Scribd Logo
Upload

Welcome to Scribd!

  • DOSSIÊ Revista Cult Teoria Queer Agosto 2014

    Uploaded by

    Carla Rodrigues
    20 views33 pages
    DOSSIÊ Revista Cult Teoria Queer Agosto 2014

    Copyright

    © © All Rights Reserved

    Available Formats

    PDF or read online from Scribd

    Did you find this document useful?

    Is this content inappropriate?

    Report this Document
    DOSSIÊ Revista Cult Teoria Queer Agosto 2014

    Copyright:

    © All Rights Reserved
    Download as PDF or read online from Scribd
    Flag for inappropriate content
    20 views33 pages

    DOSSIÊ Revista Cult Teoria Queer Agosto 2014

    Uploaded by

    Carla Rodrigues
    DOSSIÊ Revista Cult Teoria Queer Agosto 2014

    Copyright:

    © All Rights Reserved
    Download as PDF or read online from Scribd
    Flag for inappropriate content
    of 33
    en SNTENAR OE JULIO COR: TAZAR 193 Fir i UNE ENERO SE P OE Queer O guarda-chuva ndo-normativo que humaniza Os estudos queer constituem um campo de pesquisa variado que perspassa dreas como sociologia, antropologia, educacéa, filosofia, sexualidade, psicologia eoutras. Fortemente influenciada pela obra de Michel Foucault, a Teoria queer teve origem na década de 1980, nos Estados Unidos. O dossié desta edi¢éo, proposto e editado pela professora Carla Rodriguez, retine textos de renomados tedricos que se dedicam a esse estudo complexo — alguns géneros nem sequer sao contemplados na linguagem atual. Para nés foi um trabalho demorado e dificil chegar és imagens, chamadas de texto e principalmente 4 capa. Foram dias de discussdo e de opiniées recolhidas com amigos. Queer é um universo em construcdo e pouco reconhecido no Brasil (imaginem que nem temos uma tradugao para o termo inglés queer). A diretora de arte Michaella Pivetti conversou com artistas queer em vairios paises, sempre no sentido de oferecer ao leitor um trabalho perfeito, que é nosso objetivo. Apresentamos, depois de tantas dificuldades, 0 primeiro dossié queer do Brasil ~e talvez do mundo ~ publicado por uma revista ndo académica. Foi preparado com rigor e muito, muito respeito. Nosso interesseéo de aproximara Teoria queer de nossos leitores porque a consideramos fundamental e obrigatéria. Ainda nesta edicdo, uma homenagem ao escritor argentino Julio Cortézar (1914-1984), além de entrevistas, colunas, resenhas e criticas literdrias. Boa leitura, Daysi Bregantini We vir Sa eaLL A politica do desejo “O.corpo tem um espaco de extrema densidade politica. Trata-se de resistir a normalizagéo da masculinidade e da feminilidade em nossos corpos” CARLA RODRIGUES }m pénis de borracha, um vibrador, uma prétese, um U suplemento. Um consolo, como se diz na linguagem popular. E a partir desse objeto que Beatriz Preciado ‘comeca aquilo que se tornou seu texto mais famoso e mais stigante, 0 Manifesto contrassexual:préticas subversivas de identidade sexual, tradugao livre para o titulo de seu primeiro livro, langado em 2000 na Franca, onde ela vive etrabalha; na Espanha, onde nasceu, em 1970; enos EUA, onde se formou. © penis de borracha ¢ evocado como nogao conceitual para ccumprirfungao andloga i mais-valia no pensamento de Karl Marx. “Tomando partido da estratégia de Mars, esta pesquisa sobre sexo toma como eixo temitico a andlise de algo que po- de parecer marginal: umn objeto de plistico que acompanha a Vida sexual de certas lsbicas ede certs gays queers, e que até agora foi considerado como uma ‘simples prétese inventada como paliativo para aincapacidade sexual das lésbicas. Estou falando do dildo’, escreve ela. Dildo é um termo em inglés ue poderia ser traduzido por consolo em portugués, mas também em espanhol, ea decisio de Preciado de manté-lo em inglés vem da sua possibilidade de dupla significagio como designacio para pessoa estipida e despreaivel. Repete, aqui, 0 esto de ressignificaglo de queer - de ofensivo a transgressivo (veja dossi¢ partir da pagina 30) Dali em diante, viré aquilo que chamo de politica do dese- |j0,em dois sentidos possiveis do termo, Preciado se apresenta como autora de uma politica do desejo, e encarna, ela mes- ‘ma, a figura de uma ativista politica do desejo. Dessa dupla {njungio sai um trabalho cujo principio €a retirada da nature- zacomo dado ordenador do pensamento sobre a sexualidade, questio debatida por um conjunto de pensadores nos quais, Preciado se inspira, ao mesmo tempo em que dees se afasta. Preciado fez sua graduacao em teoria de arquitetura na Universidade de Princeton e sua ps-gradagao em Filosofiae teoria de género na New School for Social Research, em Nova ‘York. Voltou para a Europa ~ mais exatamente, paraa presti- giada Escola de Altos Estudos - a convite do filésofo Jacques Derrida, de quem foi aluna no final dos anos 1990. Hoje le- ciona na Universidade Paris 8 dirige o projeto “Tecnologias enero” no Museu de Arte Contemporinea de Barcelona. Sua insercio universitéria ¢ feita a partir do questionamen- to dos cénones académicos, assim como seu debate com a teoria feminista se dé muma perspectiva de critica. E nesse pponto que vale a pena situé-la ndo apenas como uma aluna prodigio de Derrida - énfase muito comum nas pequenas biografias que circulam sobre ela ~ mas sobretudo como uma herdeira de algumas posigdes mais radicais do pensamento pés-estruturalsta francés. ‘Quando se vale de um pénis de borracha como objeto central de seu discurso contra a naturalizacio da diferenca sexual, Preciado recorre a dois termos a partir dos quais se pode aproximé-la de Derrida: suplemento e prétese. £ no contexto da publicagao de Gramatologia, em 1967, que o fildsofo franco-argelino funda aquilo que Patrice Magnilier chama de um “verdadeiro momento filos6fico”, 20 qual "= 0193 ON 14 Durante duzentos e trinta e seis dias, Beatriz se auto-aplicou testosterona a filosofia do século 20 voltard incessantemente. E ali que entre outras questdes, Derrida propde repensar a nogao tradicional de escrita como mero suplemento da fala esta sim, imediatamente ligada a verdade, para pensara ordem do discurso como suplemento ou prétese. "A contrassexualidade recorre a nogdo de suplemento, como foi formulada por Derrida, e identifica 0 pénis de borracha como 0 suplemento {que produzaquilo que supostamente deve completa”, postula Preciado no manifest. Quando uso a expressio “ordem do discurso” estou bus ‘cando uma aproximagio com outro filésofo marcante na tra- jetoria do pensamento de Preciado, Michel Foucault. Deste francés ela se vale para pensar uma definigio biopoitica dos corpos ea producio do género, do sexo eda sexualidade como técnicas de dominio criadas na modernidade, com as quais Preciado quer romper. Faz disso uma estratégia intelectual, sem divida, mas também uma forma de pensamento encar- nado, expresso no “proprio” corpo, aspas aqui para indicar a mpossbilidade dessa “propriedade” ti tida como natural. Estamos de volta ao pénis de borracha e sua simboliza «io de suplemento, daquilo que interroga a propriedade do masculino como lugar de posse e propriedade, eautomati- ‘camente, nas formas opositivas, langaria o feminino como lugar de auséncia e impropriedade. Se, como bem observa Marie-Hélene Bourcier no prefécio do manifesto, é a partir de deslocamentos que 0 pensamento de Preciado se escreve, cesses pares cuja integridade parecia se manter ainda intacta sio 0 alvo de seus deslocamentos. Geogrificos, linguisticos, temiticos. Seja como ativsta seja como artist, seja como aca- ddémica,interessa a Preciado interrogar a producio de identi- dades sexuais ea normalizagio da heterossexualidade, projeto que. Teoria queer na qual ela se inclu pretende confrontar. YVoltamos ao pénis de borracha, agora na aproximagio da nogio de mais-valia no pensamento marxista. Que nio 3 EG BEATRIZ PRECIADO j “Com esta intoxicagao voluntadria, quis mostrar que meu género ndo pertence 4 minha familia, nem ao Estado, nem a industria farmacéutica” se enganem 0s criticos de Preciado ou da Teoria queer ~ ¢ S30 muitos -, porque nao hi ingenuidade nessa analogia. Ao nv193 OH 43 seriam um reflexo de estruturas naturais (horménios, cromos- somos, neurais). A patologizago das experitncias ou expressbes de género fora da norma comesou a se configurar como um rmecanismo que assegura a propria existéncia da naturalizacio das identidades. ‘Logo depois, eu fiz parte de minha pesquisa em coletivos trans espanhdis. Era comum escutar as pessoas nas reunies contando os absurdos que os psicélogos tinham Ihes pergun- tado: “Vocé € muito emocional?”, “Vocé gosta de cozinhar?”. Para produgéo de um parecer que iria autorizar as pessoas trans a fazer a cirurgia, os especialstas acionavam os mapas socialmente construidos para definir o que & ser um homem. ser uma mulher e que pretende coincidir masculinidades = homens feminilidades = mulheres. A autorizagdo para fazer a

    You might also like