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Mewdaiss oF un Runner Ja deu. Fiquei de pé, tomei a arma da mio do moleque ¢ o acertei ‘com um soco na boca. ~ Antes de comecar a bater em alyum prisionciro, certifique-se que suas algemas esto bem presas, Foram as algemas mais vagabundas que jé me prenderam. Enfiei uma bala na testa do moleque antes que ele pucesse gritar. Sam... ~ Rob6. Por que me salvou? Fu podia lidar com isso sozinho, ~Como ele disse Sam, eu sou uma boneca quebrada, lio tenho tempo pra perder com voce, robs, ou devo dizer, ‘Tomoe 'Takeba. = Nao! Eu niio sou el: Eu tenho minhas 16 na aparéncia, Eu sou eu mesma, a Mia. memorias ¢ minha vontade. Um cérebro de verdade, preso dentro da maquina, Era isso o que eles nao compreendiam, ‘To vendo... ~ Ainda estava irritado por ter sido enganado daquela forma. Meu dedo cocava no gatilho enquanto imaginava 0 cérebro cle- tr6nico de Mia explodindo em mil fiagmentos. ~ © que quer de mim? — Nada... $6 quis te ajudar, como me ajudou. iu nfio preciso da sua ajuda, rubd — falei, querendo magoar E magoci, Ela baisou a cabega, hesitou por alguns segundos, ¢ saiu da sala correndo, Nao sei se 2 ligrima que vi em seu rosto ema real, ou ‘apenas uma impressio minha. ‘Também me magoci, de alguma forma Serd mesmo que ela era nna androide?, consicerei 20 v ra, imaginando se nossos caminhos se cruzariam novamente. Mas dei xei os pensamentos de lado. Acabara de dar um tiro na cabega do filho do poderoso cheffio e ainda tinha que dar um jeito de fugir. Tinka muito com que me preocupar. Mas cu saitia da entaseada, como sem. a indo embo- predou um jeito de fazer, Sou um ruveer,afinal! Sempre volto pra easa ao fim de cada mis: (Ou nunca escreveria minhas memérias, RO PNao Hava jANELAS)NO conrepow] Ali, tudo era bran- co, limpo e bem iluminado] Hermes tentava acompanhar os passos ¢ as explicagdes do gerente. Era dificil entender as | palrwras absafadas pela mascara citiingica, lado — disse 0 gerente. {© isolamento hermético & maior do que o de uma fibrica de nanoprocessadoress Contami- nagid aqui causa muita mais prejuizo) Usavam jalecos, aventais ¢ toucas, todos brancos, Achow } = Aqui na Cybermind, o ambiente rigidamente contro- | irénico ter comprado um novo temo para escondé-lo por baixo de roupas assim, insipidas. Uma das portas automati- cas no corredor se abriu, ora voce vai conhecer uma sala de parto — disse o gerente, ~ Esti preparado? ~— Estou, ¢ curioso também. gerente sorriu e disse: Vamos ver se vocé tem estmago pro negécio} \ homem de pé, um dos operirios da Cybermind {Na parte superior do seu cranio, onde deveria estar a caixa craniana que protege © cérebro, havia uma calota inox com varias ranhuras onde pequenas luzes esverdeadas brilhavans] O Entraram. Um parto estava em andamento. Havia um operério estava no meio das pernas de uma mulher gravi- Bde, mexendo na vagina, Ela parecia morta, mas néo estava TNA O Trainee ‘Também era uma operixia, ou algo parectiofo invés de ter uma calo- © 12, 0 topo do crinio estava conectado 20 maquinésio onde ela estava @ dlojada, deitada ¢ de pernas abertas/Fira como, scKela)fosse parte do ‘equipamento) De repente, ela passou a se mover, com movimentos iclicos, retesando 6 abdémen proeminente. la dar i luz, Em poucos segundos a erianga nascew. Nao chorava, © operitio se voltou mecanicamenté)com o recém-nastido nas ios, ¢ ele pode ver o neném de perto, Sobre os olhos, vinham as pilpebras ¢ nada | mais, apenas nddulos retorcidos onde devia estar o eérebro. Bra um. anencéfalo, Engoliu em seco, sentindo nojo, ¢ ao mesmo tempo te morso por sentir asco de um recém-nascidv. O operiirio passou a cri- de mon- anga por uma abertura na parede, para ela prosseguir na linha tagem. Sentiu o estomago revirar. / ‘f= — Bisso que fazemos aqui — disse o gerente, — F, repugnante, & * ! a x | duro, mas éicito ¢ necessirio. Fa nica mao de obra barata que existe hoje em dia. Se quiser ser engenheiro da Cybermind, tem que ter esto ago. Mas fique tranquilo[A maior parte do nosso trabalho é atris de uma mesa, ou em reunides, ou atendendo clientes e executives em video-conferéncia) Basta. Vamos voltar pro escritério, Isso foi apenas / pra voce ver de perto qual fo nevécio, Ao sairem da sala, Hermes tropecou nas préiprias pernas. Apoiow 4 mao na parede e vomitou. Golfou virias vezes até nio ter mais nada a botar para fora, Pitou o gerente, seus olbos lacrimejando, um gosto tertivelmente amargo na boca. ~Tudo bem ~ disse 0 gerente com olhar solicito, ~ Isso também aconteceu comigo. Uma portinhola se abriu na parede, proxima ao rodapé © um fF robozinho saiu de ki, Tinha rodiahas ¢ era achatado como um besou 10, Comegou a se mover sobre a vémito, sugando-o, limpando o chit. ©, | (Parecia estar comendo o vomit) teve vontade de chutar o robé. Porém, era apenas o trabalho daquela" maquina nao-pensante. Seria uma idiotice danificar & toa equipamento da Gjbermind, ainda mais com o chefe olhando. — Vamos li — disse 0 gesente. — Veaha, ira uma cena tio desprezivel que n= Unieatay PeteTei@9 Pepansca c etevedee( etme) nanan que gerente cambeleon um pouco 20 comecarem a subiz. Percebeu também que agora cle suava bastante, Pensou que talvez a cena do parto tamhém o tivesse abalado, Perguato: — Vocé esti se sentindo hem? = Acho que... estou meio febril. Vamos conversar mais um pouco, depois vou pra casa, descansar, ou talver. va ver um médico, = Estava satisfeito por estar ali, Por ter conseguido aquela chance, numa das empresas que mais crescia na atualidade, com vagas para trainee tio disputadas. O gerente era dez anos mais velho, estava para ser promovido. Deixaria 0 posto vago. Seria uma chance promissora {pat um jovem ambiioso Chegaram ao escritério, Tiraram as vestes de enfermeiro, 0 ge- fente sentou-se enxugando a testa com um lenco ¢ oferecen-the uma cadeira 7 MAAD ‘tay ~ A logica é simples ~ disse o gerente. ~ Movimentos humanos sio dificeis de reproduzit plenamente através da robstica, ¢ os robs que se aproximam disso so muita caros. Como a interface eletro-bio- | logica € tecnologia amplamente dominada, produzimos anencétalos, implantamos interfaces cranianas eos conectamos a equipamentos com fungdes cerebrais basic trindo para se tornarem adultos saudaveis, Entre dezoito € vinte anos, instalamos 0 cérebro eleteGnico com a programacto que o cliente soli- | citar, Mordomos, cozinheiros, motoristas, zeladores, operirios como | 08 que temos aqui. Trabalham bem até os sessenta ¢ cinco, depois 2 | manutengao fica muito cara, entio sio desativados. Simples. Nosso | presidente € um genio, nto é? Teve essa visio, ¢ agora ébilionsrio. E {6s temos estes empregos bem remunerados, Perguntas? — Ea concorréncia? ~ perguatou, num tom sarcistico. ~ Ess esperneando! Clones ss sebelam,ageiess. os propictiros ¢ fogem, Hlouve muitas mortes, Fd gangues de renegados por afl Até o. fe do ano, s6 as clinicas de manutengio dos concorrentes vio estar [ fenciando — Haveri aquisicio’ As criangas erescem se exercitando € se nu- O Teamee — Mais empregos para nds! — retracow o gerente, sorrindo. Riram, Hermes levow um susto ¢ levantou de um salto quando, de repente, o gerente se retesou na cadeita, trincou os dentes arregalou os olhos, numalexpressio inumana, O gerente se esticou, se esticou, os dentes comecaram a bater com forga ¢, entio, caiu na mesa, desFaleci- do, Talvez morto. ‘Tentou acudi-lo, mas nao sabia o que fazer, Tocow the a jugular para tentar sentir o pulso, mas no conseguiu, Resolveu pedir ajuda pelo interfone. A telefonista atendleu: — Pois nao. = Aqui é 0 novo seamed Desmaiou, acho que é grave! Preciso de ajuda! Nio houve resposta, No entendeu por que Al6? Voeé me ouviu? tou na sala do gerente! Ele esti mall = Vou mandar ajuda. A resposta foi fria, Teve a impressio de ter falado com uma mé- quina, Enquanto esperava, tirou a gravata € 0 palet6 do gerente, Ele ppatecia estar respirando devagar. Os minutos passaram e ninguém apa- receu, Acionou novamente o interfone. — AMOI? AIGI? Voc’ esta al? Nao houve resposta, Entio a porta se abriu, Para sua surpresa entrazam dois homens vestinde macacées einzentos, pareciam meci- nico, Na frente vinha um negro baixo e gordo, de cabelo meio grisa- | ho, seguido por um rapaz moreno, magricela, de sobrancelhas ¢ labios | grossos) que carregava pela alga uma caixa de metal, a qual parecia urna caixa de ferramentas, Passaram por ele como se nao existisse ¢ para- ram junto ao gerente negro levantou a cabeca do gerente com truculéncia, abriu as pilpebras © examinon os olhos. Depois o largou, a cabega bateu com forca sobre a mesa. — Cuidado com cle! — gritou Hermes. Como se nio o tivessem ouvido, 0 magrelo colocou 2 caixa sobre amesae abriuva — Vocés sio enfermeiros? — ele perguntou. (Wevearay Pecereiea Somos, Somos sim — disse 0 negto, com descaso, sem Ihe dis- pensar sequer um olhar. © magrelo tirou um instrumento da caixa ¢ entregou ao outro. enfermeiro, Fra uma haste com uma peca circular na ponta, dentada na parte interna. Hermes levou um susto quanto colocaram acuilo em volta da cabeca do gerente, Ouviu um afc como se ela tivesse encaixa- do, Espirrou sangue na mesa. —O que vio fazer? — gritou. O rapaz magrelo segurou a caheca do gerente enquanto o negro torcia o instrument com fora, Hermes percebeu que nao era um. instrumento, mas uma ferramental A calor eraniana do gerente se sol- tou, bateu na mesa, rolou e cai aos seus pés, sujando de sangue as saparos novos. Entio viu o cérebro eletrOnico do gerente. f — Rejei¢dio tardia — disse o negro, balancando a cabega enquanto examinava o erinio aberto, — Tem sobressalente? ~ perguntou o magrelo. ~ Ambos olharam para Hermes, impassiveis, como se s6 entio o ii rivessem visto. jo! — gritou Hermes, com as mios na cabega, caminhando para tris — Nao! (© negro tirow um pequeno controle do bolse, apontou para o Irainee © apertou 0 botie. Uma pequena luz vermelha brilhow, foi a lima coisa que viu antes de desmaian. Quando abriu os olhos, piscou e viu o teto. Passou uma luminaria, Percebcu que estava deitado em uma maca em movimento. Olhou part estava distrafdo, mas baixo e viu que o rapaz magrelo a empurrava. quando viu Hermes de olhos abertos, disse: — Uél Esse camarada acordou! © negro surgit: a0 lado, Franziu 0 cenho € retirou 0 controle do bolso. Acionou-o, mas desta vez Hermes no apagou. O negro aper- tou o botio mais algumas vezes, com mais forga. — Acabou a bateria? — perguntou o magrelo. 70 = O Trawee si acendendo. Deve ser algum problema no receptor. ‘Vamos ter que desligar esse af no manual, ae pritow Vai desligar o catalho, seu filho da putat cision a perna o mais que pode e atingiu com a sola do sapato 0 rosto do negro, Fle caiu. O magrelo hesitou, mas quando Hermes pu lou da maca ¢ se pés de pé, cle o agarrau pelas costas. O drainer baixou encostar 0 queixo no peito, depois jogou © tronco € a cabega, at : cabega para tras, atingindo o nariz do magrelo, que o saltou, Lntio ferindo uma cotovelada na témpora{Teve a im. JO magrelo se estarclou de girou com forga, de pressio de que algo c cara no chao. O negro estava sentado, encostado na parede, com as mios no tosto. Escortia bastante sangue, sujando a camisa. Hermes preparou tum chute e acertou em cheio seu rosto, 0 fazendo-o desmaiar, penden- deu na cabega del do de lado. ~@lhou em volt Nao sabia onde estavaO corredor ali era o oposto do que conbe Cybermind. Fscuto_¢ imundg] Resolven voltar na direcao contrarian a qual o estavam levando, Chegou a uma porta, abriv-a. Do outro lado estava um dos corredores limpos da fbrica, Ao fechar a porta per beu que nio era possivel vé-la do lado de fora, Verificou se as roupas estavam em ordem, part nfo despertar suspeitas, ¢ seguiu rumo & said ‘Tentou dissimular o nervosismo o melhor que pode para nao cha « atengio dos funcionatios. Sent 0 peito fiear mais leve quando viua saida, Estava a um passo de fagir dali avin wma porta girat6ria de vidro espelhado ¢ do outro lado ficava o tmplo hall de entrada ce fiibrica. Nao podia vé-lo agora, mas lembrava bem dele. Lembrava como ‘© impressionaram os detalhes arquitetinicos do prédio, a imponente recepgio com balcao de granito, Entrou na porta giratériamas depois de pasar por ela,a0 iavés de wera recepeo, nim flash de lu avermelhada ‘ofuscou sua vista. Depois, a visio voltou aos poucos ¢, 0 que viu, nto foram as belas recepcionistas no balcao de granito, nem os altivos guar- das de seguranga, nem as plantas ornamentais das quais se lembrava na 4 fiiria se arrefecia, dando lugar ao desespero. ia da mar jo Usvearay Petereseo decoragio do hall. Era uma sala escura,|Ao ineés de paredes, havia muitas portas de vidro que selavam cada qual uma pessoa adormecida, Pareciam mortas, Finas sondas penetsavam pelas natinas, Reconhecen alguns deles, cram funcionérios da fibrical/Um guarda, balofd, vestin- do um uniforme desalinhado, laceava, aum dos armérios, uma secreti- ria com quem falara no mesmo dia, soa 7 (~ Um calafrio percorreu sua espinha, Entio era isso. Uma ilusio. “ybermind disigindlo seu carro, Nao estacionou numa | vaga reservada. Nao foi bem recebido pelas belas recepeionistas no | balcio de granito. Nao the deram um crach de identificagio. Nao the disseram onde ir e com quem falar, A casa da qual lembrava nfo exis- Mo veio para a a, nem seus pais, nem o cachorzo, nem o peixe dourado, Sentiu ver \ gem com esses pensamentos, Apoiow a mio numa das portas de vidro, || ocultando a face de um executive adormecido em seu esquife, O guarda o viu e veio em sua direclo, curiosidade ¢ davida estam- pada na face, dizendo: Ora, iio apagou? Algum dispositive acoplado & porta devia desligar os funcionarios que por ela passavam| Mas isso falhara com Hermes, assim como fa- Ihara 0 controle dos técnicos de manutengi) Mas © guarda no sabia disso, Retitou um controle do bolso ¢ acionou, A luzinha vermelha brilhou e brilhoul O guarda insistia, nao parecia compreender que aquilo nao funcionava com Hermes} Entio um alarme tocon, estridente, ¢ lanternas rotativas no teto comegaram a intercalar luz amarela e ver- melha. O guarda percebcu que algo estava errado ¢ levou a mio a cintura em busca do fazer, Mas era a tarde|O trainee jd estava atacando com um édio.que nao reconhecia,(a mente em curto}} nio sabia dis- ‘inguir se 0 vermelho que pintava a cena provinha das lanternas ou da raiva {Como ocotre com a visio de um touro}Um murro-no nasiz, um gancho no queiso, Arrancou o faserdo coldre e fritou o guarda ‘Quando 0 guarda paron de se mover, Hermes ficou parado algune momentos, depois viu o pequeno controle no cho. Furioso, pisou-o diversas vezes, esmagando-o, reduzindo-o a pedacinhos de plistico ¢ componentes eletrOnicos destruidos, O Teanee Quando nio havia mais o que esmagar, parou, resfolegando, En- to seus olhos pousaram num molho de chaves magnéticas, atadas a0 cinto do guarda, Langou mio delas e procurou uma porta por entre as dezenas de faces comatosas. Havia chaves, logo devia haver a0 menos uma porta por ali. Quando a encontrou, passou a testat as chaves, as mos tremiam ¢ dofam devido aos socos desteridos, O molho caiu no cho algumas vezes. Finalmente a porta abriu com um lank, Sain oum cotredor. Correu, as huzes se acendiam com estalos enquanto ele avangaya, No final havia outra porta, robusta como a de um cofre. Digladiou- e novamente com o molho de chaves até abri-la, Moveu-a com dificuldade, era grossa ¢ pesada, Conseguiu sair — do prédio, ¢ Era noite. Ou, se era dia, estava eseuro como se nuvens espes- / sas ocultassem o céut, Caia um sereno denso e gelado. As ruas ¢ avenidas bem cuidadas das quais se lembrava no existiam, nem a grama verdejante entre clas, nem os jardins, aem as arvores ou os monumentos. Nao bhavia um chafariz em frente da Cybermind, Havia um muro alto, sujo, coberto por musgo, 0 reboco quebrado em | varias partes, Arame farpado no topo, Além do muro, viu pistas |) suspensas em largas colunas de concreto, dezenas delas, se entrecruzando como viadutos, uma sobre a outra. Viu um vefculo | escuro comprido passando em alta velocidade, como um trem | bala, emitindo ruido ensurdecedor. Por ali havia sas, pedacos de madeira e ferraens, toda a sorte de entulho, Parecia um lugar para dispensar o lixo. Fechou a pesada ns caixas menores sobre as maiores para tinha esperanga de uma fuga facil. Por certo havia outros neues No topo da pilha de caixas, apoiou um pedago de madeira no muro, Jogou um pedaco de lona podre sobre 0 arame farpado. O muro devia servir mais para impedir que a Fabrica fosse invadida do que para evitar fuges, caso contritio no haveria tanto entulho disponivel ali, Subiu, equilibrando-se com dificuldade sobre o arame, quando ouviu 0 es- trondo da porta batendo contra a patede. porta ¢ comecou a empilha poder pular o murofA poeira aderia ao suor, logo estava imund¢ =" ya Uovearan Pevereira Hermes olhou para baixo, Susteve a respiragio 20 ver na porta um guarda, que vestia uma espécie de armadura ¢ empunhava um rifle, Na _cabeca, um capacete com visor escuro, Ele o viu, Sairam mais guardas. Olhou pata fora, nao havia muitas opgdes, apenas uma pilha de entu- tho, papel, madeira ¢ outras imundices,)O silvo estridente de uma espé- ccie de raio brilhante queimou sua orelha ¢ 0 fez decidir. Pulou. Caiu de lado. Gritou, sentindo forte dor na anea ¢ no brago, Levantou-se, ten- tou dar alguns pasos, uma forte fisgada na perna ¢ nas costas fez ‘tropegar ¢ cait: Levantou-se novamente ¢ seguiu mancando, Ao menos teria algum tempo, pois os guardas nao conseguiriam passar pelo maro to ripido com aquelas armaduras pesadas, Teriam que dat 2 volta. Entio owviu um rufde como o de um jato, Olhou part o muro ¢ vin um guarda surgir voando, Atravessou 0 muro vagarosamente, embaixo dele uma ventania fazia chix esvoacar. Os ontros guardas sitgiram ‘Ten tou ignorara dor e correr, conseguiu na medida quea pera fevida permida Mais a frente havia uma borda. Sentia a ventania nas costas. Um raio estalou ao lado, incendiando o papel no chao. Chegou & borda, na expeetativa de poder pular, Mas estacou, equilibrando-seEstavam so- bre uma alta construgio de conereto. Conereto macigo, sem janelas,) sem nada{ Olhou em volta. Havia outras construgdes como aquela Em cima de cada uma, um prédio cibico, de aparéncia monolitica ¢ indestrutivel, cercado por muroS\lmaginou que eram todas fabricas como a Cybermind, todas produzindo produtos importantes, talvez al- gumas delas com linhas de montagem de anencéfalos, ou outras mer- cadorias mais hediondas. Era aquele entio o mundo. Um mundo de, montanhas de concreto, cercadas de viadutos gigantes ¢ fortalezas pro- Guzindo monstros) Mas provavelmente havia lugares melhores, onde) moravam as pesias que compravam os monstros; Olhou para o alto, os guarda o rodeavam, Um deles atirou proxi- mo a seus pés, Sentiu-os queimar. Gritou de dor. Os guardas continu- aram naquela-iranda macabra: Um deles apontou com o rifle para o lado, Viu maquela directo uma escadaria de metal, como as antigas escadas de incéndio, em péssimo estado. O guarda fez sinal para cle seguir para li, Aparentemente, queriam brincar um pouco. =| 9 F ) O Trainee Recusou-se a ser um{brinquedo,)Nio faria esse papel, apesar de agora saber que era em parte objeto, mesmo isso se apresentando a cle como um pesadelo, ‘Talvez fosse isso. Ainda estaya dormindo, o nervo- sismo pelo primeiro dia como stuinee sujetara seu subeonsciente aque. | las loucuras. Melhor deixar o guarda acerti-lo, Morrecia no sonho ¢ acordatia na sua confortivel cama, pronto par enearar um dia de re: dade, no emprego promissor que tanto havia desejado. Como Hermes niio se moveu, 0 guarda fez um 2 disparou.|Acertou seus pés, uma dor lancinante subiu pelas pernas. ‘© guarda mirou novamente( dessa vez cle faght grrastando os pés, sentindo as pernas dormentes}Chegou as escadas e comecou a des- cer, A estrutura rangia como se estivesse prestes a desabar.(V disparos foram destruindo -adas por onde cle pass | tuido ensurdecedor. Osdestrocos de metal se desmantelavam ainda 1" pelos lados da ‘escadaralOs degraus estavam carcomidos pela ferru- gem, alguns cediam sob seus pés.[Numa dessas pisadas, sua perna passout pelo vio, sofrendo cortes das pontas de m Gritou. Vin que os guardas pareciam es vayelmente através de transmissores. Mencavam estivessem indo. ste na arma e que restaram, + conversando entre si, pro- cabegas como se Cagavam-no, torturavam-no, como criangas se divertindo com um \ inseto numa lata) Desceu mais um lance, dea mais um passo desapareceu embaino dele, Conseguiu agarrar-se no cortimao ¢ ficou dependurado, Viu que eram apenas mais alguns lances, que agora cai am na escuridao, Desde o inicio cra uma rota sem fuga. ada Hermes apoiou o pé em una barra retoscida e conseguiu erguer o compo, Estaya encurralido no éltimo lanee que restara preso a0 eon- cxcto. Os guardas, voando ao redor, pareciam esperar o momento apro priado para liquidé-lo, Ainda pateciam conversar. Ei patecia ser o lider fez novo ajuste na arma, Provavelmente para 6 tito Gulia. Ou talvez um que Bizesse sofrer por algumas horas crf que 0 seu defeito ndo compensava 0 custo da repara- G40? O deféito que the permitira saber a verdade. Um eurto, Um mis nivel curco-cireuito! Preferia nao ter descoberto a verdade. Continuar =] to, o guarda que UUnvearan Pevereeo naquela fantasia, dormir & noite num arméio de vid'o pela manhi ter lembrancas de uma vida feliz que nunca existiu. Ao menos 0 trabalho seria real, Poderia amar as ilusdes, se elas continuassem mentiras perfeitas. J . ° Gritou: qx [7 =Por favor! Levem-me de voltal Consertem-me! Eu posso traba- t Ibar! Bu quero trabalbart ~ © guarda niio se moveu por alguns instantes © depois fez mira Hermes susteve a respiragio para esperar a morte, Mas algo atingju seu algoz, como se varios projéteis 0 acertassem ao mesmo tempo, fazen- do-o se contorcer por alguns segundos. Depois varias pequenas explo- s6es destrogaram seu corpo, aspergindo vapor escarlate, Um antebra- 0 caiu 0s pés do éainee. ‘Os outros guardas comegaram a disparar, mas um ¢ depois 0 ou- - explodidos em pedagos no ar, as to sccesen'sresinereeacns tr visceras voaram, algumas caisam sobre Hermes] Dessa vez ouviu os “ disparos. Explosdes abafadas, Ouviu também o que pareciam.ser rui- dos de turbinas. Olhou para a diregZo do som ¢ vit uma fave s¢ apro- ximando, Exa pequena ¢ parecia haver um vulto sobre ela, pilotando, Quando se aproximou, viu que tinha o feitio de uma moto, com turbi- nas ao invés de rodas, Ela chegou rente ao que restava das escadas. Um sujeito estranho a pilotava, Usava calgas de couro e botinas com cravos ¢ biqueisa de ago polide. A camiseta no tinha mangas nem gola ¢ parecia ser feita de escamas de metal, Eta magto, com musculos definidos, erguia na mao esquerda uma arma semelhante a uma escopeta, porém com 0 cano grosso como o de um langador de _granadas, No rosto suleado, ao iavés de olhos, destacavam-se encravados ‘nas érbitas oculares estranhos mondculos, F:ram tubulares, de uns trés centimerros, ¢ tinham um brilho verde fosforescente nas lentes, como um binéculo de visio noturna, No lugar dos cabelos, vatios pregos longos € pontiagudos emergiam radiais por todo 0 couro cabeludo. Brilhavam como aco-inox. Ele guardou a arma cm um coldre da moto ¢ dis - Eai, chegado? Deu custo? jy a = 1 Trainee {Hermes massageava as proprias témporas com forga. Os dedos | nao sentiam metal. Parecia pele e osso. A visio surreal daquele indiv duo o fez agarrar-se a hipstese do pesadlo, A realidade nao podia ser assim tio peculias, Disse ~ Nao pode set! Minha vida tem que existir! estranho retirou algo da traseira da moto, Eira uma haste com um disco na ponta, Aproximou-a do tmx de Hermes e ela comegou a bipar. Moveu 0 aparelho 20 longo do peito, em diregao it cabega de Hermes. A velocidade dos bipes aumentou, Quando o disco ficou so- bre o cranio, os bipes deram lugar a um silvo continuo. (=~ — Nao tem erro, chegado! — disse © estranho, — [ metal. Sorte tua! Se tu fosse um desses clonados fudido: {si de balotes explosivos, O esiranho girou a moto c ofereceu a garupa. — Sobe ai, chegado, se quiser viver. Logo vem mais meganhas. Hermes hesitou) Lembrou da conversa que tivers com 0 finado [u tem cuca de gerente, sobre os clanes gue se revoltavam ¢ fugiam para viver na marginalidade, em gangues}Ele, afinal, era um produto com am desvantagem. Arrastou-se par Uma fisgada na base da coluna o fez se contorcer quando saltou para a garupa. Segurou nas latezais da moto, tomando cuidado para nfo furar sma moto, Sentia dor por todo © corpo. os olos nos espetos da eahega do seu salvador, Perguntou: ~ Aone vamos? — Pro sndergronnd, chegadol Nio tem outro lugar prait. Tu agora é | da gangue. Depois de um wendnie na moleira, tu vai ficar legal A moto algou vo ¢ mesguthou n0 de cone — umn bea, ab Minto finda, Heres pode di smo entre viadutos € colu- \ sar luzes de néo1 2 NDEIRA Giesto pRBLOU Canuséxe € continuou com a bola do- minada em dizegio ao gol. Valois correu da diteita e, com um toque por tris do pé esquerdo, derrubou o italiano. A bola rolou para a linha de fando, escorregando na grama sintética, Todo o piiblico se levantou. © juiz girou o destizador e se aprosimou do jogador caido, Apitou o pénalti e mostrou © cartio luminoso para 0 francés. © vermelho se acendeu, Valois abaixou a cabega & sai de eampo. O italiano ja estava de p substituira a perna mecéniea em apenas 40 segundos. A Itt lia batera seu proprio recorde de velocidad ‘AM totcida agitava os estandartes ¢ bandeis: a batida da penalidade maxitna, Diante do retdngulo da rede, Langlos, um androide fran- cés de dois metros, aguardava. Seus reflexos eram superio- res aos de qualquer similar humano. Por isso, 08 goleizos raramente cram originais Nessa partida s6 havia humanoides. Os paises da Unio dias Repiblicas Europeias ¢ de € ‘vam outro tipo de jogador. Eles eram permitidos até a altu- mde 2 metros c 10. S6 a Latinafrica ainda empregava humanos defenden- do a camisa de su A unidade mével de socorro s esperando at Amerikan nfo usa selegoes. OLS] 30 OVISINF] VAT]

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