hanna e Techebotareff ¢ 0 célebre artigo de Terzaghi sobre «Recalques de Fstruturas na Europay. Entre nés. atualmente, o LPT. esta condu- zindo uma pesquisa sistemitica dos recalques de tanques de dleos ¢ edificios em Santos, s6bre argila mole, cujo relato de progresso ouvi remes. logo apés. pela eng. José Machado (1), encarregado de tais pesquisas, Também no Rio de Janeiro e em Santos esto sendo feitas pesquisas désse género pelos engenheiros da Geotécnica S.A,, Quanto ao calculo dos recalques por adensamento das camadas pré-adensadas de argila, pode-se afirmar com quasi certeza de aceriar, que néo ha correlagdo entre os recalques calculados e os observados. Pelo menos no que tenho podido observar, os casos em que ha con. cordancia podem ser interpretados como mera coincidéncia. Num trabalho apresentado 4 Conferéncia Internacional de Rotter- dam concluiamos: em 1951. in- litulado «The Bearing Capacity of Clays», onde ésse método é apresen- tado e so feitas algumas comparagdes com observagdes de recalque Finalmente (o que nos interessa particularmente} exarminemos as possibilidades atuais de aplicagéo dos edlculos de recalque aos solos residuais. Nos «Proceedings». da altima Conferéncia de Zurique ha um w ANAIS DO I C.B.M.S, — VOL, 1 trabalho de Tomlinson e Holt (4/29). que mostra que os solos resi- duais de gneiss e granitos obedecem também a teoria do adensamento. Teremos hoje. oportunidade de ouvir o Dr. A. Dias Ferraz Napoles Neto, um dos engenheiros do LP.T., sébre observagées de recalque ¢ sua comparagio com a teoria. nas fundagbes s6bre gneiss decomposto, em Volta Redonda (2). Quanto ao recalque de fundages sébre areia, a pritica adquiri- da em Séo Paulo, est conduzindo a confianga na possibilidade do cal- culo a partir de Teoria de Elasticidade, substituindo-se o «médulo de clasticidades por «médulo de deformabilidades obtido em observacdes de recalques de estruturas fundadas sobre solo semelhante ou provas de carga, A primeira tentativa nésse sentido foi feita com sucesso, no caso do Viaduto 9 de Julho, em Séo Paulo, a qual foi relatada ao Congreso Panamericano de Engenharia, reunido em Quitandinha. il) CAPACIDADE DE CARGA DAS FUNDAGOES DIRETAS A teoria da capacidade de carga das fundagées dirctas vém-se de- senvolvendo desde 1925, com a publicagéo do primeiro livro de Ter- zaghi — o «Erdbaumechanik», onde, um dos seus capitulos apresen- tava aquilo que poderiamos chamar hoje de «antiga Teoria de Terza- zhi» e que foi até cérca de 1940 a que melhor nos podia fornecer um modélo teérico do comportamento de um solo de fundagio direta no estado de tuptura, Em 1942, o novo livro de Terzaghi «Theoretical Soil Mechanics> veio apresentar uma nova teoria da capacidade de carga que suplantou a antiga na sua melhor figuragéo do fendmeno, embora perdesse em clareza e didaticismo, E’ uma aproximagao semi-empirica do problema, baseada de um lado nas idéias de ruptura ao longo de espirais logarit. micas desenvolvidas por Ohde, por volta de 1935, em uma série de expléndidos artigos publieados no como constantes do solo, a partir dos quaix tdas as respectivas teorias séo construidas, Ora, ésses «coeficientes de recalques estio longe de ser constantes; vejamos como varia Eles sdo obtides comumente por meio de provas de carga sébre placas aplicadas ao terreno nas cotas de fundagio. Ora, subemos que os recalques dessas placas, podem ser expressas aproximadamente por uma formula do tipo: 1— F.B, ———_ M A MECANICA DOS SOLOS FE AS FUNDAGOES 13 onde: F & um coeficiente dependendo da forma e da rigidez da placa; B é uma dimensio dessa placa; o é a pressfo aplicada: 0 coeficieute de Poisson e Mf o que chamamos «médulo de deformabilidade> do solo. « Daf se vé que 0 coeficiente de recalque k = 2 suposto constante 6 7 na realidade, uma fungio da forma. rigidez e dimensdes da propria fun- dagdo que se projeta caleular ¢ que foge, portanto, de ser uma caracte- ristica do solo. Por outro lado ésse coeficiente k depende de duas caracteristicas do solo: © coeficiente de Poisson e 0 «médulo de deformabilidade>. Deixando de lado j, eujo valor pouco influe, examinemos como varia V. Sabemos que M pode ser obtido de ensaios de compressdo triaxial e que éle sera definido pela expressio: 1 ( 2pes) mM aos Se admitimos » = 1/2, teremos: Me 7% Mas essa relagio € uma para os ensaios rapidos e outra para os Ientos, Ha razio de se supor, embora nio esteja perfeitamente esclare- cido, que M é constante nos ensaios rapidos ¢ rapidos preadensados. porém que nos ensaios lentos varia com a pressio de confinamento 0: . Em suma, vemos que 0 coeficiente de recalque varia 1) Com a forma do elemento de fundagio; 2) Com as suas dimensdes: 3) Com a presse aplicada; 4) Com as presses de confinamento: 5) Com o tipo e velocidade de carregamento da fundacao. Assim sendo, deixa de ter sentido a utilizacao de um coeficiente de recalque constante nos calculos de inter-agéo estrutura-fundacdo néo £6 porque éle nic constante. como. principalmente, porque varia com as proprias cargas aplicadas ¢ disposig&io geométrica dessas cargas. Fstase desenvolvendo uma tendéncia de contornar a questio da seguinte forma: 1) calculam-se os recalques da fundacio sem levar em conta a rigidez da estrutura; 2) obtidos os recalques r.. de cada um dos elementos da fundagao, calculam-se 0 coeficientes de recalque ky -+« ete., correspondentes a ‘mos elementos com suas proprias dimensdes e posicao relativa; 3) com ésses corficientes de recalque variaveis de ponto a ponto. recaleulam-se MW ANAIS DOT C.B.M.S. — VOL. 1 as cargas dos elementos da fundagdo levando em conta a rigider da estrutura (convém lembrar que ésse edleulo de estruturas com apoios deformaveis e coeficientes de recalque variando de ponto a ponto néo & fieil nem esti desenvolvido para todos os casos); 4) com a nova distribuigao de carga reealculam-se os recalques pelos métodos comuns da Mecanica dos Solos; 5) refaz-se téda-a marcha por aproximagées ucessivas alé a aproximagio desejada. slo processo foi utilizado entre nés pelo Relator e o eng. T. van Langendonck. no caleulo dos recalques do Viaduto 9 de Julho em Sio Paulo. Para tanto. o eng. van Langendonck desenvolveu uma teoria de vigas de fundagdo sdbre solo compressivel com covficientes de re- calque variivel ao longo da viga. Ouviremos sdbre 0 assunto o engenheiro A. A. Noronha que nos falar’ sbre 10: h = profun- didade: D = didmetro da estaca) encontraremos q = 180 7 h enquan to que a teoria de Hanven nos dara. q = 110 y f. cada uma das quai sendo suportada por observagées experimentais feitas pelos respectivos autores ou escolhidas por éles na literatura a respeito. Ha entretanto, uma tendéncia a se acredilar que os célculos de capacidade de carga de estacus podem ser correiamente feitos. se se utilizar os ensaios holandeses para resisténcia 4 penetragao ¢ déles se retirarem os valores do dngulo de atrito interno e depois se aplicarem le ANAIS DO [ C.B.M.S, — VOL. T asses valores ao cdleulo. Essa crenga é suportada por uma enorme cd pia de observagdes principalmente as descritas por Plantema (1948) ; Franx (1936) e (1948) e as do Laboratorio de Delft (1936), todas Publicadas nos «Proceedings» dos dois primeiros Congressos Interna- cionais de Mecdnica dos Solos. 0 trabalho de Skempton e Yassin, apresentado ao acima referido Congresso sob o nome «Théorie de la Force Portante des Pieux dans le Sable». Annales de l'Institut du Batiment e des Travaux Publics - n.° 63-64. mars-avril, 1953), mostram os autores que o melhor pata cal- culo de tais estacas é 0 «deep-sounding test», baseado numa teoria sim- ples de capacidade de carga das estacas desenvolvida por Bishop. Neste mesmo trabalho Skempton defende a idéia de que o atrito lateral das estacas em areia deve ser admitido igual a 10 a 20% da capacidade de carga. Essa sua opiniao 6, entretanto, baseada em obser- vagGes experimentais e ndo em consideracées teoricas. F’ possivel que tal idéia venha ao encontro do que dissemos anteriormente sobre o assunto. Quanto a verificagio experimental das teorias de capacidade de carga no podemos dizer que se tenha chegado a um ponto satisfa- torio, Ensaios de modelos feitos principalmente na «Building Research Station» parecem nao ser ainda em nimero suficiente para cobrir to- dos os casos possiveis de condigSes do solo ¢ cstaca. Existem numeru- sos relatérios sébre provas de carga estaticas feitas sobre estacas cra: vadas ou moldadas no solo, em locais onde as condigdes do subsolo so perfeitamente conhecidas e se conhecem as suas caracteristicas de re- sisténcia ao cisalhamento, porém, sio poucos os ensaios de campo em que se utilizaram dispositivos para separar as parcelas de atrito late- ral e resisténcia de ponta. $6 conhecemos ensaios désse tipo nas obras de protegio contra inundagées do Achafalaia, no Mississipi, e de um viaduto, em Omaha. Em ambos os casos os resultados das medidas sio t8o dispares que ndo achamos possivel uma conclusao aceitavel. A concordancia entre a capacidade de carga total observada ¢ a caleulada nesses ensaios é em todos os casos satisfatdria, porém, nada se pode dizer quanto as parcelas dessa capacidade de carga pelas ra- zBes acima expostas. A ‘mica tentativa que conkecemos do tratamento da capacidade de carga de uma estaca como problema elastico-plistico é 0 estudo feito pelo Dr. Yoshichika Nishida, estagiécio japonés do LP.T., que aqui esta presente. O Dr. Nishida atacon o problema do atrito lateral das estacas. considerando ruptura localizada sémente no ponto de maxi- ma lensfo e, ent&o, nfo sé a distribuigao das tensdes laterais ¢ resis« léneias de atrito so distribuidas diferentemente ao longo da estaca como slo muito menores, concordando com o que afirma Skempton no trabalho acima citado. Quanto ao problema da estabilidade dos grupos de estacas, mante- mo-nos ainda no estégio inicial da consideragio de rupturas 20 longo de superficies abragando 0 grupo de estacas. Pode-se dizer que ne- A MECANICA DOS SOLOS E AS FUNDAGOES uv nhum progresso foi feito nesse sentido, talvez pelo pouco inter tico do problema. Finalmente o problema de recalque de estacarias recebeu um tra- lamento que nos parece sumamente promissor, por Skempton e Yassin no trabalho apresentado ao Congresso de Paris. E’ um tratamento em- pirico em que sio estabelecidas as curvas de recalque em funcdo do namero de estacas da fundagio ou do grupo em fungao do recalque de uma estaca observado em prova de carga. E’ evidente que tal método nio se refere aos recalques provenientes do adensamento de camadas sotopostas as fundagées, mas, sim, ao recalque proveniente de deforma- gio do solo considerado como um todo deformavel soh a ago das fér- gas a éle aplicada pelas estacas. Em resumo, o progresso da técnica de estacas nesses tltimos tem- pos, foi a acumulagio de dados empiricos de provas de carga ¢ ensaios de modelos visando 4 confirmagio das teorias. Entretanto. nao hou- Ve progresso na determinagao dos quinhées de resisténcia de ponta e de atrito lateral, parcelas da carga de trabalho de uma estaca. Pequeno Progresso também se registrou nos estudos de capacidade de carga ¢ recalques de grupos de estacas. Finalmente, menor progresso se verificou ainda na analise da in- fluéneia da cravagio e dos métodos de cravagio das estacas. na sua carga admissivel e capacidade de carga. pri

You might also like