You are on page 1of 141
Paulo Bonavides TEORIA CONSTITUCIONAL DA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA Por um Direito Constitucional de luta e resisténcia Por uma Nova Hermenéutica Por uma repolitizagao da legitimidade MALHEIROS EDITORES Teoria Consttuctonal da Democracia Participativa (Por um Direto Consitucional de lta e resséncia Por uma Nova Hermenéutica Por uma repoitzacio da lgiimidade) © Pato Bonsunes Direitos reservados desta edo por MALHEIROS EDITORES LTDA Rua Paes de Araijo, 29, conunto 171 CEP 04531-940 ~ Sto Paulo — SP Tel; (1) 3842-9205 Fax: (Oxxl1) 3849-2495 URL: wonw:maeiroseditores com br mail: malheitosedtores@zaz-com br Composivio PC Editorial Leda cope CCrlagao: Vina Licia Amato Arte: PC Eaitorial Lida, Inpresso no Brasil Printed in Brazil ‘03-2001 A Gorreeno Tees Jowon, cawor da "Carta aos Brasileiros” ce advogado do liberdade, da cidadania e da Constiuigdo, Ihomenagem de Paco Boxssoes SUMARIO Iniroducto 7 Capitulo 1-0 Direto Consttucional da Democracia Participative tim dria delta eresistncla 2 Capita 2- A Democraca Petipa e os bloqulas da classe dominante 30 Cpitala 3A ideotgia da globalizacdo eo antagonismo neoliberal 2 Constiuigao 66 Capitulo ¢~A gloaltzagdo ea soberania~ aspects consiucionais... 87 Capitulo $A inconsttucionlidade materiale. ierpretagio do art 16 da Constiulgdo 108 Capitalo 5-0 Exado Sociale sua evolgdo rumo di democracla perdcipaiva M3 Copitlo 7 Garcia Pelayo eo Estado Socal dos paises em desenvol- mento: caso do Brasil. 168 Capito 8A evolu consttcional do Brasil. 190 Cops 9-0 pensamentojusflosfice de Fredrick Maller: ‘fundamento de ma Nova Hermeneutca 206 Capindo 10 A Constuio aberta eo Dirctos Fundamentals... 218. Capitulo 11 A dignidade da pessoa humana 20 Capito 12 A presuncdo de consitucionaidade das ese interpre. tacio conforme a Consiuicio CCoptlo 13 Citncia Politica Capito 14 La Sociologia Juridica Copilo 15 ~ Espace pico erepresemacio pola 23s 268 20 an INTRODUCAO Clonaresen era Consncionat do Dnocraca Patpat- swt dams seqéncia e conclusto um conjunta de ins e refle- Ges que comegamos a expore eprfiundar em nosso Cwso de Direito Constiucional, que tiveram depois continuidade, de forma nio me- nos explicit e combativa, na Coletinea inttulada Do Pats Consttcio- nal ao Pais Neocolonial? Os tes livros tomados conjugadamente compBem uma trilogia volvide para a liberdade, a igualdade e a justia. Outro fim nto alme- Jam sendo desbravar eiuminar eaminhos que eonduzam a uma demo- ‘raca paticipativa, aquela demoeracia de emancipagio dos povos da periferia, conforme poder oletor logo averigua, A tese central da obra consist, pois, em reivindicar um Direito ‘Constiucional da liberdade, oxigenado de principios ¢ valores jd in- Corporados nas nossasrizese tradigGes de resistncia a golpes de Es- tado, estados de sitio, intervengdes federase dtaduras, todos vibrados « todos instalados quando a chamada democraciarepresentaiva ~pee- passada da crise consttunte que estalou no bergo da nacionalidade lo comespondeu com seus mein juridcos e seu dever consttucional 0s anseios nacionais de alforria do povo e da sociedde. Fis, assim, a uma posigio libertiria de pensamento inaugurada em tese de eitedra, que teve por titulo Do Estado liberal ao Estado social.) nunca nos arredamos dessa posiglo. Por isso afigurou-s-nos, agora eptimo eal rasladar também para as pginas desta Coletines 110 ed, Mateos Etores, Sto Palo, 000, 2-2, Mabaros Etre, So Paulo, 201 5. Ge, Maes Eanes, So Paulo, 196, a Introdugo & sexta edo daquela monografia académica, bem como dois Preficos da mesma, onde verdaderameate haviamos esbogado ja ‘0s primeiros ensaios rudimentares de uma jomada de idtias na dies dda democracia patcipativa e do Estado social Eo fizemos com o confessad propésito de anenar os direitos fn- to nds 0 vemos, todavia, entre quants se empenham em fazélo uma ferramenta de sustentago da identidade nacional e dos poderes de so- berania. E, do mesmo passo, entre agueles que se declaram leas & um sistema de normas superirese fundamentais, um sistema eujo Ditito ‘ai ao campo de batala eno retraced ner na doutrina nem nos con ceitos. E esta. a missio a causa, tarefa ques the impendeatibur. [Em verdade, no podemos nem devemos pensar unicamente com «as categoras ideologies politcas do Primeiro Mundo, porquantoes- tas nos aparelham, no rar, aruina social, a dependéneia, a recolon zagio ea tercirizagio ideolgca de valores. Esses valores nem sem- Dre sio os nossos. De tal Sorte que com eles apenas as elites do stars {quo costumam identifcarse ou compromete-se Se os punbais do neoliberalismo assassnarem a doutrina de uma to redentora forma de justia dstributiva, que 0 Estado socal, aN ‘9 reapirs para fazer o milagre de sua ressurreigio. O mesmo se diga ‘com respeto & Constiuigdoe &soberania. Demoeracia participativa ¢ Estado socal constituem, por conse ine, axiomas que ho de permanecer involves einvuineraveis, se ‘0s povos continents da América Latin estiverem no decide props- sito de batalhar por um futuro que reside to-somente na democracia, 1a liberdade, no desenvolvimento, ‘Toda a substineia teériea do nosso pensamento em materia cons ‘iteional e politica fica, de conseguinc,condensada nesta paginas da ‘manera mals clara e sucnta possvel, conslidando ao mesmo tempo teses de que jamais nos afastamos, Sdo as mesmas daqueles que, por dever de cidadania¢ lealdade ds instiuigdes da democraia, porfiam no mesmo campo de oposgio, lua resisténca tormenta alienante, avassaladora ecolonalista do neoliberalisno e da globalizagao, Dizer que a democraci &direito da qurta geraglo, qual 0 fiz em Foz de Iguagu, na Conferéncia final da XIV Conferéncia Nacional de ‘Advogados, em 1992, no basta Faz-se mister i além. Urge, assim, tomar explicit os meiostée- ticos de realizagdo e sustentagao desse dretoprincpial nos paises da periferia, onde as ts geragies ou dimensbes de direitos fundamentas, ‘io logrram ainda conretizarse na regio da normatividade. essa indubitavelmente,a grande tragédiajurdica dos poves do Terevito Mundo, Tém a teoria mas nio tém a praxis, E a prixis pars vingar diante da ofensivaletal dos neoliberis precisa de reforma ou renovagio de modelos tedrcos. isto 0 que se prope com 0 Dirito Constnicional de lus, com a Nova Hermenéutca, coma repolitizao da legtimidade, Tudo quanto ‘cup, pois, 0 espaco desta piginas assnala © pensamento que nos viou, a constante que nos inspirou ao elaborar esta obra. Com efeito, Io estamos a eseever a proposta nem a minuta de ui tratado de paz com a ideologia neoliberal sendo que Ihe fazemos uma declaragio de vera, Declaragdo formal, mesma. E a tomamos extensiva a quantos, se bandearam para as faegdes globalizadoras e puseram em isco de vida a Constiuicio, a soberana, a identidade nacional. A esta altura no podemos deixar deassinalar que hi quatro prin cipios cardeaiscompondo aestrutura constitucional de democraciapar~ tiipatva, eada qual com sua peculiaridade conceitual na contextura desse sistema, ‘Sio eles, respectivamente, o principio da dignidade da pessoa ‘mana, o principio da soberania poplar, © principio da soberanianacio- tal ¢ 0 principio da unidade da Constitugio, todos de suma importia- cia para a Nova Hermenguticaconsttucional, de que tanto ja n0s ocu- ppamos em nosso Curso quando versamos a interpretagio da Constti oe dos direitos fundaments. ‘Com relagfo ao principio da dignidade da pessos humana, funds ‘menta ele a totalidade dos direitos humanos pestivados como direitos fundamentais no ordenamento juridico-constitucional Esse principio aumenta cada vez mais de importncia uo veritiar ‘se que resume econsubstancia por inter o teoraxildgico e pincpio- gio dos direitos fundamentais das quatro dimensdes ji conhecidas e proclamadas. Por ele as Constitigdes da liberdade se guiam e se inspiram; & le, em verdad, o espirito mesmo da Constiuito, feta primacialmen- te para homem endo para quem gover. E,enfim, o valor das valores na sociedade democritca e panic ative 420 principio da soberania popular compendia as regras bisicas| 4e governo e de organizacio estutural do ordenamento juridico, se ItRoDUGAO u 4o, a0 mesmo passo, fone de todo o poder que leitima aautoridade € se exerce nos limites consensus do eontrato social, Encara 0 princi- pio do govero democriticoe soberano, exjo sujitoe destinatiro na ‘oncretude do sistema € 0 eidado, Atribu-se, por conseguine, nese liveo, extrema importincia & defesa salvaguarda do mais ameagado e comprometido dos prin ‘ios que organizam a vida nacional epreservam a nossa identidade de- ‘mocritica, a sabe, o principio da soberania popular ~ de iltimo, nas ‘duas Casas do Congresso Nacional, to desfigurada, io atraigoado, tio ferido pela covarda dos quadros representatives, os quas, em alianga ‘comm o Executivo, consentem que est leve a cabo a taefa de despedt ‘ar Constinigo eas leis. Em sums, principio da soberania popular & «cara de navegagion da cidadania rumo 48 conguistas democrtias, tanto para esta como para as faturas geragies, Deis principio, explicito na Constituiglo, infere-se outro, de ns tureza nio menos substantiva, ou se, o principio da soberania nacio- ral, com que s afirma de manera imperatva ecategorca a indepen- ‘ncia do Estado perante as demais organizagbes estatisreferidas & cesferajurdie internacional ‘A soberania nacional nesta acepe0 nada tem porém que ver com ‘outra douttina professada durante a Revolugdo Francesa e que invora- ‘yaa Nagdo de manera deveras ambigua por fundamento do poder su- remo e base de legitmasao do sistema representative, ‘A Naso, sede ali de um poder do qual o povo no era ainda tis lar eftivo, se fazi 0 6rgio por exceléncia que retalava eeseamotea- ‘v2.2 univesalidade do sufigio com inibir 0 principio da igualdade © tolher a coneretizagio de propia soberania popular, enquanto parcela expressva da vontade de cada cidadio, ou sea, daguele cidado part ‘ie na formagio da le eda autoridade governativa E tudo isso aconteca porque a Nago era confusamente identi cada numa visio abitrria ¢ ambigua com o fercero estado, isto €, com « burguesiarevoluconsra, como 0 prolearado 0 fora, depois, com © Estado socilista da revolugio sovitica Finalmente o principio da unidade da Constitugdo se destaca por lemento hermenéitico de elucidagio de clausulas constitucionis. CCompreende tanto a unidade egica— hierarquia de normas oriun- 4a darigidez constiticional ~ como a unidadeaxiol6giea— ponderasio de valores, proveniente da necessidade de concretizarpricipias ins- ‘exlpidos na Consttigio. ‘A unidade logica se exprime através de uma unidade formal de normas dispostas em seqiéciahierrquica, ‘Com eespito&nidade axiologica, manifesta-se ela mediante uma unidade material de valores e princpios, que sio a essénia,o esprit, a substncia mesma da Carta Magna, ‘Os quatro prncipiosacima expendidos e dectnados somente ho de prosperar numa sociedade aberta, ond 0s instrumentos © mecanis: ‘mos de governo nfo Sejm obreptciamente monopolizadose contol dos por uma casta politica cos membros, revelia do povo, se alte nar e permeiam no exerccio da autoridade civil e goverativa ~sem- ‘rea servigo de iatressesconcentrados ¢ com esteio na forg do capil Atuam eles em fungdo da ordem capitalist, no da cosa pblica, De tal sorte que para lograr esse escuso objetivo se valem, a0 mesmo pssso, do mais poderosoinstramenta de descaraeterizaglo da verdede © de legitmidade na tociedade regida pelo capital, Reportamo-nos 20s, ‘meios de comunicagdo a saber, as grandes empresas de oenas, as vas- tas cadeas de rio, as poderosas redes de tlevisto, as quis, submis 48 a0 eapital e ao poder que les ministram copiosossubsidios de pu blicidade paga, se trnsformam numa usin ov laboratiio onde se fa- brea o sofia da opinido piblica(opnido publiada einformagio di vlgada) ese egtimam as mais absurdas poiticas de governo, contre ‘anda o iteresse nacional e destruindo as células morais do ene civi- ‘co que éa polis. ‘A.midia escravizada ao capital deforms, entorpece e anula vontade, olive racicinio, alive conscigncia do ser politico, rebax do a cidadio nominal, a cidadio sidit, a cidadio vasslo — que enor- ‘me contradigdo isto representa! E ass as ditaduras consttucionas, sobem ao poder enele e eonservam ostentando a imagem da pseudo- democraca edo pseudo-tegime representative (© povo que ndo & povo, a multdio que nao & gente, a massa que se deixou domestiar, classe média que jf no tem influigdo no poder jaz oprimida,oprofetariado que pede cada ver mais x eapacidade de Tata ¢ perseguido no salirio configuram o retrato social de fala repi- blica onde desde muito no sobrerrestam sendo tagos ou vestigios de cidadania {A razio mutilada do homern-povo sem pensamento autodetermi- nativo e com a vontade anulada pela torente de valores dirigidos que The foram passados na onda informativainassimilave,fixa 0 sombrio {quadro de uma nagdo moralmente dssolvida, decomposta, onde os se- shores da midi, freando a repercussio dos fatose deturpando a infor- ‘mage, sio também os senhores daquele poder suscetvel de aniguilar ce interceptar, peo silénco impostae pelas omissbes prpositads,to- {40808 canais de comunicagao das liderangas democraicas com o povo, ‘no podendo este, assim, ser libertado das pressdes reacionrias e dt permanente agressdo capitalista as direitos da terceira geraio, Tendo ao seu dspor @ miquina da informagio com que intentam dar sparéncia de leptimidade a0s Seu interesses, os estamentos de do- ‘minagio tim tudo com que perpetuar a servidio sociale 0 confisco dos, direitos de expressio, Ha algum tempo, em debate com os magistrads de meu pais, dis- se que a midia brasileira estavaprisoneia no cdcere das elites que cera preciso liberti-a eresiusla ao povo, ou sea, 4 legitimidade de sua vontade ‘Vamos, portanto, descerar os ferolhos do ergéstulo e abrir na ‘Constituigio uma artéria nomativa de contole, que aflance pelo con- ‘curso da midiaemancipada a livre expressio material das iéias © do [pensamento a saber, um canal por ode possam circular sem estorvas ‘sem alienagbese sem embargos formagio da alma coetiva os pode Fes incorporados nas iberdades plies e nos dieites fundamen. ‘Aquelaasseriva, mais do que nunca, na hora de teoriar demo- ‘racia participative, ¢ de imensa veracidade para o Pals. Coasttuconalizar & midia como um dos poderes da repiblica ~ ‘mas poder demecritico e legitimo —é, por sem diva, 0 mais urgente «inarredivelrequisito da democraia participative Poder-se-, at, dizer pressuposto ou codigo sine qua non de ins- talagdodessereyime, se oquisermas como realidade, eno como farsa cu burl confarme tem aconteido com o sistema representative ‘A teoria consttucional da democraciaparticipativa & portant, © artefto politica e juridico que em termes de identidade hi de exiar en ‘tends o Brasil do povo,o Brasil da democracia nacional enacionlis- ‘a, 0 Brasil que nos sonegaram. ‘Compendi-se, assim, um novo Estado de Direito retraido dos pri- vilégios da classe dominante, que dever ser abolios, ereftatrio & ‘hegernonia dos corpos represetativos sem representa eset le midade ~enfim, algo significativo de uma abertre mais ampla no tn verso de nossa organizasio politica e social, ‘Seri este futuro e eformado Estado de Dircto a réplica da cons- cincia popula, disposta a desatar os lags jé seculares da deplrdvel, é_-TRORIA CONSTITUCIONAL BA DEMOCRACIAPARTICATIVA dependéncia em que femos invariavelmente vivido, mergulhados na submissao 20 capital estrngeiroe 20 seu imperaisino de expanséo € confisco das riquezas nacionss. io tem sentido teorizar aquels democracia nem propugnar este [Estado de Dirsito se ndo houver um alvo superior, volvid para a pro- blemitica histrica da sociedade brasileira, sociedade agredida siste- ‘maticamente, de maneira cada vez mais vioentae awoz, por forgas ex- temas de dominasio, 0 Pais sabe, em diiculdade, identitiar esas fogas, porquanto se acham elas mancomunadas corn as mesmas elites que escreveram ro passado e continuam escrevendo no presente péinas de oprdbrio e tuaigao. Todas as épocas colonia, impersiserepublicanas da nossa his- ‘ia estampam oselo ou trazem o festemuno dessa capitulo, £ estima e vergoaha e vilipéndio de uma decadéncia em curso, {que teréremate unicamente se despertarmos os Srgios da nagio vive para uma apo revolucionéria de combate e resisténcia As formas clés- Sica de opressio, Faz-se mister, por conseguint,o abrag de solidaiedade do estu- ‘dante com 0 trabaihador, da classe média como estamento obreir, da ago com a sociedade, a fim de que se poss, de uma vez por todas, extirpar as raizes da crise constitunte, que outra coisa no significa nem representa Seno o quebrantamento ea depravagio do contrato so «ial por formulas polities e desmoralizadas de govern, adversas 205, imeresses, s exigéniase aos valores danacionalidade¢ do povo, no- rmeadamenteaqueles cristlizades na sua soberaniae conserv4gio A letras juridicas carecem, pois, de renovago e ramos. A teoria consttucional da democracia pancipativa segue a wilh renovadora {que fri o povo senkor de seu futuro e de sua soberana, coisa que ele ‘unc foi nem seri enguanto governarem em seu nome privando-o de {overnar-se por si mesmo, (0 povo da demoeraciapaticiativa € 0 povo que luminous eabega 4e Lincoln quando ele definiu demoeracia-o govern do povo, para 0 pov e pelo povo, Hi demagogianisso? Nao. Ha verdae eceteza. (0s hipaecritas da classe dominante ocultaram nas vests represen- tativas da vontade popular, falseada durante séculos, sua sagrada alian- «a.com o capitalism, Usufrutuirios de um poder usurpado, intentam hoje, mediante a Jmplantagdo ideoldgica do neolberalismo,revogar adialéticae a his- InTRoDUGAO s ‘iri, paralisando o mendo na etemidade de globalizago como starus ‘quo da injustice das desigualdades soca, A escravido pode hastear pois essa bandeira a liberdadee a democracia jamais Em suma,€ de assinalar que para uma certa corrente de publi tas empenhados em propagar a doutzina globalizadora do neoiberalis- ‘mo, determinados conceitos, quas os de soberania, Estado, Nagi © Constituigao estariam recebendo ja extrema-ungio na teotia contem- porinea do Poder edo Dieeita, Com efeto, © fuxo deinteresese elagbes que dominam a esfera global inaugura uma nova fase daltiea no campo da economia capita lista, deeretando, de maneira supostamente ieversvel, 0 declinio ea prxima ruina daquelas iéias-chavese doginas insttuionas, 0 Estado constitueional,o Estado napo, 0 Estado soberano, 0 Es tado de Direito da idade moderna tém sobrevvido com dificuldade is crises universais do capitlismo, Trata-se,em verdade, de um modelo de economia cujos abalos se {iazem sentir com mais dao, orga einensidade nos pases do Terceiro ‘Mundo, onde provocam um cortejo de tragéias ¢ violEncias, que vio {de agressdes politica, intervengdes militares, golpes de Estado e dita- dduras a capitulagdes econdmicas efinanceras,jé na iminnca de de- ‘sembocarem num processo ativoe imediato de recolonizagao. Todas esas comoges introduzem, de conseguint, a flosofia de forca injustigae pivilepio,tpica daquee sistema de dominacio que invade o mundo contemporaneo na dimensio globalizadora eneolibe ral, 0 fazem com o mesmo espritoreacioniri erestaurador da Santa Alianga, durante a segunda década do século XIX, aps o colapso dos exéreitos de Napoleso Com efeito, ¢ de asinalar que na Franga revolucionéria, em sua fase durea de expansio, o poder conguistador, depois desfalecido, con dduzira na cabega de seus comandants disciplna do soldado, mas na retaguarda socal 0 que prevaleera fora 0 pensamento regenerador da Revolugio Francesa e da pis burguesa acompantando a marcha dos sranadeiros [A Santa Alianga pés-napolednica significava, portant, a viteia parente do absolutism restaurado mas derépito que se estampava na ‘ormula politica dos tronos consituionas e das Cartas outorgadas. [No fundo o que preponderava, contudo, era 0 sono de liberdade os filesofos contratualistas dominando a cena constitucional edissol- vendo, com 0 compromisso das Cartas, fereza do proto autoritrio, repressivo e restaurador das realezas de direitodivino. ‘A recaida no passa havia sido impossvel, Tinha por dbice maior 6 fat histéreo que fora a Revolugio Francesa, Expatiar ¢exilar no rochedo de Santa Helena o autor do Céigo ‘no constituria nenhuma dificaldade; mas revogar dale civil os pri ipios ali introduzidos ndo cabia no poder nem na jursdigio das mo- nargulas nostlgcas, confederadas num pacto de fea: e foi este © CCongresso de Viena, impotent para deter o triunfo juscivilista do Cé- digo, que inaugurava a Sociedade constrida pela burguesia segundo a8 ideas da Revolugio, Cimentava-se, portanto, um sistema de organiza socal confor- ime valores novos, sem nenhuma analogia, compromisso ou vinculo com o ancién régime. Tomando, porém, as nossos tempos de globalizaio, 0 Consenso de Washington tem no chefe do FMI im Mettemick que no faz a d- plomacia dos tratados mas a politice de forga das sentencasfinanceiras ‘com que 0 capitalsmo avassala,derrota e até mesmo destri a econo- mia de paises onde of dieitos da tereira geragio jamais chegam se- ‘lo por imagem retérica de um discurso compendiado na falsidade de promessas desenvolvimentistas bem como na fouxidio da teses ci

You might also like