MAURICIO TRAGTENBERG A DELINQUENCIA ACADEMICA: Oo poder sem saber e o saber sem poder — — ¢Por ter coneluido apenas curso primério, Mau- ricio Tragtenberg ingressou na Faculdade de Filowe- fia, Ciéncias ¢ Letras da Universidade de Sio Paulo, sm 1955, mediante a apresentagto ile wma monografia Planificagio, desafio do séewlo XX. Coneluiw a Ii- ceneiatura em Histiria em 1960, Professor secundério por concurso entre 1960 ¢ 1964, foi demitido pelo Ato Tustitucional n° 1em nove de outubro daquele ano. Contratado pela Pontificia Universidade Catélien de Sao Paulo em 1968 ¢ pela Fundagio Getitio Vargas em 1967, foi demitido pely Ato Complementar n° 75, faitado em 1970 pela Junta Militar, Bm 1974 foi reinteyrado por sentence jusicial que anudow as demiasies fundadas nos Alo Institucional no 16 Ato Complementar n. 76. Doutorow-se em Ciéncia Politica pelo Fnatituto de Filosofia ¢ Ciéncies Humanas da Universidade de Sao Paulo ¢ se tornou Livre Docente pela Universidade de Campinas, SP. Além da monografiacitada, publicon: Burocracia ¢ Tdeologia, Kaitora Atica, Sio Paulo, 1971. A Becola como Onganiaagio Complexa, in Bawengio Brasileira Contemporinea, Eitora Me@raw-Hill do Brasil, Sao Paulo, 1977. ‘As Vitérias do Renascimento, na vevista Cultura, da ‘Editora Voses. Ferrer ¢ a Pedagogia Libertiia, na revista Bducagio ¢ Sociedade, n° 1, da Universidade de Compinas/Ei. Cortis ¢ Moraes, Sio Paulo, 1979. ‘Violéncia ¢ Trabalho através da Tmprensa, a revista Bawengio e Sociedade, n® 2, Universidade de Cam: ‘pinas/Editora Cortte & Moraes, So Paulo, 1970. 1 ‘A DELINQOENCIA ‘ACADEMICA: © poder sem saber e © saber sem poder© Copyright Ramo Grin Editors Lida, 1979 Este io fl edtoradodurarte 0 més de juno de 1979 pelos alunos 4o 52 Semestre do Caso de Edtorasso da sco de Comonicagies © Ares dt Universidade de So Pasi, em conusto com ot profee sores das lsciplins pertinent, INDICE — Voris que. I — A dolingiéneia académiea I~ Oaal © 0 poder IIT ~ Administragio, poder ¢ ideologia Pi,| VERAS QUEVERAS QUE. A Detingitéucia Académica aboria nfo 36 a uni- versidade como instituigdo dominante mas também os mecanismos pelos quais ela se liga A dominagao, Pro cura mostrar que sua crise reflete a erise da sociedade slobal, produzindo contraditoriamente dois tipos de intelectual. O intelectual orginico da burguesia, or sanizedor da hegemonia burguesa, a qual por mediagio dda universidade ineuleari as formias de sentir, pensar © agir da classe dominante como sendo “natursis” € ‘mormaia’; e o intelectual eritico que, em épocas de as ‘eng do movimento de massas, pode legitimamente presenté-las A universidade mandarinesea tem como fungio bi sica formar a mo de obra déeil que servira a reprodu- ‘fo amplinda do capital, formar os ‘doutores’, ‘téeni- 03" que agirao como comissionados do capital, prodte indo um saber a servigo do poder. A carreira universitéria neste contexto transfor ‘mase em mera estrutura de domestieagio da mio de ‘obra, onde uma nova pedantocracia de doutores e livre- docentes, sem serem docentes livres, garante a hep nia do saber dominante como sendo 0 tinico‘legitimo’, Aeselassificando os outros tipos de saber como “ilegiti- ‘mos’, na medida em que nfo absorvem a retériea domi rnante na drea do conhecimento especifica. Delingiéneia académica significa a transforme- ‘io dos ‘meios’ em ‘fins’, 0 cultivo de um saber aparen-temente ‘neutro” porém financiado pelas multinacionais da cultura, a formagho de quadros que servirdo a Te- presaio na sua odiosa divisio de. trabalho: censores, Analistas do interrogatérios, homens de ‘informagio’ ¢ comunieadores socials ofieiais, 0 saber © 0 Poder snslisa as relagées entre 0 mo- do de produeéo capitalists ¢ a instramentalizacio do conhesimento que de Bacon aos neo-positivistas de ho- Je define um perfil do saber: a servigo da dominacéo, Assim, © eonhecimento de modelos eeonométricos, 1 estraturagio do bancos de dados, a teoria dos mode los, ligados a ideologia do ‘apolitieismo’, servirdo para sseegurar a posgdo hegemnien do imperialismo. no ‘A utilango dan cincins scinis para ag eontra-re volugies prevents na Asia, Aftien Amica Tat na, ligansee A formagio Je podeross aparelnos ideal {Gems como n Rand Corporation lignda a Fora. Area Norte Amereann, onde pan prize ye, criterias coo nbmico de eusls ¢ fitincin alo apicados a questa tllares ot bonbardeon alo vets do flo de cia do estoqu’ No mesmo sentido, a antropologia oeidental desen- volveu-se ligada ao colonialism, permitinds a emer éncia de um novo tipo do intolectnal: o ‘antropélogo colonial’, a servigo da administraglo ingless, holande- sa ou francesa, stgerindo ao Poder medidas oportunas para a manutencio do eslonialismo. ‘Exe ‘preado original” da antropaogia ase com son vinoulagdo a0 Offien Colonial Britangue’ durante Segunda Germs Mundial © vem até os nowos diag Guando afrcanstaniberin deenvelvem tome mugen ds pla CTA, como “A bruxarine a magia outro fo ‘nimenos pricoldgicos« sons implicagdes sobre a ope- —wH vagées militares © para-militares no Congo”, selando Yoracéo imperialists da antropologia soci No mesmo sentido opera a ‘Teoria de Sistemas nas ins socnis, que gous das prefertncias tecnocrdtt aa na medida om que extraqola melon mingidon em situagies do absaluto eontole das vatiéves, (epoca de sierra) para a sociedade global que, fundada ta rvs coneorténeia e ananquin de. produgio, pombe Imnitas variéveis incontroliveis, A teoria wiatimien quanto mais perde como elemento expliativo, mals ena camo ideologin do conservedoriamo. Administragio, Poder ¢ Tdeologia procera vinewlar 4 estrutura adminitrtiva no modo de produto histo rieamente dado. A estrutora adniistrativa, muda com 0 modo de produgio, da misma forma que & mae em que tem do at (ileologin con elements de ate egitimagio) tende A mudanea. Assim, a histiria das teorias administentivas 6 a Yistérin dos modos de. produglo, representatos pelos ideologos patronais através do tempo. "As eftrufarae bnuocratins existem para zeallzagio do Iuero €. para sssegurar a alieagio do (rabalhador; a separagao cntre Planejamento ¢ exrengio, a hierarquia ne ompresny, Aiscipina industria, enfin, todos os slementor qu eons vertem a'mio de obra em fungao do capital, A teoria da adnministragio da empresa sb 0 eapi- fatinmo 86 pode ser vista como a teoriapatronal da sdministragio de empresa, na medida em fue legitina como ‘natural’ ¢ ‘fatal a separagio entre proitor,¢ aeios de produgio, a exploracio do trabello 0 obje- tivo Iueraivo como ‘warn, puntata orginal Mauricio Tragtenberg 23/06/79 aneA DELINQUENCIA ACADEMICAA DELINQUENCTA ACADRMICA 0 tema é amplo; abrange a relagdo entre a domi: nagio e o saber, a relagdo entre 0 intelectual ea univer: idade como insttuigdo dominante, ligada 2 domina- ‘oo, a universidade antipovo, A. iniversidne etd mers ¢ ino ore poraue A socndae std em crise, "Através date da eter, Sidade que on jvens funelonam, deectanfo ay con teadigoes profundes do mando sual refletidas Unk ‘ested que ie ago to ena como Hag fen €stpleanente uma institute dominate gaa Mtominagin. Hla.nao © uma instagto netra; is si el, Sy atin param Pan ear Tater 4 annvorifatedeenvlte tua Tolga de anber neutro,cnetifcn, un neuter, Tide ela eum mito do snr objetio® we dos cattradighs soca Xo sieulo pari, pero do capitalise Uersl + univer provureve formar om tipo de ‘boson ue a0 caracerzaya por um sompsrtanents atom txigio por moan funges ncn: ern a universidade Sere! humarinta¢ madara, THojq, ela forma.‘ tudo deabra deinada tanto mid fries @ ape, “Wit do capital Now intttoe de ern, e2a ee flew que deformam dados scandmicos em detrimento dos sxBlaviidos; nas escolas de direito, forma os aplieado legislacdo de-exoogio; nas escolas de. medicin aqueles que ido eonvert#la numa medicina do eapital aiseou utiligi-a repressivamento contra os deserdados do sistema. Ein stma, trata-se de ‘um eompl6 de belas al. ‘mas’ recheadas de titulos académicos, de doutorisms substituindo o bacharelismo, de uma nova pedantocra- ia, da produgio de um saber a servigo do poder, seja ele de que espéeie for. Na instineia das faculdades de ‘edueagi, forma-se o planejador teenocrata a quem ime porta discutir os meios rem discutir os fins da educa ‘oe confeccionar reformas edueacionais que, na reali- dade, sio verdadsiras ‘restauragées’. Rormt-so 0 pro- fessor-policial, aquele que supervaloriza o sistema do exames, a avaliagio rigida do aluno, seu eanformismo ante o saber profersoral. A pretensa eriagio do conhe- cimento & substituida pelo controte sobre 0 pareo co- hecimento produrido pelas nossaa universidades; 0 controle de meio transforma-se em fim e o ‘campus? tii versitério cada ver mais pareee im tiniverso “concen tracionario’ onde se retinem aqueles que se originatn da classe alta © média, enquanto profeasores ¢ alunos, da ‘mesina extrago social, sin *hendeiros’ potenciais do’ po- der através de um saber minguad, atestado por um ai ploma, ‘A universidade classsta mantém-se através do po der exercido pela selegio dos estudantes e dos mecanis- ‘mos de nomeagdo para os professores. Na universida dda mandarinal do séeulo passado, o professor eumpria ‘fungi do ‘edo de guarda’ do sistema: produtor ¢ re produtor da ideologia dominante, ehete de diseiplina do estudantado. Cabia & aua fungio professoral,, aci- ‘ma de tudo, incutear as normas de passividade, subser~ vvigncia e docilidade através da. repressao podagogiea, formando a mio de obra que um sistema fundado na esigualdade social acroditava legitimar através da de sigualdade de rendimento escolar, onde a esoola ‘esco- hia" pedagogieamente os ‘eseolhidos” socialmente. A transformagio do professor ‘eo de guarda’ om ‘cio 6H pastor’ acompanha a passagem da tniversidade preten- samente humanisties ‘mandarinesca’ em universida: de teenoeritica, onde os eritérios Iuerativos da empress, privada funcionargo para a formagio das fornadas de ‘colarinhos branco’ mimo a usinas, eseritrios © depen déneins ministeriais. 0 mito da assassoria, do posto Ablico que mobiliza o diplomado universitari A. universidade dominante reprodur-se mesmo através dos chamados “eursos criticos? onde 0 juizo pro. fessoral aparece hegemdnico antes os dominados: os es tudantes. Isso se realiza através de um processo que chamarei de ‘contaminagio’. “0 euro. eatedratico ¢ oginttico transforma-se num curso ‘magisterial’ ¢ eri tico, A critica ideoligien 6 feita nos chamdos ‘eursos criticos’ que desempenham a fungio de um tranglil zante do meio universitério. Kea apropriagio da ert ‘ica pelo mandarinato universitario, mantido o sisteran de exames, a conformidade ao programa © 0 control a docilidade do estudante como alves hasicos, cons tti-se numa farsa, numa fAbriea de hoa eonseiéneia pe ro a delingiineia académiea representada por aqueles que trocam 0 poder da razio pela razio do Poder. Por iso, 6 necessério realizar a erica da eritieaeritica, dew truir a apropriagio da eritien pelo mandarinato acadé- ‘mico. Watson demonatrou que ax. Pesquisas em ‘mica molecular, eomo nas eigneias humana, estio. pregnadas do ideologis. Nio se trata de diseutie apropriagao burguesa ow nio-burgnesa do saber, mas sim, a destruigio do ‘saber institucionalizado’, do ‘sa ber’ burocratizado’, como o Gnieo ‘legitimo’. "A apro- Driagéo tniversitiria (atual) do eonhesimento & a con- ‘cepsio capitalista do saber, o qual se constitu em capi: tal e toma forma nos habitos universitétios, A ‘uni Yersidade reprodiur o modo de produgio eapitalista do- ‘minante ndo apenas pela ideologia que transmaite, mas pelos servos que ela forma, se modo de produghe —determina o modo de formagio através das transforma- gies introdusidas na escola que eoloea em relagio mes- tres e estudantes. © mestre poss um saber inteaba- do eo alvmo uma ignordnein transitbria: no hi saber absoluto, nem ignordneia sbsoluts, A relagio de saber no institui a diferenga entre aluno ¢ professor; a se- paragéo entre sluno e professor opera-se através de luna relagio de poder simbolizada pelo sistema de ex ‘mes, ‘esse batismo buroeritien do saber’. O exame & a parte visivel da sologios a invisivel 6 a entrevista, que ‘cumpre a mesina fungio de “exelusio" que possi na ‘empresa quanto ao futuro empregado; informalmente, docilmente, a entrovista “exelui? 0 eandidato, Para 0 professor, hi o eurrieulo visivel, publieacées, conferém. ins, tradugdes © atividade diddtica, © hao curreulo in. visite, esse de posse da chamada ‘informagao’ que tem ‘spago na universidade, onde o destino esta em aberto ¢ tudo 6 poseivel acontocer, através da nomeagio, da ‘eooptagdo” dos mais eonformistes, nem sempre os tals produtivos, que a burocracia universitévia reprodus 0 anil de professores. Os valores de submisedo © com formismo, a eada instante exibides polos eomportamen: tos dos professores, jé eonstituem um sistema ideolS- gic. No que cousiste a detingiiéneia académica? ‘Essa ‘delingiiéneia seadémica’ aparece em nossa época longe de seguir os ditames de Kant. Se 08 es- ‘tudantes procuram eonhecer og espiritos audazes de nossa época, 6 fora da universidade que indo eneontrie clos. A bem da verdade, raramente a audacia caracte- Tizou a profissio académica, Esta € a razio pela qual (¢ filésofos da revolueio francesa se autodenominavam ‘intelectuais’ © nfo ‘aeadémicos’. Isao ocorria porque a universidaide mostrara-se hostil ap pensamento erste. ‘Pela mesma rario, o projeto de Jefferson avangado. para a Universidade da Virginia, eoneebida para pro- dugio de um pensamento independente da Tgreja ¢ do Estado, do cardter eritico, fora substituldo por uma ‘tmiversidade que masearava a ustxpagio e monopélig dda riqueza, do poder.’* “Isso levou o8 estudantes da época a realizarem programas extracurricular onde Emerson se fazia ouvir, ja que o obseurantismio de en ‘io impedia sua entrada ios prédioa universitariog, pois contrariavam a Igreja, o Estado e as grandes ‘corpora {Pega alguns inteletuais cooptadspretendem qe ‘Em nome do ‘atendimento a eomnnidade’ e em no- ame do ‘servigo piblico’, a universidade tends eada vez ais apa iniiminaa a "quaoge pa ‘a8 a servigos dos interesses econimiens Regembnien ‘Neste andar, a universidade brasileira ofereceré diset pling, como’as existentes na Metropole FUA: cursos de escatisma, defesa contra ineindios, economia domes. tica e datilografia em nivel de seerstariado, pois jf exis te isso om Cornell, Wiseonsin outros establecimentos Igitimados. 0 conflito entre o tecnicismo e 0 uma. nismo acaba em eompromiaso: a universidade brasile a prepara-se para sor uma ‘multiversidade’, isto 6 en sina tudo aquilo que o aluno poses pagar. A universi- dade vista como prestadora de gervigos corre o risto de enquadrarse numa ‘agéncia do poder’, especialmente pds 68, com a Operagio Rondon @ ati apatente demo- cratizagio; apenas nas vagas é que funciona como tran- Alilizante social. 0 ‘assistencisliamo" universitirio nfo resolve o problema da maioria da poptlaglo bras lira: 0 problema da terra, 1_KAYSEN pretende_arbuir uma ‘alms’ 4 corporarso- saulnaional. Est purecendo se precupar com tl esorgo cont trtive do atlcual -v-© problema significativo a ser eoloeado & o nivel de responsabilidade social do professor yuisador universitario. “A nio prooenpagzo com aa finalidades sociais do conhecimento produzido se eonstitul em fator de ‘delingiiéncia académica’ ou de ‘traigdo do intelee- tual, Em nome do ‘servigo & comunidad’, a intelee- ‘ualidade universitéria tornon-se eimplice do. genoe dio, espionagem, engano e todo tipo de earrupeko domi- naante quando domina a ‘razio de Estado” em detrimen- ‘to do povo. Taso vale para aqueles que aperfeigoam se cretamente armas nucleares (MIT), armas. quimien- -bioldgicas (Universidade da Califémnia, Berkeley), pensadores inseridos na Rand Corporation, como aque” les que, na qualidade de inteloetuais com diploma ‘acre ditativo’, funcionam na censura, na aplieagao da com- ‘itagio com fins repressivos em nosso pais. Uma uni versidade que produ pesquisas ot curso ‘éapto 4 pagé-las perde o senso da diseriminagéo ica eda finalidade social do sua produigto: é uma ‘multiversida- @e’, que so vende no mercado ao primeire eomprador, sem averiguar o fim da encomenda, acobertada pela ideologia da neutralidade do conhecimento e set prodi- to, Jé na déeada do 30, Frederico Lilge? acusava a tradigdo universitarie alema de neutralidade académi- ‘a 40 permitir aos universitérios alemies felicida- de de um emprego permanente, escondendo a si Dr prios a futilidade de suas vidas e seu trabalho. Em no- me da ‘seguranga nacional, o intelectual seadémieo des. ppe-se de quelquer responsabilidade.sorial quanto ao ‘sen papel profisisonal: a politiea das ‘panelas’ acade- ‘micas de corredor universitario e a publicagio.a qual- quer prego de um texto qualquer constituemae no me- tro para medir o sucesso tniversitario. Nesse univer- 2 LILGE, F. — The Abuse of Learning: The Fare of German University” Machlilan, N. Torgue, 1958, 80 nio eabe a simples pergunta: o eonhecime © para que serve Enquanto o encontro et ores sob o signo de Paulo Freire enfatign a response: bilidade social do edueador, da edueagio no confund 4a com inculeagio, a maioria dos eongressos neadénniens Lniversitérios serve de ‘mereado litmano', onde entram fom contato pessoas ¢ cargos acadéniicos «/serem preen chidos. Estes congressos.parcoem os encontros entre serentes de hotel onde se trocam informagors sobre ino ‘agbes téenicas, revéem-se velhos ainigos e se estabele- em eontatos comerciais, ‘Estritamente, o mundo da realidade conereta é tempre muito generoso com o académico, pols o titulo académico tomt-se 0 passaporte que perinte 0 ingres- 80 nos esealdes superiores da socledade: a grande: em presa, o grupo militar en burocracia estatal. "0 -pro blema da responsabilidade social 6 eseamoteado, a ideo logia do académico 6 nko ter nenhuma ideologia: fax £6 de apolitco, isto 6, serve A politiea do poder. Diferentemento, constitni um legado da filosofia racionalista do séeulo XVIII, ma earscteristiea do ‘verdadeiro’ conhecimento, o exercicio da eidadania do soberano direito de eritiea questionando a autoridade, (8 privilégios © a tradigio. 0 ‘servigo pablieo” presta: do por esses fildsofos nko eonsistia na aceitagao indis: criminada de qualquer projeto, fosse destinado & me hora de eotheitas, ao aperfeigoamenta do genocidio de 1p0s indigenas a pretexto de ‘emancipacao’ ou a po: Iitieas de arrocho salarial que convertoram o Brasil mo detentor do triste recone de primeiro pals no mundo em acidentes de trabalho, uma vex que a propaganda pela seguranca no trabalho, emitida pelos agencias ofi- ciais, ndo substitui o aumento salarial, © pensamento esti fundamentalmente ligado & agho, Bergson sublinhava, no inteio do aéeulo, ne aaeessidade de o homem agir como homem de pensamento pensar como homem de agéo. A separagdo entre ‘fa- er’ ¢ ‘pensar’ constitul-se numa das doengas que on raeterizam a delingifneia académien; a” andlise © Aiseussio dos problemas relevantes do pats constituem um ato politico, uma forma de agéo, inerente & respon sabilidade social do intelectual. A’valorizagio do que seja um homem culto est estritamento vinetlada a sett valor na defesa de valores de cidadania essenciais, a0 seu exemplo revelado no palo seu diseurso, ‘mas’ por sua existéneia © ago, ‘Ao analisar a ‘eriso do conseiéneia’ dos intelectuais norte-amerieanos que deram o aval A ‘esealada’ no Viet~ 1, Horowitz noton que a disposigio que eles revelaram xno planejamento do genosfdio estava vinealnda & sua formagao, & sua eapacidade de diseutir meioe sem nun ca questionar os fins, a transformar oa problemas pol ‘ticos em problemas téenieos, a desprezar a consulta pie iia, preferindo as solugies de gabinete, eonsumande 0 que definiriamos eomo a traigio dos infelectusi, onde 8 indignidade do intelectual substitu a dignidade da inteligénca. Nenhum proceito ético pode substituir a pritioa social, a prtica pedagégiea. A delingiténcia académica caracteriaa-se pela exis- tincia de estruturas de ensino onde os meios (técnicas) se tornam fins. Os fine formativos aio eaquecides; a criagio do conhecimento e sua reprodusio cedem lugar 0 controle buroeratieo de sua produgko como suprema, virtude, onde administrar aparece como sindnimo de ¥- iar e punir: o professor 6 controlado mediante os eri- trios visiveis e invisiveis de nomeseio; 0 aluno, me iante os eritérios visiveis ¢ invisiveis de exame, "Tso resulta em escolas que se constituem em depésitos de ss alos. Como diria Lima Barreto, um ‘eemitério de 1 shea Sch d ai de pricing vo es en arts A pao nap erin ott ddr a hn ae ri to tars ‘deren so a lnc al a poet avai dana mol dl annette ogre as ma ara ssa gta cen i ran 0 ma ma lee ‘cea pupae duane ae Sete aya ert tit a on ints neg, nd» cera gos ale be —BeO SABER E O PODER© SABER E 0 PODER © que nos interessa & saber em que eondigdes 0 Poder produz um tipo de saber necessério A dominagio em que medida esso saber aplieado reprodua 0 Poder, fnio do homem sobre a natureaa ou sobre o ambiente sovial mais amplo. B com o eapitalismo que o saber instrumental edquire caracteristicas dominantes, é com 0 filésofo da mau ‘ura, Bacon que ‘saber ¢ poder’ implien em dom sobre o ambiente. De Bacon ao positivismo ¢ neo-po- sitivismo, definiu-se tuma linha de saber instrumental, Juma validade que depende de comprovagio empirica, © saber tem status na medida em que se eonstitui em saber ‘aplicado’. A instrumentalizagio do. saber é ‘uma ds caracteristicas dominantes na cultura do ca pitalisimo moderno, e é produzida por alguns ‘aparelios ‘deol6gicos’ eomo, por exemplo, American Sociological Association (ASA), a Amerietn Political Science, As- soeintion (APSA) ea American Historical Association “elas forneceram especialistas para os setores. empre sariais e governamentais norte-amerieanos nos iiltimos 25 anos”.* Qual a finalidade da produgio do conhecimento ‘s6eio-econtmico, modelos eccnométrieos, banco de da dos, teoria dos modelos? — “ser utilizado pare forte leeer nossa. posigio militar” aaAssim, a American Sociological Association tem imitiplos acessos a fontes para financiamento de pes usa, © que the possiblita controlar firmemente. orienlagio ideoldgica e cientifien que deve prevalecer na érea, “A ASA defende teses parsonianas, "Rese m0- nolitismo intelectual caminha a par do ‘apolitieismo? (eonservador em politica), o que define uma atitude de ‘olidariedade com a ordem estabeleeida, Fm nome da tradigao liberal e da liberdade de conseigneia individual, os problemas eruciais si escamoteadon, tudo & visto pola dtiea do aparslho de Estado e dos Grgios gover. ‘amentais. Os intelectuais fazem parte integrate do complexo militar industrial-académico. Os ‘especialis- tas de renome’ possuem altos eangos na Universidade, conatituem a imagem da marea da hrea do conhesimen: to especitica ante o grande piblieo, como Parsons em. ociologia, Milton Pridmann on Galbraith em’ esono: aia, os eonsultores das grandes fundagies. Bscas associngdes gozam de isengio de impostos racas ao servitismo ante 0 Estado © 20s onganismon enominados de ‘contra insurreieio’, Cobertos ‘pelo ‘deal de ‘neutralidade ante valores’, a maioria dos nea démicos universitirios vegetam no conforto intelectual, ‘agasalhados pelas sinecuras buroerdtieas e legitimades ideologicamente_ pelo apoliticismo: a ideologia dos que no tém ideologia. Na realidade, esse apolitcismo con. verto-so na ideologia da cumplicidade trustifieada, Sem diivida o cultivo de ideologia livre de valores € paralelo A desprooeupagio sobre as implicaghos étieas © Politicas do conhecimento Dai a perplexidade de Horowitz; “olhando retros- peetivamente, vi que pessoas tidas como inteleetuais po- diam estar despidas de esprito eritico a. reapeito do trabalho que realizavam. Nao temos perspectiva, Now. so treinamento na eifneia social nos eondicionon « no -ae fazer pergunias normativas, no temos possibilidades ‘nem meios para duvidar de nossa politica externa ou pa- ra crtief-la. ‘Temos somenta esperaliatase téenicos pa- va servirem a essa poltica. & esea a tragédia dos pro fessores da Universidade de Michigan”. ‘Ha um processo de militarizagio das cigneias s0- ciais paralelo ao desenvolvimento da super-especializa- io e ao intelectualismo. Sinélogos norte-americanos Vinulam-se a0 Estado para combster a Ching, utili ‘am-ae dos conhecimentos antropolégicas — de que trar taremos pormenorizadamente mais adiante —" para combater guerrilhas na Asia, O projeto Agile ‘mo bilizou 157 antropélogos para estudo da anti-guerzilbs no Sido, e o Projeto Camelot dispunha de 4a 6 milhies do délares destinados as\cifncias sociais em trinta e uum paises da Asia ¢ Africa, Sua finalidade era estu dar as causss das mudangas sociis e previnir sua oeor- rere, Por outro lado, hi, pesquisas de inegével interesse social que essas instituigoes financiadoras deicam dor. mitar nas revistas espocializadas, nas bibliotecas uni- versitériay ou nas gavetas burocrétieas. ‘Temas como ‘as migragoes urbanas poderiam ser diseutidos om os autre suas cnteiéacias imediata: 0 pore, os sindicatos ou as associagées populares, Do memo m0- do, a participagdo de organizagdea operirias ou eampo- ‘esas chamadas a diseutir sous problemas poderia cons- tituir pontos de orientagio rumo a solusGes possivei que ficou do conceito inventado pelos rieos e trans posto a antoropologia funcionalista do ‘cultura da po- breza’, se os diretamente interossados, os pobres, nao foram ouvidos! Atualmente o saber sociolégico no 6 simplesmente ‘um aspecto da cultura universitiria, tomnou-se elemento de poder. Dai a proliferagio de Centros de Documen- oetagio, Banco de Dados, Instituton de Planejamento: a eseolha das pesquisas dependo dos financiamentos poo. siveia; por outro lado, a ‘moda” seadémien impée sun tirania, Uma pesquisa é determinada nao porque se & obrigado a ter essa ou aguela orientacio tedrica para weeber financiamento, mas recebe financiamento por ter esta ou aquela orientagio tedriea, 'Tratarse de vine eterminagio que opera com alto nivel de sutileza. © socidlogo aeadémieo produz como um operivio de linha de produgio: nao discuto os fins ¢ 0 resultado 6a alienagio. Por outro lado, utiliza nos seus estudos os fundamentos que garantem’a estabilidade dos siste- ‘mas, como o si todos og estudos sobre aculturaglo, m0. Vilidade social, modernizagio ¢ monvgrafias sobre co- ‘munidedes, influeneiadas por modeles funcionalistas A era da sociologia ‘inooente’ terminoa. Surge 1 era da sociologia militante, a servigo dos profetas ar mados. O sociélogo, que participa dos programas do contrarevolugio na Asia ou América Latina é 0 com. plemento ideal ao médico mazista que experimentava sobre cobsias bumanas. De igual forma, ajgem aqueles socislogos da indistria que aceitam a ideologia do “ge Tencialismo’, uma ideologia patronal para imanipuler 8 dominades, ‘Hiesa instrumentalizagio da soviologia a servigo da estabilidado dos sitemas & complementada pelos EUA, com programas de ajuda externa anédinos. Assim, assisténeia t6enica internacional ‘multilateral da FAQ destina-se A formagio de novos “Kulaks’ (pequenos proprietérios de terra). Os ancos internacionais de de senvolvimento, por sua ves, consideram-se como eom- plemento das'saultinacionais. A ulilizagio das citncias sociais, soviologia, psico- Jogia, histérin e eibernética tem como finalidade earas~ —w- terizar a sintomatologia para a ecloaio da eontra-revo- lugio preventiva — além disso “eriar uma estrutura de informagio que permita detectar fooos de conflitos que Possam afetar a 'seguranga nacional’ dos EUA. Oa re- ‘cursos pera tais tarefas sio eaptados por interiétio de cterminados governos. —Pratica-se em grande eseala © levantamento de dados para os Bancos: de Dados Na- cionais, tendo em vista a elaboragdo de modelos eiber. néticos sobre desenvolvimento ccondmien, politica ¢ social”. Assim como o Pentigono enearregava.o MIT (Mas sachussetts Institute of Technology da. produgio de bombes armas bectereol6gieas, ooorria tatubém a me- iagdo por firmas ou fundagées, A automatizagao dos campos de batalha futuroa é elaborada mo ‘campus’ reese esquema: a Universidade da Calit6rnia se encar’ roga de atualizar o esbogo do sistemas de radar ¢ armas ucleares. "A Universidade de Chicago fornece @ Pino chet, Milton Fridman e sovidlogos. A. Universidade do Berkeley forneee aos indonésios, economistas como agsessores, A Universidade da cidade de Nova Torque ‘ccitou financiamento do Tra para wm programa ‘eul- tural e académico’, om a finalidede de espionar as atic Yidades de estudantes iranianos nos EUA. ‘Tudo imo 6 decorrente, também, da centralizagio econdmica ¢ burverétiea, que reforga a dependéncia da Universidade em relagio ao Estado, aléma da tendéncia utilitarista do ensino superior norto-amerieano predis~ lo a servir As empresas e ao Estado. A tradigho Pragmatista norte-americana leva os universitérios a valorizarem mais a aparéneia do que a esséncia das eoi- sas. Na Primeira Guerra, of professores norteame- aanae ee ee eee dia ten amg ob Soong cece He rue rn tnime inne Be can een a etl Satins ons he mu Xin snd do crs son de pss so aria claramente a relagio entre premissas. tedrieas, bjetivos de pesquiss, ¢ compromissos de engenharia social, refletindo um quadro institucional © estratégico tition, © conhecimento proporcionado pelas ciéncias so iais, como contribuigdo & Seguranga Nacional, para si- ‘mulagio cibernética de modelos eeondmieos poitiieo-# tratégios, 6 eonsiderado t&o importante camo os super= sOnieos foguetes balstioos intereontinentais, no intuito de ampliar a ‘Pax Americana’, Nesso contexto, a separagio entre ciéneia pura e aplicada evapora-se: na medida em que a agio humana Possui alto nivel de finalismo ela constitu’ parte da or em vital que o socidlogo analisa, Heisenberg compro vou na experiéncia microfisia, como os dados empiri. 09 so influenciados pelo instrumental metodologico © como 0 contexto social obviamente afeta as teorian © metodologias. | Nesse sentido, sio os Projetos Camelot, ‘Thos e Agile que dominam e que dio forma & sociologia académicn ovidental, © problema dos fins do eonhecimento ¢ da respon- sabilidade social do cientista colova-se agudamente’ pa Fa uma époea histérica que conheeeu o nazismo, a guer- 18 do Vietnd, o terror policial ax América Latina legi- timado pela doutrina da ‘infiltragio’, a utilizagio das luniversidades e conhesimento das eiéncias sociais para a © genoeidio: tudo o que gittou a instituiglo cientttica ‘como um dos instrumentos dos grupos repressivos he: geménicos. Hi um diseurso “teenicista’ que separa teoria © pritiea, meiose fins, a esfera politica da cient fica — a ideologia teenoerétiea que permite a universi- trios norte-americanos participarem do genosidio. A guerra nuclear sublimitada om limitada & que ccondicionou o desenvolvimento de baneo de dados. Sua simulago com a simulagfo eibernétien de sistemas so- ais econémicos e politicos, a niveis de previsio sobre ‘guerras om areas subdosenvolvidas, eriou a multiiacl. Dlinaridade entre eigneia social, pesquisa operacional ¢ ‘andlise sistémiea, A ciéncia social vé-se redusida a simples fornece- dora de elementos aos que det o poder nos BUA, para permitir a sua intervencio nos aspectos eeondmicos ont sociais do real; porém, o maior problema é prevenit 0 conflito no loeal, do que vened-lo. A eibernética serve a planifieagio automatiaada da contra-revolugio, A fungio principal 6a adverténcia preventiva, assim como 8 estudo de earapo, a andlise da dinimica interna de gru pos antagdnicos (operdrios, camponeses, estudantes). Ao poder € vital a agio Tepressiva buroeritica, ‘Ne ‘modida em que os cientistes propiem terapia de contro: le sobre os que esto abaizo, eles wervem on que estio 0 uso conservador da eigneia social mostron clara ‘mente que o conhecimento eientifien no ¢ autdnomo, ‘cumulativo ou auto-corretive, Assim, a Rand Corporation, eriadn em 1946 pela Acronéutica para continuar a eolaboracio entre clen- tistas © militares, que se dera na Segunda Guerra, fun ciona como una Universidade. Ela desenvolve a9 pric ‘meiras andlises sistémieas com os trubalhos de Forester =0 informe do MIT sobre a poluiglo. Foi a primeira a introdusir eritérios econémicos em questdes militares, critérios de custo ¢ eficiéncia, eom os bombardeics sendo Yistos do Angulo da gerineis do estoques. Como a informétien desenvolvera o ‘hardware? (sistemas materiais) para chegar A linguagens formais, permitindo dominar os sistemas materiais, 0 Exéreito fom ausilio decisive da informitiea, desenvolveu um ‘software’, que permite apreender #8 opera tare me erases lien, que inegram num es quema racional. asa aproensio dos fatos sociais como integrados ‘numa Tigiea e,eatudados do ponto de vista exterior, sem definir a razio dose estudo, 6 0 apoio logfstieo que re- lamam of militares dos intelectuais académicos. Nesse contexto, a Lockheed organizou o primeiro programa industrial ‘com métodes gerenciais ante Pando a NASA. Os monopélios organizam-se soguin ‘do esquemas militares, os esquemas organizacionais si- ‘mulam modelos militares, © prinepio de staff e a linha dda administragto no Exéreit, difereneiam 0 operacio- ual ¢ 0 estratégico. Hi um processo coneomitante: militariangio da mi 4quina eeonémica ¢ cientifizagio da maquina militar. O tormo ‘estratégia’ empregado na economia é de ori- ‘gem militar. A instituigto cientifica garante o elo en- tre indistria ¢ exéreito; como os dois, ela 6 hierarqui- sada, funda-se na ‘meritecracia’ ¢ funde-se com & hie- rarqula universitéria, ‘A estruturn de dominagio leva a confundir civis e rulitares; hé identidade entre controle e repressio, pois fio o8 mesmot meeanismos que governam os meios de dominagéo ¢ os meios de eomunieagio (radio, TV, in- formitien), —ue 0s fins do Exército realizam.se no dominio, na con- quista da ordem: ¢ apés a Segunda Guerra que a racio- salidede militar penetra na sociedade eivil; dat a utili- tagio dos institutes de peaquisa e da universidade para forganizar a defesa e fomnecer os quadros de que o apa- relho de estado necesita, * ‘© Departamento de Estado gasta 700.000 délares para analistr a dinfmiea revolucionéria no Vietn, ex Fraturam-se modelos eeondmicos para fins de eontrole dda economia, "0 que assegura a articulagdo entre a CTA, FBI, Departamento de Defeaa, Agéneia Nacional de Defesa, Conselho de Seguranca Nacional, Departamen- tode Fstado e Agéncia para o Desenvolvimento Inter- navional (ALD). ‘A manipulaglo operada pelo saber universitario & antiga. "As universidades, que sob o ‘New Deal” de Roosevelt manipulavam o& pobres para ocasio da Segunda Guerra, contribuiram entusiasticamente para 6 projeto Manhattan que originow a bomba atémica. Um fcadémico como Schlesinger sob Kennedy e Johnson, por memorandos, sugeria a melhor maneira da presi- ia deseartar-se de sua responsabilidade no fiaseo ‘que fora a tentativa de invasio de Cubs, pela Baia dos Porees. Do mesmo modo, outros ‘sehollars’ como Ros- tow, MeBundy e Samuel’ Hutingtonn, os ‘fabricantes de imagens’ do MIT, Columbia e Harvard foram os ‘que desencadoaram a ‘escalada’ no Vietnd. O real é ‘que num Pafs de imigrantes como os EUA, a melhor fancira de aacengio social 6 0 eonformisms total com ‘ ideologia dominante, Estes universitérios que ‘ser- iram o pais’ foram ouvides, Generosamente remune- radog, habitusram-se a transitar entre suas universida- des e eseritérios da CTA, Pentigono e Departamento de Estado. ‘© grave problema da universidade norte-ameriea- nna atual a sindrome de conformismo, que permite a aas—utilizagdo do saber para 0 genocidio” prevenindo con- fltos futuros e tornando o Socidlogo um burverata at xiliar e triste do Departamento de Defess. Os professores servem para reprodusi 0 poder, na medida em que determinam as questées que devam es- tuudar ¢, essa reprodugo nfo se da pelo pageniento ime diato ao mestre, para o planejamento disso ou daquilo, tinistrando esse ou aquele eurso. Eles receber subsic ‘ios na medida da sua linha de orientagéo. A neu tralidade do saber e do vetho consenso em torno da ci ia slo ealocados em cheque, quando 0 saber universit- rio vineulase ao poder do Pentagono. -Muitar funda. ses norte-amerieanas na realidade sko instrumentos de rrepasse de reoursos provindos da CTA, ‘Fawin Liuwen ¢ John Johnson astestoram 9 De- partamenio de Rstado na érea de assuntos latino-ame- Fieanos*, Alex Inkeles, autor de um eélebre manual de sociologia “Que 6 a Sociologia’, orientow tuma Pesqui ss sobre a medigio da mudangt social, em areas sub- desenvolvidas com financiamento da’ Forga Aérea.” ‘Max Milikan, especialista em relagées_ internacionais, diretor do Centro de Estudos Internacionais do MIT, trabalhou para a CLA antes de ehegar ao MIT.” Sey” our Lipset, socidlogo e politiedlogo funcionaliste com contrato com a Forga Aérea orgado em 75.000 délares, edicou-se a pesquisar o planejamento militar ¢ as im plicagées do desenvolvimento’ nacional. ‘miga no eampesinato por aplicagio direta do poder me- cftieo (ine bombardcios de saturaeio) ¢_ conven: ional em tal quantidade que provoque uma migragio fem massa para a cidade”. "Huntington teve como companheiro Sell Mann, membro do President's Seien- ee Advisory Committe que reeomendavao emprogo de = homies autométicas no Vietnd e eolaborou na prepare ‘edo de uma contra-revolugio na Tailandia, Em 1969, o Departamento de Estado empregav ‘ntimeros assossores reerutados entre o8 ‘americans: tas’ que, por sua vez, estavam ligados a vérins inatitui- ges de pesquisa e ostudo como 0 Centro de Assuntos Educacionais e Culturais, Centro de Assuntos das Re- piiblieas Americanas, Grupo Interamericano, Centro e Organizagées Intermacianais ¢ Centro de Tnteligén- cia ¢ Pesquisa, onde sobressacm-se nomes como Niles Bonde, John W. F. Dulles, Lincoln, Gordon, John Tohnson, Kdwin Liewwen, Seymour Lipset, Rolli Poy: pino, Roy Rubottom Jr, Alfred Stepan.” Essas pes soas’eram oriundas da velba elite intelectual aeadémi- fa que, por ovasigéo da Segunda Guerra Mundial e fi- nanciados pela Ford, Rockefeller eo Social Research Couneil, deram origem & Comissko Conjunta de Fsti- dos Latino Americanos do American Council of Lear: ned Societies e o Social Research Couneil, sob inspira- so de Kalman Silvert o do estudioso de eomunidade na Amazinia, Charles Wagley. ‘Em nivel latino-amerieano podemos dizer que o in teresse dos EUA, através da formagho de pessoal espe- cializado, dew-se apés a desastrosa viagem de Nixon ‘América Latina em 1968 ¢ & eclosto da Revolugéo Cuba nna, Os programas de estudos sobre América Latina, que em 1958 chogavam a 60, em 1965 atingem a 310. Agricultira ¢ planejamento familiar constituem reas de interemse vital para as elassex dominantes dos EVA, assim como 0 aperfeigoamento em nivel de mo- dernizagéo da méquina adminiatrativa da instrugio pic Diica.*"Rases programas eriam um maior interedm: Dio universitaric. Dele emergem tum nimero signifi: cativo de latino-americanos ‘americanizados’ que vol- tam aos seus paises de origem ocupando lugares estra- eetégioos, A influéneia dae tambon através de livros — texto, na dea da fisioa. 0 PSSC (Physical Seien- ce Study Comittee) 6 eonsituido por pesquisadores em Fisica nuclear, vinculados 20 MTT, que elaboram textos com trabalho’ exereiios prations. Esta atividade ‘ja ténien 4 0 modernizagdo do ensino imposta aint ‘midadoe professes seoundaroy, etendetrsem brea da otegi. Na realidade, o que os subdesenvolvidos apren- dam a reepeitar, a iia de eltncioy fo on conccites, abstratos «as ralizgiesexperimentais que io podem ser roprodusidas por eles e que ndo téin relacio com Sua cultura, Os eatudantes fleam em estado de impo- ‘nciaintloetul em relagio A Metropole, que abuorve os melhores, na sia maloria oriundos da’ América La- fina, para dautarado, Neste sentido, assinowse tm canvGhio por det anos, com a Universidade do. Chile ‘A'vorba anual de umm milho de dolares, por modiagio 4a Pundagio Ford destina-se 8 ‘emigrasto’ de catue ‘antes em nivel de gradusgio. "0 que 6 sintomtieo & © convénjo especificar que “"um verdadeira. profescor deve publicar em ingles”. Porm, nem tudo 6 académico neste mundo de Deus, Alantic Research Corporation of Alexandria deen: volveu uma pesquisa sobre “Conflitos subversivos na ‘América Latina desde 1900” com a finalidade nada aca- imica de estudar os pré-requsitos para o desenvelvi- ‘mento de operagées mllitares antisubversivas no Gon tinente." “Assim, 0 Tnstituto ‘Torcuato Di ‘Telia do Buenos Ayzea preoeupase com a sorte das populagées ‘marginais, no que tange & seu efeito potencil pertur bador. Na Colimbia ¢ na Venemiela, o entudanto € ‘objeto do pesquisa por parte da Rockteler Foundation eda CIA. ‘As univesidades norte-americanas tim, porém, pt: pel destacado no plano intemo. Harvard, Stanford 6 —o de de Wisconsin, * Novo Méxin, Stanford © Gone sidade do Texas em Austin. ae Ui otimista do Totituto do Pesuias do Stan. ford pretend, sem mais nem menos, desenolver "in programa deta anos quo forces nasties Foseriam converter 0 Visi do Bul ne meee es sia do Siete". Mais otivo 9 Cone Be iudonLatine-Amevieanos da Universidad de Becasy gu, on o pa try oeur entudar se fontee Avie da Paderapi don Watadantn Lating fos: uligto do mou no nordcte rash Anda verifcar 0 papel da dncags tpi a io do penstnento polis da Suventate trent No Brasil, 0 TUPER analsa tr detae te eran extn; 0 CEBEAD Iaquot sobre ews mento da poplaghoo sontrae tearlidade na Sens ade Brae pow Edtuaso’ pees dads 0, cor tna vera de 963.0 darshan daa bonne toca agicltara« economia bases Sana om a'nivesdad do Buta da Guanthasn Em 1965, « Universidade Feder do Estado de Minas Gerais, com uma verba de 675.000 délares, do- senvolvia uma pesquisa sobre o ensino das Ciencias Sociais. O Estado de Minas Gerais, em 1968, reccbia 198,000 délares para pesquisa e ensino de agriculture € economia; 0 CNPQ em 1963 reechia 300.000 ddlarce ara peoquisa e ensino em Ciéncias. ‘Em 1967, 2 Unie versidade Federal do Rio de Janeiro, oom uma verba dk 247.200 dares, eriava um Centro do Lingistien com o objetivo de preparar professores para pesquisa fm biologia reprodutiva ¢ antropologia social. oe© Departamento de Heonomin de Berkeley desen- volve um programa qiingllenal denominado “Progra ma de Ajuda ao Desenvolvimento do Brasil’, que 6 fi- naneiado pela AID. Dessa forma coopera com 0 Mi- nistério do Planejamento ¢ TPHA, no envio do assos- sores para a formulagio de planos eeonémicos ¢ pol ticos. Estudos da comunieagdo com povos de baixa cul- tura, enfocada no Brasil, constituem a finalidade do Centro de Estudos em Comunicagées Internacionais da Universidade de Wisconsin, Em sums, no referente A América Latina ¢ sob mibriea de 'modernizagio', ‘desenvolvimento’, eriagko de tima sociedade ‘aberta’ os estudos latino-americanos nos EUA tratam de problemas cruciais, Estudam a festratifieagio social comparada, os valores dos_estu- antes universitirios, do campesinato, do operariado © 4a classe média. As pesquiaas antropolégieas sobro a ‘América Latina preoetpam-se com as revoltas das clas- sey bszas, 4 finlidade 6 peauisar os fatores que possam levar a uma mudanca social que no se deten za modernizagio pura ¢ simples. Também 6 eonstan- te. preocupagdo na elaboragio de modelos operacionais ‘que identifiquem zones eritieas pasafveis de controle militar direto. Enfim, trata-se de munir a elite nor- te-americana de material antropoligico ¢ sociolégico sobre elites ¢ grupos minoritarios, que postam ser utili tadoa pelo Poder, para intervir na dizegto dos proces: 08 aotiais e politicos latino-americanos. 0 suber servigo do poder. 0 ensino da dinimica de grupo, métodos de desen- yolvimento rural e ‘modo demoerdtieo de vida’ cons- tituem-se num ecomplemento a essa estratégia. ‘Mais nitida 6 a vineulagéo entre o imperalismo 1 antropologia. Por ocasifo do fim da Guorre dos 0H Boers (1800/1002, o¢antsopilogos ingles procurans aplicty seus eonhecinentoy tendo em vista fs prt, tos. Na époee, Hoyal Anthropological Institute ape seniou ao seeretérin de estado pare a Colnian a Pre bosta para qu se eatudanse as Ils nstitigdes A ferencagao tribal ha Africa do Sul ‘Tal ratudy fl fem mira eriar uma bese: a plitien adminitentva “re sina adnan do pes oli tmp ora eonsiderada terreno psvilegado para a pica do contecment anteopogic. "Os governos colonais fam nogtes diversas sabre rapide do proce de ‘ovdentalizagio” dos ‘primitive essa forma, apse 1925, o funeionérios da. Adm nistragio Colonial nas clorias inglsas da Atri Te Pica), Nigéra e Costa do Our tinham nogies ridimen {ares do antropologin ministadas por atrupslogon do sprgpe._Bin Papa, Sidon da Nove Gul do anglovgipeio foram eriados cargo de antrops logos coloniais, * ™ A, produgfo tovien autropoligea ovintowse pe Jn pritie eolonial assim, » pedito da “Administragio Golda, Meyer: Portes eieroven sobre o costumes ma frimousia dos Talens. Hattray, antropdlogo © fur. Giondrio colonial esereveu sobre os Ashanti Em Tanganyka houve experimentos em antropolo sia aplieada, om base em jprguntas especffieas for- muladas por um buroerata colonial « pesquisadas por uum antropélogo.Seus resultados apareceram no lirro de Bronn, G. Gordon e Hutt A. Mo Bruce, enquanto Francis Bdgard Williams publicon trabalhus sobre os Papua ¢ informes sobre movimentor nativistas. © sintométion é que ease estudo no se limitava & simples deserigdo das instituigdes nativas, protendia ex- Pliear “wma perturbagio social que preveupava as auto- ridades, sugerindo medidas oportunas”.» -aeNa Nigéria e Casta do Ouro 0 governo britinico ‘sempre partilhou da idéia de que os nativos com posi- io tradicional eram os ‘melhores agentes locais da po- jos do governo e desejavam saber quom eram as pes- soas que poderiam ser reeonhecidas como autoridade indigenas’ 0 colonialismo belga ¢ holandés valorizava mais 0 conheeimento antropoldgico do que o eolonialismo in- és, como ressalta 0 antropélogo elga Nicaise: ‘na formagio dos funcionirios da administragdo. colonial belga ¢ holandesa, dedicava-se mais tempo ao estudo da ctnografia e do direito costumeiro do que na Gra-Bre- tanha’.** ‘Tanta boa vontade leva A formagio do. Instituto Internacional Africano em 1926, dedieando-se & pesqui- sa em antropologia e lingiistiea. O fim era altamen- te eugénico, pois ‘o conhecimento obtido ajudaria 0 administrador 8 fomentar o ereseimento de uma ocie- dade orgénica, sf ¢ progressiva. Afinal, a antropolo- gia aplieada significava 0 uso do conhecimento antro- Polégico para estabelecer uma situagio social nplo. "Na medida cm qo esto concentradon tas moe dos ches de pentssdees «profess seus ion Ge produysa, analog, {tgteooore na enpena cpl etre os tabshadores e of mein ‘be peodagb.” Max Weber, op. ly p. 112, 9. IV.